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quinta-feira, 16 de março de 2023

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS Especial 15 anos do ClyBlog - Jards Macalé - "Real Grandeza - Parcerias com Waly Salomão" (2005)



Para lembrar: Jards Macalé - 80 anos
Vale a pena ser poeta?

por Márcio Pinheiro

Em parceria com Waly Salomão, ele subverteu a dor de cotovelo e a cornitude, dando uma nova dimensão à fossa e lançando as bases para a morbeza romântica

Nascido no terceiro dia do Carnaval de 1943, Macalé – filho de um militar com uma dona de casa, atravessou um amplo aprendizado teórico, iniciado no violão clássico e consolidado nos conjuntos de bossa nova e no nascimento do tropicalismo. Em 1969, assustou público e júri de um Festival da Canção com seu berro que anunciava haver um morcego na porta principal. Os tempos não eram de piadas e de sustos forçados. Macalé recebeu uma vaia estrondosa. Recuperou-se, mas nunca mais conseguiu se livrar do rótulo de maldito.

As bases da morbeza romântica se estruturavam na dor de cotovelo, na cornitude – como explicou Augusto de Campos –, e nas composições de Nelson Cavaquinho e de Lupicínio Rodrigues – ou “Lupicínico” como era definido por Macalé e Waly. Era uma espécie de fossa traduzida pelo tropicalismo. Um estilo que não perdia a ironia, a capacidade de rir de si mesmo, como comprova o título do disco – Real Grandeza é uma rua no bairro de Botafogo onde se localiza um dos mais conhecidos cemitérios do Rio.

Há duas maravilhas inéditas no CD. "Berceuse Criolle", com Maria Bethânia acompanhada por um trio violão-piano-cello. A outra é "Olho de Lince", em que a voz gravada de Waly entoa versos que servem como uma continuação de "Anjo Exterminado". Se na música dos anos 70, vigiado pela ditadura, Waly falava em“Fecho janelas sobre a Guanabara/Já não penso mais em nada/Meu olhar vara vasculha a madrugada”, anos depois, em tempos de abertura, o poeta grita: “Quando quero saber o que ocorre à minha volta/Ligo a tomada abro a janela escancaro a porta/Experimento tudo nunca me iludo”.

Outro hino daqueles tempos de sufoco, "Vapor Barato", gravado pela primeira vez por Gal Costa, ganha uma versão renovada com um arranjo eletrônico pesado do Vulgue Tostoi com Marcelo H (voz e programações), Junior Tostoi (craviola elétrica, craviola elétrica com arco, baixo, programações e edições) e Rodrigo Campello (cordas virtuais, programações, edições). Só com seu violão, Macalé interpreta "Rua Real Grandeza", e, acompanhado pelo piano de Cristóvão Bastos, recupera o bolero "Senhor dos Sábados".

Como a parceria era prolífica também em amizades, "Real Grandeza" serve ainda como encontro musical. Estão lá Luiz Melodia em "Negra Melodia", reggae com pitadas de samba que tem ainda a participação de Kassin, Pedro Sá e Domenico e do veterano conjunto vocal As Gatas, Adriana Calcanhotto na já citada "Anjo Exterminado" e Frejat em "Mal Secreto", aquela que fala em um dos lemas da dupla: “Não preciso de gente que me oriente”.

vídeo de "Mal Secreto", com Jards Macalé e Frejat


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FAIXAS

1 - "Olho de Lince" - Participação: Waly Salomão - 4:22
2 - "Rua Real Grandeza" - 3:09
3 - "Senhor dos Sábados" - 3:06
4 - "Anjo Exterminado" Participação: Adriana Calcanhotto - 3:15
5 - "Dona de Castelo" - 3: 27
6 - "Vapor Barato" - Participação: Marcelo H - 4:32
7 - "Mal Secreto" - Participação: Frejat - 3:47
8 - "Negra Melodia" - Participação: Luiz Melodia - 4:19
9 - "Revendo Amigos" - 4:51
10 - "Berceuse Crioulle" - Participação: Maria Bethânia - 3:19
11 - "Pontos de Luz - Participação: As Gatas - 2:34

