Meu pai me aparece em casa um dia com uma fita cassete de uma banda de rock e me dá. Como se só por ser banda de rock eu fosse gostar assim, sem mais. Ele costumava comprar umas tralhas de um bêbado, maltrapilho quase mendigo que arranjava relógios, bijuterias baratas, ervas para chás e desta vez uma fita cassete. Me deu a fita. Li “TheStranglers”. Nunca ouvira falar. Fui ouvir... Até que era bom. E foi melhorando. Cara, é muito bom!
Vim ouvindo hoje no caminho para o trabalho o mesmo Stranglers que ganhei e ouvi naquela época cheio de desconfiança, “TheGreatestHits- 1977-1990”. Depois vim a descobrir que os caras foram parte importante do movimento punk e foram grande influência de uma série de bandas dos anos 80, em especial de uma da qual gosto muitíssimo, o Cure.
“GreatestHists” mostra esta linha de evolução sonora. O início com a ótima “Peaches” é bem reflexo do punk com uma bateria seca, um baixo cru e um vocal rasgado e agressivo. “No More Heroes” mantém a linha mas com um trabalho de teclado mais bem acabado. O ponto alto da coletânea vem com a versão para a música multi-regravada de BurtBacharach, “WalkonBy”, um épico de uns sete minutos com um baixo agressivo e incendiário permeado pelo teclado característico da banda, que a faz lembrar muito TheDoors. A influência do pessoal do JimMorrison mostra-se evidente pela característica do timbre do teclado e de como ele é colocado nas músicas. Confirma essa fonte de inspiração principalmente a regravação do hit dos Kinks “AllDayandAlloftheNght” que, a propósito, é parecidíssima com “Hello, I LoveYou” dos Doors tendo gerado inclusive uma suspeita de plágio na época de seu lançamento. Gravar “AllDay...”, no fim das contas era como tocar Doors sem estar tocando “Doors”. “96 Tears’ e “No Mercy” que fecham a coletânea já demonstram uma inserção nos anos 80 com uma ar bem mais pop e acessível.
A obra-prima dos caras na verdade é o álbum “Blackand White” de 1978, que tem a doida “Nice’n’ Sleazy” e a punkíssima “EnoughTime”. Li também que o primeiro disco “RatusNorvegicus” é excelente mas não ouvi ainda. O que tenho em casa e que devo ao fato de meu pai comprar “porcarias” por aí é este ótimo “GreatestHists- 1977-1990”.
sinéad o'connor não nos ensinou só a admirar a beleza de sua arte, mas a levar a música literalmente na cabeça. o programa hoje terá ela e muito mais coisas, como beck, dona ivone lara, the stranglers, vitor ramil e mais. tem, claro, a própria sinéad no quadro sete-list. combatendo o poder, o mdc entra na briga às 21h na aguerrida rádio elétrica. produção e apresentação sem comparação: daniel rodrigues
Chego ao meu 50° ÁLBUM FUNDAMENTAL por um motivo especial. Embora todos
os discos sobre os quais escrevi sejam caros a mim, quando percebi que chegava
a essa marca não queria que fosse apenas mais um texto. Tinha que ser por um
motivo especial. Escreveria sobre os artistas brasileiros a quem ainda não
resenhei: Chico Buarque, Edu Lobo, Milton Nascimento, Paulinho da Viola? Ou das minhas queridas bandas britânicas, como The Cure, The Smiths, Cocteau Twins,
Echo and The Bunnymen? De algum dos gênios da soul, Gil Scott-Heron, Otis Reding, Curtis Mayfield, que tanto
admiro? Do para mim formativo punk rock
(Stranglers, Ratos de Porão, New York Dolls)? Obras consagradas de um Stravinsky ou alguma sinfonia de Beethoven? Outro de John Coltrane ou Miles Davis? Nenhum desses, no entanto, me pegava em cheio. A resposta me veio no
último dia 11 de junho, quando o saxofonista norte-americano Ornette Coleman deu adeus a esse
planeta. Aos 85 anos, Coleman morreu deixando não apenas o mérito da criação do
free-jazz como uma das mais revolucionárias
obras do jazz. A cristalização da proposta de inovação musical – e espiritual –
de Coleman veio pronta já em seu primeiro disco, o memorável “The Shape of Jazz to Come”.
Gravado no mesmo ano de 1959 que pelo menos outros dois colossos do
jazz moderno – "Kind of Blue", de Miles, arcabouço do jazz modal (agosto), e
“Giant Steps”, de Coltrane, a cria mais madura do hard-bop (dezembro) –, “The Shape...”, vindo ao mundo a 22 de maio,
não aponta para o lado de nenhum deles. Pelo contrário: engendra uma nova
direção para a linha evolutiva do estilo. Nascido no Texas, em 1930, Coleman
era daquelas mentes geniais que não conseguiam pensar “dentro da caixa”. No
início dos anos 50, já em Nova York, nas contribuições que tivera na banda de
seu mestre, o pistonista Don Cherry, ele, saudavelmente incapaz de seguir as
progressões harmônicas do be-bop, já
demonstrava um estilo livre de improvisar não sobre uma base em sequências de
acordes, mas em fragmentos melódicos, tirando do seu sopro microtons e notas
dissonantes, arremessadas contra às dos outros instrumentos, contra si
próprias. Fúria e espírito. Carne e alma.
