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quarta-feira, 12 de julho de 2023

Música da Cabeça - Programa #326

 

Evoé, MDC! Na roda viva da vida, a arte perde ZÉ CELSO, mas ganha a afirmação de sua eternidade. Celebrando este sempre, o programa traz ele e muitas outras peças, que vão de MY BLOODY VALENTINE a TIM MAIA, de CAN a GERALDO AZEVEDO, de ZÉ MIGUEL WISNIK a ANDRÉ ABUJAMRA. Desafiando a plateia, subimos ao palco hoje às 21h na inquieta RÁDIO ELÉTRICA. Produção, apresentação e "merda!": DANIEL RODRIGUES.



domingo, 15 de agosto de 2021

O Dia em que a Arte Dramática Brasileira Morreu

 

Em 2007, quando, com diferença de menos de 24 horas, os cineastas Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni faleciam, aquela fatídica virada de 29 para 30 de julho ficou conhecida como o “dia em que o cinema moderno morreu”. Semelhante sensação de perda e de triste coincidência se abateu sobre o mundo das artes dramáticas brasileira entre 11 e 12 deste mês de agosto ao despedirmo-nos de dois ícones: Paulo José e Tarcísio Meira. Poucas vezes em tão pouco tempo foi-se embora tanta beleza, tanta significância, tendo em vista a história de cada um para o cinema, a TV e o teatro brasileiros. Até mesmo na vida pessoal pareceram-se. Um, com 84, o outro, com um ano a mais. Na vida pessoal, amaram com fidelidade poucas mulheres igualmente do seu ciclo de atores: Tarcísio, casado com Glória Menezes por 61 anos; Paulo, viúvo de Dina Sfat e, posteriormente, parceiro da também atriz Zezé Polessa.

Paulo em "O Palhaço":
sensibilidade de veterano
Pertencentes a uma geração rara que forjou as artes cênicas no País, como Paulo Gracindo, Cacilda Becker, Sérgio Brito, Walmor Chagas, Bibi Ferreira e Paulo Autran, Paulo e Tarcísio, por meio desse ímpeto pioneiro, ajudaram a esculpir de certa forma o que conhecemos de Brasil. Tanto que é impensável pensar no teatro, no cinema ou na TV sem lembrar de ambos. Paulo, no teatro, criou o Teatro de Equipe, dirigiu o Teatro de Arena, encenou Guarnieri e Molière. Tarcísio, por sua vez, também forjado nos palcos e Prêmio Shell de Teatro por “O Camareiro”, ia de Shakespeare a Keiser.

Mas é no audiovisual que a carreira tanto de um quanto de outro se fez popular, por vários antagônicos motivos – o que só prova suas versatilidades. Como outro grande das artes cênicas recentemente falecido, o sueco Max Von Sydow, capaz de interpretar Jesus Cristo e um cavaleiro assombrado pelo Diabo, Tarcísio, especialmente, foi da cruz ao inferno. Assim como Sydow, o brasileiro foi o Salvador em “A Idade da Terra”, de Glauber Rocha e, noutro extremo, fez a encarnação do demônio ao interpretar o vilão Hermógenes, de “O Grande Sertão: Veredas”, série dirigida por Walter Avancini para a Globo. Com Paulo, não é tão diferente. Se viveu o angustiado religioso de “O Padre e a Moça”, também vestiu o fanfarrão “Macunaíma”, noutro marco do Cinema Novo. 

"O Padre e a Moça", com Paulo José (1966)

"O Beijo no Asfalto", com Tarcísio Meira (1980)


Tarcisão na atuação
premiada de "A Muralha"
Aliás, não faltaram grandes que os dirigissem. Tarcisão, além dos já citados Glauber e Avancini, encarnou “O Marginal” no ótimo e raro filme de Carlos Manga pós-Chanchada, e protagonizou uma das mais emblemáticas cenas da história do cinema nacional com o “beijo mortal” de “O Beijo no Asfalto”, de Bruno Barreto. Tarcísio, e mais ninguém, teria tamanha autoridade para ser D. Pedro II ou o asqueroso Dom Jerônimo Taveira de “A Muralha” ou o “regenerado” Renato Villar de “Roda de Fogo”. 

