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quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Música da Cabeça - Programa #379

 

Dona Cate Blanchet sabe das coisas. Na vibe de descobrir genialidades brasileiras, o MDC desta semana reprisa a sua edição de nº 290, que teve, como convidado especial, um genial artista da nossa música: Cid Campos. Confiram a entrevista dele e relembrem nosso programa de outubro de 2022. É hoje, 21h, na genial Rádio Elétrica. Produção, apresentação e confissões bombásticas: Daniel Rodrigues.


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quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Música da Cabeça - Programa #343

 

do poemabomba de augusto surge o mdc desta semana. reprisando nossa edição de nº 290, em que tivemos a entrevista com o poeta e músico cid campos, rodado em outubro de 2022, teremos como sempre música, poesia e ideias. soltando bombas, mas daquilo que nos mantém vivos, o programa hoje vai ao ar na concretista rádio elétrica. produção e apresentação: daniel rodrigues.


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quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

A Arte do MDC em 2022


A logo do programa refeita pelo designer André Michel
Já que estamos neste momento de trazer algumas retrospectivas do ano no Clyblog, como dos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS e dos confrontos de filmes-times Clássico é Clássico (e vice-versa), me inspiro num outro tipo de balanço que é comum no blog todos os anos: o das artes, que são uma enormidade e inspiradíssimas. Porém, este aqui é um pouco diferente, mais singelo mas inédito, pois se trata das artes do Música da Cabeça, programa que comando na Rádio Elétrica. Sempre há, a cada semana, uma arte acompanhada de uma chamada para o episódio das quartas-feiras nas redes sociais e aqui pelo blog. Porém, as criações que eram de modo geral bem mais simples no início, foram ganhando de uns tempos para cá, à medida em que o próprio programa foi adquirindo envergadura e maturidade, também maior destaque. Ainda por cima, o ano de 2022 marcou os 5 anos do MDC, comemorados em abril, e que teve uma série de ações, de promoções junto a Regentag a posts e edições especiais.

Não se tratam de primores das artes gráficas, até porque muitas vezes realizadas com ferramentas básicas e sem grandes habilidades técnicas para um bom acabamento. Porém, isso sim posso afirmar, sempre buscando realizar algo criativo, interessante, instigante. Muitas vezes, sem falsa modéstia, com sucesso, haja vista que a vida política, pública, cultural, etc., propicia que sempre haja temas passíveis de serem aproveitados tanto textual quanto, neste caso, graficamente. Meu esforço é tanto que recentemente fui recompensado e ganhei de presente do meu amigo e colega André Michel, de formação e talento mil vezes mais hábil que eu nestes paranauê de design, a logo do programa "revitalizada", aquela com a imagem da figura humana com a cabeça de caixa de som. Ou seja, com um ou dois retoques, ele conseguiu alinhar formas e dar uma cara profissional para a logotipia. Valeu, André! 

De resto, podem ser peças, colagens, fotografias, vídeos, enfim, o que convier para aquela situação e tema/chamada. Tá valendo. O principal é chamar atenção para o programa e, de quebra, trazer criações novas a cada semana para o Clyblog. Fiquem aqui, então, com algumas das artes do MDC que rolaram em 2022:

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Abrimos o ano de 2022 parodiando o filme "Não Olhe para Cima"...


...mas logo a chapa esquentou e precisamos parar com a brincadeira pra falar
de coisa séria: o assassinato do imigrante congolês Moïse Kabagambe


Vídeo para chamada da excelente entrevista com a professora e etnomusicóloga Ana Paula Ratto de Lima Rodgers



Em fevereiro, no dia 22/2/22, aproveitamos pra intervir com o MDC 255


Ia chegar a hora que o famigerado ppt do Dalla'gnol pudesse
ser esculachado. Chegou, em março


Em abril, comemoramos os 5 anos do programa com logo especial


Na campanha dos 5 anos, tivemos superpromoção de camisetas da Regentag e quem foi o garoto-propaganda?



