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sexta-feira, 26 de outubro de 2012

"Anarquia na Passarela - A Influência do Movimento Punk nas Coleções de Moda", de Daniel Rodrigues (Ed. Dublinense, 2012)



"Um dos êxitos da onda punk
foi ratificar uma propriedade antropológica do homem:
a existência de um impulso estético
natural dentro do espírito humano
que lhe é necessário para a vida,
sendo a indumentária uma das mais potentes formas de comunicar e expressar  esse impulso."
Daniel Rodrigues



Tenho que admitir que mesmo extremamente orgulhoso pelo fato de meu irmão, Daniel Rodrigues estar lançando um livro, fiquei com um pé atrás quanto ao que me esperaria nas páginas do seu "Anarquia na Passarela - A Influência do Punk nas Coleções de Moda" (Dublinense, 2012). Não digo pela qualidade. Conheço sua capacidade, sua inteligência, seus textos tanto do seu blog de cinema O Estado das Coisas Cine quanto daqui mesmo do ClyBlog com suas resenhas, poemas e contos brilhantes. Não! Não me refiro a isso. Ficava um pouco receoso de que esforçando-se em embasar solidamente suas premissas, afirmações, teses, o livro pudesse acabar ficando maçante e arrastado.
Pra ser sincero, acho que isso até acontece na introdução ("O Início do Fim do Mundo"), que embora instigante quanto ao conteúdo que irá ver-se dali para diante, fica meio preso às explicações e porquês de uma maneira meio ansiosa de resumir muito em pouco espaço. Mas é só a introdução, a impressão logo se desfaz e a partir do primeiro capítulo, "No Fun", embarcamos numa deliciosa viagem músico-comportamental empolgante e envolvente. Dá vontade de não para de ler! Dá vontade de ouvir imediatamente aquelas bandas, aqueles cantores, aquelas músicas citadas. Dá vontade de sair pogueando! O livro é uma caixa de som! Sai música dele. Mas não só isso: dá vontade de usar aquela calça rasgada no joelho, de usar aquele bracelete de couro, uma camisa com dizeres desaforados...
Ele é extremamente bem fundamentado, estudado, repleto de referências, citações, com alto grau e profundidade de pesquisa mas passa longe de ser pedante e cansativo. Ele flui. Flui muitíssimo bem.
Consegue conjugar um gosto pessoal musical, inequívoco e indesmentível, com muita informação, embasamento teórico e análise detalhada e  numa proporção perfeita e exata de modo a tornar a leitura absolutamente agradável e sempre interessante.
O ponto de convergência específico do punk com a moda, tema central do livro, além de muito bem sustentado como já foi dito, é analisado com enorme sensibilidade e perspicácia de modo que não escapa do autor nenhum elemento que possa ser realmente relevante no paralelo proposto. Especificamente, a análise pormenorizada da coleção primavera-verão 2002 de Jean-Paul Galtier, onde esmiuça praticamente todos os ingredientes do trabalho do estilista francês é brilhante e admirável, indo de um baile vienense a uma festa de pogo com a naturalidade de quem realmente se jogou de cabeça no assunto.
Em suma, um baita livro! Vencendo minha desconfiança inicial, revela-se não só como uma leitura altamente recomendável como uma publicação de referência em ambos os âmbitos, o da música (punk, pré, pós e todos seus derivados) quanto o da moda, abrangendo o comportamento de um modo geral.
Talvez minha análise fique um tanto suspeita por eu ser irmão do autor, blablablá e aquela coisa toda. Garanto-lhes que não há aqui nenhuma tendenciosidade. Até por isso, pelo meu parentesco, tratei de ler o livro com o botão do senso crítico acionado no nível máximo, pronto para se tivesse que ser duro, severo, antipático, fazê-lo sem titubear. Mas nõa precisei. É impossível não se render e deixar-se levar pelo som das páginas de "Anarquia na Passarela".
Recomendabilíssimo!!!
Leia no volume máximo.