Todas as composições de autoria de Jards Macalé e Waly Salomão

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OUÇA O DISCO:

terça-feira, 14 de abril de 2015

Cazuza - "O Tempo Não Pára* " (1988)





"Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta

A tua piscina tá cheia de ratos,
Tuas ideias não correspondem aos fatos
O tempo não para."
Cazuza
("O Tempo Não Para")




O testamento musical de um dos maiores poetas da música brasileira. Em “O Tempo Não Pára”*, Cazuza, deixa seus últimos legados, recados, mensagens e desejos num dos grandes álbuns ao vivo da discografia nacional. Vitimado pela AIDS e já bastante debilitado, Cazuza, em 1988, ainda subia ao palco para shows e durante a turnê, em shows realizados no Canecão, no Rio de Janeiro, fazia o registro definitivo de sua obra musical e sua passagem pelo mundo.
O repertório, considerando-se as circunstâncias e condições de saúde do artista, é irrepreensivel e muito oportuno, assumindo a iminente morte mas, diante dela, tentando transmitir o máximo de 'lições de vida”, por assim dizer. “Vida Louca Vida”, de Lobão, ganha, na excepcional interpretação de Cazuza, muito mais significado do que jamais teve até então, soando quase que como uma despedida ácida e ao mesmo tempo "leve, leve, leve", como o cantor faz no final da música, jogando com a leveza e o verbo levar; “Boas Novas”, que a segue, convoca à vida, encara a morte e a chama pra briga “Senhoras e senhores/ Trago boas-novas/ Eu vi a cara da morte e ela estava viva/ Viva!”. O pessimismo de “Ideologia” faz mais sentido do que nunca naquele momento, mas chega a emocionar quando Cazuza dá ênfase à palavra “viver”, repetindo como se a saboreasse ao final do verso.
O tom de despedida dá lugar a um clima mais romântico com duas baladas: “Todo Amor que Houver Nessa Vida”, canção ainda do tempo do Barão Vermelho consagrada por Caetano Veloso no álbum ao vivo “Totalmente Demais”, e que ganha um tratamento mais blues na versão do próprio compositor; e “Codinome Beija-Flor”, uma das mais representativas do estilo letrístico de Cazuza.
Intensa, forte, dramática e impactante, a faixa que tem o nome do disco parece ansiar por poder conter todos os últimos recados urgentes do artista. Como diz na letra, como uma “metralhadora cheia de mágoas”, ele dispara para contra hipocrisia, preconceito, ganância, estagnação, conformismo, e em mais uma das 'despedidas' do disco, se eterniza definitivamente no panteão de grandes artistas brasileiros. “O Tempo Não Para” ao mesmo tempo que destila uma inevitável decepção e descrença pelo mundo, pela arte, pelas pessoas, carrega consigo uma ponta de esperança e otimismo que é indesmentível seu próprio nome que nos encoraja e convoca a tomar alguma atitude.
No blues “Só As Mães São Felizes”, com sua incestuosa sugestão à The Doors, Cazuza também parece nos convidar a viver intensamente até o limite, ter experiências ruins e notar nas coisas que nunca olhamos antes enquanto ainda está em tempo.
As boas “O Nosso Amor a Gente Inventa” e “Exagerado” encaminham o final de maneira agradável com dois hits pop, e o disco encerra com o clássico "meio bossa-nova e rock'n roll", “Faz Parte do Meu Show”, escolha não menos feliz porque, no fim das contas, não somente aquelas canções ali fizeram parte daquele espetáculo, mas tudo aquilo, todo o repertório, toda a poesia, foi o que fizeram a vida de Cazuza e, se ele teve um vida louca, decepções ideológicas, desilusões amorosas, exageros, tudo isso fazia parte do show.
Cazuza ainda lançaria, no ano seguinte, mais um álbum, "Burguesia", bastante irregular, em parte pelas limitações físicas e vocais que apresentava, já num estágio bastante avançado da doença, mas, mesmo já enfraquecido, abatido, desfigurado, em “O Tempo Não Pára” talvez tenha conseguido produzir seu álbum definitivo, um daqueles discos que transcendem a mera condição de registro fonográfico e transforma-se quase em lenda. No seu caso específico, além do significativo fato de ser o último documento do artista diante do público e ainda na condição em que se apresentava, por tudo o que tenta comunicar e transmitir, pode ser considerado o mais perfeito epitáfio que o próprio artista poderia ter escrito para si próprio. 
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FAIXAS:
1. "Vida Louca Vida" - Vilhena, Lobão (4:19)
2. "Boas Novas" - Cazuza (2:46)
3. "Ideologia" - Frejat, Cazuza (4:12)
4. "Todo Amor que Houver Nessa Vida" - Frejat, Cazuza (2:49)
5. "Codinome Beija-Flor" - Reinaldo Arias, Cazuza, Ezequiel Neves (2:55)
6. "O Tempo não Para" - Arnaldo Brandão, Cazuza (4:37)
7. "Só as Mães São Felizes" - Cazuza, Frejat  (3:48)
8. "O Nosso Amor a Gente Inventa" - Meanda, Cazuza, Rebouças (3:35)
9. "Exagerado" - Cazuza, Neves, Leoni (4:29)
10. "Faz Parte do Meu Show" - Ladeira, Cazuza (3:50)


