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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

"Perfume de Mulher", de Dino Risi (1974) vs. "Perfume de Mulher", de Martin Brest (1992)


Tem alguns filmes que a gente não esquece. Cenas que ficam na mente, atuações marcantes que ficam para a história. "Perfume de Mulher", de 1992, com atuação impressionante de Al Pacino, é um desses filmes. Quem não lembra da cena do tango, no salão do restaurante? Mas uma coisa que pouca gente sabe é que o filme é um remake e que seu original não fica devendo muito à consagrada produção hollywoodiana. "Perfume de Mulher", produção italiana de 1974 dirigida por Dino Risi, foi largamente premiado em festivais internacionais e indicado, inclusive, ao Oscar de melhor filme estrangeiro. E, se Al Pacino levou o Oscar de melhor ator por sua interpretação do arrogante cego que leva um adolescente como guia, Vittorio Gasmann, por sua vez, não deixa por menos e mostra sua Palma de Ouro de melhor ator pelo mesmo papel.

Os filmes tem algumas diferenças: enquanto no antigo o cego, ex-militar, Fausto Consolo, contrata pessoalmente um jovem com o exato objetivo de acompanhá-lo em uma viagem que pretende fazer saindo de Turim, passando por Bologna, Roma, com destino final em Nápoles onde, entre reencontros e lembranças, pretende acabar com sua infeliz existência; na refilmagem, a sobrinha do Tenente-Coronel Frank Slade contrata um estudante, precisando de dinheiro, para tomar conta do tio, ex-combatente, durante o final de semana de Ação de Graças, mas não imagina que o cego tenha planos de uma viagem a Nova York para ter seus últimos dias de prazeres antes de tirar a própria vida.

Outra diferença bastante considerável é a trama paralela do segundo filme, relacionada a uma situação vivida pelo garoto (Chris O'Donnel) que, testemunha de uma pegadinha dos riquinhos da escola, pode estar vendo seu futuro de ingresso em uma grande universidade ir por água abaixo, a não ser que denuncie os "colegas" na volta do recesso. No primeiro filme, ainda que, inegavelmente o militar desenvolva também um laço afetivo com seu acompanhante, o recruta Ciccio (Alessandro Mommo), não se iguala à importância dada à intervenção do norte-americano no desfecho do caso do jovem aluno em seu colégio.

Mas diferenças à parte o que ambos têm em comum, tanto o Capitão Fausto quanto o Tenete-Coronel Slade, é que ambos, praticamente, se desmancham por uma bela mulher e, privados do sentido da visão, percebem e se fascinam com as beldades pelo seu perfume e são capazes de identificar o aroma, imaginar aquelas damas, senti-las, descrevê-las fisicamente só pela sugestão que seu olor lhes proporciona.

Mas com dois times tão qualificados assim, eu só quero ver no que vai dar!

Então vamos pro jogo:

No que diz respeito ao roteiro, o antigo, que por sinal recebeu também indicação ao Oscar por esse quesito, é mais pontual e enxuto e, sem muita firula, se faz mais objetivo, conseguindo demonstrar toda a infelicidade da vida limitada do protagonista de modo crescente, saindo quase que de uma comédia jocosa para um drama de molhar o lencinho. O remake se utiliza muito de americanismos e carrega na trama paralela à situação do cego para manter a comoção do espectador. No entanto, parece-me que os elementos que em torno, e até mesmo alguns artificialismos tipicamente hollywodianas favorecem a caracterização do personagem de Slade, inclusive no que diz respeito ao  "dom" do olfato feminino. Ninguém leva uma clara vantagem. Aqui ficam elas por elas e ninguém tira o zero do placar.


"Perfume de Mulher" (1974) - cena final


"Perfume de Mulher" (1992) - cena do tango


Com a parte técnica e tática tão equilibrada, o jogo, pelo jeito será decidido nos detalhes. E é numa ousadia do Cel. Slade que o placar se movimenta pela primeira vez. O atacante chama a marcação pra dançar e, pela cena do tango, ao som da belíssima "Por una cabeza", de Carlos Gardel, garante o primeiro gol do jogo. 1x0 para o time de 1992. Mas se o negócio é cena marcante, a cena final do original, em que Fausto dispensa Ciccio e a apaixonada Sara, para ficar só para sempre e, possivelmente, cumprir seu plano de morte, mas logo se arrepende, sai do casebre, cai, chama pela moça e é acolhido por ela, é algo assim de arrepiar. Empate para o time de 1974. 1x1 no marcador.

