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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS ESPECIAL 10 ANOS DO CLYBLOG - Kiss - "Kiss" (1974)



Minha Vida com o Kiss
por Ticiano Paludo

"Nós somos parte do que eu chamaria de Renascença moderna. Acredito que, como na Idade Média, somos um grupo que combina circo, magia, música e máscaras." 
Gene Simmons, em 1980



O Kiss nasceu no mesmo ano que eu, mais precisamente em 1973. Mas, como muitos garotos dos anos 1980, só fui conhecer a banda quando eles vieram ao Brasil, em 1983. Portanto, assim como eles, naquela época, eu era um menino de 10 anos. É sabido que formamos nossa personalidade musical entre essa faixa etária e a adolescência. O que aconteceu é que fiquei tremendamente impactado com aqueles seres estranhos, gigantes e pintados.

A Rede Globo produziu e veiculou em cadeia nacional um compacto do show, que vendo com meus olhos de hoje, revela uma tremenda falta de conhecimento sobre o grupo. A reportagem sensacionalista afirmava que eles faziam sacrifício de animais no palco e que os shows eram uma espécie de ritual satânico. E o boca a boca desinformado se espalhava, como um exemplo de fake news. Amigos meus diziam que ouviram falar que, com suas botas enormes, os integrantes esmagavam pintinhos vivos no palco, e que a crueldade incluía explodir porcos da índia utilizando bombinhas. Cuspiam sangue (seria humano?) e vomitavam. Ao analisar a entrevista concedida pelo grupo, integrante do referido especial, podemos ver que a banda desmentia tais afirmações, o que parecia surtir um efeito contrário. Fanáticos se postavam na entrada do show advertindo a audiência de que ali se realizaria um culto maligno. As apresentações no Brasil foram com certeza algumas das maiores do Kiss, mesmo que em sua formação original só constassem Gene Simmons e Paul Stanley.

Vivíamos em uma época de pouca informação e muita especulação (ou será que ainda vivemos?). Nessa fase em que eu descobria o Kiss, era tal a confusão que certa vez, ouvindo o álbum "Alive II" (1977), e olhando abismado as fotos da contra-capa, um amigo meu disse que, de tanto gritar, o vocalista estava ficando rouco, com uma voz demoníaca. O que eu não sabia direito era que todos os integrantes cantavam, e o meu desinformado brother estava mal comparando e confundindo os vocais de Stanley e Simmons. Só alguns anos depois, consegui compreender melhor a banda e o seu projeto artístico, graças a uma série de posters biográficos vendidos em bancas de jornais (não havia bibliografia disponível nem documentários para assistir e aprender). Lembro de ter comprado um vinil do "Alive!" (1975) e, todos os dias, ao voltar da escola, depois da janta, passar horas ouvindo-o de cabo a rabo, fitando a capa e a contra-capa (a versão brasileira era pobre, como sempre, e não possuía encarte algum). Ficava olhando aquelas imagens e imaginando como teria sido aquele show, como eles se moviam no palco. Da única visão da banda em movimento assistida pela Globo restaram apenas vestígios de memória, uma vez que naquele tempo não havia como gravar e rever o show, fato hoje solucionado com um punhado de cliques rápidos na web.

O fato é que, mesmo com informações fragmentadas e rasas, a sonoridade e a estética visual tiveram (e ainda tem) grande impacto na minha formação musical, tanto como ouvinte, como músico e guitarrista (nos anos 1990 eu iria formar a banda de heavy metal Titânio, que embora soasse mais como Iron Maiden, tinha nos meus genes musicais um pouco de Kiss). Quando recebi esse convite para escrever sobre algum álbum do Kiss, talvez o mais obvio fosse discorrer sobre "Alive!" ou sobre "Destroyer" (1976), discos considerados pela crítica e pelo público como emblemáticos. Hoje, com os anos de vivência no meio musical e acadêmico, ainda sou apaixonado pelo Kiss, embora tenha constantemente me decepcionado em perceber que, para Gene Simmons, trata-se muito mais de um jogo de marketing do que de uma banda de rock. Desde "Revenge" (1992), com exceção de "Psycho Circus" (1998), o Kiss tem produzido álbuns fracos, especialmente os mais recentes. Como disse, embora o primeiro álbum que ouvi inteiro tenha sido "Alive II", quero dirigir o meu foco para o primeiro álbum, "Kiss", lançado em 1974, quando eu era um bebê de um ano de idade.

Acredito que hoje Ace Frehley e Peter Criss tenham se tornado péssimas sombras do passado, muito distantes daquela energia e glória do primeiro álbum, mesmo que de início ele tenha vendido pouco. Aliás, o Kiss não emplacou da noite para o dia. Venceu graças a confiança e persistência de seus membros em acreditarem naquela proposta ousada e inventiva que era encarada frequentemente com ares de deboche e descrença. Em 1974, o Kiss não contratava ghost musicians, ou seja, músicos de estúdio que gravam os álbuns e não são creditados, fazendo com que acreditemos que aquelas performances vibrantes emanem de seus membros originais, o que, em diversos momentos do Kiss, foi um truque bastante utilizado (e triste, para um fã descobrir), hoje afirmado pela própria banda. Para um fã devoto e apaixonado, tal artimanha soa como uma espécie de traição. Em 1974 temos um Kiss sincero, honesto e real.

As letras do Kiss sempre foram bobinhas, e se você critica a música brasileira atual, deveria prestar atenção no conjunto da obra deles. Mas, mesmo que você se choque com a afirmação que vou fazer, assim como o tão criticado, amado e odiado Pablo Vittar, o Kiss nasceu para chocar e divertir, não para filosofar. Mesmo que exista uma miríade de produtos licenciados, dos mais nobres aos mais esdrúxulos, os fãs sempre entraram na brincadeira do consumo da marca Kiss, e dificilmente você verá um fã apaixonado criticar tal fato. Assim são os apaixonados cegos pelo amor, assim são os fãs do Kiss.

Eu trago a minha fala para esse texto me colocando como fã (sim, apesar de tudo o que apontei é uma das bandas que mais amo), e como crítico e pesquisador. Em 1998, ou seja, 15 anos depois de conhecer a banda, quando estava concluindo minha graduação em Publicidade e Propaganda, escrevi uma monografia analisando o Kiss como marca e mito. No ano passado, ao concluir meu doutorado em comunicação, fechei um ciclo e retomei o Kiss como objeto de estudo, analisando, justamente, a sua construção mítica, trabalho que pode ser lido no livro que publiquei chamado “Mitologia Musical: Estrelas, ídolos e celebridades vivos em eternidades possíveis” (Editora Appris, 2017).


Essa analise mista de fã apaixonado com pesquisador distanciado me fez concluir que inegavelmente o Kiss é uma grande banda. E o álbum "Kiss" é um grande álbum. Os álbuns iniciais das bandas guardam o frescor e a inocência de suas juventudes artísticas. Nem todos são bons. Às vezes, um artista demora até amadurecer e produzir uma obra emblemática. No caso do primeiro álbum do Kiss, isso não ocorre. Das 10 faixas, 7 se tornaram hits do Kiss. Não vou dissecar faixa por faixa, pois existem muitas analises espalhadas com esse recorte. Convido você a ouvir o álbum na íntegra, saboreando cada momento de acordo com o seu ritmo de ouvinte. O Kiss é um mito vivo, e embora seja uma banda muito mais de shows do que de álbuns, conseguiu captar e propagar com grande eficiência, aquela energia promissora que se consolidaria ao longo das décadas seguintes, prensado naquele vinil de 1974, hoje disponível para audição nos bits espalhados pelo ciberespaço. Abra os ouvidos, feche os olhos e prepare-se para receber um beijo sedutor do Kiss.


