Curta no Facebook

Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta “Tropa de Elite”. Ordenar por data Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta “Tropa de Elite”. Ordenar por data Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

20 filmes para entender o cinema brasileiro dos anos 90


Há cinco anos, publicávamos aqui no Clyblog uma série de três longas matérias com listas dos filmes essenciais para se entender o cinema brasileiro do século XX, fazendo um recorte de suas três principais décadas produtivas: 60, 70 e 80. Por motivos óbvios, os desfalcados anos 90 não entraram nessa primeira série, haja vista a impossibilidade de se equiparar em importância com estas outras décadas uma vez que seu esforço foi muito menos pela manutenção da qualidade obtida anteriormente do que, principalmente, pela sobrevivência do audiovisual brasileiro. A puxada de tapete do governo Collor ao destruir a exitosa Embrafilme não ofereceu nenhuma alternativa substitutiva à altura que garantisse a continuidade do trabalho de milhares de profissionais e da importante arte cinematográfica brasileira.

Porém, os anos se passaram aqui no blog e, com eles, chegamos ao final da década de 2010, em que o cinema brasileiro, devidamente retomado de seus percalços (será?!), torna a ganhar o circuito internacional com filmes não apenas bem realizados, como essenciais para a nova cinematografia mundial, caso de "Cidade de Deus", "Tropa de Elite" e, mais recentemente, “Bacurau”. Mesmo que o correto seja compreender o final da década assim que concluir o ano em que estamos, e só começar a contar uma nova década a partir de 2021, quem imaginaria que viria a Covid-19 para congelar tudo, afetando, principalmente, o setor cultural e, com ele, a produção cinematográfica? Se havia ainda alguma esperança de que novos títulos se somassem aos produzidos nos últimos 9 anos para cá, a pandemia, bastante ajudada pela política inimiga da cultura do atual governo brasileiro, forçou para que se acabasse de vez a década.

Entre a última década do século passado e a que estamos, restam, claro, os primeiros 10 anos do novo século. Vamos reconstruir, então, a essência do que foi produzido no cinema brasileiro nos últimos 30 anos, começando pelos 90. Se a recorrente falta de prioridade para com a cultura e a arte da política brasileira fez de tudo para acabar com o cinema nacional, fique esta sabendo que não conseguiu. Produções escassas, mirradas, prejudicadas, mas mesmo assim, resistentes. Deste modo, selecionamos aqui 20 títulos essenciais para entender esta década que, com todos estes percalços, ainda assim mantém qualidade suficiente para não deverem nada a títulos de outras décadas mais abastadas. Uma exceção fazemos aqui, no entanto: não apenas por contar fatalmente de menos filmes classificáveis, os anos 90 são sinônimo de “retomada” para o cinema no Brasil, fase a qual se encerraria apenas com o marco “Cidade de Deus”, de 2002, um ano depois da instituição da Ancine. Então, coerentemente com a construção histórica do novo cinema brasileiro, incluímos as produções do ano de 2000 nesta primeira listagem. A partir dali, uma nova era viria.





1 - “Carlota Joaquina: Princesa do Brazil”, de Carla Camurati (95): O filme de estreia de Camurati é o marco de resistência do cinema brasileiro pós-Collor, quase um manifesto, que bradava: “É possível, mesmo com toda a dificuldade, fazer cinema autoral no Brasil!”. Cheio de hiatos e desconexões (propositais ou não), tem, além desta simbologia (que já lhe seria suficiente para integrar esta lista), o mérito de trazer algumas características que se consolidariam no cinema brasileiro nas décadas seguintes: a coprodução com países estrangeiros, a linguagem cômica, a edição ágil e a abordagem crítica.






2 - “O Quatrilho”, de Fábio Barreto (95): Há quem torça o nariz para certa pasteurização do filme rodado no interior do Rio Grande do Sul sobre a obra de José Clemente Pozzenatto, mas é fato que, com ele, os Barreto reabriram as portas do Brasil para o mercado internacional com a inédita indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro na história do cinema brasileiro – feito que ocorreria apenas mais duas vezes. E isso num momento em que jamais se esperaria algum reconhecimento vindo de um ainda agonizante cinema pela quebra da Embrafilme. Um bom romance, com seus méritos.





3 - “O Mandarim”, de Julio Bressane (95): Enquanto os Barreto encabeçavam uma nova investida na internacionalização do cinema brasileiro e Camurati tentava redirecionar os rumos das coisas por aqui, o bom e velho transgressor Julio Bressane aperfeiçoava seu cinema-poesia. Assim como em “Tabu”, “Brás Cubas” e os “Os Sermões”, a música é quase um personagem, neste caso, para contar a proto-biografia de Mário Reis (Fernando Eiras), mas não sem o “auxílio luxuoso” de Caetano Veloso, Chico Buarque (fazendo eles mesmos), Gilberto Gil (encarnando Sinhô) e Edu Lobo (fazendo as vezes de Tom Jobim). Tudo de forma artesanal, barata e genial.




4 - “Terra Estrangeira”, Walter Salles Jr. e Daniela Thomas (96): O filme de Waltinho e Daniela tem o poder de vencer a contramaré vivida pelo cinema nacional àqueles idos a ponte de tornar-se um dos mais importantes filmes da cinematografia nacional. Tanto que está na lista da Abraccine dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos. Uma história sobre solidão e resgate das próprias raízes motivado justamente pelo confisco promovido pelo mesmo presidente Collor que extinguiu tanto o dinheiro do brasileiro quanto o da Embrafilme. Fotografia impecável p&b de Walter Carvalho, trilha excelente de Zé Miguel Wisnik e até dedo de Millôr Fernandes nos diálogos. Um luxo em época de vacas magras.







5 - “Baile Perfumado”, de Lírio Ferreira e Paulo Caldas (96): Na esteira da mais revolucionária cena cultural do Brasil dos últimos 30 anos, o mangue beat, o filme marco da retomada do cinema pernambucano, retraz questões formativas da cultura nordestina (o cangaço, o “Ciclo do Recife” dos anos 20, os superoitistas dos anos 70, o sotaque, a antropomorfia) com uma roupagem moderna. Se não é necessariamente um filme bom, é altamente representativo e indispensável para se entender o cinema brasileiro de então, visto que abriu portas para a entrada de talentos de outros pernambucanos como Kleber Mendonça Filho, Cláudio Assis, Hilton Lacerda e Marcelo Lordello.







