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terça-feira, 9 de junho de 2009

"Budapeste" Chico Buarque (ed. Companhia das Letras 2008)




Viagens longas também podem nos proporcionar boas leituras. Chega uma hora que a gente cansa de assistir filme, olhar pela janelinha do avião e só ver branco, branco e branco, olhar pela janela do trem e só ver verde, verde e verde. Aí saca-se da mochila aquele livro que se escolheu especialmente para esta situação e começa verdadeiramente outro tipo de viagem. Tive a felicidade de escolher "Budapeste”, de Chico Buarque de Hollanda, como companheiro de viagem.
“Budapeste” é daqueles livros que a gente acaba de ler com um sorriso no rosto. “Espantado, verdadeiramente espantado” como definiu também Luís Fernando Veríssimo. Ao chegar à última página eu quase não acreditava no que acabara de ler.
Chico parece ter deixado de tentar esconder o compositor, de se livrar da sombra do músico em seus romances. “Budapeste” conjuga perfeitamente a equação romancista-compositor e a novela ganha ritmo e poesia. A profusão de palavras e vírgulas num ziguezague e um vaivém vertiginoso são em grande parte responsáveis por este ritmo e a obra fica quase musical em muitos momentos. A parte em que praticamente joga com os elementos “7 anos antes – Hamburgo – Baía da Guanabara”, quase que poderia ser CANTADA. Os elementos são repetidos, Chico parte deles e volta neles e volta ao mesmo ponto até se desenhar dentro do seu livro a história do tal livro do Alemão, que por sua vez é emocionante pela composição: escrever na Teresa, escrever nas outras mulheres, nas putas, nas estudantes e estas passearem por aí como se fossem capítulos de um livro soltos cidade afora, até chegar a escrever de trás para a frente em uma vaidosa amante que gostava de se ler no espelho. Lindo!!!
E a musicalidade do livro não se limita a isso. O autor se utiliza no romance de recursos que remetem muito claramente aos utilizados em canções suas, de maneira muito semelhante, como na hipérbole “pensei que não fosse dormir nunca mais”, que é bem comum na obra musical de Chico e lembra imediatamente o “sol nunca mais vai se pôr” de “Bye, bye, Brasil”. Ou na descrição da previsibilidade do hábito feminino com um toque sutil de sensualidade na parte em que José Costa prevê que a esposa irá beijá-lo e dizer que está com sono e logo em seguida ela “soltou seus lábios dos meus, apoiou-se na pia, me encarou com os olhos ainda fechados, esfregou-os e disse: estou morta de sono”, que lembra muito aquela coisa da música “Cotidiano”: ‘toda noite ela diz p’eu não me afastar/ meia-noite ela jura eterno amor/ e me aperta pr’eu quase sufocar/ e me beija com a boca de pavor”.
O livro todo, com as viagens a Budapeste e seus retornos para o Rio do protagonista José Costa, lembra um pouco a construção de “Construção” que em cada parte, cada etapa, cada volta pra casa funciona de uma maneira diferente, tipo “amou daquela vez como se fosse a última/ beijou sua mulher como se fosse a última” na primeira parte e “amou daquela vez como se fosse máquina/ beijou sua mulher como se fosse lógico” em outra. E isto torna extremamente rica, inteligente e valorável a CONSTRUÇÃO do livro.
Li por aí que que falta coesão ao romance, consistência, que é muito poético, que Chico não se desapegou do lado músico... Ora, não vejo como grandes defeitos em ser poético, ou ter ritmo, ou ter fluência. Características estas, aliás, que faltam à maioria dos “escrevedores” que vemos por aí hoje em dia. E cá entre nós, coesão, consistência, seriedade? Me parecem ranzinice deu quem não consegue enxergar além das exigências formais e um romance. As que provavelmente se aprende em algum lugar como receita de bolo.
Sei que li o livro e dele gostei muitíssimo. Um livro de um romancista ainda em amadurecimento, é verdade, mas que consegue proporcionar ao seu leitor, assim como proporciona ao ouvinte, extremo prazer nas suas palavras. Talvez tenha sido o livro em que vemos um Chico mais descontraído nesta sua nova condição de autor, se dando ao direito de brincar com as palavras, torcer e retorcer as frases, o sentido e o tempo. Um autor que se dá ao direito de escrever sobre um lugar que até então nunca tinha estado e sobre um idoma que, no mais, desconhece fazendo uso inclusive, até como recurso de quem tinha pouca referência, de nomes de jogadores da famosa seleção de 54 para batizar seus poetas húngaros.
O filme acabou de sair a algumas semanas e não fui ver ainda. Aliás duvido um pouco da capacidade do diretor de traduzir alguma magia e singularidade que só algo escrito pode conter. Não por causa daquela história toda de que o filme quase nunca é melhor que o livro. Não, não. Não me refiro a isso. É que considero que, ainda que o livro contenha possibilidades visuais bastante interessantes, ele se faz grande, se torna mágico exatamente por ser ESCRITO, por se tratar de um escritor, por vermos as palavras por apresentar diversas alternativas de escrita que certamente o filme não conseguirá traduzir nem tampouco causar a mesma sensação. Consegue-se isso, é claro. Mas não estamos falando de nenhum mestre do cinema e acredito que a proposta não seja tão cerebral. Não sei se se prestaria a ser um filme de imagens uma vez que, acima de tudo, com o perdão da redundância, trata-se de um livro de palavras.
‘Budapeste” é uma espécie de homenagem do escritor Chico Buarque à música por toda a musicalidade que confere a um romance, e ao mês mo tempo uma ode do compositor Chico às palavras, consagrando-as agora em forma de livro, elas que sempre foram tão importantes na sua obra msical.
Usando um adjetivo do filho da húngara Khriska no livro: “Mortífero”.