Veja sobre o Kiss no Brasil (1883)



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FAIXAS:
1. "Strutter" - 3:12
2. "Nothin' To Lose" - 3:29
3. "Firehouse" - 3:19
4. "Cold Gin" - 4:23
5. "Let Me Know" - 3:01
6. "Kissin' Time" (Bernie Lowe, Kal Mann)" - 3:54
7. "Deuce" - 3:08
8. "Love Theme From Kiss" (Instrumental) - 2:26
9. "100,000 Years" - 3:25
10. "Black Diamond" - 5:14
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OUÇA O DISCO



Ticiano Paludo é produtor musical, sound designer, remixer e pesquisador. Possui doutorado em Comunicação Social pela PUCRS/FAMECOS. Em mais de três décadas de atuação, recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais por seu trabalho como compositor e produtor. Foi colunista da revista Backstage. Ao longo de sua carreira, desenvolveu projetos de áudio publicitário para marcas como Converse, Electrolux e Iguatemi. Compõe para publicidade, teatro, dança, vídeo e cinema. Como docente, leciona disciplinas tais como Produção em Áudio Publicitário, Promoção e Ativação de Marcas, Arte e Estética, Produção Musical, Empreendedorismo e Semiótica, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e nas Faculdades Integradas de Taquara.

domingo, 9 de outubro de 2016

John Lennon and Yoko Ono - "Double Fantasy" (1980)



"O disco é um diálogo,
e temos ressuscitado nós mesmos,
de certa forma, como John e Yoko.
Não como John ex-Beatle e Yoko ex-Plastic Ono Band.
É apenas nós dois,
e nossa posição foi a de que,
se o disco não vendesse,
isso significava que as pessoas
 não querem saber sobre John e Yoko.”
John Lennon,
na histórica última entrevista
à Rolling Stone em maio de 1980

Eu acho que John está aqui conosco hoje.
Ambos, John e eu, sempre nos sentimos muito orgulhosos
e felizes por fazermos parte da raça humana.
E ele fez uma boa música
para a Terra e para o universo.
Yoko Ono,
ao receber o Grammy de Álbum do Ano
por “Double Fantasy” em fevereiro de 1981



Nesta semana, eu não poderia colocar outro disco entre os meus favoritos de todos os tempos que não fosse esta maravilha de “Double Fantasy”, o último disco de John Lennon. Por todos os motivos do mundo. Inclusive por ser a semana do aniversário dele. E por ser um disco que fala de uma coisa muito em desuso hoje em dia: relacionamentos que dão certo, apesar de tudo. E não briguem comigo, pois acho que a Yoko tem tudo a ver com este disco e com sua proposta. Montado como uma crônica da vida de um casal normal – mais ou menos, né? Afinal, eles eram John e Yoko –, o disco passeia pelas várias fases legais e outras nem tanto do cotidiano. Coisa que muita gente não quer nem ver pintada.

Vamos começar com “(Just Like) Starting Over”, o primeiro grande sucesso do disco. John diz nela que, mesmo que se conheçam há tempos e já tenham atravessado poucas e boas, “É como se nós estivéssemos nos apaixonando de novo/ será como começar de novo”. Claro que no caso deles, um ex-Beatle e uma artista plástica de classe alta japonesa, as coisas ficam mais fáceis, mas a luta com o dia-a-dia é a mesma. Lá pelas tantas, John diz pra Yoko: “Por que não nos mandamos sozinhos/ Viajamos para algum lugar muito, muito longe/ Estaremos juntos por nós mesmos/ como fazíamos nos velhos tempos”. A velha tática de escapar da rotina. Só que, aqui, o lance é estar juntos.

“Kiss Kiss Kiss” traz Yoko pedindo pra John beijá-la, tocá-la, dar-lhe carinho num clima new wave (estilo musical de sucesso na época). Durante a canção, Yoko lhe pede atenção para que este amor não se perca. Como na vida real, os beijos e os carinhos levam até o orgasmo, que é explícito. Pelo menos, em japonês.

“Cleanup Time” já traz John contando suas vicissitudes caseiras. Naquele tempo, Yoko foi cuidar das finanças da família, enquanto John ficou responsável pelo filho Sean e pela casa. “A rainha está na casa da moeda/ contando o dinheiro/ o rei está em casa fazendo pão e mel/ sem amigos e até agora sem inimigos/ completamente livres/ Sem ratos a bordo do navio mágico de harmonia (perfeita)”. A perfeição da harmonia está entre parênteses porque nada é realmente perfeito. Enquanto “Starting Over” fazia a apologia da viagem para fugir da rotina, em “Cleanup Time”, John garante que “Não interessa quão longe viajemos/ Onde nós formos/ O centro do nosso círculo/ será sempre nosso lar”. O casal se entocou no seu apartamento no Edifício Dakota durante os anos em que John esteve fora do circuito.

Depois dessa lição caseira de felicidade, as coisas começam a pesar. Yoko vem com “Give me Something”. E as reclamações aparecem com tudo: “A comida está fria/ Seus olhos estão frios/ A janela é fria/ A cama é fria/ Me dê alguma coisa que não esteja fria, me dê”. É bom lembrar que Yoko fez parte daquelas famílias japonesas que criaram suas filhas para o casamento, mas que piraram no meio do caminho. Ela se envolveu com artes plásticas, teve uma filha e começou seu caso com John enquanto ele estava casado. O feminismo estava em seu DNA. No final, ela afirma: “Te dei minhas batidas do coração/ e um pouco de lágrimas e carne/ não é muito, mas enquanto estiver aí/ você pode pegar”. Tudo isso num cenário novamente new wave. É de se notar que, enquanto John é mais tradicional em suas escolhas musicais, Yoko sempre circulou pela vanguarda.

Depois desta reclamação, ele se dá conta de que as coisas não estão exatamente muito bem e diz: “Estou perdendo você” numa batida blues. A música, “I’m Losing You”, conta um pouco do que foi o famoso “Lost Weekend” de John em 1974, quando se separou de Yoko e tomou todas ao lado de bebuns juramentados como Ringo Starr, Harry Nilsson, Elton JohnKeith Moon, entre outros menos cotados. Pra começar, ele diz que: “Aqui em um quarto estranho/ no final da tarde/ O que estou fazendo aqui?/ Não tem dúvidas sobre isso/ Estou perdendo você/ De alguma maneira, as linhas se cruzaram/ A comunicação se perdeu/ Nem consigo falar contigo pelo telefone/ apenas tenho de gritar/ que estou perdendo você”. A dor de John é palpável, assim como as guitarras lancinantes de Hugh McCraken, Earl Slick e do próprio John. Ele tenta se defender, afirmando que “você diz que não está ganhando o suficiente/ Mas eu te lembro de todas as coisas ruins/ Então que diabo tenho de fazer?/ Botar um bandaid?/ E parar com o sangramento agora/ parar com o sangramento agora”. No final da canção, John tenta novamente se defender dizendo: “Sei que te magoei então/ mas isso foi muito tempo atrás/ E bem, você ainda tem de carregar esta cruz?/ Não quero ouvir sobre isso/ Estou perdendo você”.

