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terça-feira, 22 de abril de 2014

João Bosco - "Galos de Briga" (1976)




Não é o sucesso, é o contrário: é o sufoco mesmo,
é a vontade de cantar e de falar.
Só que de repente isso não foi possível de acontecer a nível popular,
porque a cada dia as pessoas têm mais medo, não têm defesa,
cada vez sabem menos o que está acontecendo.
Aí você vem e começa a cantar umas coisas
que elas gostariam de dizer e cantar.
A razão do sucesso, então, não é bem ele mesmo.
Talvez a razão dele seja o fracasso de todo mundo.”
João Bosco,
em entrevista de 1976
sobre o disco “Galos de Briga”



Este mês de abril de 2014 não ficará marcado apenas pelas vésperas de Copa do Mundo no Brasil (quando se espera dos cidadãos, sem querer pedir muito, civilidade) ou pelas celebrações de 222 anos pela memória do “patrono cívico” brasileiro, Tiradentes, mas, também, por outra data de importância patriótica menos feliz, porém necessariamente rememorável: os 50 anos do começo da Ditadura Militar, em 1º de abril de 1964. Diante de tantas manifestações contra a realização da Copa, de mais um feriado que não se acessa o verdadeiro motivo da paralisação nacional e de tantas controvérsias em razão dos arquivos ainda velados dos porões da ditadura, o que seria capaz de unir de alguma forma futebol, liberdade civil e política, representando essas três datas distantes cronologicamente, mas próximas em simbologia?

Um disco que une esses três polos como nenhum outro é “Galos de Briga”, terceiro da carreira de João Bosco. Gravado em 1976 pela RCA Victor, este sucesso de público e crítica à época é fruto, curiosamente, de um momento de alta ebulição no Brasil: enquanto Geisel iniciava seu governo anunciando uma “abertura lenta e gradual”, o AI-5 inda vigorava e barbaridades aos direitos humanos ainda ocorriam em todos os cantos do País. A Lei Falcão punha uma mordaça na oposição política; a estilista e mãe de guerrilheiro Zuzu Angel, pedra no sapato dos militares, morria num ainda inexplicado acidente de carro no mesmo fatídico abril; meses antes, o jornalista Vladmir Herzog era assassinado dentro do DOI-CODI. Torturas tomavam os porões do DOPS e pessoas desapareciam sem praticamente ninguém saber. Porém, a resistência se mostrava forte: o rabino Henry Sobel e Dom Evaristo Arns comandam a missa ecumênica em nome de Vlado na Praça da Sé, reunindo milhares de pessoas que, sob o olhar e a mira dos policiais, rezam silenciosamente; Ulysses Guimarães fundava a OPB, Ordem dos Parlamentares do Brasil, associação sem vínculos partidários, religiosos ou sociais que representava a luta pela abertura política; o PCdoB, esfacelado na Guerrilha do Araguaia, voltava a se reorganizar através das lideranças estudantis. O Brasil estava pegando fogo, e a classe artística, obviamente, ansiava por se manifestar, por resistir de alguma forma.

Eis então que, no início dos anos 70, através do meio universitário, se dá o encontro de João Bosco com Aldir Blanc. João, um mineiro que virou carioca, mas que nunca perdeu a vastidão poética de Minas Gerais dentro de si. Aldir Blanc, típico poeta maldito da Rio de Janeiro carnavalesca e vadia, do fervor pelo futebol e pela militância política. A fusão dessas duas forças artísticas foi explosiva, e eles criam com “Galos de Briga” uma obra que é tapa contundente na cara do regime em mensagens inteligentes aos milicos e aos mantenedores do sistema. Com crítica social, combatividade e um posicionamento de esquerda visível, o álbum só podia ter este título, uma vez que, como animais de rinha, eles vão para o enfrentamento com as armas que têm: os sons e a palavra.