6 - “Guerra de Canudos”, de Sérgio Rezende (96): Afeito aos temas da História do Brasil, Rezende, após realizar seu grande filme, “O Homem da Capa Preta”, em 86, viu-se, assim como seus pares, totalmente descapitalizado para realizar seu trabalho. O que não foi motivo para abandonar o projeto sobre a real história do líder Antônio Conselheiro e a sangrenta guerra contra as forças do Império extraída do épico “Os Sertões”, de Euclides da Cunha. Wilker, que já havia protagonizado “O Homem...”, está brilhante no papel principal. Produção cara que, mesmo os justificáveis defeitos de produção, não apagam o brilho.







7 - “Tieta do Agreste”, de Cacá Diegues (96): O tarimbado Cacá foi dos que sofreu bastante com a quase inviabilização do cinema no Brasil da era Collor. Após o paupérrimo longa de episódios “Veja Esta Canção”, de 94, parecia que nunca mais viriam grandes produções de outrora como “Quilombo” ou “Xica da Silva”. Mas o sempre obstinado cineasta surpreende com um filme recheado de qualidades: texto baseado e revisado pelo próprio Jorge Amado, Sônia Braga brilhante como Tieta, Chico Anysio tornando a fazer cinema como o velho Zé Esteves, trilha de Caetano, fora outras. Uma delícia de filme.





8 - “A Ostra e o Vento”, de Walter Lima Jr. (97): Assim como Cacá e Bressane, Walter é outro experiente realizador nascido no Cinema Novo. Porém, tem como característica o empreendimento de projetos muito peculiares, como esta bela adaptação do romance de Moacir C. Lopes, que conta com roteiro dele e de Flávio Tambellini (que se tornaria um dos cineastas de vulto no cinema nacional), fotografia de Pedro Farkas, música de Wagner Tiso e a linda canção original de Chico. Lima Duarte, Castrinho e Fernando Torres excelentes, além da jovem Leandra Leal, estreando na tela grande com uma inesquecível atuação sobre um tema raramente explorado com tanta assertividade: o florescer da sexualidade feminina.






9 - “Os Matadores”, de Beto Brant (97): Fala-se muito de “O Invasor”, de 2002, mas em “Os Matadores”, primeiro longa do talentoso paulista Beto Brant, ele já introduzia sua contribuição ao cinema brasileiro com um estilo autoral, de forte apelo literário, com histórias inspiradas na realidade em diálogo com o tempo presente e onde o ator tem espaço para contribuir na narrativa. Além disso, em resposta à falta de perspectivas vivida pela classe cinematográfica brasileira no início dos anos 90, trazia um conceito “enxuto”: projetos racionalizados sob o ponto de vista da produção, com equipes de trabalho formadas por amigos, que se transformam em parceiros constantes. Na sua estreia, Brant já saiu abocanhando o prêmio de melhor direção no Festival de Cinema de Gramado.






10 - “O Que é Isso, Companheiro?”, de Bruno Barreto (97): Criado em 91 como mecanismo do incentivo à cultura, a Lei Rouanet começou a, de fato, render frutos anos depois. Após emplacar a inédita disputa ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro com “O Quatrilho”, um ano depois o Brasil colocava outro candidato à estatueta: o bom “O Que...”, baseado no Best-seller biográfico de Fernando Gabeira. Novamente, são os Barreto os responsáveis pelo feito. Além das excelentes atuações de Pedro Cardoso, Fernanda Torres e Luiz Fernando Guimarães, o filme avança no espaço aberto por “Carlota Joaquina” no sentido da coprodução estrangeira, o que resulta nas participações do craque Alan Arkin no elenco e da excelente trilha do ex-Police Stewart Copeland.





11 - “Pequeno Dicionário Amoroso”, de Sandra Werneck (97): A Globo Filmes, a partir da década seguinte, vulgarizaria o estilo comédia feita com atores da emissora, lançando aos montes subproduções sem nenhuma qualidade, quanto menos pretensão cinematográfica. Mas isso ainda cabia naquele sétimo ano da década de 90, quando Sandra realizou esta comédia romântica deliciosa. Aquele final com “Futuros Amantes” do Chico é de arrebentar o coração até do mais insensível espectador. Atuações ótimas de Andrea Beltrão, Daniel Dantas, Glória Pires e Tony Ramos – estes dois últimos, que fariam dupla noutra comédia (um pouco menos) romântica “Se Eu Fosse Você” anos mais tarde.





12 - “Central do Brasil”, de Walter Salles Jr. (98): É só deixar solto, que o sobrevivente cinema brasileiro se supera e, logo em seguida, se agiganta. Sete anos após a instituição da Lei Rouanet e minimamente restabelecido o mercado do audiovisual brasileiro, Waltinho vem com aquele que é um dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos, certamente o melhor da década de 90. Tocante, envolvente, denunciador, poético, revelador. Um filme perfeito em tudo: fotografia, trilha, montagem, arte e, principalmente, a direção de atores. “Central...” traz algumas das mais célebres atuações do cinema brasileiro numa mesma obra: Marília Pêra, Othon Bastos, Matheus Nasctergaele, o pequeno Vinícius de Oliveira e, claro, a deusa Fernanda Montenegro, que, assim como o filme, o último concorrente ao Oscar de Filme Estrangeiro do cinema nacional, também disputou a estatueta – perdendo, junto com Meryl Streep e Cate Blanchett, para Gwyneth Paltrow. No entanto, levou Berlim de Melhor Atriz e Melhor Filme.




