É sempre um prazer voltar à Fundação Iberê Camargo. Aproveitando dias de descanso e uma tarde ensolarada na gélida Porto Alegre invernal, o passeio se completou com o convite de Leocádia a visitarmos a exposição a pouco aberta do artista visual gaúcho e indígena Xadalu Tupã Jekupé, “Antes que se apague: territórios flutuantes”. Condizente com o momento histórico que o Brasil vive atualmente, de total desrespeito à cultura indígena somados aos séculos de extermínio do povo originário americano.
Com curadoria de Cauê Alves, a primeira individual do artista na instituição aborda a questão do apagamento da cultura indígena na região oeste do Rio Grande do Sul, onde diversas etnias foram dizimadas. São 19 obras, que surpreendem pelas dimensões impactantes e pela riqueza de simbologias. Elas são memórias da infância de Xadalu, bem como de sua mãe, de sua avó e de sua bisavó, na antiga Terra Indígena Ararenguá, na beira do Rio Ibirapuitã, em Alegrete. Memórias da casa de barro, sem luz elétrica, do fogo de chão e da pesca, das águas geladas que atravessavam todos os dias em busca de alimento e das infinitas noites escuras, apenas iluminadas pelas estrelas.
Para quem circula por Porto Alegre há aproximadamente uma década, é quase impossível não ter se deparado com os adesivos, cartazes, pinturas ou bandeiras de Xadalu com o escrito “área indígena”. Diferentemente da anarquia escancarada de Toniolo da Porto Alegre dos anos 80, é a reinvindicação do direito ao território, uma reocupação simbólica, uma vez que, de fato, não apenas este pedaço do Sul, mas todo o Brasil (quiçá, quase toda as Américas) já foi território indígena.
Na exposição, contudo, o artista avança em sua crítica-manifesto e redimensiona estes significados. Um fator que impressiona, além do uso das cores e da apurada técnica no uso da tinta acrílica, é a cosmologia indígena, a qual difere radicalmente do paradigma “branco”. Planetas, satélites, espaços terrestres ou o próprio céu ganham formas quase surreais, místicas, encantadas, quando não donas de uma luminosidade tão viva, que além da realidade.
Mais impressionante, contudo, ainda mais para porto-alegrenses como eu e Leocádia é a reapropriação/ressignificação dada à imagem das carrancas que fazem parte dos adornos da Catedral Metropolitana. No alto do da igreja, mostram rostos guaranis sofridos que representam a sucumbência do índio ao homem branco e a Igreja. Xadalu, irônico, inverte esta lógica: com os dizeres "OI pecei cetã nnande ary" (algo como “A cidade sobre os índios”) e a impactante reprodução destas mesmas carrancas, agora povoando o espaço urbano que lhe foi tirado.
Detalhe dos rostos dos guaranis que há mais de um século "adornam" a cidade"
Na visão de Cauê, a obra de Xadalu representa “uma espécie de reconquista que não é como a conquista colonial, que explora e destrói a terra, seja pelo garimpo, a monocultura ou a construção de cidades e monumentos, mas de modo singelo, chamando atenção para quem sempre esteve ali, sentado, resistindo, mas que foi praticamente apagado, como se os indígenas tivessem perdido sua visibilidade.”
Complementarmente à outra exposição presente no mesmo Iberê Camargo com a retrospectiva da artista visual pelotense Maria Lídia Magliani, mulher preta e de forte ativismo às questões femininas à sua época, a mostra de Xadalu fortalece a noção de ocupação a qual os diversos espaços expositivos vêm tomando consciência e, literalmente, espaço. Ver de forma tão consistente a questão indígena – assim como recentemente ocorrera no MARGS para a exposição “Coleção Sartori — A arte contemporânea habita Antônio Prado”, substituída por outra importante ocupação simbólica: “Presença Africana”, atualmente em cartaz – é um alento em tempos de intolerância e sombras. Tempos em que terras indígenas estão completamente desprotegidas e que a cultura originária corre – como talvez jamais esteve em 500 e tantos anos de descobrimento do Brasil – tamanho risco de aniquilamento.
Respeito à fauna e à clora, herança dos índios
Uso apurado da tinta acrílica
Série "Pindovy", pintura e vídeo
Mais uma impressionante tela de Xadalu
Acrílica que parece até óleo sobre tela
A interessante instalação em que a terra se descola do planeta. Transformação ou extinção?
