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quinta-feira, 27 de julho de 2023

Exposição "Gráfica Poética", de Luciano Figueiredo e Óscar Ramos - Musehum - Rio de Janeiro/RJ










"O nosso trabalho era movido e realizado dentro do espírito experimental. Sempre mirávamos um espaço livre para nossas novas criações. Nossa parceria era de integração total, a [materialização da] ideia de 'arte e vida' mesmo. Óscar era um grande desenhista e finíssimo na execução de qualquer trabalho que fazíamos. Já eu tinha menos experiência técnica, de modo que nossas habilidades fundiam-se numa coisa só."
Luciano Figueiredo

Tive a excelente surpresa de, numa visita despretensiosa ao antigo Oi Futuro, agora rebatizado Musehum, topar com uma exposição "Gráfica Poética", dos designers gráficos Luciano Figueiredo e Óscar Ramos, responsáveis por algumas das capas de discos, publicações em revistas e cartazes de filmes mais marcantes da arte brasileira.

Na exposição, além de podermos apreciar a obra dos artistas, muitas vezes de crédito desconhecido ou perdido na memória, também temos contato com seus métodos criativos, compositivos e de produção, de trabalhos produzidos de maneira quase artesanal, em um a época ainda muito distante de toda a tecnologia atual.

Caetano, Gil, Erasmo, Zé Ramalho, Jards Macalé, são somente alguns dos grandes nomes da MPB cujos trabalhos passaram pelas mãos talentosas desses dois grandes gênios da arte gráfica brasileira para ganhar uma identidade toda especial, de altíssima qualidade e criatividade.

Confira abaixo algumas imagens da pequena, resumida a uma salinha, mas muito significativa, exposição, em cartaz no Musehum, aqui no Rio de Janeiro:

Algumas das capas de discos que a dupla
produziu ou, de alguma forma participou da concepção


Cartaz para o filme "Escorpião Escarlate", do amigo Ivan Cardoso

Também para o cinema, poster do documentário "1X Flamengo", 
de Ricardo Sollberg


Recortes, revistas, documentos.
Aqui, um pouco da criação e da repercussão do espetáculo "Fa-tal - Gal A todo vapor",
no qual os dois não só conceberam a capa do álbum, como os cenários do show

O mundo de Luciano Figueiredo e Óscar Ramos

O blogueiro apreciando a exposição.


************



exposição "Gráfica Poética", de Luciano Figueiredo e Óscar Ramos
local: Musehum - Oi Futuro
endereço: Rua Dois de Dezembro, 107 Flamengo, Rio de Janeiro - RJ.
período: até 27 de agosto
ingresso: Entrada gratuita


C.R.


sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Ao mestre, com carinho

Gil e a imagem de um de seus mestres
homenageados: Bob Marley
É comum que músicos reverenciem seus mestres. Intérpretes e mesmo os compositores gostam de, invariavelmente, recuperar temas ou referências daqueles em quem se inspiram, muitas vezes intercalando-os com suas próprias autorias seja em discos ou em shows. Não raro veem-se, inclusive, artistas consagrados, a certa altura da carreira, gravarem aquele disco só de versões dos outros. No rock, isso é bem recorrente: John Lennon, Siouxsie & The Banshees, R.E.M., Rage Against the Machine, Titãs e Ira! são casos típicos para ficar em alguns exemplos dos inúmeros possíveis.

Mas um artista autoral abrir mão de composições suas para se dedicar apenas ao repertório do seu mestre, aí já é mais raro. No entanto, fomos atrás e listamos alguns trabalhos assim: aprendizes homenageando seus mestres. Não valem aqui discos de intérpretes, por melhor que sejam as obras, como Gal Costa em seu "Gal Canta Caymmi" ou Sarah Vaughn com seu "Plays Beatles", por exemplo. Álbuns memoráveis estes, mas de cantoras fazendo aquilo que melhor sabem, que é interpretar. Também não entram aquelas “homenagens” ou shows especiais, mesmo que de apenas um artista para outro. Não caberia, por exemplo, “Loopicinio” (2005), em que o músico Thedy Correa faz um exercício de modernização ao samba-canção “dor de cotovelo” de Lupicinio Rodrigues. Válido, mas sabe-se que Lupi não é bem O “mestre” para quem formatou sua carreira no pop rock beatle com como Thedy.