Dois dos gênios oitentões da MPB, Gilberto Gil e Caetano Veloso, ganharam artes, literalmente,
espelhadas, um em junho e o outro em agosto



O verão infernal na Europa, em julho, também nos motivou a fazer arte pro MDC


Elas, as mulheres pretas de ontem e de hoje, viraram arte quando
da semana Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, em julho


E a cratera que se abriu no Atacama em agosto? ´Culpa do MDC


Teve gente que pensou que havia aprendido a falar russo. Não: era só o anúncio da entrevista de André Abujamra, pra edição especial de nº 280


E chegaram as Eleições. Como não tirar uma com aquele debate?


Godard mereceu uma arte quando de sua morte. Essa ficou show, que até eu me abri


Outra arte que ficou legal, na ed. 289, de 19 de outubro


Mais um vídeo personalizado, este para a entrevista do músico e produtor Cid Campos, na ed. 290


Duas perdas irreparáveis e sequentes pra música brasileira: Gal Costa e Erasmo Carlos,
que motivaram as artes de dois programas em novembro


Dezembro teve Copa do Mundo! E o MDC tá sempre de olho no lance



E terminamos o ano anunciando o primeiro MDC de 2023, o de nº 300, que teve entrevista de Fred Zeroquatro!



Daniel Rodrigues

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Música da Cabeça - PROGRAMA ESPECIAL Nº 290



PROGRAMA ESPECIAL DE Nº 290 COM O MÚSICO, POETA E PRODUTOR MÚSICA CID CAMPOS

ALÉM DA ENTREVISTA NO 'UMA PALAVRA', MÚSICA, INFORMAÇÃO, LETRA E MUITO MAIS.





Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Música da Cabeça - Programa #133


O óleo pode ser venezuelano, mas a incompetência é toda brasileira. Enquanto a poluição avança sobre o litoral sem contenção, nós do Música da Cabeça montamos uma força-tarefa de boas vibrações sonoras. Estão nessa conosco Morcheeba, Kraftwerk, Kleiton & Kledir, The Chemical Brothers, Meirelles e os Copa 5, Chic, Cid Campos, Echo & The Bunnymen e mais. Ainda, "Música de Fato", "Palavra, Lê" e um "Cabeção" bem avant-garde pra não aliviar mesmo. Arregaça as mangas, que o programa de hoje vem pra conter qualquer vazamento. É às 21h, na Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues (e não: não tá tudo azul).


Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Adriana Partimpim - "Adriana Partimpim" (2004)



“Quando eu era criança, as pessoas me perguntavam: ‘como é teu nome?’ Eu respondia: Adriana Partimpim. Meu pai até hoje só me chama de ‘Partimpim’.” 
Adriana Calcanhoto

"Os artistas japoneses do grande período mudavam de nome várias vezes na vida. Amo isso!!!" Adriana Partimpim

“ADRIANA CALCANHOTO:  Era possível, através da música, passar para o outro lado e adentrar o mundo fascinante dos adultos...?
ADRIANA PARTIMPIM: O disco foi feito para eu ser a criança que sou hoje e não a que já fui.
ADRIANA CALCANHOTO: Então o ‘disco infantil’... 
ADRIANA PARTIMPIM: Ao invés de música para crianças, tarja que não considero exata, preferi chamar de disco de CLASSIFICAÇÃO LIVRE. Que, no fundo, é tudo o que ele mais gostaria de ser.” 
Trecho da entrevista que Adriana Partimpim concedeu à Adriana Calcanhoto na época do lançamento do disco 

Vinicius de Moraes, depois dos vários projetos literários e musicais que encabeçou durante mais de 40 anos de vida artística, voltou seu olhar, no último deles, às crianças. Nada das mulheres, das paixões ardentes, da boemia, da praia ou dos orixás. O histórico “Arca de Noé”, em parceria com Toquinho e que envolveu vários outros artistas convidados, fez escola no Brasil no que se refere à produção cultural para os pequenos. Elevou-a – junto com outros igualmente célebres, como “Sítio do Picapau Amarelo”, “Pirilimpimpim” e “Plunct Plact Zum” – a um nível de igual qualidade ao que Vinicius fizera na bossa-nova e na literatura.

