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quarta-feira, 16 de março de 2022

Música da Cabeça - Programa #258

 

O preço da gasolina tá lá nas alturas? O negócio é a gente aumentar também, mas o volume pra ouvir o programa desta semana. No nosso posto sonoro a bomba tá cheia de litros de John Cale, Stevie Wonder, Plebe Rude, Bauhaus e mais. Aproveita a barbada e já troca óleo enquanto curte nossos quadros fixos e móvel. O MCD 258 vem de tanque cheio hoje às 21h na abastecida Rádio Elétrica. E melhor: tudo de graça! Produção, apresentação e promoção imperdível: Daniel Rodrigues



Rádio Elétrica
www.radioeletrica.com


quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Música da Cabeça - Programa #127


Nenhum beijo será castigado, nenhum livro será proibido, nenhuma música será inaudita. O Música da Cabeça se junta à manifestação contra a censura e a imoralidade que tentam nos impor e traz aquilo que expressa o que a gente é: música. Gilberto Gil, Almir Guineto, Sean Lennon, Caetano Veloso, Pixinguinha e Plebe Rude são alguns dos que protestam junto conosco. Tem também o quadro “Música de Fato” e dobradinha de “Sete-List” e “Palavra, Lê” para lembrar o mestre Elton Medeiros, morto esta semana. Nenhum direito a menos no MDC hoje, às 21h, na Bienal do Livro da Rádio Elétrica. Produção, apresentação e beijo de língua: Daniel Rodrigues. #CensuraNuncaMais



Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

quinta-feira, 16 de junho de 2022

Chrome - "Inworlds" (1981)

 

"Tomando dicas de Suicide, Can, Pink Floyd, Jimi Hendrix, The Residents e qualquer um que já fez fitas caseiras em seu quarto, os densos e caóticos épicos de ficção científica da dupla são pesadelos vívidos de vinil  – uma mistura espessa de ruídos mecânicos, filtrados, vozes distorcidas e letras fantásticas e bizarras – que dão vida a um mundo assustador ao mesmo tempo absorvente e repelente." 
Revista nova-iorquina Trouser Press, especializada em rock alternativo, sobre a Chrome

O industrial é, se não o mais criativo subgênero do rock n roll, o que carrega as referências mais instigantes em sua concepção. Sociohistoricamente falando, gera-se nos anos 70 na tensão capitalista da decadência da industrialização e a iminência ao mundo digital. A revolução industrial do século XIX não só havia desgastado e viciado o sistema fordista como, igualmente, não deixava no seu lugar um futuro promissor para o homem num mundo pós-Guerra/Guerra Fria. Talvez, para as máquinas, mas não para o homem. Esse contexto sombrio contamina toda a estética decadentista do industrial rock, que, dessa forma, bebe indistintamente em diversas vertentes, que vão do punk à eletrônica, do heavy metal ao futurismo, do gótico ao fantástico, do pós-punk ao minimalismo. Características que, juntas, não raro levam o gênero a aproximar-se das vanguardas musicais, seja da eletroacústica ou do atonalismo.

Claro que tamanha confluência de estéticas só poderia advir das profundezas do underground. Se bandas como Nine Inch Nails e Ministry tornaram-se as mais conhecidas do rock industrial, certamente todas elas devem a uma dupla ainda mais alternativa do que eles: a Chrome. Surgida na San Francisco em plena efervescência do movimento punk, a dupla Damon Edge (voz, teclados, bateria, sintetizador, tapes e arte) e Helios Creed (guitarra, baixo, programação e backing) entendeu antes de todo mundo que caminho iria dar toda aquela cena explosiva encabeçada por Ramones e Sex Pistols. Antes mesmo da Pere Ubu e da Throbbing Gristle, reconhecidos precursores do estilo, a Chrome, embora quase nunca lembrada por isso, já praticava a inversão dialética que os eletropunks da Suicide intuíam instintivamente: desafiar a máquina diante da condição humana - e não o contrário, como a era digital instituiu.

