Então resolvi sentar e finalmente escrever sobre um grupo que simplesmente revolucionou a
história do rap hip-hop moderno.
O N.W.A. foi simplesmente, na minha opinião, um marco zero entre o velho e o novo
movimento hip-hop. Os caras trouxeram uma visão urbana direto dos guetos para nossa casa,
tipo o que os Racionais fizeram aqui no Brasil nos anos 90.
Na contramão dos rappers tradicionais como Kool Moe Dee, Grandmaster Flash, Afrika Bambaataa, os garotos de Compton, Califórnia, trouxeram para as ruas um discurso afiado
cheio de gírias e muita raiva, causando uma verdadeira revolução por onde passavam. Aos gritos
de "Fuck tha Police" e outros hinos como "Straigth outta Compton" e "Real Niggaz", criaram um estilo agressivo e diferente tanto no ritmo das batidas criadas pelo monstro Dr. Dre, quanto nas
rimas de Ice Cube e Eazy-E, fazendo o planeta vestir, ouvir e swer N.W.A.
E nesse ÁLBUNS FUNDAMENTAIS falo desse disco, "Straight Outta Compton",que acredito
que todos devam ter em casa!
Esse disco, em especial, é um marco histórico criado por esses monstros que até hoje seguem
fazendo rap de verdade pelo mundo!
* Para saber um pouco mais sobre o grupo, uma boa pedida é dar uma conferida no ótimo filme que leva o nome deste álbum, "Straight Outta Compton", indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original que conta a trajetória da banda com total credibilidade, até por contar, não somente com o aval, mas também com a produção dos ex-integrantes Dr. Dre e Ice Cube.
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FAIXAS: 1. Straight Outta Compton (4:18) 2. Fuck Tha Police (5:46) 3. Gangsta Gangsta (5:36) 4. If It Ain't Ruff (3:34) 5. Parental Discretion Iz Advised (5:15) 6. 8 Ball (Remix) (4:52) 7. Something Like That (3:35) 8. Express Yourself (4:25) 9. Compton's N The House (Remix) (5:20) 10. I Ain't Tha 1 (4:54) 11. Dopeman (Remix) (5:20) 12. Quiet On Tha Set (3:59) 13. Something 2 Dance 2 (3:22)
Para não deixar passar em brancas nuvens: agradabilíssima surpresa o filme "Straight Outta Compton, a História do N.W.A". O filme, produzido por Dr. Dre, Ice Cube e pela viúva de Eazy-E (os criadores do N.W.A, ao lado de DJ Yella e MC Ren) estreou em agosto nos Estados Unidos e tá indo tri bem em crítica e bilheteria.
A história dos precursores do "gangsta rap" norte-americano é contada de maneira envolvente, sem muitos clichês e com atuações muito consistentes – especialmente a do filho do Ice Cube, que interpreta o próprio pai, e do sempre bom Paul Giamatti, que faz o empresário da banda. Mesmo quem não é chegado na música pode assistir, pois o filme traz um belo retrato e contexto da época, com as sempre pertinentes questões envolvendo a relação polícia x nigazz.
Confesso que faltou um espaço, ainda que mínimo, para apresentar Run-DMC e Body Count – outras duas bandas que revolucionaram essa "cena black" no fim dos 80 e começo dos 90 –, mas as breves menções ao surgimento de 2Pac e de Snoop Dogg são muito bacanas, lembrando um pouco os Rolling Stones gravando na Chess Records, assistidos por Muddy Waters, no genial “Cadillac Records”. F*&;#k tha Police!
Os atores que interpretaram a banda
precursora do gangsta rap, o N.W.A.
Ôpa, fazia tempo que não aparecíamos com listas por aqui! Em parte por desatualização deste blogueiro mesmo, mas por outro lado também por não aparecem muitas listagens dignas de destaque.
Esta, em questão, por sua vez, é bem curiosa e sempre me fez pensar no assunto: quais aquelas bandas/artistas que já 'chegaram-chegando', destruindo, metendo o pé na porta, ditando as tendências, mudando a história? Ah, tem muitos e alguns admiráveis, e a maior parte dos que eu consideraria estão contemplados nessa lista promovida pela revista Rolling Stone, embora o meu favorito no quesito "1º Álbum", o primeiro do The Smiths ('The Smiths", 1984), esteja muito mal colocado e alguns bem fraquinhos estejam lá nas cabeças. Mas....