Cly Reis

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Oscar 2015 - Os Vencedores



O mexicano Alejandro Iñárritu com parte de sua equipe,
recebendo o Oscar de Melhor Filme 
E o Oscar foi para "Birdman"!
Sinceramente, me surpreendeu um pouco.
Embora torcesse por ele, por todas as qualidades que me revelou de maneira fascinante, imaginava que a Academia fosse mais conservadora e entregasse o prêmio de melhor filme ao meticuloso “Boyhood” ou a “Sniper Americano” como uma afirmação de americanismo. Mas não, o pouco convencional “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)”, de planos-sequência contínuos, discussões pesadas e atmosfera onírica levou não somente a estatueta principal da noite como fotografia, roteiro original e direção. Até achava que pudesse acontecer de, assim como no ano passado, as categorias máximas ficassem divididas, indo o Oscar de filme para um dos que apontei anteriormente, e o de direção para “Birdman”, pois pensava que por mais que se reconhecesse os méritos, a persistência, a projeto de Richard Linklater para “Boyhood”, era impossível ignorar o fantástico trabalho de direção de “Birdman”, que, contínuo, ininterrupto, integrando ambientes, atravessando o tempo, distorcendo a realidade, fez com que o brilhante roteiro, por sinal também premiado, funcionasse de maneira impecável e perfeita. A minha 'barbada' de direção poderia ter sido comprometida pelo fato do diretor ser estrangeiro e para piorar, já no ano passado um conterrâneo do diretor, o também mexicano Alfonso Cuarón, ter vencido na categoria. O fato poderia pesar para que Hollywood., como um todo, não quisesse repetir a dose e premiar novamente um estrangeiro, mas apesar da brincadeira de mau-gosto de Sean Penn na hora da divulgação, que só ajudou a fundamentar a origem da minha desconfiança, a justiça foi feita plenamente e outro 'chicano' saiu com o prêmio dourado nas mãos. Destaque também para o prêmio de fotografia de “Birdman”, que também me surpreendeu, não pela qualidade que julgo inegável, mas pelo anticonvencionalismo, tendo sido o filme rodado praticamente em corredores, camarins, bastidors, o que poderia dar a falsa impressão de pobreza de recursos técnicos.
Mas se o Homem-Pássaro de Iñárritu levou quatro estatuetas, o Hotel não ficou atrás. É verdade que “Birdman” ganhou os prêmios ditos principais, os definidores do que se entende por um bom filme, mas os prêmios estético-técnicos, por assim definir (figurino, direção de arte, maquiagem), e o, justíssimo, de trilha original, garantem a “O Grande Hotel Budapeste”, do bom Wes Anderson, o devido reconhecimento de suas verdadeiras qualidades, que para mim, não vão muito além disso.
Colado com eles, "Whiplash", o drama do baterista instruído por um professor severo, levou três estatuetas, sendo uma delas exatamente para o professor descontrolado, interpretado por J.K. Simmons. Os outros bem conceituados, que disputavam inclusive melhor filme, dividiram igualmente algumas das demais honrarias: "Sniper Americano" de Clint Eastwood, teve que se contentar apenas com o prêmio de Edição de Som; “O Jogo da Imitação” ficou com Roteiro Adaptado; “Selma” ficou com o prêmio de canção original, cuja interpretação, no palco, emocionou a platéia; Patricia Arquette justificou "Boyhood" com seu prêmio de atriz coadjuvante; Julianne Moore finalmente, com muita justiça levou seu primeiro Oscar por “Para Sempre Alice”; e na tradicional simpatia de Hollywood por covers e deficiências físicas, Eddie Redmayne, uniu as duas e levou pra casa o de melhor ator por sua interpretação de Stephen Hawkins, no filme “A Teoria de Tudo”.
De resto, gostei muito da parte técnica e estética do palco, dos telões, dos efeitos e recursos da cerimônia, mas achei mestre de cerimônias, Neil Patrick Harris, um tanto perdido e sem graça. Se no ano passado a reconhecidamente inteligente e talentosa Ellen DeGeneres me decepcionou pela ausência de tiradas interessantes, pela falta de criatividade, tendo que se socorrer num sefie coletivo para salvar a noite, que, é bom que se faça justiça, virou histórico, nosso glorioso apresentador da edição 2015 não conseguiu se salvar nem de cuecas no palco, parodiando a cena de “Birdman”.
Lamentável foi o fato de Scarlett Johansson, que apareceu deslumbrante num vestido verde, não ter levado nenhum prêmio. Sei que vão dizer que ela, afinal de contas, não estava concorrendo a nenhum, em nenhuma categoria e tal e blablablá. Sei, sei disso. Mas algum prêmio ela deveria ganhar. Qualquer coisa. Ela sempre merece.