Da extensa discografia da Chrome, que tem discos tão desafiadores quanto experimentais e ruidosos como “Alien Soundtracks (1977), “Half Machine Lip Moves” (1979), "Anorther World" (1985) e "Feel It Like A Scientist" (2014), destaca-se, porém, aquele em que souberam valer-se do mínimo: o EP “Inworlds”, de 1981. São apenas duas faixas em que resumem a face criativa da dupla e onde eles conseguem expressar sua musicalidade de forma eficiente e marcante. “Danger Zone”, uma delas, guarda todos os predicados do melhor rock industrial: riff entre o punk e o metal, ritmo "pogueado", efeitos eletrônicos ruidosos e clima denso. A produção caprichada empresta ao contexto sonoro sujeira na medida certa, diferente dos primeiros álbuns, bastante mais carregados neste sentido. E a letra adensa ainda mais essa atmosfera da “tensão pré-milênio” como nos versos do refrão: “Totalmente sozinho/ Na zona de perigo”.

Já “In a Dream”, tema irmão de “Danger Zone”, traz uma melodia até parecida, porém numa cadência um pouco mais lenta, mas sem perder o clima vanguardista de cyberpunk. A Chrome consegue fazer lembrar num tempo Can, Killing Joke, Polyrock e The Residents. Aliás, a produção arrojada lhe dá ainda mais personalidade, com efeitos de mesa e de voz, sintetizadores sujando o arranjo e os instrumentos-base soando vivos, pulsantes. Para ouvidos mais apurados, dá para perceber de onde Herbert Vianna tirou o tipo de sonoridade que aplicou na produção dos discos da Plebe Rude poucos anos dali. 

De grande personalidade, a Chrome segue ativa até os dias de hoje, tendo lançando recentemente, o 26º álbum, “Scaropy”, de 2021, sem, contudo, jamais ter obtido sucesso comercial. Mas se as páginas da história do rock os obscureceram, os fãs ovacionam. Não é difícil encontrar nas redes sociais afirmações de que a Chrome é “a banda mais subestimada da história da música moderna” ou de que é ”a melhor banda de todos os tempos”. A melhor é difícil de afirmar, a mais subestimada, idem, mas que Damon Edge e Helios Creed conseguiram juntar as peças e forjar o gênero do rock mais múltiplo de todos, o industrial, isso é inegável. A história nem sempre é justa com seus pioneiros.

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FAIXAS:
1. "Danger Zone" - 05:32
2. ""In a Dream" - 05:11
Ambas as composições de autoria de Damon Edge e Helios Creed 

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Daniel Rodrigues

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Rage Against the Machine - "Rage Against the Machine" (1992)

 






"As pessoas que se ofendem com [minhas opiniões sobre] política
 no Twitter ou Instagram, por favor,
 saibam que é porque você não era inteligente o suficiente
 para saber sobre o que era a música
 que você estava ouvindo
 todos esses anos (...)
De nada pela música,
 mas se você é um supremacista branco
 ou um protofascista,
 essa música não é escrita para você
 – é escrita contra você."
Tom Morello,
 guitarrista e compositor