Segue abaixo a lista da Rolling Stone, veja se os seus favoritos estão aí:
Os 5 primeiros da
lista da RS
01 Beastie Boys - Licensed to Ill (1986) 02 The Ramones - The Ramones (1976) 03 The Jimi Hendrix Experience - Are You Experienced (1967) 04 Guns N’ Roses - Appetite for Destruction (1987) 05 The Velvet Underground - The Velvet Underground and Nico (1967) 06 N.W.A. - Straight Outta Compton (1988) 07 Sex Pistols - Never Mind the Bollocks (1977) 08 The Strokes - Is This It (2001) 09 The Band - Music From Big Pink (1968) 10 Patti Smith - Horses (1975) 11 Nas - Illmatic (1994) 12 The Clash - The Clash (1979) 13 The Pretenders - Pretenders (1980) 14 Jay-Z - Roc-A-Fella (1996) 15 Arcade Fire - Funeral (2004) 16 The Cars - The Cars (1978) 17 The Beatles - Please Please Me (1963) 18 R.E.M. - Murmur (1983) 19 Kanye West - The College Dropout (2004) 20 Joy Division - Unknown Pleasures (1979) 21 Elvis Costello - My Aim is True (1977) 22 Violent Femmes - Violent Femmes (1983) 23 The Notorious B.I.G. - Ready to Die (1994) 24 Vampire Weekend - Vampire Weekend (2008) 25 Pavement - Slanted and Enchanted (1992) 26 Run-D.M.C. - Run-D.M.C. (1984) 27 Van Halen - Van Halen (1978) 28 The B-52’s - The B-52’s (1979) 29 Wu-Tang Clan - Enter the Wu-Tang (36 Chambers) (1993) 30 Arctic Monkeys - Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not (2006) 31 Portishead - Dummy (1994) 32 De La Soul - Three Feet High and Rising (1989) 33 The Killers - Hot Fuss (2004) 34 The Doors - The Doors (1967) 35 Weezer - Weezer (1994) 36 The Postal Service - Give Up (2003) 37 Bruce Springsteen - Greetings From Asbury, Park N.J. (1973) 38 The Police - Outlandos d’Amour (1978) 39 Lynyrd Skynyrd - (Pronounced ‘Leh-‘nérd ‘Skin-‘nérd) (1973) 40 Television - Marquee Moon (1977) 41 Boston - Boston (1976) 42 Oasis - Definitely Maybe (1994) 43 Jeff Buckley - Grace (1994) 44 Black Sabbath - Black Sabbath (1970) 45 The Jesus & Mary Chain - Psychocandy (1985) 46 Pearl Jam - Ten (1991) 47 Pink Floyd - Piper At the Gates of Dawn (1967) 48 Modern Lovers - Modern Lovers (1976) 49 Franz Ferdinand - Franz Ferdinand (2004) 50 X - Los Angeles (1980) 51 The Smiths - The Smiths (1984) 52 U2 - Boy (1980) 53 New York Dolls - New York Dolls (1973) 54 Metallica - Kill ‘Em All (1983) 55 Missy Elliott - Supa Dupa Fly (1997) 56 Bon Iver - For Emma, Forever Ago (2008) 57 MGMT - Oracular Spectacular (2008) 58 Nine Inch Nails - Pretty Hate Machine (1989) 59 Yeah Yeah Yeahs - Fever to Tell (2003) 60 Fiona Apple - Tidal (1996) 61 The Libertines - Up the Bracket (2002) 62 Roxy Music - Roxy Music (1972) 63 Cyndi Lauper - She’s So Unusual (1983) 64 The English Beat - I Just Can’t Stop It (1980) 65 Liz Phair - Exile in Guyville (1993) 66 The Stooges - The Stooges (1969) 67 50 Cent - Get Rich or Die Tryin’ (2003) 68 Talking Heads - Talking Heads: 77’ (1977) 69 Wire - Pink Flag (1977) 70 PJ Harvey - Dry (1992) 71 Mary J. Blige - What’s the 411 (1992) 72 Led Zeppelin - Led Zeppelin (1969) 73 Norah Jones - Come Away with Me (2002) 74 The xx - xx (2009) 75 The Go-Go’s - Beauty and the Beat (1981) 76 Devo - Are We Not Men? We Are Devo! (1978) 77 Drake - Thank Me Later (2010) 78 The Stone Roses - The Stone Roses (1989) 79 Elvis Presley - Elvis Presley (1956) 80 The Byrds - Mr Tambourine Man (1965) 81 Gang of Four - Entertainment! (1979) 82 The Congos - Heart of the Congos (1977) 83 Erik B. and Rakim - Paid in Full (1987) 84 Whitney Houston - Whitney Houston (1985) 85 Rage Against the Machine - Rage Against the Machine (1992) 86 Kendrick Lamar - good kid, m.A.A.d city (2012) 87 The New Pornographers - Mass Romantic (2000) 88 Daft Punk - Homework (1997) 89 Yaz - Upstairs at Eric’s (1982) 90 Big Star - #1 Record (1972) 91 M.I.A. - Arular (2005) 92 Moby Grape - Moby Grape (1967) 93 The Hold Steady - Almost Killed Me (2004) 94 The Who - The Who Sings My Generation (1965) 95 Little Richard - Here’s Little Richard (1957) 96 Madonna - Madonna (1983) 97 DJ Shadow - Endtroducing ... (1996) 98 Joe Jackson - Look Sharp! (1979) 99 The Flying Burrito Brothers - The Gilded Palace of Sin (1969) 100 Lady Gaga - The Ame (2009)
"Rapazes que incorporam estados de anarquia para a excelência interna."