13 - “São Jerônimo”, de Julio Bressane (98): O hermético e experiente Bressane é original não apenas na narrativa e no seu inconfundível estilo pessoal, mas também nos temas que escolhe para filmar. Ao abordar a história do santo e obscuro intelectual do século IV autor da edição e da tradução completa da Bíblia, a chamada Vulgata, Bressane dava sua definitiva contribuição para a retomada provando que em cinema (principalmente, no Brasil) é possível conjugar estética exigente e verba exígua, poesia arrojada em prazo concentrado. Como São Jerônimo, Bressane operava milagres.




14 - “Estorvo”, de Ruy Guerra (98): Em 1991, emputecido com a vitória da velha política de Collor na primeira eleição democrática para presidente do Brasil (e a derrota da “nova” por parte do correligionário Lula), Chico Buarque lançava seu pequeno, mas potente primeiro romance, “Estorvo”, um sucesso que ganharia Jabuti. Mas para levar à tela um enredo tão subjetivo, somente alguém muito conhecedor da obra do autor de “Vai Passar”. Ninguém melhor, então, que o moçambicano-brasileiro Ruy Guerra, companheiro de velhos tempos de Chico, seja no teatro, na música ou no próprio cinema. O clima perturbador da obra se potencializa nas tomadas distorcidas, na câmera nervosa, na montagem ousada e até no off com a voz do próprio Ruy, cujo sotaque arrevesado impõe a estranheza que a narrativa merece. Filme difícil, mas essencial.



15 - “A Causa Secreta”, de Sérgio Bianchi (96): O cinema deste paranaense radicado em Sampa nunca fez concessões. Desde o curta “Mato Eles?”, de 1982, quando denunciava o descaso com os índios, seu discurso é apontado para a crítica e toda a narrativa se mobiliza neste sentido. Em “A Causa Secreta”, o cineasta se vale de todas as suas armas para evidenciar a podridão moral da sociedade brasileira. E o faz com alto poder mimético, numa construção narrativa incomum, atuações e situações que incomodam de tão reais e agudas. Como outros filmes da década, peca por certo – e compreensível – déficit técnico, mas supera as dificuldades com a coesão da obra, essencial para entender o país em recente caminhada democrática e todos os problemas que ainda iria demorar a se livrar.




16 - “Dois Córregos - Verdades Submersas no Tempo”, de Carlos Reichembach (99): Filho da Boca do Lixo carioca, o gaúcho Carlão, mesmo à época das famigeradas pornochanchadas dos anos 70/80, produzia com qualidade, fosse na fotografia, a qual era um ótimo técnico, fosse na própria direção. Nos anos 90, já havia realizado o emocionante “Alma Corsária”, mas nada se compara tanto em emoção quanto em acerto com “Dois Córregos”. Um romance que envolve política, história e reminiscências do próprio cineasta, que filmou cenas na praia de Cidreira, no litoral do seu estado de origem. E tem trilha magnífica de Ivan Lins pra arrematar.





17 - “Bicho de Sete Cabeças”, de Laís Bodanzky (2000): Entramos na leva de filmes de 2000, que sinalizam o começo do fim da retomada. E não se poderia iniciar com um título mais emblemático que esta estreia da talentosa Laís Bodanzky. Símbolo da retomada, é um dos filmes que denotaram que o cinema brasileiro saíra da pior fase e entrava numa outra nova e inédita. Além de lançar a cineasta e o hoje astro internacional Rodrigo Santoro, conta com uma estética e edição arrojadas, com sua câmera nervosa e atuações marcantes, tanto a do jovem protagonista quanto dos tarimbados Othon Bastos e Cássia Kiss. Vários prêmios: Qualidade Brasil, Grande Prêmio Cinema Brasil, Troféu APCA de "Melhor Filme", além de ser o filme mais premiado dos festivais de Brasília e do Recife. Além disso, também está nos 100 da Abracine. Trilha de André Abujamra e com músicas de Arnaldo Antunes.





18 - “Tolerância”, de Carlos Gerbase (00): O Rio Grande do Sul também é um dos protagonistas dessa virada do cinema brasileiro para a modernidade, e o responsável por isso é o primeiro e melhor longa do "replicante" Gerbase. Uma “história de sexo e violência” num thriller ao estilo do cineasta: trama envolvente, roteiro impecável e atuações conduzidas pela mão de quem carrega a experiência superoitista e da cena curta-metragem, que salvou na raça o cinema brasileiro quando nenhum longa era possível de ser feito. Maitê Proença, linda, está brilhante. 






19 - “Eu, Tu, Eles”, de Andrucha Waddington (00): Outro marcante filme "

00", este tocante, mas ao mesmo tempo divertido e denunciador romance, marca a entrada de vez de Andrucha no mundo da tela grande, ele consagrado como diretor de videoclipes célebres de artistas da música brasileira e realizador do acanhado “Gêmeas”, de um ano antes. A trilha de Gil cumpre um papel fundamental, amarrando a narrativa tanto em suas novas e antigas composições, quanto nas versões de Gonzagão. Grande Prêmio Cinema Brasil de Filme, Fotografia, Montagem e Atriz para Regina Casé, maravilhosa, assim como seus “maridos”: Lima Duarte, Stênio Garcia e Luiz Carlos Vasconcelos.






20 - “O Auto da Compadecida”, de Guel Arraes (00): O cinema brasileiro fechava seu ciclo de maiores dificuldades estruturais com um sucesso de crítica e público (2 mi de expectadores). Guel, que havia construído uma carreira alternativa na dramaturgia através da televisão desde a TV Pirata e aperfeiçoando-a ao longo dos anos, chegou pronto ao seu primeiro longa, baseado na peça de Ariano Suassuna. Difícil ver uma trupe tão grande de ótimos atores/atuações juntos: Selton, Nachtergaele, Nanini, Denise, Diogo, Lima, Virgínia, Goulart... todos, todos impagáveis. João Grilo e Xicó formam uma das melhores duplas de personagens do cinema nacional. Comédia divertida – mas também dramática – com o pique de edição e cenografia de Guel. Um clássico imediato.