Seu processo era tão complexo que, exorcizando clichês, atinge um
patamar até psicanalítico de livre associação e reconstrução do inconsciente
coletivo, o que levou um dos pioneiros do cool
jazz, John Lewis, a dizer: “Percebi
que Coleman cunhou um novo tipo de música, mais semelhante ao ‘fluxo de
consciência’ de James Joyce do que o entretenimento operado por Louis Armstrong com sua variação sobre uma melodia familiar”. Se na literatura este é seu
melhor comparativo, faz sentido colocá-lo em igualdade também a um Pollock nas
artes plásticas ou um Luis Buñuel no cinema. Na música, remete, claro, a Charlie Parker e Dizzie Gillespie, mas tanto quanto a compositores atonais da avant-garde como John Cage e György
Ligeti.
Em “The Shape...”, a desconstrução conceitual já se dá na formação da
banda. Traz o desconcertante sax alto de Coleman, a bateria ensandecida de Billy Higgins, o duplo baixo de outro craque, Charlie Haden (de apenas 22 anos
à época), e o privilégio de se ter o próprio Cherry, com sua mágica e não menos
desafiadora corneta. Nada de piano! Tal proposta, tão subversiva da timbrística
natural do jazz a que Coleman convida o ouvinte a apreciar, assombra de pronto.
“Lonely Woman”, faixa que abre o disco, é uma balada fúnebre e intempestiva. O free jazz, consolidado por Coleman um
ano depois no LP que trazia o nome do novo estilo, dá seus primeiros acordes nesse
brilhante tema. Dissonâncias na própria estrutura melódica, compasso
discordante da bateria e um baixo inebriado que parece buscar um plano etéreo,
longe dali. Algo já estava fora da ordem, anunciava-se. Coleman e Cherry,
pupilo e mestre, equiparados e expondo uma nova construção composicional aberta,
incerta, em que a música se cria no momento, numa exploração dramática conjunta.
Na revolução do free jazz, cada
membro é tão solista quanto o outro. “Eventually”, um blues vanguardista em
alta velocidade, e “Peace”, com seus 9 minutos de puro improviso solto, sem as
amarras do encadeamento tradicional, são mostras disso. Cada músico está ligado
ao outro primeiramente pelo estado de espírito, não apenas pela habilidade
técnica. E eles perdem o apelo momentâneo? Jamais, apenas o centro melódico é
outro. Os riffs e o tom estão lá como
os do be-bop; a elegância do blues trazida
do swing também. Mas o conceito e a
dinâmica aplicados por Coleman e seu grupo fazem com que se desviem das formas
tradicionais a as diluam, direcionando a uma tonalidade expandida como
praticaram Debussy, Messiaen e Stravinsky.
Nessa linha, "Focus on Sanity" se lança no ar inquieta, mas
logo freia para entrar o maravilhoso baixo de Haden, suingando, serenando-a.
Não por muito tempo: por volta dos 2 minutos e meio, Coleman irrompe e o grupo
retorna em ritmo acelerado para seu novo solo da mais alta habilidade de fúria
lírica. O mesmo faz Cherry, que entra raspando com o pistão e forçando que o
compasso reduza-se novamente. “Foco” e “sanidade”, literalmente. A inconstância
desse número dá lugar ao blues ligeiro "Congeniality". Mais
“comportada” das faixas, traz, entretanto, a fluência do quarteto dentro de um
arranjo em que se prescinde da referência harmônica das cordas – o piano. Pode
parecer um be-bop comum, mas, ditado
pela intuição e não pelo arranjo pré-estabelecido (tom, escala, variação),
definitivamente não é. Fechando o álbum, “Chronology” mais uma vez ataca na desconstrução
da progressão acorde/escala. As explosões emocionais súbitas de Coleman e seu
modo atritado e carregado de tocar estão inteiros neste tema.
Wayne Shorter, Anthony Braxton, Eric Dolphy, Albert Ayler, Pharoah
Sanders e o próprio Coltrane, mesmo anterior a Coleman, não seriam os mesmos depois
de “The Shape...”. O fusion e o pós-jazz nem existiriam. Coleman
influenciou não apenas jazzistas posteriores como, para além disso, roqueiros do
naipe de Jimi Hendrix, Don Van Vliet, Frank Zappa e Roky Erickson. Ele seguiu aprofundando esse alcance em vários momentos de sua trajetória. No ano seguinte
ao de sua estreia, emenda uma trinca de discos, começando pelo já referido
“Free Jazz” (dezembro) mais “Change of the Century” (outubro) e “This Is Our
Music” (agosto). Em 1971, surpreende novamente com a sinfonia cageana “Skies of
America”, para orquestra e saxofone. No meio da década de 70, ainda, adere ao fusion, quando lança o funk-rock “Body Meta” (1976),
recriando-se com uma música dançante e suingada.