O curioso é que, na mesma batida firme e no tempo de Andy Newmark, Yoko dá sua versão da história. Em “I’m Moving On”, ela mantém sua postura de confronto. “Guarde sua conversinha suave pra quando estiver paquerando/ Guarde seus beijos de segunda-feira para sua dama de vidro/ Quero a verdade e nada mais/ Estou indo embora, estou indo embora, você está ficando chato”. Ao contrário de todo o disco – e mantendo sua postura de sempre –, Yoko foge da vanguarda e da modernidade da new wave daquele momento e segue sua diatribe na batida do blues, mostrando que o sofrimento é dos dois.

Para aliviar a pressão, John faz sua homenagem ao filho Sean, então com cinco anos de idade. “Beautiful Boy” inicia com o pai dizendo ao filho para “Fechar os olhos/ não ter medo/ O monstro se foi/ está indo embora e seu pai está aqui”. Os steel drums de Robert Greenidge dão a medida da suavidade da canção. Mesmo assim, algo dizia a John que as coisas não estavam bem. Em diversos momentos do disco, tanto ele quanto Yoko, soltam pistas de que havia uma ameaça no ar. “No oceano, navegando pra longe/ mal posso esperar/ ver você crescer/ mas acho que ambos deveremos ser pacientes”. E a premonição se consuma quando afirma: “Antes de atravessar a rua/ pegue minha mão/a vida é o que acontece a você/ enquanto você está ocupado/ fazendo outros planos”. É bom lembrar que, na noite em que foi assassinado, John e Yoko voltavam do estúdio onde mixavam seu próximo disco, “Milk and Honey”, lançado postumamente.

“Watching the Wheels” é, provavelmente, a melhor música de todo o disco. Usando a metáfora de uma roda gigante como o movimento da vida, John faz um inventário da atitude das pessoas, fãs e jornalistas em relação ao seu sumiço. “As pessoas dizem que estou louco fazendo o que faço/ Bem, eles me dão todos os tipos de avisos pra me salvar a da ruína/ Quando digo que estou ok, eles me olham de um jeito estranho/ certamente você não está feliz, não está mais jogando”. No refrão, ele reforça sua postura: “Estou apenas sentado olhando a roda gigante girando e girando/ Eu realmente adoro vê-la rolar/ Não mais andando no carrossel/ eu apenas tive de deixar ir embora”. O oberheim de Ed Walsh percorre toda a música, enquanto John faz o tema ao piano. Outro destaque é para o baixo sempre presente de Tony Levin.

“Yes, I’m your Angel” traz Yoko brincando de jazz da década de 30, meio Billie Holiday, meio Bessie Smith (sem, é claro, o poder vocal destas duas cantoras). Até parece uma daquelas paródias jazzísticas que o grupo Queen fazia em seus discos dos anos 70, “A Night at the Opera” e “A Day at the Races”. A letra fala de um amor de conto de fadas que Yoko usa para dar um relax neste disco, onde o relacionamento entre homem e mulher, às vezes, chega a momentos muito difíceis.

“Woman” é simplesmente a maior declaração de amor que um cantor e compositor já fez para sua amada perpetrada em disco. Não somente porque tem um clima romântico, mas porque John admite suas falhas na condução do sucesso e da fama e porque dá o crédito a Yoko por tê-lo colocado no caminho certo. “Mulher, sei que você entende/ a criança dentro do homem/ por favor, lembre que minha vida está em suas mãos”. Depois de dizer isso, sobra muito pouco para John entregar. E ele consegue: “Mulher, deixe-me explicar/ Nunca pretendi te causar sofrimento ou dor/ então deixe-me dizer de novo, de novo, de novo/ Te amo agora e pra sempre”. Ao ouvir com fones, vocês vão notar os Benny Cummings Singers, um coral de igreja que participa sutilmente.

O disco até poderia terminar aqui tamanha a carga emocional que esta canção carrega. Mas Yoko ainda fala de seus “meninos” John e Sean em “Beautiful Boys”. Do filho, ela diz que “você é um menino bonito/ com todos os teus pequenos brinquedos/ teus olhos tem visto o mundo/ apesar de ter apenas quatro anos de idade... Por favor, nunca tenha medo de chorar”. Já a respeito de John, Yoko afirma que “sua mente mudou o mundo/ e agora você tem quarenta anos de idade/ você tem tudo o que conseguir carregar/ e ainda assim se sentir vazio/ Nunca tenha medo de voar”. O violão clássico de McCracken se mistura ao baixo fretless de Levin e aos teclados de Walsh dando um clima soturno à canção.

Na última participação de John no disco, a pop music beatelesca volta com “Dear Yoko”, outra declaração de amor, embalada numa faixa dançante e onde John retoma a harmônica dos velhos tempos, mesclada com as guitarras de Slick e McCracken, dois mestres dos estúdios. A canção chega a ser bobinha em alguns momentos como “mesmo quando eu vejo TV/ Tem um buraco onde você deveria estar/ Não tem ninguém deitado perto de mim, Yoko”. “Double Fantasy” também é um disco interessante porque alterna estes momentos mais “pesados”, de dificuldade no relacionamento de um casal, com climas mais animados, pra cima.

A influência da cultura japonesa na vida Yoko se faz presente em “Every Man Has a Woman Who Loves Him”, uma afirmação que eu realmente gostaria que existisse. Os teclados e as guitarras tecem uma teia de informação musical nipônica, enquanto as batidas de Newmark e o baixo de Levin marcam o ritmo. “Todo homem tem uma mulher que lhe ama/ na chuva ou no sol, na vida ou na morte/ se ele a encontrar em sua vida/ ele saberá ao colocar o ouvido em seu seio”. Depois, ela troca a perspectiva, falando da mulher: “Toda mulher tem um homem que a ama/ ao levantar ou cair na sua vida ou na morte/ e se ela o encontrar em sua vida/ Ela vai saber ao olhar em seus olhos”. No refrão, ela é quem faz o mea culpa: “Por que fico circulando quando sei que tu és a pessoa/ Por que eu corro quando tenho vontade de te abraçar?”.

O impressionante é que, ao chegar o final de “Double Fantasy”, Yoko tenha feito um exercício de premonição absoluto, sem imaginar o que iria acontecer. “Hard Times Are Over” ou “Os Tempos Difíceis Terminaram”. Num tom celebratório, Yoko começa dizendo que “tem sido muito difícil/ mas está ficando mais fácil agora/ Os tempos difíceis terminaram, terminaram por um tempo”. Mal sabia ela que, dois meses depois do disco ter sido lançado, Mark David Chapman faria todo aquele estrago na vida da gente em dezembro daquele mesmo ano. Com solo de sax de David Tofani, a canção usa os backing vocals para dar aquele astral de fim de disco. No relançamento do CD, ainda constam uma música que John estava terminando, “Help Me to Help Myself”, e a criticada “Walking on Thin Ice”, cuja mixagem encerrou no dia da morte de John e que Yoko lançou em fevereiro de 1981.