Outra mensagem socioecológica pelo ponto de vista da cosmologia indígena
Obra que usa sementes sagradas como forma de expressão
Vista geral dos corredores
Nós e a gigante obra "Nheru Nhe'ry" (tinta acrílica, serigrafia e costura sobre tecido)
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exposição “Antes que se apague: territórios flutuantes”, de Xadalu Tupã Jekupé
Quando:até 31 de julho
Onde:Fundação Iberê Camargo (Av. Padre Cacique, 2000, Porto Alegre)
Horários de visitação:Quinta-feira a domingo, das 14h às 18h/
Às quintas-feiras, entrada gratuita.
Ingressos:pelo site Sympla ou na recepção da Instituição.
Todas as seleções classificadas já são conhecidas, faltam pouco mais de cem dias para a coisa toda começar, daqui a pouco já sai o álbum de figurinhas e a galera já tá pensando que dias que vão ser de ponto facultativo.
O clyblog, como de costume, em ano de Copa do Mundo, entra no clima e dedica em todas suas seções, publicações especiais ligadas a futebol, aos países classificados ou ao país sede, que dessa vez será o Catar.
Então, está dada a largada. A partir de hoje, até 18 de dezembro, dia da final, a Copa do Mundo é no ClyBlog.
E ele chegou aos 80. Tomado de significados, o aniversário de Gilberto Gil está sendo uma celebração nacional.
Por vários motivos: ele é a nossa arte maior, o nosso orgulho enquanto povo, a representação da nossa raça, da nossa sapiência espiritual, da nossa resistência
política e cidadã. O Brasil que deu (que pode dar) certo. No Clyblog, basta fazer uma breve pesquisa pelo nome deste
artista que se encontrarão diversas referências, talvez a de maior volume nestes
quase 14 anos de blog.
Tanto é que nós, como se parentes ou súditos muito próximos, haja vista que sua arte perfaz nossas vidas desde crianças, aqui estamos reunidos para celebrar os 80 anos deste baiano que quis falar com Deus e conseguiu. Gentes
de diferentes idades, estados, profissões, mas impregnados da mesma admiração pela
vasta, vastíssima obra de Gil, um autor, assim como o mano Caetano Veloso – o próximo
oitentão da turma – capaz de produzir misteriosamente com uma qualidade superior
por décadas a fio praticamente sem quebras neste alto padrão artístico.
O “nós” a quem me refiro, claro, inclui-me, mas vai além
disso. Somos oito seguidores da egrégora Gil das áreas do jornalismo, da arquitetura, da biblioteconomia,
da arquitetura, da produção cultural e outros e, claro, da própria música. O talentoso
músico paulista Mauricio Pereira, que já versou Gil n’Os Mulheres Negras, é um
dos que generosamente colaboram conosco elencando suas preferidas. Como ele, tivemos a árdua tarefa de escolher
cada um10 músicas, chegando, devota e festivamente, à soma de 80, igual a suas primaveras
completas no último 26 de junho.
Creio que, daqui a 2 anos, quando Chico Buarque completar esta
mesma idade (o que todos esperamos), talvez haja comoção parecida. Mas somente
parecida. Gil guarda particularidades junto ao coração das pessoas que somente ele é capaz de provocar. Tanto que não foi assim quando Roberto chegou ao time dos oitentões, nem com Erasmo, Tom Zé, Flora, Hermeto, Donato e nenhum outro da música brasileira que já tenha rompido
a barreira das oito décadas. Além de recentemente sentar-se na cadeira da
eternidade da Academia Brasileira de Letras, ratificando o que construiu ao
longo de 60 anos de carreira, a própria imortalidade, este aniversário de Gil é
um aniversário de todos: dos fãs, dos brasileiros, da América preta e mestiça,
da África diáspora, da cultura latino-americana, da arte universal. De nós.
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Kaká Reis
produtora cultural (Rio de Janeiro/RJ)
"Gil sempre fez parte da minha vida. Meus dois irmãos (autores desse blog), mais especificamente Daniel, sempre trouxeram suas melodias e letras para perto e realmente conquistaram meus ouvidos a ponto de 'Tropicália 2' ser, com ainda uns 7 anos de idade, meu disco favorito. Um ancestral vivo, ativo, criativo, que eu posso ver com meus olhos, ouvir com os ouvidos e sentir com a alma… assim é Gil. Um griot da sabedoria!”
