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quarta-feira, 30 de março de 2016

Wayne Shorter - “Speak no Evil” (1965)



“Wayne Shorter continua e evoluir
para explicar tudo aquilo
que as pessoas levam dentro de si.”
Herbie Hancock




Já escrevi sobre o saxofonista Wayne Shorter e o pianista e tecladista Herbie Hancock para a seção ÁLBUNS FUNDAMENTAIS mais de uma vez. De Shorter, sobre o hipnotizante "Night Dreamer", afora "The Sidewinder", no qual integra a banda de Lee Morgan. De Hancock, falei do suingado "Empyrean Isles" e do esplendoroso "Maiden Voyage", além de outras menções invariavelmente merecedoras. Porém, tanto um artista quanto outro tem, principalmente nos anos 60, vários discos (se não todos dessa época) que podem figurar numa lista de essenciais. Suas produções, seja como band leaders ou em participações, são extremamente ricas e fecundas. Outro trabalho dessa leva e de suma importância tanto quanto estes ou até mais em certo aspecto é o por mim já citado neste blog "Speak No Evil", de 1965. Aqui, com Shorter à frente, o amigo Hancock assume o piano junto com o primoroso acompanhamento de outros três mestres: o do baixo acústico, Ron Carter, o do trompete, Freddie Hubbard, e o da bateria, Elvin Jones. Às vésperas de finalmente assisti-los ao vivo pela primeira vez – e os dois numa vez só! –, acho digno relembrar uma das icônicas parcerias entre essas duas lendas vivas do jazz.

A começar pela enigmática capa de Reid Miles (para mim a melhor arte de todos os tempos da discografia jazz norte-americana),“Speak no Evil”é puro refinamento. Seja nas composições, nos arranjos, nas harmonias, nos estilos de tocar. E é um dos mais felizes momentos de comunhão entre esses músicos, todos filhos musicais de Miles Davis, porém, ainda mais, no que se refere a Shorter e Hancock, duas figuras basais para o jazz contemporâneo que seguiriam mudando em vários momentos a cara da música moderna. Aqui, a revolução já estava em plena combustão. As seis composições de Shorter presentes no disco ajudaram a definir um novo estilo dentro do jazz naqueles meados de anos 60, numa fusão da força muscular concentrada do hard bop com os intervalos surpreendentes e melodias muitas vezes suspensas sobre o compasso. O resultado disso foi a cunhagem de um novo ”Birth of the Cool", uma mistura ímpar de contenção e liberdade que criou um contraste marcante entre temas arejados e outros de uma tensão calculadamente equilibrada.

“Witch Hunt”, com o início marcante do duo entre Shorter e Hubbard, começa na melhor atmosfera cool, algo sinalizado pelo piano de Hancock, que se mantém num tom moderado. O sax dá a largada exercitando um solo de pura consciência de ritmo e variações. Equilíbrio nas tensões e distensões. Sua exatidão remete ao piano de Thelonious Monk. Seu som é tão amplo e perfeitamente pronunciado que mal se percebe quando o trompete entra. Sensação que, no entanto, logo se corrige: é Hubbard quem está no solando agora. Acelerando e intensificando, ele imprime um leve desnorteio àquele cosmos mas, igualmente inteligente, não deixa escapar o tema. A emoção é captada com ainda mais astúcia por Hancock, que desmancha os dedos sobre o piano. Claro e denso ao mesmo tempo. Tudo isso desenhado pelo dedilhado trasteado de Carter. Ao final, no último chorus, Shorter estoura com parcimônia o agudo do sax enquanto o restante se mantém, demonstrando mais uma vez o controle conceitual do álbum em seu casamento de leveza e energia.