Paulo, por sua vez, esteve sob as lentes de Joaquim Pedro de Andrade, Jorge Furtado, Domingos Oliveira, Júlio Bressane... Como não lembrar de seus papéis em “Faca de Dois Gumes”, do Murilo Salles, “O Palhaço”, do Selton Mello, “O Rei da Noite”, do Babenco?... Isso quando não era ele mesmo quem dirigia! Paulo oportunizou algo que une e simboliza a obra desses dois gigantes quando dirigiu, gaúcho como era, a série “O Tempo e o Vento”, da obra de Erico Verissimo, dando a Tarcísio com sabedoria o papel de Capitão Rodrigo, aquele que talvez melhor tenha marcado o ator paulista, mas que, com seu talento, identificou-se profundamente com os gaúchos. 

Considerando que, desta geração nascida por volta dos anos 30 e que erigiu a arte de encenar no maior país da América depois dos Estados Unidos, resta apenas Fernanda Montenegro (vida longa!), não é exagero dizer que esta semana de agosto de 2021 poderá ser lembrada pelo “dia em que a arte dramática brasileira morreu”. 

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PAULO JOSÉ GÓMEZ DE SOUSA
(1937-2021)



TARCÍSIO PEREIRA DE MAGALHÃES SOBRINHO
(1935-2021)



Daniel Rodrigues

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

"A Tempestade", de William Shakespeare (1612-13) - Coleção Universidade de Bolso - ed. Ediouro

 




Edição que eu tinha
em casa e que li
pela primeira vez.
"... Assim, por pura gentileza,
sabendo o quanto amava meus livros,
trouxe-me de minha própria biblioteca,
volumes que eu prezava mais
do que meu próprio ducado."
Próspero



Eu comecei com Shakespeare, literalmente, pelo final. Quando começamos a nos interessar, meu irmão e eu, pelo escritor inglês, por causa das versões cinematográficas e referências em músicas, ganhamos um livro que era um estudo da obra do autor, peça por peça, analisando detalhes, frases, passagens e pormenores de cada uma de suas famosas histórias. Acabei ficando, de certa forma, "experiente" em Shakespeare antes mesmo de ler um de seus livros. Mas logo em seguida meu irmão ganhou uma pequena coleção com duas peças em cada número e finalmente tive contato direto com a obra à qual eu já havia dissecado e pela qual só ficara mais curioso. O interessante é que, em relação à sua bibliografia, por acaso, acabei também começando pelo final. A primeira obra de Shakespeare que li foi "A Tempestade", creditada por muitos estudiosos e especialistas como a última escrita pelo Bardo, embora haja controvérsias em relação ao assunto. Mas, o fato é que a peça, de todo modo foi escrita, sim, nos últimos anos de trabalho de Shakespeare e, de fato revela um escritor já experiente, com amplo domínio de sua própria obra, de sua própria escrita, livre e totalmente à vontade com os temas que desejava abordar e como fazê-lo, desenvolvendo um de seus melhores trabalhos, utilizando-se de diversos elementos de seu próprio repertório com maestria e desenvoltura. "A Tempestade" tem a intriga, a traição, o romance, a comédia, a magia, tudo distribuído de forma muita propriedade. O elemento fantástico, metafísico se faz presente de modo significativo e é explorado magnificamente através de um  recurso que faz do texto algo ainda mais especial: livros. Shakespeare eleva os livros a uma condição de poder supremo. Próspero, o duque traído, deposto e exilado numa ilha com a filha Miranda, de poder apenas de seus estimados livros, utiliza-se deles e de suas propriedades mágicas para transformar tudo a seu redor. É um personagem fascinante que cativa e conquista o leitor com sua sabedoria, sua bondade e seu amor pela filha, pela qual zela com o cuidado de uma flor rara. Ele reconhece o amor do outro náufrago, o jovem Ferdinando, pela filha, mas só aceitará entregá-la ao pretendente, a propósito, filho de um dos conspiradores, mediante a prova de intenções puras por parte do rapaz. E Próspero, por suas artes mágicas, manipula os elementos, manipula o tempo, manipula a ilha e, em meio a tudo isso, cria situações e faz com que Ferdinando justifique sua confiança e o amor da filha, neste que é um dos mais belos casos de amor das peças shakesperianas.
A bem da verdade, tudo em "A Tempestade" é  "dos mais": Próspero é dos melhores protagonistas; Miranda é das damas mais adoráveis; a ambientação é das mais originais; o enredo é dos mais envolventes... Se este foi o primeiro, depois já li muitos outros Shakespeare e, embora tenha enorme admiração por outras obras desse mestre da literatura, me renda inevitavelmente, como qualquer outro, à grandeza de seus clássicos como "Macbeth", "Hamlet" e "Otelo", "A Tempestade", por ter sido o primeiro e por toda sua magia, tem lugar cativo no meu coração como um de meus preferidos.  