Exímio violonista e compositor, amante de Clementina de Jesus, dos mitos da Rádio Nacional, de sambas antigos, de João Gilberto e do populacho das rádios AM, João consegue criar desde boleros emanados dos puteiros do baixo meretrício da Lapa até sambas gingados, passando por ritmos portugueses e marchas da antiga. Isso, aliado à poesia afiada de Aldir. É esse arsenal rítmico e melódico que “Galos de Briga” traz, como uma dupla de atacantes habilidosos que tiram da cartola jogadas inesperadas. O clássico samba "Incompatibilidade de Gênios" dá o pontapé inicial com seu humor ácido, já pontuando a crítica social de um país que persegue e mata seus filhos enquanto, dentro dos lares, a violência e a incompreensão reinam. A referência ao futebol, tanto como paixão do brasileiro como fuga da realidade, já aparece no primeiro verso na rusga entre marido e mulher: “Dotô, jogava o Flamengo, eu queria escutar/ Chegou, mudou de estação, começou a cantá...” Na mesma linha, porém ainda mais aguda, “Gol Anulado” usa o futebol de forma metafórica para expressar a mesma incompatibilidade entre amor e o momento político de dureza e opressão, o que, numa sociedade ignorante, machista e inculta, desemboca na válvula de escape, o futebol. É o caso do marido que espanca a mulher por que ela mentia ser vascaína como ele, mas, na verdade, torcia pelo rival Flamengo. “Quando você gritou Mengo/ No segundo gol do Zico/ Tirei sem pensar o cinto/ E bati até cansar...” E desfecha, reforçando esse simbolismo maléfico que o entretenimento futebol desgraçadamente pode ter: “Eu aprendi que a alegria/ De quem está apaixonado/ É como a falsa euforia/ De um gol anulado”.

De igual potência crítica, “O Cavaleiro e os Moinhos”, das canções imortalizadas na voz de Elis Regina (lançadora de João e Aldir em 1972, ao gravar-lhes o hit “Bala com Bala”), inicia com um provocador ritmo de marcha militar sob os versos: “Arrebentar/ a corrente que envolve o amanhã/ Despertar as espadas/ Varrer as esfinges das encruzilhadas...”. De repente, o clima marcial se transforma numa debochada rumba! E a letra, pontuda como um bico de galo, continua atacando: “Todo esse tempo/ foi igual a dormir num navio/ sem fazer movimento/ mas tecendo o fio da água e do vento/ Eu, baderneiro/ me tornei cavaleiro/ malandramente/ pelos caminhos”. E, exaltando os diversos grupos da guerrilha armada, finaliza referenciando Cervantes: “Meu companheiro/ tá armado até os dentes/ já não há mais moinhos/ como os de antigamente”. Afinal, numa época como aquela, quem era o “louco Quixote” e quem era o “moinho”?

O suingue caribenho reaparece na gostosa “Rumbando”, assim como o bolero nas não menos deliciosas “Latin Lover” (já gravada por Simone um ano antes) e “Miss Suéter”, o antigo certame que destacava as jovens que apresentavam os bustos, digamos, mais avantajados. Aldir penetra no universo brega de forma engraçada e crônica (“Eu conheço uma assim/ Uma dessas mulheres/ Que um homem não esquece/ Ex-atriz de TV/ Hoje é escriturária do INPS/ E que, dia atrás/ Venceu lá no concurso de Miss Suéter...”) e João realiza o sonho de fazer duo com uma de suas divas, Ângela Maria, que executa uma impressionante progressão tonal no riff com sua treinada voz de contralto.

Embora ainda tenha o divertido partido-alto “Feminismo no Estácio“ e o samba-canção “Vida Noturna”, típica fossa-boemia-carioca, o negócio naquele momento era mesmo partir para a briga. Aí é que o jogo engrossa! “Transversal do Tempo”, outra eternizada por Elis (foi título de disco e espetáculo dela, em 1978), que fala sobre pobreza (“As coisas que eu sei de mim/ São pivetes da cidade/ Pedem, insistem e eu/ Me sinto pouco à vontade/ Fechada dentro de um táxi/ Numa transversal do tempo”), exílio (“As coisas que eu sei de mim/ Tentam vencer a distância/ E é como se aguardassem feridas/ Numa ambulância”) e desesperança (“Acho que o amor/ É a ausência de engarrafamento”). Pungente. Igualmente, o fado lusitano que dá título ao álbum, de poesia rebuscada e caráter combativo: “Não o rubrancor da vergonha/ mas os rubros de ataduras/ o rubro das brigas duras/ dos galos de fogo puro/ rubro gengivas de ódio/ antes das manchas do muro”. (Sim, não é coincidência que a imagem das pichações com palavras de ordem contra a ditadura venha à cabeça.)

