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segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Copa do Mundo Gilberto Gil - classificados da segunda fase


Eis os classificados na segunda fase, que avançam no nosso pequeno certame futebolístico-musical.
Rapai..., a coisa foi braba nessa segunda fase! Nossos julgadores tiveram enorme dificuldade e alguns nomes grandes, potenciais candidatos, ficaram pelo caminho: "A Paz", "Se eu quiser falar com Deus", "Barracos", Ê, povo, ê", "Parabolicamará", "Extra", foram algumas das "camisetas pesadas" que deram tchau para a competição.  
E quer saber? 
Vai piorar. 
Ou melhorar, dependendo do ponto de vista. 
A partir de agora, a coisa afunila mesmo, e só as fortes sobreviverão. 
Aguardemos para ver. Aguardemos.
Confere aí, abaixo, quem avança na competição:






****



resultados de Leocádia Costa


La Renaissence Africane 2x3 Ilê Ayê
O jogo virou e favoreceu esse hino que ecoa ancestralidade por todos os poros. Vitória justa!


Copo Vazio 1x3 Marginália 2
A poesia profética e cortante de Torquato Neto arrasou a canção cheia de lirismo. Sem chance de reação.


O Som da Pessoa 3x2 O Eterno Deus Mu Dança!
A disputa foi acirrada, mas “O Som da Pessoa” é pura poesia. E esse violão, minha gente!!! Agitou a galera!


Filhos de Gandhi 4x0 Ê, Povo, Ê
A canção que arrasta milhares de pessoas quando esse bloco sai em Salvador emociona demais. Essa música é “Filhos de Gandhi”. Clássico é clássico!


Three Little Birds 3x0 Ela
Bob Marley na voz de Gil é mágico. É como Garrincha jogando com Pelé, sabe? Essa canção é uma das minhas prediletas. Me sinto voando quando a escuto.


Panis et Circenses 3x2 Refavela
Jogo difícil, porque ambas são muito representativas, timaços em campo. Dessa vez fico com a lendária “Panis et Circenses”, que migrou para outros intérpretes e continua intacta, eterna.


Serafim 1x 3 Sítio do Pica-Pau Amarelo
O jogo foi fácil, porque o emocional atingiu a concentração dos competidores. Primeira infância emplacando os corações.


Oriente 3x0 Chuck Berry Fields Forever
A magistral canção que cresce quando executada não deu espaço e ganhou de lavada do adversário.

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resultados de Kaká Reis


Flora 1x0 Joao Sabino
Essa disputa já chegou de forma bem desafiante! Joao Sabino era até então desconhecida por mim, porém de uma enorme genialidade. Mesmo assim, nessa disputa. Flora vence por 1x0.

Esotérico 5x0 Norte da Saudade
Nem bem o juiz apitou e Esotérico meteu 5 bolas na rede! Essa é quase imbatível!

Punk da Periferia 1x3 Domingo no Parque
Complicou o meio de campo! O jogo abre com Domingo No Parque abrindo vantagem. Punk da Periferia consegue emplacar um gol, mas antes do final do 2º templo, Domingo no Parque fecha o Placar em 3x1. É muita música!!!!

Amarra o teu arado a uma estrela 1x0 Cores Vivas
Mais um confronto com uma “inédita” pra mim. Dessa vez, dificílimo julgamento da juiza! Rs. E acreditem se quiser, nessa disputa, conseguiu cravar 1x0 em Cores Vivas, ganhando a disputa.


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resultados de Joana Lessa


Drão 3x2 Barracos
Num clássico como esse, a disputa é apertada. Drão veio metendo 2, até que Barracos encostou. Mas no final deu Drão.


Lamento sertanejo 1x2 Andar com Fé
Placar apertado, mas pode se dizer que Andar Com Fé ganhou com uma certa tranquilidade.


Zumbi 5x2 Batmacumba
Zumbi já chegou goleando, mesmo com uma pequena reação de Batmacumba


Cinema Novo 1x3 Vitrines
Vitrines levou com facilidade. Já era superior antes mesmo de entrar em campo.


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resultados de Rodrigo Dutra


Lugar Comum 0x2 Maracatu Atômico
Ah, eu amo Lugar Comum por ser a cara de Donato, mas “Maracatu Atômico” é de Jorge Mautner e lembro como a versão de Chico Science definiu o Mangue Beat nos anos 90. “Manamaê ô!”


Quilombo, o Eldorado Negro 0x1 Aquele Abraço
“Aquele Abraço” pros quilombos. A música que Gil fez pra se despedir do Brasil é uma das favoritas ao título. Alô, Alô ClyBlog, olha o breque!


Queremos Saber 1x2222 Expresso 2222
Uma pena “Queremos Saber” enfrentar esse verdadeiro trem de ferro que é a magnífica “Expresso 2222”. É o retorno de Gil pro Brasil, é o olhar pro futuro, além do balanço forrozeiro único. Goleada absurda!


Procissão 0x0 Palco (2x3)
“Palco” ganha nos pênaltis, porque “Procissão”, embora seja pura poesia e tenha ouvido tanto na vida, não atinge o grau festeiro, oitentista, sagrado e popular de “Palco”, trilha até de Chiquititas.


Parabolicamará 2x4 Tempo Rei
Sou noveleiro, mas tenho que reverenciar a Coroa. “Tempo Rei” ganha com autoridade oitentista. Clássica!


Back in Bahia 1x0 Geleia Geral
Essa faço chorando, porque “Geleia Geral” é tão legal! Torquato Neto, Tropicália, Pindorama, a mistura regurgitofágica desses anos de ouro. Mas “Back in Bahia” é mais poderosa, em melodia e significado.


A Paz 4x5 Toda Menina Baiana
Outra parada duríssima. Queremos paz para nuestro pueblo, mas as meninas baianas imperfeitas se sobressaem. Foi um placar acirrado que Deus deu.


Kaya N'gan Daya 2x0 Nêga
“Nêga” caiu no ritmo contagiante da tribo fumacê jamaicana e perdeu o jogo. Trench Town ganhou de Londres.


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resultados de Daniel Rodrigues


Pai e Mãe 0x3 Refazenda 
Clássico Regional! Jogo de clubes (músicas) do mesmo lugar (disco). Mas é mais ou menos Inter x São José, Flamengo x Ameriquinha ou Atlético Mineiro x América Mineiro, sabe? Por mais que “Pai e Mãe” tenha bons momentos, emocionantes até, não tem como competir com “Refazenda”, que impõe seu esquema, refazendo tudo. Time que tem paciência de ver amadurecer o gol. Sabes ao que estou me referindo, né? O tempo demora a trazer o gol, mas, sem desistir, “Refazenda” chega ao primeiro e depois a bonança veio ao natural. Com tranquilidade, “Refazenda” fecha com uma quase goleada de 3 x 0.


Extra 0x1 Realce 
Reggae versus disco music. Seriedade versus alegria. Reflexão versus espontaneidade. Quem sai vencedor neste duelo de opostos? “Realce” se vale de seu futebol propositivo, sem medo de ser feliz, enquanto “Extra” tem um esquema bem pensado, que sabe onde quer chegar. Mas “Realce” não desespera, pois quando vai pro ataque fere a tal ponto que nenhum mágico interferirá. Tanto foi que, de repente, brilhou: “Realce” marca ali pela metade do primeiro tempo aquele que seria o gol da vitória. Apertada, mas suficiente para lhe colocar na próxima fase da Copa Gil. E a organizada LGBTQIA+ na arquibancada vai à loucura!


Super-Homem (A Canção) 2x1 Tradição 
Outro clássico de músicas irmãs. Os dois se sentem em casa. Mas “Super-Homem” entra em campo com uma vantagem, pois é ela que antecede justamente “Tradição” no disco e tem a função de lhe “passar a bola”. Só que ela devolve a bola no círculo central, porque conseguiu abrir o placar. Mas não tem jogo perdido! É o tipo da partida que tem emoção até o fim. “Tradição”, como o nome diz, tem uma camiseta pesada e muito recurso de gingado e empata. No segundo tempo, segue a igualdade: a emotividade de “Super-Homem” e a qualidade amadiana de “Tradição”. Até que, mudando como um Deus o curso da história, o super-homem veio restituir sua canção à glória, que marca no finazinho (ali quando Gil dá aquele agudo lindo: “Por causa da mulheeeer...”) e esta grande partida se encerra assim: 2 x 1 para “Super-Homem (a canção)”


Essa é pra tocar no rádio 0x1 São João Xangô Menino 
Jogo disputado, com muitas oportunidades de cada lado, chances de gol, bola na trave, gol anulado e... nada de sair do zero. Times bem parelhos: “São João” com status de Doce Bárbaros e “Essa...”, que já entra em campo desta vez não com a formação de “Refavela”, mas a de “Gil & Jorge”, ou seja, com um futebol mais malandro, ousado, pautado no “dibre”. Mas ninguém resiste àquele refrão móvel de “São João”, ainda mais naquele em que tasca várias referências a discos de Caetano, Gil, Gal e Bethânia (“Viva Refazenda/ Viva Dominguinhos/ Viva qualquer coisa/ Gal canta Caymmi/ Pássaro proibido”). Partida resolvida no detalhe, “São João” marca o seu e solta foguete pra comemorar. 1 x 0, placar final.