Além disso, Coleman teve a coragem de legar ao jazz um sobgênero, o
que, juntamente com o contemporâneo “Kind of Blue”, referência inicial do jazz
modal, ajudou a desafiar conceitos e padrões estabelecidos. O jornalista e
escritor Ashley Kuhn, em “Kind of Blue: a história da obra de Miles Davis”,
recorda a receptividade de “The Shape...” à época entre músicos e críticos, os
quais vários deles (como um dos pioneiros do fusion, o pianista Joe Zawinul),
colocavam os dois discos em polos opostos: free
jazzversus modal. No entanto,
como ressalta Kuhn: “No fim das contas,
Coleman e Davis parecem mais filosoficamente compatíveis do que musicalmente
opostos: ambos dedicaram suas carreiras a reescrever as regras do jazz”.
Desde que meu amigo Daniel Deiro, que mora em Nova York, disse-me anos
atrás tê-lo assistido em um bar da Greenwich Village, fiquei esperançoso de
também vê-lo no palco um dia. Não deu. O astronauta do jazz, capaz de fazer
quem o ouve também flutuar sem gravidade, deixa como suficiente consolo uma
obra gigantesca e densa a ser decifrada, sorvida, descoberta. Como a de um
Joyce, Pollock ou Buñuel. Se a função do astronauta é desbravar o espaço,
Ornette Coleman cumpriu o mesmo papel através da arte musical, que ele tão bem
soube explorar em sua dinâmica atômica e imaterial através da propagação dos
sons no ar, na atmosfera. E o fez de forma livre, como bem merece um free jazz. Agora, então, foi ele que se
libertou para poder voar sobre outros planetas igual à sua própria música.
A capa original de 1976,
só com o logo da banda e a da
reedição em CD, de 1989.
“The Modern Lovers
é a minha
banda de rock favorita
de todos os tempos”.
David Berson,
executivo da Warner
“Bem, algumas pessoas
tentam
pegar as meninas/
E são chamados de cuzões/
Isso nunca aconteceria
com Pablo
Picasso”
Jonathan Richman,
da letra de “Pablo Picasso”
Muito tem se falado sobre disco de estreia dos Ramones, o grande marco
inicial daquilo que o mundo pop passou a conhecer como punk-rock e que está
completando dignos 40 anos. Mas quem se embrenha um pouco mais na cena underground norte-americana sabe que
este movimento e sua sonoridade rebelde e anti-establishment – que remetia à simplicidade do rock ‘n’ roll básico
dos anos 50 e a culturas pop apreciadas por uma rapaziada contrária ao modo de
vida padrão da sociedade – vinha sendo alimentado desde meados dos anos 60.
Detroit, Boston, San Francisco e principalmente Nova York concentravam essa
galera criativa e crítica que não admitia que o planeta Terra se configurasse
daquele jeito que se anunciava: Guerra do Vietnã matando inocentes por nada,
crises econômicas mundo afora, ascensão de ditaduras, repressão militar e os
ecos de um inacabado 1968.
Uma das bandas fruto dessa efervescência é a The Modern Lovers. Liderados pelo inventivo Jonathan Richman, o
grupo de Boston estava, assim como o Ramones, tão de saco cheio com o sistema
político e social que seu discurso era, por pura ironia, totalmente apolítico. Nada
de afrontamentos políticos ou denúncia das mazelas sociais. A maneira de
protestarem era falar sobre aquilo que a sociedade não falava ou considerava coisa
de moleque de classe baixa: comer as menininhas do bairro, a falta de grana, se
chapar com a droga mais fuleira que tiver, andar de carro em alta velocidade
(sem ter carro para isso) e paixões raramente retribuídas. Temas que não eram
novidade no mundo jovem mas estavam esquecidos pelos grandes astros que a mídia
havia criado. Com o espírito punk do “faça você mesmo”, o Modern Lovers e os
tresloucados da cena punk revitalizaram tais questões com muita ironia, deboche
e realismo. Nada de carrões, de levar lindas modelos para a cama e
superequipamentos para superespetáculos em superestádios. O negócio era curtir
um pouco daquela merda de vida que tinham, sonhar em comer a garota gostosa do
bairro num motel barato e tocar em garajões fétidos de Nova York – como um em
plena East Village, chamado CBGB. Eram aquilo que viviam e pensavam, e tudo
isso está encapsulado no essencial “The
Modern Lovers”, o qual, assim como o primeiro dos Ramones, também faz
quatro décadas de seu lançamento.
