Fern (Frances McDormand) é uma
mulher de 60 anos que, depois de perder tudo na Grande Recessão, embarca em uma
jornada pelo oeste americano, vivendo como uma nômade dos tempos modernos.
O ritmo mais lento, o texto cheio
de alegorias podem afastar algumas pessoas, mas nada disso tira o
mérito de "Nomadland", o grande vencedor do Oscar desse ano, com os prêmios de melhor filme e direção. O longa acerta em momentos certos, como quando pretende mostrar Fern
no mundo, seus desafios, asbelezas
naturais, além de fazer planos abertos lindos com uma fotografia única. E quando quer
mostrar as emoções de Fern, tem closes longos no rosto da personagem que você se
pega refletindo junto com ela.
Tecnicamente, é um longa impecável! Fotografia,
som direção, tudo funciona. Mas uma das grandes forças do filme está em,
Frances McDormand, não à toa, vencedora do Oscar de melhor atriz. Seu silêncio grita neste filme. Uma atuação contida, para
dentro, mas cheia de força, na qual, ao mesmo tempo em que você vê uma mulher forte e
decidida, também expõe sua fragilidade em alguns momentos de solidão ou quando sente a pressão
do julgamento da sociedade por não seguir um padrão de vida ideal segundo o sonho
americano.
"Nomadland" - trailer
Além da beleza estética do longa,
seu discurso também é muito forte fazendo uma forte crítica, pesada e incisiva, ao consumismo e ao american way of life.
Além da ótima direção, da
excepcional atriz principal, o longa ainda consegue falar sobre o sentimento da
perda, como cada um trabalha isso, a dificuldade de encarar isso e permanecer forte, e de dar adeus para alguém, para algo, para algum lugar, para uma situação, etc. "Nomadland" nos lembra o quanto é preciso coragem para começar novos ciclos.
Perfeição! Olha essa fotografia! O nome disso é "Aulas cria".
E o Oscar vai para... Bem, a gente merece a estatueta em Trilha Sonora Original. Na semana do Oscar, o Música da Cabeça estende o tapete vermelho para Barão Vermelho (banda), The Beatles, Gene Kelly, Tim Maia e outros fortes indicados em suas categorias. E tem também "Palavra, Lê", "Música de Fato" e um "Sete-List" com o tema do Oscar. Então, prepara a pipoca, te ajeita no sofá e escuta o programa hoje, às 21h, pela Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues.
Tá, ó, vamos falar sério: "Barbie" não é nada mais que um filme bonitinho. "Ah, mas tem mensagem...". Ora, é um filme bonitinho com mensagem. Valorizo muito o cinema de ficção como arte e quando a arte é sacrificada em nome do discurso, entendo que ela fica comprometida. é como um poeta que abandona as figuras em nome da literalidade, um pintor que passa a simplesmente imprimir sem intervir numa imagem, um letrista que abdica da rima, do verso, da melodia para meramente discorrer, falar a letra de uma música. Entendo que é muito o que acontece com "Barbie", filme da diretora Greta Gerwig, com oito indicações ao Oscar 2024, que em nome de um discurso, altamente válido, pertinente, justo, urgente, é verdade, fazem de sua obra de arte um manifesto pela causa feminista. Tem todo o cenário, o figurino, as caracterizações, as músicas, as tiradas, ok... Isso tudo só faz de "Barbie" um manifesto pintado de cor-de-rosa. Discurso, causa, reivindicação, explícitos, que relegam a arte a um segundo plano, abdicando da poesia, de modo a se fazer entender, em cinema, cabem em documentários. Assuntos assim, postos de forma tão insistente, incisiva e cansativa, por mais justos que sejam precisam de um tratamento mais sutil, mais inteligente.
"Barbie" é um filme superestimado e supervalorizado pela própria expectativa fabricada em torno dele. Quando começou o ti-ti-ti a respeito do lançamento do filme tratou-se logo de esclarecer que não seria um filme bobinho, que não era o filme da "boneca", que "apesar de ser da Barbie", tratava-se de um filme com reflexões importantes. Ora, valor do tema não enriquece o valor da obra. Se é por isso os filmes da Marvel, da DC, de super-heróis deveriam sistematicamente concorrer a melhor filme uma vez que, por trás de todo aquele monte de saltos e explosões existem mensagens sobre a paz, racismo, etc. E, sinceramente, filmes de super-heróis valem tão pouco cinematograficamente quanto um filme de boneca. Como se não bastasse toda a comoção por um filme comercial bancado pela indústria de brinquedos, eu vejo uma choradeira pela não indicação da atriz principal, Margot Robbie para o Oscar na sua categoria. Ora, só quem não viu uma Meryl Streep em "Kramer vs. Kramer", uma Jodie Foster em "Acusados", ou uma Ana Magnani em "O Amor" que nem ganhou, pode exigir um Oscar para uma atuação não mais que... competente. Margot Robbie faz um papel de boneca, gente! Expressões forçadas, olhos arregalados, largos sorrisos, de vez em quando um choro, uma carinha tristinha, lá no final, no mundo real, algo um pouco mais consistente, mais humano, mas é só isso.