Meio de Campo 0x1 Raça Humana 
Outra parada dura. “Meio de Campo” se vale do privilégio de ser das poucas músicas de Gil com referência ao futebol, o que já a põe em vantagem. Outro fator importante: música pra voz de Elis Regina. Ou seja, daquelas de respeito. Só que ela, naquela filosofia “Eu não sou Pelé nem nada, se muito for eu sou um Tostão”, atacava, atacava, e nada de sair do zero. “Fazer um gol nessa partida não é fácil, meu irmão”, falou o técnico já irritado. E como camiseta não ganha jogo e não adianta manter o jogo só no meio de campo, a adversária, com leitura cirúrgica do fator humano, riscou, rabiscou e pintou um golaço na meta defendida pelo goleiro que joga na seleção. “Entrou com bola e tudo!”, disse o narrador. E foi assim que a partida se resolveu: com um belo gol, construído com trabalho de Deus. 1 x 0 “Raça Humana”.


Haiti 1x0 Se eu quiser falar com Deus 
Pedreira num jogo de iguais, mesmo que de épocas diferentes. A diferença de 12 anos a mais não fez com que “Se eu...” se intimidasse com o vigor da adversária e abre o placar. Mas “Haiti” não se assusta com a reza brava da adversária e reage em seguida, empatando. A partir daí o jogo fica encroado, nervoso, com os dois times se respeitando. Foi então que, numa distração de “Se eu...”, a ousada “Haiti” aproveita uma escapada pela ponta, na hora do rap de Gil (“111 presos, mas presos são quase todos pretos...”) e define: 1 x 0. “Haiti”, que não veio pra brincadeira nessa Copa, tira uma das fortes candidatas. Mas futebol é isso, e a torcida canta: “O Haiti é aqui!”


Cálice 2x0 Tenho Sede 
“Tenho Sede” é daquelas músicas tão bonitas que lhe cabe com precisão o termo “terna”. Só que pra jogar um torneio tão disputado tem que estar com a condição física em dia. “Cálice”, agressiva e com time bem posicionado (tendendo, muitas vezes, a fazer suas jogadas pela esquerda, obviamente), vale-se que a adversária cansou um pouco, precisava se hidratar, e aproveita essa queda de rendimento para forçar o jogo. Depois de uma tabelinha entre Gil e aquele atacante contratado do Politheama fã de Canhoteiro, o Chico, mete na rede. Na comemoração, dedinho em riste no lábio mandando recado pra torcida adversária: “Cale-se!”. Com mais um pra decretar o placar final, “Cálice” faz 2 x 0 e fecha a conta.


Só quero um xodó 0x1 Barato Total
Sabe aquele time que tem um futebol bonito, que todos gostam de ver, e que tem carisma junto ao público? “Só quero um xodó” é assim. Parceria Gil e Dominguinhos não poderia dar noutra coisa, né? Mas o problema é que ela pegou pela frente a potente “Barato Total”. Música de muitos recursos (rítmicos, timbrísticos, harmônicos, vocais), que entra em campo com aquela aparente displicência, cantando “lalalá”, mas, no fundo, tá superligada na partida. A aposta é no futebol alegre, afinal, quando a gente 'tá contente, nem pensar que está contente a gente quer: a gente quer, a gente quer, a gente quer é fazer gol, claro! Vitória simples de 1 x 0, que poderia ter sido 2 ou 3 se “Barato...” não se esquecesse de vez em quando do seu compromisso de ganhar a partida.


****

CLASSIFICADOS PARA A TERCEIRA FASE:
Drão
Andar com Fé
Zumbi
Vitrines
Barato Total
Cálice
Haiti
Raça Humana
São João Xangô Menino
Super-Homem (A Canção)
Realce
Refazenda
Kaya N'gan Daya
Toda Menina Baiana
Back in Bahia
Tempo Rei
Palco
Expresso 2222
Maracatu Atômico
Aquele Abraço
Flora 
Esotérico
Amarra o teu arado a uma estrela
Domingo no Parque
Oriente
Sítio do Pica-Pau amarelo
Panis et Circences
Ilê Ayê
Marginália 2
O Som da Pessoa
Filhos de Gandhi
Three Little Birds



Agora, tem novo sorteio, e nos próximos dias, 
divulgaremos os confrontos da nova fase da Copa Gil. 

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Caetano Veloso & Gilberto Gil – “Dois Amigos, Um Século de Música” – Auditório Araújo Vianna – Porto Alegre/RS (28/08/2015)





Caetano e Gil, pura genialidade.
foto: Júlio Cordeiro
“Gil é um rouxinol de grandes mistérios”.
Caetano Veloso


“Eu faço música primeiro pra mim,
depois pra ele e depois pros outros”.
Gilberto Gil,
sobre Caetano



Sabe aqueles acontecimentos em que se cria uma grande expectativa e a recompensa vem completa? Pois ter assistido Caetano Veloso e Gilberto Gil juntos e ao vivo foi assim: momento completo de se guardar para a vida. Folgados os nós dos sapatos, das gravatas, dos desejos e dos receios, fui, na doce e astral companhia das hermanas Leocádia e Carolina, ao Araújo Vianna presenciar uma noite inesquecível na cidade (ao menos, a nós). Dois gênios vivos da arte mundial celebrando algo incomparável e irrepetível: a união de 50 anos de carreira de cada um. As vivências artísticas e próprias ou em comum; as conexões com vários tempos e movimentos; a confluência com diversas manifestações da Arte e culturas; a musicalidade e a poesia constantemente desenvolvidas ao longo dos muitos anos; as parcerias entre eles e com outros. A significância inequívoca de cada um dentro do cenário sociocultural brasileiro e mundial. Enfim: uma gama de motivos que fazem de “Dois Amigos, Um Século de Música” um marco só por sua realização.

Porém, no palco, Caetano e Gil justificam o show, cuja turnê, iniciada na Europa, em junho, passou pelo Brasil e já ganha a América Latina. Repertório escolhido com inteligência e cuidado, como sempre fizeram em seus projetos. Aliás, conheço essa qualidade não só dos discos ao vivo mas por já ter assistido tanto a um quanto outro por duas ocasiões. Coincidentemente, as duas primeiras vezes nos anos 90, quando cinquentões, e as recentes há bem pouco tempo: 2013 (Gil, “Concerto de Cordas & Máquinas de Ritmo”), e 2014 (Caetano, "Abraçaço"), já passados dos 70 anos. Pela tevê ainda tive, em 1993, a oportunidade de assisti-los num memorável megashow aberto em São Paulo com duas superbandas mais a cozinha da Timbalada com Brown e tudo por ocasião do disco “Tropicália 2” (à época, gravei em VHS e revi várias vezes o que hoje tem no Youtube). Ou seja: vê-los agora de novo e reunidos é como se fechasse um panorama de compreensão da extensão e da perenidade de suas obras ao longo do tempo, esse “tambor de todos os ritmos”.

E foi justo a diversidade de ritmos que, trazidos pelo ecletismo tropicalista ainda hoje revolucionário, pautaram o show. O arrebatamento se deu do primeiro ao último acorde. O inicial, aliás, foi de emocionar qualquer um que admire e entenda um pouco de suas obras. A música escolhida para abrir o espetáculo foi a magistral “Back in Bahia”, rock ‘n’roll escrito por Gil na volta do exílio de Londres, início dos anos 70, na qual ele expõe de forma madura, consciente e transformadora tudo o que aprendeu com a (que poderia ter sido) traumática experiência. O tom de identificação de um se refletiria no outro durante todo o desenrolar do show – aliás, uma mostra daquilo que um sempre foi para o outro: um espelho. Foi o que aconteceu no número seguinte. Se “Back...” traz as reminiscências de Gil de um período marcante de sua vida, Caetano preferiu reviver outro tipo de memória afetiva com a bossa nova que abriu seu primeiro disco (na voz de Gal Costa, à época), em 1966: “Coração Vagabundo”.

Arranjos bem pensados, ambos dividiram os violões e os microfones nas duas de abertura para, na sequência, trazerem uma cantada por cada um. E foram dois hinos tropicalistas: a própria “Tropicália”, numa bela e impensável versão acústica (difícil imaginá-la sem a orquestração de Duprat) com Caetano à voz, e a tocante “Marginália II”, poesia brasilianista de Torquato Neto que Gil, magistralmente, musicara para o disco-manifesto “Tropicália” ou “Panis et Circensis”, de 1968. Primeiro momento do show a me levar às lágrimas ao ouvir Gil entoando aquela letra do mais alto lirismo e identidade: “A bomba explode lá fora/ E agora, o que vou temer?/ Oh, yes, nós temos banana/ Até pra dar e vender/ Olelê, lalá/ Aqui é o fim do mundo/ Aqui é o fim do mundo...”