tradução para o significado da palavra "Beastie", originalmente: "Boys Entering Anarchistic States Towards Inner Excellence"
O rap, por sua natureza humilde e marginal, levou certo tempo para se maturar musicalmente. Vindos do gueto, fossem negros ou imigrantes, os primeiros artistas do hip-hop não tinham a menor condição de comprar instrumentos, por isso a ideia genuína de criarem sua música através de colagens de outras já feitas. Um DJ com LPs de vinil, uma mesa amplificada e um MC já bastavam. Uma solução genial, mas que custou um certo atraso de desenvolvimento ao estilo em termos harmônicos e melódicos (isso sem falar nas letras), desde as linhas simplórias, a melodia de voz quaternária e a sonoridade pouco elaborada. Somente em 1988, quando a Public Enemy lança “It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back” com um mês de diferença para “Straight Outta Compton”, da N.W.A., que o rap, finalmente, evolui. Ambas as bandas são as responsáveis por injetar ao gênero variações melódicas diversas, ampliarem-lhe as referências e usarem com criatividade (e sem economia) os samples e scratches, os quais se descobriu poderem ser não apenas um detalhe, mas um elemento da própria melodia ou arranjo.
Os Beastie Boys, se também pegaram no seu começo essa fase ingênua do rap com o aclamado – mas fraco – “Licensed to Ill”, de 1986, por outro lado, evoluíram mais rápido que qualquer outro artista ou banda do gênero, o que talvez seja explicado por sua origem distinta. Brancos e de ascendência judaica, Michael Diamond (Mike D), Adam Yauch (MCA) e Adam Horovitz (Ad-Rock) vinham da cena hardcore, “primo pobre” do estelar mundo pop, e se gozavam de condição social diferente da maioria de seus colegas rappers, tinham no grito punk um fator igualitário. Tanto que, já em “Paul’s Boutique”, de 1989, seu segundo álbum, mostram, não sem certa resistência pela cor da pele clara, esse alto nível de maturidade musical e, a partir dali, não pararam mais de progredir até chegarem a “Check Your Head”, de 1992, inaugurando o que pode ser chamado de rap moderno.
O trio não apenas passa a construir músicas bastante elaboradas, com colagens inteligentes e bem acabadas, como evoluem no modo de cantar, intercalando (ou não) as vozes e no proveito de outros ritmos que não só o funk, como é comum ao rap. Tem o groovea laJames Brown, claro, mas tem jazz, música latina, soul, AOR, psicodelia e... hardcore! Forjados nos pubs alternativos de Nova York, passam a integrar sem constrangimento sua veia punk ao rap. Eles entenderam que haviam chegado onde ninguém jamais havia conseguido. Cientes disso, concebem “Ill Communication”, de 1994, mostrando que ainda era possível dar passos adiante mesmo depois de terem chegado à sua obra-prima 2 anos antes.