Entendo que nós homens precisamos ver e ouvir tudo isso, o puxão de orelhas é válido, todos somos Ken, as coisas têm que mudar, mas é dose pra elefante que um filme tão pueril como esse sirva como símbolo de tudo isso. O marketing e o convencimento foi tamanho que o público feminino, para o qual o filme foi mais especificamente direcionado, até 'perdoou' a Barbie por ser um objeto de opressão e condicionamento estético feminino por muito tempo. E não é o contraponto apresentado no filme, de que Barbie propõe que "você pode ser tudo o que quiser" que vai isentá-la de moldar padrões de beleza e intimidar mulheres que não tinham o mesmo perfil físico da boneca. Essa coisa de Barbie cheinha, Barbie negra, Barbie oriental, só foi produzida em grande escala de uns anos pra cá. Não me venha com essa!
Vão dizer, "Ah, mas você não gostou porque é homem". Já vi filmes com temas feministas sensíveis, peritnentes, bem mais válidos, interessantes e inteligentes que esse. "Bela Vingança", "Thelma & Louise", "Frida", "Huesera", "O Babadook", são só alguns exemplos.
"Ah, mas você não entendeu...". Entendi. Podem ter certeza que entendo e entendo a motivação. E exatamente por ter entendido é que entendo que não gosto do que vi, da obra em si, e fico pensando que "Barbie" até teria sido um bom filme de entretenimento se não tivesse se levado tão a sério.
Margot Robbie é uma grande atriz mas, sinceramente, em "Barbie" ela só faz "cara de boneca".
Cada vez menos tenho dado bola pra 'quem ganhou tal Oscar' ou 'quantos Oscar tal filme levou' mas dei uma olhada na festa de ontem, um pouco pelo glamour, um pouco pelo espetáculo, um pouco pela curiosidade e outro tanto, naturalmente, pelo meu gosto por cinema. O favorito para melhor filme era "Argo" e ele não contrariou as expectativas, embora já se soubesse que não ganharia melhor direção, pelo simples fato de seu realizador, Ben Affleck, não ter sido indicado; assim, Ang Lee por "As Aventuras de Pi", levou esta premiação, que somadas a outras 3 estatuetas de seu filme, fizeram da aventura fantástica do jovem Pi, o grande ganhador da noite.
Confira abaixo os demais vencedores:
foto: Mario Anzuoni/Reuters
Filme: “Argo”, de Ben Affleck Diretor: Ang Lee (“As aventuras de Pi”) Atriz: “Jennifer Lawrence (“O lado bom da vida”) Ator: Daniel Day-Lewis (“Lincoln”) Atriz coadjuvante: Anne Hathaway (“Os miseráveis”) Ator coadjuvante: Christoph Waltz (“Django livre”) Roteiro original: “Django livre” Roteiro adaptado: “Argo” Filme estrangeiro: “Amor”, de Michael Haneke (Áustria) Fotografia: “As aventuras de Pi” Montagem: “Argo” Figurino: “Anna Karenina” Maquiagem e penteado: “Os miseráveis” Documentário: “Searching for Sugar Man”,de Malik Bendjelloul Longa de animação: "Valente", de Mark Andrews, Brenda Chapman e Steve Purcell Efeitos especiais: “As aventuras de Pi” Trilha sonora: “As aventuras de Pi” Canção original: “Skyfall”, de “007 — Operação Skyfall”, de Adele Direção de arte (Design de produção):“Lincoln” Curta-metragem de ficção: "Curfew", de Shawn Christensen,“Paperman” (animação) e “Inocente”, de Sean Fine e Andrea Nix (documentário) Mixagem do som: “Os miseráveis” Edição de som: “007 — Operação Skyfall”e “A hora mais escura” (empate)
“Licorice Pizza” não irá ganhar o Oscar se Melhor Filme em 2022. Isso é certo. O mais cotado é, de fato, “Ataque dos Cães”, de Jane Campion, mesmo que “O Beco.do Pesadelo”, do já ganhador desta estatueta Guillermo Del Toro, em 2018, com “A Forma da Água”, pareça o mais talhado entre os 10 títulos concorrentes – e embora “Amor Sublime Amor” e “O Ritmo do Coração” corram por fora. O filme de Paul Thomas Anderson, portanto, não figura entre os favoritos. Aliás – e isso não é um demérito – o cineasta norte-americano talvez nunca venha a obter este êxito, visto que o seu cinema, definitivamente, não confere em conceito com a badalada premiação da indústria cinematográfica, e o seu novo longa é mais uma prova disso.
Mas não se enganem: “Licorice...” é, por mais que pareça uma contradição, quiçá o melhor entre os candidatos nesta categoria junto com “Drive my Car” (outro que também não deve levar o Oscar de Melhor Filme, uma vez que, ao que tudo indica, o de Melhor Filme Internacional esteja lhe esperando). O filme de Anderson (cujo estranho título faz uma referência a uma loja de discos que realmente existiu, mas que não aparece em nenhum momento), conta a história de Alana Kane (Alana Haim) e Gary Valentine (Cooper Hoffman), dois jovens que, embora a diferença de 10 anos dela para ele, vivem a adolescência no Vale de San Fernando, no Sul da Califórnia do início dos anos 70, engendrando vários negócios juntos e flertando um com outro, mas também se desencontrando.
