Com um rock qualificado, trabalhado e técnico mas
altamente acessível, os Dire Straits, liderados por Mark Knofler,
conquistavam o público e registravam um dos discos mais importantes
e marcantes dos anos 80: “Brothers in Arms” (1985). Recheado de
sucessos, o álbum reafirmava as influências de country e blues no
som daqueles britânicos, com um apelo pop eficientíssimo e
certeiro.
Embora seja um dos álbuns marcantes da
era digital, do início da era do CD, é mais um daqueles que vale a
pena ser lido e entendido como LP, uma vez que cada lado do bolachão
tem suas diferentes características. O lado 1 extremamente pop,
trazia todas as músicas que tocaram à exaustão nas rádios e na
então incipiente MTV, à qual, curiosamente, numa crítica
bem-humorada, com o clássico “Money for Nothing”, ajudaram a
consolidar pela menção à emissora na letra da música e pelo
emblemático videoclipe, que hoje pode parecer um tanto primário e
tosco no que diz respeito a recursos técnicos, mas que, pela
linguagem, permanece sendo ainda hoje, um dos exemplares mais
importantes do formato. Já na segunda metade, o lado B, encontramos
um trabalho mais autoral, um pouco mais experimental e até, por
assim dizer, mais introspectivo, com exploração de diferentes
estilos.
Uma sequência de grandes sucessos
encaminha o início do álbum: “So Far Away” é a que faz a s
honras de abertura confirmando o gosto de Knofler pela música
americana, num adorável country conduzido por uma suave
slide-guitar; a já citada “Money for Nothing”, um empolgante rock de guitarra distorcida e riff alucinante é o grande
destaque do álbum, uma das melhores canções dos anos 80 e por
certo um dos clássicos definitivos da história do rock; a segue
“Walk of Life” um pop alegrinho de teclado grudento; vem a
romântica e melosa “Your Latest Trick” com um sax de motel ao
estilo Kenny G, mas que ao contrário do que se pode pensar pela
descrição, é bastante interessante; e o lado fecha com a longa balada
“Why Worry”, uma delicada canção de amor que muito embalou as
reuniões dançantes da década de oitenta.
Virando o bolachão, a embalada “Ride
Across the River” abre os trabalhos flertando com o reggae numa
canção que demonstra toda a capacidade compositiva diversificada da
banda. “The Man Too Strong”, que a segue, é um exemplar country
mais característico que “So Far Away” ou mesmo “Money For
Nothing”, onde tal sonoridade aparece mesclada numa linguagem pop.
“One World”é um blues com um colorido todo pop, abrilhantado por
toda a qualidade técnica da guitarra de Knofkler; bem como “Brother
in Arms”, outro blues, este grandioso, com ares de progressivo, uma
balada melancólica, que também teve algum sucesso e encerra a o
disco como uma grande obra merece ser finalizada.
Por conta da insistente execução
pública de mais de 60% das músicas do álbum, em rádios, TV's,
festinhas juvenis ou onde quer que fosse, o disco se tornou um
clássico dos anos 80 e “Money For Nothing”, especialmente, um de
seus maiores símbolos, sonoros e visuais. Mas o álbum é mais do
que um amontoado de mega-hits. Muitas vezes, considerando grande
parte das coisas que caem no gosto popular costuma ser de qualidade
duvidosa, somos levados a desconfiar que alguns trabalhos que agradam
ao grande público sejam mero produto de entretenimento descartável.
Assim, pode-se imaginar que um disco como este, com tantos sucessos,
seja uma baba, um disco empurrado goela abaixo do público abaixo de
uma irritante insistência videoclípica. Neste caso penso que foi ao
contrário: embora admitindo que tivesse um apelo pop superior aos
álbuns antecessores da banda, no caso de “Brothers in Arms”, a
qualidade do álbum prevaleceu chegando ao grande público e se
impondo em forma de grandes sucessos. Sem falar que o público
daquele momento, filho do pós-punk, era um pouco diferente do de
hoje, mais preparado e mais sequioso por ouvir coisas interessantes,
o que fazia com que trabalhos bem concebidos, executados com boas
influências tivesses um aceitação e acolhimento imediato.