Cly Reis

quinta-feira, 19 de julho de 2018

"O Rei da Vela", de Oswald de Andrade - Coleção Teatro Vivo - ed. Abril Cultural* (1976)



"O dinheiro de Abelardo.
O que troca de dono individual mas não sai da classe.
O que, através da herança ou do roubo, se conserva nas mãos fechadas dos ricos...
Eu te conheço e te identifico, homem recalcado do Brasil!
Produto do clima, da economia escrava e da moral desumana
que faz milhões de onanistas e de pederastas...
Com esse sol e essas mulheres!
Para manter o imperialismo e a família reacionária (...)
Amanhã, quando entrares em posse da tua fortuna,
defenderás também a sagrada instituição da família,
a virgindade e o pudor, para que o dinheiro permaneça
através dos filhos legítimos, numa classe só..."
Abelardo I




É impressionante a quantidade de vezes que nos deparamos com um texto, música, crônica, quadro, peça que nos desperta aquela sensação de que, independente do momento em que tenha sido concebida, continua atualíssimo em seu conteúdo e abordagem crítica em relação à situação brasileira. Talvez isso se dê porque o problema, basicamente, continue o mesmo desde o descobrimento destas terras: uma burguesia vaidosa e egoísta que, cada vez que vê posta em risco sua posição de privilégios, e ameaçada sua perpetuação, dá um jeito de virar a mesa nem que para isso o maior sacrificado tenha que ser exatamente o Brasil. Há muito tempo tinha vontade de conhecer a peça "O Rei da Vela", de Oswald de Andrade, e calhou de, dia desses, ela vir parar em minhas mãos. Ela é mais um destes casos em que a gente não consegue conter a exclamação, "Incrível, o quanto essa peça continua atual!". Escrita em 1933 , ela, incrivelmente, trata dos mesmos temas que afligem a sociedade brasileira nos dias de hoje como se tivesse sido escrita especialmente para esta atual fase pós-impeachment. Empresários inescrupulosos, oportunistas, tramas entre os poderes, conchavos, trocas de favores, entreguismo para o estrangeiro, falsa moralidade da "família brasileira", indiferença em relação ao povo e explorado apoiando o explorador... Nossa! Parece que o autor tinha uma bola de cristal, não? Não! É que nos anos 30, o país vivia crise financeira semelhante e assim como agora, o empresariado se movimentou para garantir o seu e, como de costume, fazer o povo pagar a conta.
Um empresário de um ramo decadente, com a ajuda dos americanos, dá um jeito de sucatear os serviços ligados à sua atividade de modo a que esta volte a tornar-se essencial e que ele se torne novamente um magnata no mercado. Qualquer semelhança não terá sido mera coincidência. Abelardo I, empresário casado com a filha de um latifundiário, aproveita-se cada crise econômica e sabota a indústria nacional de modo a fazer o país voltar praticamente à era medieval no que diz respeito à infraestrutura, tornando-se assim um dos mais poderosos empresários do país por atuar no ramo de velas. ("Descobri antes  a regressão parcial que a crise provocou... Descobri e incentivei a regressão, a volta à vela... sob o signo do capital americano (...) As empresas elétricas fecharam com a crise... Ninguém mais pode pagar o preço da luz... A vela voltou ao mercado pela minha mão previdente.")
Isso mesmo: velas de sebo. Símbolo mais que apropriado para o atraso causado continuamente por interesses mesquinhos das classes dominantes brasileiras. Voltar a ser iluminado pelo fogo. País do futuro? Nunca será.
Escrita em três atos, ligados pelos personagens mas de certa forma independentes, a peça, de escrita e estrutura sofisticadas e inovadora, gira em torno desta família burguesa, de seus procedimentos comerciais escusos, suas relações promíscuas e interesseiras, e perifericamente a isso apresenta o povo, retratado como algo desprezível e meramente útil, mantido numa jaula, afastado por uma grade à qual só pode transpor para pagar seus abusivos encargos.
"O Rei da Vela", que voltou a ganhar montagem recente pelo mesmo Grupo Oficina, de Zé Celso Martinez, que o encenou em 1967, em plena ditadura militar, infelizmente (para o Brasil) é atualíssimo agora como teria sido em 1889; como foi em 1930; como serviria para 1954; para 1961; para 1964; e como se aplicou, mais recentemente, ao golpe de 2016. E, a impressão que dá é que um texto como este continuará sendo pertinente sempre que alguém acenar com alguma medida que diminua os privilégios de uma minoria que concentra a riqueza do país e enquanto o povo médio, supondo que faz parte dessa casta, continue a servi-los como patos, sempre que for conveniente.
"Voltará [o cidadão instruído]! De camisa amarela, azul ou verde. E de alabarda. E ficará montando guarda à minha porta! E me defenderá com a própria vida da maré vermelha que ameaça subir, tomar conta do mundo! O intelectual deve ser tratado assim. As crianças que choram em casa, as mulheres lamentosas, fracas, famintas são a nossa arma! Só com a miséria eles passarão a nosso inteiro e dedicado serviço! E teremos louvores, palmas e garantias. Eles defenderão as minhas posições e a tua ilha, meu amor."
Nada mais atual...