Cly Reis

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Prêmio Açorianos de Literatura 2013



imagem: site Prêmio Açorianos
"Anarquia na Passarela", do meu irmão e parceiro de blog Daniel Rodrigues teve confirmada sua indicação ao Prêmio Açorianos de Literatura 2013 na categoria Ensaio de Literatura e Humanidades,  e concorrerá com "Rupturas Instáveis - Entrar e sair da música pop", de Fabrício Silveira e "A Dança das Palavras"  de Celso Gutfreind ao prêmio, que é considerado o mais importante da literatura no Rio Grande do Sul, sendo também um dos mais significativos do Brasil . 
Particularmente, desde que li, afirmei que o "Anarquia..." passara a ser um dos meus livros de referência, de cabeceira, dos xodóas, mas eu sou irmão e portanto, um tanto suspeito. Mas acho que uma indicação como essa não deixa dúvidas quanto à qualidade do trabalho, não?
Agora é torcer!
Sinceramente confio muito na escolha. Não conheço os demais trabalhos mas sei das qualidades do "Anarquia na Passarela" (e são muitas).
Os vencedores serão conhecidos no dia 9 de dezembro, em cerimônia de entrega dos prêmios, desta e das demais categorias, no Teatro Renascença, em Porto Alegre.
Parabéns, Daniel.


Cly Reis




domingo, 29 de julho de 2012

Anarquia em Porto Alegre - Noite de autógrafos de Daniel Rodrigues - Pinacoteca Café (19/07/2012)




Tinha ficado devendo imagens e algumas considerações sobre o lançamento do livro "Anarquia na Passarela" (ed. Dublinense, 2012) do meu irmão, jornalista, parceiro-colaborador deste blog e dono blog do O Estado das Coisas Cine, Daniel Rodrigues.
Bom, pra começar, voltar a Porto Alegre para mim é sempre um prazer e ainda mais em circunstâncias festivas e alegres como esta, neste caso especialmente numa realização pessoal do Daniel e que por extensão enche de orgulho a todos nós da família.
O evento em si estava um grande barato. Tudo muito bacana, muito alegre, muito amistoso e ambiente aconchegante do bar Pinacoteca Café. Amigos, familiares, desconhecidos, curiosos, todos ali dando uma conferida, cumprimentando o escritor e demonstrando grande interesse pelo tema que num primeiro momento parece estranho mas que olhando em volta se vê o quanto é comum.
Tive a oportunidade de encontrar parentes queridos como minha adorada tia-prima Isaura, amigos de tempo como o Christian Ordoque e a Iris Borges, amigos até então virtuais como a Valéria Luna e o Eduardo Wolff, rever meu outro 'irmão' velho, meu primo e ex-parceiro de banda, o Lúcio Agacê detonando um punk rock nas 'picapes', e até topar com uma das lendas do punk-hardcore gaúcho, o ex-vocalista da Atraque, Leandro Padraxx, que dava uma banda por lá.
Grande noite. Grande honra e prazer ter estado lá com todas essas pessoas. E, mais uma vez parabéns, Daniel! Sucesso e que venham outros e outros livros por aí.


Abaixo algumas das cenas da noite captadas pela lente de Leocádia Costa, que igualmente tive o prazer de conhecer nesta visita:

"Anarquia na Passarela", já à venda
Família presente prestigiando o evento.
Lucio Agacê comandando o som:
Replicantes, Kennedy's, Pistols, Joy, e  por aí vai.
O autor, Daniel, na mesa de autógrafos,
atencioso com os visitantes
...tudo isso 'embalado' pela saborosa
cachaça Da Chica
Daniel com o grande Eduardo Wolff, resenhista
de vários ÁLBUNS FUNDAMENTAIS
aqui no blog,...
... com sua adorável namorada, Leocádia. 
... e revivendo a extinta HímenElástico,
com este blogueiro que vos escreve (dir.) e com Lúcio Agacê.
Irmãos
Autógrafos
Daniel Rodrigues e seu livro


fotos: Leocádia Costa
Luís Ventura


segunda-feira, 26 de agosto de 2019

ClyBlog 11 anos. Parabéns para nós!