A Modern Lovers mandava ver um som curto e grosso, mas com
inventividade. Sem grandes habilidades técnicas, compunham um rock básico,
vigoroso e pautado na realidade que vivenciavam nas ruas. Riffs magníficos saíam da cabeça do guitarrista e vocalista Richman
e seus parceiros de ensaio e de punheta: Ernie Brooks (baixo), Jerry Harrison
(teclados) e David Robinson (bateria). A produção do mestre undergroundJohn Cale avalizava aquele
primeiro trabalho de estúdio da Modern Lovers, cujo título é tão irônico quanto
autocrítico, haja vista que boa parte dos temas que abordavam era, justamente,
a fragilidade e inadequação sexual e afetiva daqueles jovens dentro da
sociedade moderna. Sem grana no bolso e longe de aparentarem os abastados
roqueiros do rock progressivo, astros da época, era difícil ser mais do que um
arremedo de “amante moderno”.
A nasalada e tristonha voz de Richman anuncia o que vem numa contagem
até 6. É “Roadrunner" abrindo o disco, clássico do rock alternativo que a
grande banda do punk britânico, o Sex Pistols, gravaria dois anos depois. Riff marcante e de acorde simples,
apenas três notas. “Roadrunner, roadrunner/ Going faster miles an
hour/ Gonna drive past the Stop 'n' Shop/ With the radio on”, canta Richaman com seu timbre
bonito, algo entre o vocal de Joey Ramone e o de outro contemporâneo deles,
Richard Hell. Bateria suja, guitarra e baixo e bem audíveis. A
sonoridade proposta por Cale junta a secura das garage bands dos anos 60, a irreverência do New York Dolls e a
atmosfera proto-punk do Velvet Underground com uma pitada daquilo que se chamaria anos depois de new wave. Isso muito ajudado pelos
teclados moog de Harrison, numa influência
direta do glam rock, mistura de punk
e pop que este ajudaria a levar para outra banda referencial da cena de Nova
York a qual formaria um ano depois: o Talking Heads.
Como Joey e Hell, Richman, guitarrista e líder da banda, era mais que
um vocalista: era um dos porta-vozes daquela turma. Seus versos muitas vezes
reproduziam as angústias e vontades daqueles jovens deslocados que não queriam
ser certinhos nem hippies: queriam
ser apenas eles mesmos. Com este substrato, Richman é capaz de criar versos
verdadeiramente geniais, formando rimas cantaroláveis e cheias de
expressividade. “Astral Plane” é um exemplo. Rockzão embalado, fala de um rapaz
sozinho em seu quarto, prestes a enlouquecer, pois sente que nunca mais terá a
garota que gosta. Seu desespero é tanto que já está aceitando até encontrá-la
num outro plano imaterial e, digamos, “não-carnal” (“O plano astral para o escuro da noite/ O plano astral ou eu vou
enlouquecer”).
Outro caso é o da clássica “Pablo Picasso”, em que, com criatividade e
atrevimento, engendra uma rima de “asshole”
(“cuzão”, em inglês) com "Picasso". Dentro
da sua classificação estilística, este tipo de rima pode ser considerado como
“rima rica”, quando a combinação é formada por vocábulos de classes gramaticais
distintas entre si. Além desta, a rima de Richman também se enquadra no que se
pode chamar de “rima preciosa”, ou seja, quando se combina em versos palavras de
dois idiomas diferentes. Ele altera a pronúncia da palavra estrangeira para
rimar com outra na língua vernácula da obra (inglês). Nos versos em questão, o
sobrenome do artista plástico espanhol, o substantivo próprio de origem
malaguenha "Picasso", é dito com uma leve distorção no seu último fonema, o que
faz com que se equipare fonética e sintaticamente a “asshole”, um adjetivo originário da linguagem chula. Além disso, a
letra em si é superespirituosa, pois endeusa a figura do autor da Guernica pelo
simples fato de ser um nome público, como se por causa disso jamais ele
passasse pelo vexame de não conseguir pegar as meninas como eles. Pura
inventividade.
Fora a letra, “Pablo Picasso” é um blues ruidoso no melhor estilo
Velvet, roupagem que Cale fez questão de dar ao intensificar a distorção das
guitarras sobre uma base quase de improviso, a exemplo de "The Gift" e
“European Son”. O produtor, inclusive, foi, um ano antes, o primeiro a gravá-la
no clássico álbum “Helen of Troy”, apresentando ao mundo do rock aquele jovem
criativo chamado Jonathan Richman. Com menos distorção mas de levada empolgante,
“Old World”, “Dignified And Old” e “She Cracked” são daquelas gostosas até de
poguear. Todas com um cuidado na linha dos teclados, inteligentemente utilizado
com diferentes texturas por Cale, o que cria atmosferas próprias para as
canções. “She Cracked”, em especial, que fala sobre o ciúme sentido por um
rapaz em relação a uma mulher madura e independente, é outra de refrão
pegajoso, das de cantar em coro com uma galera: “She cracked, I'm sad, but I won't/ She cracked, I'm hurt, you're
right”. O riff é de um
minimalismo quase burro: como uma “Waiting for the Man”, apenas uma nota
sustenta toda a base.