* refiro-me aqui à edição da Abril Cultural, de 1976, porque foi a que tive a oportunidade de ter em mãos e, a propósito, recomendo a quem ainda encontrar por conta de toda a parte introdutória, bastante completa, com a biografia do escritor, histórico da peça e comentários, muito interessantes e valiosos. Contudo, para facilitar a quem se interessar pela leitura e desejar encontrar o livro, há uma edição recente, de 2017, da editora Companhia das Letras.



Cly Reis

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

peça "Leite Derramado", de Chico Buarque – Cia. Club Noir - Sesc Ginástico – Rio de Janeiro/RJ



Crítica social ressignificada na montagem teatral.
foto: divulgação
É excitante como espectador quando se assiste a um trabalho que, baseado numa obra literária, consegue transpor ideias fundamentais contidas nesta, seja mantendo-se fiel ao escrito ou, mais que isso, transformando conceitos suscitados no texto original de forma a ressignificá-los. E se já é assim para quem assiste, imagina-se para o próprio autor. Pois essas duas percepções, de espectador e de autor, estiveram presentes na apresentação da peça "Leite Derramado", no teatro do Sesc Ginástico, no Centro do Rio de Janeiro. Nós, Leocádia, Carolina, Iara, eu e mais centenas de espectadores (entre os quais Denis Carvalho, Cissa Guimarães e outros conhecidos), maravilhados com a competente e rica montagem da companhia paulista Club Noir. E o próprio autor, o gênio Chico Buarque, que estava presente na última apresentação da peça na temporada carioca – como o mesmo fizera na estreia, ocorrida em São Paulo.
Impressionante jogo de luzes e cenário.
foto:divulgação
O encanto com a montagem, não à toa, é obtido, entretanto, com empenho. Afinal, a peça, bastante fiel ao material escrito, não é necessariamente fácil e nem palatável em vários momentos. A complexidade da literatura de Chico neste que é provavelmente seu melhor romance é um desafio a ser enfrentado ao leitor, o que se intensifica ainda mais numa transposição para o palco. A história de Eulálio Montenegro D´Assumpção, um centenário senhor carioca de família aristocrática decadente, ganha cores irônicas e, tragicamente, bastante pertinentes com a realidade política brasileira atual. Em seu leito de morte no hospital, o personagem relembra fatos de sua vida que são narrados como um caleidoscópio descontrolado pela memória já envelhecida, memória esta que serve como um registro da própria história do Rio de Janeiro, da política do Brasil e da constituição da identidade do povo brasileiro.
Não é preciso uma visão muito aguçada para perceber que, quando se fala em das famílias oligárquicas ou das diferenças sociais, está se tocando em veias ainda abertas da sociedade brasileira.
O desafio da transposição, contudo, é superado pelo diretor Roberto Alvim, que soube aproveitar o barroquismo do texto é aproveitado de todas as formas, sinalizando diferentes pontuações nos vários personagens. Porém, o principal é Juliana Galdino, atriz que encarna incrivelmente o protagonista, o desvairado Eulálio. A forte e impressionante atuação é o fio condutor de toda a encenação. Juliana, com hábeis modulações de entonação de voz e expressão corporal, dá vida ao personagem em suas diferentes fases da vida, das lembranças da adolescência e vida adulta à presente velhice senil.
A impactante atuação de Juliana
no papel masculino do protagonista.
foto: divulgação
Igualmente, a companhia consegue êxito ao manter a construção narrativa da obra, toda cheia de idas e vindas no tempo, seja este histórico ou emocional do protagonista. Os jogos de luzes, som e cenários, muito criativos e da mais alta qualidade técnica, dão conta disso, inclusive na expressão dos devaneios febris de Eulálio. Um dos pontos mais interessantes da obra escrita, as quase repetições que se dão ao longo da narrativa, que exigem reflexão do leitor quanto à veracidade das “versões”, é mantido. Também, o tom irônico e crítico ganha relevos, como no preâmbulo, em que moscas encenam uma performance funesta ao som de “Aquarela do Brasil” na versão de Francisco Alves e arranjos de Radamés Gnatalli; ou no final, quando após as últimas palavras de Eulálio, o encerramento se dá ao som de “Deus lhe Pague”, clássica música do período de repressão militar do álbum "Construção" – e ainda tão atual.
Mais do que tudo, a montagem é feliz ao criar uma nova obra, jogando luzes sobre o texto machadiano de Chico tanto para quem já conhecia como para os que não. Além da peça, ainda tivemos a oportunidade de ver o próprio Chico Buarque. Vi quando, minutos depois da sessão ter começado, ele entrou pela porta traseira do teatro. No final, o autor, simpático e sem receio, apareceu no hall – não sem ganhar dois beijos de Leocádia, que o abordou espontaneamente para agradecer-lhe por ser quem ele é. Havia informações de que, agradado com a montagem, iria. E foi. Se nós gostamos, imagina ele.