O tempo passa... É, parece que foi ontem que começamos um blog meio sem saber o que queríamos, como fazer, o que colocaríamos nele e, hoje o nosso ClyBlog chega a seu décimo primeiro ano. Uma trajetória muito positiva que nos fez crescer junto com o blog. Crescer em conteúdo, conhecimento, ousadia, ambição, em criatividade, em qualidade. A plataforma que meramente nos propiciava a exposição de nossas produções criativas, escritas, visuais, gráficas ou quaisquer outras que pudessem se manifestar, nos possibilitou o reconhecimento destas manifestações artísticas em publicações literárias e gráficas, valorizando, sobremaneira, o conteúdo publicado no blog. Se antes utilizávamos nosso espaço para, humildemente, expormos nossas impressões pessoais sobre música, cinema e outros assuntos de nosso interesse, hoje, parceiros, amigos e convidados altamente qualificados se juntam a nós, alguns de forma constante e outros eventualmente, em ocasiões especias, dando suas colaborações nas mais diversas seções do nosso veículo, sempre demonstrando imensa satisfação em fazer parte do nosso projeto.  Além disso, as vivências e experiências de eventos, espetáculos, viagens, passeios, foram ampliadas trazendo mais variedade, informação e imagens em canais específicos para cada segmento. Ou seja, de 2008 para cá, o ClyBlog está cada vez melhor e mais interessante.
E tudo isso só se deve ao fato de que nós, as cabeças do ClyBlog, Daniel Rodrigues e eu, Cly Reis, continuamos pilhados, sempre estimulados, sempre a fim de fazer algo legal, algo diferente, acrescer qualidade, novidades, conteúdo instigante, coisas que sejam legais para o leitor, visitante ou seguidor porque seriam legais para nós. É isso que  fez com que o ClyBlog chegasse até aqui,aos 11 anos, e fará com que siga em frente, se depender de nós, ainda por muito tempo.
Nesses 11 anos tivemos um monte de coisas bacanas no ClyBlog: fomos a shows e contamos como foi, viajamos por diversos lugares e relatamos as experiências, fomos selecionados para publicações, , participamos de outros espaços em outras plataformas, tivemos convidados importantes escrevendo no ClyBlog... Enfim, foram muitos bons momentos. Não dá pra colocar todos aqui, afinal são 11 anos, mas dá pra destacar alguns. Assim, lembramos aqui um momento para cada ano desde o início do ClyBlog.



2008
Madonna no Maracanã - No ano da criação do ClyBlog, um dos momentos marcantes foi a volta da Rainha do Pop a terras brasileiras. A expectativa era grande mas o show não foi lá essas coisas. Mesmo assim, relatamos tudo, num dos primeiros ClyLive, a seção de shows do ClyBlog.

Madonna, show de constrangimentos
Vi no filme "Na Cama com Madonna" o trechos da turnê Blonde Ambition e fiquei fascinado. Quis ver aquilo! No entanto a turnê seguinte, que acabou passando pelo Brasil, foi a Girlie Show, que apesar de não ser tão boa quanto a anterior, de não ter os figurinos do Gaultier nem a performance libidinosa de "Like a Virgin" foi um belo espetáculo e me proporcionou boas surpresas.
Anos depois resolvi ir ver novamente a Madonna ao vivo pelo mero fato de ser a Madonna. Sabia já que o álbum "Hard Candy" era um horror porém guardava a expectativa de que o show, o espetáculo, o tudo, valesse a pena.
Olha, foi um circo do lamentável (...) Leia mais...




2009
Viagem ao Velho Continente: Em 2009, tive a oportunidade de ir à Europa e visitar algumas das cidades mais famosas do mundo e alguns dos destinos turísticos mais procurados. Estive em Paris, Londres, Roma, Florença e Veneza e, é claro, tudo foi para no ClyBlog, na nossa seção Arquivo de Viagem.

ARQUIVO DE VIAGEM: Europa
Aeroporto, mala, poltrona desconfortável, sono ruim, hotel, informações e é em inglês, em italiano e é em francês, e dá-lhe fotografia, fotografia, fotografia, e de novo hotel, e outro dia mais fotografia, e tome outro aeroporto, ou estação de trem, ou táxi, e outro hotel, e mais foto, foto, foto... É, isso é viajar! Mas é bom! E principalmente para a Europa que era uma antiga aspiração. O roteiro? Londres, Paris, Roma, Florença e Veneza.
A primeira parada, a terra da Rainha, que mais do que todas as outras eu tinha uma enorme vontade de conhecer por causa principalmente de toda a atmosfera rock do lugar, por causa das bandas que admiro ou mesmo por toda a influência musical e comportamental que exerce sobre grande parte do mundo, não me decepcionou (...) Leia mais...
LONDRES: Passeio por LondresFabric,  The Telegraph Pub
PARIS: Paris
ROMA: Roma
FLORENÇA: Florença
VENEZA: VenezaJazz em Veneza - Bàccaro Jazz



2010
Internacional Bicampeão da Libertadores - Neste ano, tive a felicidade de presenciar o segundo título de Libertadores da América do meu time do coração, o Sport Club Internacional, in loco, no Beira-Rio. E, como não podia deixar de ser, documentei a noite mágica do Bi da América para o ClyBlog.