Confira abaixo, então, todos os vencedores em todas as categorias.

***

Melhor filme
"Birdman"
Riggan (Michael Keaton)
de cuecas na Broadway














Melhor diretor
Alejandro González Iñárritu, "Birdman"


Melhor ator
Eddie Redmayne, "A Teoria de Tudo"


Melhor atriz
Julianne Moore, "Para Sempre Alice"


Melhor ator coadjuvante
J.K. Simmons, "Whiplash - Em Busca da Perfeição"
J.K. Simmons teve sua
grande atuação premiada
por "Whiplash"
















Melhor atriz coadjuvante
Patricia Arquette, "Boyhood - Da Infância à Juventude"


Melhor roteiro original
"Birdman"


Melhor roteiro adaptado
"O Jogo da Imitação"


Melhor animação
"Operação Big Hero"


Melhor filme estrangeiro
"Ida", da Polônia


Melhor documentário
"Citizenfour"


Melhor edição
"Whiplash - Em Busca da Perfeição"


Melhor fotografia
"Birdman"


Melhor direção de arte
"O Grande Hotel Budapeste"
O filme de Wes Anderson 
levou com justiça o prêmio de
direção de arte













Melhores efeitos visuais
"Interestelar"


Melhor edição de som
"Sniper Americano"


Melhor mixagem de som
"Whiplash - Em Busca da Perfeição"


Melhor figurino
"O Grande Hotel Budapeste"


Melhor cabelo e maquiagem
"O Grande Hotel Budapeste"


Melhor trilha sonora original
"O Grande Hotel Budapeste"


Melhor canção original
"Glory", do filme "Selma"


Melhor curta-metragem
"The Phone Call"


Melhor curta-metragem de animação
"O Banquete"


Melhor curta-metragem de documentário
"Crisis Hotline: Veterans Press 1"



Cly Reis

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

"O Grande Hotel Budapeste", de Wes Anderson (2013)



Apenas simpático. Nada mais que isso. História bem desenvolvida, direção de arte caprichada, um elenco de primeira e boas risadas garantidas. Ok. Mas daí a um possível Oscar de Melhor Filme tem uma distância enorme.
"O Grande Hotel Budapeste" é um barato. É legal pacas. Falo sério. É extremamente divertido, bem dirigido e com um apelo visual inegável, mas nada disso faz dele, na minha opinião, um grande filme.
Wes Anderson de "Três é Demais" e "Os Excênctricos Tenenbauns", tem muitos méritos. Mesmo sendo uma comédia, de humor negro é verdade, o filme tem momentos de tensão, de aventura, e cenas de ação de tirar o fôlego. Tomadas audaciosas, closes rápidos, uma condução inteligente e dinâmica que alterna a ação em cena com narração, dividindo o filme em capítulos que se entrelaçam e se complementam quase imperceptivelmente muitas vezes.
M. Gustave (Ralph Fiennes) com o lobby boy
que virá a tornar-se o dono do Hotel Budapeste
Quem narra a história é o dono do hotel e antigo mensageiro do mesmo quando garoto, personagem interpretado por F. Murray Abraham, relatando os fatos a um dos últimos hóspedes do estabelecimento, um escritor (Jude Law), que se mostra interessado em saber como um serviçal viera a tornar-se dono do hotel. Aí a trama desenvolve-se com a amizade do garoto pelo gerente, Ralph Fiennes, de atuação esplêndida por sinal, sempre envolvido com senhoras, hóspedes, bem mais velhas que ele, sendo que uma delas, apaixonada, ao morrer deixa-lhe uma herança que acaba disputada pelo filho inconformado. Nisso dão-se brigas, tiroteios, perseguições, fugas, piadas grotescas e um humor, às vezes, quase pastelão.
Bom filme. Muito superestimado, talvez, mas bom. Vá ver. Recomendo. E se você vir com a cabeça fresca, numa boa, disposto a um bom entretenimento e não se deixar levar tanto pelo visual exuberante, pelo carisma dos personagens, pelo humor fácil, perceberá que não passa de um filme simpático. Nada mais que isso.