4. "Abre o Olho" ("Gilbert0 Gil Ao Vivo" ou "Ao Vivo no Tuca", 1974)
5. "Refazenda" ("Refazenda", 1975)
6. "Sarará Miolo" ("Realce", 1979)
7. "Quanta" ("Quanta", 1997)
8. "Parabolicamara" ("Parabolicamará", 1992)
9. "Nos Barracos da Cidade" ("Dia Dorim Noite Neon", 1985)
10. "Drão" ("Um Banda Um", 1982)
Leocádia Costa
publicitária, produtora cultural e locutora (Porto Alegre/RS)
"Escolher 10 canções na imensa e maravilhosa discografia de Gilberto Gil, Ave, é desesperador. Quando recebi o convite de participar dessa homenagem por ser uma fã dele e da sua expressão, precisei estabelecer algum critério para escolher 10 canções. Gostar, gosto de praticamente tudo o que ele canta, então esse não seria um critério adequado. Depois, pensei naquelas canções que me tiram do chão, me fazem vibrar em espirais que só ele produz. A missão de escolher ficou ainda mais complexa, porque algumas canções de Gil dizem o que meu coração gostaria de dizer, ou aquilo que minha cabeça pensaria, ainda coloca na minha boca a indignação ou a descoberta mais sensível dos inúmeros graus da Espiritualidade que ele percorre. Então, descartei esse critério também. Daí me dei conta que boa parte das iniciais 33 canções que eu havia escolhido se dividiam entre canções que estão eternizadas na voz do Gil e outras que eu escuto na voz dos seus intérpretes sendo praticamente deles (Cássia Eller, "Queremos Saber"; Rita Lee, "Panis et Circenses", João Donato, "Bananeira"; Dominguinhos, "Só quero um xodó"; Elis Regina, "Rebento"; e Cazuza, "Um trem pras estrelas", só para citar algumas, sendo impossível nominar as composições de Gil e Caetano que me nutrem a alma). Então, cheguei ao critério que me fez melhorar um pouco a seleção para chegar nas 10 escolhidas: destacaria somente aquelas canções que, para mim, são ouvidas na voz do compositor e que me marcaram profundamente e aí estão elas!"
1. "Lamento Sertanejo" ("Refazenda", 1975, com Dominguinhos)
2. "Sitio do Pica-Pau Amarelo" (Trilha sonora "Sítio do Pica-Pau Amarelo", 1977)
3. "Filhos de Gandhi" ("Gil & Jorge" ou "Xangô/Ogum", 1974, com Jorge Ben)
4. "Drão"
5. "Tempo Rei" ("Raça Humana", 1984)
6. "Vamos Fugir" ("Raça Humana", 1984, com Liminha)
7. "Domingo no Parque"
8. "Zumbi (A Felicidade Guerreira)" (Trilha sonora "Quilombo", 1985, com Wally Salomão)
9. "Aquele Abraço" ("Gilberto Gil", 1969)
10. "São João, Xangô Menino" ("Gilberto Gil ao vivo em Montreux", 1978, com Caetano Veloso)
Tatiana Viana
assessora de planejamento da Secretaria da Cultura de Viamão (Viamão/RS)
"Acho que ele tem lugar garantido no coração, em algum lugar da memória afetiva de todo brasileiro, uma obra ampla, maravilhosa, que fala dos dilemas humanos, de amores e sofrimentos da vida de um modo geral, a desigualdade social, cultura. Gil é um pouco de cada um de nós e nós carregamos um pouco dele em nossas vidas."
1. "Emoriô" (por João Donato, "Lugar Comum", 1975, com Donato)
2. "Extra" ("Extra", 1983)
3. "Nos Barracos da Cidade"
4. "Tempo Rei"
5. "Esotérico" ("Um Banda Um", 1982)
6. "Drão"
7. "Andar com Fé" ("Um Banda Um", 1982)
8. "Parabolicamará"
9. "Buda Nagô" ("Parabolicamará", 1992)
10. "Metáfora" ("Um Banda Um", 1982)
Maria Joana Lessa
jornalista (Rio de Janeiro/RJ)
“Eu acho que Gil é um orixá vivo”.
1. "Extra"
2. "Afoxé É" ("Um Banda Um", 1982)
3. "Abre o Olho"
4. "Sarará Miolo"
5. "Refazenda"
6. "Back in Bahia" ("Expresso 2222", 1972)
7. "Domingo no Parque"
8. "Filhos de Gandhi"
9. "Babá Alapalá" ("Refavela", 1977)
10. "São João, Xangô Menino"
Clayton Reis
arquiteto, cartunista e blogueiro (Rio de Janeiro/RJ)
"Tarefa dificílima! Sempre me ocupei meramente em apreciar e nunca em elencar minhas preferidas. Numa obra tão linda, nunca me preocupei em saber se eu gostava mais dessa ou daquela. Enfim, aí estão as 'do momento'. Talvez depois me arrependa e pense em alguma injustiçada que não entrou. Mas por agora, minhas 10 são essas aí..."