E, ironicamente, a brincadeira com a
emissora e com o mundo pop em geral, que poderia vir a ser gol
contra, um tiro no pé, acabou por tornar-se um grande trunfo da
banda. Por acaso? Não, é claro! Sem propósito não foi, não sejamos inocentes. Mas que mal
há de se utilizar dos recursos que o próprio universo pop oferece.
Que bom.
Antes outros grandes discos como este
fizessem tanto sucesso.
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Amigos do clyblog, muito honrado pelo convite de contribuir com essa resenha rockeira!
Vou falar sobre um assunto que com certeza já foi bastante debatido nas redes, que é o fato de
que hoje em dia, o mercado musical só produz single ou E.P.! São muitos artistas com sucesso
de uma música só! E isso não é exclusividade do universo tupiniquim. Sempre existiram bandas
que só fizeram sucesso com uma música. Mas o projeto hoje em dia é só comercial. Vender,
esgotar, exaurir a paciência até que a música vire jingle de supermercado. Faz parte!
Venho compartilhar com vocês algumas memórias afetivas de uma época onde o álbum era o
auge do artista. Ali ele colocava toda coerência estética e criatividade, todo seu ineditismo e sua
inventividade artística, do "Lado A ao Lado B". Estou falando de um tempo em que o vinil reinava
e chiava nas nossas vitrolas e, talvez, esse universo analógico e antológico sempre tenha seu
lugar. Seja Pop, underground, vintage… Quem não adoraria ter o disco da sua banda favorita em
vinil, mesmo nos dias de hoje? O vinil não saiu de moda, ficou caro!!! Hoje é só dar o play no
WAVE e MP3 e pronto: random na veia!
Fiz esse pequeno preâmbulo para situar a galera no tempo e trazer, na minha visão, alguns
dos álbuns fonográficos que são verdadeiras "obras completas". Não tem música ruim: o disco
é bom do começo ao fim!
Segue abaixo os 15 mais, mas com certeza tem muuuito mais…
E você que está lendo, pensa aí e me diz, qual álbum você acha perfeito, do início ao fim?
★★★★★★
1 - Pink Floyd - "The Wall" (1979)
FAIXAS:
1."In the Flesh?" 2."The Thin Ice" 3."Another Brick in the Wall (Part I)" 4."The Happiest Days of Our Lives" 5."Another Brick in the Wall (Part II)" 6."Mother" 7."Goodbye Blue Sky" 8."Empty Spaces" 9."Young Lust" 10."One of My Turns" 11."Don't Leave Me Now" 12."Another Brick in the Wall (Part III)" 13."Goodbye Cruel World"
14."Hey You" 15."Is There Anybody Out There?" 16."Nobody Home" 17."Vera" 18."Bring the Boys Back Home" 19."Comfortably Numb" 20."The Show Must Go On" 21."In the Flesh" 22."Run Like Hell" 23."Waiting for the Worms" 24."Stop" 25."The Trial" 26."Outside the Wall"
João Marcelo Heinz é músico, compositor, produtor musical e educador com 30 anos de estrada.
É integrante da banda Cidadão Free, com trabalho pop-rock autoral e com versões de
clássicos do rock nacional e internacional
Tem participações em produções para cinema, composições audiovisuais para artes plásticas, dirigiu peças teatrais, além de ter sido produtor musical e de eventos do centro cultural Othello, na Lapa, no Rio de Janeiro.