Comédia romântica com ares de nouvelle vague e realismo poético, “Licorice...”, que também é escrito por PT Anderson, diferencia-se, por isso, muito do que a Academia costuma prestigiar. Desde seu primeiro longa, “Jogada de Risco", de 1996, passando pelo genial “Boogie Nights” (1997) e pelo retumbante “Magnolia”, Melhor Filme em 1999 (só que em Berlim...), fica claro que o estilo de seu "cinema de autor" carrega singularidades que lhe aproximam bastantemente da escola europeia. Neste sentido, ele é muito mais peculiar do que seus contemporâneos Tarantino, Rodriguez e Nolan, todos também autorais mas com um pé muito mais firme em Hollywood do que ele. Com o forte “Sangue Negro”, de 2007 – para muitos, sua melhor realização –, pode-se dizer que Anderson tenha se esforçado para arrebatar o prêmio máximo do cinema, mas sua mão “pesada” o fez dar tons muito mais trágicos à história que os jurados da Academia estão acostumados.
trailer de "Licorice Pizza", de Paul Thomas Anderson
A última tentativa de Anderson de levar esse bendito Oscar de Melhor Filme parece ter sido há quatro anos com “Trama Fantasma”, seu até então último longa e no qual repete a parceria com o excelente ator irlandês Daniel Day-Lewis. Porém, mesmo recebendo seis indicações (inclusive a de Filme), novamente sem sucesso. “Licorice...”, assim, dá a impressão de ser saudavelmente aquele filme em que o diretor disse a si mesmo: “Quer saber? Foda-se! Aceitem-me como eu sou!”. E deu muito certo. Descompromissado, o cineasta fez uma obra carregada de sentimentos, daquelas que ao mesmo tempo fazem emocionar terna e alegremente. É de encher o peito em uma gargalhada, mas também de soltar risos surpresos durante o decorrer por conta de seus diálogos e roteiro inteligentes.
Gary e Alana: feitos um para o outro (mas será que eles próprios sabem disso?)
Estão preservados elementos clássicos do estilo de Anderson: trilha sonora escolhida com esmero e paixão; ritmo de montagem que intercala agilidade com planos bem demorados, tributo a um de seus mestres, Martin Scorsese; planos-sequência realizados com bastante habilidade; o olhar especial para as musas, as quais invariavelmente dedica belos enquadramentos como faz desta vez com Alana; direção de atores bem encontrada entre o drama e a comédia; aparição de tipos exóticos impagáveis (Bradley Cooper, em uma ponta, arrasa fazendo o tresloucado playboy Jon Peters); mas principalmente, personagens que fascinam o espectador. Por que isso? Porque são, como sensivelmente fizeram Renoir, Carné ou Clair, pais do realismo poético francês ao qual o cinema de Anderson faz tributo, são capazes de construir personagens que refletem o interior humano equilibrando beleza e naturalidade. Os medos, as angústias, as aflições, os desejos, os amores. Alana e Gary, protagonistas a quem se torce para que fiquem juntos e parem com a infantilidade de se brigarem para fugirem do medo de não serem aceitos, são a tradução disso: gentes. Mas, claro: com o “filtro” mágico do cinema: não só o filtro da câmera, mas o do olhar.
Se não é o melhor entre todos da safra 2021/22, “Licorice...”, ao menos, é o que melhor cumpre um dos requisitos dos grandes filmes: o encerramento marcante. O cineasta conduz o espectador até o último segundo para, com sutileza, deixá-lo suspirando na poltrona com um sorriso no rosto – ou uma lágrima. Sabe aquele sabor de terminar de assistir “Nós que nos Amávamos Tanto”, “Pierrot le Fou” ou “Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios”? É este o sentimento que fica com "Licorice...". Tudo bem: “Ataque...”, “O Beco...” e “Drive...” também terminam muito bem. Mas é tão mais impactante sentir uma ponta de "cinema de arte", assim, tão espontaneamente numa produção norte-americana, que o valor se duplica. Neste caso, o melhor que PT Anderson pode fazer é não ganhar prêmio nenhum mesmo. Será sinal de que continuará fazendo seu cinema tão original quanto encantador.
Teve de tudo! Dessa vez teve cerimônia completa, casa cheia, números musicais, mestres de cerimônia e até porrada. Mas vamos começar pela cerimônia e pelos prêmios: pra compensar a premiação chocha do ano passado, bem discreta e quase intimista, por conta da pandemia, a Academia veio logo com três apresentadoras esse ano, Amy Shurmer, Regina Hall e Wanda Sykes que, muito inteligentes e bem-humoradas, conduziram a festa com competência, entregando, é claro, para os convidados apresentadores dos prêmios. E a propósito, na maior parte dos casos não houve muitas surpresas: "Duna" faturou os prêmio técnicos, Jane Campion confirmou o favoritismo para Direção; "Encanto" levou Animação; "Drive My Car", Filme Internacional, mas também tivemos premiações inéditas, como a do primeiro ator surdo a receber um Oscar, Troy Kotsur, e o próprio filme em questão, "No Ritmo do Coração", de certa forma surpreendendo ao desbancar "Ataque dos Cães" que levava algum favoritismo. Mas de uma cerimônia tão marcante por diversos fatores, protagonismo feminino, inclusão, diversidade, ineditismos, o que acabou mais chamando atenção, sem dúvida, foi o tapa na cara dado por Will Smith em Chris Rock por conta de uma piadinha, de mau gosto, envolvendo sua esposa. O que parecia, em princípio, mais uma brincadeira, mais uma encenação ensaiadinha dessas típicas de Hollywood, acabou se revelando uma indignação genuína de Smith quando ele, depois de subir ao palco e agredir o comediante, ao retornar para seu assento, continuou xingando e reafirmando sua ira, "Não mexa com o nome da minha esposa!", dizia furioso. Simplesmente inusitado. De certa forma, o incidente roubou a cena da festa, ainda que depois disso ainda viessem a ser anunciados vários prêmios importantes, inclusive o Oscar de melhor ator para o próprio Will. No fim das contas, numa edição que marcou a segunda conquista consecutiva de mulheres na direção, um ator deficiente auditivo sendo premiado, um filme de inclusão batendo um dos favoritos, vai acabar entrando para a história como aquela em que o Will Smith deu-lhe um sopapo no Chris Rock. Mas, mesmo sendo "fato secundário", vale a pena, também, a gente saber quem foram os premiados da noite. Vai aí:
Agora sim posso declarar o meu ponto de vista sobre "Bravura Indômita". Ainda não
tinha assistido ao primeiro filme, que foi dirigido por Henry Hathaway, em
1969. Em 2010, foi filmado o remake
dos irmãos Joel e Ethan Coen. O filme gerou críticas positivas, mas nem todo
mundo gostou e as semelhanças entre ambas produções são grandes. A fotografia
do primeiro filme, que foi quase todo filmado com luz de outono, é esplêndida e
brilhante, muitas vezes parece saída de um quadro de época. Creio eu que John Wayne
deva ter amado filmar "Bravura", pois o ator passava o tempo todo
bebendo de verdade, algo que já era normal em seus filmes. Muitos dizem que seu
personagem era uma paródia de si mesmo, tanto que lhe deu o único Oscar da
carreira, merecido, é claro, e com muito álcool.
