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quinta-feira, 9 de maio de 2019

The Beatles - "Abbey Road" (1969)




"Com 'Abbey Road', os Beatles 
tocaram a glória 
pela primeira vez (...)
Todos os quatro brilharam: 
as composições 
e trabalho vocal de John,
o ofício musical supremo 
de Paul nos medleys,
a habilidade musical de George
em duas canções maravilhosas 
e o toque de bateria 
excelente de Ringo."
Mark Lewisohn,
historiador considerado
uma das maiores autoridades
sobre Beatles

Minha relação com os Beatles é curiosa... É interessante que, até algum tempo atrás, eu sequer gostava de Beatles. Gostava naquelas... uma aqui, outra ali. "Twist and Shout", por causa do filme "Curtindo a Vida Adoidado""Can't Buy Me Love" por causa do "Namorada de Aluguel", "Dear Prudence" por causa da versão da Siouxsie, "Helter Skelter" por causa dos Banshees também e pela versão do U2 no "Rattle and Hum" sendo que a original eu sequer conhecia... Na boa, achava Beatles, aquela coisa dos arranjos de orquestra, dos vocais em coro, daquela levada tipo bandinha alemã, tudo muito perfeitinho demais. Não tinha como negar a qualidade, mas pra mim parecia pouco rock'n roll. Tanto que, naquela tradicional disputa Beatles ou Stones, eu sempre fui mais Stones. Ainda sou, tenho que admitir. Acho Stones mais visceral, mais rock no sentido mais sujo da coisa, sabe. Mas o meu respeito e minha admiração pelos Beatles tornou-se uma realidade e uma vez consolidada, só foi crescendo.
Eu já ficava intrigado pelo fato que uma porção de ídolos meus, vários artistas que eu admiro sempre diziam que tinha começado a tocar por causa dos Beatles, que quando ouviram Beatles resolveram ter uma banda, que fizeram tal música  porque queriam fazer que nem os Beatles... "Cara ... Mas será possível?", pensava eu. Aí  comecei a ouvir com mais carinho, com mais atenção e, quando se OUVE, ouve mesmo, não  como não reconhecer que os caras eram absurdos! Toda a técnica de estúdio, a criatividade, o talento, a inovação e tal, tudo isso eu entendia mas não tinha dado aquela liga. Não tinha acendido a chama. Ela foi acendendo aos poucos: aí o cara vê que uma música que gosta da sua banda preferida é muito Beatles, percebe onde tá aquela influenciazinha, vê coisas que os caras fizeram sem recurso nenhum e hoje em dia com tudo a favor, não se consegue fazer igual e, aí ficha cai. Foi o caso de "Tomorrow Never Knows" que fui conhecer por causa de "Setting Sun" dos Chemical Brothers, e que me estimulou a comprar o "Revolver". A dupla eletrônica de Manchester chegou a responder processo por plágio mas foi inocentada, uma vez que não negavam a inspiração, apenas negavam a cópia. É bem o caso do que os caras conseguiam fazer em 1966, com recursos técnicos escassos e algo parecido só é conseguido com a parafernália eletrônica dos dias de hoje.
Mas antes do "Revolver", o primeiro  que tive dos Beatles foi o "Magical Mystery Tour", que no meu mode de ver era mais "anárquico", menos certinho. Tem aquela 'desordem' da música titulo, "Magical Mystery Tour", tem "I'm The Walrus que também é mais atípica, mais louca, enfim, aquilo me agradava mais num primeiro momento. Depois veio o "Revolver" e depois o 
"Rubber Soul", que devo admitir que, apesar de não retirar nenhum mérito, não sou dos mais apaixonados.
O "Abbey Road" (1969) chegou a mim de uma forma interessante. É lógico que eu já conhecia "Come Together", e essa eu já gostava muito e na minha cabeça essa era uma exceção a tudo aquilo que eu colocara acima sobre rockzinho comportado, arranjos rebuscados e coisas assim, só não ligava uma coisa a outra e com meu conhecimento parco da obra dos caras, não sabia que era exatamente a primeira do "Abbey Road". Mas o que me instigou pra ouvir o disco, conhecer a obra foi o fato que, certa vez, na noite por aí, uma banda dessas de clássicos do rock, tocou "I Want You (She's So Heavy)" e, cara..., eu fiquei louco com aquilo. Aí eu quis saber de onde era aquilo e descobri que era do tal do "Abbey Road". Eu já tava numas de curtir mais Beatles e resolvi conhecer melhor o disco. Pedi pro meu irmão, meu parceiro de blog, Daniel Rodrigues, que já apreciava a banda havia mais tempo, pra me passar o MP3 do disco pra eu ouvir no computador, no I-Pod e tal, e fui gostando cada vez mais. Até que, sabendo que eu tava ficando fissuradão, o meu irmão de novo, desta vez, me deu o CD.
E se um cara tem restrição a Beatles, o "Abbey Road" é pra acabar com qualquer frescura! Tem baixo estourando, tem vocal gritado, tem solinho de bateria, tem música curta, música quilométrica, tem música  pra todos os gostos, tem música de todo mundo, tem vocal de quase todo mundo...  e que disco bem produzido, hein! Tudo perfeito, tudo no seu devido lugar. Era o desejo da banda, mesmo já um tanto fragmentada, já dando sinais de desgaste, fazer um grande disco depois de uma certa decepção com as gravações de "Let It Be", que acabou saindo depois mas que na verdade fora gravado antes e ficou ali, meio que engavetado. Pois é, na verdade o "Abbey Road" é o último álbum dos Beatles. E tem cara de último disco. Tem a grandiosidade, a estrutura, a maturidade, o total controle sobre o objeto final, tem cara de gran finale. Algo espetacular!