Minha primeira experiência em um Rock In Rio, embora totalmente normal, sem nenhum contratempo ou incidente, não posso dizer que tenha sido das mais positivas. Não sei se eu tô ficando velho, se não tenho mais paciência pra algumas coisas, se é porque a gente vai adquirindo mais critérios com o passar do tempo, mas aquela coisa toda, todo aquele complexo de entretenimento não me desce. É muito grande, tudo é muito difícil, pra se chegar num outro palco, numa praça de alimentação, num banheiro, tem que se percorrer quilômetros e pra piorar desviando de milhares de pessoas e tropeçando em outras que estão estendidas pelo chão. um festival desse é um incentivo pra quem quer deixar de beber porque conseguir uma cerveja, em determinado momento, foi um ato de perseverança e heroísmo. E é tanta roda-gigante, montanha-russa, tirolesa, joguinhos, brindezinhos que no fim das contas o público que está ali, está mais interessado em todas essas bobagens do que no que está rolando nos palcos, disperso e alheio aos shows. Aliado a escalações de artistas muito heterogêneos e atrações pouco interessantes, esta atitude neutra do público acabou se refletindo nas apresentações, até mesmo nos principais nomes que se esforçaram, fizeram seu melhor mas tiveram que lidar com um público frio e indiferente.
Não é a toa que volta e meia o palco Sunset, com um público mais interessado e atrações com propostas mais mais interessantes, rouba a atenção, e de certa forma, não foi diferente no dia em que fui.
Mas vamos então a uma breve impressão das atrações que vi no festival:
Palco Rock District
Evandro Mesquita and The Faboulous Tab
O palco Rock District foi uma
atração interessante.
Ainda quando estava adentrando no complexo, uma banda tocava um rock do bom nu trecho de passagem, perto de um corredor de área de alimentação. Para minha surpresa era Evandro Mesquita comandando um bom time de músicos que incluía Arnaldo Brandão, ex-Hanoi-Hanoi, no projeto denominado The Fabulous Tab, mandando ver em versões de clássicos do rock. Evandro, que nunca foi lá essas coisas como cantor, assim, num show mais restrito, escancarou suas deficiências vocais, mas o lance tava tão espontâneo, tão gostoso, que mesmo o parco potencial vocal do ex-Blitz não prejudicou a jam session. Destaques para as execuções de "Honk Tonk Woman" e "Let It Bleed" dos Rolling Stones, "Walk of Life" do Dire Straits, "Going to California" do Led Zeppelin numa versão mais embalada e a já clássica mix, pela não casual semelhança, de "Knockin' on Heaven's Door" de Bob Dylan com "Dois Passos do Paraíso" da Blitz.
Palco Sunset
Ney Matogrosso e Nação Zumbi
Nação Zumbi com a lenda
Ney Matogrosso no palco.
Quando cheguei, o show de Elba Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo já havia terminado, mas se perdi este que deve ter sido bastante interessante, tive a felicidade de assistir a o encontro de Ney Matogrossoo com a Nação Zumbi que, apesar de potencialmente ter sido mais do que foi, ainda assim, valeu muito a pena. A proposta rítmica da Nação dialoga bem com a artística de Ney e isso fez com que as intervenções da banda nos clássicos, especialmente dos Secos e Molhados, funcionassem bem, de um modo geral. Senti falta de mais músicas da Nação, algumas que fariam muito sentido no atual contexto sócio-político e ainda levantariam a galera como "Maracatu do Tiro Certeiro" e "Banditismo, Uma Questão de Classe" mas imagino que fugisse da concepção de show pensada que, pelo jeito, privilegiava o repertório da banda original de Ney Matogrosso. "Mulher Barriguda" teve um ganho de peso com a guitarra de Lúcio Maia; "Sangue Latino" ficou grandiosa; "Fala" foi linda" e "Maracatu Atômico" de Jorge Mautner, um dos poucos hits do grupo pernambucano que rolaram no show, foi simplesmente... atômica. Bom show!