Já na meio-balada “Hospital”, de Harrison, a figura feminina
inatingível a um adolescente pobre do subúrbio está presente de novo: “Às vezes eu não suporto você/ E isso me faz
pensar em mim/ Que eu estou envolvido com você/ Mas eu estou apaixonado por
este poder que você mostra através de seus olhos”. Novo petardo: “Someone I
Care About”, com sua combinação de 4 notas, lembra direto Ramones, mas com um
toque mais apurado por conta da produção de estúdio. Reduzindo o ritmo
novamente, a balada ”Girl Friend” volta a falar sobre as meninas desejadas mas…
sem sucesso. A letra brinca com a sintaxe da palavra em inglês (olha aí Richman
mais uma vez se esmerando na poesia) juntando os dois vocábulos (“girlfriend”, namorada) ou separando-os (“girl friend”, garota amiga, justamente
com o que ele não se contenta, mas não tem coragem de confessar). Nesta, o
teclado soa como piano, dando-lhe um ar ainda mais melancólico.
Mais uma acelerada, “Modern World”, mesmo não sendo das conhecidas, é
um exemplo de rock bem feito: pulsação, melodia de voz eficiente, vocal
honesto, guitarras rasgando sem precisar de excesso de distorção. E a letra é
hilária: o rapaz, querendo convencer a garota a ir para a cama com ele, larga
um papo de que aderiu ao “mundo moderno” e à liberdade sexual. “If you'd share the modern world with me/ With me in love with the
U.S.A. now/ With me in love with the modern world now/ Put down the cigarette/
And share the modern world with me” (Se você quiser compartilhar o mundo
moderno comigo/ Comigo no amor com os EUA agora/ Comigo no amor com o mundo
moderno agora/ Largue o cigarro/ E compartilhe comigo o mundo moderno.”)
O álbum deu luzes à geração punk tanto nos Estados Unidos, como para
Talking Heads, Blondie e Television, quanto na Inglaterra, como Sex Pistols, The Clash, Jam, Buzzcocks e The Stranglers, bandas nas quais se vê claramente
toques da Modern Lovers. Várias outras, inclusive, da leva pós-punk, como The Cure, Gang of Four, Polyrock e P.I.L. beberiam também na fonte de Richman &
Cia. Se os Ramones elevaram a ideologia do “faça você mesmo” ao showbizz, revolucionando para sempre a
música pop, a The Modern Lovers, na mesma época, já dava a mensagem de que, o
importante era fazer por si próprio, sim, mas que havia espaço para refinar um
pouco aquela tosqueira toda.
A versão em CD lançada pelo selo Rhino em 1989 pode ser considerada a
definitiva deste álbum tão influente. Primeiro, por trazer o remaster das faixas originais do LP, evidenciando
o trabalho inteligente de Cale na mesa de som e o vigor sonoro da banda.
Segundo, porque traz faixas extras que, ao que se percebe, só não entraram na
edição de 1976 por pura falta de espaço no vinil. Estas, aliás, são fruto da
parceria do grupo com outro mestre da subversão, Kim Fowley. Ele produz duas das
melhores músicas do disco: “I’m Straight”, rock de veia blues em que,
hilariamente, um adolescente, fascinado pelo poder que rapaz tem para com as
mulheres, tenta reafirmar sua masculinidade dizendo: “Eu sou hétero” (mais uma vez, uma maravilha de rima rica de
Richman: “But I'm straight/ and I want to
take his place”). Fowley vale-se do expediente de aumentar o microfone do
vocal, fazendo com que se captem os mínimos suspiros. Junto, enche o timbre da
caixa da bateria, que estronda alta. Guitarra e baixo, em escala média, soam,
entretanto, bem audíveis, formando um som orgânico. Alguma semelhança com o
estilo de sonoridade dada por Steve Albini ao Pixies ou Nirvana não é mera coincidência.
A outra assinada por Fowley é a também muito boa: “Government Center”,
que desfecha-o CD num rock de ares de twist
mas que, pela característica da produção (as palmas acompanhando o ritmo, o moog, a marcação no baixo), remete a The
Seeds, The Sonics, The Monks e a outras garage
bands norte-americanas.
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FAIXAS:
1. Roadrunner - 4:05
2. Astral Plane - 3:00
3. Old World - 4:03
4. Pablo Picasso - 4:21
5. I'm Straight - 4:18
6. Dignified And Old -
2:29
7. She Cracked - 2:56
8. Hospital (Jerry
Harrison) - 5:35
9. Someone I Care
About - 3:39
10. Girl Friend - 3:54
11. Modern World - 3:43
12. Government Center - 2:03
todas as composições de autoria
de Jonathan Richman, exceto indicada.
O Música da Cabeça não é livro didático, mas tem muita letra pra dar, como deve ser, aliás. Não só letra, mas também música, como as de Arnaldo Antunes, The Stranglers, Noel Rosa, O Rappa, Suzanne Vega e Arca de Noé. Fora isso, ainda tem "Música de Fato" sobre as tensões EUA-Irã, "Sete-List" com o jazz de Amaro Freitas e "Palavra, Lê" bossa-novístico. Tudo hoje, às 21h, nas páginas escritas da Rádio Elétrica. Produção, apresentação e alfabeto completo: Daniel Rodrigues.