Cly Reis



segunda-feira, 30 de agosto de 2010

"Leite Derramado" de Chico Buarque - Companhia das Letras (2009)



Definitivamente a carreira literária de Chico Buarque está consolidada com êxito e qualidade. Mesmo já tendo sido lançado há quase um ano, somente agora tirei da estante para ler seu último livro, “Leite Derramado”, e este é ainda melhor que o ótimo “Budapeste”. Naquele anterior, Chico ainda tratava de brincar com as palavras, com o tempo, com o espaço, num jogo quase musical, mas neste, constitui verdadeiramente um romance de escritor, deixando um pouco de lado o compositor, sem, contudo, perder sua poesia.
“Leite Derramado” é uma saga de uma tradicional família da aristocracia brasileira contada através das memórias de um velho moribundo, mas de uma maneira muito breve e sucinta ao contrário da maior parte das obras do gênero que se estendem em épocas, personagens e contextualizações. Não que um “O Tempo e o Vento”, por exemplo, seja chato por conta disso, mas dentro da proposta, do ritmo pretendido, das características dos personagens, acaba sendo meritória esta objetividade. O barato é que como tratam-se de lembranças de um ancião, sua trajetória e de sua família vão sendo montadas com uma proposital desordem, conduzidas pela ausência de linearidade das memórias do velho; remontando momentos do Brasil e contextualizando as situações no tempo, sem uma ordem cronológica correta.
Com este recurso, de contar a história em primeira pessoa pela voz de um centenário supostamente semi-senil, Chico ao mesmo tempo que nos dá, nos tira informações. Por conta da memória fraca, do estado físico, da fraqueza, do sono ou dos remédios, o velho Eulálio Assumpção, enquanto relata ora a enfermeiras, ora à filha que o visita, ou a talvez ninguém; acaba ou se repetindo cansativamente, ou omitindo detalhes ou mesmo mentindo em seus longos monólogos. Nisso magicamente, um fato que é contado num capítulo é desmentido em outro como se o velho tentasse enganar a si mesmo ou inventar uma outra realidade; fatos são minimizados mas logo acabam-se revelando extremamente relevantes adiante; idéias são repetidas como se fossem apenas esclerose de velho, mas pela reafirmação mostram-se marcas profundas naquela vida; e personagens vão ganhando força e expressão aos poucos, a ponto de se tornarem quase míticos como a esposa Matilde, um espécie de Capitu-Lucíola-Gabriela, que desde já inscreve-se entre as grandes personagens femininas da literatura brasileira.
Sinceramente, eu ainda tinha minhas reservas quanto ao Chico escritor. Não por não ter gostado do que já tinha feito – muito antes pelo contrário - mas por achar que estava acertando, sim, porém sem se arriscar muito e que seus maiores méritos como romancista vinham muito dos recursos dos quais já se utilizava freqüentemente como letrista. Mas não. Eu estava errado. O processo evolutivo era gradual mas evidente e depois de uma roda-viva como a de “Budapeste”, é num livro sem ação, passado num leito de hospital, num romance sólido e seguro, sem grandes arroubos criativos, mas com uma admirável estrutura, que Chico Buarque se inscreve decididamente, na minha opinião, entre os grandes escritores da literatura brasileira contemporânea.



Cly Reis

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

"Estorvo", de Chico Buarque - Ed. Companhia das Letras (1991)

 

À esq., capa original, de 1991; à dir.,
nova capa da edição comemorativa de 30 anos da obra
Dias atrás li na postagem de uma amiga de redes sociais a pergunta capciosa de quando Chico Buarque ganharia uma indicação para Nobel de Literatura. O comentário vem em um momento bem apropriado, pois, além do lançamento recente de um novo livro, “Anos de Chumbo”, seu primeiro de contos, a trajetória literária do celebrado autor carioca atinge um marco importante em 2021: os 30 anos de “Estorvo”. Embora não seja o primeiro livro de Chico, homem da música mas também das letras desde os anos 60 (sua primeira peça para teatro, “Roda Viva”, data de 1968), este pequeno romance determina-lhe o começo de uma carreira editorial propriamente dita. Tamanha importância, inclusive, justifica-se no relançamento da obra em caprichada edição comemorativa.

Narrado em primeira pessoa, "Estorvo" é a saga de uma caçada de um homem sem rosto a um homem tolhido por sombras e fantasmas. Uma trajetória obsessiva, constantemente no limite entre o sonho e a vigília, pela qual o protagonista se depara com situações e personagens estranhamente familiares. Através da metáfora de um olho mágico, que distorce a imagem humana, engendra projeções de um desespero subjetivo e uma crônica do cotidiano.