Com a morte do “Poetinha”, logo após o lançamento do primeiro volume de “Arca...”, em 1980, coincidindo com a acirrada competição televisiva dos programas infantis que tomariam os anos 80, essa proposta de oferecer alta qualidade de cultura para os baixinhos foi se esvaziando. Toquinho e Paulo Leminski bem que tentaram, mas sucumbiram a “Ilariês” e assemelhados. Parecia que não haveria jamais alguém que seguisse aquele caminho aberto por Vinicius em final de vida. Porém, passadas quase duas décadas e meia, o destino levou a gaúcho-carioca Adriana Calcanhoto a assumir esse espaço com o rico – e salvador – projeto “Adriana Partimpim”, de 2004.

A ideia de Adriana, a Calcanhoto, era antiga, de 10 anos antes. À época, ela já havia recolhido temas aos quais gostaria de propor uma nova roupagem sonora, mais solta, divertida e que agradasse tanto crianças quanto adultos. O parceiro Dé Palmeiro foi quem mais incentivou. Porém, imagina-se que deva ter contribuído em certa medida a forte ligação amorosa que Adriana passou a ter com a atriz e cineasta Suzana de Moraes, filha de Vinícius, com quem se casara quatro anos antes de “Partimpim” ser lançado. Pronto: havia juntado todo o necessário: a vontade de compor o repertório, sua experiência e qualidade artística, o apoio externo e o acolhimento emocional. Muito provavelmente, o universo viniciano dentro de casa (e do coração) contagiou Adriana ainda mais, quase que como uma bênção espiritual. O resultado é um disco com alma, diferenciado: ao mesmo tempo altamente musical, tanto no que se refere à escolha do repertório quanto em arranjos e sonoridade, mas também delicioso de se ouvir, pop no melhor sentido.

Não precisa mais de meia hora para isso. De grande experiência e rara sensibilidade, Adriana seleciona dez faixas tão certeiras que parecem, mesmo com idades de composição tão diferentes entre si, terem sido escritas para integrar somente esse disco. A beleza começa com um som de scratch de rap, seguido de uma batida de samba muito gingada e um violão digno dos melhores mestres do instrumento. É "Lição de Baião", canção do repertório de Baden Powell, gravada originalmente em 1961, e que tem a participação de ninguém menos que Louis Marcel Powell, filho e sucessor da maestria do pai nas cordas de nylon. Um barato a letra que brinca – como as crianças fazem! – com as palavras em francês e em português, construindo versos misturando os dois idiomas.

Quadrinhos que ilustram a canção "Oito Anos"
(adrianapartimpim.com.br/um/)
"Oito Anos", que Paula Toller compôs para responder às inúmeras (e, não raro, capciosas) perguntas do filho Gabriel, virou um grande sucesso na voz de Partimpim. É divertidíssima em sua enumeração de indagações típicas de criança que está conhecendo o mundo. “Por que as cobras matam/ Por que o vidro embaça/ Por que você se pinta/ Por que o tempo passa”, são alguns dos versos que dão ideia da encrenca que é para uma mãe responder  A própria autora comenta a respeito: "Quando cantei para o Gabriel fui mais mãe-artista que artista-mãe. Agora ouço Adriana interpretando ‘Oito anos’ como um menino esperto e adorável. Na leveza da voz dela, há espontaneidade e uma sutil implicância muito bem sacada, afinal, perguntar tanto é menos para saber a resposta do que para treinar a ferramenta perguntadora e a paciência do respondedor.”