A última passagem de Roger Waters pelo Brasil, em 2018, reacendeu uma discussão, que na verdade não faz muito sentido, uma vez que o rock, mesmo quando apenas reivindicava o direito de não cortar o cabelo ou de namorar no banco de trás do carro, à sua maneira, era "político", sobre o fato de artistas de rock se posicionarem politicamente. A situação toda começou quando o ex-baixista e vocalista da célebre Pink Floyd fez mostrar no telão, ao fundo do palco, os dizeres #EleNao, referindo-se ao então candidato Jair Bolsonaro à presidência brasileira (que, para infelicidade do país, veio a se eleger) arrancando um misto de vaias e aplausos da plateia e causando a reclamação de muitos "fãs" de sua antiga banda pelo fato de "agora" ter resolvido se meter em política e que um show de rock não seria lugar para esse tipo de manifestação do artista. A lamúria dos fãs superficiais, pseudo-roqueiros, no entanto foi ironizada pelos verdadeiros admiradores do grupo e roqueiros de verdade que questionaram se aqueles modinhas de ocasião que estavam no show nunca ouviram, por exemplo, o "The Wall" do Pink Floyd, que trata exatamente sobre o enfrentamento da sociedade opressora. Ou se ouviram, não leram as letras ou nunca entenderam do que se tratava. A discussão, especialmente em redes sociais, se ampliou e para situar os roqueiros do chalalá, que só curtiam o som mas não faziam a menor ideia do que estava sendo falado, outras bandas foram citadas de modo a mostrar o quão ignorantes aquelas criaturas estavam sendo. System of Down, Plebe Rude, Bruce Springsteen e até  a queridinha Legião Urbana foram algumas das que serviram de exemplo e, para maior surpresa, geraram ainda mais indignação entre os "revoltadinhos de condomínio-fechado", que qualificaram esses artistas, de forma simplista, imatura e desinformada, meramente de comunistas.

No entanto, a surpresa que mais chamou foi em relação à banda Rage Against the Machine. Ora, pensavam que a Máquina do nome da própria banda era o quê? Uma cafeteira elétrica? O RATM é antes de mais nada uma banda engajada, politizada e de pensamentos predominantemente de esquerda. Suas letras são quase sempre uma bala na cabeça, como diz o título de uma das músicas de seu primeiro álbum,  "Rage Against the Machine" de 1992, que, por sinal, fala exatamente sobre alienação e idiotização em massa.

No disco, os tiros da banda vão pra todo lado e sobra bala pra todo mundo que merece: "Bombtrack" atira na indústria musical; o hino "Killing in the Name" dispara contra o racismo; "Settle of Nothing" é  sobre criminalidade e vidas jovens arruinadas; "Freedom", fala, é claro, sobre liberdade, mas também acerta em cheio quanto à ignorância do ser-humano e sua relação com o meio ambiente; "Wake Up" liga a metralhadora giratória e atira nos fascistas, no judiciário, na mídia e no que estiver pela frente; e "Take the Power Back", "Know Your Enemy", "Fistfull of Steel" e "Township Rebelion", simplesmente, miram no sistema, de um modo geral, convocando para uma reação diante de tudo que nos oprime.

Tudo isso ao som da guitarra eletrizante de Tom Morello, conduzido pelos vocais contagiantes de Zach de La Rocha e  embalado por uma mistura explosiva de metal, hardcore, funk, rap e hip-hop, tão intensa que, eu até posso entender que tenha seduzido até o mais superficial roqueirinho de ocasião. Sim, sim, eu também escuto muita coisa pela sonoridade, muitas vezes não dou, mesmo, muita bola para a letra, ou nem ligo muito para o que estão dizendo em inglês, mas certos artistas, cuja atitude está ligada à sua obra é impossível, e até imperdoável, que se ignore essa relação. É o caso de Dead Kennedy's, Bob Dylan e do Rage Against the Machine, uma banda essencialmente política, engajada, atuante, como fica provado em seu primeiro disco. A própria capa do disco atesta essa atitude com a foto do monge vietnamita que preferiu atear fogo ao próprio corpo a se render ao governo autoritário de seu país. Esse é o espírito. Isso é o Rage Against the Machine. 

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FAIXAS:

1. "Bombtrack" 4:02
2. "Killing in the Name" 5:14
3. "Take the Power Back" 5:36
4. "Settle for Nothing" 4:49
5. "Bullet in the Head" 5:08
6. "Know Your Enemy" (featuring Maynard James Keenan) 4:57
7. "Wake Up" 6:06
8. "Fistful of Steel" 5:32
9. "Township Rebellion" 5:22
10. "Freedom" 6:06

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Ouça:
Rage Against the Machine (1992)



por Cly Reis

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Música da Cabeça - Programa #123