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Ouça;

* O álbum foi lançado antes da nova reforma ortográfica que exclui o acento de "pára" , no entanto
mantivemos a grafia antiga na publicaçãode modo a preservar o título original.


Cly Reis   



terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Flávio Basso, 1968 - 2015

À memória de Flávio Basso
por Fabrício Silveira
                                    
Flávio Basso, há duas semanas no Panama Studio Pub
foto: Clarissa Daneluz
Ainda posso me lembrar da cor do dia, uma clara manhã de sol estourado no inverno de Porto Alegre. Não era sequer 8h. Flávio Basso estava sentado, sozinho, à mesa de um bar fuleiro na Lima e Silva. Era um daqueles bares que recebem os notívagos radicais, os insones, os madrugadores profissionais e os perdidos da noite anterior. Ele tomava uma xícara de café. Reparei que estava concentradíssimo naquilo que ouvia em seu walkman. Foi a primeira vez que o avistei, enquanto me dirigia, apressado, para algum compromisso na Universidade Federal. Hoje, 20 depois, onde havia o bar, há uma academia de ginástica.

Produziu-se, nos últimos anos, um culto mórbido em torno de Júpiter Maçã – tal como Basso, recém-falecido, tornou-se popular. Vê-lo apresentar-se bêbado, trôpego, quase inconsciente, virou esporte radical de uma certa juventude burguesa, autocentrada, sem capacidade real de empatia. Produziu-se, para alguns, um atrativo bizarro, o gozo regulado de uma desgraça alheia. O fã disfarçando-se de abutre. Pior do que isto, sempre me pareceu, era a condenação moral, a desaprovação de sua suposta “decadência” com base nos valores do “profissionalismo”, dos “bons tempos” ou do “respeito à própria obra”. O fã disfarçado então de crítico hipócrita. O que matou Flávio Basso foi tentar se equilibrar entre estes dois extremos: abutres e hipócritas.

Sempre tive a impressão de que Júpiter nos colocava permanentemente em xeque, com a exuberância de seu talento, com sua imprevisibilidade, seu nonsense desbocado. Era como se estivesse nos cobrando, de algum modo, amor e reconhecimento incondicionais. Com certeza, já me senti constrangido e abalado diante de algumas de suas vexatórias performances ao vivo (assim como também já me senti recompensado e extasiante, em seus momentos de gênio e plenitude). Mas quero crer que, para um artista como ele, estes abalos, estas pequenas decepções – o próprio alcoolismo – eram coisa mundana, eram detalhes miúdos, coisas que vêm e vão. Ele não cabia, de fato, nisto. Isto não falava sobre ele, verdadeiramente.