A marchinha carnavalesca "Lig-Lig-Lig-Lé", dos anos 30, ganha um arranjo colorido em que se vale bem do clima com que Adriana orientou seus músicos: “tocaram com leveza, com delicadeza e espontaneidade, com muito humor e quase nenhuma coerência”. Querida desde a época de seu lançamento, no carnaval de 1937 (o noticiário da época a classificava como “sucesso fulminante” e “destinada a um recorde de bilheteria”), é das mais divertidas faixas do disco.

Mais do que “Oito Anos”, “Fico Assim sem Você”, na sequência, foi um verdadeiro hit de “Partimpim”, colocando o disco entre os mais vendidos da época. Versando um funk melódico de Claudinho & Buchecha – e cuja original já havia feito estrondoso sucesso nos anos 90 –, não só conquistou o grande público com sua bela melodia romântica e arranjo moderno – com a programação de ritmo funkeada, o violão bossa-nova de Adriana, bem como sua delicada voz, muito afeita à melodia da canção –, como, igualmente, prestou uma bonita homenagem à dupla carioca, desfeita tragicamente em 2002 por conta da morte de Claudinho. A letra, de certa forma, prenuncia a falta que um amigo faz ao outro caso se separassem (o que, fatalmente, ocorreu): "Avião sem asa/ Fogueira sem brasa/ Sou eu assim, sem você/ Futebol sem bola/ Piu-Piu sem Frajola/ Sou eu assim, sem você...". E o refrão não pode ser mais doce: "Eu não existo longe de você/ E a solidão é o meu pior castigo/ Eu conto as horas pra poder te ver/ Mas o relógio tá de mal comigo."

Outra delícia é "Canção da Falsa Tartaruga", em que o poeta concretista Augusto de Campos, fértil parceiro de Adriana (a Calcanhoto), e seu filho, o músico e também poeta Cid Campos, versam com muita habilidade e sensibilidade um trecho de “Alice no País das Maravilhas”, clássico do escritor britânico Lewis Carroll, de 1865. O resultado é uma canção delicada, com um refrão de notas abertas tão bonito que é impossível não cantar junto sempre que se ouve: “Quem não diz: - Ave!/  Quem não diz: - Eia!/ Quem não diz: - Opa!/ Que bela Sopa!” E por que uma sopa de uma falsa tartaruga? Ora, alguém já viu uma tartaruga de verdade fazer sopa?...

Rebuscando mais um pouco o variado conhecimento musical, Adriana traz a bossa nova meiga e melancólica “Formiga Bossa Nova”, adaptação do poema do português Alexandre O’Nell que ficara conhecida, em 1969, na voz da cantora lusa Amália Rodrigues. Outra mostra do quanto a proposta de “Partimpim” não é trazer somente temas de fácil assimilação, uma vez que abarca (também) o público infantil. Caso também de “Ser de Sagitário”, composta por Péricles Cavalcanti para sua filha, que ainda não havia nascido e que ele e sua esposa não sabiam nem que sexo teria, apenas que nasceria no começo de dezembro, ou seja, na vigência do signo de sagitário. “Você metade gente/ e metade cavalo/ Durante o fim do ano/ cruza o planetário”, diz a poética e tocante letra, fazendo uma metáfora com o centauro, símbolo do signo no zodíaco.

O poetinha Vinícius de Moraes: inspiração 
e bênção
Na mesma linha, outra brilhante canção de “Partimpim”: “Ciranda da Bailarina”. Se “Formiga Bossa Nova” e “Ser de Sagitário” não poupam as crianças de refletirem e aguçarem seus sentimentos, esta, clássico de Edu Lobo e Chico Buarque da trilha do balé “O Grande Circo Místico”, de 1983, vale-se da fantasia e da figura de linguagem da comparação para concluir aquilo que é óbvio, mas que nem todo mundo admite: que ninguém é perfeito. Ao dizer que só a bailarina, tão artificial quanto mítica, não tem pereba, marca de bexiga ou vacina e nem dente com comida ou casca de ferida, está se deixando claro que todo mundo é ser humano. E aí é que está a beleza! Afinal,“sala sem mobília/ Goteira na vasilha/ Problema na família/ Quem não tem?” Bela versão de Adriana em que seus violão e vocal apurados funcionam muito bem novamente. Fora que ainda lhe foi permitido finalmente dizer a ridiculamente proibida palavra “pentelho” sem o grosseiro corte da censura como ocorreu na versão original, ainda dos tempos de Ditadura.