Aqui, a proposta é outra e até mais desafiadora a quem está acostumado a escrever as próprias músicas. O mergulho na obra de quem o inspirou é, desta forma, duplamente instigante: manter a autoexigência do que costuma produzir e, no mesmo passo, fazer jus à obra daquele que reverencia. Chega a ser um exercício de desprendimento. Tanto é diferente este tipo de projeto, que não é extensa a listagem, não. Pelo menos, daquilo que encontramos. Se os leitores identificarem novos trabalhos semelhantes, o espaço está aberto para aumentarmos nossa lista de álbuns dos seguidores aos seus mestres.


Eric Clapton
– “Me and Mr. Johnson” (2004) 

Para Robert Johnson

Vários roqueiros já gravaram Robert Johnson, de Rolling Stones a Red Hot Chili Peppers. Mas quem pode ser considerado um filho artístico do pioneiro do blues do Mississipi é Clapton. Já resenhado nos nossos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, este poderoso disco do mais seminal blues rock é o encontro do céu com o inferno: Deus, como Clapton é apelidado, e o Diabo, com quem dizem Johnson ter feito um pacto para que tivesse tanto talento. Se foi ação do bem ou do mal, o fato é que funcionou tanto para ele quanto para seu maior aprendiz. Só podia dar num disco essencial.





FAIXAS:
01. "When You Got a Good Friend" 
02. "Little Queen of Spades"  
03. "They're Red Hot"  
04. "Me and the Devil Blues" 
05. "Traveling Riverside Blues" 
06. "Last Fair Deal Gone Down" 
07. "Stop Breakin' Down Blues" 
08. "Milkcow's Calf Blues" 
09. "Kind Hearted Woman Blues" 
10. "Come on in My Kitchen" 
11. "If I Had Possession Over Judgement Day" 
12. "Love in Vain" 
13. "32-20 Blues" 
14. "Hell Hound on My Trail"  


Velha Guarda da Portela
– “Homenagem a Paulo da Portela” (1988)
Para Paulo da Portela

Celeiro de alguns dos melhores compositores do samba brasileiro, como Alberto Lonato, Candeia, Manaceia, Mijinha e Chico Santana, a Velha Guarda da Portela reuniu-se para homenagear aquele que considera o maior deles: Paulo da Portela. E o faz com time completo: Monarco, Casquinha, Argemiro, Jair do Cavaquinho e as pastoras originais. Se o padrinho do conjunto é merecidamente Paulinho da Viola, é o outro Paulo o que ocupa o lugar de principal referência de compositor para a turma da escola a qual levou no próprio nome com autoridade.




FAIXAS:
01. Linda Guanabara
02. Homenagem ao Morro Azul / Para que Havemos Mentir
03. Teste ao Samba
04. Conselho
05. Deus te Ouça
06. O Meu Nome Já Caiu no Esquecimento
07. Quem Espera Sempre Alcança
08. Linda Borboleta
09. Cocorocó
10. Este Mundo é uma Roleta
11. Ópio 
12. Cantar para Não Chorar


Gilberto Gil
 – “Kaya N'Gan Daya” (2002)
Para Bob Marley

O múltiplo Gil, mesmo na época da radicalização do Tropicalismo, nunca escondeu que seus mestres eram Luiz Gonzaga, João Gilberto e Bob Marley. Ao primeiro ele dedicou o conceito e regravações na trilha de “Eu Tu Eles” e em “Fé na Festa”, mas aos outros dois rendeu discos completos com o que mais lhe fazia sentido em suas obras. Para o Rei do Reggae criou um disco de ótimos arranjos, juntando letras no inglês original ou versões muito bem traduzidas, como a faixa-título e “Não Chore Mais” (“No Woman, no Cry”), tal como ele havia pioneiramente versado em “Realce”, de 1979. A sonoridade, aliás, não fica somente no reggae, mas também dialoga muitas vezes, justamente, com o baião de Gonzagão. 