Palco Mundo
Jota Quest
Vi pouco. Ouvi mais de longe enquanto me deslocava por algum motivo (cerveja, banheiro, comida...) mas é mais ou menos aquilo, né... Nada demais. Uma bandinha pop sem maiores pretensões e sem grande ascendência. Alguns hits, pra ser bem justo; um coro com a galera aqui, um discursinho pela paz ali e era isso. Não acrescentou nada.
Alterbridge
Não tinha nenhuma expectativa com essas figuras, aí o show começa e a minha impressão se confirma. Uma coisa indefinida: não sabiam se eram pop, hard rock, glam, metal farofa ou sei lá o que. Lá pelas tantas explodem num trash metal furioso que parecia um Megadeth quase me fezendo bater cabeça e ter uma esperança em algo melhor dali pra frente. Alarme falso! Voltaram à mesma lenga-lenga. Terrível!
Tears For Fears
Show competente. Bom repertório mas a impressão que dava é que eram a banda errada no lugar errado. Tem bandas que são pra 10.000 pessoas e outras que são pra 100.000. Eles estão no primeiro caso e por mais que tenham desfilado sucessos e hinos pop, não conseguiram dar conta daquilo tudo.
Bon Jovi
Apesar dos pesares, Bon Jovi agradou aos fãs.
Olha, eu não gosto muito de Bon Jovi. Tenho que admitir que fui para acompanhar minha esposa, mas também tenho que admitir que é uma banda ainda que totalmente previsível musicalmente, extremamente competente, com uma baita duma estrada, um balaio de fãs e uma pilha de hits. Só que, independente do meu gosto, por constatação do que vi no local, tenho também que dizer que John Bon Jovi e sua banda não conseguiram empolgar a Cidade do Rock. Em parte por culpa da banda, na minha opinião com uma distribuição equivocada de repertório; em parte pelo público que, como eu disse, anteriormente, pela heterogeneidade e por interesses paralelos parecia não estar nem aí para o que estava acontecendo no palco. Sim, havia os fãs, lá na frente, no gargarejo que não paravam, que sabiam cantar todas, que topavam o que viesse, mas grande parte das pessoas estava mais interessada em transitar, mexer nos celulares e comprar cerveja. Aí, lá de vez em quando, na hora do mega-hit, levantavam as mãos e cantavam junto o refrão e era isso o que quem não estava lá via pela TV quando parecia que a Cidade do Rock inteira estava cantando. A impressão que deu era que a maioria estava lá só para ouvir e cantar as músicas dos álbuns "Slipery When Wet" e do "New Jersey" só que, além de Bon Jovi ser um artista bem resolvido que a essas alturas não precisa mais ficar se esforçando para ganhar o público, a banda tinha que vender seu peixe e quis apresentar coisas novas de seu último trabalho "This House Is Not For Sale" e aí, acho que reside a outra parte da "falha", por assim dizer, do entrosamento banda-público. Acho que tem, sim, que apresentar as coisas novas, tem que manter uma linha de repertório próxima da turnê convencional, mas entendo também que em festival deve-se fazer algumas concessões e uma delas seria ter uma ordem de músicas mais conveniente a um evento assim onde nem todo mundo é fã de carteirinha. Por exemplo: não começa com uma nova, vai numa pra incendiar a galera logo de cara. Só para que se tenha uma ideia, a massa só foi à loucura mesmo, na quarta música, em "You Give Love a Bad Name". Tá bom, não precisava gastar sua melhor arma no início, mas uma banda com tantos sucessos poderia tranquilamente arrastar algum deles lá pro início e pôr tudo abaixo já de cara.
Outra reclamação que ouvi de muitas fãs foi a ausência de alguns clássicos indispensáveis. E aí os caras privilegiam músicas novas ou a balada acústica "Someday I'll Be Saturday Night" que ninguém ia dar falta em detrimento de "Never Say Goodbye", "These Days", "Blaze of Glory" ou da reclamadíssima "Always". Bom, se tem alguém que pode cometer estes pecados e mesmo assim sair com saldo positivo é o Bon Jovi uma vez que, de um modo geral, mesmo com algumas ressalvas de repertório e um quase consenso sobre a qualidade da voz do cantor que estaria bem inferior às últimas turnês, as fãs gostaram, compreenderam e perdoaram as ausências. Eu sou suspeito, não sou muito do som deles mesmo, mas posso garantir que a patroa curtiu.