Daniel Rodrigues


sábado, 16 de outubro de 2010

"Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora é Outro", de José Padilha (2010)



É legal ver o cinema nacional produzindo uma boa sequência como esta!
Com ousadia, coerência e qualidade.
O apresentador sensacionalista
Fortunato (André Mattos)
à frente do seu "Mira Geral"
Na minha opinião "Tropa de elite 2 - O Inimigo Agora é Outro" não chega a superar o primeiro, mas quantas continuações conseguiram ser melhores que os originais? "O Poderoso Chefão 2", provavelmente; os "Star Wars"; "Exterminador do Futuro 2", talvez; "Onze (Doze e Treze) Homens e um Segredo"?, pode ser; talvez mais um ou outro por aí. Assim sendo, podemos combinar que não é demérito algum não superar seu antecessor, ok? Na realidade, se formos para pra analisar, este segundo é até melhor no que diz respeito à produção no seu todo, é também mais bem acabado, talvez mais bem desenvolvido, mas o anterior tem a favor de si a condução quase documental, o realismo, a crueza e o impacto causado, não que este não tenha estes elementos ou parte deles, mas a surpresa, a novidade, a sensação, ficaram por conta do outro que a partir do momento que teve suas cópias pirateadas e foi visto em milhares de lares ilegalmente, até ser revisto no cinema por livre espontânea vontade por mais tantos (como eu) já se transformava num marco do cinema brasileiro.
A sequência tem todo este envolvimento político, de gabinete, do submundo, do que está por baixo dos panos e por trás das cortinas, e talvez por isso, em determinado momento perca um pouco de ritmo, mas certamente não de interesse; mesmo não sendo exclusivamente um filme de ação, o diretor José Padilha não perde o espectador em momento algum e por um interesse ou outro dentro da história permanecemos grudados na cadeira e vidrados na tela.
Seu Jorge mandando bem como líder da
rebelião em Bangu 1
Wagner Moura novamente muito bem como o carismático Capitão Nascimento; Seu Jorge faz uma ponta muito  legal ainda no início do filme; mas destaque mesmo para o humorista André Mattos fazendo papel de um destes apresentadores de noticiários policias sensacionalistas, com uma caracterização que lembra muuuito um tal de Wágner Montes. Coincidência? Aliás muitos personagens desta ficção lembram personlidades de meios políticos, sociais e jornalisticos. Tente identificar.
Baita filme, galera!
Corram pra ver!





Cly Reis

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

"Robocop, O Policial do Futuro", de Paul Verhoeven (1987) vs. "Robocop", de José Padilha (2014)

 



Em "Robocop, O Policial do Futuro", de Paul Verhoeven, de 1987, numa Detroit do futuro, dominada por sádicos criminosos, a polícia foi privatizada e não consegue deter a alta criminalidade. A multinacional OCP pretende substituir os policiais humanos por ciborgues, e aproveita o cadáver do policial Murphy, executado pro uma quadrilha, para criar RoboCop - um misto de máquina e homem a serviço da justiça. Mas as memórias de Murphy, que deveriam ter sido apagadas, ressurgem, e com elas o desejo de vingar-se do seus assassinos.

No "Robocop", do brasileiro José Padilha, de 2014, a ação se passa em 2028 e o conglomerado multinacional OmniCorp está no centro da tecnologia robótica. No exterior, seus drones têm sido usados para fins militares há anos, mas na América, seu uso foi proibido para a aplicação da lei. Agora a OmniCorp quer trazer sua controversa tecnologia para casa, e buscam uma oportunidade de ouro para fazer isso. Quando Alex Murphy (Joel Kinnaman) – um marido e pai amoroso, e um bom policial que faz seu melhor para conter a onda de crime e corrupção em Detroit – é gravemente ferido no cumprimento do dever, a OmniCorp vê sua chance para criar um oficial de polícia parte homem, parte robô. A OmniCorp prevê a implantação de um Robocop em cada cidade para assim gerar ainda mais bilhões para seus acionistas, mas eles não contavam com um fator: ainda há um homem dentro da máquina.

Apresentados os times, vamos ao jogo:

Cada um dos filmes, dentro das suas épocas e propostas, conseguem entregar algo bem positivo. Ambos com suas críticas sociais, com dinâmicas bem feitas em cenas de ação, um com efeitos práticos, e outro indo mais para os computadores e CGI, mas ambos com um bom resultados. Vamos fazer a bola rolar e ver quem ganha esse duelo de Robozão, e não estou falando do CR7.

Antes da bola rolar, vamos destacar os treinadores. Cada com seu estilo porém ambos gostam de atacar, e fazem esquemas bem ousados colocando os times para frente. Não espere um jogo sem gols.

O time de '87, mesmo cheio de volantes marcadores, mordedores, cara feia, não deixa de jogar para o ataque, mas a polêmica já começa no aperto de mão quando o time de 2014 estica a mão para o cumprimento e o de 1987 logo fala, “Tira essa mão! Nada de mão aqui!

Depois da treta começa o jogo e rola a bola. O time de 2014 está com futebol bonito, uniforme lindo, elenco cheio de estrelas, tem mais posse de bola, porém não vai pra frente, só toque lateral, ninguém chama responsabilidade do jogo. Já o time de '87, mesmo sem estrelas, só com a experiente e rodada Nancy Allen, já começa, com futebol “pegado”, às vezes até mesmo violento, mas o juiz deixa rolar e  então a pauleira segue. Na base da intimidação, na força física, o time de '87 consegue impor seu futebol e abre o placar, após vários tiros à meta adversaria, fuzilando o gol. Com uma fotografia suja e uma construção de cenário beirando o pós-apocalíptico, a parte visual o trabalho da direção de arte e efeitos fazem a versão original sair na frente, sem falar no bom uso da violência. Robocop (1987) 1 x 0 Robocop (2014).