Mas não para por aí. A raiva de toda a sociedade civil oprimida e sem voz parecia não caber em apenas poucas músicas para João e Aldir. Tinham que falar, exatamente, desta raiva, deste inconformismo. Pois então, toma!: “O Ronco da Cuíca”. Tal samba-enredo, literalmente, enredou a censura que, burra e limitada, embaralhou-se com seus versos circulares e envolventes, que a denunciavam como que dizendo: “vocês até podem parar nossa reação através das força, mas jamais serão capazes de conter nosso desejo pela liberdade”. Uma “Opinião”, de Zé Keti, revisitada. Letra e música geniais, que expande os sentidos e simbologias das palavras (como na personificação do instrumento “cuíca”, dando-lhe vida e politizando-o), uma vez que o próprio termo “fome” tanto pode significar a crítica econômico-social da falta de comida ao povo (talvez tenha sido isso que induzira os milicos ao erro) quanto, num espectro maior, a urgência da democracia.

Pra terminar, o “tiro de misericórdia” (não à toa, título do LP seguinte de João Bosco, de 1977): “O Rancho da Goiabada”, uma marcha-rancho aparentemente festiva mas que, como em poucas obras do cancioneiro brasileiro, denunciam algo que se falava somente nas esquinas e a boca pequena: a situação desumana dos boias-frias – trabalhadores rurais escravos apelidados assim por causa das refeições que levavam em recipientes sem isolamento térmico desde que saíam de casa, de manhã cedo, o que faz com que estas já estejam frias na hora do almoço. Os versos pintam um quadro sócio-profissional perturbador, que contrasta com o ritmo de carnaval da melodia: “Os boias-frias quando tomam umas biritas/ Espantando a tristeza/ Sonham, com bife a cavalo, batata frita/ E a sobremesa/ É goiabada cascão/ com muito queijo...”. E finaliza condenando sem meias-palavras os latifundiários criminosos em suas fantasias de homens poderosos comparando-os aos soberanos egípcios cujo tempo já passou dizendo que, bravamente, os boias-frias: “São pais de santos, paus de arara, são passistas/ São flagelados, são pingentes, balconistas/ Palhaços, marcianos, canibais, lírios pirados/ Dançando, dormindo de olhos abertos/ À sombra da alegoria/ Dos faraós embalsamados”.

João e Aldir criaram um disco que é o retrato de um país em período de mudanças, as quais só se concretizaram por que artistas corajosos como eles, junto a centenas de opositores ativos – entre estes, vários desaparecidos –, ofereceram resistência, seja em armas ou em ideias. Estes são grandes responsáveis pela democracia que se vive hoje num País capaz de receber, inclusive, uma Copa do Mundo sem a sombra da vigília militar como ocorrera na Argentina em 1978. Afinal, naquele tempo, quem se opunha sabia claramente o porquê de estar fazendo. Não era por 20 centavos: era para viver num país livre.

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Certamente, foi por uma causa nobre como esta que, naquele mesmo 1976, João Bosco e Aldir Blanc recusaram o prêmio Golfinho de Ouro, conferido pelo Governo do Rio de Janeiro, pois queriam que o premiado fosse Cartola, uma vez que consideravam, sem modéstia burra, o trabalho do compositor daquele ano, o histórico LP com “As Rosas não Falam” e “O Mundo é um Moinho”, melhor do que o seu. A dupla recebeu, então, o troféu de Compositores do Ano pela Associação Brasileira dos Produtores de Disco.
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FAIXAS
1 - Incompatibilidade de Gênios
2 - Gol Anulado
3 - O Cavaleiro e os Moinhos
4 - Rumbando
5 - Vida Noturna
6 - O Ronco da Cuíca
7 - Miss Suéter
8 - Latin Lover
9 - Galos de Briga
10 - Feminismo no Estácio
11 - Transversal do Tempo
12 - O Rancho da Goiabada
todas as músicas são de autoria de João Bosco e Aldir Blanc

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OUÇA O DISCO






quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

João Gilberto - "João Gilberto" (1973)