Passeando por suas histórias, foi a vez de reverenciar com afinco a bossa nova e, mais que isso, ao ídolo João Gilberto. Outras duas dividindo os vocais: “É Luxo Só”, samba de Ary Barroso “convertido” em bossa por João quando da inauguração do estilo, em 1959, e “É de Manhã”, primeira composição de Caetano e mais antiga escrita por um dos dois em todo o show, em 1963. Nesta, destacaram a importância de Maria Bethânia, primeira da turma dos baianos a gravá-la e a registrar uma música do irmão, então um jovem compositor iniciante.

Contraponto à canção mais antiga, num dos momentos especiais do show, eles apresentaram uma composição de 2015, primeira parceria em 22 anos escrita em São Paulo quando retornaram da temporada europeia. Ou seja: somente São Paulo e Curitiba, shows imediatamente anteriores ao de Porto Alegre, a tinham escutado. Uma joia chamada “As camélias do Quilombo do Leblon”, samba poético e filosófico que repensa as condições socioculturais que o Brasil tem de criar e colher, como dizem os versos, “as camélias da Segunda Abolição”. Numa resposta a toda polêmica gerada pela tentativa de boicote do ex-Pink FloydRoger Waters, ativista anti-Estado de Israel, quando da passagem dos brasileiros por Tel-Aviv, a letra não deixa por menos, evidenciando as possibilidades emancipadoras que o miscigenado e “cordial” povo brasileiro (aka Sérgio Buarque de Hollanda e Domenico de Masi) tem diante de outras civilizações do planeta: “Vimos as tristes colinas logo ao sul de Hebron/ Rimos com as doces meninas sem sair do tom/ O que fazer/ Chegando aqui?/ As camélias do Quilombo do Leblon/ Brandir.”

Caetano, uma das maiores forças criativas da MPB.
foto: Júlio Cordeiro
Uma sequência de várias de Caetano emocionou o público – de uma complacência um tanto fria até então, mas que a partir dali se derreteu de vez. Não era para menos, pois vieram a clássica “Sampa” e a não menos épica “Terra”, talvez a mais bem arranjada de todo o show. Somente aos dois violões, de longe superou a versão original, revelando toda a atmosfera etérea da melodia, com seus traços árabes e folks. Enquanto Caetano cantava com emoção e destreza, Gil percutia levemente na madeira do pinho. No refrão, providenciava para o amigo todos os complementos que o arranjo original suscita. As percussões cintilantes, o som da cítara, a viola, o andamento cadenciado: tudo é substituído e condensado no dedilhar magistral de Gil. De arrepiar.

Caetano emenda outras de três momentos importantes de sua carreira: “Nine Out of Ten”, presente em "Transa", de 1972, seu melhor disco e que, gravado em Londres, foi responsável por fazê-lo sair da depressão do exílio; “Odeio”, do visceral “Cê”, já dos anos 2000, uma confissão de amor ao estilo rock: fazendo sexo virtual a esmo, o que ele queria mesmo era a ex ali consigo; e a castelhana “Tonada de Luna Ilena” (de Simón Diaz, que gravou em 1994, em “Fina Estampa”), numa impressionante interpretação que, claro, tocou a nós gaúchos tão próximos dos irmãos portenhos.

Mais outras três encantadoras tocadas em dupla: a excelente bossa nova “Eu Vim da Bahia”, das primeiras composições de Gil; “Come Prima”, em que ambos mandaram um afiado italiano; e "Super-Homem, a canção", noutro momento de emoção. Caetano, com a afinação e o timbre doce que lhe foram presenteados por Deus, começa cantando. Na segunda parte, Gil, comovido por ouvir o parceiro, engasga a voz e é aplaudido.

Gil e o violão qu expressa tudo.
foto: Júlio Cordeiro
O repertório, seguindo o conceito de espelhamento, trouxe, então, uma série com Gil, começando pela gostosa “Esotérico”, cantada em coro pela plateia. Tomado pela acolhedora egrégora criada pelos dois, me deu até a impressão de esta ser uma música de Caetano – embora saiba que é de fato de Gil – devido às repetições de versos, às assimetrias de métrica e o tom desafiador típicos deste. Depois, esmerilhando as cordas, Gil sacou uma impecável “Tres Palavras”, do mexicano Osvaldo Farrés, para, na sequência, emocionar novamente todos com “Drão” que – assim como ocorrera antes, quando o companheiro desnuda-se ao tocar “Odeio” – revela a dor da separação da antiga esposa. Caetano, que a gravou em 1998 (no ao vivo “Prenda Minha”), nem ousou cantar junto. 

Aliás, a deferência e a admiração de Caetano para com Gil ficam visíveis. Não que ele se apequene; não que desconheça seu tamanho e relevância; mas Caê reverencia “aquele preto que ele gosta” e deixa que ele estabeleça o clima do show, o qual se dá de forma leve e elevada. Bonito de se perceber. Em “Expresso 2222”, obra-prima visionária de Gil, é ele quem, além de tanger os complexos acordes da melodia, comanda o forró que se instala. O Araújo Vianna dança. No embalo da animação, vem o afoxé “Toda Menina Baiana”, outro clássico.

Junto com a nova composição já apresentada, a lírica “São João, Xangô Menino” é a única do set-list composta em parceria. Linda, outra que me emociona sempre (e não foi diferente desta feita), principalmente no refrão de versos móveis, um verdadeiro canto de louvor à riqueza do folclore nacional e às forças da natureza: “Viva São João/ Viva o milho verde/ Viva São João/ Viva o brilho verde/ Viva São João/ Das matas de Oxóssi/ Viva São João”. A crença e a espiritualidade voltam em outro sucesso de Gil: “Andar com Fé”. Na mesma atmosfera, eles enfim me desmontam ao tocarem "Filhos de Gandhi". Das melhores e mais significativas canções de todo o vastíssimo cancioneiro de Gil. Um privilégio ouvi-la ali naquela ocasião tão especial, acompanhado de quem estava e, tendo recentemente ido à Bahia e sentido todo esse universo que a canção carrega. E ainda mais com Caetano entoando junto essa verdadeira oração aos orixás (“Omolu, Ogum, Oxum, Oxumaré/ Todo o pessoal/ Manda descer pra ver/ Filhos de Gandhi...”).

O primeiro bis teve uma que já nasceu clássica: “Desde Que o Samba e Samba”, a qual parece ter sido composta por aqueles bambas dos anos 30/40 tipo Wilson Baptista ou Ataulfo Alves. Mas não: é do próprio Caetano e do já mencionado “Tropicália 2”, dos anos 90 – que teve também a eletrizante “Nossa gente” no repertório. “Luz de Tieta”, forte e cantarolável, não foi suficiente para que os deixassem ir embora. Teve ainda um segundo bis com a beatle “Leãozinho”, muito querida da plateia, uma impressionante "Domingo no Parque", em que Gil novamente faz daquele violão uma orquestra completa e, fechando de vez a apresentação, “Tree Little Birds”, de Bob Marley. Um final alegre e sereno.
Caê e Gil, andando com fé pela música.
foto: Júlio Cordeiro

Poucas foram as repercussões pré ou pós na cidade. Parafraseando Caetano, o “silêncio sorridente de Porto Alegre” de quem não quer admitir admiração por outrem. Talvez, em decorrência de um intimidamento provocado pela interferência internacional de Roger Waters ao show de Israel (muitos pensaram alarmados: “Nossa, um estrangeiro importante dando atenção para tupiniquins como eu?!”) ou pela polêmica em torno do valor dos ingressos, “caros demais para artistas que se dizem populares”, como ouvi. Uma proposital confusão entre “popular” e “populista” de quem não se autoentendeu diante da situação de existirem representantes do seu país com merecido destaque tanto lá fora quanto aqui – haja vista que a turnê de “Dois Amigos, Um Século de Música” foi um sucesso na Europa. Detração que vem, certamente, de quem criticou o preço do ingresso de um show como este (que não teve nada de diferente de qualquer outra bilheteria de artista brasileiro, muitas vezes infinitamente menos expressivo) mas paga caro para ver algum dinossauro do rock caquético e descontado que vem tirar uma grana naquela cidade que se submete a isso. Desculpe frustrá-lo, Caetano, mas Porto Alegre não faz jus à sentença de que a “verdadeira Bahia é o Rio Grande do Sul”.

De minha parte, só elogios. Uma ocasião que, até pelo mote, jamais se repetirá, e sabe-se lá se ainda tocarão assim juntos novamente em vida. Óbvio que, como fã, passou-me pela cabeça músicas das preferidas que não foram incluídas, como “Trilhos Urbanos”, “Trem das Cores”, “Cajuína”, “Cores Vivas”, “Palco”, "Lamento Sertanejo", “Aqui e Agora”. Ou mesmo não terem escolhido apenas duas das coautorias: quiçá uma “Divino Maravilhoso”, “Iansã”, “Haiti”, “Panis et Circensis”, “Cinema Novo” ou “Beira-mar”. Mas é evidente que, em 100 anos de carreiras somadas tão profícuas quanto extensas e constantes, fica impraticável condensar tudo em uma hora e meia. Ao menos, foi possível neste tempo sentir a riqueza infindável da arte que emana de Caetano Veloso e de Gilberto Gil. Minutos, na verdade, dentro de toda a amplidão. Minutos que valeram por um século.