 Jogo que segue truncado e mesmo o time de 2014 querendo colocar mais velocidade, não adianta muito, não passando do meio campo e fazendo um jogo morno sem jogadas criativas. No final do primeiro tempo, após os craques de cada time acordarem e começarem a participar mais ativamente do jogo, a partida esquenta. Um deles, mais parado, sem muita mobilidade mas com raciocínio rápido, consegue disparar para meta adversaria, mesmo com curto espaço. O outro é mais rápido, corre pelas pontas, dá dinâmica ao jogo e embora seu estilo de jogo não agrade a muitos, cumpre muito bem a função. Na velocidade e sem sujar seu belíssimo uniforme, Robocop de '14, empata, passeando pela zaga adversaria, deixando os zagueiros caídos no chão. Mas a alegria dura pouco e logo em seguida, o time de '87 vai ao ataque, Robocop vence a batalha contra os fortíssimos zagueiros ED-209, e coloca seu time outra vez na frente. Robocop (1987) 2 x 1 Robocop (2014)


"Robocop, O Policial do Futuro" (1987) - trailer



"Robocop" (2014) - trailer


Os dois times colocam mais velocidade no final da partida, o jogo ganha em emoção e o time de 87 tem bons ataques mas marca mesmo na bola parada, em uma bela falta em que a bola passa por cima da falha barreira policial, e acerta em cheio com suas ótimas críticas ao sistema penitenciário americano. 3x1 para Robocop 87. Minutos depois, em um escanteio, o Robocop de Verhoeven sobe no último andar da OmniCorp para dar uma cabeçada certeira, fazendo seu adversário desabar. 4 x1.

Partida praticamente resolvida e nos acréscimos, mostrando que ter um bom elenco que pode fazer diferença, o segundo volante Samuel L. Jackson, diminui, mostrando como as falsas mentiras, as meias verdades, o sensacionalismo, a manipulação de informações podem ser um grande inimigo. Mas aí já parece ser tarde. O time de 2014 pressiona nos últimos minutos, mas o de '87 está fechado. Vivo ou morto esse time vai sair com a vitória. Fim de jogo.

O novo Robocop até tem um uniforme mais bonito, mas
o antigo mesmo mais pesadão, mais lento, prova dentro de campo que
 não é nenhuma lata velha.


O time de Paul Verhoeven funciona como uma máquina 
e destroça a tropa de elite de José Padilha.



por Vagner Rodrigues


quinta-feira, 14 de setembro de 2017

"Bingo: O Rei das Manhãs", de Daniel Rezende (2017)


É uma alegria quando se vai ao cinema – coisa que não tenho conseguido fazer com a frequência que gostaria – e o filme supera todas as expectativas. E quando isso acontece com o cinema do meu país, mais ainda. Foi assim com “Meu Nome não é Johnny” (2008), “Castanha” (2014) e “Aquarius” (2015), três dos principais representantes do cinema brasileiro do século XXI. A mesma sensação experimentei ao assistir recentemente “Bingo: O Rei das Manhãs”.  O longa é uma história muito bem contada e atenta a todos os aspectos fílmicos que as grandes obras contêm. Além disso, traz outras duas características marcantes dos filmes que vêm para marcar época: cenas inesquecíveis e a possibilidade de leituras subliminares.

A começar pelo argumento, rico e, literalmente, apimentado. O longa narra as desventuras de um artista que sonha em encontrar a fama e que se depara com sua grande chance ao se tornar Bingo, um palhaço apresentador de um programa de TV. Essa é a sinopse sem a luz correta. Virando o holofote para a direção certa, temos a verdadeira história: uma comédia dramática e biográfica inspirada na vida de Arlindo Barreto, ator que foi um dos primeiros intérpretes do palhaço Bozo, sucesso da TV americana que Silvio Santos importou, no começo dos anos 80, para comandar no SBT um programa idêntico. Claro, não tão igual assim, pois, como o filme mostra, precisou de uma boa dose de “brasilidade”, ou seja, ousadia, subversão e até picardia – como, por exemplo, trazer das boates noturnas a cantora Gretchen para sensualizar a milhões de crianças. Resultado: o programa atingiu o primeiro lugar na audiência das pueris manhãs da TV brasileira. Afinal, o que a Globo fazia com Xuxa e Cia. não era nenhum pouco diferente. O que valia mesmo era a guerra pelo Ibope.

Bingo e Gretchen: cenas quentes para crianças na TV brasileira dos anos 80
O diretor Daniel Rezende, requisitado montador de clássicos recentes da cinematografia nacional (“Cidade de Deus”, “Diários de Motocicleta”, “Tropa de Elite 1 e 2”) e internacional (“A Árvore da Vida”, do norte-americano Terrence Malick), soube mexer esse caldeirão de referências e equilibrar os elementos narrativos, a loucura da vida do protagonista com doses certeiras de comédia, dramaticidade, documentarismo e poesia.

O “vida loka” Augusto Mendes é um arquétipo do Narciso: abençoado mas confuso. Brilhantemente protagonizado por Vladimir Brichta, Augusto é um ator frustrado a quem restou apenas as pornochanchadas para atuar. Além disso, é separado da esposa (uma atriz de sucesso na “Globo” que não perde a chance de lhe rebaixar), pai de um menino que o tem como exemplo e filho de uma desvalorizada atriz de uma velha guarda, situação que o magoa por idolatrar a mãe. No entanto, corajoso, amante de sua profissão e convicto de suas habilidades cênicas, ele encontra na figura tão lúdica quanto assustadora do palhaço a máscara ideal para ascender, mas também para buscar a si próprio. Uma metáfora disso está numa das tais cenas inesquecíveis a que me referi: a do hilário e até desconcertante teste de Augusto para o papel de Bingo, momento em que o até então pouco aproveitado ator se transforma. É um lance especial do longa, quando se tem as visões da câmera da TV – objeto de observação do âmbito interno da obra – e a do próprio filme – externa, pela qual o espectador é quem enxerga o que está sendo contado. Esse conjunto/choque de ações interna e externa dá amplitude  à obra, haja vista a pegada “documental” e o jogo metalinguístico que isso resulta.