“Melhor do que o silêncio, só João.”
Caetano Veloso



"João Gilberto", de 1973, não é tão importante quanto “Getz/Gilberto” (1964), obra-prima e definitiva difusora da bossa nova para o mundo; não sustenta a idolatria e o pioneirismo de “Chega de Saudade” (1958), precursor de todo o movimento e referência a TODOS os artistas de MPB a partir de então; nem é tão clássico quanto “Amoroso” (1977), cujo repertório escolhido a dedo traz orquestrações que se harmonizam à voz e ao violão com assombroso requinte. Mas “João Gilberto” é, certamente, o mais João Gilberto dos João Gilberto. Mínimo, detalhista, preciso, econômico, delicado. Perfeito.
De fato, é difícil apontar apenas um disco de João como fundamental. Sua obra é um verdadeiro evangelho de toda a música popular brasileira moderna. E isso se reafirma a cada esporádica gravação que faz. Seu estilo revisita toda a tradição do samba, de Nazareth ao batuque do morro. Moderno e tradicional ao mesmo tempo, o modo de cantar de João passeia com naturalidade de Orlando Silva a Chet Baker, passando por Mário Reis, Carlos Gardel, Vicente Celestino, Cartola, Bola de Nieve e Elizeth Cardoso num lance. Isso tudo aliado a uma técnica inovadora de tocar e, mais do que isso, de estruturar a melodia.
Até o advento da bossa nova, as notas dissonantes nunca haviam sido empregadas em música popular em nenhum lugar do mundo com tamanha exatidão e consciência e em sintonia perfeita (mesmo quando “fora” do compasso, coisa comum em João) como as que consegue extrair de seu violão. Toda essa gama de referências poderia muito bem virar uma salada sonora ininteligível; mas nas mãos e no gogó dele se cristalizaram no mínimo, no volume baixo e apenas audível, no controle absoluto da voz e dos silêncios. Num acorde tão bem elaborado e executado que vale por uma escola de samba inteira.
O que dizer, então, do álbum? Para começar, nada mais, nada menos, talvez a mais bela gravação da mais bela música já composta nesses pagos tupiniquins: “Águas de Março”, de  Tom Jobim .
Já está ali a tônica do disco: voz e violão perfeitamente modulados – a ponto de se escutar os trastes do violão, a respiração e a umidade da língua – acompanhados de uma econômica percussão. Nada mais (e precisa?). A harmonia feita sobre esta melodia indefectível é de uma beleza tamanha que chega a me fugir à compreensão. Faz-me lembrar o que o fã incondicional Caetano Veloso  diz sobre o ídolo: “ninguém consegue mudar tanto mudando tão pouco”. É, de fato, complexo e mínimo como um traçado de Niemeyer, como uma remoinhante de Van Gogh, como um solo de  Miles Davis .
Na sequência, “Undiú”, das raras composições do próprio João e uma de suas mais inspiradas. Trata-se de um samba-de-roda meio baião Gonzaga, meio valsa minimalista, meio canto de pescadores a la Caymmi, em que João articula, com uma afinação incrível, alguns fonemas sem sentido sintático, mas repletos de sentido melódico. Em seguida, o baiano verte outro clássico da MPB. Ou melhor: o reelabora. “Na Baixa do Sapateiro”, de Ary Barroso, vira uma peça instrumental tão bem arranjada e executada que sua partitura poderia muito bem servir como o 13º Estudo para Violão de Villa-Lobos.
Em “Avarandado” e “Eu Vim da Bahia”, dos então “novos baianos” Caetano Veloso e Gilberto Gil , respectivamente, o “velho baiano” tem a coragem de gravar os amigos conterrâneos recém retornados do exílio – ou seja, ainda sob vigília pelo governo militar. Mas João nem quis saber. E as duas músicas são lindas: “Avarandado”, brejeira e apaixonada, e “Eu vim...”, aquele samba radiante e colorido cheio de África-Brasil por todas as notas como só Gil sabe fazer.
Entre as que mais escuto estão “Falsa Baiana” e “Eu Quero um Samba”, tomadas de “requebros e maneiras”, de um swing pleno e natural. Aí vem “Valsa” ou “Bebel” ou “Como São Lindos os Youguis”, outra de autoria de João composta para a filha, a hoje mundialmente conhecida Bebel Gilberto, à época com 6 anos. É uma bela “valsa de ninar”, sem letra, só cantarolada. Imagino que os “Youguis” do subtítulo deviam fazer muito sentido para aquela criança (tanto que os considerava “lindos”). Mas que privilégio ser ninada com uma maravilha dessas, hein? Só podia virar cantora.
A triste “É Preciso Perdoar” e o divertido samba-crônica “Izaura”, a única em que divide os vocais – o que o fez muito bem com Miúcha, mãe de Bebel e então esposa –, fecham este disco inigualável dentro da música brasileira por sua simplicidade e coesão. Seria ridículo dizer que aqui João Gilberto atinge a maturidade musical, pois se trata de um artista que já nasceu maduro. Mas faz sentido pensar que, nesses idos, início dos 70, a bossa nova teve tempo de ser criada, exportada e assimilada por tropicalistas e outrem, a ponto de suas notas dissonantes se integrarem ao som dos imbecis. Tom, Vinícius e ele já haviam entrado para a história pela criação de um estilo musical tão rico que somente meia dúzia de jazzistas, roqueiros e eruditos da vanguarda conseguiram tal feito no século XX. Então, era hora de pegar o banquinho, o violão, aquele amor e 10 canções selecionadas com primor como João sempre soube fazer. Tudo isso para quê? Para ensinar ao mundo como se ouve o silêncio.