Se os ecos de paz e amor de Woodstock ecoam até hoje, é sinal de que ainda existe esperança, não é mesmo? O Música da Cabeça de hoje relembra os 50 anos do maior festival de rock de todos os tempos e, como em Woodstock, trazendo muita variedade de estilos. Vamos ter Jorge Ben, PinkFloyd, Joe Cocker, Plebe Rude, Bernard Hermann, Racionais MC’s e mais. No “Sete-List”, relembramos também os 120 anos de nascimento do mestre do suspense, Alfred Hitchcock. Vai ter multidão ouvindo o MDC hoje. Será na fazenda enlameada da Rádio Elétrica, às 21h. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues, with a little help for my friends.


Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Meu Babaca Favorito


Em tempos de idolatrias tão efêmeras, edificadas sobre méritos mínimos, e cancelamentos quase automáticos motivados pelo primeiro deslize, posicionamento ou frase mal colocada de um ídolo que, não muito tempo atrás, era elevado à condição de semideus, pessoas com um pouco mais de critério, de apego a suas influências e referências, têm uma certa resistência em, simplesmente, adotar o tão usual procedimento vigente de CANCELAR uma personalidade que, de alguma forma sempre admirou e que fora seu referencial, por mais que este faça por merecer um belo "block" por conta de procedimentos, atitudes, declarações, que revelam uma pessoa diferente daquela que se imaginava ou que demonstrava ser.
Os caras se esforçam pra fazer merda, cagar pela boca, demonstrar o quanto são desprezíveis, pessoas que a gente não aceitaria no nosso meio social, mas aí a gente pensa no que já fizeram de fantástico na sua arte, o quanto foram (e são) importantes pr'a gente, o quanto os admiramos, e não conseguimos, meramente, virar as costas e dizer que não os admiramos mais. E aí que com muito esforço, colocamos seu trabalho, sua figura, suas músicas, suas letras, acima de tudo e, separamos o ser-humano de sua obra. Só assim mesmo pra aguentar uns, ó, que, vou te contar...
Muitos desses, os mais recentes, já tinham seu espaço para dizer o que pensavam, tiveram microfone, seus próprios álbuns, palco, livros, espaço na imprensa, mas com a ascensão das mídias sociais, uma verdadeira terra-de-ninguém, onde todo mundo tem opinião formada sobre tudo mesmo, muitas vezes, sem qualquer embasamento ou informação, pareceram encorajados a assumir posições, que não são decepcionantes por serem divergentes da minha ou de determinado segmento, mas sim por serem lamentáveis do ponto de vista humano.
Listamos, aqui, alguns dessas criaturas que a gente só não "cancela" porque não dá pra deixar de lado o que já fizeram e, cá entre nós, porque a gente adora esses caras mesmo. Mas que estão pedindo, estão...
Uns são de hoje, outros tem histórias que vem de muito tempo, uns se revelaram por conta da pandemia, outros revelaram preferências políticas bem preocupantes, enfim, tem um monte nessa barca, mas aqui vamos pegar apenas alguns desses "caraterzinhos" duvidosos, que a gente sabe que são uns idiotas, uns babacas, mas que odiamos amar.