O personagem Augusto diante da imagem idolatrada da mãe: espelho
De fato, Rezende constrói uma narrativa que alia o entretenimento com uma abordagem mais profunda. O elemento “espelho” é referenciado em vários momentos, como o do camarim, que presencia a fusão ator/personagem; o evidente quadro com a imagem de sua mãe, pessoa a quem Augusto se espelha; e a própria tela da televisão, que, algoz, reproduz uma imagem distorcida da realidade. Como o Narciso, Augusto, a quem a beleza do mito grego é representada pelo brilho do talento, tenta buscar incessantemente o seu autoadmirado reflexo imergindo nas águas, mas acaba por (quase) se matar. O fundo do poço em que Augusto chega, bem como a retomada para um novo momento de vida que ocorre no transcorrer da trama, são, enfim, símbolos de morte e renascimento.

O palco, igualmente, é outra referência-chave no filme, seja o estúdio de TV, o picadeiro, o púlpito da igreja ou qualquer lugar que lhe oferecesse olhares, simbolizando o ator que quer incansavelmente os aplausos para, de alguma forma, sublimar o insucesso da mãe. Desse modo, um dos elementos básicos do cinema, a luz, ganha total importância, seja para, de forma prática, iluminá-lo no palco da vida, seja para, metaforicamente, trazer à luz aquilo que está escondido – caso dos loucos bastidores da TV brasileira daquela época e da própria personalidade autodestrutiva de Augusto, que afunda em drogas e sexo sob a capa de uma figura divertida e alegre. Não à toa, um ponto fundamental da trama é o anonimato do ator por trás do palhaço por conta de uma exigência contratual, o que se torna insuportável com o passar do tempo para Augusto e, principalmente, para seu filho, que, com os olhos descomplicados de criança, enxerga nisso uma mentira injustificável.

No palco e sob todos os holofotes
A direção de arte, a fotografia e a trilha sonora, tanto de canções incidentais (de Tokyo a Echo & the Bunnymen, Dr Silvana & Cia.) quanto compostas (Beto Villares), são trunfos de “Bingo”. Porém, muito do acerto do filme está, acima de tudo, nas atuações, em especial de Brichta. É ele quem protagoniza as melhores – e memoráveis – cenas, como as de interação com os “baixinhos” durante o programa, a da incrível “dança de regozijo” – quando atinge a liderança de audiência e é carregado nos braços da plateia de crianças – e a já referida do teste para o papel. Ator de formação em teatro e bastante tarimbado em tevê e cinema, Brichta consegue entrar no personagem de uma forma visceral. Seu êxito tem todos os méritos não só pelo tempo da comédia e pela carga certa de drama exigida mas, mais do que isso, pela interpretação do clown, coisa que qualquer ator sabe o quanto é difícil internalizar.

Criador e criatura se fundem diante
do espelho
Brichta, ao encarnar o palhaço mais "sexo, drogas e rock'n' roll" da história, sustenta com muita habilidade a dicotomia principal do filme, que é a amoralidade da vida adulta e a inocência da fase infantil. Fica claro que, quando as questões da infância não são devidamente resolvidas, o adulto recorre a perigosos brinquedos para submergi-las. Como a beleza de Narciso conduzida por  Liriope, sua mãe, pelo meio da mentira. Novamente, luz e sombra, o que é e o que não é. Se o público via um palhaço sorridente, na realidade ele carregava por trás da máscara um homem infeliz e perdido no próprio ego.

Pode haver quem critique o desfecho, que em parte credita à conversão do ator à Igreja Evangélica sua recuperação como pessoa. A meu ver, isso passa batido, até por que de muito se sabe que isso realmente ocorrera com Arlindo Barreto, o verdadeiro Bozo. O fato é que estas lendas em torno do Bozoca Nariz de Pipoca que, quando criança, eu e outras milhares assistíamos (sempre o preferi à Xuxa), são trazidas no filme. prestando um serviço documental de uma fase gloriosa – e agora, um pouco menos obscura – da TV brasileira. Agora dá pra entender o que me foi uma decepção na época: quando o Bozo "de verdade" sumiu de repente para entrar o sem graça do Luis Ricardo.

..........................................

trailer de "Bingo: O Rei das Manhãs"



por Daniel Rodrigues

sexta-feira, 12 de maio de 2023

CLAQUETE ESPECIAL 15 ANOS DO CLYBLOG - Cinema Brasileiro: 110 anos, 110 filmes (parte 2)

 

O novíssimo "Marte Um" já figurando
na lista dos melhores da história
A lista dos 110 filmes dos 110 anos de cinema brasileiro continua. Nesta segunda parte, na ordem decrescente iniciada da última posição, são mais 20 títulos, e a diversidade e criatividade típicas do cinema nacional se fazem cada vez mais presentes. Obras marcantes da retomada, como “Bicho de Sete Cabeças” e “O Invasor” convivem com clássicos combativos do cinema novo (“O Desafio”), documentários de décadas distintas (“Partido Alto”, dos anos 70, e “Jorge Mautner, O Filho do Holocausto” e “O Fim e o Princípio”, anos 2010) e longas recentíssimos. Entre estes, “Marte Um”, o mais novo de toda a lista, que precisou de menos de um ano de lançamento para carimbar seu lugar ao lado de consagradas chanchadas ou de produções inovadoras, tal o experimental "A Margem" e “A Velha a Fiar”, primeiro “videoclipe” do Brasil em que o tarimbado Humberto Mauro ilustra a canção popular de mesmo nome do Trio Irakitã.

A ausência, pelo menos neste novo recorte, são os filmes dos anos 80, que geralmente pipocam entre os escolhidos, mas que certamente virão mais adiante. Interessante perceber que cineastas mundialmente consagrados como Babenco, Karim e Coutinho se emparelham com novos realizadores como os jovens Gabriel Martins e Gustavo Pizzi. Tradição e renovação. Fiquemos, então, com mais uma parte da listagem que a gente traz como uma das celebrações pelos 15 anos do Clyblog.