A partida tá com cheirinho de empate mas, na hora da decisão o craque desequilibra: Al Pacino tem o faro do gol e desempata para o remake. Embora Vitorio Gasmann também tenha sido premiado por sua atuação no papel, a interpretação de Al Pacino é daquelas únicas e memoráveis. É como se Gasmann tivesse ganho a Bola de Ouro da France Football e Pacino, o prêmio de Melhor do Mundo da FIFA e essa diferença garante o gol da vitória para o filme de 1992.

Aqui os dois protagonistas do jogo, Gasmann à esquerda e Pacino, à direita, ambos com seus fiéis escudeiros.
Dois craques. Só não vê quem não quer.

O jogo acaba tenso, os dois líderes dos seus times são irritadiços, trocam ameaças, insultos, Gasmann reclama dos acréscimos que o filme de 1992 teve, quase _ minutos a mais, que o juiz é cego e não viu que as indicações ao Oscar do original mereciam um gol, mas o jogo fica nisso mesmo. Um grande confronto, senhoras e senhores! Se fosse no turfe, poderíamos dizer que foi uma vitória por uma cabeça. 



 Cly Reis

sábado, 21 de dezembro de 2019

"O Irlandês", de Martin Scorsese (2019)




Assim que acabei de percorrer as mais de três horas de "O Irlandês", tão logo a porta do quarto fica entreaberta e iniciam-se os créditos, veio a minha cabeça, quase que imediatamente, a dúvida se aquele não seria o melhor filme de Martin Scorsese. Como sabia que iria escrever sobre o filme aqui para o blog, Não que eu precisasse de confirmação mas, por curiosidade, fui dar uma conferida em outras impressões na Internet, em outros blogs, sites e páginas especializadas, para ver se meu entusiasmo fazia sentido ou se eu estava sozinho nessa. Ainda que tenha encontrado os que achassem cansativo, longo, lento, os que não tenham sido fisgados pelo filme, os que comparassem depreciativamente com outros filmes do diretor, uma boa parte das críticas que li, exaltava o novo filme de Martin Scorsese, e não foram poucas as vezes que encontrei a expressão obra-prima. 
O verdadeiro Frank Sheeran, o Irlandês,
interpretado no filme,
com a habitual competência por De Niro.
De fato, diante da ambição e do porte do atual projeto, e com uma filmografia riquíssima como a de Scorsese, não há como deixar de traçar comparativos com trabalhos anteriores como "Os Bons Companheiros" e "Cassino", especialmente, pelos contextos e temáticas mas também pelo nível de qualidade que estas outras obras atingiram. Mas "O Irlandês" não decepciona diante dos trabalhos consagrados do diretor. Pelo contrário, parece tirar o melhor de cada um deles para criar uma nova peça cinematográfica clássica. Tem os traços característicos do cinema do diretor como a narrativa em primeira pessoa, os flashbacks, os travelings, a crueza das cenas de violência, mas guarda um caráter único e novo em relação a seus demais filmes de máfia. Embora tenha uma trilha, como de costume, muito bem escolhida, ela não é tão incisiva quanto em outros momentos pontuando de maneira mais sutil as cenas. "O Irlandês" é muito "Os Bons Companheiros", é muito "Cassino", mas não tem aquela condução, muitas vezes, meio videoclípica do diretor, com o rock'n roll comendo solto emoldurando uma cena movimentada de edição rápida e frenética. Nesse sentido, o novo filme assemelha-se um pouco com "Touro Indomável", um filme mais denso, mais arrastado em seu enredo que, por sinal, também tinha no personagem principal um homem com dificuldades nas relações familiares. "O Irlandês" é sobre família, ou melhor sobre famílias. Um homem, Frank Sheeran, um veterano de guerra conhecido como Irlandês, que conquista a confiança de um gangster, Russel Bufalino, e passa a servir a núcleos da máfia e é indicado por estes mesmos para "trabalhar" com o líder trabalhista, Jimmy Hoffa, tem, por outro lado, enorme dificuldade em conduzir sua vida como marido e pai, especialmente com a filha Peggy (Anna Paquin), que desde cedo entende as atividades do pai e, naturalmente, as desaprova. E é isso, e todos os desdobramentos dessa atuação nesses dois pólos que ele mesmo, Frank Sheeeran, nos conta, já velho, remoendo resignado arrependimentos e remorsos, num lar de repouso. 
A propósito de idade, o tão falado rejuvenescimento digital, especialmente de Robert De Niro, para as cenas de passado de Sheeran, na minha opinião ficou meio artificial demais parecendo, muitas vezes, uma colagem sobre o filme, mas diante de tudo o que a obra como um todo nos oferece, este é um detalhe quase desprezível. A trinca estrelar, Robert De NiroAl Pacino e Joe Pesci, corresponde à expectativa que se alimenta quando se vê nos créditos três nomes de peso como estes. De Niro fazendo um protagonista sorumbático, muitas vezes dividido, às vezes inseguro, mas sobretudo, extremamente convincente; Pesci sóbrio, comedido, mas irrepreensivelmente preciso; e Pacino, um pouco mais vigoroso na atuação que os outros dois, pela característica do personagem, não é menos impressionante e espetacular.
Se é uma obra-prima ou o melhor filme de Martin Scorsese eu não sei, o que me parece certo é que temos mais um grande trabalho na filmografia deste grande diretor que pode ser colocado, sem constrangimento algum, ao lado dos outros dele que já figuram eternos na galeria das glórias do cinema. Bom, talvez um pouco acima deles...