**************
Caetano Veloso e Gilberto Gil - As Camélias do Quilombo do Leblon - Porto Alegre 28/08/2015






segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Copa do Mundo Gilberto Gil - resultados das oitavas-de-final



C
hegamos à reta final.
Oito jogos, dezesseis times (ou canções).
Só restarão oito...
Não adianta chorar que a sua favorita saiu, que foi eliminada, porque, daqui pra frente, muita coisa boa vai ficar pelo caminho, mesmo.
Por exemplo, nessa fase coisas mágicas como "Andar com fé", "Expresso 2222", "Sítio..." e "Refazenda" dançaram e foram mais cedo pra casa.
Puxa, hein!
Se essas saíram, o que restou?
Ora, restaram nada mais nada menos do que 'Palco', 'Realce', 'Aquele Abraço'...
Podem ficar tranquilos. Teremos ótimos representantes da obra do Imortal Gilberto Gil na final.



Confere, aí embaixo, os enfrentamentos das oitavas e os classificados para as quartas-de-final:



***


resultado de Rodrigo Dutra

ZUMBI, A FELICIDADE GUERREIRA 0x1 AQUELE ABRAÇO 
Com dó no coração, nos despedimos de “Zumbi” mandando “Aquele Abraço” ao herói guerreiro. O reggae oitentista não consegue superar o sambinha clássico do exílio forçado de Gil. Agora até o final só começo "com dó no coração".


***

resultado de Leocádia Costa

ANDAR COM FÉ 3 x 3 REALCE (5x6 nos pênaltis)
Com direito a prorrogação e decisão nos pênaltis. Baita jogo, que colocou duas grandes canções do Gil em campo. Sabe aquele jogo que você torce até o minuto final pelas duas seleções? É isso, segura coração! Mas dessa vez, “Realce” jogou purpurina em “Andar com fé” e ganhou esse jogo nos pênaltis, com placar final de 5x6.


***

resultado de Kaká Reis

BACK IN BAHIA 1 x HAITI 2
Oitavas de Final e cada vez mais apertado, não dá nem pra imaginar como vai ser essa final!
Back in Bahia versus Haiti e o puro suco de Gilberto Gil.
Haiti abre o placar da memória afetiva e com sua letra altamente politizada e de impacto. Back in Bahia logo empata, afinal, talvez um dos clássicos mais classicos da discografia. O jogo segue empatado até o final quando, inesperadamente, Haiti marca um gol de escanteio aos 47:05 vencendo a partida por 2x1.


***

resultado de Joana Lessa

EXPRESSO 2222 2 x PANIS ET CIRCENCES 3
Panis et circense inaugura um estilo de jogo bonito, diferente. Expresso vem muito bem, mas é surpreendido e o resultado final da partida é Expresso 2 x Panis 3.


***

resultados de Daniel Rodrigues

CÁLICE 4 x 2 O SOM DA PESSOA
Os comentaristas que viram as escalações antes do confronto eram unânimes que “Cálice”, um clássico absoluto de Gil, iria passar com facilidade. Mas no futebol, ou na música, as coisas se resolvem mesmo quando começa a rodar a bola – ou o toca-discos. “O Som da Pessoa”, com time reforçado com um competente Bené Fontelles no meio-campo, começou fazendo frente para “Cálice”. Com seu jogo pragmático – a primeira pessoa na defesa, a segunda no meio e a terceira no ataque –, foi lá e fez no começo da partida um gol meio feio, no bate-e-rebate. Mas como qualquer bola na rede soa bem, o que importa é que saiu ganhando. E logo em seguida ampliou! Final do primeiro tempo: 2 x 0 para “O Som da Pessoa”! Será que vamos ter uma zebra nas oitavas da Copa Gil?! Sem se apavorar, no entanto, “Cálice” fez valer o peso de sua camiseta e de time aguerrido, rebelde, que não se abateu nem com a desclassificação no tapetão no Phono 73. Contanto não só com aquele atacante goleador contratado junto ao Politheama, o Chico, mas também com a impetuosidade do próprio Gil, “Cálice” empata. Daí, mais pro fim da partida, manda uma saraivada pra cima da adversária, com bola vindo de tudo que é lado naquela parte que a música vira pra um rock meio fora do tempo quando põe em campo Magro, Rui, Miltinho e Aquiles da MPB-4. Então, vira: 3 x. 2. O gol de misericórdia vem com lances de crueldade: o técnico tira da manga outro “às” do banco, um cara vindo de um clube de Belo Horizonte, o Clube da Esquina, chamado Milton. É muito recurso que tem esse time, hein? É ele quem mete o 4º e fecha a conta: 4 x 2 para “Cálice” numa virada emocionante. E em respeito ao adversário, que fez um confronto de alto nível, a torcida nem disse “Cale-se!” desta vez pra adversária.

PALCO 2 x 0 SÍTIO DO PICA-PAU AMARELO
Como todos os confrontos dessa fase, é só time de respeito se enfrentando. Mas mesmo com toda a tradição de “Sítio do Pica Pau Amarelo”, time popular, que até as crianças gostam de ver jogar, tem horas que não dá pra segurar. A adversária é daquelas que sabem de sua grandiosidade e já sobe neste palco que é o gramado com a alma cheirando a talco, com a alma clara e um futebol alegre, inspirado no futebol africano (só quem sabe onde é Luanda saberá lhe dar valor). “Palco” naturalmente impõe seu estilo leve e gingado e faz um gol e cada tempo. “Sítio” ainda tentou das suas artimanhas mágicas, às vezes escondendo a bola e tentando levar ela invisível pra dentro da goleira, mas o juiz anulou o gol e fechou assim: 2 x 0 para “Palco”, que está classificada. Nessa, a torcida de “Palco” não perdoou e lançou o seu já tradicional grito para a o time adversário: “Fora daqui!”.


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resultados de Cly Reis

FILHOS DE GANDHI 0 x 2 ESOTÉRICO 
Adoro Filhos de Gandhi! É uma das minhas favoritas da música brasileira. No entanto, pra mim, é música de parceria. 'Esotérico' é marcante na discografia do Gil, 'Filhos...' é marcante na colaboração com Jorge Benjor, posteriormente com Caetano ou em outros registros ao vivo. Vitória garantida para 'Esotérico'. 

SUPER-HOMEM (A CANÇÃO) 2 x 1 REFAZENDA 
Aí sim a coisa ficou séria! Duas das melhores canções de Gil. 'Super-Homem' sai na frente pelo conjunto letra-melodia-inspiração, mas 'Refazenda' não se ressente por isso e compensa com seu arranjo exuberante e reflexão sobre o tempo, empatando logo em seguida. A consistência de 'Refazenda' parece pressionar 'Super-Homem', o gol parece estar amadurecendo, parece que é só questão de tempo, até que, numa jogada em velocidade, o atacante do time de Crypton dá um drible de raio-X no defensor do escrete rural, definindo a partida! Mais uma das grandes fica pelo caminho, mas aqui não tinha jeito. Alguém teria que cair.


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CLASSIFICADOS PARA AS QUARTAS-DE-FINAL
Aquele Abraço
Realce
Palco
Haiti
Esotérico
Super-Homem (A Canção)
Cálice
Panis et Circences





sábado, 24 de setembro de 2022

Copa do Mundo Gilberto Gil - classificados da primeira fase


Definidos os classificados!
Nossa turma de especialistas teve bastante dificuldade em muitos jogos. alguns confrontos precoces que poderiam, facilmente, ocorrer em fases mais avançadas. 'Punk da Periferia' vs. 'Esperando na Janela', 'Cérebro Eletrônico' vs. 'Se eu quiser falar com Deus', 'Luar' vs. 'Panis Et Circenses'... Mas fazer o quê? Copas são assim, mesmo. 
E a primeira fase já apresentou algumas "zebras", se é que se pode chamar assim: pérolas como 'Vamos Fugir', Só chamei porque te amo', 'A Novidade', 'Não chore mais' e 'Esperando na janela', já deram adeus à competição. 
Então chega de conversa e confira abaixo os resultados e veja quem partiu para “aquele abraço” na segunda fase.


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resultados de Rodrigo Dutra:




Buda Nagô 2x3 Lugar Comum

Apesar de Buda ser o grande Dorival, Lugar Comum foi feita com Donato que mora no meu coração. Além disso, Gil gravou Buda Nagô com a Nana... e ele namorou a Nana, Bolsominion lunática. Não pode ganhar de jeito nenhum.

As Coisas 1x3 Zumbi, A Felicidade Guerreira
Apesar de As Coisas ter a marca notória do Arnaldo Antunes, a ode a Zumbi com Waly Salomão é mais rica e potente na letra e na batida oitentista.

Quanta 0x1 Queremos Saber
Quanta é lindo. Dueto com Milton então, nem se fala. Mas Queremos Saber ressignificou a geração Cássia Eller mais de 20 anos depois e hoje é um clássico.