De resto, a morte irá libertar Flávio Basso do “rock gaúcho”. Ele será celebrado como um dos mais importantes músicos do Brasil. Será saudado como um dos principais representantes da psicodelia nacional.

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Duas semanas atrás, Júpiter Maçã apresentou-se no Panamá Studio Pub, na Cidade Baixa, perto de onde eu moro. Não poderia deixar de vê-lo, mais uma vez. Ao final do show, disse-lhe que havia sido publicado, no México, há poucos meses, um livro sobre rock e cidades na América Latina. Disse-lhe que eu havia escrito um capítulo, falando justamente sobre o trabalho dele e sobre sua relação com Porto Alegre. Júpiter resmungou alguma coisa, mostrou-se espantado, agradecido e pediu para ver o livro. Disse-lhe que mandaria um exemplar, assim que pudesse.




Nem Flávio, nem Júpiter, nem Apple, nem Maçã

Por andei nesse mundo eu sempre comentei as pessoas que existia sim um Rock de expressão sul americano. Para mim o gênero teve muitas vertentes importantes; a primeira delas o icônico Rock Argentino, aquele de Charly, Espinetta, Nebbia, Vírus, Soda, Sui Generis, Pappo e por ai vai. Depois deles, o rock brasileiro com seus MutantesSecos e Molhados, a turma de Brasília esculpida a la Renato Russo e sua legião. O Barão de Cazuza e Frejat. Os Titãs de Cabeça de Dinossauro, os Paralamas de Hebert, Bi e Barone. Cara! E tantos outros que não caberia aqui.

Mas no sul do Brasil, a 500 km do Uruguai – que também figura com um rock não tão expressivo quanto o argentino, mas de grande amplitude artística –, ali surgiu o Rock Gaúcho (leva acento). O mais original desse país a meu ver. Talvez não o melhor ou mais politizado, mas foi o mais visceral e "sujo" ao estilo punk inglês. Flávio Basso e cia. foram a vanguarda de um movimento que hoje não existe mais. Não, esse movimento não queria tocar rock de protesto ou agradar tanto quem os ouvia. Estes caras queriam abominar a caretice, dizer menstruada em horário nobre de TV, bater uma punhetinha de verão e depois ir todos para um lugar do caralho chutar o gato preto.

Quanto a Flávio Basso, ele já não era mais Flávio, foi Júpiter, era Apple, maçã e tanta coisa que talvez tenha se perdido em seu way of life outsider. Sem ele o rock do sul fica sem pai, até meio sem vida. Não, ele não virou anjo, nem foi um mito na Terra. Ele apenas é e foi o tal do Rock Gaúcho.



Flávio Basso
1968 - 2015



quinta-feira, 10 de junho de 2021

Protagonistas coadjuvantes

Michael dando um confere bem de perto no que seu
mestre Stevie Wonder faz em estúdio, nos anos 70
Não é incomum artistas da música que, mesmo sendo astros, têm por hábito participarem de projetos de outros, seja tocando em gravações, shows ou como convidados. George Harrison, por exemplo, muito tocou sua slide guitar em discos dos amigos John Lennon e Ringo Starr. Eric Clapton, igualmente, além da carreira solo e de bandas próprias como Cream e Yardbirds, também emprestou sua guitarra para Beatles, Yoko Ono, Tina Turner, Phil Collins e vários outros. Como eles, diversos: Brian Eno, Robert Wyatt, Flea, Eddie Van Halen ou brasileiros como Herbert Vianna, Gilberto Gil, Frejat e João Donato. Todos comumente contribuem com seus instrumentos e/ou voz na música que não somente a deles próprios.