Agora é Hancock quem dá os primeiros acordes, mostrando que, mesmo num projeto de Shorter, parceiros como ele têm participação fundamental. O pianista determina o andamento lento e elegante de ”Fee-Fi-Fo-Fum”. Carter segura um blues de alta capacidade de leitura melódica. Que tema charmoso! O riff, em chorus, é repetido uma vez e, quando parece que vai se diluir, um rolo em crescendo de Jones sinaliza para Hubbard, que já salta em uma nota aguda para depois compor um solo emotivo. Shorter acata a mesma ideia, ora repetindo o tema, ora injetando mais respiros entre uma frase e outra. Porém, tomado pela emotividade, há o momento em que a acentua a seu modo, gerando ostinati típicos de seu estilo. Após uma breve participação de quem começou tudo aquilo, Hancock, o chorus é repetido com a mais alta precisão, desfechando com o tradicional titilar nos pratos de ataque.

A cadência leve de ”Fee-Fi-Fo-Fum” é pega emprestada para o tema seguinte, “Dance Cadaverous”. No entanto, não em um clima ameno mas, sim, num muito mais denso e etéreo, trazendo ao cool uma nova dimensão de sobriedade. Hancock dispara acordes que se dispersam dos sopros, acima deles, enevoando o ambiente. Jones, de pura sensibilidade, usa baquetas de madeira quase apenas nos pratos e o chipô; quando muito, na caixa. Já Carter entrega ao ar ressonâncias estendidas. Mas é Hancock quem norteia a melodia. Nada mais natural, então, do que ele mesmo começar solando. É de seu dedilhar e da textura do piano que se constitui a essência fantasiosa da canção, o que Hancock elabora em variadas cores, seja remetendo ao classicismo de um Gershwin, dando pinceladas do atonalismo de vanguarda europeia ou se apropriando da sutiliza romântica de Chopin. A personalidade lírica e ao mesmo tempo “cadavérica” do tema dá a Shorter argumento suficiente para este transitar entre dissonâncias e relevos no improviso. Música levemente perturbadora – ou seria instigantemente deliciosa?

Mais emblemática ainda é a faixa-título, em que Shorter e Hubbard já largam arrebatados e impecavelmente sintonizados. Eles executam um riff em tempo 4/4 no qual ainda brincam com a extensão do acorde e o perfil sonoro, mantendo e variando a intensidade do corpo do som até sua queda e iniciarem um novo ataque. Como se não bastasse, o restante da banda também se esmera. Jones, bluesy por demais; Carter, preciso, preenchendo os espaços; e Hancock: ah, Hancock! Que maestria! Se em ”Fee-Fi-Fo-Fum” e “Dance Cadaverous” sua contribuição é claramente notada, em “Speak No Evil” ele voa. Figuras soltas, oníricas, encadeamentos, glissandos, quase à parte do restante dos companheiros. Nos improvisos, os solistas expandem a coloração sobre a base modal, cada um a seu jeito: Shorter, buscando a pureza dos sons, pautado por uma brandura inquieta; Hubbard, criativo como sempre, repetindo frases de seus mestres; e, por fim, Hancock, ágil e impermanente, delicadamente impiedoso.

Mais uma balada doce e sensível, “Infant Eyes” se constrói a partir dos primeiros acordes do piano, o qual chama o sax para fazer-se conhecer a melodia. Sopros extensos e sentidos, como deve ser um bom tema romântico. Shorter o conduz sem pressa por quase 5 min dos 6’54 da faixa, entre riff e improviso, os quais, difusos, se diluem. Única sem solo de Hubbard, nela cabe a Hancock quebrar a fala enfeitiçada de Shorter, o que não dura muito tempo, pois o líder, sedento por expor o sentimento de seu sax, volta para dar os últimos acordes. “Wild Flower”, com algo de oriental como sugere a capa, desfecha na mesma atmosfera elegante de todo o álbum: sobriedade e coração. Repetindo a ordem, primeiro Shorter, depois, Hubbard e, por último, Hancock, todos sob a base rítmica e harmônica cunhada por Carter e Jones. Terminava ali a sessão registrada no Natal de 1964 nos estúdios Van Gelder, em Nova York, e posta em acetado meses depois.