Pela Internet 2x2 Procissão (Versão 68) (4x5 nos pênaltis)
Parada dura essa porque sempre foi admirável Gil, Caetano e a geração deles mergulhar nas modernidades transformando em música. Mas esse álbum do Gil é um dos meus preferidos de toda a MPB, tinha que ganhar, nem que seja nos pênaltis.


Lamento de Carnaval 0x3 Parabolicamará
Não conhecia Lamento de Carnaval e achei bem legal a letra e o dueto com Lulu. Mas sou noveleiro e essa é clássica de Renascer. Não tem como.


O Amor Aqui de Casa 0x5 Back in Bahia
A trilha de Eu Tu Eles eu conheço bem pois vendi muito CD na época que trabalhava no Guion CD's. Talvez se Lamento Sertanejo enfrentasse Back in Bahia, poderia dar um empate. Fora isso, é quase imbatível.


Sebastian 3x4 A Paz
Outro disco que vendi bastante esse com o Milton. É a música carro-chefe do disco, homenagem ao Rio e tal, mas na verdade queremos paz pra invadir nossos corações dia 02 de outubro. A paz ganha no fim.


Kaya N'gan daya 1x0 Deixar você
Essa baladinha é muito gostosa, mas Kaya é Bob, Kaya é reggae, Kaya é tudo. Vitória consistente.


Copo Vazio 1x0 Vamos fugir
Essa é meio que uma zebra. Vamos fugir tem lugar na história, no pop reggae, no Skank...mas tocou tanto, tanto, que a fofa Copo Vazio se sobressai, principalmente no recente dueto com Chico.


O som da pessoa 4x0 Não tenho medo da morte
Apesar de dar a real em Não tenho medo da morte, O som da pessoa é inventivo, criativo, brinca com as palavras...não quero pensar em morte pra Gil, por isso a goleada.


La Renaissence Africane 2x1 Aqui e agora
Aqui e agora é outro clássico, mas a linda homenagem à África é poderosa demais.


O Oco do mundo 0x4 Barato Total
Não conhecia O oco do mundo. Poderia surpreender frente ao gigante Barato Total. Mas o que já era difícil ficou impossível na nova versão da série Em Casa com os Gil, onde as mulheres da família Gil fazem uma performance invencível.


Fé na Festa 0x1 Filhos de Gandhi
Não conhecia Fé na Festa e adorei a potência alegre nordestina, não só dessa música, mas de todo o disco. Mas Filhos de Gandhi é a pura Bahia, é a ONU, é a Índia, é a África, é o Candomblé, é o Carnaval.


As Camélias do Quilombo do Leblon 4x5 Nêga
Esse placar apertado demonstra o quanto eu gosto de As Camélias. Feita com Caetano, lembro de adorá-la no momento em que ouvi pela primeira vez na turnê dos 50 anos deles. Mas Nêga é apaixonante, Gil no exílio, numa Londres fascinante.


Pipoca moderna 0x1 Three Little Birds
Eu amo a pipoca da Banda de Pífanos de Caruaru, mas de novo a influência de Bob Marley é definidora. Além do clipe de massinha que é muito fofo e marcou meus vinte e poucos anos.


Luar 1x3 Panis et Circenses
Gil oitentinha tem o seu valor. Gosto muito! Mas Panis é um patrimônio brasileiro. Crítica, inventividade, antropofagia, a caretice que ainda está em voga nas famílias conservadoras. Ganha com excelência.


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resultados de Leocádia Costa:


Serafim 7x0 Abra o olho                           
“Serafim” ganhou de lavada, 7x0, porque apresenta uma canção com a base espiritual de Gil e o seu afoxé inconfundível. Ainda que "Abra o Olho" carregue muito da presença dele em meio aos processos políticos, arregalando a atenção de todos em plena ditadura de 1974, a escolha dessa disputa está feita pela beleza que é escutar o chamado de Gil a todos os Orixás.  

Quilombo, o Eldorado Negro 3 x 0 Retiros Espirituais
A canção tema do filme “Quilombo”, que poderia abrir esse jogo de forma apoteótica, já deu a dica do placar do jogo: 3x0. Essa trilha todinha eu assisti no cinema, junto com meu pai e irmã no ano em que foi lançado (a classificação era livre). Porém, a canção adversaria é um marco na carreira de Gil, sendo uma das primeiras em que ele reflete sobre essa busca espiritual que sempre pontuou a sua vida. Linda! Mas deu “Quilombo”

  
Logunede 0X4 Domingo no Parque 
Mais uma partida em que todas as atenções estavam no time do Parque. Essa canção que para mim está entre aa clássicas de Gil. Representa tanta coisa e se reergue cada vez que é cantada, como uma grande espiral do povo nordestino com sua simplicidade e grandeza ímpares. O jogo mesmo antes de começar já estava ganho! Placar de 4x0 e sorvetinho no final!   


Lente do Amor 3X4 Oriente 
Aqui o placar foi apertado: 4x3. Explico o porquê: é que "Lente do Amor" é uma canção linda, que traz essa forma de falar sobre o sentimento que todos nós queremos. Porém, "Oriente" tem uma força que só percebi quando a escutei ao vivo, num show em Porto Alegre em que o Love e eu fomos no Teatro do Sesi. Essa mesma força, embora com um arranjo diferente, está na versão original e, por isso, apesar da disputa ter sido acirrada, "Oriente" ganhou a partida.  
  

 Flora 3X0 Louvação
Aqui foi bem fácil, porque não se pode separar o compositor de suas musas. “Flora” representa as mulheres que tão bem são homenageadas por Gil em suas canções. Não é uma canção que eu mais gosto, mas “Louvação” não teve chance: 3x0 e explico porque: é que quando escuto “Louvação” me lembro da versão dos Trapalhões que fizeram paródia da canção e daí não tem espaço para essa versão original na minha cabeça.     


Metáfora 0X7 Esotérico
Sabe aquela canção que você fica esperando tocar no seu playlist? “Esotérico” é a canção. Então, ela não pode faltar no campeonato e é uma das clássicas. Adoro! 7x0 sem chance de prorrogação ou definição nos pênaltis.                
                                     
          
Punk da Periferia 4X3 Esperando na Janela
Aqui a partida foi muito difícil. Teve prorrogação e ufa! Deu aquela aflição até o jogo se definir. “Punk da Periferia” é uma canção da minha pré-adolescência, que escutei várias vezes com minha irmã e que fazia a gente dançar. Lembro de Gil no videoclipe passando por partes da cidade que eu nunca havia ido. Fui com ele e comecei a entender mais sobre as pessoas que vivem na periferia. Para mim é um hino de inquietude, um manifesto que explica esse lugar de fala que Gil sempre ocupou. Já "Esperando na Janela" me atira no cinema, me leva a escutar a gaita de Dominguinhos e aquela atmosfera nordestina que tanto me fascina. Mas como já teve jogo ganho com "Só quero um xodó", essa partida quem ganhou foi o Punk. Placar: 4x3.  
    

Banda Um 0X5 Só Quero um Xodó
Partida ganha só na escalação: 5x0 pra “Só Quero um Xodó”, porque quando se apresenta esse ritmo nordestino, os jogadores trocam as chuteiras por um baita arrasta-pé daqueles que atravessam à noite. Me lembra Luiz Gonzaga, a quem escuto desde criança e a quem Gil faz reverência.
 

Extra 2 0x4 Aquele Abraço
Então: sabe aquele time que reúne tudo de bom? "Aquele abraço" tem irreverência, suingue, fala de pessoas, lugares e fatos que são ícones brasileiros. Os primeiros acordes já despontam na sua cabeça quando você sai do Rio de Janeiro ou do país. É uma ode à nossa cultura. Me faz chorar sempre, apesar de ser uma canção alegre. 4x0. (“Extra 2” nunca me arrebatou. Sempre me dá uma sensação estranha ao escutar).


Feliz por um Triz 3x7 Toda Menina Baiana
Uma vez percebi que Gil era um mestre em esticar as vogais levando a gente a repetir, “aaaaa que Deus deu/ oooo, que Deus dá!”, e por aí vai. Quem já esteve na Bahia sabe que a música é muito real quando reverencia a essa terra que concentra um axé único. 7x3 foi o placar. É que a outra canção, bem anos 80, podia ter sido cantada por Cazuza ou Ney Matogrosso e me agrada um pouco, mas não é uma das mais escutadas por mim.


Roque Santeiro, o Rock 1X5 Tradição
Foi uma partida difícil, mas ao mesmo tempo fácil. Já conhecia a primeira canção, mas “Tradição” ecoou em mim desde o “Tropicália 2” em que Gil e Caetano a cantam. É uma canção linda e cheia de imagens, você enxerga as cenas ali descritas, como um cinema musical. Lavada: 5x1 pra “Tradição”.


Oração pela Libertação da África do Sul 4(0)X4(1) Refavela
O jogo começou tenso porque ambas as canções são geniais. Cada uma me toca profundamente e tem uma ligação entre si. Em “Oração...” vemos toda a narrativa de um povo e sua luta por liberdade. Em “Refavela” vemos os passos dados, na direção do povo preto brasileiro ocupando novos espaços com a autoestima renovada. “Refavela” é um marco na trajetória de Gil, rendeu turnê recentemente, é um discos prediletos da Sr. Gilberto e não pode voltar neste campeonato. Jogo terminado empatado 4x4, com muito choro e vela, decidido por 5x4 na prorrogação pra “Refavela”.     
   