Coloquei no blog o primeiro da minha lista do melhores álbuns de todos os tempos e então agora resolvi listar o resto.
Sei que é das tarefas mais difíceis e sempre um tanto polêmica, mas resolvi arriscar.
Até o 10, não digo que seja fácil, mas a concepção já está mais ou menos pronta na cabeça. Depois disso é que a gente fica meio assim de colocar este à frente daquele, tem aquele não pode ficar de fora, o que eu gosto mais mas o outro é mais importante e tudo mais.
Mas na minha cabeça, já ta tudo mais ou menos montado.
Com vocês a minha lista dos 100 melhores discos de toda a história:
1.The Jesus and Mary Chain “Psychocandy” 2.Rolling Stones “Let it Bleed” 3.Prince "Sign’O the Times” 4.The Velvet Underground and Nico 5.The Glove “Blue Sunshine” 6.Pink Floyd “The Darkside of the Moon” 7.PIL “Metalbox” 8.Talking Heads “Fear of Music” 9.Nirvana “Nevermind” 10.Sex Pistols “Nevermind the Bollocks"
11.Rolling Stones “Exile on Main Street”
12.The Who “Live at Leeds”
13.Primal Scream “Screamadelica”
14.Led Zeppellin “Led Zeppellin IV
15.Television “Marquee Moon”
16.Deep Purple “Machine Head”
17.Black Sabbath “Paranoid”
18.Bob Dylan “Bringing it All Back Home”
19.Bob Dylan “Highway 61 Revisited”
20.The Beatles “Revolver”
21.Kraftwerk “Radioactivity”
22.Dead Kennedy’s “Freshfruit for Rotting Vegettables”
23.The Smiths “The Smiths”
24.The Stooges “The Stooges”
25.Joy Division “Unknown Pleasures”
26.Led Zeppellin “Physical Graffitti
27.Jimmy Hendrix “Are You Experienced”
28.Lou Reed “Berlin”
29.Gang of Four “Entertainment!”
30.U2 “The Joshua Tree”
31.David Bowie “The Rise and the Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”
32.David Bowie “Low”
33.My Bloody Valentine “Loveless”
34.The Stone Roses “The Stone Roses”
35.Iggy Pop “The Idiot”
36.The Young Gods “L’Eau Rouge”
37.The 13th. Floor Elevators “The Psychedelic Sounds of The 13th. Floor Elevators”
38.The Sonics “Psychosonic”
39.Ramones “Rocket to Russia”
40.The Beatles “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”
41.PIL “Album”
42.REM “Reckoning”
43.Love “Forever Changes”
44.Madonna “Erotica”
45.Grace Jones “Nightclubbing”
46.Pixies “Surfer Rosa”
47.Pixies “Doolitle”
48.Rolling Stones “Some Girls”
49.Michael Jackson “Off the Wall”
50.Michael Jackson “Thriller”
51.Beck “Odelay”
52.Nine Inch Nails “Broken”
53.The Fall “Bend Sinister”
54.REM “Green”
55.Neil Young and the Crazy Horse “Everybody Knows This is Nowhere”
56.Kraftwerk “Trans-Europe Expreess”
57.The Smiths “The Queen is Dead”
58.New Order “Brotherhood”
59.Echo and The Bunnymen” Crocodiles”
60.Prince “1999”
61.Morrissey “Viva Hate”
62Iggy Pop “Lust for Life”
63.Pixies “Bossanova”
64.Chemical Brothers “Dig Your Own Hole”
65.Prodigy “Music For Jilted Generation”
66.Van Morrisson “Astral Weeks”
67.Pink Floyd “Wish You Were Here”
68.Muddy Waters “Electric Mud”
69.Sonic Youth “Dirty”
70.Sonic Youth “Daydream Nation”
71.Nirvana “In Utero”
72.Björk “Debut”
73.Nirvana “Unplugged in New York”
74.Björk “Post”
75.Jorge Ben “A Tábua de Esmeraldas”
76.Metallica ‘Metallica”
77.The Cure "Disintegration"
78.The Police ‘Reggatta de Blanc”
79.Siouxsie and the Banshees “Nocturne”
80.Depeche Mode “Music for the Masses”
81.New Order “Technique”
82.Ministry “Psalm 69”
83.The Cream “Disraeli Gears”
84.Depeche Mode Violator”
85.Talking Heads “More Songs About Building and Food”
86.The Stranglers “Black and White”
87.U2 “Zooropa”
88.Body Count “Body Count”
89.Massive Attack “Blue Lines”
90.Lou Reed “Transformer”
91.Sepultura “Roots”
92.John Lee Hooker “Hooker’n Heat”
93.The Cult “Love”
94.Dr. Feelgood “Malpractice”
95.Red Hot Chilli Peperrs “BloodSugarSexMagik”
96.Guns’n Roses “Appettite for Destruction”
97.The Zombies “Odessey Oracle”
98.Johnny Cash “At Folson Prison”
99.Joy Division “Closer”
100.Cocteau Twins “Treasure”
O ano de 1977 pode ser considerado o do nascimento oficial do punk-rock. As duas principais bandas da cena, Sex Pistols e The Clash, lançavam seus primeiros discos naquele ano, empestando o ar do Velho Mundo com o mau cheiro de um som cheio de fúria e crítica junto com Buzzcocks, Damned, Wire, The Stranglers e outros. Do outro lado do mundo, “Rocket to Russia”, do Ramones, tornava-se um clássico imediatamente que chegava às lojas; a dupla do Suicide trocava guitarras por teclados, forjando um som tão sujo quanto o de qualquer grupo de formação tradicional; “Marquee Moon”, do Television, espantava público e crítica pela inventividade de Paul Verlaine e Cia.; e Richard Hell, com “Blank Generation”, carimbava seu documento definitivo na história do rock. Decididamente, o espírito do “faça você mesmo”, surgido no underground norte-americano desde a segunda metade dos anos 60 – através da música, da moda, da arte gráfica, entre outros –, chegava, enfim, ao grande público. Sem mais Baetles, Rolling Stones ou Elvis Presley: a vez era do punk.