"O Irlandês" - trailer 



Cly Reis

sexta-feira, 15 de junho de 2018

"Scarface, a Vergonha de uma Nação", de Howard Hawks (1932) vs. "Scarface", de Brian De Palma (1983)



"Scarface, A vergonha de uma nação" (1932), sem sombra de dúvidas é além de um clássico filme de gangsters, uma forte critica social para época. Na Chicago dos anos 20, um gângster Tony Camonte (Paul Muni) mata um rival do seu chefe e rapidamente ganha destaque dentro da quadrilha. Tony espera o momento exato para assassinar seu chefe e se tornar o novo líder do bando, mas o fato de sua irmã  Cesca Camonte (Ann Dvorak), por quem ele sente uma paixão incestuosa, estar envolvida com seu homem de confiança Guino Rinaldo (George Raft) o deixa totalmente abalado.
Um acerto na narrativa é a forma como ele envolve a imprensa, mostrando o trabalho da redação em apurações das noticias dos crimes e destacando suas manchetes, evidenciando o medo da sociedade da época com a “guerra de Gangues”. Outro momento fantástico é a relação que filme faz do letreiro que fica na frente da janela da casa de Tony, com a personalidade e objetivos do criminoso.
Muito bem filmado, com atuações bem a destacadas e uma violência fora do comum para época, o filme se torna grandioso mesmo que em alguns momentos sua narrativa fique repetitiva e tenha saltos temporais que deixam o espectador um tanto perdido. O longa ganha muita força em sua maneira crua e cruel de construir o personagem e assim acompanhamos boa parte da ascensão de Tony em sua busca por conquistar o mundo.
"Scarface" de 1983 consegue ser tão real e tão violento quanto sua primeira versão. Meu Deus, um filme completo! Década de 80. Centenas de imigrantes cubanos aportam na costa da Flórida durante uma breve abertura da ilha por Fidel Castro, em uma manobra para se livrar do excesso de presos nas cadeias cubanas. Em meio à massa de miseráveis, chega Tony Montana (Al Pacino), bandido de pouco nome e muita marra, disposto a conquistar o mundo do tráfico.
Essa versão definitivamente é um clássico. A direção, figurinos, atuações, tudo está perfeito. Brian De Palma tem um ótimo controle de cena, ótimas escolhas de ângulos, trabalha maravilhosamente sua narrativa nos colocando ao lado de Tony. O tempo todo acompanhamos a vida do nosso herói...ops...vilão, em todos o detalhes.
Scarface(1983) e mais uma obra bem crua e extremamente violenta, não só visual mas também em diálogos e criticas sociais. Uma obra de arte, uma inspiração para todo um gênero de filmes futuros. É difícil descrever esse filme sem ficar o elogiando efusivamente. Por mais longo que o filme seja, com suas quase três horas de filme, ele não cansa pois a narrativa é tão boa que você só quer ver as conseqüências de cada passo de Tony.
Um dos momentos grandiosos do filme, que mostra bem quem é o personagem, com todo o talento assombroso do diretor, é, logo no inicio, quando Tony, vai roubar a cocaína de um grupo de colombianos e um plano seqüência espetacular, mostra toda a frieza e como nada vai abalar nem impedir Tony de ir atrás de seus objetivos. Essa cena “vende” o filme, além é claro, da seqüência final que dispensa apresentações e comentários, sendo uma das mais famosas do cinema.