Só Chamei Porque te Amo 3x4 Amarra o teu Arado a uma Estrela
Cresci escutando Stevie Wonder e o reencontrei quando conheci a coleção de discos do Love. Gil encontrou Stevie e são amigos e parceiros musicais. Ambos são muito harmônicos e, juntos, uma potência. Essa canção vertida para o português por Gil é romântica e tocou muito nas rádios. Mas eu gosto dela em inglês e cantada por Stevie. Já "Amarra teu Arado a uma Estrela" é tão mágica e poesia pura e altamente necessária! 4x3 em jogo pegado, quase um Gre-Nal daqueles bem quentes.


Um Trem para as Estrelas 3x4 Drão
“Um Trem para as Estrelas” foi vencida pelo intérprete. Escuto Cazuza cantando. Apesar da versão original ser a de Gil, ela cabe na rouquidão, no tédio e displicência que Cazuza a interpreta. Tem Noel Rosa nessa canção! Tem um país que vive nessa corda bomba, buscando soluções para viver melhor. Porém, “Drão” é precedida por João Donato, por amigos que saem para caminhar numa madrugada e voltam para casa com essa declaração de amor finalizada. É lindo, é triste, é humano e acima de tudo faz a gente sentir aquela dor e aquele amor indo embora e se transformando. Placar: 4x3 com o gol ao final dos 45 min do segundo tempo pra “Drão”. 


O Eterno Deus Mu Dança! 3X2 Não Chore Mais
Bem, eu amo o Ed Motta! Do seu jeito aparentemente mal-humorado, ele abre a boca e invade os nossos tímpanos. Chama atenção para a melodia! É um grande intérprete e aqui participa da versão original ainda bem jovem. Já “Woman no Cry” é um hino a tudo que vai melhorar e a tudo o que precisamos deixar pra lá para seguir em frente. Com variados dribles, e até gol de bike, chegamos ao placar final de 3x2 para o ritmo, os corais e a mensagem do “O Eterno Deus Mu Dança!” 
      

De Bob Dylan a Bob Marley, um Samba-Provocação 0x4 Lamento Sertanejo      
Quem me conhece já sabe qual foi o resultado da partida: “Lamento Sertanejo” é uma das minhas canções prediletas de Gil, me liga com outras passagens literárias, com outros filmes, com o povo brasileiro. Me emociona demais! 4x0 sem espaço pra resenha. Passou a régua e fez 4 dancinhas pras câmeras de TV!     


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resultados de Cly Reis:


Preciso aprender a só ser 1 X 2 Chuck Berry Fields Forever
Preciso é linda mas o rockão Chuck Berry mata a pau. Vitória apertada.


João Sabino 4 X 0 Bananeira
Clássico da Banana! Vitória fácilde João Sabino porque,
pra mim, Bananeira é mais João Donato do que Gil.
E a versão do Gil Ao Vivo 1974 é fantástica.


Menina Goiaba 1 X 3 Cinema Novo
Olha..., Cinema Novo só ganha porque é espetacular porque, para meu critério, 
as canções gravadas em parceria levam desvantagem. Mas aqui, não tem como não ganhar.


Pai e Mãe 3 X 1 Emoriô
Emoriô é outro caso de música que é mais do Donato do que do Gil.
Não teria como ganhar, ainda mais da belíssima Pai e Mãe. Lindíssima.


Ê, povo, ê 2 X 1 Rebento
Clássico Re-Re (Relace vs. Refazenda)
Esse é um daqueles confrontos espetaculares, já na primeira fase.
Jogo dificílimo!
Ê, povo, Ê ganha nos acréscimos. Jogo ganho no detalhe.


Meditação 2 X 5 Andar com fé
Meditação, linda, de arranjo incrível, deu o azar de pegar uma das mais fortes concorrentes logo na primeira rodada.
Não teve jeito.


O Rouxinol 1 X 2 Extra
Outro jogo, daqueles "absurdos"!!!
A composição rebuscada e complexa de Rouxinol contra o balanço do reggae-pop
precioso de Extra.
Sou obrigado a me render ao embalo de Extra. 


Jurubeba 0 X 2 Nos barracos da cidade
Jurubeba é ótima, mas sai em desvantagem por ser gravação em parceria.
Mas Nos Barracos é demais e, por si só, mesmo sem esse detalhe teria potencial para ganhar naturalmente.


A bruxa de mentira 0 X 4 Ilê Ayê
A Bruxa é gostosa, é simpatica, é um doce, mas contra Ilê Ayê não dá nem pra saída.
Vitória fácil.


Sarará Miolo 2 X 3 Batmacumba
Batmacumba quase tropeça no quesito parcerias,
mas essa, mesmo estando em um álbum coletivo, é muito Gil.
É muito fantástica para não levar essa.

É 0 X 1 São João Xangô Menino
Jogo esquisito... Uma "descartada" de um álbum (É), e outra que só tem registros ao vivo.
Passa São João Xangô Menino. Por pouco.


O seu amor 1 X 3 Marginália 2
O Seu Amor é linda mas Marginália II passa pela pertinência e atualidade.


No norte da saudade 3 X 1 Ladeira da preguiça
Ladeira é mais gostosa. Simples assim.


Babá Alapalá 1 X 6 Super-Homem (a canção)
Que azar  Baba teve em pegar Super-Homem!!! Aliás, seria azar para qualquer uma.
Não dá, né?


Sandra 0 X 5 Refazenda
Refazenda é das fortes candidatas, hein!


Refestança 1 X 3 Ela
Refestança é um rock gostoso, muito legal, mas, além de álbum conjunto,
foi pegar logo Ela pelo caminho...
Ela é daquelas aberturas lindas de um álbum. Não teria como perder esse confronto.



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resultados de Daniel Rodrigues:


Beira-Mar 1 X 3 Cores Vivas
Jogão, mas com um dos times daqueles que veio disposto a ganhar campeonato. Beira-Mar marca de saída na poética Caetano/Gil, mas a adversária, gozando o bom-viver, tasca-lhe um, dois, três gols um em seguida do outro. 3 x 1, placar final.


Ensaio Geral 0 X 2 Palco
Outro confronto com um time claramente superior, embora o respeitoso adversário seja um dos primeiros clássicos de Gil - gravado por Elis, te mete! Mas não tem contra Palco, entra em campo com a alma cheirando a talco. Palco faz 2 x 0 fácil e diz pra Ensaio: "Fora daqui!"
 

Roda 1 X 2 Tenho Sede
Jogo mais parelho. Empolgante, Roda larga marcando, mas no segundo tempo Tenho Sede empata. Quando parecia que ia acabar assim, no intervalo Tenho Sede volta mais hidratada e, num pênalti, não desperdiça. 2 x 1.
 

Viramundo 3 X 4 Cálice
Grande jogo! Com variações, jogadas e oportunidades de ambos os lados. A experiência de Viramundo contra a rebeldia de Cálice. A igualdade se reflete no placar: impressionantes 3 a 3 até a segunda etapa! Mas Cálice tem um diferencial no plantel: um atacante chamado Chico, contratado do Politeama, que tem o chamado “sentimento diagonal do homem-gol”. É ele quem marca o quarto naquele que foi dos melhores confrontos da primeira fase. 4 x 3 pra Cálice.
 

Frevo Rasgado 0 X 1 Raça Humana
 Mesmo com o ritmo contagiante do frevo, o futebol nordestino alegre, a dona da casa, mesmo com estádio lotado, não conseguiu segurar o jogo cadenciado deste reggae filosófico de respeito. 1 x 0 Raça Humana.


Miserere Nobis 1 X 2 Expresso 2222
Dois clássicos, um tropicalista típico; o outro, um forró cosmopolita. Mas com um adversário consistente como Expresso 2222, não tem vez. Placar apertado, mas com um vencedor de respeito: Expresso tira um dos 2 do seu título pra vencer pela diferença de um gol: 2 x 1.
 

Cérebro Eletrônico 2 X 3 Se eu quiser falar com Deus
 Mais um jogo difícil. O estilo elétrico de Cérebro encontra o ritmo leve de Se Eu Quiser..., que nem por isso deixa de ser contundente quando ataca. Aliás, é a balada que sai na frente. Não dá muito tempo, mete outro! E outro! Que isso, goleada? Cérebro esboça uma reação, descontando e depois chegando ao segundo. Mas, no fim, cérebro eletrônico nenhum lhe dá socorro no seu caminho inevitável para a morte, e o placar final fica 3 x 2 pra Se Eu Quiser Falar com Deus.


Volkswagen Blues 1 X 2 Maracatu Atômico
Duas tropicalistas de pegadas diferentes: o rock blues de Volks e o maracatu atômico de... a própria. Mesmo não aproveitando todas as qualidades do esquema tático de Mautner/Jacobina (Chico Science provaria isso anos mais tarde), é ela que, num placar clássico, avança de fase: 2 x 1 pra Maracatu.
 