Porém, a contestação ao establishment, elemento chave da cultura punk, era nutrido de múltiplas interferências. Tanto que não era preciso necessariamente andar esfarrapado como Joey Ramone, arranjar confusão como os arruaceiros dos Dead Boys ou ser um junkie declarado como Syd Vicious. Havia aqueles que comungavam das mesmas ideias transgressivas, mas à sua maneira: sem briga, sem drogas e, universitários que eram, vestindo a roupa que seus pais lhe enviavam de presente no Natal. Com cara de bons moços, os Talking Headscontribuíam sobremaneira para a cena mandando ver, isso sim, no som.
Foi no hoje mítico bar CBGB, em Nova York, que David Byrne (voz, guitarra), Chris Frantz (bateria), Tina Weymouth (baixo) e Jerry Harrison (guitarra e teclado) trouxeram a gênese do som que conquistaria o mundo pop por mais de uma década. Este rico embrião está num dos discos mais marcantes do ano de 1977, cuja história, hoje, transcorridos 40 anos, mostra não ser coincidência chamar-se justamente “77”. O debut da banda une a crueza da sonoridade punk a um estilo muito peculiar das composições, cujos elementos melódicos e harmônicos já apontavam claramente para referências além da combinação de três acordes do punk. Byrne, líder e principal compositor, já denotava preferências por harmonias fora do tempo, variações bruscas no compasso, a incursão de ritmos latinos e exóticos, a desaceleração em comparação ao ritmo frenético do tipo “hey, ho, let’s go!” e, claro, seu inigualável vocal, de timbre bonito e considerável alcance mas não raro propositalmente rasgado ou picotado. Resultado dessa química esquisita é um disco que abre portas para aquilo que viria na esteira do punk, a new wave.
Produzido por Lance Quinn e Tony Bongiovi – este último, responsável por dar corpo a outro marco do punk naquele mesmo ano, o já mencionado “Rocket to Russia” –, “77” traz uma sonoridade potente e muito bem equalizada, dando destaque a todos os instrumentos, que soam com vivacidade. "Uh-Oh, Love Comes to Town" abre mostrando que, além disso, eles não eram convencionais de fato na composição. Nada de batida acelerada e guitarras arrotando distorção. Os Heads dão seus primeiros acordes num funk estilo “I Want You Back“, dos Jackson Five, porém com as guitarras sujando o espaço sonoro e a voz de Byrne funcionando quase como um arremedo yuppie à do pequeno Michael Jackson.
Uma das joias do disco, “New Feeling”, por sua vez, já começa a apresentar a faceta atonal de Byrne e sua turma. As duas guitarras cumprem, cada uma num tempo, duas linhas melódicas diferentes. Isso fora o ritmo quebrado, que dá a sensação de desequilíbrio e descompasso que tanto explorariam em discos como “Fear of Music” (“Paper”, “Mind”), de 1979, ou “Speaking in Tongues” (“Swamp”), de 1983. A paródia militar "Tentative Decisions" – cuja ideia se verá noutras canções do grupo mais adiante, como “Thank You for Sending Me an Angel” e “Road to Nowhere” – abre caminho para uma canção mais linear, “Happy Day”, balada quase pueril que traz outras peculiaridades da banda, que são o refrão criativo – um dos motivos dos Heads se tornarem empilhadores de hits – e a guitarra “percutida”, em que as cordas são raspadas, friccionadas, extraindo do instrumento um som exótico, africanizado, diferente do tradicional.