Há também aqueles que dificilmente se supõe que fariam algo fora de seus trabalhos pelos quais são mais conhecidos. Mas vasculhando com atenção as fichas técnicas dos discos, acha-se. Vez ou outra se encontra um artista que geralmente é visto apenas como protagonista atuando, deliberadamente, como um coadjuvante. E não estamos nos referindo àqueles principiantes que, posteriormente, tornar-se-iam ilustres, caso de Buddy Guy em “Folk Singer”, de Muddy Waters, de 1959, na primeira gravação do jovem Guy, então com 18 anos, com o veterano bluesman, ou Jimi Hendrix nas gravações de 1964 com a Isley Brothers anos antes de transformar-se num ícone do rock.

Aqui, referimo-nos àqueles que, já consagrados, abriram mão de seu status em nome de algo que acreditavam seja para um disco, um projeto, uma música ou um show. São momentos em que se vê verdadeiros mitos descerem de seus altares para, humildemente, colaborarem com a música alheia, seja por admiração, amizade, sentimento de dívida ou o que quer que explique. O fato é que esses “protagonistas coadjuvantes”, mesmo que estejam escondidos ou somente encontráveis nas miúdas letras da ficha técnica, abrilhantam com seus talentos peculiares a obra de outros.


Robert Smith para Siouxsie & The Banshees

Os anos 80 foram de inquietude para Robert Smith, líder da The Cure. Sua banda já era uma das mais celebradas do pós-punk britânico em 1983 quando ele, que havia lançado um ano anos o disco único “Blue Sunshine”, da The Glove, projeto em parceria com Steven Severin, decide dar um tempo com o grupo. Mas para quem estava a pleno naquela época, Bob “descansou carregando pedra”, como diz o ditado. Ele decide fazer parte da Siouxsie & The Banshees, banda coirmã da The Cure, mas estritamente como integrante. Com os vocais e o palco já devidamente preenchidos por Siouxsie, Robert assume as guitarras e une-se a Severin (baixo) e Budgie (bateria) para compor a melhor formação que a Siouxsie & The Banshees já teve. Não deu outra: dois discos, duas pérolas, para muitos os melhores da banda: “Hyenna” e o ao vivo “Nocturne”




Miles Davis
para Cannonball Adderley
Mais do que na música pop, é comum no jazz grandes astros e band leaders tocarem na banda de colegas. Isso não funciona, entretanto, para Miles Davis. O talvez mais exclusivo músico do jazz havia tocado no início da carreira para Sarah Vaughan, mas depois jamais fez nada que não fosse tão-somente seu. Até que, com jeitinho, em 1958, o amigo Cannonball Adderley convida-o para participar das gravações de um disco que ele estava por lançar e no qual teria ainda Art Blakey, na bateria, Hank Jones, no piano, e Sam Jones, no baixo. Uma sessão de gravação apenas, só cinco números, algumas horinhas de estúdio com Rudy Van Gelder na mesa, engenheiro com quem Miles tanto estava acostumado a trabalhar. "Não vai custar nada. Diz, que sim, diz que sim!" Tanto foi, que Miles topou, e saiu "Somethin' Else", aquele que é o disco que antecipa a obra-prima “Kind of Blue”, em que, reassumido o posto de front man, aí é Miles que conta com o parceiro saxofonista na banda. Tudo de volta ao normal.


Paul McCartney para Foo Fighters
É conhecida a versatilidade de Paul McCartney. Multi-instrumentista, ele é capaz de tocar, em apenas um show, vários instrumentos ou gravar um disco inteirinho sozinho sem precisar de mais ninguém no estúdio. Quem também fez isso foi Dave Grohl, líder da Foo Fighters, que, no álbum de estreia da banda, em 1995, toca não apenas a bateria, que era seu instrumento na Nirvana, como todos os outros. A amizade e talvez essa semelhança tenham feito com que chamasse o eterno beatle para uma empreitada 12 anos depois. Fã de Macca, ele convidou o veterano músico para gravar para ele não a guitarra, o piano ou a voz. Isso, muita gente já havia feito. Ele pediu para Paul tocar justamente bateria. A “brincadeira” deu super certo, como se vê na canção "Sunday Rain" presente no disco "Concrete And Gold".