Cena final - "Scarface" (1983)

Mas então vamos ao jogo: apita o arbitro, mexe na bola. Scarface de 1932 começa vindo para o ataque com tudo dando vários disparos ao gol. Essa seqüência de tiros à meta do adversário resulta em um belo gol logo no inicio. (1932) 1 X 0 (1983).
Recomeça a partida. Tony Montana tabela com seus amigos ao sair da cadeia, entram cena e na área com tudo. Ali eles são mortais, partida empatada. (1932) 1 X 1 (1983).
Tony Camonte mostra sua cara, começa e conquistar mais e mais poder e confiança e assim é GOOOL. Tony Montana, não fica para trás, roubando a bola e tudo que vê pela frente, e GOOOOOL. Howard Hawks da show de comando, mostrando classe e leva seu comandados a fazer mais um gol. De Palma, mostra total controle com seu elenco também. Apesar de violento, nos momentos que ele coloca a bola no chão, aí vira futebol-arte, lindo de se ver. (1932) 3 x 3 (1983).
Então jogo o termina empatado 3 x 3 e vamos a prorrogação. Scarface de 1983, mostra toda sua energia, sobra fôlego, vem com força nessa parte final. Seu roteiro mais recheado, um elenco de apoio que cresce, como no caso de Mary Elizabeth Mastrantonio como Gina Montana, que sai jogando e tabelando no final, para que o astro principal que mostra todo seu brilho nos últimos minutos, disparando loucamente em direção ao gol, faça mais dois tentos naquele final simplesmente espetacular. (1932) 3 x 5 (1983).
"O mundo é seu".
O final de 1932 e o de 1983.


Não foi uma partida fácil. Jogo equilibrado, bem jogado, mas ao mesmo tempo violento e disputado. Tivemos expulsões, brigas, duas equipes malandras, em alguns momentos até desleais, porém o jogo terminou,  mesmo com tudo isso. Quem viu, tenho certeza que não vai esquecer o espetáculo proporcionado por Scarface (1932) e Scarface (1983).
Uma aula de Futebol... digo... de Cinema.



Vagner Rodrigues

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Os 12 personagens mais assustadores do cinema


O cinema é capaz de mexer com as nossas emoções como pouca coisa consegue, mesmo a gente sabendo que, na grande maioria das vezes, aquilo que estamos vendo seja apenas uma encenação. Somos, com total aceitação, levados a acreditar na “mentira” e com ela se comover. Jean-Claude Carrière, fascinado por essa magia que talvez apenas o cinema tenha no universo das artes, comenta em seu “A Linguagem Secreta do Cinema” que os instrumentos de persuasão do cinema podem parecer simples: emoção, sensação de medo, repulsa, irritação, raiva, angústia. Mas, pontua ele, “na realidade, o processo é muito mais complexo”, provavelmente até indefinível. “Envolve os mais secretos mecanismos do nosso cérebro, incluindo, talvez a preguiça, a natural indolência, a disposição para renunciar às suas virtudes por qualquer adulação.”

