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sábado, 29 de dezembro de 2018

CLAQUETE ESPECIAL DE 10 ANOS DO CLYBLOG - "Tinta Bruta", de Filipe Matzembacher e Márcio Reolon (2018), por Cleiton Echeveste



"Tinta Bruta"
por Cleiton Echeveste


Mesmo tendo assistido a “Tinta Bruta” há vários dias, os personagens e a história do filme seguem comigo. E a sensação que eu tenho é de que eles vão continuar me acompanhando ainda por um bom tempo. Em meio aos lançamentos de final de ano nos cinemas (entre eles tantos blockbusters, filmes descerebrados com personalidades de mídia e filmes desconectados de quaisquer questões humanas, e ainda alguns poucos que visam algo mais do que a arrecadação da bilheteria ou os prêmios da temporada), provavelmente “Tinta Bruta” tenha passado despercebido pela grande maioria. Ainda assim, o prêmio Teddy no Festival de Berlim e a distribuição (limitada, porém valiosa) da Vitrine Petrobras, a partir do seu sucesso no Festival de Cinema do Rio, sinalizam que há olhares atentos e – ainda, felizmente – caminhos para a distribuição do cinema independente de qualidade feito no país.
Depois de “Beira-mar” (disponível no Netflix), este é o segundo longa de Filipe Matzembacher e Márcio Reolon, que também assinam o roteiro do filme. Pedro (Shico Menegat) é um jovem com escassos vínculos afetivos. Sua mãe já morreu. Do pai, não teve mais notícias. Sua única irmã está de mudança para outro estado e sua avó mora no interior. Abandonou a faculdade por questões relacionadas ao bullying do qual é vitima e que foram a causa do processo criminal ao qual responde. A internet representa pra ele uma espécie de refúgio, onde assume a identidade de GarotoNeon, em performances eróticas nas quais pinta seu corpo com tinta fosforescente. Assim como tantos jovens, Pedro recorre ao imaginário, através do mundo virtual, para tenta dar algum sentido à vida. O mundo real, em contraponto, é uma Porto Alegre fria, sombria e opressiva, representada por silhuetas nas janelas, olhares que espreitam e que são testemunhas/espectadores de uma realidade pela qual não se permitem afetar. Um mundo nem um pouco propício para encontros ou trocas afetivas. Essas imagens são o epítome da sociedade contemporânea do espetáculo, em um viés conservador e decadente.
Na minha relação com a arte, busco ser o menos analítico possível ao vivenciá-la, esteja eu no lugar de criação ou de fruição. A análise é fria e requer distanciamento, e foi exatamente o contrário disso que “Tinta Bruta” me proporcionou: a vivência da minha humanidade, da minha falibilidade, de dores que são também minhas e que são, por isso, plenamente identificáveis. Se “Tinta Bruta” não é um marco no cinema brasileiro que aborda histórias de personagens LGBTIQ+, o filme, no entanto, significa, sem dúvida, um gesto forte e marcante, indispensável em um Brasil que, em boa parte, nega sua diversidade, sua memória e sua própria história, que criminaliza a arte e a cultura, e que diariamente mata (real ou simbolicamente) quem ousa conduzir sua vida de uma forma mais livre, sem a adesão a regras que, de tão podres, já não se sustentam.
Neste texto refaço um caminho particular por aquilo que me marcou no filme e que dialoga tão diretamente com questões muito definidoras da minha própria existência. Esta revisão, entretanto, é duplamente parcial, afinal “Tinta Bruta” é um filme que apresenta tantas camadas que uma resenha apenas não daria conta de abordá-las todas satisfatoriamente. É um filme difícil de ser definido ou enquadrado. É denso, chocante, assustador, mas também delicado e profundamente humano. Um tipo bastante raro de filme que se impõe pela consistência da sua estrutura.  São questões humanas que potencialmente atravessam todo e qualquer espectador. Por isso, dizer que se trata de um filme de gueto seria limitador.
Leo e Pedro  e sua geração que ainda busca
as tintas certas para colorir o seu mundo.
Talvez seja necessário dizer que “Tinta Bruta” não é um filme perfeito. Há falhas no roteiro, mais precisamente nos diálogos, vejo questões na direção de atores, na qualidade técnica, especialmente do som. E isso é bom, muito bom! Porque eu entendo que, ainda que pese a questão da limitação orçamentária, o filme não se pretende perfeito e acabado, até pelo próprio universo em (des)/(re)construção que ele nos apresenta e pelo que representa na trajetória de seus jovens criadores. E, ainda assim, são tantos os acertos e tão importante o impacto que ele gera no espectador, que os seus eventuais “defeitos” podem e devem ser relevados. Há um bem muito maior em questão e este bem é precioso.