FAIXAS:
01. "Buffalo Soldier"  
02. "One Drop" 
03. "Waiting in Vain" 
04. "Table Tennis Table" 
05. "Three Little Birds" 
06."Não Chore Mais (No Woman, No Cry)"
07. "Positive Vibration" 
08. "Could You Be Loved" 
09. "Kaya N'gan Daya (Kaya)" 
10. "Rebel Music (3 O'Clock Road Block)"  
11. "Them Belly Full (But We Hungry)" 
12. "Tempo Só (Time Will Tell)"  
13. "Easy Skankin'"   
14. "Turn Your Lights Down Low"  
15. "Eleve-se Alto ao Céu (Lively Up Yourself)" 
16. "Lick Samba"


Zé Ramalho
– “Tá Tudo Mudando” (2008)
Para Bob Dylan

O músico paraibano sempre reverenciou o autor de “Like a Rolling Stone”. Neste álbum, contudo, fez como só ele poderia: arranjos entre o rock e a música brasileira, sotaque nordestino e as letras em português. Difícil traduzir um Nobel de Literatura? Sim, mas Ramalho, com talento e conhecimento de fã, acerta em cheio. Magníficas "O Homem Deu Nome a Todos Animais" (“Man Gave Names to All the Animals”), regravada por Adriana Calcanhotto em seu “Partimpim 2”, e, a versão para a clássica “Knockin' on Heaven's Door”, provando pros tupiniquins com “síndrome de vira-lata” que criticaram à época, que soa muito melhor um refrão com os versos "Bate bate bate na porta do céu" do que "Knockin' knockin' knockin' on heaven's door". Perto da solução achada por Ramalho, a original nunca mais deixou de soar cacofônica. "I'm sorry, mr, Dylan".



FAIXAS:
01. "Wigwam / Para Dylan" 
02. "O homem deu nome a todos animais (Man Gave Name To All The Animals)" 
03. "Tá tudo mudando" 
04. "Como uma pedra a rolar"  
05. "Negro Amor (And it's All Over Now, Baby Blue)" 
06. "Não pense duas vezes, tá tudo bem (Don't Think Twice, It's All Right)" 
07. "Rock feelingood (Tombstone Blues)" 
08. "O vento vai responder"  
09. "Mr. do pandeiro (Mister Tambourine Man)"  
10. "O amanhã é distante" 
11. "If Not for You" 
12. "Batendo na porta do céu - versão II" 


Rita Lee
– “Bossa ‘n Beatles” (2001)
Para The Beatles

Quando Ramalho gravou seu “Tá Tudo Mudando”, já havia um antecedente de 7 anos antes na discografia brasileira de artista que versou outro monstro sagrado do rock como Dylan dando-lhe caracteres brasileiros. Depois de uma via crúcis para pegar autorização com Yoko Ono para versar a obra do seu ex-marido, Rita conseguiu, finalmente, juntar duas paixões as quais domina como poucos: o rock libertário dos Beatles e as ricas harmonias da bossa nova. Tão filha musical dos rapazes de Liverpool quanto de João Gilberto, somente Rita pra prestar uma homenagem como esta.




FAIXAS:
01. "A Hard Day's Night"
02. "With A Little Help From My Friends"
03. "If I Fell"
04. "All My Loving"
05. "She Loves You"
06. "Michelle"
07. "'In My Life"
08. "Here, There And Everywhere"
09. "I Want To Hold Your Hand"
10. "Lucy In The Sky With Diamonds"
Faixas bônus:
11. "Pra Você Eu Digo Sim (If I Fell)"
12. "Minha Vida (In My Life)"


The The
– “Hanky Panky”
(1995) 
Para Hank Williams

O talentoso “homem-banda” Matt Johnson é um cara fiel às suas origens. Depois de relativo sucesso na metade dos anos 80, ele capturou o amigo de adolescência Johnny Marr, guitarrista recém-saído da The Smiths, para gravar os dois melhores álbuns da The The. Porém, o autor de “This is the Day” queria ir ainda mais a fundo nas autorreferências e foi achar a resposta no músico country “vida loka” Hank Williams. Embora bem arranjado por Johnson e D. C. Collard, “Hanky...”, já sem Marr na banda, por melhor que seja, deixa, no entanto, aquela interrogação para os fãs: “não teria sido ainda melhor com Marr?”