Isso explica em parte porque sentimos tanto medo de alguns personagens. E não estou falando apenas dos assassinos dos filmes de terror: há pessoas (afinal, acreditamos que elas, mesmo lá dentro da tela, existam de verdade) que, mesmo num drama ou outro gênero menos horripilante nos provocam igual sensação de temor. Quando essa magia intrínseca do cinema observada por Carrière se junta ao talento de cineastas e atores, a química é bem dizer infalível. Aí, soma-se a isso ainda nossa aceitação quase pueril ao que vemos e dá pra imaginar o que acontece: frio na espinha.

Ainda por cima, o universo dos vilões aterrorizantes é inegavelmente fascinante. Quem, mesmo tremendo as pernas a cada gesto que o dito cujo venha a dar, não aprecia (ou pelo menos reconhece que é sui genneris) a figura de um Freddy Krueger ou Michael Myers? Mas, como disse, não tratamos aqui somente dos carniceiros, afinal, destes é até previsível que imputem medo. Elencamos aqueles personagens e seus respectivos atores cujos papeis são tão críveis que não faríamos nenhuma questão de cruzar com eles algum dia na vida – e não precisa nem ser uma pessoa, inclusive.



O penetrante olhar do canibal Lecter.
1 – Hannibal Lecter (Anthony Hopkins)
O absolutamente frio psiquiatra, que atravessou a fronteira da sanidade para passar a matar por prazer – às vezes, até se alimentando de suas vítimas, dando-lhe o simpático apelido de Hannibal “Canibal” –, é provavelmente o mais célebre psicopata da história do cinema. Hopkins, com talento e muita sensibilidade, dá vida ao personagem do escritor Thomas Harris, o qual aparece pela primeira vez na tela no clássico “O Silêncio dos Inocentes” (Demme, 1991). Continuou assustador em outros longas, “Hannibal” (2001), “Dragão Vermelho” (2002) e “Hannibal - A Origem do Mal” (2007), mas vê-lo no primeiro e disparado melhor da série é até hoje imbatível em termos de qualidade cênica – e de medo também.





2 – Norman Bates (Anthony Perkins)
É inegável que as patologias psíquicas dão muito substrato para a criação deste tipo de personagem, seja na literatura ou no cinema. E claro que os diversos transtornos mentais existentes são um prato cheio para roteiristas. Norman Bates, psicótico atormentando pelo Complexo de Édipo encarnado como jamais o próprio Perkins conseguiu igualar, é até hoje um enigma que desafia os psiquiatras. Mas numa coisa todo mundo concorda: o cara dá medo pacas! Com a mão habilidosa de Alfred Hitchcock"Psicose", de 1960, tem talvez o melhor personagem de um thriller no melhor filme do mestre do suspense.


Monólogo final de Norman Bates - "Psicose"


Pacino, mais assustador que
muito serial-killer.
3 – Michael Corleone (Al Pacino)
Os filmes de máfia são recheados de personagens marcantes e não raro assustadores, pois altamente violentos. Porém, talvez pelo tratamento literário de drama dado por Mario Puzo, pela escolha acertada de Coppola do jovem Pacino para o papel e, obviamente, pelo talento do ator, nenhum se compare ao filho mais novo de Don Corleone. Empurrado pelo destino para o crime organizado, o ex-oficial do Exército tornou-se, mais do que qualquer outro de seus irmãos, o chefão mais impiedoso e frio da cosa nostra. Se no primeiro longa vê-se sua conversão à máfia até a natural sucessão ao pai, em "O Poderoso Chefão - parte 2", de 1974, ele está mais apavorante do que muito serial killer. Com um olhar, ele faz qualquer um congelar. Poderoso, dá-se direito a qualquer coisa, e nunca se sabe o que está maquinando naquela mente obsessiva. Coisa boa, não é. Seja nos acessos de raiva, seja no mais contido e calculista silêncio, Michael é apavorante.