"Come Together", como eu disse, eu já conhecia e admirava e é daquelas aberturas de álbum matadoras. Aliás os Beatles abriam muito bem seus discos, não é mesmo? Vide "Taxman", "Back um The U.S.S.R.", "Sgt. Peppers...", "Drive My Car". "Come Together" é uma música que vai crescendo em intensidade e mudando a cada parte, ganhando um novo elemento. É fantástica! Lembra, não por acaso, aquele tipo de composição que marcou Pixies, Nirvana, com ênfase na linha de baixo no corpo principal da música, e uma certa explosão, com as guitarras e os vocais entrando de forma mais intensa no refrão. Pode-se dizer, de certa forma que, lá em 1969, foi um pré-grunge. "Something" sempre me arrepia com aquela guitarra chorosa, melancólica, aquele vocal doce... É considerada por muitos a melhor música dos Beatles e a própria  banda manifestou, na época, uma certa preferência por ela dentre as gravadas para o disco. "Maxwell's Silver Hammer" é daquelas que eu falei, com cara de bandinha de coreto de praça, e apesar de ser uma boa música, no fim das contas, e funcionar como um ponto de equilíbrio no lado A do disco, nem a banda gostava muito dela na época do lançamento.  Atribuo a ela este papel de fiel da balança, até porque na sequência vem "Oh, Darling", uma das minhas preferidas com aquele vocal rasgado, gritado. Um balada típica dos anos 50 com o vocal do Paul calculadamente descontrolado. Tipo da coisa que, no meu desconhecimento, sentia falta nos Beatles e que encontrei no "Abbey Road". Sei que tem "Helter Skelter", até mais furiosa por sinal, mas, nesse caso específico, como confessei acima, conhecia mais as covers do que a original.
O disco segue com "Octopuss Garden", que é do Ringo, e normalmente é um pouco subestimada mas que é um country-rock muito gostoso. Num disco muito bem planejado, a leveza da composição de Ringo Starr serve meio que como preparação para a pesada, longa, extensa, "I Want You (She's So Heavy)". Uma amarração quase improvável de duas melodias bem distintas mas que juntas acabaram funcionando como uma especie de peça épica, algo grandioso. Aquele início, e final também, dramático, solene, combinado a um blues meio rumba em que a guitarra ora dialoga, ora imita, ora disputa com a voz de Lennon. E, apoteoticamente, tudo se encaminha pr'aquele final, como eu disse, dramático, que se repete, repete e corta... abruptamente como se a música, que já é gigantesca, nunca fosse acabar. É de arrepiar.
Depois vem a ensolarada "Here Comes The Sun", que seria a primeira do lado B, na versão original em LP. Sempre que o dia está feio e abre, que vem aquele solzinho depois de uma chuva, eu lembro dela. Sempre iluminada. Na sequência vem a linda "Because" uma balada cheia de inspiração e melancolia. Uma das mais belas melodias dos Beatles e um trabalho vocal excepcional. Segue com a mutante e imprevisível "You Never Gove Me Your Money", cheia de variações: começa de um jeito dando a pinta que vai ser uma doce balada ao piano, de repente vira um rock descontraído, modifica a voz, ganha intensidade, ganha uma guitarra bem incisiva, lá pelo final ganha um coro fazendo uma contagem e acaba num ruído que vai introduzir para o genial medley de músicas "inacabadas" concebido por Paul McCartney que é simplesmente de tirar o fôlego. Trechinhos, praticamente vinhetas, mas que são de deixar o cidadão de boca aberta, não só pelas qualidade de cada uma, mas também pela diversidade entre elas, pelo papel dentro do álbum, pela sequência em que estão dispostas.
"Sun King", de John Lennon, uma delicada baladinha, uma pequena piração com uma letra que mistura inglês, italiano e francês, é a primeira da sequência mágica  e lembra um pouco "Something", com alguma semelhança também com "Because" embora sempre me remeta um pouco a "Don't Let Me Down"; segue o rock gostoso de "Mean Mr. Mustard"; depois "Polithene Pam", bem "yeah-yeah-yeah', uma espécie de uma voltá às raízes só que mais sofisticada; vem "She Came Through The Bathroom" outro rock cativante; e então o epílogo grandioso se aproxima com a beleza de "Golden Slumbers" que é misturada/invadida com/por "Carry That Weight" que, por sua vez, em grande estilo, encaminha o encerramento do disco para nada mais apropriado que o FIM. "The End", mais uma "criatura mutante", cheia de variações, é um rock direto e certeiro com direito a solo de bateria de Ringo e tudo. É o fim, como anuncia o título da canção? A última do disco? A última da discografia dos Beatles? Errado. O disco acaba mas não acaba. Antecipando um conceito de faixa-oculta que só viria a se consolidar na era CD, segundos depois da "última música" aparece "Her Majesty", um trechinho curto acústico, mais uma vinheta, uma brincadeira por assim dizer "comemorativa" ao título de Membros do Império Britânico concedido pela coroa inglesa, que o grupo então acabara de receber. Típico dos Beatles. A inversão da lógica, o improvável, a surpresa, o que mais ninguém faria. E "The End" que seria também a última música do último lado de um disco deles, acabou não sendo pois o "Let It Be", o antecessor, acabou sucedendo "Abbey Road".
Aí o cara acaba de ouvir um disco desses e fica se perguntando "por que que eu fiquei de nhem-nhem-nhem com os Beatles por tanto tempo?"
Se você também tem um ranço, nhem-nhem-nhem, mi-mi-mi com Beatles, e sei que muito gente tem, recomendo veementemente que você ouça o "Abbey Road". Talvez os Beatles tenham discos melhores, muitos preferem o "Branco", muitos o "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", mas o "Abbey Road" este trabalho brilhante que completa 50 anos neste 2019, é tão perfeito, tão impecável, tão bem produzido, tão diversificado que eu acho que até o mais resistente anti-Beatles vai acabar se rendendo. Eu me rendi.