FAIXAS:
01. "Honky Tonkin'"
02. "Six More Miles"
03. "My Heart Would Know"
04. "If You'll Be A Baby To Me"
05. "I'm A Long Gone Daddy"
06. "Weary Blues From Waitin'"
07. "I Saw the Light"
08. "Your Cheatin' Heart"
09. "I Can't Get You Off of my Mind"
10. "There's a Tear in My Beer"
11. "I Can't Escape from You"


Gilberto Gil
– “Gilbertos Samba”
(2014)
Para João Gilberto

12 anos depois de prestar tributo a Bob e de referenciar Luiz Gonzaga em mais de uma ocasião, Gil fecha, então, a trinca de seus mestres musicais. O repertório é lindo, uma vez que, homenageando João, a sua batida e seu estilo de cantar, escola para toda a geração pós-bossa nova a qual Gil pertence, outros artistas importantes para o baiano também são contemplados, como Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Dorival Caymmi e Caetano Veloso, todos compositores incorporados no cancioneiro de João. Mas por melhor que seja a produção e por mais lindo que seja o violão de Gil, diferentemente de “Kaya...”, quando a sua voz estava ainda "ok ok ok", os anos comprometeram-na. Rouca e de alcance bastante prejudicado, se perto da voz do próprio Gil saudável já é covardia, imagina, então, comparar com a o do homenageado? Projeto lançado, uma pena, tardiamente.



FAIXAS:
01. "Aos Pés da Cruz" 
02. "Eu Sambo Mesmo"  
03. "O Pato" 
04. "Tim Tim por Tim Tim" 
05. "Desde Que o Samba é Samba"  
06. "Desafinado"  
07. "Milagre"  
08. "Um Abraço no João"  
09. "Doralice"  
10. "Você e Eu"  
11. "Eu Vim da Bahia" 
12. "Gilbertos"  

Daniel Rodrigues
com colaboração de Cly Reis

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2019



O pessoal de Liverpool tá imbatível.
E não estou falando do time de Salah, Firmino e Mané.
Sei que já devia ter feito, o ano já começou e, por sinal está quase no final do primeiro mês, mas vida de blogueiro não se limita ao blog e até então não tinha dado tempo de fazer os levantamentos, retrospectos, somatórios e estatísticas para o Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS que sempre temos todo o início de ano aqui no ClyBlog. O ano que passou trouxe, além dos discos destacados por nós integrantes do blog, como de costume participações de convidados, com destaque para a resenha de Waldemar Falcão, para o lendário segundo disco de Zé Ramalho, "A Peleja do Diabo com o Dono do Céu", de 1979, do qual nosso convidado até mesmo participou, fazendo de seu texto um depoimento inestimável em relação a tudo que envolveu a obra e o artista naquele momento.
Na nossa tradicional atualização dos discos que pintaram por aqui no último ano, lá na frente, entre os artistas que têm mais obras citadas na nossa seção, entre os internacionais, Os Rapazes de Liverpool finalmente assumiram a liderança, uma vez que, nem Bowie nem Stones, que dividiam a dianteira com eles, tiveram novos discos incluídos nos A.F., mas é bom abrir o olho porque os alemães do Kraftwerk, considerado por muitos o outro nome mais influente na música de todos os tempos, botaram mais um disco na roda esse ano e subiram para o segundo degrau do pódio. Já pelo lado nacional, não houve mudança lá na frente e o destaque ficou com as estreias de Airto MoreiraTribalistas e o já citado Zé Ramalho.
Entre os países, os Estados Unidos se mantém à frente com boa folga, e, na disputa pela prata, os ingleses, com um bom número de artistas emplacando álbuns fundamentais, aproxima-se perigosamente dos brasileiros. Quanto às décadas, os anos 70 continuam mandando no pedaço, mas falando em anos, especificamente, ainda é o de 1986, que põe mais discos na nossa lista.
No ano atual, já temos um Álbum Fundamental mas que não entra para a contabilidade do ano passado. A expectativa para 2019 é se os Beatles confirmarão sua liderança e se, no Brasil, alguém vai desbancar Jorge Ben, que reina absoluto há um bom tempo na lista nacional.