por Daniel Rodrigues

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Cabeça de Vento


Cabeça de Vento aborda a Morte



Cabeça de Vento é o segundo espetáculo infantil da Cia. Pandorga que apresenta montagens infanto-juvenis teatrais com “ar” de gente grande. É a constatação de que a verdadeira conversa entre adultos e crianças pode e deve ser inteligente, desafiadora e criativa. Numa demonstração prática de respeito à criança - indivíduo repleto de potencial e que nessa fase de formação precisa ser bem nutrida, contatando uma Arte sensibilizadora – o espetáculo cumpre com o seu objetivo – refletir de uma maneira sensível e ao mesmo tempo lúdica sobre os processos de morte.
O protagonista Léo e seu pai.
Entendendo a vida e a morte.
(foto: Cristina Froment)
Em 2011 a Cia. Pandorga recebeu o Prêmio Montagem Cênica da Funarte, com patrocínio da Petrobras e parceria com a GAM Produções montou o novo espetáculo “Cabeça de Vento” texto autoral de Cleiton Echeveste que propõe uma busca-mergulho-investigação diante a perda de um dos genitores (neste caso do pai), sobre como lidar com essa ausência/presença, seu lugar em nossa vida e a forma como ele permanecerá. Léo (o personagem principal) é um menino de oito anos que, ao ganhar um livro que pertenceu ao pai, faz uma viagem no tempo,
encontrando personagens como o cientista e inventor Benjamin Franklin, a guerreira e rainha chinesa Fu Hao e Ricardo Coração de Leão, rei da Inglaterra. Essa é a história central do espetáculo que mostra também paralelamente a origem e a história da pipa, através do olhar infantil.
Sua grande paixão: as pipas
(foto: Cristina Froment)
Apaixonado por pipas, Léo tenta lidar com a morte recente do pai. Assim, enquanto interage com personagens importantes da História, sem perceber, o menino elabora a perda recente, sob as diferentes perspectivas de vida e morte apresentadas a ele durante esses encontros inusitados.
O espetáculo traz imagens maravilhosas, como a de dormir entre os bambus, uma simbologia do sono aconchegante no colo do pai. A referência aos apelidos de uma forma afetiva e não preconceituosa, constrói as relações entre pai e filho que transformam Léo, afetivamente em Leléo. Lidar com tantos personagens que possibilitam reflexão sobre inimigos internos, vindos da lucidez da filosófica oriental, e de insights como “a memória viverá para sempre”, ensina que essa vivência pode ser transformadora e de fato é em qualquer idade.
Nas 'viagens' de Léo, ele encontra
a rainha chinesa Fu Hao
(foto: Cristina Froment)
O espetáculo conta com as atuações de Eduardo Almeida, Jan Macedo e Luciana Zule que receberam prêmios por suas atuações. A trilha sonora é de Gustavo Finkler premiadíssimo músico que antes desenvolveu inúmeras trilhas com o grupo Cuidado que Mancha e atualmente desenvolve suas poesias na Cia. Cabelo de Maria. A direção e texto são de Cleiton Echeveste, que desponta como um autor contemporâneo marcante interligando uma série de referências culturais em suas criações, tornando-as verdadeiros mapas criativos de auto-conhecimento.
Pronto agora mantenha seus pés no chão, reserve linha, papel, cola e bambu. Deixe sua cabeça ao flutuar pelo ar, monte sua pipa e embarque nessa aventura de descoberta e libertação. Bom espetáculo!