A fase era tão boa que somente aquele ano de 1965 contaria com outros três discos igualmente antológicos de Wayne Shorter: “The Soothsayer”, “Et Cetera” e “The All Seeing Eye”. Hancock, igualmente, estava voando baixo, compondo discos solo, trilhas, fundindo a música pop ao jazz de maneira inseparável. A dupla voltaria a se encontrar em vários outros projetos, fosse nos sessentistas “Adam’s Apple” e “Schizophrenia”, de Shorter, fosse compondo a banda de Miles (“Smiles”, "In a Silent Way", “Big Fun”, “Water Babies”, entre outros), nos discos da V.S.O.P. ou nos trabalhos de Milton Nascimento (“Native Dancer”, “Courage”, “Raça”). A última vez que entraram juntos num estúdio foi para o disco-duo “1 + 1”, de 1997 e, agora, afinados como são há meio século, retomam a parceria para uma turnê que passa pelo Brasil. Nada mais pertinente, portanto, que ouvir – ou reouvir, àqueles que conhecem – uma das obras-primas em que ambos trabalharam juntos. Speak no evil: only, listen.
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FAIXAS:
1. Witch Hunt - 8:11
2. Fee-Fi-Fo-Fum - 5:54               
3. Dance Cadaverous - 6:45
4. Speak No Evil - 8:23
5. Infant Eyes - 6:54       
6. Wild Flower - 6:06

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OUÇA O DISCO





segunda-feira, 5 de setembro de 2022

V.S.O.P. - “Five Stars” (1979)


"Eu pensei que seria impossível colocar pessoas como Tony Williams ou Ron Carter ou Wayne Shorter ou Freddie Hubbard na mesma sala ao mesmo tempo, porque muitos deles são líderes de bandas."
 
"A ideia era atualizar o passado. Eu não tinha a intenção de tentar tocar como toquei, mas pegar a música que tocamos no início e meados dos anos 70 e deixar a música acontecer a partir de nossos estados de espírito do momento."
Herbie Hancock 

É compreensível o folclore em torno dos chamados “times dos sonhos”. Seja no esporte ou nas artes, os “dream teams” criam uma verdadeira aura de fascínio. Na música, embora algumas bandas sejam consideradas excelentes, elencar uma seleção dos melhores entre os melhores é quase um sonho para os fãs. Imagine-se, por exemplo, se o rock tivesse conseguido promover o encontro de Jimi Hendrix, na guitarra; John Bonham, na bateria; Keith Emerson, nos teclados; e John Entwistle, no baixo? Impossível. 

No jazz? Tão improvável quanto. Para formar um timaço de melhores, só se fosse no Japão! E não é que este milagre aconteceu? E, pasme-se: não foi nos Estados Unidos, berço do jazz, mas, sim, na Terra do Sol Nascente. O feito raro tem um responsável: Herbie Hancock. Além de ser um dos integrantes deste “dream team”, foi ele quem catalisou as intenções e teve a ideia de, junto com o empresário David Rubinson, formar a “The Quintet”. Mas uma reunião tão especial não poderia chamar-se de outro jeito que não de algo que transmitisse bem essa ideia. A criativa solução foi dar o nome ao grupo de V.S.O.P., sigla que significa, na linguagem etilista, "Very Special One Time Performance", ou seja, a classificação dada à bebida conhaque envelhecida de alta qualidade.

Para isso, Hancock chamou, claro, só os melhores. Amigos músicos tão brilhantes quanto ele: Ron Carter, para o baixo; Tony Williams, para a bateria; Wayne Shorter, no sax; e Freddie Hubbard, ao trompete. Todos “all stars”, todos band leaders, todos lendas do jazz, que tocaram com outras lendas como Charlie Parker, Dizzie Gillespie, Miles Davis, Tom Jobim e Art Blakey. Todos senhores de obras que revolucionaram o jazz e a música moderna. Estavam todos ali, milagrosamente juntos. Seja por currículo ou por talento, a V.S.O.P. era o verdadeiro “dream team” do jazz.