************


90.
“A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água”, Walter Avancini (1978)

Possivelmente, em algum momento o brasileiro viu uma cena em que Paulo Gracindo bebe um martelinho num boteco pensando que fosse cachaça e, indignado com a enganação, grita: “Água!”. A palavra ecoa enquanto a imagem congela e uma música brasileiríssima divina começa a tocar anunciando os créditos iniciais. Tanto quanto uma cena como a da nudez na praia de Norma Bengell em “Os Cafajestes” ou da operação do Bope no baile funk em “Tropa de Elite”, este começo do “teledrama” baseado no conto de Jorge Amado tem ainda a primazia de ser uma obra feita para a televisão, o que a coloca em tese em inferioridade diante do comum 35mm do cinema. Mas a questão instrumental não interfere neste média absolutamente brilhante dirigido por Avancini. Atuações e diálogos memoráveis, arte primorosa, ritmo perfeito, figurino geniais de Carybé, trilha magnífica de Dori Caymmi. Não à toa deu um dos Emmy conquistados pela TV Globo.


89. “O Invasor”, de Beto Brant (2001) 
88. “O Desafio”, Paulo César Saraceni (1965) 
87. “Jorge Mautner, O Filho do Holocausto”, Pedro Bial e Heitor d'Alincourt (2013)
86. “Dzi Croquetes”, Tatiana Issa, Raphael Alvarez (2005)
85. “Dois Filhos de Francisco”, Breno Silveira (2005)


84, “Partido Alto”, Leon Hirszman (1976-82)
83. “Eu, Tu, Eles”, de Andrucha Waddington (2000)
82. “O Xangô de Baker Street”, de Miguel Faria Jr. (2001) 
81. “O Homem do Sputnik”, Carlos Manga (1959)

80.
“Bicho de Sete Cabeças”, Laís Bodanzky (2000)

Da leva do início dos 2000, que sinalizam o começo do fim da retomada. Símbolo desta fase, “Bicho...” é um dos filmes que denotaram que o cinema brasileiro saíra da pior fase e entrava numa outra nova e inédita. Além de lançar a cineasta e o hoje astro internacional Rodrigo Santoro, conta com uma estética e edição arrojadas, com sua câmera nervosa e atuações marcantes, tanto a do jovem protagonista quanto dos tarimbados Othon Bastos e Cássia Kiss. Vários prêmios: Qualidade Brasil, Grande Prêmio Cinema Brasil, Troféu APCA de "Melhor Filme", além de ser o filme mais premiado dos festivais de Brasília e do Recife. Ainda, está nos 100 da Abracine. Trilha de André Abujamra e com músicas de Arnaldo Antunes.


79. “Marte Um”, Gabriel Martins (2022)
78. “Madame Satã”, de Karim Ainouz (2002) 
77. “Babilônia 2000”, Eduardo Coutinho (2001)
76. “Benzinho”, Gustavo Pizzi (2018)
75. “A Margem”, Ozualdo Candeias (1967)


74. “Estômago”, de Marcos Jorge (2007) 
73. “Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia”, Hector Babenco (1976) 
72. “O Fim e o Princípio”, Eduardo Coutinho (2006)
71. “A Velha a Fiar”, Humberto Mauro (1964)


Daniel Rodrigues

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

“Queremos o Escalpo do General Branco” - A Morte de Custer


Na figura, Custer em socorro a um de seus soldados
"Quero que todos saibam
que não estou disposto a vender
parte alguma de minha terra,
nem quero os brancos
cortando nossas árvores
ao longo do rio”.
Touro Sentado




O ano era 1876, a sétima cavalaria comandada pelo famoso e controverso general George A. Custer, se deslocava para Little Big Horn no estado de Montana. Batedores tinham visto movimentos de índios na região, há anos Custer que era um veterano da Guerra da Secessão vinha combatendo e matando estas tribos. Dois anos antes na reserva de Black Hills o general descobriu ouro o que gerou uma corrida de aventureiros em terras indígenas. Os índios Sioux, Cheynnes e Arapahoes liderados por Touro Sentado formaram uma confederação para proteger suas terras, atacando quem as invadisse. Com a desculpa e o pano de fundo de que os índios estavam muito rebeldes, tropas marcharam para a região e a ordem era matar quem não cooperasse, no fundo todos queriam um pouco do ouro. Custer era um exímio cavaleiro, lutou Gettysburg e tinha no seu destacamento 655 homens, a elite da Cavalaria Americana, era odiado por todos chefs indígenas, inclusive por Cavalo Louco e Cavalo Doido que o juraram de morte. O general marchou à noite inteira e ao amanhecer recebeu a noticia de que o acampamento dos índios estava a poucos quilômetros.
A Cavalaria em combate com os indígenas
Rapidamente ele dividiu suas tropas e imaginava pegar os índios de surpresa. As forças de Custer atacaram o acampamento, mas batedores índios já haviam avistado a poeira levantada pelos cavalos, subitamente milhares de índios surgiram com arcos, flechas, machadinhas e rifles. Um dos comandantes da tropa de Custer ordenou que seus homens desmontassem e formassem uma linha de tiro, foi em vão, os índios romperam a linha agilmente com seus cavalos e dizimaram parte dessa tropa o restante bateu em retirada, muitos sobreviventes se afogaram no rio e os demais tentariam se agrupar em uma colina. Os guerreiros desistiram deste destacamento que já estava em frangalhos e rumaram para atacar o de Custer na aldeia acima. Cavalo Louco ia à frente de todos os índios aos gritos, a ordem agora era escalpelar. Com as tropas divididas, Custer tinha ficado com 231 homens, Nuvem Vermelha, outro grande chef, já tinha aniquilado grande parte dos soldados restantes.
Dustin Hoffman em
"O Pequeno Grande Homem"
No combate Custer acuado esporeou o cavalo e ordenou que seus homens subissem uma colina, era seu último baluarte, no trajeto matou alguns guerreiros com seu Colt, ao chegar ordenou que todos matassem seus cavalos a tiro, ele que sempre matava manadas de mustangues para que os índios não as aproveitassem, agora exigia que seus homens abatessem seus animais para formar uma barricada de defesa . Sua esperança era aguentar até obter ajuda, mas era tarde, a fuzilaria já tinha vitimado quase que toda a sétima dos EUA. Custer ainda resistiu cercado por milhares de guerreiros que aos gritos queriam escalpos, mas seu esforço não o salvou, ele morreu tiroteado, lanceado e foi escalpelado esperando por uma ajuda que nunca chegou. Muitos dizem que Custer ignorou estratégias de guerra e ainda por cima subestimou estes povos os quais ele chamava de “selvagens e primitivos”. Esta foi a última vitória das nações indígenas contra os exércitos dos EUA que nos anos seguintes trataram de exterminar quase que totalmente estas raças. No filme "O Pequeno Grande Homem", com Dustin Hoffman, dá para ver um relato deste evento, assim como em outras produções.