A trajetória de Pedro é uma autêntica jornada rumo ao entendimento: o entendimento de si mesmo e do mundo que nos cerca, com suas idiossincrasias, sua crueldade, sua frieza, mas também com sua beleza, sua luz, sua poesia. Nesse sentido, é encantador acompanhar o encontro de Pedro e de Leo. Do atrito inicial, provocado por uma disputa sobre quem tem o direito de usar tinta fosforescente (num sentido literal, a tinta bruta a que o título alude) em suas performances na internet, a relação dos dois evolui para um encontro autêntico entre dois seres de uma geração que não vê muito sentido no mundo como ele se apresenta. São existências em ebulição, em transformação, seres potencialmente revolucionários. Ambos parecem estar em permanente tensão, em busca de um ponto de escape. Essas buscas são compartilhadas com o espectador, através de uma narrativa que tem o ritmo e o tempo certos. Na verdade, personagens e narrativa nos seduzem, nos envolvendo não como quem olha pelo buraco da fechadura, mas como quem compartilha o mesmo espaço, o mesmo ambiente incerto e sufocante. A questão que de início contrapõe Pedro e Leo não é pequena pra nenhum dos dois: pra Pedro suas performances representam sua única fonte de renda e, principalmente, elas são seu único elo com o mundo “real” – ainda que ele se dê exclusivamente pela via virtual; e para Leo, elas são a possibilidade de juntar dinheiro para uma desejada viagem de estudos ao exterior. Bailarino, Leo ganhou uma bolsa para estudar na Argentina, e promete a Pedro que sua concorrência tem prazo de validade. Mas aquele que aparenta ser um concorrente acaba por se tornar um parceiro. A certa altura esse prazo cai, mas isso se dá num momento em que Pedro e Leo já estão de tal maneira envolvidos afetiva e profissionalmente que, na prática, nada significa.
Apesar dos cíclicos reveses (culturais, históricos, econômicos, naturais), “Tinta Bruta” sinaliza que o sentido da vida é a evolução. Como a planta, nós também buscamos a luz. E a água e o alimento, material e espiritual. E pra que isso aconteça agimos como a planta – afinal somos também natureza – que ultrapassa obstáculos, transpõe limites, supera a si mesma, em alguma medida heroicamente, mas sempre demonstrando resiliência. “Tinta Bruta” nos faz lembrar que essa batalha é combatida individualmente, ainda que na eventual companhia do outro. E esse outro – cuja presença é ironicamente fundamental à nossa jornada – também trava suas próprias lutas, cotidianas e, muitas vezes, invisíveis aos olhos alheios. Os reveses na vida de Pedro são inúmeros. A vida nele, no entanto, pulsa.
A cena final do filme, sem palavras e plena de significados, até hoje me assombra e me comove. Me faz lembrar de algumas vezes em que uma única cena concentrou tamanha potência dramática e carga poética. Consigo lembrar de dois filmes que, aliás, também podem ser colocados sob o grande guarda-chuva de “cinema LGBTIQ+”, mas que igualmente transcendem esse rótulo: “O segredo de Brokeback Mountain” (2005) e “Me chame pelo seu nome” (2016). A pungência dos acontecimentos relacionados aos personagens centrais destes filmes e a força das imagens encontradas por seus diretores para expressá-las é algo que não se digere com facilidade. São vivenciais que saltam da tela e nos atingem por sua força e inevitabilidade. Em “Tinta Bruta”, no entanto, esse recurso alcança um efeito mais visceral. Se nos dois exemplos citados a dor que dilacera está relacionada à perda irreparável de um amor, aqui a dor é a dor do crescimento, do lançar-se ao mundo. Como num rito de passagem, a cena final significa uma mudança de eixo tão arrebatadora pra Pedro que um novo filme poderia começar ali. É a vida mesma que se insurge, se esgueirando por uma brecha, em busca da luz e que, determinada, vigorosa, doída e bela, redefine e recompõe uma existência. Para o espectador, é uma rasteira tão grande em quem eventualmente lesse o filme de uma maneira convencional, ou em quem esperasse uma habitual – e hipócrita – redenção pelo viés judaico-cristão de culpa e castigo, que ficamos afundados na poltrona do cinema, olhos vidrados e lágrimas escorrendo, estarrecidos com a força vital com que a tela se enche.
Se a vida pressupõe confrontação e, mais do que nunca, resistência, a arte se torna grande, imensa, quando nos oferece a oportunidade – assim como faz “Tinta Bruta” – de fortalecermos nossa confiança de que, sim, a vida vale a pena. Bravo!