Para materializar essa conjugação tão estelar, Rubinson promoveu um histórico show em San Diego, em 1977, que foi registrado no álbum “The Quintet”. O projeto deu tão certo, que deu vontade de também produzirem algo em estúdio. Foi aí que a turma foi parar no Japão, onde já eram individualmente aclamados. Foi a conexão que faltava: além de realizarem um novo disco ao vivo naquele mesmo ano, “Tempest in the Colosseum”, que encerrava a turnê, a turma, principalmente Hancock, acabou ficando lá pelo outro lado do mundo. Somente em 1979, dos seis discos que o pianista lança naquele ano, entre projetos solo ou acompanhados, quatro são gravados em Tóquio e lançados pelo selo Sony Japan. Um deles é justamente o colossal “Five Stars”, da V.S.O.P., único trabalho de estúdio da banda e cujo título não poderia ser mais adequado.

Coube ao engenheiro japonês Tomoo Suzuki comandar as mágicas gravações de 29 de julho daquele ano, nos estúdios CBS/Sony, em Tóquio. Mesmo experiente e calejado, por incrível que pareça o que o quinteto traz é de um frescor surpreendente e até tocante, não fosse, principalmente e acima de tudo, empolgante. Donos dos melhores currículos do jazz, eles tocam com a graça de jovens iniciantes. É surpreendente e comovente o misto coração e habilidade que estes cinco amigos, senhores do mais alto nível da música internacional, entregam na exuberante faixa de abertura, “Skagly”. São 10 minutos que é fácil duvidar que qualquer criatura que goste de música queira que em algum momento acabe. 

Sob a energia funk que todos conhecem e dominam, a faixa é um verdadeiro show de cada um dos participantes. Trata-se de um tema tão rico, que merece uma apreciação pormenorizada. A começar pelo autor, Hubbard. É ele quem dá as costuras altamente sofisticadas de fusion e hard bop do chorus. É ele quem estica as notas para os tons agudos, bem a seu estilo. É ele quem, com mérito, começa solando com a técnica invejável de quem tem seu nome gravado em álbuns como “Empyrean Isles”, de Hancock, “Free Jazz”, de Ornette Coleman, ou “Out to Lunch”, de Eric Dolphy. Carter: o único que não “sola”. Mas para quê? Afinal, o que o maior baixista da história do jazz faz é milagre. Quem conseguiria extrair tanta sonoridade, tanta personalidade do baixo acústico? Carter, que dispensara o baixo elétrico fazia tempo, prova por A mais B o porquê de sua escolha. Em “Skagly”, suas deliciosas ondulações e sua timbrística característica, aquela do quinteto mágico de Miles Davis e da sonoridade de Gil Scott-Heron, estão mais do que palpáveis: são uma caixa de ritmo. Só podia vir de quem já fez samba-jazz com Tom, Hermeto Pascoal e Airto Moreira.