Vamos conferir então como ficaram as coisas por aqui depois deste último ano:


PLACAR POR ARTISTA INTERNACIONAL (GERAL)

  • The Beatles: 6 álbuns
  • David Bowie, Kraftwerk e Rolling Sones: 5 álbuns cada
  • Miles Davis, Talking Heads, The Who, Smiths, Led Zeppelin e Pink Floyd: 4 álbuns cada
  • Stevie Wonder, Cure, John Coltrane, Van Morrison, Sonic Youth, Kinks, Iron Maiden, Wayne Shorter, John Cale* e Bob Dylan: 3 álbuns cada
  • Björk, The Beach Boys, Cocteau Twins, Cream, Deep Purple, The Doors, Echo and The Bunnymen, Elvis Presley, Elton John, Queen, Creedence Clarwater Revival, Herbie Hancock, Janis Joplin, Johnny Cash, Joy Division, Lee Morgan, Lou Reed, Madonna, Massive Attack, Morrissey, Muddy Waters, Neil Young and The Crazy Horse, New Order, Nivana, Nine Inch Nails, PIL, Prince, Prodigy, Public Enemy, R.E.M., Ramones, Siouxsie and The Banshees, The Stooges, U2, Pixies, Dead Kennedy's, Velvet Underground e Brian Eno* : todos com 2 álbuns
*contando com o álbum de Brian Eno com JohnCale ¨Wrong Way Out"


PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)

  • Jorge Ben: 5 álbuns*
  • Gilberto Gil*, Tim Maia e Caetano Veloso: 4 álbuns*
  • Chico Buarque, Legião Urbana, Titãs e Engenheiros do Hawaii: 3 álbuns cada
  • Baden Powell**, Gal Costa, João Bosco, João Gilberto***, Lobão, Novos Baianos, Paralamas do Sucesso, Paulinho da Viola, Ratos de Porão e Sepultura: todos com 2 álbuns 
*contando o álbum Gilberto Gil e Jorge Ben, "Gil e Jorge"
** contando o álbum Baden Powell e Vinícius de Moraes, "Afro-sambas" 
*** Contando o álbum Stan Getz e João Gilberto, "Getz/Gilberto"


PLACAR POR DÉCADA

  • anos 20: 2
  • anos 30: 2
  • anos 40: -
  • anos 50: 15
  • anos 60: 84
  • anos 70: 125
  • anos 80: 104
  • anos 90: 77
  • anos 2000: 12
  • anos 2010: 13

*séc. XIX: 2
*séc. XVIII: 1


PLACAR POR ANO

  • 1986: 21 álbuns
  • 1985: 17 álbuns
  • 1976 e 1969: 16 álbuns cada
  • 1967, 1968 e 1977: 15 álbuns cada
  • 1971 e 1973: 14 álbuns
  • 1972, 1975, 1979 e 1991: 13 álbuns
  • 1965 e 1992: 12 álbuns cada
  • 1970, 1987,1989 e 1994: 11 álbuns cada
  • 1966, 1978 e 1980: 10 álbuns cada


PLACAR POR NACIONALIDADE*

  • Estados Unidos: 155 obras de artistas*
  • Brasil: 121 obras
  • Inglaterra: 110 obras
  • Alemanha: 9 obras
  • Irlanda: 6 obras
  • Canadá: 4 obras
  • Escócia: 4 obras
  • México, Austrália, Jamaica, Islândia, País de Gales: 2 cada
  • País de Gales, Itália, Hungria, Suíça, França e São Cristóvão e Névis: 1 cada

*artista oriundo daquele país



C.R.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS ESPECIAL 11 anos do Clyblog - Zé Ramalho - "Zé Ramalho 2" ou "A Peleja do Diabo com o Dono do Céu" (1979)



"Foi o meu segundo disco. Veio implacável, com letras furiosas e políticas, ditas num tom profético e nordestino, passando para a época uma fornada de músicas, que marcaram a minha carreira para sempre." 
Zé Ramalho

Quanto mais o tempo passa, mais nos damos conta de que ele na verdade voa mesmo... Quando penso que se passaram 40 anos desde que gravamos esse lendário LP (permitam-me...), chega a ser difícil de acreditar.