Além deste tom “cinema verité” de todo o disco, quando nem John nem Yoko escondem seus problemas e suas dificuldades, “Double Fantasy” tem a seu favor uma divisão bem clara de sonoridades: John mais clássico, tanto rock quanto pop, e Yoko trafegando com desenvoltura pela vanguarda e pelo new wave, muito em moda na época e cujos praticantes – especialmente The B-52’s – citavam nominalmente Yoko como grande influência.
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FAIXAS:
1. (Just Like) Starting Over - 3:56            
2. Kiss Kiss Kiss - 2:41   
3. Cleanup Time - 2:58 
4. Give Me Something - 1:34     
5. I'm Losing You - 3:57
6. I'm Moving On - 2:21
7. Beautiful Boy (Darling Boy) - 4:05     
8. Watching the Wheels - 3:59 
9. Yes, I'm Your Angel - 3:09      
10. Woman - 3:32           
11. Beautiful Boys - 2:55             
12. Dear Yoko - 2:34      
13. Every Man Has a Woman Who Loves Him - 4:03       
14. Hard Times Are Over - 3:19

Faixas inclusas na versão em CD, de 2000:
15. Help Me to Help Myself - 2:37
16. Walking on Thin Ice - 6:00
todas as faixas compostas por John Lennon e Yoko Ono

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OUÇA O DISCO

por Paulo Moreira

quinta-feira, 1 de março de 2018

The Cure, eu te amo mas não te quero mais

Apesar de tudo, você ainda tem meu coração.
Eu já amava o The Cure antes mesmo de conhecer. Sim! Pode parecer exagero mas é a mais pura verdade. Por ocasião  da vinda da banda em 1987, uma rádio de Porto Alegre fez um especial de uma hora com alguns dos melhores momentos da carreira do grupo até então. Eu, um garoto de doze anos recém começando a escutar coisas interessantes, estimulado pela então recente explosão do rock nacional, fui ouvir o programa interessado em saber quem eram aqueles tão badalados ingleses que em alguns dias desembarcariam na minha cidade. E eis que o programa começa e eu percebo que não  somente já conhecia, como sempre gostara daquelas músicas mesmo sem saber de quem eram. "Inbetween Days" era a abertura do programa Clip Clip, "Close To Me" era aquela do clipe do armário, "Primary" era vinheta de uma rádio, "The Walk" tocava num comercial, "Boys Don't Cry" tocava à insistência por todo o canto, e outras que eu não conhecia, mais soturnas e sombrias, caíram  imediatamente nas minhas graças. Eram eles! Era o que eu queria ouvir e tudo estava reunido em uma só  banda. Estava estabelecida uma relação de amor. 
Não fui no show porque os tempos eram outros e se hoje em dia a meninada passa dias acampada numa fila em frente a um estádio para ver seus ídolos, não só com o consentimento dos pais como muitas vezes com acompanhados deles, naquela época, eu um fedelho, mesmo que me fosse permitido ir, meus pais não pagariam meu ingresso ainda mais pra ver uns caras mórbidos e esquisitos como aqueles. Mas passei então a partir dali a obter tudo o que pudesse daquela banda.
A coletânea "Standing On A Beach"
que me orientou quanto ao que
procurar e conhecer da banda.
Comprei a coletânea  "Standing on a Beach" e conhecendo a partir dele a ordem cronológica da obra da banda fui atrás de tudo. O exótico "The Top", o acessível e consagrado "The Head On The Door" e o ao vivo "Concert", que tiveram distribuição no Brasil, a muito custo, economizando mesada, consegui comprar. Os importados, no entanto, fora da minha realidade, eu dava um jeito de conseguir numa loja que gravava os álbuns por um valor bem mais em conta do que fosse comprá-los. Aí  que conheci o "Three Imaginary Boys", que hoje vejo como irregular mas que na época lembro de deixar rolando de madrugada até que eu pegasse no sono; os álbuns  gêmeos "Seventeen Seconds"e "Faith", ambos direcionadores da identidade que a banda assumiria e viria a lhe ser distintiva; o tecno-pop mal-resolvido porém de bons resultados comerciais de "Japanese Whyspers" e mais um monte de bootlegs, que na época era ao que se atribuía o termo "pirata". Com muito esforço consegui comprar o clássico "Pornography", este sim, disco definidor de característica e linguagem, e o subestimado e pouco valorizado "Blue Sunshine" do projeto de Robert Smith com Steven Severin do Siouxsie and The Banshees, disco de importância crucial na consolidação do pop que o Cure apresentaria a partir dali.