Hancock: sabem aquelas notas que saltitam do piano em “Cantaloupe Island” e “Blid Man, Blind Man”? E a noção de ritmo repleta de groove e blues de quem contribuiu para a construção da sonoridade de gente como Miles, Shorter, Milton Nascimento, Lee Morgan e Joni Mitchell? De quem faz a improvável ligação entre Gershwin a hip hop? Pois é: Hancock em “Skagly” é tudo isso. Falemos, então, de Shorter. Bem, o que dizer de Shorter? A genialidade em forma de saxofone, a estirpe de Coltrane, a mente fusion da Weather Report, o buda do jazz, o solista incansavelmente criativo e hábil, o autor das obras-primas “Juju”, “Night Dreamer”, “Speak no Evil”? Pouco tem a se dizer e muito a aplaudir. Por fim, Williams. Este não ficou por último à toa, pois sua performance na faixa de abertura (nossa, isso, ainda é “apenas” a abertura do disco!) é, mesmo para os que sabem se tratar do, provavelmente, mais influente baterista da história do jazz, assombrosa. O que é I-S-S-O? Williams dá, literalmente, um show do início ao fim do tema, sem que isso, porém, se torne maçante ou confuso. Pelo contrário! É ele quem segura no punho o ritmo funk de cabo a rabo, mas não deixa de esmerilhar nas quebras e descidas. Quantas variações de rolos, polirritmia, mudanças de timbres! Conhecido por sua categoria nas baquetas, como as que executa em clássicos como “Maiden Voyage”, de Hancock, “Refuge”, de Andrew Hill, ou “Shhh”, de Miles, e inúmeros outros, aqui ele não economiza na explosão.

Bastaria falar apenas sobre a faixa de abertura, mas esses cinco jovens tarimbados não deixariam o ânimo cair jamais. Tanto que, na sequência, vem o sofisticado jazz bluesy “Finger Painting”, com lances modais e bopers fluindo naturalmente entre si, coisa de quem toca jazz de olhos fechados. O baixo de Carter escalona sons ondulados enquanto Shorter e Hubbard se encarregam de lançar frases em colorações medianas, Williams privilegia o tintilar dos pratos e chipô e Hancock mantém o clima onírico em notas claras e prolongadas. Em “Mutants On The Beach”, a terceira, hard-bop mais clássico e não menos gracioso, Carter novamente “carrega” no baixo, dando agora aos sopros maior amplitude para voaram com apoio do ritmo embalado marcado por Williams e Hancock. O pianista, aliás, confere dissonâncias perfeitas em seu improviso, ligando o anterior, de Hubbard, com o seguinte, de Shorter. Mas Williams estava chispando fogo como um dragão japonês, e manda ver num magnífico solo para terminar a música.

Sabe o gol de Carlos Aberto para a Seleção Brasileira sobre a Itália na final da Copa de 70? Ou a trinca “Golden Slumbers/Carry That Weight/The End” para encerrar o último disco dos Beatles, “Abbey Road”? É esta sensação que deixa “Circle”, a que finaliza o disco do “dream team” V.S.O.P. Quanta perfeição! Enigmática, é um misto de “In a Silent Way”, de Miles, com “Maiden Voyage”, com “Psalm”, de Coltrane, e mantra oriental. A melodia espiral, cadenciada pelo baixo já tradicionalmente assim de Carter, dá literalmente uma sensação de circularidade, absorvendo quem escuta numa atmosfera de vertigem. Ainda bem que se trata da menor faixa das quatro, pois se não os ouvintes entrariam em transe – se é que não entram.

Depois deste álbum japonês, a V.S.O.P. lançaria ainda apenas mais um disco também ao vivo como os dois primeiros antes de se dissolver ou transformar-se em outros projetos, visto que os integrantes seguiram contribuindo uns para os outros em vários momentos. Porém, embora a formação do grupo tenha se dado ainda nos Estados Unidos para um show quase comemorativo de músicos “envelhecidos de alta qualidade”, foi no Japão que este prosseguiu e onde se concretizou o histórico registro do quinteto em estúdio – feito que, infelizmente, nunca mais se repetirá uma vez que Hubbard faleceu em 2008. Contudo, é normal que “times dos sonhos” não permaneçam por muito tempo mesmo. A conjunção de fatores para que esse milagre ocorra é tão improvável que os deuses podem resolver que ela ocorra quando e onde menos se espera. No Japão, por exemplo. 