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Próximas apresentações 2012:

- No dia 14 de outubro “Cabeça de Vento” estará no Teatro SESC São João de Meriti/Rio de Janeiro.

- A próxima temporada “Cabeça de Vento” no Rio de Janeiro será de 03 a 11 de novembro, sempre aos sábados e domingos, às 17h, no Teatro SESC Tijuca.

- No dia 13de novembro “Cabeça de Vento” estará no 40º Festival Nacional de Teatro de Ponta Grossa/Paraná.

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Premiações 2012:

Em agosto no XIII FESTIVAL NACIONAL DE TEATRO DE GUAÇUÍ/ES em agosto de 2012 de Melhor Ator – Jan Macedo/ Melhor Atriz – Luciana Zule/ Melhor Figurino – Daniele Geammal/ Melhor Trilha Sonora – Gustavo Finkler/ Melhor Maquiagem – Rodrigo Reinoso e Francisco Leite e teve indicações nas categorias: espetáculo, direção, texto, iluminação, ator coadjuvante e cenário.

Em setembro no IX FESTIVAL NACIONAL DE TEATRO DE DUQUE DE CAXIAS recebeu os prêmios: Melhor Espetáculo/ Melhor Texto Original/ Melhor Ator - Jan Macedo/ Melhor Ator Coadjuvante - Eduardo Almeida/ Melhor Iluminação - Tiago Mantovani e teve indicações nas categorias: direção e cenário.

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Breve histórico da Cia Pandorga:

A Cia Pandorga criada em 2005 por Cleiton Echeveste e Eduardo Almeida pesquisa temas que possibilitem montagens diferenciadas, buscando textos autorais de qualidade. Cleiton que dirige a Cia, diz: “A proposta da Companhia é o desenvolvimento de um trabalho de qualidade e de pesquisa em teatro, independente da faixa etária a que seus espetáculos se destinam. O grupo se propõe também à busca de uma linguagem cênica contemporânea, que dialogue com a dramaturgia clássica, mas que também vá ao encontro de outros gêneros da literatura, como o conto e a poesia.”
Em 2007 a Cia chega aos palcos com a montagem “O Menino que Brincava de Ser” inspirado no livro homônimo de Georina Martins, lançado nove anos antes com ilustrações de Pinky Wainer. O livro se empenha em desmontar o preconceito contra a aparente homossexualidade de um menino – o Dudu quer virar menina- através de uma fábula cheia de lirismo e de símbolos. O crítico teatral Carlos Augusto Nazareth comenta: “O Menino que Brincava de Ser – através do jogo do teatro, da brincadeira infantil do “faz de conta”, do humor – discute questões cotidianas de uma família, a relação familiar, o autoritarismo, o machismo, as dúvidas que por vezes a criança tem em relação à sua sexualidade e a reação diversa da família com o lidar com esta questão. Os temas são difíceis de serem conduzidos, mas equilibrando seriedade e humor, Cleiton Echeveste consegue resolver em seu texto teatral as questões colocadas por Georgina Martins, ampliando mesmo, ou pelo menos sublinhando, com maior ênfase, as diversas questões levantadas.” O espetáculo foi adaptação e dirigido por Cleiton Echeveste e apontado em 2009 como um dos cinco melhores espetáculos infantis pela Revista Veja do Rio de Janeiro.