Passadas três décadas de dedicação ora aos livros, ora à música, intercalando projetos entre um universo e outro com domínio incomum, é evidente que Chico evoluiu em termos literários de lá para cá. Seja por berço ou por talento próprio, Chico carrega em si o trato com a palavra, a se ver por toda sua obra. A exatidão do emprego dos verbos, o proveito da musicalidade vocálica e o uso preciso das possibilidades gramaticais e sintáticas infinitas do português lhe são inegáveis, seja na música, no teatro ou no cinema. Depois de “Estorvo”, entre seis discos novos de estúdio, escreveu o mesmo número de obras, entre as quais “Benjamim” (1995), “Budapeste” (2003) e “Leite Derramado” (2009), esta última, uma obra-prima da literatura brasileira do século XXI. Como prêmios, o próprio “Estorvo” levou Jabuti em 1992, feito repetido por “Leite Derramado”, em 2010. Em 2019, pouco antes de lançar “Essa Gente”, nova consagração: o Prêmio Camões, maior reconhecimento dado a um escritor em língua portuguesa.  

Mas o que “Estorvo” trouxe a este exitoso caminho de Chico pelas palavras escritas? A começar que, se houve evolução em seu estilo, muito já estava presente neste primeiro romance. A prosódia machadiana, farta de elementos visuais e psicológicos, e o ritmo e construção narrativos muito bem armados (não raro, de pegada musical) estão ali muito mais conscientes do que em “Fazenda Modelo”, novela escrita nos anos 70, esta sim, o primeiro impulso estritamente literário do artista sem que houvesse alguma relação com o teatro. Outra característica de “Estorvo” amplamente desenvolvida nas obras subsequentes, é o olhar social crítico e o universo imaginário, que coloca o leitor em uma fronteira interessante entre o surrealismo e a vida real. A isso soma-se, ainda, outra peculiaridade da escrita do autor de “Vai Passar”, que é o humor – por vezes, ácido dada a ocasião em que se lhe usa –, o que ajuda tanto a quebrar o estranhamento para com surreal quanto, em igual tamanho, condicionar o leitor à proposta narrativa.

Este trecho de “Estorvo” denota bem esta composição formal muito própria de Chico:

“O porteiro quer porque quer carregar a mala, quer correr para me abrir o elevador, quer me chamar de patrãozinho e diz que o bom filho à casa torna. Negro quase azul, embora perdendo o lustre ultimamente, já tinha a cabeça branca trinta anos atrás. Usa sempre o mesmo colete listradinho, com que fica parecendo escrevo de cinema. Anda num passo miúdo, sofre de artrose, e vive contente da vida. Certa vez comprou um rádio e deu para escutar programas de variedades, desses em que as pessoas falam de todos os assuntos com eco na voz. O aparelhinho era potente, irradiava do hall para o poço do elevador, e daí para o prédio inteiro. Uma noite meu pai foi me buscar na rua, e já desceu impaciente, porque quando chegava em casa queria ver todo mundo lá dentro. "Qualquer dia eu entro e passo o ferrolho na porta!" Arrastou-me de volta pelo pescoço, cruzando o hall pela terceira vez seguida, com o locutor lendo o horóscopo, meu pai mandou o porteiro desligar aquela porcaria. E disse que nunca viu empregado ligar para astrologia, ainda por cima crioulo, que nem signo tem. O porteiro achou aquilo coisa mais engraçada. Vendeu o rádio e passou meses rindo muito e repetindo: "crioulo não tem signo, crioulo não tem signo."

“Estorvo” também tem a importância de ser mais uma obra de Chico levada ao cinema em anos depois de "Ópera do Malandro" e "Pra Viver um Grande Amor" na ousada versão do amigo Ruy Guerra, de 1998, movimento que ocorreria posteriormente com “Benjamim” (Monique Gardenberg, 2003) e “Budapeste” (Walter Carvalho, 2009) e, em certa medida, “O Irmão Alemão” (2014), cujo elemento central é antecipado no documentário “Chico – Artista Brasileiro”, de Miguel Faria Jr. (2013).

filme "Estorvo", de Ruy Guerra (1998)


É natural que Chico tenha aperfeiçoado sua forma literária, assim como, noutro âmbito, ocorrera em sua música. Por esta ótica, “Estorvo” é quase como serviu-lhe a trilogia “Chico Buarque de Hollanda”, gravada por ele entre 1966 e 1968, fundamental para erigir, com maturidade e experiência, os grandes álbuns que legou à discografia nacional a partir de “Construção”, de 1971. Trazendo para a literatura, sem o passo inicial de “Estorvo” não teria este chegado ao prestígio que hoje goza não fosse este livro, que o pôs definitivamente na lida da escrita. Quem sabe, então, agora, um Nobel? Considerando a relativização que os prêmios e instituições literários no mundo todo vem fazendo após a Bob Dylan tornar-se Nobel de Literatura em 2016, abrindo espaço para "não-literatos" mais fortemente ligados à música, por que não pensar num segundo autor de língua portuguesa depois de Saramago? Chico, com mais merecimento do que muitos outros, capacita-se totalmente.