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FAIXAS:
1 - "Águas de Março" (Tom Jobim) – 5:23
2 - "Undiú" (João Gilberto) – 6:37
3 - "Na Baixa do Sapateiro" (Ary Barroso) – 4:43
4 - "Avarandado" (Caetano Veloso) – 4:29
5 - "Falsa Baiana" (Geraldo Pereira) – 3:45
6 - "Eu Quero um Samba" (Janet de Almeida, Haroldo Barbosa) – 4:46
7 - "Eu Vim da Bahia" (Gilberto Gil) – 5:52
8 - "Valsa (Como são Lindos os Youguis)" (João Gilberto) – 3:19
9 - "É Preciso Perdoar" (Alcivando Luz, Carlos Coqueijo) – 5:08
10 - "Izaura" (Roberto Roberti, Herivelto Martins) – 5:28

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Ouça:
João Gilberto 1973



quarta-feira, 5 de abril de 2017

James Taylor e Elton John – Anfiteatro Beira-Rio – Porto Alegre /RS (04/04/2017)


Duas ou três palavras sobre o show de ontem de James Taylor e de Elton John. Em primeiro lugar, sou fã declarado e juramentado dos dois. Acompanho o Elton John desde meus 12 anos, quando ouvi pela primeira vez "Rocket Man" e pedi para minha professora de inglês no colégio. Já o JT foi um pouquinho adiante, quando começou a tocar "You've Got a Friend" e "Fire and Rain" na Continental. Entrei no glorioso Beira-Rio já gostando. 

Não me surpreendeu eles se apresentarem com bandas acima de qualquer suspeita. O James Taylor sempre se fez acompanhar pelo melhor dos estúdios americanos. Só que desta vez ele extrapolou!! Steve Gadd na bateria é um luxo só. Um dos maiores bateristas do mundo que tocou com todo mundo, desde Steely Dan até Bee Gees (é, o batera que vocês ouvem em “Stayin’ Alive” e Night fever” é ele!!!); Lou Marini no sax (da banda dos Blues Brothers); o trompetista e tecladista Walt Fowler, que integrou a banda de Frank Zappa e o espetacular Arnold McCuller, provavelmente o melhor backing vocal do planeta. Com tudo isso, mais aquele repertório maravilhoso de quase 50 anos de carreira só podia dar no que deu: um show impecável, com ele se esforçando para se comunicar com o público e ainda tirando da cartola “Steamroller”, aquele blues que mandou no meio do show. Só faltou uma namorada para abraçar na hora do “Handy Man” e do “Shower the People”. 

Já Elton John resolveu tirar as backing vocals do espetáculo anterior e a banda ganhou um punch roqueiro muito interessante. Parecia que estava vendo um show do começo dos anos 70. O repertório foi nessa linha: “Levon”, “Tiny Dancer”, “Skyline Pigeon”, “Your Song”, “Burn Down the Mission” em, especialmente pra mim, que sou fãzaço do disco “Captain Fantastic and the Brown Dirt Cowboy”, “Someone Saved my Life Tonight”. Isso sem falar nos hits, que são obrigatórios. Endiabrado ao piano, solando como senão houvesse amanhã, ele colocou pra fora toda a influência do jazz de New Orleans no seu jeito de tocar. O público meio morno é que pareceu esperar pelas chatérrimas “Nikita” e “Sacrifice”, canções menores na carreira de Elton. Pra mim, foi um banho de música pop com os melhores do gênero. Alma lavada foi pouco.

por Paulo Moreira
Fotos gentilmente cedidas por Marcelo Bender da Silva