Close com um sorriso nada covidativo.
4 - Alex Forrest (Glenn Close)
Não são apenas homens que fazem o espectador arrepiar. A maníaca de Alex Forrest, de “Atração Fatal” (Lyne, 1988), vivida por Glenn Close, é o melhor exemplo. Inconformada com um “pé na bunda” que levara de um homem casado, Dan Gallagher (Michael Douglas), com quem tivera um caso, ela passa a persegui-lo e a assombrar não apenas a ele, mas toda a sua família. Memoráveis cenas, como a do coelhinho de estimação da filha de Dan cozinhando na panela ou quando, depois de uma briga em que ele quase a estrangula, ela solta um sorriso horripilante, não deixam dúvida da força dessa personagem. Aliás, através da psicopatia, um símbolo à época do novo comportamento feminino, que não aceita mais a imposição machista nas relações. Não tem mais perdão: traiu, é penalizado.





5 - Alien (Bolaji Badejo)
Na magia do cinema, o medo pode vir da maneira que se bem entender. Pois não é a forma humana do ator nigeriano Bolaji Badejo que configura o seu personagem mais marcante. É a fantasia que ele veste, a do extraterrestre mais apavorante do cinema: Alien. Vários da mesma espécie dão as caras no bom “Aliens - O Resgate” (Cameron, 1986) e nas desnecessárias sequências. Mas nada se compara à excelente ficção-terror de 1979, de Ridley Scott, em que apenas um exemplar da espécie vai parar dentro da nave espacial em uma missão cheia de problemas. Um, aliás, é mais que suficiente para botar terror em todo mundo. O mais interessante é que o bicho não é muito visto, pois há o recurso fotográfico e cênico de dificultação do olhar, como pede um bom thiller. O vemos de fato, por inteiro e em luz suficiente, apenas mais para o fim da fita, quando o clímax já está lá em cima. Aí, só resta se segurar na poltrona.


Cena do gato de Ripley - "Alien, o oitavo passageiro"


O Cady da primeira e o da segunda vaersão.
6 - Max Cady (Robert De Niro)
Um dos maiores atores da história, De Niro de tempo em tempo encarna figuras assustadoras, desde o taxista louco de “Taxi Driver’ até o comerciante de escravos Rodrigo Mendoza de “A Missão”. Mas nada se compara a Cady, em que revive o já ótimo personagem de Robert Mitchum na versão que inspirou Martin Scorsese a rodar "Cabo do Medo", de 1991 (“Círculo  do Medo”, 1962). União de QI elevado e músculos, o algoz da família Bowden é capaz de, aliado à abordagem do roteiro, confundir os papeis de vilão e herói. Quem é mais filha da puta ali: o ex-presidiário que se vale da liberdade para perseguir os outros, o advogado que o prendeu deliberadamente, a esposa conivente ou as leis da sociedade, interpretáveis e permissivas?






7 - HAL-9000 (Douglas Rain – voz)
Quem disse que só a violência do homem ou a selvageria do bicho podem assustar? A inteligência, quando direcionada para o lado ruim, é devastadora. Ainda mais quando essa inteligência for artificial, como a do computador HAL-9000, o cérebro-mãe da nave especial de "2001: Uma Odisseia no Espaço" (1968). Kubrick e Clarke criam o personagem mais estático e, talvez até por isso, amedrontador do cinema moderno. Mirar aquele seu “olho” de plástico é deparar-se com a frieza inumana capaz das piores coisas. Através de meticulosos comandos, a máquina, rebelde e neurótica, põe à sua mercê toda a tripulação, afetando, mesmo depois de “morto”, toda a expedição. Detalhe: a voz original de Douglas Rain já é suficientemente aterradora, mas a da dublagem para o português, feita pelo célebre Marcio Seixas na clássica versão da Herbert Richards, consegue superar.

Dublagem clássica de HAL-9000 - "2001: Uma Odisseia no Espaço"




8 - Zé Pequeno/Dadinho (Leandro Firmino da Hora/ Douglas Silva)
Tem que ser muito sem noção para dizer para um mal-encarado “como é que tu chega assim na minha boca?!” Não precisa ser cinéfilo pra conhecer a resposta que é dada, pois é naquela cena que um dos personagens mais incríveis do cinema dos últimos 30 anos surgia ainda mais temível. Se o pequeno Dadinho já apavorava por se ver uma criança com sede de matar nos olhos, o jovem traficante vivido magistralmente por Firmino em “Cidade de Deus” (2002), então, “lavou a égua” neste quesito. Violento, entorpecido, marginal, cruel. Como não esbugalhar os olhos quando esse cara manda matar uma criança pequena a sangue frio? Ninguém se meta com Dadinho! Ops! Agora é Zé Pequeno, foi mal aí.