Daniel Rodrigues

terça-feira, 19 de setembro de 2017

As minhas músicas preferidas de Chico Buarque (e as deles também)

Chico Paratodos os gostos

Por ocasião do recente lançamento do disco novo de Chico Buarque, “Caravanas” – o qual ainda não escutei integralmente, mas tudo que ouvi me agradou bastante – a Ilustrada da Folha de S. Paulo publicou uma matéria interessantíssima trazendo uma enquete com 40 personalidades afins com o músico e escritor, que fizeram, cada um, a seleção de suas três canções preferidas dele. Pronto, tocou em duas coisas que adoro: Chico Buarque e listas.

Bem abrangente, a publicação da Folha traz, entre os votantes, pessoas diretamente ligadas ao artista, como a irmã Miúcha, o genro Carlinhos Brown e a companheira de estrada Gal Costa, mas também nomes bem distintos, como o carnavalesco Alexandre Louzada, autor do enredo "Chico Buarque da Mangueira", com o qual a escola foi campeã em 1998; Adelia Bezerra de Meneses, autora dos livros "Figuras do Feminino na Canção de Chico Buarque" e "Desenho Mágico: Poesia e Política em Chico Buarque"; e o cineasta Bruno Barreto, diretor de "Dona Flor e Seus Dois Maridos" (1976), que tem na trilha a inesquecível “O Que Será?”.

"Construção": a
campeã
Das escolhidas, várias se repetem de um votante para outro, mostrando o quanto são temas que realmente arrebatam os admiradores de Chico. Caso de “Construção”, a campeã em menções, 9 no total, “O Que Será” (8), “As Vitrines” (6), “Roda Viva” (5) e outras, como “Vai Passar” (“Mais atual do que nunca”, segundo o diretor de teatro João Falcão), “Futuros Amantes”, “O Meu Guri” e “Todo o Sentimento”.

É de se destacar que não apenas os clássicos consagrados pelo tempo entraram na seleção. Aparecem também obras das novas safras de Chico, como “Sinhá” (do seu penúltimo álbum, “Chico”, de 2011, parceria com João Bosco vencedora do Prêmio Tim de Música do Ano) e as recentes “As Caravanas” e "Tua Cantiga" – esta última, entre as preferidas de Zé Celso Martinez Corrêa e Miúcha.

Nessa linha, fico feliz (até por não tê-las conseguido incluir entre as minhas) em ver citados temas mais "escondidos" do cancioneiro de Chico, ou seja, aquelas músicas que não são necessariamente as mais populares e que, uma vez escolhidas, denotam um profundo apreço por parte de seu eleitor. Dentre estas, "Meio Dia Meia Lua", "Uma Canção Desnaturada", "Mil Perdões", "Quando o Carnaval Chegar" e "O Futebol". Senti falta, entretanto, de "Samba do Grande Amor" e "João e Maria", comumente queridinhas dos fãs. Porém, como se sabe, trata-se de uma obra gigantesca e qualificadíssima, por isso ausências como estas são mais do que justificáveis.

Então, vão aqui as listas das eleitas de cada participante e, claro, a minha também. Missão difícil, quase impossível. Mas como eu mesmo escrevo esta matéria, dou-me, ao menos, à liberdade de escolher não apenas três, mas 10 faixas. Eu posso.


A MINHA LISTA:
1 - “Construção” (em “Construção”, 1971)
2 - “A Bela e a Fera” (com Edu Lobo, em “O Grande Circo Místico”, por Tim Maia, 1982)
3 - “Futuros Amantes” (em “Paratodos”, 1992)
4 - “O Cio da Terra” (com Milton Nascimento, em “Chico & Milton”, 1977)
5 - “Cotidiano” (em “Construção”, 1971)
6 - “Meu Caro Amigo” (com Francis Hime, em “Meus Caros Amigos”, 1976)
7 - “O Meu Guri” (em“Almanaque”, 1981)
8 - “Estação Derradeira” (de “Francisco”, 1987)
9 - “Vida” (em “Vida”, 1980)
10 - "Valsinha" (com Vinícius de Moraes, em "Construção"), "Rosa dos Ventos" (em "Chico Buarque de Hollanda nº 4", 1970) e "Amando sobre os Jornais" (em "Mel", por Maria Bethânia, 1979)


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ALEXANDRE LOUZADA
Carnavalesco
[1] "Carolina" (1967) 
[2] "Quem te Viu, Quem te Vê" (1966) 
[3] "Cálice" (com Gilberto Gil - 1973) 

ADELIA BEZERRA DE MENESES
Professora da USP
[1] "Cala a Boca, Bárbara" (com Ruy Guerra - 1972/73) 
[2] "Todo o Sentimento" (com Cristóvão Bastos - 1987) 
[3] "O Que Será" (1976) e "Construção" (1971) 

BETH CARVALHO
Gravou "O Meu Guri" e inúmeras canções do compositor
[1] "Apesar de Você" (1970)
[2] "O Meu Guri" (1981) 
[3] "Sinhá" (com João Bosco - 2010)