Outro ponto a destacar do longa de Hathaway, o qual não
canso de repetir, é sobre a habilidade do Duke com o cavalo. Em diversas cenas
isso é explícito, inclusive na cena final em que ele pula uma cerca alta,
dispensando o dublê. A forma como ele manejava as armas demonstra certamente
que em outra vida ele foi um cowboy
de verdade. Todo o elenco desse filme é ótimo, da maravilhosa atriz adolescente,
Kin Darby, a um iniciante Dennis Hopper e o já careca Robert Duvall.
trailer "Bravura Indômita" (1969)
cartaz da versão dos
irmãos Cohen, de 2010
Na versão dos Cohen,
praticamente idêntica em história ao de Hathaway, os diretores dão seu pitaco
estilístico e o deixam mais "sujo", mas não menos violento e satírico
que o primeiro. Depois de assistir, cheguei à conclusão que Jeff Bridges é o único
ator neste planeta que conseguiria com seu estilo errante e versátil estar à
altura de Wayne para reviver o personagem de "Rooster" Cogburn. Pena
não ter sido tão reconhecido, porque ele também merecia o Oscar. E o filme foi
indicado a vários prêmios, perdeu em quase todos. Hailee Steinfeld que fez a
menina Mattie Ross no segundo filme, e está no meu panteão das grandes atuações
femininas do cinema atual. O elenco também conta com os bons atores Matt Damon
e Josh Brolin.
Resumindo, os filmes são diferentes mas ao mesmo tempo
parecidos. Hoje, revendo pela ótica dos Coen, os diretores e produtores foram
muito corajosos e ousados ao fazer um remake
que muitas vezes se sai melhor que o original, acertaram em tudo, desde a
escolha dos atores a toda equipe técnica, que foi indicada para um penca de
Oscar. Voto final: em direção, prefiro os Coen; roteiro, os Coen; entre Wayne e
Bridges, dá empate; fotografia, fico com o de 1969; Mattie Ross, meu voto vai
para Haillee Stenfield; Ranger La Boeuf, vitória de Glen Campbell; e sobre os
dois filmes, ambos são ótimos.
O ator Chiwetel Ejiofor em "12 Anos de Escravidão": essencial
A morte precoce do ator Chadwick Boseman deixou de luto seus fãs e cinéfilos do mundo inteiro. Sua partida marcou principalmente a comunidade negra, que tinha no artista afro-americano um símbolo de representatividade e de empoderamento em um mundo ainda pautado pelo racismo e pela discriminação. Ao encarnar o super-herói “Pantera Negra”, Boseman se transformou em uma referência. Mas, antes dele, muitos outros personagens negros do cinema também deram sua contribuição para essa história de reconhecimento e pertencimento. Por conta disso, fui convidado pela Cinemateca Paulo Amorim, da Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre, em nome de sua programadora, a jornalista Mônica Kanitz a destacar alguns destes filmes, que figuram neste vídeo especial produzido pela instituição. Confira o vídeo e a lista dos respectivos filmes aos quais selecionei.
Vídeo"Chadwick Boseman e Outros Protagonistas Negros no Cinema" Cinemateca Paulo Amorim
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1 -"Adivinhe Quem Vem para Jantar", de Stanley Kramer (1967)
Em São Francisco, Matt Drayton (Spencer Tracy) e Christina Drayton (Katharine Hepburn), um conceituado casal, se choca ao saber que Joey Drayton (Katharine Houghton), sua filha, está noiva de John Prentice (Sidney Poitier), um negro. A partir de então dão início à uma tentativa de encontrar algo desabonador no pretendente, mas só descobrem qualidades morais e profissionais acima da média. Primeiro filme a abordar o tema do racismo e dos conflitos nas relações socioraciais. Vencedor do Oscar de Melhor Atriz (Hepburn), Melhor Roteiro Original (William Rose) e Melhor Ator (Tracy).
