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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Música da Cabeça - programa #356

 


Carnaval chegando e a mensagem é clara: "não é não"! "Sim" só pro MDC desta semana, que vem pronto pra entrar na avenida. 

Echo & The Bunnymen , RPM , Caetano Veloso , Red Hot Chilli Peppers , Don Von Vliet e outros. Ainda, um Cabeção com o compositor polonês Witold Lutoslawski. 

Na folia, mas de boa, o programa põe o bloco na rua às 21h. Produção, apresentação e "respeita as mina": Daniel Rodrigues






terça-feira, 13 de julho de 2021

Grinders - "Grinders" ou "Skatepunkmusic" * (1987)









"E algum tempo depois,
Um skate eu montei
Ando todos os dias
E feriados também."
trecho de "Minha Vida"

"Ande de skate ou  morra!"
trecho de "Ande de Skate Ou Morra"



Meu primo Lucio Agacê, tradicional colaborador aqui do blog, na época das nossas formações musicais e descobertas sonoras, volta e meia nos apresentava, a mim e ao meu irmão Daniel, alguma novidade dos sons que acabara de conhecer. Recém iniciado no punk e hardcore, empolgado, chegava para nós com aqueles discos esquisitos, barulhentos, com sonoridades agressivas, rascantes, acabamento pobre, não só sonoro mas também gráfico, com artes feitas de colagens muito primárias ou com ilustrações de qualidade bastante deficiente. Eu, na época, ainda muito absorvido pelo rock que tocava nas rádios, na época da explosão do rock nacional, com bandas como Legião Urbana, Ultraje a Rigor, RPM, nem sempre valorizava muito àquelas coisas que meu entusiasmado primo trazia a meu conhecimento e apreciação. Com exceção um que outro que tinha alguma produção um pouco mais caprichada como Inocentes, Cólera, em alguns momentos, e um pouco mais adiante, Ratos de Porão, aquele som do punk nacional me soava excessivamente tosco e mal acabado. No entanto, em meio a esse universo pouco convidativo para meu 'paladar' sonoro, algo me chamou atenção. Uma banda chamada Grinders parecia ter um pouco mais de técnica, seu som era mais limpo, não se limitava aquela chiadeira que mais parecia um vespeiro em polvorosa e, claramente, havia um pouco mais de cuidado, de trato na produção.

Curiosamente, a primeira impressão não foi exatamente positiva pelos motivos certos. Meu primeiro contato com Grinders se deu quando o próprio Lucio me mostrou a coletânea "Ataque Sonoro", na qual a banda tinha duas músicas. Uma delas, "Skate Gralha", para mim estava mais para engraçada do que propriamente para boa, uma vez que, o vocalista, com uma interpretação acelerada, quase indecifrável, depois de esculachar, na letra, um suposto skatista muito ruim, que só atrapalhava na pista, culminava a execração do coitado dando-lhe, no refrão, a sentença definitiva de "animal" ("Pega o skate desse gralha /Sai da pista, animal /Se você quer tesourar /Vai pra casa animal /ANIMAL, ANIMAL, ANIMAL!"). Era engraçado, era divertido, brincávamos imitando aquele refrão mas, para mim, passava longe de ser algo que me agradasse musicalmente e, embora não fosse exclusivamente o que pesasse na minha antipatia, efetivamente, não havia como negar que aquela versão, presente na legendária compilação punk, era bastante precária.

Algum tempo depois, já mais aberto e tolerante, tive a oportunidade de ouvir o disco de estreia dos Grinders e lá estava "Skate Gralha", que, embora ainda totalmente "animal", claramente estava bem mais limpa e mais bem acabada.

Trato mais cuidadoso que, por sinal, todo o disco tinha, até mesmo nas mais ruidosas e selvagens como "Destrua Um Monstro Nazista", "Ande de Skate ou Morra" e "Explorados". Mas não era só a questão do trabalho de estúdio, os Grinders sabiam tocar, tinham bala na agulha, as músicas tinham bons riffs e podia-se até mesmo notar uma pegada meio surf-music e do punk californiano. As duas peças instrumentais, a que leva o nome da banda e abre o disco, "Grinders", e a cover do tema do Homem-Aranha, são exemplares indesmentíveis dessas influências.