segunda-feira, 19 de junho de 2023

CLAQUETE ESPECIAL 15 ANOS DO CLYBLOG - Cinema Brasileiro: 110 anos, 110 filmes (parte 3)


Grande Otelo em "Rio, Zona Norte" com o seu realizador, 
Nelson Pereira dos Santos, que chega para ficar
Chegamos à terceira parte de nossa lista dos 110 melhores filmes brasileiros, em comemoração aos 110 anos do primeiro filme realizado no Brasil, “Os Óculos do Vovô”. E justo naquele em que é celebrado o Dia do Cinema Brasileiro! E podemos dizer que a coisa está ficando cada vez mais séria. Não que os primeiros-últimos da ordem já não garantissem uma qualidade excepcional. Afinal, separar APENAS 110 títulos entre tantos memoráveis foi tarefa não só difícil como incompleta. Porém, é óbvio que, à medida que vai se avançando na classificação, também se intensifica a importância das obras.

É bem o caso do nosso novo recorte, que vai do 70º ao 51º posto. E em verdade vos digo: só tem filmão! Se nos 40 títulos anteriores já figuravam grandes realizadores, como Eduardo Coutinho, Glauber Rocha, Hector Babenco e Humberto Mauro, agora entram no páreo outras referências indeléveis do cinema nacional, como Leon Hirzsman, Nelson Pereira dos Santos e Kleber Mendonça Filho com seus primeiros listados. Por que, claro, todos eles voltarão mais pra frente com mais obras. Mesmo caso de Cláudio Assis, aqui com “A Febre do Rato”, e Ruy Guerra, já mencionado com seu "Os Cafajestes" (102º) e agora representado por um dos raros musicais de toda a seleção: “Ópera do Malandro”. Como Guerra, Walter Avancini, Julio Bressane, Joaquim Pedro de Andrade, Walter Lima Jr. e Rogério Sganzerla, já presentes, voltam à carga com todo merecimento. 

Entre as mulheres, se até então apareceram apenas filmes de Suzana Amaral, Laís Bodanzky e Tatiana Issa, Sandra Kogut amplia a representatividade feminina trazendo uma obra-prima da recente cinematografia brasileira: “Três Verões”. Por falar em época, ao contrário do recorte imediatamente anterior, onde calhou de não haver nenhuma produção dos anos 80, nesta, pelo contrário, elas são maioria entre as décadas, com 8 títulos, 4 a mais que a segunda com mais filmes, os anos 60. Este é um dos retratos de momentos importantes do audiovisual brasileiro que uma lista de teor histórico como esta pode suscitar. A constatação é uma mostra (à exceção de “Morte e Vida Severina”, teledrama da TV Globo) do quanto a Embrafilme, bem estruturada nos anos 80, rendeu ao cinema brasileiro frutos muito qualificados e duradouros. A mesma Embrafilme desmontada nos anos 90 por Collor... Mas isso é outra história.

Confiram, então, mais uma parte da lista destes filmes que, se não são necessariamente todos os melhores, infalivelmente guardam qualidades que os credenciam a estarem aqui.

************

70.
“O Homem que Virou Suco”, João Batista de Andrade (1981) 

A forte e memorável atuação de José Dumond (Melhor ator em Gramado, Brasília e Huelva), mais uma vez espetacular como em “A Hora da Estrela” e “Morte e Vida Severina”, leva o filme, que conta a história do poeta popular nordestino Deraldo. Ele quer tenta viver em São Paulo de sua arte mas é irresponsavelmente confundido com um assassino. Suas raízes e verdades, então, viram “suco” na grande cidade. Melhor Filme em Moscou e Nevers, é daquelas corajosas realizações  ficcionais, mas abertamente realista que quase documental, e de extrema importância para o período de abertura política no Brasil após os Anos de Chumbo da Ditadura Militar.



69. “Sem Essa Aranha”, Rogério Sganzerla (1970) 
68. “Pra Frente, Brasil”, Roberto Faria (1982) 
67. “Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora é Outro”, José Padilha (2010)
66. “Ópera do Malandro”, Ruy Guerra (1986) 
65. “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, José Mojica Marins (1968)



64. “O Padre e a Moça”, Joaquim Pedro de Andrade (1966)
63. “Três Verões”, Sandra Kogut (2020)
62. “Ele, O Boto”, Walter Lima Jr. (1987) 
61. “A Pedreira de São Diogo”, Leon Hirzsman (1962) 

 
60.
“Os 7 Gatinhos”, Neville D’Almeida (1980) 


Neville é daqueles cineastas da “elite intelectual carioca” que produz coisas às vezes intragáveis, mas esse é um acerto inconteste. Baseado em Nelson Rodrigues, tem o dedo do próprio no roteiro e, além de trilha com músicas de Roberto e Erasmo, é uma tragicomédia crítica e consistente à hipocrisia e depravação da sociedade brasileira. Interpretações (Thelma Reston, Melhor Coadjuvante em Gramado) e cenas inesquecíveis como a dos “caralhinhos voadores” e “me chama de contínuo” estão neste longa referencial.





59. “O Mandarim”, de Julio Bressane (1995)
58. “Morte e Vida Severina”, Walter Avancini (1981)
57. “Casa Grande”, Fellipe Gamarano Barbosa (2014)
56. “A Febre do Rato”, Cláudio Assis (2011)
55. “O Romance da Empregada”, Bruno Barreto (1888)



54. “Faca de Dois Gumes”, Murilo Salles (1989)
53. “Rio, Zona Norte”, Nelson Pereira dos Santos (1957)
52. “Aquarius”, Kleber Mendonça Filho (2016)
51. “Blá Blá Blá”, Andrea Tognacci (1968)


Daniel Rodrigues