2 -"Faça a Coisa Certa", de Spike Lee (1989)
Numa pizzaria no bairro do Brooklyn, NY, onde a maioria da população é negra, há uma parede com fotos de ídolos ítalo-americanos. Quando o ativista Buggin' Out (Giancarlo Esposito) pede ao dono do lugar que a parede tenha ídolos negros e ele nega, inicia-se um boicote ao lugar, o que desencadeia uma série de incidentes. Spike Lee surgia para o mundo com essa obra-prima marcante na história do cinema e da causa negra diretamente contundente contra o racismo. Indicado a dois Oscars, incluindo o de Melhor Roteiro Original.
3 - "12 Anos de Escravidão", de Steve McQueen (2013)
Adaptação da autobiografia homônima de 1853 de Solomon Northup, conta a história real de um negro livre nascido em Nova Iorque, que é sequestrado em Washington e vendido como escravo. Ele trabalhou em plantações no estado de Louisiana por 12 anos antes de sua libertação, passando por todo tipo de sofrimento, violência e desumanidade. Primeiro filme de um cineasta negro a ganhar o Oscar de Melhor Filme, além de ter conquistado também os de Melhor Atriz Coadjuvante (Lupita Nyong'o) e Melhor Roteiro Adaptado (John Ridley).
4 - "Madame Satã", de Karim Ainouz (2002)
O filme retrata a vida de uma referência na cultura marginal urbana do Rio de Janeiro, o célebre transformista João Francisco dos Santos. Malandro, artista, presidiário, pai adotivo de sete filhos, negro, pobre, homossexual, o artista, conhecido como "Madame Satã", se transformou num mito da vida boêmia carioca. Entre os vários prêmios, que recebeu, destacam-se o de Melhor Filme no Chicago International Film Festival, o Prêmio Especial do Júri para melhor primeiro trabalho (Ainouz) no Festival de Havana e os quatro que abocanhou no Grande Prêmio BR do Cinema Brasileiro, incluindo o de Melhor Ator para Lázaro Ramos.
5 -"Pantera Negra", de Ryan Coogler (2018)
Após a morte de seu pai, o Rei de Wakanda, T’Challa (Chadwick Boseman) volta para casa para a isolada e tecnologicamente avançada nação africana para a sucessão ao trono e para ocupar o seu lugar de direito como rei. Mas, com o reaparecimento de um velho e poderoso inimigo, o valor de T’Challa como rei – e como Pantera Negra – é testado quando ele é levado a um conflito formidável que coloca o destino de Wakanda, e do mundo todo em risco. Marco na história do cinema, "Pantera..." é o primeiro filme com um super-herói negro, o personagem criado nos anos 60 por Stan Lee, e também um símbolo necessário para uma época de empoderamento de homens e mulheres negras. Levou o Oscar de Melhor Trilha Sonora Original (Ludwig Göransson), Figurino (Ruth E. Carter) e Direção de Arte para Hannah Beachler, também a primeira negra a ganhar a estatueta nesta categoria.
E saiu a lista dos indicados ao Oscar 2019! "A Favorita", filme de época do diretor Yorgos Lanthimos, e "Roma", do já oscarizado de Alfonso Cuarón, que concorre não somente a melhor filme como a melhor película estrangeira, são os líderes em indicações, mas "Nasce Uma Estrela" com a estrelíssima Lady Gaga, vem logo em seguida com oito e com boas chances. "Pantera Negra", de certa forma, surpreende com sete nominações, tornando-se o filme de super-heróis com maior reconhecimento neste sentido pela Academia, e o badalado “Bohemian Rhapsody”, biografia de Freddie Mercury, garantiu cinco indicações, incluindo, é claro, a de melhor ator com a ótima atuação de Rami Malek que, por sinal não terá vida fácil, especialmente contra Christian Bale, por seu papel em "Vice", e Willem Defoe, por "No Portal da Eternidade". Me surpreende um pouco a escassês de indicações para "O Retorno de Mary Poppins", que achei que fosse passar o rodo nos itens técnicos e, não tão surpreendente assim, uma vez que as qualidades de "Infiltrado na Klan" vem sendo exaltadas constantemente, mas louvável é a ascensão de Spike Lee ao time dos grandes com sua primeira indicação a melhor diretor.
Depois dessa breve passada, vamos ao que interessa. Conheça os indicados ao Oscar em 2019:
Melhor Filme
Pantera Negra Infiltrado na Klan Bohemian Rhapsody A Favorita Green Book: O Guia Roma Nasce Uma Estrela Vice
Melhor Atriz
Yalitza Aparicio (Roma) Glenn Close (A Esposa) Olivia Colman (A Favorita) Lady Gaga (Nasce Uma Estrela) Melissa McCarthy (Poderia Me Perdoar?)