Vitrines 2 X 1 Eu vim da Bahia
A graciosidade bossa-novística de Eu Vim... bem que tenta marcando primeiro. Mas falta fôlego pra segurar a vanguarda tropicalistística de Vitrines, que iguala e mais pro fim faz o da vitória. 2 x 1 Vitrines.
 

Mamma 0 X 3 Haiti
Mamma é bonita, feita na fase londrina para a mãe de Gil, mas segurar Haiti, convenhamos, não dá, né? Só não foi lavada, porque respeita a própria mãe. 3 x 0 com direito a comemoração com gestual de rapper e dancinha de axé-music. Haiti não veio pra brincadeira e deixa o recado pros próximos adversários: “Pensem no Haiti!”
 

O Sonho Acabou 0 X 2 Realce
Partida agradável de se ver, com jogo alegre das duas partes. A serelepe O Sonho Acabou, com um estilo meio inglês de jogar, acerta na trave e assusta, mas quem abre o placar mesmo é Realce, que faz um gol de tabelinha como quem dança numa pista. Fora isso, a música tem torcida organizada tipo Coligay na arquibancada. Com parafina e purpurina, Realce vai lá e mete outro. Alegria nos pés. 2 x 0 é o placar final.


Madalena 0 X 2 Sítio do Pica-Pau Amarelo
Madalena fez sucesso e é antiga no repertório de Gil, visto que aparece lá no pré-exílio Barra 69 para só depois, em 1991, ser gravada em Parabolicamará. Mas nem toda essa campanha faz de música combatível a uma das mais graciosas e queridas do repertório do baiano, que é Sítio do Pica-Pau Amarelo. Placar clássico: 2 x 0 para Sítio.
 

Meio de Campo 1 X 0 Estrela
Pintou zebra na Copa Gil! Estrela tocou nas rádios, é das baladas que os fãs adoram, toca em shows mas, por aqueles acasos da vida, pegou pela frente a “braba” Meio de Campo. E aí, meu filho, se meter com música feita pra voz de Elis Regina é outra história. Numa partida bem disputada, o jogo foi resolvido, sem trocadilhos, no meio de campo. Mais bem esquematizada no seu samba-jazz, Meio de Campo faz o golzinho numa bola alçada pra área e era isso. Vitória magra por 1 x 0. 


Essa é pra tocar no rádio 3 X 1 A Novidade
A Novidade é daqueles grandes sucessos de Gil, parceria com Herbert Vianna, letra poderosa. O que ela faz? Tira vantagem e logo de cara marca o seu e assim fica até o fim do primeiro tempo. Acontece que no segundo ela não esperava que seu adversário fizesse modificações no elenco que mudariam completamente o panorama da partida. Ao invés da versão de Refazenda, Essa é Pra Tocar no Rádio, num estilo jazzístico ligeiro, volta com a formação de Gil & Jorge, mais sambada e cadenciada. Aí, o jogo foi outro. 1, 2, 3 e só não teve quarto porque faltou tempo. De virada, Essa é Pra Tocar no Rádio faz 3 x 1 em A Novidade.

 
O Compositor me disse 1 X 3 Tempo Rei
Lembra quando a gente falou que música feita pra Elis saía naturalmente em vantagem? Pois é: nem sempre. Aqui, não valeu de nada ter sido composta pra voz da Pimentinha, porque a música pegou pela frente a clássica Tempo Rei.  O jogo foi transcorrendo, transformando, e Tempo Rei achando os espaços e navegando por todos os sentidos do campo. Até que, água mole em pedra dura, tanto bateu que foi lá e abriu o placar. Depois foi fácil até o fim. 3 x 1. 


Iansã 1 X 2 Geleia Geral
Dois timaços, hein? Iansã, rainha dos raios, mandou uma chuvarada no céu partido ao meio no meio da tarde. Como pra ela tempo bom é tempo ruim, aproveita e larga na frente. Só que iansã tem na frente um adversário qualificadíssimo. Diria até munido de muitos recursos. Com brasilidade no pé, Geleia Geral dribla as dificuldades e empata. O jogo vai pra prorrogação, e somente nos últimos minutos Geleia Geral faz o da vitória apertada, mas que lhe dá a classificação. 2 x 1. 


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CLASSIFICADAS PARA A SEGUNDA FASE:
Lugar Comum
Quilombo, o Eldorado Negro
Queremos Saber
Procissão
Parabolicamará
Back in Bahia
A Paz
Kaya N'gan daya
La Renaissence Africane
Copo Vazio
O Som da Pessoa
Barato Total
Filhos de Gandhi
Nêga
Three Little Birds
Panis et Circenses
Serafim
Domingo no Parque 
Oriente
Flora
Esotérico
Punk da Periferia
Aquele Abraço
Toda Menina Baiana
Tradição
Rafavela
Amarra o teu arado a uma estrela
Drão
Lamento Sertanejo
O Eterno deus Mu Dança!
Zumbi
Chuck Berry Fields Forever
João Sabino
Cinema Novo
Pai e Mãe
Ê, povo, ê
Andar com fé
Nos Barracos da Cidade
Ilê Ayê
Extra
Batmacumba
São João Xangô Menino
Marginália 2
No norte da saudade
Super-Homem
Refazenda
Ela
Geleia Geral
Tempo Rei
Essa é pra tocar no rádio
Meio de Campo
Sítio do Pica-Pau Amarelo
Realce
Haiti
Vitrines
Maracatu Atômico
Se eu quiser falar com Deus
Expresso 2222
Raça Humana
Cálice
Palco
Cores Vivas
Tenho Sede
Só quero um xodó



Em seguida, sortearemos e informaremos os confrontos da segunda fase.
Fique ligado!  😉

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Grupo Corpo – “Sete ou Oito Peças para um Ballet" e "Gil” – Teatro do SESI – Porto Alegre (03/11/2019)



"Confesso que recebi o convite para criar uma trilha para o Grupo Corpo com satisfação mas com preocupação também, especialmente quando eles manifestaram o desejo de denominar a peça GIL - ou seja, de concentrar a criação no conjunto, num arco que fosse o mais amplo possível do meu trabalho, que tem tantas influências baianas, do samba, da música pop em geral. De todo modo, ouvindo a trilha no final, percebo que ela tem muitos elementos da minha dimensão rítmica mesmo, com elementos da música afro-baiana". 
Gilberto Gil

O Grupo Corpo é, mais do que qualquer banda, cineasta ou outro tipo de artista no Brasil, o que mais tem o poder de me surpreender. A cada nova montagem, e até mesmo a cada repetição de alguma das antigas, a capacidade da companhia mineira de balé – sem dúvidas uma das melhores em atuação no mundo – de reinventar-se e trazer novas visões estéticas e conceituais é invejável. Não foi diferente na última apresentação deles em Porto Alegre, em razão da mais recente montagem,“Gil”, cujo nome já diz tudo: um retrospecto sintético da obra do genial músico baiano Gilberto Gil. Para arrematar, além da iluminada companhia das "Costa", Leocádia, Carolina e a amiga Amanda, a ocasião caiu justamente no dia de meu aniversário. Muita emoção envolvida.

Como disse, não só as novas montagens surpreendem. O hábito comum do grupo de trazer na primeira parte alguma de suas peças anteriores, não raro é tão estimulante quanto a estreia. Foi assim em 2015, quando trouxeram, junto à então recente “Dança Sinfônica” – com trilha de Marco Antônio Magalhães, parceiro de longa data do Corpo –, que perdeu impacto diante de sua talvez mais representativa montagem, “Parabelo” (1997, José Miguel Wisnik e Tom Zé). Desta vez, abriram com uma das que mais tinha vontade de assistir mas que nunca tivera a oportunidade: ”Sete ou Oito Peças para Ballet”, de 1994. Marco na trajetória recente da companhia de mais de 40 anos, tem trilha com arranjos e execução do grupo mineiro instrumental Uakti – liderado por Magalhães – e autoria do, assim como Gil, gênio: o norte-americano Philip Glass.

"Sete ou Oito Peças para um Ballet", com trilha de Glass: êxtase no palco
Afora a deliciosa surpresa de que a tal trilha que nunca achava para ouvir pelo nome da peça era a mesma de “Águas da Amazônia”, lançada em disco com este título anos depois da apresentação nos palcos, a coreografia é simplesmente extasiante. Aproveitando-se da construção minimalista da música, que se monta a partir de células sonoras móveis em variações de volume, intensidade e harmonia, Rodrigo Pederneiras cria uma coreografia em que extrai o máximo da trilha através de movimentos e danças, intercalando constantemente contenção e expansão. Como uma dança da natureza em que a terra determina criação e recriação. Isso auxiliado pela linda luz (Paulo Pederneiras) e pelo figurino (Freusa Zechmeister), que remetem diretamente à organicidade, e a cenografia (Fernando Velloso), igualmente inspirada na fauna e na flora brasileiras. Para mim, que ouço seguidamente “Águas...” , foi emocionante vê-la encenada, principalmente a parte final, quando uma das composições mais icônicas de Glass, “Metamorphosis”, ganha a instrumentalização característica da Uakti, de sonoridade tão brasilianista quanto de vanguarda. No encerramento, num ápice típico das composições de Glass, fica a sensação de que talvez nem precisasse de segunda parte.