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FAIXAS:
1 - Come Together
2 - Something
3 - Maxwell's Silver Hammer
4 - Oh! Darling
5 - Octopus's Garden
6 - I Want You (She's So Heavy)
7 - Here Comes the Sun
8 - Because
9 - You Never Give Me Your Money
10 - Sun King
11 - Mean Mr. Mustard
12 - Polythene Pam
13 - She Came in Through the Bathroom Window
14 - Golden Slumbers
15 - Carry That Weight
16 - The End
17 - Her Majesty


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Ouça:


Cly Reis

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

U2 - "The Unforgettable Fire" (1984)



"Um homem veio em nome do amor
Um homem veio e foi
Um homem veio para justificar
Um homem para subverter."
"Pride (In the Name of Love"


Durante algum tempo esse foi o disco da minha vida. Achava a melhor coisa que já tinha ouvido. Mas com o tempo a gente vai conhecendo outras coisas e vai vendo que não é bem assim e que tem muitos superiores em vários aspectos, mas o que não tira em nada os méritos do ótimo “The Unforgettable Fire” do U2, de 1984, o quarto álbum da banda de Dublin.

Disco bem trabalhado, trabalho pensado, bem produzido. Daqueles discos com estrutura. Disco pra se ter em LP. Disco com lado A e lado B.