Melhor Ator
Christian Bale (Vice) Bradley Cooper (Nasce Uma Estrela) Willem Dafoe (No Portal da Eternidade) Rami Malek (Bohemian Rhapsody) Viggo Mortensen (Green Book: O Guia)
Melhor Atriz Coadjuvante
Amy Adams (Vice) Marina De Tavira (Roma) Regina King (Se a Rua Beale Falasse) Emma Stone (A Favorita) Rachel Weisz (A Favorita)
Melhor Ator Coadjuvante
Mahershala Ali (Green Book) Adam Driver (Infiltrado na Klan) Sam Elliott (Nasce uma Estrela) Richard E. Grant (Poderia Me Perdoar?) Sam Rockwell (Vice)
Melhor Direção
Spike Lee Pawel Pawlikowski Yorgos Lanthimos Alfonso Cuarón Adam McKay
Melhor Roteiro Original
The Favourite First Reformed Green Book: O Guia Roma Vice
Melhor Roteiro Adaptado
The Ballad of Buster Scruggs BlacKkKlansman Can You Ever Forgive Me? If Beale Street Could Talk A Star is Born
Melhor Figurino
The Ballad of Buster Scruggs Pantera Negra A Favorita O Retorno de Mary Poppins Duas Rainhas
Melhor Cabelo
Border Mary Queen of Scots Vice
Melhor Direção de Arte/Design de Produção
Black Panther The Favourite First Man Mary Poppins Returns Roma
Melhor Trilha Sonora
Pantera Negra Infiltrado na Klan Se a Rua Beale Falasse Ilha de Cachorros O Retorno de Mary Poppins
Melhor Canção Original
All the Stars – Black Panther I’ll Fight – RBG The Place Where Lost Things Go – Mary Poppins Returns Shallow – A Star is Born When A Cowboy Trades His Spurs For Wings – Ballad of Buster Scruggs
Melhor Fotografia
Cold War The Favourite Never Look Away Roma A Star is Born
Melhor Edição
Infiltrado na Klan Bohemian Rhapsody A Favorita Green Book: O Guia Vice
Melhor Edição de Som
Pantera Negra Bohemian Rhapsody O Primeiro Homem Um Lugar Silencioso Roma
Melhor Mixagem de Som
Pantera Negra Bohemian Rhapsody O Primeiro Homem Roma Nasce Uma Estrela
Melhores Efeitos Visuais
Avengers: Infinity War Christopher Robin First Man Ready Player One Solo: A Star Wars Story
Melhor Documentário
Free Solo Hale County This Morning, This Evening Minding the Gap Of Fathers and Sons RBG
Melhor Animação
Os Incríveis 2 Ilha de Cachorros Mirai Wifi Ralph Homem-Aranha no Aranhaverso
Melhor Filme Estrangeiro
Capernaum Cold War Never Look Away Roma Shoplifters
Melhor Curta Metragem – Animação
Animal Behavior Bao Late Afternoon One Small Step Weekends
Melhor Curta Metragem – Documentário
Black Sheep End Game Lifeboat A Night at the Garden Period. End of Sentence.
Assim como os de gângster ou que retratam a Segunda Guerra Mundial, os
filmes de prisão são bastante atrativos. Até mesmo os mais puramente
aventurescos, como “Condenação Brutal”, com Sylvester Stallone, ou “A Rocha”,
com Sean Connery, se estiverem passando na TV te puxam para que se assista pelo
menos um pouco ou mesmo daquele ponto até o final. De fato, os filmes sobre
sistema prisional guardam uma magia especial. Talvez porque, assim como os de
gângster ou Segunda Guerra, muitas vezes se baseiem em fatos reais. Quando não,
são tão passíveis de verdade quanto um verídico, haja vista a identificação que
seus personagens geram junto ao espectador ou mesmo pelas barbaridades que
geralmente denunciam, sejam ficção ou não. Não raro estão em jogo os mais
basais direitos humanos.
Desta forma, busquei listar 15 títulos bem abrangentes e interessantes
sobre o tema. De produções europeias a asiáticas, passando pelos cinemas
brasileiro (bem representado), argentino e, claro, norte-americano, que domina
largamente neste quesito. Desde clássicos do passado até os dias de hoje, os
Estados Unidos são imbatíveis em filmes de prisão. Valeu entrarem filmes não
apenas de penitenciária – embora sejam a maioria – mas também de cadeias comuns
e de prisioneiros de guerra. De presos políticos, como nos essenciais “A
Confissão” (Costa-Gavras) ou “Pra Frente, Brasil” (Roberto Farias), ficaram
para uma outra seleção. Como valeu apenas longas-metragens, merece menção
honrosa “O Dia em que Dorival Encarou a Guarda”, curta-metragem de Jorge
Furtado e José Pedro Goulart, uma obra-prima que, inclusive, completa 30 anos
de seu lançamento em 2015.
Sem ordem de preferência, a condição foi a de que a história se passe,
se não inteiramente, pelo menos a maior parte do tempo dentro das celas,
sendo-lhes um elemento narrativo preponderante. Assim, ficaram de fora ótimos exemplares
como “Dançando no Escuro”, de von Trier, “O Último Imperador”, de Bertolucci, ou
“Batismo de Sangue”, de Helvécio Ratton, que têm, sim, sequências em prisões,
mas relatam muito mais do que isso em suas tramas. No nosso caso, não basta:
tem que estar encarcerado mesmo, atrás das grades, em cana, no xadrez, detido, vendo
o sol nascer quadrado. Então, “teje preso” a esses 15 títulos essenciais sobre prisão:
- “O Homem de Alcatraz”, de John
Frankenheimer (“Birdman of Alcatraz” - EUA, 1962)
Com a mão do craque John Frankenheimer, diretor que nunca se omitiu de
mostrar mazelas do sistema norte-americano e nem de aprofundar aspectos
psicológicos muitas vezes relegados à superficialidade, este filme traz a
realidade de uma penitenciária típica dos Estados Unidos a partir de um
conflito entre o pragmatismo e o humanismo. Um prisioneiro (Robert Stroud, por
Burt Lancaster) condenado pelo assassinato de dois homens passa a vida na
cadeia. Lá se torna um autodidata sobre pássaros, sendo reconhecido
mundialmente como uma grande autoridade no assunto. Mas, apesar de demonstrar
regeneração e um intelecto superior, o Estado se recusa a libertá-lo.