No fim das contas, para mim, que achava que seria o show do Bon Jovi seria uma espécie de tortura apache, o que posso comparar é com aquela criança que a mãe fica avisando por meses que ela vai tomar vacina e aí quando chega no dia, o pirralho tá se borrando, tipo, "Vai doer, vai doer...", e chega na hora da injeção o guri percebe que foi só uma picadinha de nada. Pois é... Doeu menos do que eu imaginava.
Bon Jovi - "You Give Love a Bad Name" do meio do público do Rock In Rio
Só pensando na ceia de Natal? Quem tal, então, essa nossa trilha sonora pra acompanhar? No MDC desta semana natalina, teremos um saco cheio de presentes, como Tim Maia, Dire Straits, Happy Mondays, Bootsy Collins, Garotos Podres e mais. Além dos quadros de sempre, um Sete-List pra botar o Papai Noel chamar no groove. É só se servir, que o programa de hoje será servido às 21h, na natalícia Rádio Elétrica. Produção, apresentação e ho ho ho, let's go!: Daniel Rodrigues.
O ex-Genesis, Peter Gabriel, em 1986, aparecia com um grande álbum mais acessível ao público que seus anteriores da carreira solo. "So" trazia canções mais pop com bom potencial radiofônico como "Big Time" e "Sledgehammer", mas aliava a isso explorações rítmicas universais, a chamada world-music, como em "In Your Eyes", trabalhos percussivos interessantes como na ótima "Mercy Street", e não deixava de lado o experimentalismo, como em "We Do What We're Told" e em "This is the Picture (Excelent Brids)", parceria com a performática Laurie Anderson.
Além das mencionadas, merecem destaque a ótima "Red Rain", que abre o disco é uma mescla equilibrada do pop com os elementos percussivos e o interesse do músico pelos ritmos de outras culturas; e a balada "Don't Give Up", em dueto com Kate Bush com interpretações espetaculares dos dois cantores.
Mas o carro-chefe do disco e uma das canções mais emblemáticas dos anos 80 foi a já citada "Sledgehammer", um pop-soul cheio de energia pontuado eventualmente por uma flauta sinuosa e conduzida por uma linha de metais empolgante. A propósito, esta canção, "Slegdehammer", provavelmente seja, junto com "Thriller" de Michael Jackson, "Money for Nothing", do Dire Straits, "Hunting High and Low" do A-ha, um dos grandes marcos na linguagem do videoclipe com um dos videos mais marcantes de todos os tempos, numa animação gravada quadro a quadro, feita em parte com massa de modelar, em uma edição incrível que causava inevitavelmente enorme sensação e impacto visual.
Embora Peter Gabriel já tivesse realizado trabalhos muito interessantes e talvez mais criativos do ponto de vista experimental, "So", além de lhe proporcionar pela primeira vez uma penetração entre o grande público nas rádios e, com um clipe tão marcante, na TV, mostrava um equilíbrio mais interessante entre os elementos explorados pelo músico, resultando num trabalho extremamente bem produzido, bem acabado e de alta qualidade, que se constituía, desde então, num dos grandes discos da década de 80.