O brilhante personagem de Barden.
9 - Anton Chigurh (Javier Barden)
Os irmãos Cohen são mestres do anticlímax, uma vez que seus filmes se valem largamente desse expediente, usado por eles com muita habilidade de forma a gerar impactos surpreendentes no espectador pelo jogo oportuno de quebra ou confirmação da expectativa. O personagem Anton Chigurh, encarnado por Javier Barden no faroeste moderno "Onde Os Fracos Não Tem Vez" (2007), é montado todo em cima dessa premissa. Absolutamente inexpressivo e unidirecional, o psicótico Anton não sente nada, apenas mata. A naturalidade com que ele elimina suas vítimas não tem glamour nenhum. Ele simplesmente pega e mata, e nada é capaz de freá-lo. Fora isso, dá um pavor danado sempre que ele aparece com aquela arma de ar comprimido.







10 - Harry Powell (Robert Mitchum)
“Lobo em pele de cordeiro” é a melhor definição para Harry Powell. Afinal, quem desconfiaria que um pastor aparentemente cheio de boas intenções se revelaria um tirano doméstico da pior espécie? Se a interpretação de Mitchum fora superada pela de De Niro como Max Cady, esta de "O Mensageiro do Diabo" (Laughton, 1955) fica para a história do cinema como uma das mais fortes e impressionantes já vistas nas telas. Filme impecável, também mas não apenas pelas atuações. Mas Mitchum, inegavelmente é o destaque.

"Amor-Ódio" - "O Mensageiro do Diabo"



Mais insano que qualquer outro Coringa.
11 – Coringa (Heath Ledger)
 O alucinado e diabólico vilão das histórias do Batman é um dos personagens mais originais da cultura pop mundial. Interpretá-lo é, obviamente, um privilégio. George Romero o fez muito bem na série e até o craque Jack Nicholson mandou muito bem no papel, mas nada se compara ao que Heath Ledger fez em "O Cavaleiro das Trevas" (Nolan, 2008). Ele encarna Coringa, a ponto de, dizem, amaldiçoar-se, haja vista que morreu logo depois das filmagens. Ledger achou como poucos atores para o limiar entre a loucura e a lucidez, entre o burlesco e o austero. Menção que não podia deixar de faltar na lista.






12 - Jack Torrance (Jack Nicholson)
Se Stanley Kubrick já conseguira assustar com um computador, imagina quando ele volta toda a história para isso. É o caso do perfeito "O Iluminado" (1979), outra das obras-primas do cineasta costumeiramente reconhecido como o grande filme de terror de todos os tempos e a melhor adaptação de Stephen King para as telas. Mas seu impacto certamente não seria o mesmo se não tivesse a força de Nicholson no papel de Jack Torrance. Ele vale-se de toda sua técnica e sensibilidade cênicas a serviço da construção do personagem que vai perdendo o controle de sua sanidade, pois, mediunicamente vulnerável, sucumbe aos espíritos “sanguessugas” ligados àquele que Jack foi na vida passada: um serial killer que matou toda sua família.

por Daniel Rodrigues

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Meus 50 atores e Christhopher Walken



Christopeher Walken na marcante cena
da roleta russa em "O Franco Atirador"
Ainda hoje tenho certeza que foi o Christopher Walken que matou a atriz Natalie Wood em 1981. Na fatídica noite, estavam ela, seu marido, o ator Robert Wagner, e Walken, todos bebendo muito a bordo de um iate. Após uma discussão entre os dois "amigos", a atriz sumiu e só foi encontrada horas depois, morta afogada. Naquele ano o caso foi encerrado e a causa da morte foi diagnosticada como afogamento. Em 2011, os arquivos foram reabertos e com novas evidências, hematomas no corpo da atriz levaram a investigação para outros rumos que poderiam apontar um assassinato. Acusações à parte, o certo é que Walken sempre me assustou. Aquela sua cara de “American Psycho” poderia muito bem ter dito a Wagner; "Se você me dedurar, será o próximo, te acharei no inferno". Eu entenderia o aviso rapidinho.