Zé Ramalho tinha “estourado” para o grande público no ano anterior, 1978, com “Avôhai”, “Vila do Sossego”, “Chão de Giz” e tantos outros sucessos que são cantados até hoje. Já tínhamos começado a entrar em uma rotina de shows e viagens que só cresceria nos anos seguintes. A banda que o acompanhava, da qual eu fiz parte durante inesquecíveis cinco anos, já estava com um grande entrosamento, justamente por conta da sucessão de shows que fazíamos por todo o país. Com isso, a entrada em estúdio para gravar foi algo feito com muita tranquilidade e segurança. Quero dizer, com muito ensaio mesmo...

O saudoso estúdio da não menos saudosa CBS, situado no centro do Rio de Janeiro, era a nossa casa: lá tínhamos um espaço para ensaios onde preparávamos o repertório para os shows – e também para os discos. No fundo do corredor do clássico prédio, o enorme pé direito de um estúdio imenso, mas com apenas oito canais de gravação. Isso nos dias de hoje é quase incompreensível pelas novas gerações que só conheceram os equipamentos digitais. O “nosso” era analógico mesmo. E só oito canais mesmo...

Mas o equipamento era excelente e os técnicos também, então tudo fluía como se estivéssemos em casa. E de certa forma, estávamos: Zé Ramalho estava se tornando o principal artista da gravadora, e trazia consigo uma galera de respeito, já com “nome na praça”, mas às vésperas de alcançarem seus grandes sucessos individuais: Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Amelinha, Cátia de França, entre tantos outros. Com tudo isso, a CBS estava totalmente voltada para esse time, e proporcionava as melhores condições para que pudéssemos trabalhar com calma.

E a capa do disco? Com sua original criatividade, Zé Ramalho convidou a excêntrica e genial figura de Zé do Caixão para representar o Diabo, enquanto ele próprio, vestido de branco, assumia o papel do “Dono do Céu”. A encenação da peleja para a foto de capa, com Zé Mojica Marins e suas enormes unhas diabólicas e duas lindas atrizes, Xuxa Lopes e Monica Schmidt cercando ambos, é um registro inesquecível na memória de todos nós que vivemos aquela época.


Arte do encarte e da capa do disco de autoria de Zé Ramalho
em parceria com o cineasta "udigrudi" Ivan Cardoso
Comandando essa galera toda estava o produtor Carlos Alberto Sion, assistido por Lygia Itiberê e por meu irmão Marcelo Falcão, que posteriormente se tornaria empresário e produtor do grande Moraes Moreira. O pianista, compositor e arranjador Paulinho Machado cuidava dos arranjos de base junto com o próprio Zé Ramalho, e se encarregava dos arranjos de orquestra, mestre que era das partituras e do bom gosto.

A sensação que tínhamos, como músicos da banda, era de uma grande animação, por percebermos que estávamos testemunhando ao vivo a ascensão de um grande artista, e nós fazíamos parte dessa interminável aventura.

Por trás da mesa de som, Manoel Magalhães, com a paciência de um monge, e Eugênio de Carvalho, aquele que perdia o amigo, mas não perdia a piada, conduziam as sessões com a habilidade de dois mestres da engenharia de gravação com anos de estrada.

No repertório, além da música-título, outros futuros sucessos já se enfileiravam: “Frevo Mulher” já mostrava sua primeira versão, mas que acabou explodindo mesmo pouco tempo depois na voz de Amelinha.
Waldemar, em 1981, em show com
a banda de Zé Ramalho

“Admirável Gado Novo” era outro sucesso aguardando a sua vez de entrar em cena. Lembro-me como se tivesse sido ontem uma noite, em 1978, quando Zé Ramalho bateu no meu quarto de hotel para me mostrar em primeira mão a “Vida de Gado” que tinha acabado de compor. Nós, na época, fazíamos o show de lançamento do primeiro disco em São Paulo e já se pressentia todo o sucesso se aproximando.