vídeo de"Sledgehammer" - Peter Gabriel
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FAIXAS:
"Red Rain" – 5:39
"Sledgehammer" – 5:12
"Don't Give Up" – 6:33
"That Voice Again" – 4:53
"In Your Eyes" – 5:27
"Mercy Street" – 6:22
"Big Time" – 4:28
"We Do What We're Told (Milgram's 37)" – 3:22
"This Is the Picture (Excellent Birds)" (Laurie Anderson, Gabriel) – 4:25
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Ouça: Peter Gabriel So
Os irlandeses da U2, no topo da lista, em foto de Anton Corbjin da época de "Bad"
Sabe aquela música de um artista pop que você escuta e se
assombra? E o assombro ainda só aumenta a cada nova audição? “Caramba, que som
é esse?!”, você se diz. Pois bem: todas as décadas do rock – principalmente a
partir dos anos 60, quando as variações melódico-harmônicas se multiplicaram na
reelaboração do rock seminal de Chuck Berry, Little Richard e contemporâneos – são
repletas de músicas assim: clássicos imediatos. Mas por uma questão de autorreconhecimento, aquelas
produzidas nos anos 80 me chamam bastante a atenção. É desta década que mais
facilmente consigo enumerar obras desta característica, as que deixam o ouvinte
boquiaberto ou, se não tanto, admirado.
Conseguiu entender de que tipo de música estou falando?
Creio que talvez precise de maior elucidação. Bem, vamos pela didática das duas
maiores bandas rock de todos os tempos: sabe “You Can´t Always Get What You
Want”, dos Rolling Stones, ou “A Day in the Life”, dos Beatles? É esta
espécie a que me refiro: podem não ser necessariamente as músicas mais consagradas
de seus artistas, nem grandes hits, mas são, inegavelmente, temas grandiosos, emocionantes,
que elevam. Você pode dizer: “mas têm outras músicas de Stones ou Beatles que
também emocionam, também são grandes, também provocam elevação”. Sim, concordo.
Porém, estas, além de terem essa característica, parecem conter em sua gênese a
ideia de uma “grande obra”. Dá pra imaginar Jagger e Richards ou Lennon e
McCartney – pra ficar no exemplo da tabelinha Beatles/Stones – dizendo-se um
para o outro quando compunham igual Aldo, O Apache em "Bastardos Inglórios": “Olha, acho que fizemos nossa obra-prima!”
Quer mais exemplos? “Lola”, da The Kinks; “Heroin”, da Velvet Underground; “Marquee Moon”, da Television; "We Are Not Helpless", do Stephen Stills; "Kashmir", da Led Zeppelin. Sacou? Todas elas têm uma integridade especial, uma alma mágica, algo de circunspectas, quase que um selo de "clássica".
Pois bem: para ficar claro de vez, selecionamos, mais ou menos em ordem de preferência/relevância, as 30 músicas do pop-rock internacional dos anos 80 as quais reconhecemos esse caráter. Para modo de poder abarcar o maior número de artistas, achamos por bem não os repeti, contemplando uma música de cada - embora alguns, evidentemente, merecessem mais do que apenas uma única indicada, como The Cure, U2 e The Smiths. Haverá as que são mais conhecidas ou mais obscuras; as que, justamente por conterem certo tom épico, se estendem mais que o normal e fogem do padrão de tempo de uma "música de trabalho"; artistas de maior sucesso e outros de menor alcance popular; músicas que inspiraram outros artistas e outras que, simplesmente, são belas.
E desculpe aos fãs, mas, claro, muita gente ficou de fora, inclusive figurões que emplacaram superbem nos anos 80, como Michael Jackson, Elton John, Bruce Springsteen e Queen. Até coisas que adoraria incluir não couberam, como “Hollow Hills”, da Bauhaus, “Hymn (for America)”, da The Mission, "51st State", da New Model Army, "Time Ater Time", da Cyndi Lauper, "Byko", do Peter Gabriel, "Up the Beach", da Jane's Addiction, "Pandora", da Cocteau Twins, "I Wanna Be Adored", da Stone Roses... Mas não se ofendam: tendo em vista a despretensão dessa listagem, a ideia é mais propositiva do que definidora. Mas uma coisa une todos eles: criaram ao menos uma música diferenciada, daquelas que, quando se ouve, são admiradas de pronto. Aquelas músicas que se diz: “cara, que musicão! Respeitei”.