Frente a frente, Leo, o GarotoNeon, e Pedro, o Guri, 25.


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Cleiton Echeveste é ator, dramaturgo e diretor de teatro, graduado em Artes Cênicas (UFRGS), onde também estudou Letras. É um dos criadores da Pandorga Cia. de Teatro, na qual é autor e diretor de O Menino que Brincava de Ser (indicação ao 2º Prêmio CBTIJ de Teatro para Crianças) e Cabeça de Vento (ganhador de prêmios de melhor texto nos festivais de Ponta Grossa/PR e Duque de Caxias/RJ). Com a Pandorga, criou Juvenal, Pita e o Velocípede (ganhador do 10º Prêmio Zilka Sallaberry de Teatro Infantil, categoria texto). Único dramaturgo latino-americano no festival de dramaturgia New Visions/New Voices 2014 (Washington, D.C./EUA). Em 2016, na Casa de la Literatura Peruana, em Lima, participou do VI Congreso de Literatura Infantil y Juvenil e do 1er. Festival del Libro y las Ideas, com mesas-redondas, conferências e oficina de processo colaborativo. Atualmente é o presidente do Conselho de Administração do Centro Brasileiro de Teatro de Teatro para Infância e a Juventude – CBTIJ/ASSITEJ Brasil. Site: https://pandorgaciadeteatro.wordpress.com/   

segunda-feira, 9 de julho de 2018

CLAQUETE ESPECIAL 10 ANOS DO CLYBLOG - "O Sacrifício", de Andrei Tarkovsky (1986)



Todo presente é um sacrifício
por Cleiton Echeveste


“Estou interessado no homem que contém o universo dentro de si mesmo. E a fim de encontrar a expressão para a ideia, para o significado da vida humana, não há necessidade de um pano de fundo repleto de acontecimentos”. 
Andrei Tarkovsky


Quando recebi o convite para escrever um texto que refletisse sobre a forma como o filme “O Sacrifício” (1986), de Andrei Tarkovsky, inspirou/influenciou a criação do meu espetáculo teatral para todos os públicos “Cabeça de Vento” (2012), pensei que essa “viagem no tempo” – afinal lá se vão praticamente sete anos desde que escrevi o texto e dirigi a montagem da Pandorga Cia. de Teatro – me custaria muito tempo e muita (re)elaboração. Para minha sorte e felicidade, o convite do meu querido amigo Daniel Rodrigues se mostrou mais do que pertinente nesse momento, quando reensaio o espetáculo – em repertório desde a estreia, com a mesma concepção e algumas trocas no elenco – em sua versão em espanhol, para uma temporada da Pandorga em Lima, no Peru. Revê-lo agora – filme, texto, espetáculo, bem como motivações, desejos, inspirações – é um exercício prazeroso de mergulho no meu próprio processo de criação.

Não consigo – até esse momento – lembrar como foi que cheguei ao filme de Tarkovsky. Provavelmente o encontro se deu por indicação de um amigo. Ou por pura sincronicidade, já que, em 2010, vivia um dos períodos mais intensos e marcantes da minha vida, que foi a morte do meu pai. Aquela perda me fez parar e dar alguns passos atrás para recuperar o fôlego. A criação do texto veio meses após a morte dele, e foi acolhida pela equipe de criação e produção com uma confiança e uma entrega comoventes. Do início da escrita do texto à estreia da montagem passou-se não mais que um ano, entre março de 2011 e março de 2012. Outras referências me serviram de inspiração nesse período, mas nenhuma delas teve ou tem a força poética e simbólica que tem o derradeiro filme do grande cineasta russo.