BIBI FERREIRA
Atriz da primeira montagem de "Gota d'Água" (1975)
[1] "Gota d'Água" (1975)
[2] "Basta Um Dia" (1975)
[3] "Bem Querer" (1975)

BRUNO BARRETO
Cineasta, dirigiu, além de "Dona Flor e Seus Dois Maridos" (1976), episódios de "Amor em Quatro Atos" (2011), baseada em canções de Chico 
[1] "O que Será"
[2] "As Vitrines" (1981) 
[3] "Folhetim" (1977/78) 

CACÁ DIEGUES
Cineasta, encomendou a Chico canções para "Quando o Carnaval Chegar" (1972; aqui, o cantor também atua), "Joanna Francesa" (1973) e "Bye Bye, Brasil" (1980), entre outros
[1] "Morro Dois Irmãos" (1989)
[2] "Joana Francesa" (1973) 
[3] "A Banda" (1966) 

CADÃO VOLPATO
Jornalista e autor de conto inspirado em música de Chico para a antologia "Essa História Está Diferente" (Companhia das Letras)
[1] "Flor da Idade" (1973)
[2] "Quando o Carnaval Chegar" (1972) 
[3] "Joana Francesa" 

CARLINHOS BROWN
Cantor e pai de dois netos de Chico
[1] "Trocando em Miúdos" (com Francis Hime - 1978)
[2] "As Vitrines"
[3] "Olhos nos Olhos" (1976)

CAROLA SAAVEDRA
Escritora, assinou conto para o livro "Essa História Está Diferente"
[1] "Mil Perdões" (1983) 
[2] "Construção" 
[3] "Roda Viva" (1967) 

CHARLES MÖELLER
Diretor de "Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos" (2014) e "Ópera do Malandro" (2003)
[1] "O Que Será" - A primeira ("Abertura")
[2] "Mil Perdões" 
[3] "Bye Bye, Brasil" (com Roberto Menescal - 1979)

CRIOLO
Rapper, compôs nova letra para "Cálice" e foi elogiado por Chico
[1] "O Que Será" 
[2] "Cálice" 
[3] "Construção" 

DIOGO NOGUEIRA
Gravou com Chico "Sou Eu"
[1] "Roda Viva"
[2] "Homenagem ao Malandro" (1977/78)
[3] "Sou Eu" (com Ivan Lins - 2009)

ELBA RAMALHO
Participou da primeira montagem da "Ópera do Malandro" (1978)
[1] "O Meu Amor" (1977/78) 
[2] "Todo o Sentimento" 
[3] "As Vitrines”

ELIFAS ANDREATO
Ilustrador de discos de Chico como "Ópera do Malandro" (1979) e "Almanaque" (1981)
[1] "Sobre Todas as Coisas" (com Edu Lobo - 1982) 
[2] "Tempo e Artista" (1993) 
[3] "Todo o Sentimento" 

FERNANDO DE BARROS E SILVA
Diretor de Redação da "piauí" e autor de "Folha Explica Chico Buarque" (Publifolha, 2004)
[1] "Beatriz" (com Edu Lobo - 1982) 
[2] "Pelas Tabelas" (1984)
[3] "O Futebol" (1989) 

GABRIEL VILLELA
Diretor de "A Ópera do Malandro" (2000), "Os Saltimbancos" (2001) e "Gota d'Água" (2001)
[1] "Uma Canção Desnaturada" (1979)
[2] "O Meu Guri" 
[3] "Brejo da Cruz" (1984) 

GAL COSTA
Intérprete de "Folhetim", dedicou "Mina d'Água do Meu Canto" (1995) à obra de Chico e de Caetano
[1] "Folhetim" 
[2] "Desalento" (com Vinicius de Moraes, 1970) 
[3] "As Vitrines" 

GEORGETTE FADEL
Atriz da montagem "Gota d'Água - Breviário" (2006)
[1] "Valsa brasileira" (com Edu Lobo - 1987-88)
[2] "Gota d'Água" 
[3] "Bárbara" (com Ruy Guerra - 1972-73) e "Roda Viva" 

HELOISA STARLING
Professora da UFMG e autora de "Uma Pátria Paratodos - Chico Buarque e as Raízes do Brasil" (Língua Geral)
[1] "Construção"
[2] "Futuros Amantes" (1993) 
[3] "Sinhá" 

HUMBERTO WERNECK
Jornalista, autor da reportagem biográfica de "Tantas Palavras" (Companhia das Letras)
[1] "Futuros Amantes" 
[2] "As Vitrines" 
[3] "Vai Passar" (com Francis Hime - 1984) 

JOÃO FALCÃO
Diretor de "Cambaio" (2001) e "Ópera do Malandro" (2014)
[1] "Futuros Amantes" 
[2] "Leve" (com Carlinhos Vergueiro - 1997) 
[3] "Vai Passar" - Mais atual do que nunca