Tá certo é esse cachorro!
Eric Clapton - "Clapton é Deus". A inscrição frequentemente vista em muros de Londres nos anos 60, quando o guitarrista inglês hipnotizava os fãs com sua técnica e habilidade, está longe de ser verdade. Ao contrário, hoje, muitos fãs preferem ver o diabo do que o gênio da guitarra.
Recentes declarações de Eric Clapton, acerca da situação da Covid-19 e do isolamento, comparando os protocolos de segurança à escravidão, reforçadas pela gravação de uma canção anti-lockdown, "Stand and Deliver", de Van Morrison, por sinal, outro que tem se revelado um grandíssimo feladaputa, provocaram indignação entre seus admiradores e de quebra ainda tiraram alguns velhos esqueletos do armário. Os atuais posicionamentos de Clapton fizeram com que pessoas lembrassem de um episódio em 1976 em que ele, durante um show em Birmingham, "convocou" os estrangeiros e imigrantes a se retirarem do país. Na ocasião, Clapton disse, se dirigindo ao público, “Vamos impedir o Reino Unido de virar uma colônia negra. Expulsem os estrangeiros, mantenham a Inglaterra branca. Os negros, árabes e jamaicanos não pertencem a este país e nós não os queremos aqui (...) “Precisamos deixar claro que eles não são bem-vindos. A Inglaterra é um país para brancos, o que está acontecendo conosco?” . Pois é... Clapton pode até ser um deus na guitarra, mas passa longe de ser um santo.
Ao que parece, até seus amigos músicos perderam a paciência e não aguentam mais tanta baboseira, uma vez que o lendário guitarrista tem reclamado de se sentir abandonado pelos colegas do meio musical.
Toma!
Mas não adianta: tem como odiar o cara que fez "Layla", "Cocaine", "Crossroads" e outras tantas maravilhas? Não, né?


Roberto sendo homenageado
pelos militares, nos anos 70
.
Roberto Carlos - Sabe aquele cara que sempre que se fala dele tem aquele asterisco ao lado do nome? Sim, esse cara é ele. As coisas que depõe contra o Rei não são de hoje e não são relacionadas com pandemia, isolamento, redes sociais nem nada tão atual, mas acompanham sua figura pública já de bastante tempo e, de certa forma, embora seja inegável sua contribuição para a música brasileira e seu talento para composições, nunca conseguimos perdoá-lo totalmente.
O problema de Roberto Carlos, na verdade, foi mais seu silêncio do que o que teria dito. Enquanto seus colegas do meio cultural, musical, das artes bradavam contra a ditadura militar no Brasil, sofrendo suas consequências de censura, prisões e exílios, Roberto, confortável e convenientemente não só não se manifestava em relação ao regime e as reprimendas sofridas pelos colegas e continuava, simplesmente, gravando suas canções alienadas com temas românticos ou de "curtição", como ainda não se esforçava em esconder uma proximidade com os generais e até mesmo era agraciado com comendas e homenagens pelos tiranos governantes brasileiros daquele nefasto período da nossa história.
Como se não bastasse, Roberto é conhecido no meio artístico por seu comportamento egoísta, mesquinho e antiético, sabotando outros artistas, reivindicando vantagens e benefícios junto a produtoras, gravadores, emissoras, etc., e, como se diz popularmente, "puxando o tapete" de colegas de profissão. Tim Maia foi um exemplo de um que, depois de ter sido parceiro de banda, ter convivido junto, foi ignorado e menosprezado por Roberto, assim que o Rei começou a estourar nas paradas de sucesso e tornar-se o fenômeno que veio a ser. O anglo-brasileiro Ritchie, sucesso nos anos 80, é outro que teria sofrido pelas mãos de Roberto que, segundo se sabe, e é confirmado por outros artistas, teria "mandado" a gravadora boicotar o sucesso de Ritchie, dificultando a distribuição do material do músico, sua participação em eventos e programas e negligenciando a divulgação em rádios do material do próprio contratado.
Mas não dá pra ignorar o tamanho desse cara na música brasileira, a qualidade de suas composições e a quantidade de grandes e inesquecíveis canções com que ele nos brindou. Se sua atividade no microfone, no estúdio, nos palcos é incontestável e proporcionou a todos nós momentos mágicos em músicas como "Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos", "Emoções", os DETALHES das suas atuações nos bastidores, de alguma forma sempre mancharão um pouco seu nome, pois, como diz aquela canção, são coisas muito grandes pra esquecer.