Chama atenção também como os gritos da galera punk daquela época, incrivelmente, continuam tão válidos e procedentes ainda hoje, e talvez até mais pertinentes agora do que naquele momento pós-abertura, quando parecia haver uma série de conscientizações em relação a diversos temas e problemas do país por parte da sociedade. "Amém", denunciando os falsos religiosos que se utilizam da ignorância do povo para lucrar, a irônica "Serviço Militar", contra o militarismo, "Destrua Um Monstro Nazista", bem a calhar diante das inúmeras manifestações de extrema-direita que surgem por todo canto, e "Como É Que Pode", que chama atenção para a desigualdade social e a fome, infelizmente, mostram-se extremamente atuais e urgentes. "Ruas de Soweto", uma das melhores, com seu riff vigoroso e sua letra mínima porém sintética ("Os dias são negros pelas Ruas de Soweto"), se hoje não é mais tão atual em relação ao Apartheid sul-africano, não perde a validade, dadas as mostras escancaradas de racismo pelo mundo, e em especial no Brasil, cujo procedimento é apoiado pelo discurso discriminatório do próprio presidente da República.

Mas, em meio a tantos assuntos sérios, há  espaço para o skate, prática muito comum entre o pessoal do punk e hardcore, na época, e que é tema de destaque no disco, não somente com a já destacada, "Skate Gralha", mas também com a ótima "Minha Vida", que relata a satisfação de ter um skate e poder usufruir dele, e a marcante "Ande de Skate ou Morra", lema do pessoal das rodinhas, elevado à condição de hino skatista hardcore pelos Grinders.

O disco ainda tem a pérola, que o finaliza, "Puta Vomitada", que relata o day after de uma noitada, aquela ressaca e os efeitos da bebedeira, numa manhã de domingo em que, tudo que se encontra numa tentativa de assistir TV, é Programa Sílvio Santos, Menudo, RPM , numa crítica à massificação do entretenimento promovido pelas mídias, naqueles idos dos anos 80. Apesar de gostar de RPM, na época e ainda hoje, é um encerramento de disco espetacular que ainda fica melhor com o som de uma descarga de banheiro que joga para o esgoto toda aquela porcaria.

Edições posteriores, em CD, tem alguns extras bem interessantes como uma cover instrumental, ao vivo, de "California Über Alles", dos Dead Kennedy's, que só confirma ainda mais aquela impressão da influência do punk californiano; "Amém" com uma introdução de "oração"; e algumas inéditas, em versão demo, como "Trem Lotado", "Danceteria" e a preconceituosa, porém divertida "Eu Não sou Break".

Ainda que um pouco mais bem produzido que seus contemporâneos, "Grinders" mantém aquela pureza característica punk nacional, na sonoridade, nas composições e nas letras. Aquela crueza, aquela "barulheira" que de início era exatamente o que me incomodava, no fim das contas é o diferencial do punk raiz, do punk proletário, do punk suburbano, e que atesta, sobremaneira, a autenticidade de sua atitude e de seu discurso. 

Dia do Rock e época de Olimpíadas, nada melhor do que trazer toda a força do rock, sua essência, sua atitude, seu caráter contestador, e misturar com esporte, nas mais radicais manobras sobre as quatro rodinhas. E, cá entre nós, poucos esportes têm tanta atitude como o skate.

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FAIXAS:
1. Grinders
2. Skate Gralha
3. Amém
4. Homem-Aranha
5. Minha Vida
6. Destrua Um Monstro Nazista
7. Explorados
8. Serviço Militar
9. Ande De Skate Ou Morra
10. Ruas De Soweto
11 Como É Que Pode
12. Puta Vomitada

Ao Vivo no Woodstock Music Hall(1987)
13. Grinders
14. Skate Gralha
15. Homem-Aranha
16. Amém
17. Como É Que Pode
18. Minha Vida
19. Califórnia (cover instrumental de "California Über Alles", dos Dead Kennedy's)

Demo Tape(1985)
20. É Domingo
21. Grinders
22. Skate Or Die
23. Como É Que Pode?
24. Trem Lotado(TL)
25. Eu Não Sou Break
26. Danceteria

Ao Vivo na Broadway(1985)
27. É Domingo
28. Eu Não Sou Break

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Ouça:

* nome dado à reedição em CD de 2001

por Cly Reis


terça-feira, 14 de abril de 2009

RPM - "Revoluções por Minuto" (1985)




O DISCO QUE ME FEZ GOSTAR DE ROCK

Disputar em cada frequência
O espaço nosso nessa decadência
da letra de "Radio Pirata"