Relação pai e filho: a árvore como
símbolo da continuidade da vida
Apontar um único sentido nessa fonte de inspiração é impossível. Ela se deu de forma pulverizada, em aspectos que vão do andamento à edição, do perfil do personagem central (Alexander) ao estado contemplativo que o filme provoca. Revê-lo agora para escrever estas linhas é um exercício de resgate e de redescoberta do encantamento exercido por essa obra magistral. Se com “O Sacrifício” Tarkovsky queria se contrapor ao cinema comercial, em “Cabeça de Vento”, por meu turno, busquei fugir do padrão atribuído aos espetáculos para infância e juventude (que no caso do meu trabalho prefiro chamar de teatro para todos os públicos): excesso de movimentação, geralmente esvaziada; música feita para grudar no ouvido do espectador; humor óbvio e de fácil apelo; personagens tipificados; overdose de cores na concepção visual como um todo; entre outras características ainda menos abonadoras. Remar contra a corrente e oferecer ao público algo um pouco mais aprofundado e conectado a um sentido espiritual da existência humana foram nortes importantes apreendidos/assimilados dessa inspiração em Tarkovsky.

Esperança e confiança

A frase que escolhi como título este texto, vem de uma fala do carteiro-filósofo Otto, personagem do filme, dita ao presentear Alexander com uma réplica do quadro “A Adoração dos Magos”, de Leonardo da Vinci. Ela me faz pensar no sentido possível da palavra presente como um dom (no inglês, a palavra gift possui estas duas acepções), um dom mágico, como aquele dom transmitido pela fada-madrinha/benfeitora à criança nos contos de fada tradicionais – como a boneca dada a Vasalisa pela mãe, que a protegerá em futuras situações que representarão perigo à menina.

A impressionante cena do incêndio: morte simbólica e renovação
Qual seria, então, o dom concedido por Alexander ao seu pequeno filho? É apenas ao final do filme que ele diz duas frases, as quais ecoam a primeira fala do pai no filme. Seria o dom da fala, da palavra, da capacidade de reflexão? Será esse também o maior dom que nós, animais racionais, herdamos dos nossos ancestrais? Qual é o dom, afinal, concedido pelo pai ao personagem Leo, de “Cabeça de Vento”? O presente, objeto físico, é representado por um livro de história, em que são brevemente narradas as biografias de grandes personalidades históricas (Leonardo da Vinci, Mahatma Gandhi, Ricardo Coração de Leão, Benjamin Franklin, entre outros). E também por uma pipa, objeto ícone (ou até objeto transicional, neste caso), que o menino ganhou do pai, pouco antes deste falecer. Ambos conectam o Léo, simbólica, mas também concretamente, com um sentido menos materialista da vida, sinalizando a ele uma perspectiva de “esperança e confiança”, fundamentais, a meu ver, em toda obra artística voltada para crianças e jovens. “Esperança e confiança” são, aliás, as duas palavras com as quais Tarkovsky conclui a dedicatória do seu filme ao filho.

Por outro lado, vejo a cena de abertura do filme como um ato de fé na força da vida e também um desafio às novas gerações. Enquanto narra uma parábola oriental para o filho, Alexander planta uma árvore aparentemente morta. De acordo com a parábola, após regar durante três anos uma árvore também aparentemente morta na encosta de uma colina, por orientação do seu mestre, um discípulo consegue reavivá-la. Da mesma forma, ao final do filme, o filho de Alexander rega a árvore plantada pelo pai. Enquanto o pai cala-se, após refletir e discutir sobre o esvaziamento da vida humana contemporânea durante praticamente todo o filme, o menino, nesta cena final, ganha voz e fala: “No principio era o verbo. Por que, papai?”


cena final de "O Sacrifício"

Esse questionamento ganha ainda mais impacto por ter sido precedido, na cena imediatamente anterior, pela impressionante cena do incêndio da casa de Alexander, causado pelo próprio. O que é esse incêndio senão a destruição simbólica de todas as estruturas existentes para que o novo possa surgir? O final de um ciclo e início de um tempo novo, que necessariamente há de surgir. Paralelamente, “Cabeça de Vento” significa a construção de uma nova forma de estar no mundo, um novo olhar para a vida e para as relações. A partir de um questionamento do porquê da partida tão súbita do pai, Léo reconstrói um novo mundo, a partir do legado deixado por ele.