Os craques da nova MPB Moreno Veloso, Kassin e Domênico, este último, autor de "Borboleta", canção encomendada especialmente a ele por Adriana para o disco, antecede outra das especiais de “Partimpim”: “Saiba”, que o encerra. Lindamente classificada como“uma canção para ninar adultos”, “Saiba”, de Arnaldo Antunes, fecha o disco com a mais doce e profunda poesia, pondo os baixinhos para refletirem sobre coisa séria, mas necessária - e, por que não dizer, comum. A música leva o ouvinte a pensar sobre a condição humana a partir de uma proposição óbvia, porém pouco elucubrada: a de que “todo mundo foi criança” e que o ciclo da vida, inevitavelmente, se encerra um dia. Como não ficar tocado por versos como estes? “Saiba/ Todo mundo teve infância/ Maomé já foi criança/ Arquimedes, Buda, Galileu/ e também você e eu”. A letra ainda tem a função educativa de apresentar versos e termos rebuscados, como os nomes estrangeiros Nietzsche e Sadam Hussein, ou rimas diferentes do comum: “Simone de Beauvoir” com “Fernandinho Beira-Mar” ou “Pinochet” com “você”, ambas rimas de classificação “preciosa”, um tipo raro que combina palavras de idiomas distintos. Um final emocionante e que lembra, em certa medida, as melancólicas “Menininha” e “O filho que eu quero ter”, que finalizam os dois volumes de “Arca de Noé”, respectivamente.

A brincadeira de assumir outra personalidade foi levada a sério (sic) por Adriana, a Calcanhoto, que deu vida à outra Adriana, a Partimpim. Com nome artístico independente de sua criadora, a criatura Adriana Partimpim deu tão certo, que, além deste primeiro álbum, outros dois ótimos vieram a seguir (2009 e 2012), além de dois DVD’s ao vivo igualmente imperdíveis. Mais do que isso: o projeto Partimpim pareceu simbolizar um salto qualitativo na obra e na carreira de Calcanhoto, um momento em que ela conseguiu reunir sua competência artística, estética e performática a seus mais íntimos sentimentos. E o resultado foi algo genuíno. Infantil? Adulto? Tanto faz. Como conseguira Vinícius de Moraes em “Arca...”, o trabalho das Adrianas, a Calcanhoto e a Partimpim, rompeu as fronteiras da idade dos ouvintes e da idade do tempo. Afinal, contempla, igualmente, as crianças grandes e os pequenos adultos.

Clipe de "Fico Assim sem Você"


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FAIXAS:

1. "Lição de Baião" (Daniel Marechal/Jadir de Castro) - 03:16
2. "Oito Anos" (Dunga/Paula Toller) - 03:08
3. "Lig-Lig-Lig-Lé" (Oswaldo Santiago/Paulo Barbosa) - 02:38
4. "Fico Assim Sem Você" (Abdullah/Cacá Moraes) - 03:08
5. "Canção da Falsa Tartaruga" (Augusto de Campos/Cid Campos sobre texto de Lewis Carroll) - 04:07
6. "Formiga Bossa Nova" (Alain Oulman/Alexandre O'Neill) - 02:28
7. "Ciranda da Bailarina" (Chico Buarque/Edu Lobo) - 02:49
8. "Ser de Sagitário" (Péricles Cavalcanti) - 03:03
9. "Borboleta" (Domênico Lancellotti) - 02:30
10. "Saiba" (Arnaldo Antunes) - 03:01

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OUÇA O DISCO:
"Adriana Partimpim"

Daniel Rodrigues

terça-feira, 23 de abril de 2013

Adriana Partimpim - "Partimpim Tlês" (2012)