Os Beastie Boys abrem “Ill...” com “Sure Shot”, um exemplo claro do art rap que somente anos depois MF Doom atingiria. Big beat, controle total do andamento, variações de ritmo e os samples, diversos, comandados pelo DJ Hurricane e totalmente a serviço da arquitetura sonora. Com esta joia abrem em alto estilo o disco, repetindo o feito de “Check...” com a faixa inaugural “Jimmy James”. Seguros de sua música, eles emendam “Tough Guy”, um hardcore puro, tiro curto, no melhor estilo baixo-guitarra-bateria tal como aprenderam com os ídolos Bad Brains no início dos anos 80. São os rapazes dando a entender que não voltavam depois de seu aclamado trabalho para brincar. Queriam mais.
Como já vinham exercitando desde “Paul’s...”, os Beastie Boys engendram uma música de tamanha plasticidade, que é difícil distinguir o que é sampleado, o que é programação e o que é tocado, resultado o qual devem grandemente ao produtor brasileiro Mário Caldato Jr., peça fundamental para esta virada evolutiva promovida pela banda. Certamente, é por influência de Caldato que as sonoridades brasileiras começaram a aparecer, solidificando-se em “Ill...”. “Shmabala” e “Sabrosa” são provas disso.
Com seu ritmo marcadamente funk, o rap dá o tom, seja na psicodélica "B-Boys Makin' With The Freak Freak", na magnífica “Root Down”, cheia de groove e na qual não dá pra identificar o que é tocado ou sampleado, ou “Get It Together”, rapzão gangsta de dar inveja em muito negrão metido a perigoso. Porém, a variedade de ritmos aparece como em nenhum disco do gênero até então, bem como a pegada hardcore, que entremeia a narrativa desta ópera-rap. É o caso da já citada “Sabrosa”, um funk suingado e de pegada latina – a se ver pelas percussões – e que é um dos sete temas instrumentais de “Ill...”. Também, “The Update”, outra com lances caribenhos e um contrabaixo sampleado de algum jazz muito bem pescado. Mas a química se dá principalmente na clássica “Sabotage”, misto perfeito entre as duas vertentes da banda, o hip-hop e o hardcore, e provavelmente a melhor música da carreira da banda. Hit do álbum, “Sabotage” tem ainda aquele que é considerado não-oficialmente o melhor videoclipe de todos os tempos, em que os integrantes da Beastie Boys, dirigidos pelo cineasta Spike Jonze, vivem um canastrão filme policial B.
O histórico clipe de"Sabotage", de Jonze
Diferencial do disco também são as instrumentais, que adensam esse caráter peculiar de um grupo que achou seu caminho. A psicoldelia de “Bobo On The Corner” casa com o funk pesadão de “Futterman's Rule”, bem como com a arábica “Eugene's Lament” e o jazz fusion de “Ricky's Theme”, clara homenagem ao primeiro produtor da banda, o lendário Rick Rubin.
Evidentemente, não pode faltar nesta “música de plástico” dos Beastie Boys mais rap e mais rock. “All right, scratch right now”, diz a abertura de “Alright Hear This”. É fácil supor que vem um show de scratches e samples, que variam e se entrecortam, tudo sob uma base de baixo acústico (sampledo, tocado?). “The Scoop” e “Bodhisattva Vow” seguem na linha de rap ornado de brilhantes ideias, como um canto gregoriano servindo de base que sacam sabe-se lá de onde, ou “Flute Loop”, cujo nome já indica que se valem do som de uma flauta para o riff – o que executam com precisão, aliás. Em compensação, o hardcore mantém-se presente, caso de “Heart Attack Man”. Mais uma instrumental: assim como “Ricky’s...” com cara de trilha sonora de série de TV, “Transitions”, parceria com Money Mark, vem para fechar um disco de quase 1 hora de duração e 20 faixas, mas que em nenhum momento fica cansativo.
De forma parecida, os Beastie Boys e a Body Count, do também rapperIce-T, promoveram naquele início de anos 90 uma aproximação aparentemente improvável, mas bastante lógica entre rap e punk. Os gêneros, marginais em suas concepções e filosofia, tinham, sim, muito a ver um com outro, mas ninguém ainda havia se dado conta com tamanha perspicácia. No caminho aberto por “Check...”, o trio nova-iorquino consolida em “Ill...” essa revolução na música pop, que muito serviu para quebrar preconceitos, sejam musicais ou raciais mostrando que homens brancos também sabiam enterrar. Afinal, tanto o rap quanto punk sabe que, para se mudar alguma coisa nesse mundo tão desigual, é necessário incorporar uma boa dose de anarquia para a excelência, seja pessoal ou coletiva.