“Falas do povo”, uma homenagem a outro conterrâneo famoso, Geraldo Vandré, resumia sua força poética em dois versos simples e diretos do seu refrão: “falo da vida do povo/nada de velho ou de novo”.

A linda “Beira Mar”, que como diz o título, é um “Galope à Beira-Mar”, um dos formatos poéticos mais utilizados pelos cantadores nordestinos, também estava no repertório. Aprendi com meu compadre Zé (sou o orgulhoso padrinho de sua filha caçula, a Linda, outra artista de grande personalidade) todas as regras destes modos poéticos dos repentistas e cantadores: além do “Galope à Beira-Mar”, existem o “Martelo Alagoano”, o “Martelo Agalopado”, entre muitos outros martelos e galopes.

Lembro-me também com clareza – e sei de cor até hoje – um martelo alagoano que escrevi para ele quando estávamos em Porto Alegre em 1981 numa turnê do saudoso Projeto Pixinguinha e ele completava trinta e dois anos de idade. O aluno mostrando para o mestre que aprendeu a lição direitinho. Aí vai:

"Aproveito feliz ocasião
Pra saudar meu amigo Zé Ramalho
Companheiro de vida e de trabalho
Na batalha diária pelo pão.
Como artista é um grande criador
Seja em prosa, em canto ou em verso
É autor de inúmeros sucessos
Na sua voz de moderno cantador.
Lá do Brejo do Cruz paraibano
Caminhou sob as vistas de Avôhai
O seu velho irmão, avô e pai
Que o viu nascer há 32 anos.
Aproveito o vento minuano
Não preciso usar o dicionário
Lhe desejo Feliz Aniversário
Nos dez pés de martelo alagoano”.

Apesar dos quarenta anos de estrada, todas estas lembranças permanecem vivas na minha memória, e o melhor de tudo, a amizade continua a mesma. No ano passado, quando foi lançada uma regravação de todo este repertório com “apenas” a voz de Zé Ramalho e o seu firme violão, recebi na dedicatória que ele escreveu para mim: “Para o Mazinho, com quarenta anos de música e amizade”.

Além de tudo, este ano de 2019 comemora os setenta anos de vida deste cantador, deste grande artista e compositor, do meu compadre Zé Ramalho.


Vida longa e próspera, Compadre!


W A L D E M A R   F A L C Ã O

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FAIXAS:
1. A Peleja do Diabo Com o Dono do Céu - 04:24
2. Admirável Gado Novo - 04:53
3. Falas do Povo - 04:11
4. Beira-Mar - 03:54
5. Garoto de Aluguel (Taxi Boy) - 03:03
6. Pelo Vinho e pelo Pão - 03:19
7. Mote das Amplidões - 03:57
8. Jardim das Acácias - 05:10
9. Agônico - 01:43
10. Frevo Mulher - 03:38
11. Admirável Gado Novo (instrumental) - 4:49*
12. Mr Tambourine Man - 2:26* (Bob Dylan)
13. Hino Amizade - 3:06*
14. O Desafio do Século - 3:41*
* Faixas-bônus da reedição de 2003
Todas as composições de autoria de Zé Ramalho, exceto indicada

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OUÇA O DISCO:
Zé Ramalho - "A Peleja do Diabo com o Dono do Céu"

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Waldemar Falcão é músico, astrólogo e escritor. Atua como músico, compositor e produtor musical desde 1975. De 1978 a 1982, fez parte da banda do cantor e compositor Zé Ramalho, excursionando por todo o Brasil como flautista, vocalista e percussionista. Trabalhou como produtor  e engenheiro de som de músicos como Steve Hackett e Moraes Moreira. Em 1985, durante o primeiro Rock in Rio, foi assessor artístico de Nina Hagen e James Taylor. Astrólogo profissional desde 1987, foi membro fundador do Sindicato de Astrólogos do Rio de Janeiro (SINARJ) e do Conselho Deliberativo da Central Nacional de Astrologia (CNA). Tem quatro livros publicados: "Encontros com Médiuns Notáveis", "O Deus de cada Um", " Conversa sobre a Fé e a Ciência" com Marcelo Gleiser e Frei Betto, e "A História da Astrologia para quem Tem Pressa".