Naquele ano de 87 a banda em seu melhor momento e com sua melhor formação, que se tornaria a mais clássica e idolatrada, lançaria "Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me", um duplo muito bem acabado e repleto de hits mas que, como conjunto, poderia ter sido melhor como um álbum simples mais enxuto. 
Dois anos se passaram e mesmo com todo o sucesso dos últimos trabalhos, boatos sobre problemas internos e um possível fim da banda não paravam de rolar. E foi em meio a esse clima e a essa boataria que surgiu "Disintegration", um álbum denso, pesado mas que mesclava com maestria essa melancolia com um pop de alta qualidade resultando num improvável sucesso que fez deste o álbum  mais vendido e um dos mais cultuados da banda. Meio que na carona veio a coletânea de remixes "Mixed Up" que, se não se justificava plenamente, trazia ao menos algumas boas releituras e a então inédita e interessante "Never Enough". Mais fofocas, mais diz-que-diz, e novamente do meio do turbilhão outro grande disco: "Wish", mais solto e leve surgia como um raio luminoso na carreira do Cure, emplacando novamente um monte de sucessos e trazendo a reboque dois ótimos registros ao vivo, os discos "Show" e "Paris".
Robert Smith , no show do Rio em 2013
Mas os boatos não eram somente rumores e os problemas existiam de verdade: Laurence Tolhurst, um dos fundadores e amigo de longa data de Robert Smith, com problemas de alcoolismo era mandado embora, outros integrantes com outros interesses e projetos davam no pé, o selo pelo qual o Cure gravara desde o início da carreira, a Fiction, era vendido e Dave Allen, produtor de todos os grandes trabalhos do grupo não estava mais nos planos. Ninguém fica indiferente a tudo isso e quando o Cure veio ao Brasil em 1996 para o Hollywood Rock, e quando finalmente consegui realizar meu desejo de vê-los ao vivo, o que se viu foi uma banda confusa, desentrosada e com um repertório novo bastante irregular. É que aquela vinda precedia o lançamento do álbum "Wild Mood Swings" e foi aí que nossa relação começou a estremecer. Desde então a banda pareceu ter perdido o rumo, a identidade, criatividade e limitar-se a tentar imitar a si mesma. O bom mas, para mim, superestimado "Bloodflowers" ainda foi um último suspiro de qualidade e, embora seja colocado ao lado de "Pornography" e "Disintegration" como parte de uma espécie de trilogia das sombras, passa muito longe dos dois e até mesmo de outros momentos mais criativos da banda.
Depois disso, então, tudo só veio a piorar. O Cure virou uma auto-paródia e seus discos seguintes "The Cure" e "4:13 Dream" passaram a ser não somente dispensáveis como irrelevantes. Assim que eu não ouço mais The Cure. Praticamente ignoro tudo depois de "Wish". Tenho o "Bloodflowers" em casa mais por respeito do que por paixão mas de resto, tudo que ouço depois desta época me parece insosso, indiferente ou mais do mesmo. Até o visual, a cabeleira desgrenhada de Robert Smith, hoje parece muito mais uma caricatura do que colabora no seu papel de marca registrada.
É claro, ouço todos os antigos discos com o mesmo fervor e admiração e ainda sou apaixonado por aquela banda que eu conhecia. É como aquele cara que teve que acabar um namoro porque sabia que era necessário, que a namorada não era mais a mesma, que mudara, mas que ao chegar em casa dorme abraçado com o porta-retrato com a foto dela. 
Teaser do show comemorativo de 40 anos no Hyde Park
Nesse 2018 quando o The Cure completa 40 anos de existência, embora respeitada fico com a sensação que a banda nunca recebeu o devido valor e reconhecimento por sua obra e trajetória. O Cure não inventou a roda, não descobriu o fogo, mas criou uma identidade musical tal que é referência desde que a banda se firmou, sabendo expandir seu leque e suas possibilidades de modo a não ficar restrito a determinado tipo de público, sem para isso abrir mão de suas características. Sua música pode não ser originalíssima mas seu som e tão único que eu costumo dizer que tem coisas que só o Cure faz pr'a gente. Mas não tem feito. E faz tempo.
A banda comemorará suas quatro décadas de atividade com um show monumental no Hyde Park em Londres no mês de julho, que tem tudo para ser épico e no qual certamente tocará todos seus grandes sucessos e as preferidas dos fãs, que é o que atualmente o que vale a pena no Cure: seu passado. Tive a oportunidade de compensar o fraco show do Hollywood Rock com uma apresentação de mais de três horas, aqui no Rio, em 2013, que foi mais ou menos nessa linha: apresentaram o que tinham de melhor. Apesar da fraca e pouco carismática formação atual, lavaram a alma e com certeza levarei aquele dia como um dos grandes momentos da minha vida. Mas a essas alturas tenho a impressão de que isso é tudo que teremos deles: grandes recapitulações e rememoramentos. E é aí que eu fico pensando que se é para ficar gravando discos como os que o Cure vem apresentando e insistindo em musiquetas sem a menor inspiração, seria melhor Robert Smith cumprir aquilo que tantas vezes ameaçou e dar um ponto final nisso tudo. Não pensem que falo isso sem alguma dor. Que recomendo isso com satisfação. Não! The Cure é minha banda do coração. Mas se é pra fazer música como quem trabalha num cartório, prefiro apenas ficar com os nossos bons momentos: descobrir aquela banda num programa de rádio, dormir ao som do "Three Imaginary Boys", comprar o "Pornography", presenciar aquele showzaço de 2013... Sim, eu te amo, The Cure, mas tenho que ser realista e admitir para mim mesmo que, se for assim como está, eu não te quero mais.



Cly Reis
(texto publicado originalmente no blog Zine Musical)

terça-feira, 24 de maio de 2011

Andy Warhol 16mm - Caixa Cultural - Rio de Janeiro










Começou hoje e vai até o dia 5 de junho no centro cultural da Caixa, aqui no Rio, uma mostra da obra cinematográfica de Andy Warhol em 16mm, exibida no formato original. Entre experimentações, curtas, documentários, filmes conceito e até um 'semi-pornô', por assim dizer ("I, a Man"), pode-se destacar uma apresentação dos seus afilhados do Velvet Underground em Boston e seu famoso filme "Chelsea Gilrs", que inclusive será exibido com projeção dupla (dois projetores na mesma sala), conforme sua concepção original.
Confira abaixo toda a programação:




TERÇA, 24
15H SLEEP (5 HORAS 21 MIN)

QUARTA, 25
17H CAMP (66 MIN)
18H30 MY HUSTLER (66 MIN)
20H THE LIFE OF JUANITA CASTRO (66 MIN)

QUINTA, 26 (PROJEÇÕES DUPLAS)
15H LUPE (37 MIN)
16H OUTER AND INNER SPACE (33 MIN)
17H30 THE CHELSEA GIRLS (3 HORAS 30 MIN)

SEXTA, 27
15H SCREEN TEST #1 (66 MIN)
16H30 HEDY (66 MIN)
18H30 KISS (48MIN) - SESSÃO COM MÚSICA AO VIVO
20H MARIO BANANA #1 (4 MIN) + COUCH (52 MIN) - SESSÃO COM MÚSICA AO VIVO

SÁBADO, 28
16H ROLO 26 DOS SCREEN TESTS (40 MIN)
17H ROLO 25 DOS SCREEN TESTS (40 MIN)
18H I, A MAN (95 MIN)
20H SALVADOR DALÍ (22 MIN) + THE VELVET UNDERGROUND IN BOSTON (34 MIN)

DOMINGO, 29
14H SCREEN TEST #2 (66 MIN)
15H30 BLOW JOB (36 MIN) + EAT (35 MIN)
17H THE NUDE RESTAURANT (100 MIN)
19H MY HUSTLER (66 MIN)

TERÇA, 31
13H EMPIRE (8 HORAS 5 MIN)

QUARTA, 1
16H SALVADOR DALI (22 MIN) + THE VELVET UNDERGROUND IN BOSTON (34 MIN)
17H30 LONESOME COWBOYS (109 MIN)
20H BLOW JOB (36 MIN) + EAT (35 MIN)

QUINTA, 2
16H30 I, A MAN (95 MIN)
18H30 MARIO BANANA #1 (4 MIN) + COUCH (52 MIN)
20H KISS (48 MIN)

SEXTA, 3
16H THE NUDE RESTAURANT (100 MIN)
18H SCREEN TEST #2 (66 MIN)
19H30 LONESOME COWBOYS (109 MIN)

SÁBADO, 4 (PROJEÇÕES DUPLAS)
15H30 OUTER AND INNER SPACE (33 MIN)
16H30 LUPE (36 MIN)
17H30 THE CHELSEA GIRLS (3 HORAS 30 MIN)

DOMINGO, 5
14H SCREEN TEST #1 (66 MIN)
15H30 HEDY (66 MIN)
17H THE LIFE OF JUANITA CASTRO (66 MIN)
18H30 CAMP (66 MIN)

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Andy Warhol 16mm
Local: Centro Caixa Cultural - Rio de Janeiro
Rua Almirante Barroso, 25 - junto ao Lg. da Carioca - Centro
mais informações no site do evento:
http://www.andywarhol16mm.com.br/

segunda-feira, 12 de março de 2012

Red Hot Chilli Peppers - "Blood Sugar Sex Magik" (1991)