Luz amarela e fendas pelo corpo: o
sertão de Gil representado
Mas precisava, sim. Afinal, era a representação em dança pelo filtro artístico do Grupo Corpo de ninguém menos que o “Buda Nagô” Gilberto Gil, talvez o mais completo músico de sua geração. Com um conceito totalmente diferente de “Sete ou Oito...”, o que fez parecer tratar-se de outra companhia, “Gil” inicia. Tons de um amarelo intenso, como um sol implacável do sertão nordestino, iluminam o tablado. Eu, fã ardoroso de Gil, mas suficientemente resistente para não buscar nenhuma informação sobre a montagem antes de assisti-la para não estragar a surpresa, pensava: “De que forma ele irá começar a trilha?” Seria com o toque de seu violão, instrumento tão simbiótico a ele? Ou acordes de sanfona, herança do baião de Luiz Gonzaga e memória de sua infância? Ou as percussões, as quais sempre fora intimamente ligado por conta das raízes da África? Eis que o mestre me surpreende emitindo os primeiros sons da peça em que ele próprio é tema com vocalizes e sons guturais reelaborados eletronicamente. O título: “Choro”. A voz, representação primeira da identidade do ser humano, do músico, do artista, do ser humano. Afinal, qual o primeiro som que emitimos quando nascemos?

Nascida a peça, a partir daí o autor constrói uma verdadeira sinfonia gilbertiana, em que traz, em uma síntese tocante, todos os elementos de sua extensa e abarcante obra: a Bahia, o candomblé, a bossa nova, o sertão, a tecnologia, o tropicalismo, o samba, o concretismo, o rock, o Oriente. E também Villa-Lobos, Beatles, SatieChico Science, Smetak, Domenico, Caymmi, Arnaldo, Caetano. João. Que tarefa difícil, visto a amplitude de sua importância como artista no mundo e o paradigma simbólico de uma obra tão representativa da cultura moderna de um país continental como o Brasil. Gil acompanhou tudo o que aconteceu em termos de movimentos musicais em mais de 60 anos para cá. Agora, foi a vez de ele mesmo fazer esse autopercurso revisitando-se para extrair uma nova compreensão de si próprio.

Gestual que lembra a performance do próprio artista
inspirador da montangem
A coreografia, também de Rodrigo Pederneiras, se vale enormemente de gestos amplos e expansivos (com referências ao frevo, ao samba, aos caboclos de lança, aos orixás, à assimetria roqueira) e não raro referindo-se aos conhecidos gestos performáticos de Gil quando no palco. O tempo todo o ritmo dos passos é marcado pela luz quente e amarelada criada por Paulo e Gabriel Pederneiras, a qual persegue em fachos os dinâmicos movimentos dos corpos. O figurino escuro, autoria de Freusa, traz estampas de colorido africano (Joana Lira) que dão, sob o jogo de luz, a impressão de porem à mostra fendas da carne corpórea. Com um conceito cenográfico bastante limpo – poucos bailarinos no palco por vez, utilizando-os muito mais como linhas ora em pequenas composições, ora individualmente –, a montagem, assim, desenha a concepção musical proposta pelo compositor: organismos que se formam (as três “Intros”), tomam fisionomia própria (“Choro nº 1”, “Seraphimu” e “Fragmento Lírico”, além do knee "Balafon"), brincam em suas existências efêmeras (os três “Improvisos”) para, na segunda metade, aí sim, ganharem concretude, ganharem corpo (“Círculo”, “Triângulo”, “Quadrado”, “Retângulo” e “Pentágono”). O final não poderia ser mais lógico e emblemático com um tema intitulado, justamente, de “Gil”.

Rica em variações, harmonias, timbres e texturas, a encadeada e emocionante trilha dá ao espetáculo coesão e dinâmica em seus quase 40 minutos de duração. “Intro”/“Choro nº 1/”Improviso”, logo nos primeiros movimentos, é especialmente marcante, pois encerra várias vertentes do universo musical do músico baiano: o chorinho, o rap, o afoxé, o samba, o eletro-pop e o baião, passando por uma seção clássica de piano até progredir na reelaboração de si mesmo e de sua música ao parafrasear "Filhos de Gandhi" (1974) e "Ela Falava Nisso Todo Dia" (1968). Outras duas, "Aquele Abraço" (1969) e "Andar com Fé" (1982) sevem de motivo para um auto-sample, em que traços minimamente reconhecíveis de suas melodias se entrecruzam - repetindo e ressignificando, aliás, as vozes fragmentadas da introdução.

Ritmo e movimento:
a Bahia africana de Gil
Já a segunda sequência, o movimento “Seraphimu”, ideia extraída de outra canção dele, "Serafim", de 1992, começa como um legítimo kraut-rock alemão em que cita o riff de “A Novidade”, para, mais adiante, dar um caráter erudito-religioso aos tambores e às percussões politonais do matiz africano fazendo da mesma "Serafim" um fio condutor ("Quando o agogô soar/ O som do ferro sobre o ferro/ Será como o berro do bezerro/ Sangrado em agrado ao grande Ogum", diz a letra original). Também, de extrema sensibilidade e responsável por um dos momentos mais belos do espetáculo, “Fragmento Lírico” é com certeza das melodias mais bonitas já criadas por Gil. Igualmente empolgante, inclusive na coreografia, o rock "Círculo", com citação a "Toda Menina Baiana", de 1979.

Além do uso intenso de percussão em vários momentos (que chama a coreografia a movimentos igualmente carregados), o trabalho de sopros é, não à toa, bem destacado, assim como os elementos eletrônicos (comandados por Domenico Lancellotti). Mas o que ganha realce é o violão de Gil, quase que seu segundo corpo. É no violão que o autor, ao compor, se materializa enquanto som, em que revive e logo se esvai a cada nota que o vento leva. E é sobre isso que, em suma, “Gil”, aborda: vida e morte. Ao varrer através do tempo a própria vida, do começo desta até o presente, Gil, com 76 anos e sapiente da maior proximidade da partida deste plano, escreve uma espécie de réquiem. Porém, diferente de Mozart, Gil a completa ainda de olhos abertos. Sente-se um olhar enevoado tanto para o passado esvaído quanto para o futuro implacavelmente cada dia mais encurtado. Tudo está embrenhado: memória, perspectivas, sentimentos, razão, espírito, matéria. Num só corpo. Por isso, os altos e baixos da narrativa, em que alegria e tristeza, luz e sombra, vida e morte, se confundem, já são a mesma coisa para Gil. A releitura desconstruída e uns dois tons abaixo na escala de “A Raça Humana” (“Triângulo”) é uma mostra “viva” disso. O que era originalmente um reggae dançante vira uma missa fúnebre, como os passos sofridos a caminho da morte dos retirantes nordestinos sob (aquele) sol calcinante.

A riqueza da obra do compositor baiano representada em gestos pelo Grupo Corpo
Nova guinada e volta animada a manipulação eletrônica da própria voz com o eletro-funk “Quadrado” emulando “Cérebro Eletrônico” (1969) e “Realce” (1979). A misteriosa e oriental “Retângulo” e a marcha “Pentágono”, com ares de jazz funeral de New Orleans, dão, como se diz na linguagem vulgar, a “morta”. Gil pronuncia, agora com a voz inteira e sem processamentos de mesa, palavras soltas. Mas não tão soltas assim, visto que simbolizam ele, a montagem e a sua arte:

“Corpo/ Carpa/ Corvo/ Cravo/ Cedro
Corpo/ Perna/ Braço/ Fauna/ Flora
Corpo/ Palco/ Pedra/ Preto/ Porco”.

Por fim, todos os metais e madeiras, um a um, dão aquilo que pode ser classificado prática e simbolicamente como o último sopro. Pois que, numa inesperada alteração de textura, timbre e sensação, Gil tira das cordas do violão, este sim, o derradeiro acorde. Dissonante, enigmático e inconcluso. Um som cuja energia vibratória tem tempo de vida de alguns segundos, desde seu ataque até sua queda, esvaindo aquilo que em música se chama justamente de “corpo”. Finda-se o som e um proposital silêncio se faz mesmo depois que as luzes se apagam, mas ainda sem o cerrar das cortinas (ou seria o fechar os olhos?). A plateia reage com estranhamento e desconforto, pois realmente a intenção era desacomodar. Se a sensação não foi de êxtase, ainda mais em comparação com a primeira parte de “Sete ou Oito...”, a proposta dos autores, Gil e Grupo Corpo, foi totalmente exitosa, visto que simbólica e profunda. E se não é tão arrebatadora a montagem, com certeza mais uma vez a companhia surpreende, ainda mais desta feita, inspirada na força criativa do autor de "Drão". Aliás, não é exagero dizer que se trata de um dos melhores trabalhos da carreira de Gilberto Gil.

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trechos de "Sete ou Oito Peças para um Ballet" e "Gil"


Daniel Rodrigues