“O Sacrifício” é também um filme-legado, é o filme-síntese de toda a obra de Tarkovsky e uma afirmação veemente da confiança de que é somente a perspectiva espiritual que pode ajudar o homem a construir um sentido positivo para sua existência.

Rio de Janeiro, 08/7/18


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Cleiton Echeveste é ator, dramaturgo e diretor de teatro, graduado em Artes Cênicas (UFRGS), onde também estudou Letras. É um dos criadores da Pandorga Cia. de Teatro, na qual é autor e diretor de O Menino que Brincava de Ser (indicação ao 2º Prêmio CBTIJ de Teatro para Crianças) e Cabeça de Vento (ganhador de prêmios de melhor texto nos festivais de Ponta Grossa/PR e Duque de Caxias/RJ). Com a Pandorga, criou Juvenal, Pita e o Velocípede (ganhador do 10º Prêmio Zilka Sallaberry de Teatro Infantil, categoria texto). Único dramaturgo latino-americano no festival de dramaturgia New Visions/New Voices 2014 (Washington, D.C./EUA). Em 2016, na Casa de la Literatura Peruana, em Lima, participou do VI Congreso de Literatura Infantil y Juvenil e do 1er. Festival del Libro y las Ideas, com mesas-redondas, conferências e oficina de processo colaborativo. Atualmente é o presidente do Conselho de Administração do Centro Brasileiro de Teatro de Teatro para Infância e a Juventude – CBTIJ/ASSITEJ Brasil. Site: https://pandorgaciadeteatro.wordpress.com/   

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Cabeça de Vento


Cabeça de Vento aborda a Morte



Cabeça de Vento é o segundo espetáculo infantil da Cia. Pandorga que apresenta montagens infanto-juvenis teatrais com “ar” de gente grande. É a constatação de que a verdadeira conversa entre adultos e crianças pode e deve ser inteligente, desafiadora e criativa. Numa demonstração prática de respeito à criança - indivíduo repleto de potencial e que nessa fase de formação precisa ser bem nutrida, contatando uma Arte sensibilizadora – o espetáculo cumpre com o seu objetivo – refletir de uma maneira sensível e ao mesmo tempo lúdica sobre os processos de morte.
O protagonista Léo e seu pai.
Entendendo a vida e a morte.
(foto: Cristina Froment)
Em 2011 a Cia. Pandorga recebeu o Prêmio Montagem Cênica da Funarte, com patrocínio da Petrobras e parceria com a GAM Produções montou o novo espetáculo “Cabeça de Vento” texto autoral de Cleiton Echeveste que propõe uma busca-mergulho-investigação diante a perda de um dos genitores (neste caso do pai), sobre como lidar com essa ausência/presença, seu lugar em nossa vida e a forma como ele permanecerá. Léo (o personagem principal) é um menino de oito anos que, ao ganhar um livro que pertenceu ao pai, faz uma viagem no tempo,
encontrando personagens como o cientista e inventor Benjamin Franklin, a guerreira e rainha chinesa Fu Hao e Ricardo Coração de Leão, rei da Inglaterra. Essa é a história central do espetáculo que mostra também paralelamente a origem e a história da pipa, através do olhar infantil.
Sua grande paixão: as pipas
(foto: Cristina Froment)
Apaixonado por pipas, Léo tenta lidar com a morte recente do pai. Assim, enquanto interage com personagens importantes da História, sem perceber, o menino elabora a perda recente, sob as diferentes perspectivas de vida e morte apresentadas a ele durante esses encontros inusitados.
O espetáculo traz imagens maravilhosas, como a de dormir entre os bambus, uma simbologia do sono aconchegante no colo do pai. A referência aos apelidos de uma forma afetiva e não preconceituosa, constrói as relações entre pai e filho que transformam Léo, afetivamente em Leléo. Lidar com tantos personagens que possibilitam reflexão sobre inimigos internos, vindos da lucidez da filosófica oriental, e de insights como “a memória viverá para sempre”, ensina que essa vivência pode ser transformadora e de fato é em qualquer idade.
Nas 'viagens' de Léo, ele encontra
a rainha chinesa Fu Hao
(foto: Cristina Froment)
O espetáculo conta com as atuações de Eduardo Almeida, Jan Macedo e Luciana Zule que receberam prêmios por suas atuações. A trilha sonora é de Gustavo Finkler premiadíssimo músico que antes desenvolveu inúmeras trilhas com o grupo Cuidado que Mancha e atualmente desenvolve suas poesias na Cia. Cabelo de Maria. A direção e texto são de Cleiton Echeveste, que desponta como um autor contemporâneo marcante interligando uma série de referências culturais em suas criações, tornando-as verdadeiros mapas criativos de auto-conhecimento.
Pronto agora mantenha seus pés no chão, reserve linha, papel, cola e bambu. Deixe sua cabeça ao flutuar pelo ar, monte sua pipa e embarque nessa aventura de descoberta e libertação. Bom espetáculo!