"They're Red Hot"
Robert Johnson


Eles pintaram como uma interessante surpresa ali pela metade do anos 80 com sua mistura rock-funk-rap. Não que aquilo fosse uma absoluta novidade, mas o som daqueles malucos do Red Hot Chilli Peppers trazia um pouco mais de malícia, de tempero, de pimenta. Mas tinha outro diferencial em relação a outras bandas que tentassem fazer aquele tipo de som: um baixista habilidosíssimo de formação no hard-rock e punk, mas de influências jazzísticas notórias.
Os primeiros discos da banda causaram boa impressão, prometiam mas não pareciam tirar o máximo que eles podiam dar, em "Mother's Milk" de 1989 já mostravam um som mais encorpado, mas foi em "Blood Sugar Sex Magik" de 1991, seu 5° trabalho que os Red Hot Chilli Peppers, com a ajuda do mestre de estúdio, Rick Rubin, conseguiram lapidar seu som e produzir uma das obras-primas dos anos 90.
O funk dos caras estava calibrado, as composiçõe mais ousadas e seguras, as tentativas iam na mosca e Flea, o homem do baixo, estava, especialmente, endiabrado.
"The Power of Equality" vem à frente já para comprovar tudo isso: com uma linha de baixo swingada, a guitarra preenchendo os espaços e o vaocal rappeado de Kieds, abre o disco em grande estilo.
"If You Have to Ask" tem um refrão totalmente Funkadelik, num funk à antiga com uma guitarra novamente muito bacana. Aliás, mesmo sem grandes arroubos, com um estilo discreto, jogando mais pro time do que em nome da glória pessoal, o guitarrista John Frusciante mata a pau em várias como na gostosa "Apache Rose Peacock", na embalda "Funky Monks" e na selvagem "Greeting Song".
Com uma evidente ão do produtor, "Breaking the Girl", uma das grandes dos disco, é ousada em sua concepção com suas influências indianas, instrumentação com flautas e com ênfase no trabalho de bateria e percussão.
Não há como não destacar "Give It Away", o grande hit do álbum. Um funkaço alucinado com um a guitarra retinindo, uma incrível linha de baixo sinuosa e escorregadia, e um dos refrões mais bacanas e originais da história do rock.
Na sequência já vem outra das minhas preferidas onde uma batida marcada e pesada seguida de um riff com wah-wah apresentam "Blood Sugar Sex Magik" que tem outra interpretação marcante de Anthony Kieds, quase sussurrando nos versos e expplodindo em vigor nos refrões.
E tem a ótima "Suck My Kiss", forte ,aressiva e pesada; "The Righteous and the Wicked " com outro baixão mataror de Flea; a superlegal "Naked in the Rain"; e a boa "My Lovely Man" que homenageia o ex-guitarrista falecido Hillel Slovak.
A rotação só baixa mesmo no disco com "I Could Have Lied" e "Under the Bridge", uma balada sobre drogas com um coral apoteótico no final. "Sir Psycho Sexy" poderia tranquilamente ter a honra de fechar o disco  pela grandiosidade que vai assumindo ao longo de sua extensão de mais de 8 minutos, mas a tarefa fica bem nas mãos de "They're Red Hot", cover de Robert Johnson aceleradíssima e ensandecida, que faz jus aos adjetivos que carregam no nome: Eles são relamente quentes!
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FAIXAS:
1. "The Power of Equality" 4:03
2. "If You Have to Ask" 3:37
3. "Breaking the Girl" 4:55
4. "Funky Monks" 5:23
5. "Suck My Kiss" 3:37
6. "I Could Have Lied" 4:04
7. "Mellowship Slinky in B Major" 4:00
8. "The Righteous and the Wicked" 4:08
9. "Give It Away" 4:43
10. "Blood Sugar Sex Magik" 4:31
11. "Under the Bridge" 4:24
12. "Naked in the Rain" 4:26
13. "Apache Rose Peacock" 4:43
14. "The Greeting Song" 3:14
15. "My Lovely Man" 4:39
16. "Sir Psycho Sexy" 8:17
17. "They're Red Hot (Robert Johnson)" 1:11

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Ouça:
Red Hot Chilli Peppers Blood Sugar Sex Magik





terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Peter Hook & The Light - Teatro Rival Petrobrás - Rio de Janeiro/RJ (01/12/2016)