“Who Is It?” retraz o funk, agora mais desengonçado (ou seria “com atitude punk”?) do que nunca. É muito interessante ver como Byrne desmembra os ritmos da raiz da música pop para, logo em seguida, reescrevê-lo à sua maneira. A faixa antecede uma das melhores do álbum e das principais sementes plantadas pelos Heads em termos de musicalidade: “No Compassion”. A exemplo de outros temas que a banda viria a escrever, como “Warning Sing” (1978) e “Give Me Back My Name" (1985), esta carrega uma atmosfera densa e que a faz naturalmente soar como um clássico desde que se ouvem os primeiros acordes. A batida forte e cadenciada de Frantz; o baixo de Tina impondo-se; a primeira guitarra de Harrison executando uma base dividida em dois tempos; a guitarra solo desenhando um riff sinuoso. A sonoridade é tão bem produzida que servirá de matriz para o que desenvolveriam junto a Brian Eno em “More Songs About Buildings and Food”, no ano seguinte. Além disso, é das poucas que tem momentos de punk-rock pogueado, mostrando que o Talking Heads estava, sim, muito próximo de seus companheiros de CBGB.
O segundo lado do formato vinil começa ainda melhor que o primeiro com "The Book I Read". A guitarra “percutida”, como um cavaquinho ou algo parecido, anuncia um riff um tanto dissonante. Mas o que se apresenta quando a banda e o vocal entram juntos é um belíssimo pop-rock em que Byrne dá um show de vocal – ao menos, a seu estilo, que vai do melódico ao rascante. Destaque especial para o baixo da competente Tina, que além da base muito bem executada é quem faz o “solo” num acorde de quadro notas junto com o cantarolar (“Na na na na”) de Byrne. Diz-se “solo” entre aspas pois, afinal, eles são uma banda punk, sem a habilidade dos dinossauros do rock de então, mas que sabiam resolver ideias com muita criatividade – o que, convenhamos, é até melhor em muitos casos.
Mais um exemplo típico da musicalidade diferenciada de Byrne é “Don't Worry About the Government”, canção cheia de sinuosidades, mas bastante melodiosa, visto que sua base é um toque semelhante ao de uma delicada caixa de música. Outra das brilhantes é "First Week/Last Week... Carefree", um rock com toques latinos e a cara do que os Heads formaram enquanto estilo ao longo dos anos haja vista várias outras músicas de semelhante ideia como: “Crosseyed and Painless” (1980), “Slippery People” (1983), "The Lady Don't Mind" (1985) e “Blind” (1988). Estão em “First Week...” elementos como os instrumentos afro-latinos (reco-reco, marimba), o canto gaguejado de Byrne, seus vocalizes malucos e o uso de metais, que lançam frases sonoras típicas de um “Ula Ula” havaiano.
Como todo grande disco, “77” tem seu hit. E neste caso é a imortal (com o perdão da expressão) "Psycho Killer". Engenharia de som perfeita: o baixo inicial e todos os outros instrumentos que entram são claramente notados, conjugando-se com a voz mais uma vez liberta de Byrne para um riff matador (sic) e uma melodia de voz daquelas que não desgrudam da mente – ou da psique. Tanto que é quase impossível os acordes tocaram e alguém não saber cantarolar o refrão: “Psycho killer/ Qu'est-ce que c'est/ Fa, fa, fa, fa, fa, fa, fa, fa, fa, far better/ Run, run, run, run, run, run, run, away”. Ouvem-se sem erro em “Psycho...” Gang of Four, P.I.L., Polyrock, Replacement e outras bandas advindas com o post-punk anos mais tarde. Além de um clássico, revela o estilo próprio da banda e porque ela foi/é tão influente a toda uma geração do rock.
A talvez mais punk-rock, a agitada “Pulled Up", encerra o disco, um dos grandes de estreia da história do rock – figura em 68º da lista dos 100 melhores primeiros álbuns pela Rolling Stone, entre os 300 dos 500 maiores da história da música pop, pela mesma revista, e entre os 1001 essenciais de se ouvir antes de morrer, conforme livro de Robert Dimery. “77” aponta a rota que a banda e, mais amplamente, a própria cena punk iriam tomar. Fora os já mencionados grupos post-punk, dá para dizer com segurança que um ano depois o álbum já se fazia essencial: a Devo, produzida por Eno, não existiria sem o exemplo dos Heads e nem o Blondie rumaria com tamanha assertividade a uma “popficação” de seu som sujo original. Junto ao que os também estreantes Sex Pistols, The Clash, Television, Richard Hell e outros, o Talking Heads assinalava aquele ano como um dos mais estelares da história do rock, um ano capitulado como “77”.
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Talking Heads -“Psycho Killer”
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FAIXAS:
1. "Uh-Oh, Love
Comes to Town" – 2:48
2. "New
Feeling" – 3:09
3. "Tentative
Decisions" – 3:04
4. "Happy
Day" – 3:55
5. "Who Is
It?" – 1:41
6. "No
Compassion" – 4:47
7. "The Book I
Read" – 4:06
8. "Don't Worry
About the Government" – 3:00
9. "First
Week/Last Week ... Carefree" – 3:19
10. "Psycho
Killer" (Byrne, Chris Frantz, Tina Weymouth) – 4:19
11. "Pulled Up" – 4:29
Todas as faixas compostas por David Byrne, com exceção da indicada.