Quatro anos antes ele ganhava o Oscar de melhor ator coadjuvante por "O Franco Atirador", do Michael Cimino, um filme totalmente ambientado em diversos contrapontos que vão da loucura, drogas, sexo etc. Pra ter uma noção do clima do filme, nas cenas de roleta russa, os atores Robert De Niro, Walken e John Cazale chegaram a usar balas de verdade para das mais veracidade. Cazale, que já estava com seus dias contados por um câncer terminal, dizia que nada tinha a perder. Na minha lista de 50 atores em grandes atuações, Walken está presente como um símbolo de visceralidade, loucura e medo em termos de atuação. O ator já fez mais de 100 filmes, clipes e peças. Na vida real, ele consegue ser um dos únicos seres na terra o qual eu temeria mesmo. Tenho um certo “amor e ódio” por sua figura. Mas desejo longa vida ao mr. Walken, e que não saia impune de seu(s) crime(es), se é que foi ele.

Abaixo, senhores, minha lista de melhores atores em suas grandes atuações. Completei com atores das listas que amigos compartilharam comigo e fiz uma única:



Marlon Brando - O Poderoso Chefão


- Robert De Niro - Touro Indomável
- Al Pacino - Scarface
- Malcom McDowell - Laranja Mecânica
- Dustin Hoffman - Midnight Cowboy
- Henry Fonda - Era uma Vez no Oeste
- Sean Connery - Os Intocáveis
- Jack Nicholson - O Iluminado
- Paul Newman - Butch Cassidy
- Robert Redford - Todos os Homens do Presidente
- Robert Duvall - Apocalypse Now
- Anthony Hopkins - Silêncio dos Inocentes
- Joe Pesci - Os Bons Companheiros
- Tom Berenger - Platoon
- Val Kilmer - The Doors
- River Phoenix - Conta Comigo
- Bruno Ganz - A Queda
- Jean Reno - O Profissional
- Cristian Bale – Psicopata Americano
- Gael Garcia Bernal - Amores Perros
- Heath Ledger – Batman - O Cavaleiro das Trevas
- Cristhoph Waltz - Bastardos Inglórios
- Wagner Moura - Tropa de Elite
- Ian McKellen - O Senhor dos Anéis
- Daniel Day-Lewis - Sangue Negro


- Kevin Costner - Dança com os Lobos
- Charlton Heston - Ben-Hur
- Leonardo DiCaprio – O Lobo de Wall Street
- Rutger Hauer - Blade Runner
- Javier Bardem - Onde os Fracos não Tem Vez
- Eli Wallach - O Bom, o Mau e o Feio
- Harrison Ford - Indiana Jones, Caçadores da Arca Perdida
- Russel Crowe - Gladiador
- Charlie Sheen - Platonn
- Ricardo Darin - O Segredo dos Seus Olhos
- Woody Harrelson - O Povo Contra Larry Flint
- Emile Hirsch - Na Natureza Selvagem
- Roberto Benigni - O Monstro
- Willian Holden - Meu Ódio será Sua Herança
- Morgan Freeman - Um Sonho de Liberdade
- John Cazale - O Poderoso Chefão II
- Warren Oates - Traga-me a Cabeça de Alfredo Garcia
- Matheus Nachtergaele – O auto da Compadecida
- César Troncoso – O Banheiro do Papa
- Juan Villegas - El Perro
- Mel Gibson - Gallipoli
- Michael Fassbender - 12 Anos de Escravidão
- Matthew McConaughey - Clube de Compras Dallas
- Sean Penn - O Pagamento Final
- Christopher Walken - O Franco Atirador





com a colaboração de:
Carlos França, Josi Rizzari, Daniel Cóssio Porto,
Daniel Russell Ribas, Fernando De Souza Médici,
Daniel RodriguesRicardo Lacerda e José Francisco Botelho.