- “O Processo de Joana D’arc”,
de Robert Bresson (“Procès de Jeanne D´Arc” - FRA, 1962)
A austeridade e sobriedade de Robert Bresson emprestam ao filme uma
narrativa absolutamente austera, desde o uso de atores não-profissionais até o
centramento exclusivo aos documentos oficiais sobre o caso, passado no século
XV. Para muitos o grande filme do diretor, “O Processo...” mostra outro tipo de
prisão, a religiosa, uma vez que a iluminada Joana era considerada bruxa pelas
visões e percepções espirituais que tinha naturalmente. Com rigor, Reconstituiu
a prisão, o julgamento e a execução da mártir.
- “Fugindo do Inferno”, de John
Sturges (“The Great Escape” - EUA, 1963)
Clássico filme de prisão de guerra à época da Segunda Guerra e baseado
em fatos reais. Aliados tentam fugir de um campo de concentração alemão, o
Stalag Luft III, considerado como o mais seguro do gênero. Elenco impagável com Steve McQueen, James Garner, Richard Attenborough, Charles Bronson, James Coburn, entre outros feras. Globo de Ouro de Melhor Filme de Drama.
- “Rebeldia Indomável”, de Stuart Rosemberg (“Cool
Hand Luke” - EUA, 1967)
Filme impactante e com a excelente atuação de Paul Newman, que faz o
rebelde e inconsequente Luke Jackson. Preso, ele recusa-se a obedecer as regras
do local e ganha o respeito dos demais presidiários por sua valentia e
malandragem. Insiste em fugir, mas a cada nova recaptura as punições são mais
severas, aumentando constantemente o ódio entre ele e os guardas. Indicado ao
Oscar, Newman não levou este, que foi para o ator coadjuvante, George Kennedy.
Porém, em 2003, seu personagem Luke foi escolhido pelo American Film Institute
(AFI) como o trigésimo maior herói dos filmes norte-americanos.
Dustin Hoffman e Steve McQueen
em "Pappilon"
- “Papillon”, de Franklin Schaeffner (EUA,
1973)
Obra-prima ainda pouco valorizada, esta superprodução é dos filmes mais
realistas e impactantes do gênero. Conta a história verídica de Henri Charrière
(Steve McQueen, novamente encarcerado), conhecido como Papillon, que, apesar de
reclamar inocência da acusação de assassinato, é condenado à prisão perpétua e
enviado para cumprir a sentença na Guiana Francesa, na Ilha do Diabo, num
presídio de segurança máxima. A direção de Schaeffner não deixa nada às
escuras: as torturas, a fome, as punições, a desumanidade do presídio, está
tudo ali. McQueen, impecável, assim como Dustin Hoffman (o amigo francês Dega).
Incrivelmente, recebeu apenas indicações no Oscar e Globo de Ouro, mas não
levou nada. Das injustiças históricas.
- “O Expresso da Meia-Noite”, de
Alan Parker (“Midnight Express” - ING, 1978)
Dos mais impactantes e dramáticos filmes do gênero, passa-se, ao
contrário das jaulas superequipadas dos Estados Unidos, numa insalubre e insana
prisão da Turquia. O saudoso Brad Davis interpreta magistralmente Billy Hayes,
um estudante norte-americano que é pego traficando drogas num aeroporto de
Istambul. Não só vai parar numa prisão degradante, onde é torturado física e
psicologicamente, como ainda recebe como exemplo uma pena mais rigorosa que o
normal. Parker, em ótima fase, leva o espectador a entrar num mundo de
introspecção e loucura, dando um sentido metafórico e simbólico ao título.
Oscar de Melhor roteiro adaptado, de Oliver Stone, e de Melhor Trilha Sonora,
com os marcantes temas synth-pop de Giorgio Moroder.
- “Alcatraz – Fuga Impossível”,
de Don Siegel (“Escape from Alcatraz” - EUA, 1979)
Para muitos, o maior filme de penitenciária já realizado, o que não é
nenhum absurdo. Ápice da parceria entre Siegel e Clint Eastwood, que interpreta
Frank Morris, um condenado que tem várias tentativas de fugas em seu histórico
e é enviado para a prisão de segurança máxima da Ilha de Alcatraz, conhecida
por não deixar nenhum preso fugir ou sair vivo numa escapada. Porém, obstinado
e calculista, Frank vê os pontos vulneráveis de Alcatraz e, com a ajuda de
alguns outros internos, cria uma rota de fuga perigosa e improvável. Não tem
como não torcer pelo bandido!
- “Furyo – Em Nome da Honra”, de
Nagisa Oshima (“Merry Christmas, Mr. Lawrence” - JAP/ING/NZL, 1983)
Raro filme do sempre profundo Oshima, que reúne dois gênios da música
como atores: David Bowie (em sua melhor atuação no cinema) e Ryuichi Sakamoto,
que assina também a ótima trilha. Na Segunda Guerra, num campo de concentração
na Ilha de Java, o prisioneiro inglês Jack Celliers (Bowie) provoca um conflito
quando decide não obedecer às rígidas regras do capitão Yonoi (Sakamoto),
insolência repudiada com violência. Porém, o oficial inglês se mantém
irredutível, o que enfurece ainda mais o capitão. Interessante reflexão sobre
orgulho, honra e os limites humanos tanto físicos quanto psicológicos.
Sônia Braga nos lances oníricos
do filme.