Tem discos que já abrem abafando, tirando o fôlego do ouvinte, outros meio que te preparam para o que vai vir como é o caso. “A Sort of Homecoming” é um bom cartão de visitas, interessante, agradável, competente pra abrir o disco mas apenas prepara o terreno, na verdade, para “Pride (In the Name of  Love)”, uma das melhores da banda e uma espécie de hino do U2. “Wire” que a segue é elétrica, é agitada, cumpre bem sua parte no todo mas na verdade é mais uma boa ponte para outra das grandes, a faixa que dá nome ao disco, “The Unforgettable Fire”, uma composição intensa, com bateria forte e marcada e interpretação vocal emocionante de Bono Vox. Na continuação vem “Promenade”, uma balada leve com a marca do produtor Brian Eno, fechando o lado A e funcionando como uma espécie de apagar das luzes de uma etapa do disco.

O lado B abre com "4th. of July", uma vinheta instrumental arrastada, densa, soturna que praticamente introduz para o que virá em seguida, a fantástica “Bad” com seu riff simples e leve, contrastando com o climão pesado da letra sobre heroína, em outra atuação notável do vocalista (uma de minhas favoritas!). Praticamente espelhando o lado A, “Indian Summer Sky”, é outra canção de pegada vigorosa, assim como “Wire”, ambas lembrando o estilo do primeiro trabalho da banda. Segue com a excelente “Elvis Presley and America”, com destaque total para a bateria de Larry Müllen Jr.; e o álbum fecha com outra faixa curta, “MLK” (iniciais de Martin Luther King), com Bono cantando emotivamente quase à capela, apenas sobre uma base contínua de teclado, numa despedida digna de um grande disco.

Trabalho muito apoiado na bateria, enfatizada e destacada em diversas faixas, sem contudo deixar o disco pesado ou barulhento. Tudo certinho: doses certas de força, graça, emoção e contundência. Depois do bom, porém cru, “War”, o U2 lapidava algumas pontas brutas e apresentava um trabalho mais equilibrado e definidor de seu estilo a partir dali.

Mesmo ainda hoje admirando muito "The Unforgettable Fire", como já havia dito, a gente vai aprendendo, ouvindo outras coisas, descobrindo novos sons, outros artistas e, no fim das contas, posso afirmar que não trata-se mais do meu disco favorito. Mas ainda goza de minha total admiração e carinho, sendo um dos mais queridos da discoteca e um dos xodozinhos da coleção e certamente altamente recomendável para fãs, admiradores e curiosos.
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FAIXAS:
Lado A
1. "A Sort of Homecoming"
2. "Pride (In the Name of Love)"
3. "Wire"
4. "The Unforgettable Fire"

5. "Promenade"

Lado B
1. "4th. of July"

2. "Bad"
3. "Indian Summer Sky"
4. "Elvis Presley and America"
5. "MLK"


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Ouvir:
U2 The Unforgettable Fire




Cly Reis

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

cotidianas #195- Dia de Ano Novo


Tudo está quieto no Dia de Ano Novo,
Um mundo em branco está em andamento,
Eu quero estar com você, estar com você noite e dia,
Nada muda no Dia de Ano Novo.
No Dia de Ano Novo.


Eu... estarei com você de novo.
Eu... estarei com você de novo.


Sob um céu vermelho-sangue,
Uma multidão se agrupou em preto e branco
Braços entrelaçados, entre os poucos escolhidos
Os jornais dizem, dizem
Dizem que é verdade, dizem que é verdade...
E nós podemos romper
Mesmo partido em dois
Podemos ser um só.


Eu começarei de novo,
Eu começarei de novo.


Oh, oh. Oh, oh. Oh, oh.
Oh, talvez a hora esteja certa,
Oh, talvez essa noite,
Eu estarei com você de novo.
Eu estarei com você de novo.


E então nós fomos mencionados nessa era dourada,
E ouro é a razão para as guerras que nós combatemos,
Ainda que eu queira estar com você
Estar com você noite e dia,
Nada muda
No Dia de Ano Novo
No Dia de Ano Novo
No Dia de Ano Novo
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tradução da letra de "New Year's Day", do U2
(Bono, The Edge)





Feliz 2013

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Pearl Jam, Clapton e Aerosmith no Brasil no segundo semestre