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Próximas apresentações 2012:

- No dia 14 de outubro “Cabeça de Vento” estará no Teatro SESC São João de Meriti/Rio de Janeiro.

- A próxima temporada “Cabeça de Vento” no Rio de Janeiro será de 03 a 11 de novembro, sempre aos sábados e domingos, às 17h, no Teatro SESC Tijuca.

- No dia 13de novembro “Cabeça de Vento” estará no 40º Festival Nacional de Teatro de Ponta Grossa/Paraná.

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Premiações 2012:

Em agosto no XIII FESTIVAL NACIONAL DE TEATRO DE GUAÇUÍ/ES em agosto de 2012 de Melhor Ator – Jan Macedo/ Melhor Atriz – Luciana Zule/ Melhor Figurino – Daniele Geammal/ Melhor Trilha Sonora – Gustavo Finkler/ Melhor Maquiagem – Rodrigo Reinoso e Francisco Leite e teve indicações nas categorias: espetáculo, direção, texto, iluminação, ator coadjuvante e cenário.

Em setembro no IX FESTIVAL NACIONAL DE TEATRO DE DUQUE DE CAXIAS recebeu os prêmios: Melhor Espetáculo/ Melhor Texto Original/ Melhor Ator - Jan Macedo/ Melhor Ator Coadjuvante - Eduardo Almeida/ Melhor Iluminação - Tiago Mantovani e teve indicações nas categorias: direção e cenário.

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Breve histórico da Cia Pandorga:

A Cia Pandorga criada em 2005 por Cleiton Echeveste e Eduardo Almeida pesquisa temas que possibilitem montagens diferenciadas, buscando textos autorais de qualidade. Cleiton que dirige a Cia, diz: “A proposta da Companhia é o desenvolvimento de um trabalho de qualidade e de pesquisa em teatro, independente da faixa etária a que seus espetáculos se destinam. O grupo se propõe também à busca de uma linguagem cênica contemporânea, que dialogue com a dramaturgia clássica, mas que também vá ao encontro de outros gêneros da literatura, como o conto e a poesia.”
Em 2007 a Cia chega aos palcos com a montagem “O Menino que Brincava de Ser” inspirado no livro homônimo de Georina Martins, lançado nove anos antes com ilustrações de Pinky Wainer. O livro se empenha em desmontar o preconceito contra a aparente homossexualidade de um menino – o Dudu quer virar menina- através de uma fábula cheia de lirismo e de símbolos. O crítico teatral Carlos Augusto Nazareth comenta: “O Menino que Brincava de Ser – através do jogo do teatro, da brincadeira infantil do “faz de conta”, do humor – discute questões cotidianas de uma família, a relação familiar, o autoritarismo, o machismo, as dúvidas que por vezes a criança tem em relação à sua sexualidade e a reação diversa da família com o lidar com esta questão. Os temas são difíceis de serem conduzidos, mas equilibrando seriedade e humor, Cleiton Echeveste consegue resolver em seu texto teatral as questões colocadas por Georgina Martins, ampliando mesmo, ou pelo menos sublinhando, com maior ênfase, as diversas questões levantadas.” O espetáculo foi adaptação e dirigido por Cleiton Echeveste e apontado em 2009 como um dos cinco melhores espetáculos infantis pela Revista Veja do Rio de Janeiro.