Não se orgulhar mais de ter usado
camiseta do MST, tudo bem, mas Bolsonaro?
Lobão - O cara foi, simplesmente, uma espécie de símbolo da democracia da geração rock dos anos 80. Tinha a Plebe Rude que era contundente, tinha a Legião que se posicionava com ênfase e inteligência, o Capital Inicial correndo por fora mas ainda assim engajado, mas o Lobão era o cara que gritava. Ele participava de comício, ele fazia música que avacalhava o Sarney, chamava a galera pra votar consciente, tocava o hino nacional na guitarra, ao melhor estilo Hendrix, em pleno Globo de Ouro, na maior emissora de TV do país... e tudo isso pra quê? Pra acabar apoiando o Bolsonaro. Putaquiuparil
Ele alega ter se decepcionado com a esquerda, se arrependido de ter votado no PT, ter perdido a confiança em quem governou o país e acabou em tribunais respondendo por corrupção... Ok, Lobão. Mas daí a apoiar a eleição de uma criatura, visivelmente, incapaz, limitada e mal-intencionada como o atual presidente brasileiro, é muita ignorância, ingenuidade ou burrice. Um cara que tinha tudo pra dar errado, não apresentou nenhuma proposta durante a campanha se apoiando somente em um montão de bravatas e, por isso mesmo fugiu dos debates como o diabo da cruz; baseou sua campanha em notícias falsas; destilou ódio e preconceitos contra negros, indígenas, homossexuais, além de manifestar contumaz desprezo pela classe artística, da qual, exatamente o senhor João Luiz Woerdenbag, mais conhecido como Lobão, faz parte, não podia dar outra coisa senão o que deu.
Faz parte do meio artístico mas, a bem da verdade, por outro lado, também faz parte de uma classe-média alta elitista, mimada que, nos anos 80, recém saída da ditadura, via seus filhos, rebeldes sem causa, lutarem sem saber bem pelo quê, por causas como diretas, igualdade social, contra a fome, muito mais pelo embalo e pela modinha, do que por qualquer convicção. Tudo uns filhinho de papai que, na hora que perceberam que estavam perdendo privilégios, deixaram cair a máscara.
Lobão até se arrependeu - pelo menos é o que ele diz. Mas agora, depois de ajudar a eleger aquele ser ignóbil que ocupa a cadeira da presidência, aí já é tarde e já condenou o país a um retrocesso vai ser duro de reverter. Quando criaturas como Lobão, Roger, do Ultraje, Paula Toller, Rodolpho do Raimundos, mostram esse tipo de atitude, de posicionamento de caráter, eu tenho que dar razão para a aquela música que um cara muito legal do rock nacional dos anos '80 compôs: O rock errou.


O cara que bradava contra o sistema...  
John Lydon - O Rei dos Punks, o cara que gritava por anarquia, que bradava contra o poder, contra a caquética monarquia britânica, quem diria..., apoia Donald Trump. Pois é. Preferências políticas à parte, de direita, esquerda, democratas, republicanos, liberais, socialistas, já estar cansado das "bobagens intelectuais" da esquerda, como o próprio Lydon afirma, tudo bem, a gente entende, mas, agora, um cara que já simbolizou a atitude contra o poder, contra o opressor, daí a se manifestar, veementemente, a favor de uma pessoa elitista, odiosa, arrogante, egoísta, megalomaníaca, racista, xenófoba, um negacionista que, por conta de sua ignorância, falta de humanismo e empatia, ignorou a presente pandemia e, por conta de seu discurso, sua falta de ações efetivas, condenou milhares de seus compatriotas (e, por tabela, outros tantos milhões, indiretamente, pelo mundo afora) à morte, é inaceitável.
Como se não bastasse apoiar abertamente um maluco egocêntrico e considerá-lo a "última esperança e o verdadeiro representante da classe operária (???), o ex-líder dos Sex Pistols, vêm dando indesculpáveis demonstrações de intolerância e racismo. Além de "passar pano" no episódio de George Floyd, dizendo que existem policiais brancos ruins mas que aquilo teria sido apenas um episódio isolado, e ter ofendido com injúrias racistas o integrante da banda Block Party, Kele Okereke, durante um festival, diante de pessoas que confirmam o incidente, Joãozinho Podre ainda vem afirmando e reafirmando que os jovens ingleses que participam de manifestações contra o racismo são uns "mimadinhos" que, segundo ele, "têm merda na cabeça". Tá certo que a simpatia nunca foi mesmo uma marca forte na vida de John Lydon, mas agora com essas ele não se ajuda a que continuemos tendo algum respeito por ele ou pelo que já representou.
"Eu posso estar certo, eu posso estar errado", era o que ele mesmo cantava, já nos tempos de PIL, e creio que, diante das últimas atitudes não é muito difícil constatar qual das alternativas prevaleceu.