Ganhei de presente de minha amada Leocádia Costa o último CD do projeto Partimpim, de Adriana Calcanhoto: o “Partimpim Tlês” (isso mesmo, três com “L”, bem queridinho e infantil). Como esperado, um encanto de disco. Assim como os dois primeiros, o já fundamental “Adriana Partimpim”, de 2004, e “Partimpim 2”, lançado somente cinco anos depois, o novo da série traz canções infantis (ou não) para crianças (ou não) com muita poesia e numa roupagem ao mesmo tempo lúdica e arrojada, tendo em vista os arranjos primorosos que vão do intimismo à vanguarda. 

Tudo é muito artesanal, mas não que se exima de usar toda uma parafernália tecnológica e uma produção caprichadíssima. A banda, por exemplo, conta com nada menos que craques como Kassin, Moreno Veloso, Domenico e Berna Ceppas. Enfim, um projeto que já dura nove anos e que tem como diferencial não subestimar a inteligência dos pequenos. A instrumentação rebuscada, o primor das harmonias, o alto nível dos autores e parceiros (que vão desde Augusto de Campos e Ferreira Gullar até Péricles Cavalcanti e Arnaldo Antunes, tudo mostra o quanto este público merece, sim, não só Xuxa ou coisa pior.

Mas o disco? Repleto de pérolas do cancioneiro infantil ou, melhor ainda, identificadas com muita sensibilidade por Adriana como sendo também música que criança pode ouvir. Por que não? É o caso da sacada de “Taj Mahal”, de Jorge Ben compositor cujas letras, de fato, sempre tiveram um quê de infantil. Também é o que acontece com a ecológica “Passaredo”, de Chico Buarque e Francis Hime, e a mais surpreendente e brilhante delas: “Lindo Lago do Amor”, hit de Gonzaguinha nos anos 80 mas que nunca havia sido identificada como podendo ser também para os pequenos ouvintes. Tem ainda, ao contrário do primeiro da série, que só continha músicas de outros compositores, canções próprias de Adriana – tal como já ocorrera a partir do segundo volume. Destas, “Salada Russa”, parceria com Paula Toller, é um verdadeiro barato com sua letra inteligente que brinca com divertidas e inteligentes antífrases (despertando, inclusive, a curiosidade nas crianças sobre as figuras de linguagem).

Das inéditas, também tem a graciosa “Criança Crionça”, do poeta concretista Augusto de Campos e seu filho, o compositor Cid Campos – que conta com a participação especialíssima nos créditos do ronronar da gatinha de Adriana, a Sofia; a poética e etérea “Por que os Peixes Falam Francês?”; e a fofa canção-de-ninar “Também Vocês”, feita, como diz na dedicatória, para Lucinda Verissimo cantar para seu avô (Luís Fernando Veríssimo).

Destaques ainda para “De Onde Vem o Baião”, de Gilberto Gil (feita originalmente para Gal Costa que a gravou em 1978), e o clássico da bossa-nova “O Pato”, que há tempos estava caindo de maduro para Adriana gravar no Patimpim.

O CD desfecha em tom leve e quase “soninho” com Dorival Caymmi e sua “Acalanto”, autor que também mereceu outra homenagem com a maravilhosa “Tia Nastácia”, feita originalmente para a trilha sonora do Sítio do Pica-Pau Amarelo da Globo, nos anos 70. Esse é o melhor exemplo de que Adriana Calcanhoto, que assumiu o sobrenome Partimpim até nos créditos, pegou pra si a responsabilidade de seguir adiante com a tradição de trilhas para criança inteligentes como se fizera tempo atrás em obras referenciais como "Plunct Plact Zum!!!", “O Grande Circo Místico” ou “Arca de Noé” mas que, em tempos de progressiva imbecilidade da sociedade, vinha se estabelecendo. Ainda bem que a Adriana (a Partimpim!) está aqui para salvar a nós e à criançada. Longa vida a Adriana, seja a Partimpim ou a Calcanhoto.

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