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terça-feira, 5 de agosto de 2025

"Easy Riders, Raging Bulls: Como a Geração Sexo-Drogas-e-Rock’n’roll Salvou Hollywood", de Peter Biskind - ed. Intrínseca (2009)



por Márcio Pinheiro

"Os anos 70 foram, de fato, uma era de ouro, 'a última grande era' [...] Foi a última vez que Hollywood produziu um bloco de filmes arriscados e de alta qualidade - em vez de uma rara e solitária obra-prima -, que eram impulsionados por seus personagens e não pela trama, que desafiavam as convenções tradicionais da narrativa, que desafiavam a tirania da correção técnica, que quebravam os tabus da linguagem e do comportamento, que ousavam ter finais infelizes".
Peter Biskind

Foi o paraíso na Terra. Durante pouco mais de uma década os filmes que saiam de Hollywood surgiam na cabeça dos diretores. Eram eles – e só eles – que tinham direito de levar à tela o que bem entendessem. O início foi com "Bonnie & Clyde", lançado em 1967, e serviu para revelar uma geração que incluía Peter Bogdanovich, Hal Ashby, Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, George Lucas e Steven Spielberg. Os anos loucos que essa turma deu as cartas estão em "Easy Riders, Raging Bulls: Como a Geração Sexo-Drogas-e-Rock’n’roll Salvou Hollywood", livro do jornalista americano Peter Biskind com primorosa tradução de Ana Maria Bahiana.

Publicado originalmente há mais de 15 anos, o livro continua atual. É o mais detalhado e escabroso relato de como esse diretores – auxiliado por atores como Warren Beatty, Jack Nicholson, Peter Fonda – assumiram o controle da produção cinematográfica depois da falência dos grandes estúdios. A Nova Hollywood era ousada e atrevida. Tinha coragem para propor e realizar filmes com temas polêmicos – Máfia, Vietnã, suicídios, drogas, homossexualismo, serial killer – e dinheiro para gastar. O resultado se refletiria em obras como "O Poderoso Chefão", "Chinatown", "Tubarão", "Ensina-me a Viver", "Sem Destino" e "Touro Indomável"

O sonho acabaria no começo dos anos 80, com o megafracasso "O Portal do Paraiso", de Michael Cimino, filme que custou US$ 50 milhões e faturou apenas US$ 1,5 milhão. Os garotos de ouro entraram em desgraça e quase todos eles enfrentaram pesada tragédias pessoais. Mas nos 13 anos desta primavera eles ganharam muito dinheiro – e se divertiram muito.

sexta-feira, 31 de julho de 2015

“Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas”, de Arthur Penn (1967)



Quando assistir a um grande filme dos anos 60 e 70, agradeça a Warren Beatty
por Francisco Bino