Morrissey exibindo, sem pudor,
 seu apoio à direita britânica.
Morrissey - O que mais me dói ver o lixo humano que se tornou. Morrissey era uma espécie de amigo, o cara que a gente ouvia porque parecia que sentia como a gente e exprimia suas dores, seus problemas, suas angústias, da maneira como gostaríamos de manifestar, com sinceridade, sem medo de se expôr, como um ser humano que só quer ser amado. Pois bem..., como é que essa pessoa se tornou esse ser deplorável que temos acompanhado ultimamente é algo misterioso para mim. Talvez nem tanto. Se formos prestar atenção alguns sinais já vinham sendo dados mas, nós fãs, nem levávamos em consideração, tipo, "Morrissey não é assim", ou passávamos um pano, bem bonito, justificando por alguma descontextualização ou má interpretação. Achávamos graça das declarações mal-educadas do ídolo, classificando como uma acidez típica dos gênios, quando efetivamente, deveríamos estar preocupados com o que aquilo representava.
Na verdade, aquele "England is mine...", de "Still Ill", ainda da época do The Smiths, já era um indicativo e eu é que não entendia totalmente... As coisas começaram a ficar mais claras em "National Front of Disco", canção de 1998, uma evidente alusão à Frente Nacional, partido de extrema direita inglês, contestada por alguns mas que, naquele momento, muita gente (inclusive eu) preferiu interpretar como uma "figura" compositiva dentro do contexto poético da música. Só que de uns tempos pra cá, Moz resolveu confirmar publicamente o que insistíamos em negar: tornara-se (se é que em algum momento não fora) um fascista de direita, racista, xenófobo e desprezível. Depois de usar, durante a turnê de seu álbum "Low in the High School", um broche do partido For Britain (foto), de perfil excludente e xenófobo, o cantor reafirmou em um programa de TV norte americano seu apoio às plataformas do partido e ainda, durante a entrevista, minimizou, e até ridicularizou o racismo, afirmando que, atualmente, a expressão é sem sentido e que uma pessoa será acusada de racista, nos dias de hoje, simplesmente, por discordar da opinião dos outros. No balaio de disparates, Morrissey ainda comparou a suposta perseguição que a imprensa impõe a ele, e o boicote que alega sofrer de gravadoras e da mídia ao nazismo e, a propósito de Terceiro Reich, de quebra, afirmou que Hitler seria de esquerda. 
Ah, e tem a que chineses são uma "subespécie", que fronteiras são coisas maravilhosas e foram feitas para serem respeitadas" (sobre imigrantes), que Obama, na verdade, era "branco por dentro", tem a de expulsar fãs do próprio show acusando-os de terem sido mandados pela imprensa, a de sugerir que a criança assediada por Kevin Spacey sabia o que estava fazendo ao ir para o quarto com um homem adulto... Olha..., eu não sei como eu ainda ouço as músicas dê-se cara! Pra falar a verdade, hoje, sempre que eu tenho vontade de ouvir alguma coisa dos Smiths ou de sua carreira solo, eu penso, "Eu vou ouvir esse merda?". Aí eu, a muito custo, separo o homem do artista e lembro do que ele mesmo falou em uma de suas letras: "Não se esqueça das canções que lhe fizeram chorar/ e das canções que salvaram sua vida"
Aí ele me convence e eu o ouço mais uma vez.
(Por enquanto...).


Cly Reis