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FAIXAS:
1. "Skagly" (Hubbard) - 9:56
2. "Finger Painting" (Hancock) - 6:44
3. "Mutants On The Beach" (Williams) - 11:04
4. "Circe" (Shorter) - 4:30

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OUÇA O DISCO:


Daniel Rodrigues


sábado, 18 de julho de 2020

Roy Orbison - "In Dreams" (1963)



"Roy era um cantor de ópera.
Ele tinha uma voz grandiosa."
Bob Dylan

"Vendo Roy Orbison,
eu aprendi como cantar uma
balada romântica."
Mick Jagger

"Quando estava quase adormecendo,
escrevi a introdução de "In Dreams",
 fui dormir, levantei-me na manhã seguinte
 e já tinha a letra. 
Todas as músicas são presentes,
 mas essa foi realmente um presente."
Roy Orbison



O primeiro contato que tive com a canção "In Dreams", curiosamente, não foi sonoro. O persoangem John Constantine ouvia a canção no rádio de um táxi num episódio da graphic novel, de Neil Gaiman, "Prelúdios e Noturnos", do personagem Sandman, o Mestre dos Sonhos. "A candy-colored clown they call the sandman/ Tiptoes to my room every night/ Just to sprinkle stardust and to whisper/ Go to sleep. Everything is all right...".  Embora o autor e seus desenhistas lidassem muito bem com a inserção de elementos músicas dentro do formato de quadrinhos, é óbvio que numa HQ não teria ali som para identificar de que música se tratava, contudo, na mesma edição, numa espécia de sumário para os trechos de músicas mencionadas naquela publicação, o autor era creditado: Roy Orbison.



Somente algum tempo depois é que fui ouvir aquela música em "Veludo Azul", de David Lynch, na interpretação célebre da dublagem do personagem Ben usando a luminária como microfone e foi só então que eu liguei os pontos: "quadrinhos-neilgaiman-sandman-mestredossonhos-indreams-royorbison-veludoazul...". Ah,era aquela! Aquela era "In Dreams" que eu havia lido nos quadrinhos. E ela era maravilhosa! Foi o que precisava para fazê-la cair definitivamente nas minhas graças.

"Veludo Azul" - Ben dublando "In Dreams"

"In Dreams", a belísima canção de interpretação emotiva e extasiante, e de arranjo de cordas grandioso, aparece pela primeira vez na discografia de Orbison no disco que leva o mesmo nome, de 1963, mas o álbum não se resume a esta canção que já se eternizou na galeria das grandes baladas da história da música. Roy Orbison é mestre em baladas românticas e "Lonely Wine" e "Dream", não deixam dúvidas sobre isso; "Shahdaroba" também romântica mas um pouco mais embalada é outra ótima canção; mais agitadinha ainda, o rock "Sunset", também merece destaque, bem como "Blue Bayou", outro dos grandes sucessos do cantor que conta com mais uma de suas inspiradas interpretações.
Um dos cantores mais influentes em todo o universo da música, Roy Orbison era admirado por Elvis, Johnny Cash e é frequentemente reverenciado por nomes como Bono, Tom Waits, Bruce Springesteen, entre outros. De minha parte, demorei para conhecer mas desde que tive contato me juntei ao coro dos ilustres fãs.  Sua voz inconfundível e suas interpretações singulares estão, definitivamente, marcadas na história da música.

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FAIXAS:
  1. "In Dreams" (Orbison)
  2. "Lonely Wine" (Roy Wells)
  3. "Shahdaroba" (Cindy Walker)
  4. "No One Will Ever Know" (Mel Foree, Fred Rose)
  5. "Sunset" (Orbison, Joe Melson)
  6. "House Without Windows" (Fred Tobias, Lee Pockriss)
  7. "Dream" (Johnny Mercer)
  8. "Blue Bayou" (Orbison, Joe Melson)
  9. "(They Call You) Gigolette" (Orbison, Joe Melson)
  10. "All I Have To Do Is Dream" (Boudleaux Bryant)
  11. "Beautiful Dreamer" (Stephen Foster)
  12. My Prayer (Jimmy Kennedy, Georges Boulanger)
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Ouça:


Cly Reis