Michael Jackson para Stevie Wonder
É uma música apenas, mas considerando o tamanho deste “coadjuvante”, vale por um disco inteiro. A linda e melodiosa “All I Do”, que Stevie Wonder gravaria em seu “Hotter than July”, de 1980, conta com ninguém menos que Michael Jackson nos vocais. E não se trata da voz principal, e sim do backing vocals! Surpreende ainda mais que o Rei do Pop já havia lançado à época o megassucesso “Off the Wall”, de um ano antes, com o qual revolucionaria a música pop e que quebrara os paradigmas de vendas da música negra no mundo. Mas a devoção de Michael para com Stevie era tamanha, que ele nem se importou em fazer um papel secundário. Para quem era conhecido pela habilidade de canto e arranjos de voz, no entanto, o que seria uma mera participação contribui sobremaneira para a beleza melódica da canção.



David Bowie
 para Iggy Pop
Em meados dos anos 70, Iggy Pop e David Bowie estavam bastante próximos. Bowie havia chamado o amigo para uma temporada em Berlim, na Alemanha, onde desfrutariam do moderno estúdio Hansa para erigir alguns projetos, dentre estes, “The Idiot”, no qual dividem todas as autorias e gravações. O período foi tão fértil, que rendeu também uma turnê, registrada no álbum ao vivo “TV Eye Live 1977". Acontece que, no palco, não dá para apenas os dois se resolverem com os instrumentos. Foi então que chamaram os Sales Brothers para o baixo e bateria, Ricky Gardiner, para a guitarra, e... quem assumiria os teclados? Ah, chama aquele cara ali que tá de bobeira. O próprio David Bowie. Quando se escuta as versões ao vivo de “Lust for Life”, “I Wanna Be Your Dog” e “Funtime”, acreditem: os teclados que se ouvem são do Camaleão do Rock. 



Phlip Glass
 para Polyrock
O cara já tinha composto de um tudo: ópera, concerto, sinfonia, madrigal, trilha sonora, sonata, estudos. Faltava uma coisa: música pop. Próximo do músico e produtor Kurt Monkacsi, o gênio da vanguarda californiana Philip Glass “apadrinhou” junto com este a new wave art rock Polyrock. Dizem nos bastidores, que o cérebro da banda é Glass e não só os irmãos Billy e Tommy Robertson tamanha é a identificação com a música minimalista do autor de "Einsten on the Beach". Seja por grandeza, timidez ou algum problema legal, o fato é que isso não consta nos créditos. O que consta, sim, é a participação do maestro tocando piano e teclados nos dois discos do grupo, “Polyrock”, de 1980, e “Changing Hearts”, de um ano depois, no qual, inclusive, assina oficialmente o arranjo de cordas da faixa-título. Daqueles raros momentos em que a música de vanguarda se encontra com o rock.





João Gilberto para Rita Lee
Se hoje a participação de João Gilberto tocando violão para Elizeth Cardoso em duas faixas de “Canção do Amor Demais”, de 1958, é considerado o pontapé inicial para o movimento da bossa nova, àquela época o gênio baiano era apenas um músico iniciante ao qual não se havia ouvido ainda toda sua arquitetura sonora de instrumento, voz e harmonia. 24 anos depois, já um mito, João dificilmente repetia uma ação como aquela do passado. Quisessem tocar com ele, ele que convidava. Exceção feita nos anos 80 para sua então esposa, Miúcha (e somente o violão), mas especialmente para Rita Lee. Admirador confesso da Rainha do Rock Brasileiro, João topou o convite de gravar ele, seu violão e sua atmosfera única a faixa “Brasil com S”, do disco “Rita Lee & Roberto de Carvalho”, autoria dos dois. Pode-se dizer que, como todo o cancioneiro de João, é mais uma obra-prima, porém a única em que põe sua voz à serviço de um outro artista fora da sua discografia. Privilégio.


Daniel Rodrigues