Peter Hook e sua banda, a The Light, numa noite de New Order e Joy Division.
No dia em que o New Order se apresentava em uma cidade e seu litigante ex-baixista em outra, tocando, a propósito, inclusive repertório desta sua ex-banda, mesmo não tenha visto ao vivo o grupo oriundo do Joy Division, por questão óbvia de localização acabei, sem muita hesitação optando por acompanhar mais uma vez o show de Peter Hook sua banda The Light. Não sei se o do New Order foi bom, até vi alguns comentários positivos em uma manchete que outra na internet mas o que posso afirmar é que dificilmente tenha sido melhor do que o que presenciei no Teatro Rival aqui no Rio de Janeiro. Peter Hook and The Light contagiaram o público com mais de duas horas de show desfilando na íntegra os álbuns "Substance" do New Order e do Joy Division e mais alguns B-sides de cada um deles. Energia pura! Emoção total! Afiadíssimos os músicos executaram impecavelmente a célebre coletânea do New Order considerada um dos clássicos dos anos 80, que numa impressão mais apressada pode parecer mais fácil por conta dos recursos eletrônicos, mas que exatamente por conta disso torna a execução ao vivo mais complexa exigindo uma sincronia mais perfeita com os instrumentos convencionais e nas transições para as intervenções de baixo do próprio Hook.
E foi exatamente com o repertório neworderiano que abriram a apresentação começando com três faixas menos conhecidas, lados B de singles e integrantes da edição completa do disco "Substance",  mas não por isso menos respeitadas pelos fãs e naõ menos festejadas assim que eram ouvidos seu primeiros acordes. Saíram com "Lonesome Tonight" canção meio raggae, nem tão vibrante assim mas que, como eu disse, não por isso deixou de ser empolgante; seguiram de "Procession", essa sim, uma transição potente entre as linguagens das bandas das quais o baixista fez parte, e completaram este, por assim dizer, prólogo com outra na mesma linha "Cries and Whispers", pegada e intensa mas já com os sinais do que viria a ser o New Order.
Um quase coadjuvante que revelou
grande aptidão para o protagonismo.
Mas aí sim começava o "Substance" com a faixa que abre do disco e que qualquer fã que sabe de cor e salteado aquela ordem sabe qual é: trata-se da hínica "Ceremony", canção ainda tocada pelo Joy Division nos últimos tempos antes da morte de Ian Curtis e que, ali no teatro, envolveu-nos a todos numa espécie de aura mágica à qual não fiquei incólume sendo irremediavelmente levado às lágrimas. "Everything Is Gone Green" de extrema competência, atenuou um pouco a emoção mas botou de vez lenha na fogueira; e a belíssima "Temptation" com sua inquieta programação-base encarregou-se de novamente carregar o lugar de uma energia diferenciada. "Blue Monday" um dos melhores exemplos da competência da banda e da perfeita integração do eletrônico com os instrumentos mais tradicionais, deu aquele ar de Festa Ploc* ao show com sua batida contagiante e ritmo convidativo. Seguiram "Confusion" mantendo no alto o clima e "Thieves Like Us", perfeita, baixando um pouco a rotação.
Como não poderia deixar de ser, um dos melhores momentos do show como um todo, independente de New Order ou Joy Division, foi "Perfect Kiss", na minha opinião uma das melhores obras do New Order e um momento grandioso no show. Uma daquelas que mesmo bem calcada no eletrônico tem participação fundamental e destacada do baixo solista e agudo de Peter Hook. Enquanto o filho, o competente John segurava as pontas no baixo fazendo a base, Papa Hook esmerilhava em linhas agressivas daquelas que só ele sabe fazer, com direito ainda a uma boa esticada no já maravilhoso final da música.
A sequência "Perfect Kiss", "Shellshock" e "Subculture" já é matadora no disco, ao vivo então mostrou-se catártica! Que coisa!!! Um petardo atrás do outro e a banda, volto a dizer, muito bem azeitada, praticamente emendava uma na outra não deixando tempo pr'a gente respirar demonstrando muito ensaio e total domínio do que fazia.
Veio a ótima "State of The Nation" de baixo marcante mas esta, na maior parte da música, mais por conta do filho John. A ela seguiu-se o clássico "Bizarre Love Triangle", talvez junto com "Blue Monday" a mais popular da banda. Redundância dizer que foi mais um show, não? Hook lacrou de novo! Música que, para muitos pode não parecer mas exige dele o tempo inteiro e na maior parte do tempo com aquela intensidade característica. "True Faith" despontou grandiosa para encerrar as faixas do álbum mas para minha grata surpresa ainda traria na carona mais uma "lado-B", a adorável "1963". E assim, saía o HookOrder e entrava o HookDivision. Ia começar o outro "Substance". Ia começar a festa punk.
Hook comandando a celebração dos "Substance".
Assim como na primeira parte, antecederam às faixas do disco algumas avulsas, na maioria músicas que não entraram em álbuns ou que só saíram em reedições do próprio "Substance". Mas em se tratando de Joy Division, banda de repertório relativamente curto dada a brevidade de sua existência e sendo tão cultuada como é, qualquer música é conhecida por seus fãs e tão respeitada quanto qualquer outra mais badalada. E não foi diferente com "No Love Lost" que abriu a segunda parte, recebida já nas primeiras notas do baixo com grande entusiasmo, estado de espírito que se traduziu para minha felicidade e, tenho certeza, para a satisfação de Peter Hook, que presenciou aquela grande cena punk inglesa dos final dos anos 70, numa selvagem e furiosa roda de pogo. Yeah!
"Shadowplay" que deu continuidade ao show foi juntamente com "Twenty Four Hours" que a seguiu exceções ao critério de músicas avulsas, tendo as duas aparecido nos dois únicos álbuns de carreira da banda, "Unknown Pleasures" e "Closer", respectivamente; mas "Komakino" e 'These Days" revalidaram o padrão de singles e completaram a sessão pré-substance.
Mas se o bicho já tava pegando, quando começou a "contagem" "3,5,0,1,2,5, Go!", o negócio veio abaixo! Era "Warsaw" a música que abre o "Substance" do Joy Division e um dos maiores símbolos da fase mais punk e crua do som da banda. Loucura era apelido!
E veio "Leaders of Men", outra paulada; e veio "Digital" com aquele "day in, day out" entoado em coro geral; veio "Autosuggestion" e nem nessa o pessoal da roda punk deu alívio aproveitando sua parte mais agitada pra mandar ver; e veio "Trasmission" também num coro selvagem para o famoso "dance, dance, dance, dance, dance to the radio".
"She's Lost Control", sempre ponto alto, parece ter uma entrega diferente de Hook tanto na performance instrumental quanto na vocal, destruindo no baixo e quase vociferando em alguns momentos. Espetacular!
"Incubation", punk instrumental originalmente pegado e cheio de energia, música da qual particularmente gosto muito, devo admitir que perdeu força funcionando quase apenas como uma música de transição, de preparação para o momento final. E, sim, e o momento final precisava mesmo de uma preparação, de alguns minutinhos pra respirar, pra pegar fôlego, pra preparar o coração. Seriam três atos finais de puro êxtase.
Conseguindo ainda transmitir toda aquela fúria angustiada de Ian Cutis, a perturbadora "Dead Souls" era apenas o primeiro desses três atos derradeiros que marcariam definitivamente aquela noite.
Sempre emocionante, a  elegíaca "Atmosphere" foi, muito apropriadamente, dedicada à Chapecoense, cujo acidente aéreo ocorrera havia uma semana, e como não podia deixar de ser comoveu a todos. E o ato final não poderia ser outro que não "Love Will Tear Us Apart", música que fecha o disco e que logicamente teria que dar ponto final `apresentação. Em termos de grande público certamente a mais conhecida e uma das que indicava uma linguagem que mais se aproximaria do que o New Order viria a assumir como identidade musical, "Love Will Tear Us Apart" teve seu refrão entoado entusiasticamente em coro pelo público e foi assim que tudo acabou: apenas com as vozes do publico. Depois que a banda já parara, se despedira e entrara para os camarins, lindamente as vozes continuaram "Love, love will tear us apart again/ love. love will tear us apart again...", até se desvanecerem aos poucos e morrerem na escuridão. Um final grandioso para um show grandioso.
Não sei como é que estava o show de lá mas não consigo imaginar que tenha sido melhor do que o daqui. Eu sempre digo (mentirosamente, eu sei, mas sempre digo) que não existe nada melhor do que New Order. Acho que esse show espetacular de Peter Hook, parte viva do Joy Division e integrante eterno do New Order, me fará ter que rever a minha afirmação ou, no mínimo, complementá-la. Talvez deva adaptá-la assim: Não existe nada melhor do que New Order... a não ser o próprio New Order.


"She's Lost Control" - Peter Hook and The Light
Teatro Rival - Rio de Janeiro -RJ



Cly Reis




sexta-feira, 2 de junho de 2023

Kim Fowley - "I'm Bad" (1972)

 

“Rock and roll é uma explosão nuclear de realidade em um mundo mundano onde ninguém pode ser magnífico.”

“Provavelmente, sou um dos últimos humanos que cheira à imortalidade e magnificência.”
Kim Fowley

O punk e o glitter rock tem muito mais em comum entre si do que as aparências supõem. Se a radicalidade anti-sistema de um confrontava com a conformidade capitalista de outro, no fim das contas, as distâncias não eram tão grandes assim. A New York Dolls, surgida em meio à efervescência tanto de um quanto de outro movimento, foi a mais efetiva junção desses dois gêneros. Seu figurino carregado, casado com o som agressivo e intenso, não deixam mentir. Mas mesmo aqueles mais identificados com o glam, como David Bowie, T. Rex e Roxy Music, seguidamente davam passos com suas plataformas extravagantes pelo lado selvagem trilhado por Velvet Underground, The Stooges, MC5, Dictators e outros precursores do punk. Quem escuta "Suffrgatte City", de Bowie, pode tranquilamente dizer que se trata de uma música da MC5 ou de Johnny Thunders. A inglesa Bauhaus, em sua fase mais punk, antes de darem a guinada dark à sua sonoridade, gravavam "Telegrama Sam" de Marc Bolan apenas acelerando ligeiramente o compasso. O “punk pub” da Dr. Feelgood, igualmente, bem podia ter saído da mente de Gary Glitter.