Pearl Jam de volta ao Brasil em setembro:
Garantia de showzaço!
O ano de eventos de rock está bombando mesmo. Além do retorno do Beatle Paul, do mega-festival Rock in Rio e mais alguns nomes interessantes que desembarcaram recentemente por aqui como Iron Maiden, U2 e Ozzy, o segundo semestre ainda nos trará as presenças de Pearl Jam, Eric Clapton e Aerosmith.
Datas, locais, valores ou tipo de apresentações (festival, shows solo, etc.), nada foi divulgado ainda mas ao que parece a informação é quente mesmo uma vez que o papo foi dado por um dos diretores da produtora que trará os artistas.
Bom, pra mim, particularmente, interessa mesmo o Pearl Jam, banda cujo show que fui em Porto Alegre foi simplesmente um dos melhores da minha vida; o Deus da Guitarra Eric Clapton por toda a lenda que representa também pode ser uma boa, dependendo muito do preço do ingresso; e o Aerosmith, sinceramente, não me interessa nem um pouco.
Agora é aguardar maiores informações e enquanto isso ir curtindo o que vem antes. Afinal, ainda tenho a noite do metal do rock in Rio para ir.


C.R.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

U2 - "The Joshua Tree" (1987)



"Eu adoro estar lá, eu amo a América, eu adoro a sensação de espaços abertos, eu amo os desertos, eu amo as montanhas, eu ainda amo as cidades."
Bono


Depois de um início terrível com seus dois primeiros álbuns, “Boy” e “October”, muito ruins, ainda influenciados pelo punk, e de um considerável ganho em qualidade com seu terceiro, “War”, ainda um tanto tosco e mal-resolvido mas através do qual já obtinham grande sucesso com “Sunday Bloody Sunday” e “New Years Day”, o U2, finalmente conseguia com “The Unforgettable Fire” e com o hit “Pride (In the Name of Love)”, uma condição de megaestrelato, liderando festivais pelo mundo com seu carismático vocalista, Bono Vox, como porta voz do que quer que fosse que necessitasse de boas ações.
Já empossado embaixador das causas nobres do mundo e dono de uma popularidade estrondosa, o U2 tinha agora que ganhar definitivamente o mercado americano, mas não bastava vender bem, serem reconhecidos lá e tal: teria que ser uma espécie de dominação.
Bom, para isso então, nada melhor que fazer um disquinho bem à americana: cheio de blues, country, gospel, falando sobre paisagens desérticas, orgulho yankee, bombardeios, invasões e tudo mais. Ajudados por um visual bem apropriado com chapéus de cowboy, roupas de caipira e uma presença mais constante em solo norte-americano, alcançaram vendagens astronômicas, ganharam inúmeros Grammy’s, e lotaram turnês por todos os EUA. A América estava conquistada.
O interessante é que o tal do disco ‘estratégico’ era realmente muito bom! Era o que de melhor os caras tinham feito até então na sua carreira e, nessa história toda, acabaram por produzir um dos melhores álbuns de todos os tempos.
Toda a influência americana na concepção de “The Joshua Tree” de 1987 (corrigido) acabara por dar-lhe talvez a riqueza que o som do U2 não tinha conseguido alcançar, até então, soando por vezes excessivamente irlandês, católico, pós-punk ou cru, agora agregando elementos e os distribuindo melhor do que nunca.
A ótima “I Still Haven’t Found What I’m Looking For” é cheia de gospel, ‘Trip Through the Wires” cheia de blues; e “Red Hill Mining Town”, “In God’s Country”, “One Tree Hill’ e “Running to Stand Still” trazem consigo, cada uma, um pouco da sonoridade country americana. Nas que o dedo do Tio Sam não aparece tão evidentemente, o que se nota mesmo é a qualidade de um disco pop bem produzido pelo mestre Brian Eno em parceria com Daniel Lanois. “Where the Streets Have no Name”, a primeira do disco é um bom exemplo disso, num pop-rock impecável e cheio de ímpeto vocal. “With or Without You” é uma balada apaixonada com grande mérito para a produção caprichadísima de Brian Eno; “Bullet the Blue Sky” é forte, distorcida, vibrante, poderosa e uma das melhores do disco; “One Tree Hill”, já citada é outra das grandes, com mais uma interpretação inspirada de Bono; e “Exit” mostra de novo todo a qualidade de Eno na mesa de produção, levando a música de um semi-silêncio a um rompante furioso explodindo em peso e agressividade sonora. A grande obra fecha com a excelente “Mothers of the Disappeared”, uma balada triste, emocionada e sombria sobre os desaparecidos nas ditaduras latino-americanas.
Ainda viriam a repetir a dose de americanismo com “Rattle and Hum”, um disco/filme, meio ao vivo, meio de estúdio, onde exageravam ainda mais no conceito, porém depois disso, em nome de um ‘rompimento’ com tudo aquilo resolveram, como o próprio Bono mesmo dissera, ‘derrubar Joshua Tree a machadadas’ e para isso fizeram o superestimado “Achtung Baby”, gravado em Berlin e curiosamente muito bem recebido tanto por crítica quanto por público, provavelmente pela proposta, pela roupagem, experimentação, mas cujo resultado, na minha opinião foi bastante confuso e pífio.
Colocando as coisas desta forma pode parecer que não gosto do U2, mas não é verdade. Exceção feita aos primeiros que, como eu disse são fraquíssimos, e os últimos, depois do "Zooropa", tenho todos os discos dos caras. Acho sim uma banda supervalorizada cuja discografia é um tanto irregular e que não é o timaço de craques como às vezes se faz supor. Ao passo que Bono, efetivamente é um grande vocalista, a outra 'estrela' da constelação, pouco reconhecida, é na verdade o baixista Adam Clayton que segura com extrema competência as pontas para o apenas mediano, mas muito marketeiro, The Edge fazer sempre o mesmo solo (ainda mais depois do "Achtung Baby" quando os pedais de efeitos fazem quase tudo por ele) e Larry Mullen Jr., o bateirista, até que criativo, trabalhar bem ali na cozinha.
Fato é que depois da fase americana, tirando o ótimo “Zooropa” de 1993, onde aperfeiçoam o conceito mal desenvolvido em "Achtung Baby", o U2 nunca mais seria o mesmo, tentando ser pop demais, errando a mão quase sempre, se perdendo entre a ação e o discurso, exagerando nas demagogias, sempre emplacando seus hitzinhos, é verdade, mas nunca mais tendo conseguido produzir um disco tão bom quanto “The Joshua Tree”.