Meus discos são inegavelmente parte importantíssima da minha vida. Só que alguns deles, em especial, tem papel importante na minha trajetória, por marcarem fases, episódios, vínculos, etc.
O “Revoluções por Minuto” do RPM é um destes discos que carrega uma marca importante em relação à minha vida: foi o disco que me mostrou que eu gostava de rock.
Não foi o primeiro disco que eu ouvi, não foi o primeiro que comprei, não é o melhor álbum nacional e todos os tempos, muito menos o melhor-melhor mesmo de todos, só que ele apareceu em um momento de descobertas. Muita gente começou com Beatles, outros com os Pistols. Descobertas relevantes, por certo. Eu comecei com RPM.
O trouxe hoje para ouvir no carro e ainda hoje percebo o porquê de ter-me despertado para algo que nunca mais me abandonaria, e que eu também não abandonaria mais. O rock.
Mesmo com seu apelo pop quase que pré-fabricado, serviu para despertar a sensibilidade para os elementos básicos do rock, guitarra-baixo-bateria, ainda que a grande estrela instrumental da banda fosse um tecladista, Luiz Schiavon, e que os outros instrumentistas fossem bastante limitados. Mas o fato é que ali se via um vigor de banda e nela os elementos que sempre estiveram presentes no gênero através dos tempos, como a rebeldia, o protesto, a ironia, a sensualidade e até mesmo esse apelo popular mesmo (por que não?) que sempre esteve presente desde que os ídolos são ídolos.
Tudo foi meticulosamente estudado para dar certo. Paulo Ricardo, o frontman da banda, fizera na época uma espécie de estágio em Londres para compor a receita que tinha que dar certo, e fez isso em cima de fórmulas já utilizadas nas últimas décadas e a partir do cenário local do momento que era extremamente criativo e dinâmico. Figuravam naquele momento Smiths, U2, Talking Heads, Cure, rolava o finzinho da new-eave, o fim do punk, o gótico estava na moda e no fundo no fundo o RPM tinha um pouco de tudo isso.
A primeira parte do álbum, que correspondia ao que seria o lado A do LP é a parte mais pop do disco. É onde encontram-se todos os grandes hits . Um riff de guitarra marcante e pungente seguido de um teclado cuidadosamente pegajoso abrem o disco e aí está “Rádio Pirata” com um aviso de que a invasão é inevitável. “Olhar 43”, talvez o maior hit tem um tecladão meio monocórdio, soando meio automatizado, bem grave e forte no início, encaminhando para uma letra totalmente sensual e envolvente que acaba num “tesão” que na época as rádios hesitavam em deixar que aparecesse. Segue “A Cruz e a Espada” baladinha com um clarinete e que falava sobre inocência, primeira vez, e essas coisas bem identificáveis para a meninada da época. “Estação no Inferno” um pouco mais soturna que só veio a ser sucesso mesmo no ábum ao vivo que seguiu este, tinha um clima meio soturno, meio que uma influência daquele cenário londrino estudado por Paulo Ricardo. O lado A fechava com “Loiras Geladas”, outro baita sucesso também muito sensual com o teclado em destaque numa espécie de The Doors/new-wave.
Curiosamente o que correspondia ao lado B, a segunda metade do disco, que não tocou no rádio era mais criativa e complexa como por exemplo a interessante “Liberdade/Guerra Fria” meio darkzinha com toques orientais, e a excelente e dramática ode ao país “Juvenília”. “Pr’esse Vício”, talvez a mais agressiva do disco, soa bem atual com suas referências a terrorismo e confrontos religiosos, e fechando o disco, completamente sintonizada com os dias de hoje, quase 15 anos depois, vem “Revoluções por Minuto” falando de caos econômico, globalização, drogas, consumo, num mundo girando a 78 RPM.
Depois disso o álbum “Rádio Prata Ao Vivo” vendeu como água, a banda fez megashows como nenhuma outra banda nacional havia feito, deu um tempo, voltou e ainda produziu um ótimo disco, “Os Quatro Coiotes”, mas que não teve boa aceitação do grande público. Aí a banda mudou de integrantes, voltou pra alguns caça-níqueis e era isso. O que pode resumir bem a situação atual é o fato de que o criativo e bom tecladista Luiz Schiavon toca atualmente na banda do Domingão do Faustão. Precisa dizer mais?
Depois do RPM descobri que uma banda que eu achava legal mas não sabia o nome era o tal de The Smiths, que uns carinhas de preto todos descabelados eram do The Cure e assim por diante, conheci outras e gostei mais de outras. Mesmo no cenário nacional, logo veio o “Cabeça Dinossauro” e abafou o “Revoluções...”, mas não deixo de ser extremamente grato ao álbum “Revoluções por Minuto” que foi o disco que me fez gostar de rock.
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FAIXAS:
01- Radio Pirata
02- Olhar 43
03- A Cruz e a Espada
04- Estação No Inferno
05- A Furia do Sexo Fragil Contra o Dragão da Maldade
06- Louras Geladas
07- Liberdade, Guerra Fria
08- Sob a Luz do Sol
09- Juvenilia
10- Presse Vicio
11- Revoluções Por Minuto

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Ouça:
RPM Revoluções Por Minuto


Cly Reis