- “O Beijo da Mulher Aranha”, de
Hector Babenco (BRA/EUA, 1984)
Um dos cineastas mais talentosos vivos, Babenco está nesta lista com
dois filmes. Um deles é este até então raro acerto de coprodução brasileira com
os EUA, uma vez que, quando se fazia, prevalecia o poderio yankee. Com
equilíbrio, Babenco consegue fazer com que Milton Gonçalves e José Lewgoy
ficassem no mesmo nível de William Hurt (Oscar de Melhor Ator pela atuação) e
Raul Julia, sem falar, claro, na participação mais que especial de Sônia Braga.
As sequências em que Hurt e Julia contracenam na cela são históricas em
diálogos e afinação entre atores, pois, além de talentosos, nota-se que estão
muito bem dirigidos.
- “Memórias do Cárcere”, de
Nelson Pereira dos Santos (BRA, 1984)
Prêmio da crítica em Cannes e Melhor Filme em Moscou (quando o evento
ainda era importante), este épico do cinema brasileiro é uma aula de construção
narrativa, a qual dialoga metalinguisticamente o tempo todo com a obra de
memórias escrita por Graciliano Ramos, quando este fora preso na vida real pelo
governo Getúlio Vargas. Ainda, atuações impecáveis de Carlos Vereda, José
Dumont, Tonico Pereira, os saudosos Jofre Soares e Wilson Grey e da jovem
Glória Pires. Cenas memoráveis, como a “transmissão” da Rádio Libertadora
dentro do quartel, o momento da deportação de Olga Benário e a ajuda dos presos
a esconderem os escritos do suposto
livro, entre outras várias.
- “Barrela: Escola de Crimes”,
de Marco Antonio Cury (BRA, 1990)
Daqueles filmes que tem tudo para ser monótono, mas o roteiro, as
atuações e a direção são tão bons que formam uma obra coesa. O texto teatral de
Plínio Marcos se encaixa com densidade à adaptação cinematográfica, sustentada
no jogo certo de distribuição das falas de cada personagem (todos MUITO nem
construídos) e nas atuações intensas de cada um dos atores. São seis presos
condenados a longas penas e confinados numa cela onde cada qual disputa seu
espaço. A situação se torna mais angustiante quando junta-se a eles um jovem de
classe média preso durante briga. Frustração, tristeza, humilhação, autoproteção.
Plínio Marcos tece tudo isso numa teia em que coabitam o amor mais profundo e inalcançável
ao abandono concreto e degradante.
- “Um Sonho de Liberdade”, de
Frank Darabont (“The Shawshank Redemption” - EUA, 1994)
Junto com “Alcatraz”, disputa o posto de grande filme de prisão da
história. Emocionante, toca em temas fortes como morte, amizade, religião,
injustiça e desejos essenciais do ser humano. Em 1946, Andy Dufresne (Tim
Robbins), um bem sucedido banqueiro, tem a sua vida radicalmente modificada ao
ser condenado por um crime que nunca cometeu, o homicídio de sua esposa e do
amante dela. É mandado para a Penitenciária Estadual de Shawshank, para cumprir
pena perpétua. Lá, conhece muita gente, desde o corrupto e cruel agente
penitenciário, o prisioneiro Ellis Boyd Redding (Morgan Freeman), com que faz
amizade, e até Al Capone, que cumpria sua pena lá depois de ser pego por Elliot
Ness. Figura na lista dos 100 melhores filmes de todos os tempos pelo AFI.
- “Carandiru”, de Hector Babenco
(BRA, 2003)
Outro de Babenco, este ainda mais imerso na questão prisional. Ao
contrário de “O Beijo...”, entretanto, faz o movimento narrativo inverso: parte
do ambiente social para o da prisão, estabelecendo uma permanente comotivação
entre os dois espaços – física e psicologicamente. De narrativa moderna, faz
com estes paralelismos um dos melhores filmes nacionais da primeira década dos
anos 2000, estabelecendo diversos atores que se tornariam astros nos anos
seguintes, como Rodrigo Santoro, Lázaro Ramos, Wagner Moura e Caio Blat. A
história, baseada no best seller do médico e escritor Dráuzio Varella, culmina
no fatídico Massacre de 1992. Filmaço.
Os próprios presos constroem a
narrativa no documentário.
- “O Prisioneiro da Grade de
Ferro”, de Paulo Sacramento (BRA, 2003)
Brilhante documentário de Sacramento em que ele coloca os próprios
presos a construir com ele o filme, numa cocriação que reforça o realismo
documental da proposta. Utilizando as técnicas aprendidas em um curso de
filmagem ministrado dentro do presídio, os detentos encarcerados no maior
centro de detenção da América Latina, o Carandiru, documentam seu cotidiano,
registrando as condições precárias nas quais sobrevivem. Filmado 10 anos após o
Massacre do Carandiru, que custou a vida de mais de uma centena de detentos,
mostra o quanto uma tragédia como esta promovida pelo Estado não se apaga com
facilidade, haja vista as marcas inapagáveis nas pessoas e na sociedade.
- “Leonera”, de Pablo Trapero
(ARG – 2008)
Do grande cineasta argentino Pablo Trapero, um dos maiores da
atualidade, tem a peculiaridade de contar a vida dentro de uma penitenciária
feminina, no caso uma para mães e grávidas sentenciadas. No caso de Julia (a
bela e talentosa Martina Gusman), acusada de um crime sem provas, o filme
mostra sua adaptação à nova realidade social, o que a transforma intimamente.
Porém, seu desejo de fugir dali nunca esmorece, e é isso que a move. Não é o
melhor de Trapero, mas guarda várias qualidades de seu cinema.