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FAIXAS:

1. "Where the Streets Have No Name" 5:38
2. "I Still Haven't Found What I'm Looking For" 4:38
3. "With or Without You" 4:56
4. "Bullet the Blue Sky" 4:32
5. "Running to Stand Still" 4:18
6. "Red Hill Mining Town" 4:54
7. "In God's Country" 2:57
8. "Trip Through Your Wires" 3:33
9. "One Tree Hill" 5:23
10. "Exit" 4:13
11. "Mothers of the Disappeared"

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Ouça:
U2 The Joshua Tree



Cly Reis

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

"U23D", de Catherine Owens e Mark Pellington (2008)



Olha, perdi minha paciência com o U2 já faz algum tempo. Mais precisamente desde o Achtung Baby, um disco pop no pior sentido da expressão, fraquíssimo com uma banda que tinha perdido sua identidade. Desde então, salvo o discaço Zooropa, levado nas costas por Brian Eno, que sempre produziu as melhores coisas da banda, não fizeram nada que relamente valesse algum entusiasmo. Depois de virarem umas caricaturas de si próprios resolveram retomar um caminho que tinham renegado quando, segundo o próprio Bono, não queriam ser salvadores do mundo. Resultado: uma banda que é o retrato da demagogia.

Já tinha visto pela TV o show de São Paulo da turne Vertigo, com direito a Katilce subindo no palco e tudo mais já sabendo que não podia esperar grande coisa do show em si. Fui então ver o "U23D" mais por causa do tal 3D.

Cara, e não é que valeu a pena!

A sensação de um show de rock, com imagens extremamente bem estudadas e captadas com primor, com este tipo de tecnologia e recurso, é simplesmente fantástica.

É logico, que tem que se gostar minimamente da banda pra curtir o que se está assistindo e apesar da minhas restrições, curto muito as músicas mais antigas que acabam salvando um repertório de altos e baixos. Acaba enchendo o saco, um pouco, aquela baboseira de "bom moço" do Bono. Blá, blá, blá, direitos humanos, a guerra, a igualdade, quando na verdade só tá preocupado em encher as burras de dinheiro.

Mas enquanto filme, tudo isso é compensado pela clima de estar praticamente na primeira fila, praticamente no palco, com a sensação de se poder tocar nas cordas do baixo do The Edge ou do Clayton, bater nos pratos do Mullen Jr., ou abraçar o Bono, ou talvez esfaqueá-lo...


Cly Reis