JOÃO FONSECA
Diretor de "Gota d'Água" (2007)
[1] "O Que Será" 
[2] "Construção" 
[3] "Beatriz" 

LAILA GARIN
Atriz de "Gota d'Água [A Seco]" (2016)
[1] "As Vitrines"
[2] "Uma Palavra" (1989) 
[3] "Uma Canção Desnaturada"

LEILA PINHEIRO
Gravou com Chico "Renata Maria" e participou de álbuns dele como "Dança da Meia-Lua" (1988)
[1] "Futuros Amantes" 
[2] "Valsa Brasileira" 
[3] "Retrato em Branco e Preto" (com Tom Jobim, 1968) 

MIÚCHA
Cantora e irmã de Chico
[1] "Maninha" (1977) 
[2] "Tua Cantiga" (com Cristóvão Bastos, 2017) 
[3] "As Caravanas" (2017) 

MÔNICA SALMASO
Gravou com Chico "Imagina", além do disco "Noites de Gala, Samba na Rua" (2007), todo dedicado à obra dele
[1] "Beatriz"
[2] "Construção"
[3] "Sinhá" - Encontro arrebatador de mestres sobre a história do Brasil

MONIQUE GARDENBERG
Diretora do filme "Benjamim" (2004), adaptado do livro homônimo de Chico
[1] "Apesar de Você"
[2] "Joana Francesa" 
[3] "A Rita" (1965) 

NANA CAYMMI
Gravou com Chico "Até Pensei" e participou de projetos dele, como a trilha de "O Corsário do Rei" (1985)
[1] "Até Pensei" (1968)
[2] "O Que Será"

[3] "Gota d'Água"

NEY MATOGROSSO
Gravou o disco "Um Brasileiro" (1996), dedicado à obra de Chico
[1] "Construção" 
[2] "Almanaque" (1981) 
[3] "Tatuagem" (com Ruy Guerra, 1972/73) 

OLIVIA BYINGTON
Gravou diversas canções de Chico e participou de trabalhos dele, como a trilha de "Para Viver um Grande Amor" (1983)
[1] "Eu te Amo" (com Tom Jobim - 1980) 
[2] "Tatuagem"  
[3] "Apesar de Você" 

OSWALDO MONTENEGRO
Gravou um disco em torno da obra de Chico ("Seu Francisco", 1993)
[1] "Construção"
[2] "Todo o Sentimento" 
[3] "Roda Viva" 

RAFAEL GOMES
Diretor de "Gota d'Água [A Seco]" (2016)
[1] "Você Vai Me Seguir" (com Ruy Guerra - 1972/73) 
[2] "A Voz do Dono e o Dono da Voz" (1981) 
[3] "Meio Dia Meia Lua (na Ilha de Lia, no Barco de Rosa)" [com Edu Lobo, 1987/88] 

REGINA ZAPPA
Autora de "Chico Buarque para Todos" (Ímã Editorial) e "Chico Buarque - Cidade Submersa" (Casa da Palavra), entre outros
[1] "Construção"
[2] "Joana Francesa" 
[3] "O Meu Guri" 

RICARDO CALIL
Jornalista e codiretor do documentário "Uma Noite em 67", que mostra o Festival de MPB em que Chico apresentou "Roda Viva" com o MPB 4
[1] "Construção" 
[2] "Olhos nos Olhos" 
[3] "Cotidiano" (1971) 

SYLVIA CYNTRÃO
Professora da UnB e autora de "Chico Buarque, Sinal Aberto!" (7Letras)
[1] "O Que Será" 
[2] "Roda Viva" 
[3] "Sem Fantasia" (1967) 

TADEU JUNGLE
Roteirista e diretor de episódio da série "Amor em Quatro Atos"
[1] "Geni e o Zepelim" (1977/78) 
[2] "Sem Açúcar" (1975) 
[3] "Todo o Sentimento" 

VIVIAN FREITAS
Fundadora e vocalista do bloco Mulheres de Chico, dedicado à obra buarquiana
[1] "O Que Será (À Flor da Terra)" 
[2] "Roda Viva" 
[3] "Geni e o Zepelim" 

WALTER CARVALHO
Cineasta e fotógrafo, diretor de "Budapeste" (2009), baseado no livro homônimo de Chico
[1] "A Banda" 
[2] "Apesar de Você" 
[3] "Feijoada Completa" (1977)

ZÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA
Diretor da montagem original de "Roda Viva" (1967)
[1] "Sem Fantasia”
[2] "O Meu Amor”
[3] "Tua Cantiga" 

ZIZI POSSI
Intérprete de "Pedaço de Mim", está montando show dedicado às parcerias de Chico com Edu Lobo
[1] "Cantiga de Acordar" (com Edu Lobo, 2001)
[2] "Beatriz"
[3] "O Circo Místico" (com Edu Lobo, 1982)


por Daniel Rodrigues