1. "Drão"
2. "Febril" ("Dia Dorim Noite Neon", 1985)
3. "Domingo no Parque"
4. "Refazenda"
5. "Roque Santeiro (O Rock)" ("Dia Dorim Noite Neon", 1985)
6. "Raça Humana" ("Raça Humana", 1984)
7. "Ela" ("Refazenda", 1975)
8. "Back in Bahia"
9. "Parabolicamará"
10. "Lamento Sertanejo"
Luciana Danielli
bibliotecária (Niterói/RJ)
"Gil, baluarte da música brasileira e o maior ministro da cultura que o Brasil já teve! Grande artista!!!! Parabéns Gil! Feliz 80!"
1. "Marginália II" ("Gilberto Gil", 1968, com Torquato Neto)
2. "Refazenda"
3. "Tempo Rei"
4. "Aquele Abraço"
5. "Toda Menina Baiana" ("Realce", 1979)
6. "Domingo no Parque"
7. "Expresso 2222" ("Expresso 2222", 1972)
8. "Lamento Sertanejo"
9. "Refavela" ("Refavela", 1977)
10. "Pela Internet" ("Quanta", 1997)
Daniel Rodrigues
jornalista, escritor, radialista e blogueiro (Porto Alegre/RS)
"'Gil engendra em Gil rouxinol', cantou Caetano usando as palavras do poeta Souzândrade para falar de Gilberto Gil. A obra de Gil é gigante em vários sentidos, por isso, misteriosa. Inclusive no assombroso volume de canções da primeira linha da música mundial. E quantas que eu adoro tiveram que ficar de fora da minha lista! 'Aqui e Agora', 'O Oco do Mundo', 'Haiti', 'Febril', 'Rock Santeiro (O Rock)', 'Beira-Mar', 'A Balada do Lado sem Luz'... Apenas 10 é pouco para representá-la e representá-lo, mas creio que, sim, muito bem representadas quando junto às 10 de todos nós. Viva Gil!! Axé!"
1. "Filhos de Gandhi"
2. "Lamento Sertanejo"
3. "Back in Bahia"
4. "Drão"
5. "Cores Vivas" ("A Gente Precisa Ver o Luar", 1981)
6. "Domingo no Parque"
7. "Palco"("A Gente Precisa Ver o Luar", 1981)
8. "Queremos Saber" (por Erasmo Carlos, "A Banda dos Contentes", 1976)
9. "Cinema Novo" ("Tropicália 2", com Caetano Veloso, 1993)
10. "Lamento de Carnaval" ("Quanta Gente Veio Ver", 1998, com Lulu Santos)
Maurício Pereira
músico e jornalista (São Paulo/SP)
“Difícil demais escolher 10 músicas do Gil pra passar pra vocês, o repertório dele tem coisas fundamentais, de cara eu já pensei numas 30… E não tou falando não como o Maurício músico ou compositor, não. Falo como ouvinte, como um brasileiro comum que se serviu da poesia, da sensibilidade, da inquietude filosófica, da visão de mundo desse artista, pra poder tentar entender e viver o mundo (e o Brasil) dum modo mais profundo e mais misterioso. Salve o Gil! .”
1. "Retiros Espirituais" ("Refazenda", 1975)
2. "Jeca Total" ("Refazenda", 1975)
3. "Vitrines" ("Gilberto Gil", 1969)
4. "Aquele Abraço"
5. "Louvação" ("Louvação", 1966)
6. "Raça Humana"
7. "Domingo no Parque"
8. "Batmacumba" (por Os Mutantes, "Tropicália" ou "Panis et Circensis", 1968, com Caetano Veloso)
9. "Meio de Campo" (por Elis Regina, "Elis", 1973)
10. "Tradição" ("Realce", 1979)
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As mais votadas
- "Domingo no Parque" - 7 votos
- "Drão" - 5 votos
-"Lamento Sertanejo", "Refazenda" e "Tempo Rei" - 4 votos
- "Back in Bahia" , "Parabolicamará", "Aquele Abraço" e "Filhos de Gandhi" - 3 votos
- "Abre o Olho", "Raça Humana", "Extra", "Sarará Miolo", "Nos Barracos da Cidade" e "São João, Xangô Menino" - 2 votos
- "Super-homem, a Canção", "Haiti", "Quanta", "Sitio do Pica-Pau Amarelo", "Vamos Fugir", "Zumbi (A Felicidade Guerreira)", "Emoriô", "Esotérico", "Andar com Fé", "Buda Nagô", "Metáfora", "Afoxé É", "Babá Alapalá", "Febril", "Roque Santeiro (O Rock)", "Ela", "Marginália II", "Toda Menina Baiana", "Expresso 2222", "Pela Internet", "Cores Vivas", "Palco", "Queremos Saber", "Cinema Novo", "Retiros Espirituais", "Jeca Total", Vitrines", "Tradição", "Meio de Campo", "Batmacumba" e "Louvação"- 1 voto