Estas semelhanças sonoras de intercâmbio entre punk e glitter, entretanto, quando no campo da indústria musical operava de forma bem mais desigual. E quem levava a melhor era, claro, a turma da purpurina, por natureza mais afeita aos holofotes e ao circo do mainstream - o qual não raro era, pelo contrário, odiado e até combatido pela galera de coturno e jeans rasgadas que frequentava o CBGB. Quem sabia transitar por estes dois mundos, o imundo e o radiante, com naturalidade era Kim Fowley. E o fazia por um simples motivo: como um bom roqueiro indolente e narcísico, Fowley não estava nem aí pra um ou pra outro. Rótulos? Que se danem! Fowley queria saber mesmo era de uma boa contradição.

Figura dândi e entrincheirado à turma da glam, este californiano excêntrico e múltiplo se valia de sua imagem outsider e da menor visibilidade na comparação com astros pop como Bowie e Kiss para não se comprometer com classificação alguma. Depois de quatro álbuns solo, “Love Is Alive and Well”, de 1967, “Born to Be Wild”, “Good Clean Fun” e “Outrageous”, os três no mesmo ano de 1968, e “The Day The Earth Stood Still”, de 1970, Fowley chuta o balde e produz o disco que pode ser classificado como "creep glitter" ou “glam maldito”: "I'm Bad". O nome não poderia ser mais sarcástico. Afinal, o que esperar de um artista que se autointitulava "pedaço de merda" e, noutra hora, de “muito mais interessante do que tenho o direito de ser”? Rock n roll na veia.

Fowley, antes de assumir a própria carreira, no entanto, cuidou muito mais da dos outros. Empresário e produtor, deu luz a trabalhos de Alice Cooper, Kiss, The Modern Lovers, Kris Krostofferson e Soft Machine e lançou bandas como a The Runnways, seu mais célebre feito à indústria fonográfica. A bagagem acumulada desde os anos 50 - a qual contava também com experiências com figuras míticas como Phil Spector, Frank Zappa e Gene Vincent - foi trazida para sua obra própria com muita noção de síntese. Rockabilly, psicodelia, R&B, punk, garage, barroco... tudo arrecadado das experiências sonoras e sensitivas de Fowley ao longo dos anos seja como produtor, compositor ou simplesmente ouvinte. Dono de um modo muito eficiente e direto de compor, Fowley chega em “I’m Bad” pronto para forjar um trabalho que não precisa muito para soar como o mais puro rock. Baixo, guitarra e bateria (quando muito, um piano e uma gaita de boca). Para arrematar, a voz ineditamente rasgada de Fowley, Imagine-se em Captain Beefheart cantando como Iggy Pop de “Raw Power”. Ou um Howlin’ Wolf colérico como Rob Tyner. Um Tom Waits três vezes mais rouco e bêbado. Pois é: este é Kim Fowley em “I’m Bad”. Ele nunca havia cantado assim por mais de raras frases de algumas músicas anteriores. Grave, cavernoso, áspero, ruidoso. Voz de homem "mau”.

“Queen Of Stars” abre os trabalhos dando o recado que Fowley estava determinado a passar. Riff simples a la Stones e uma bateria marcada e ligeira, "pogueante". Uma guitarra na base e outra fazendo contraponto ou solando. Um baixo firme no comando. Uma bateria seca. Tudo sujo, sem requintes de produção. E isso basta. “Forbidden Love”, mais cadenciada, tem a slide guitar arábica e aguda de Warren Klein sobre uma levada nos chipôs da bateria de Dreshan Theaker. Exímio produtor que era, Fowley usa de um artifício muito interessante ao transformar o som de ar comprimido de um sintetizador com a emissão do sopro dos próprios pulmões. Isso, para terminar a faixa imitando estranhos grunhidos de porco (!).

Já “Man Of God” volta à pauleira, tanto na pulsação quanto na simplicidade inteligente do riff. O baixo de Peter Sears é um dos destaques. Interessante notar que a produção não é nada sofisticada, até grosseira, com visível desleixo, ainda mais sendo produto de alguém que sabe como poucos operar uma mesa de estúdio. Neste caso, a sujeira é totalmente proposital para demarcar essa ponte entre punk e glitter rock – a qual Fowley acabava de dinamitar. “Human Being Blues” é bem isso: um blues glam ao estilo do que Bowie e Slade inundariam as rádios naquele mesmo ano de 1972. A faixa-título, na sequência, não podia ser mais simbólica. Ouvir Fowley quase se esgoelando para dizer “I’m so bad” sobre os estampidos secos de Theaker e as guitarras rascantes é didático para qualquer músico do rock até hoje.

Com outro grande riff, que conjuga as duas guitarras e o baixo, “California Gypsy Man” é mais um blues-rock envenenado, enquanto a deliciosa “It's Great To Be Alive”, com seu pianinho maroto, resgata o rocker Fowley forjado no rock dos anos 50. Os Ramones certamente adorariam ter escrito essa música. “Red China”, outro bluesão carregado, traz a guitarra de Klein como protagonista e apenas um leve efeito na bateria, um pequeno detalhe para a sonoridade invariavelmente crua do disco. 

No seu estilo ambíguo, Fowley abre “Gotta Get Close To You” sentenciando a divergência: “Life/ Death/ Low/ Loud”. Outra levada de baixo empolgante de Sears, com as guitarras tanto a solo de Klein quanto a de Mars Bonfire, encarregado da base, improvisando sobre a cadência blueser. Fowley, em sua rouquidão espasmódica, faz lembrar o canto de Dr. John, só que bem mais endemoniado. Para finalizar, o autor não dá respiro e convoca os deuses negros do blues californiano para um encerramento contagiante. Guitarras extasiadas. Piano estraçalhando acordes. Baixo suingado. Canto performático. 

Fowley, morto em 2015, vítima de um câncer na bexiga, definitivamente não veio para explicar e, sim, para confundir. Controverso e polêmico, haja vista as desavenças com Joan Jett e acusações de abuso sexual que pesavam sobre ele por parte das The Runnways, até o final da vida disse tudo o que queria e também desdisse tudo o que queria. Glam, punk, pós-punk, garage, new wave... Para o inferno com todas essas convenções! O negócio de Fowley, conhecido como “lorde do lixo”, era cumpriu a ingrata missão dos roqueiros de verdade neste mundo. Mundo que talvez não os mereça, mas eles, homens maus como Fowley, contrariam e rolam suas pedras musicais mesmo assim. O mundo que aguente tamanha grosseria. E poesia.

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FAIXAS:
1. “Queen Of Stars” - 3:31
2. “Forbidden Love” - 3:40
3. “Man Of God” - 3:39
4. “Human Being Blues” – (Kim Fowley, Skipp Battin) - 3:13
5. “I'm Bad” - 2:47
6. “California Gypsy Man” (Fowley, Lorne DeWolfe) - 4:15
7. “It's Great To Be Alive” (Fowley, Rodney Bingenheimer) - 3:02
8. “Red China” (Fowley, Battin) - 2:45
9. “Gotta Get Close To You” - 2:05
10. “Let It Loose” - 4:33
Todas as composições de autoria de Kim Fowley, exceto indicadas

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OUÇA O DISCO:


Daniel Rodrigues