Poster original de 
"Bonnie e Clyde"
Depois do período turbulento e da quebra de alguns dos grandes estúdios nos anos 50, o cinema yanquee enfrentava uma péssima fase. Ninguém queria saber mais de Rock Hudson, épicos e filmes bíblicos. As salas de cinema esvaziaram e as brilhantes produções europeias e japonesas eram cada vez mais tratadas como salvação do cinema mundial. Os baby boom, a geração dos anos 60, queriam coisas novas e voltaram rapidamente seus olhos para o outro lado do Atlântico. Esse foi o primeiro sinal vermelho. Os grandes chefões tinham perdido muito dinheiro com produções catastróficas e estavam dispostos a baixar um pouco a guarda para ter seus públicos de volta e recuperar suas cifras. Mas ainda não tinham entendido bem o recado de que agora as coisas não seriam do jeito deles.
Faye e Beatty antevendo a revolução sexual
e social da sociedade moderna
Uma geração renegada da TV, teatro e cinema independente estava se preparando para assumir o controle nas produções. Diretores, produtores e atores iam dar início a um movimento chamado "New Hollywood" a mais autoral e criativa da história do cinema daquele país. Mas, obviamente, ainda enfrentariam uma dura resistência. O filme “Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas”, de Arthur Penn, de 1967, seria o marco inicial de toda essa geração. Tudo graças a Warren Beatty, que brigou com os estúdios para ter seu projeto financiado e sob seu controle, longe do pitaco dos chefões. “Bonnie & Clyde” acabou sendo um sucesso em público, prêmios e crítica. A toda poderosa Pauline Kael fez enormes elogios ao filme de Beatty, Robert Towne e Arthur Penn e, de quebra, chamou a Warner de conservadora demais, pois eles subestimaram a produção. Esse foi o segundo sinal vermelho. Mais tarde os executivos entenderiam o recado.
Mesmo assim, o filme gerou enormes polêmicas e não foi tão bem aceito por parte da comunidade de Hollywood, que ainda não estava preparada para este tipo de produção. Pois “Bonnie & Clyde” era freudiano, revolucionário e trazia consigo a mensagem da liberação sexual de uma era que estava chegando. E ao mesmo tempo debochava dos filmes de gângsteres dos antigos estúdios – suas tomadas de tiroteios em Keystone Kops ao estilo das comédias mudas eram uma provocação dizendo: "nos podemos fazer melhor seus ultrapassados". A violência do filme era uma outra metáfora: o Vietnã inflamava com o "cheiro de Napalm pela manhã" e corpos de US Marines crivados de bala na TV. E Beatty, pela primeira vez na história, mostrava os efeitos dos tiros em um corpo e o sangue jorrando nas telas de cinema. Vários diretores beberam dessa fonte estética violenta. Sam Peckinpah seria um deles e a usaria em seu grande filme, "Meu Ódio Será Sua Herança". O crítico Peter Biskind disse: "Se os filmes de James Bond legitimavam a violência dos governos, e os de Sergio Leone legitimavam a violência dos vingadores solitários, ‘Bonnie & Clyde’ legitimava a violência contra o sistema, a mesma que ardia nos corações e mentes de centenas de milhares de oponentes frustrados da Guerra do Vietnã."
Gene Hackman, Blanche Parson,
Beatty, Faye e Michael Pollard
Depois de “Bonnie & Clyde” a porta estava mais aberta, “Sem Destino” seria concebido por hippies doidões; renegados e nerds se juntariam a eles para exteriorizar em criação aquilo que tinham na alma e eram reprimidos pelo sistema conservador dos estúdios que, agora de guarda baixa, tinha sua porta arrombada. A New Hollywood estremeceria os anos 60 e 70 ao som de rock, drogas, sexo, brigas e na produção dos melhores filmes da história do cinema norte-americano. Muitos deles de forma "we made", cinema puro, visceral e sem efeitos especiais. O fenômeno teria um fim, é claro, no início dos anos 80, com “Touro Indomável”, que encerraria tudo. Ciclo que pouco antes já era decretado como morto por causa de “O Portal do Paraíso”, considerado o filme que matou o gênero Western e ainda quebrou a United Artists, a grande companhia independente e financiadora dos projetos da New Hollywood.
Nos anos 80, os estúdios assumiriam o controle outra vez, com normas e uma série de regras para as produções e orçamentos. Os diretores seriam meros instrumentos nas mãos de chefões e estúdios, que somente visavam quantias bilionárias e despejavam superproduções cheias de efeitos especiais e roteiros "step by step" vazios. Aquilo que ainda é visto no "cinema" nos dias de hoje. A geração New Hollywood morreu e os estúdios por hora venceram a batalha. Sepultada, não sei, mas nada foi em vão, já que eles deixaram uma marca criativa jamais superada por outras gerações que as sucederam. Por isso tudo, quando você assistir a um grande filme destas duas décadas, 60 e 70, agradeça a um sujeito chamado Warren Beatty e a um time de párias, errantes e loucos que construíram com inteligência e autoria o melhor momento do cinema mundial.