Era uma vez na América (ou melhor, DUAS vezes)

Eu tinha assistido à semifinal contra o Olímpia em 89. Eu estava lá no Gigante. Não, não podia acontecer de novo.
Quando os mexicanos do Chivas fizeram o primeiro gol do jogo aquele filme de terror me veio à cabeça. E eu lá de novo. Seria EU o culpado? Teria, EU, me desbarrancado do Rio de Janeiro a Porto Alegre, sem ingresso na mão, desembarcando 4 horas antes do jogo, conseguido incrivelmente a tal entrada, tudo isso para EU dar azar pro eu time? (Torcedor pensa cada coisa, não?) Mas por certo não fui só eu. Outros devem ter pensado que aquilo estava acontecendo porque não usaram a mesma cueca, não conseguiram sentar no mesmo lugar no estádio, porque não seguiram determinados rituais, ou sabe-se lá mais o que; mas de todos estes não sei quantos ali haviam presenciado a maior "tragédia" do Beira-Rio. E eu estava lá (...) Leia mais...
Inter x Chivas
Museu do Inter




2011
"Screamadelica", do Primal Scream, ao vivo na íntegra - Enquanto na Cidade do Rock, rolava o Rock in Rio, com todas suas estrelas e nomes badalados, no Circo Voador, na Lapa, bem menos incensado, um dos discos mais importantes dos anos 90 e da história do rock era tocado na íntegra por uma das bandas mais influentes do pop rock britânico. O Primal Scream, liderado pelo dissidente do Jesus and Mary Chain, Bob Gillespie, celebrava o vigésimo aniversário de lançamento do álbum "Screamadelica" com um show sensacional que foi ainda mais especial uma vez que assisti na companhia de meu irmão, Daniel Rodrigues, que andava pelas bandas do Rio de Janeiro naquele momento. A cúpula do ClyBlog, curtindo junto um show tão especial como esse, só podia ser um dos grandes momentos de 2011.


Primal Scream - "Screamadelica 20th Anniversary Tour" - Circo Voador - Rio de Janeiro (23/09/2011)


Nesta última sexta-feira aconteceu a primeira noite de apresentações do Rock in Rio... Bom, e dai?
Azar de quem foi à tal Cidade do Rock e não estava na Lapa, como eu, delirando com o show da turnê de aniversário de 20 anos do álbum "Screamadelica" do Primal Scream.
Que Rock in Rio que nada! O verdadeiro rock no Rio de Janeiro estava acontecendo lá no Circo Voador. E se toda a cidade estava mobilizada para assistir às rihanas cláudiasleittes da vida, ali na Lapa, um pequeno grupo de fieis assistia a um show histórico, que diga-se de passagem, foi, com louvor, proporcionado por eles mesmos, que num esforço incomum fizeram trazer ao Rio uma atração que estava praticamente descartada para cá (...) 
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2012
O punk e a moda - 2012 marca o lançamento do livro "Anarquia na Passarela - A Influência do Movimento Punk nas Coleções de Moda", do irmão e parceiro de blog Daniel Rodrigues, como um dos fatos mais importantes daquele ano no ClyBlog. Um estudo profundo e criterioso sobre a música e a moda caminhando juntas, sem cair na chatice ou na mesmice com uma linguagem fácil e dinâmica. Eu posso até ser suspeito para elogiar por ser irmão, mas acho que o júri do Prêmio Açorianos, que consagrou o livro como melhor ensaio de literatura e humanidades tem isenção o suficiente.

"Anarquia na Passarela - A Influência do Movimento Punk nas Coleções de Moda", de Daniel Rodrigues (Ed. Dublinense, 2012)

(...) O livro é uma caixa de som! Sai música dele. Mas não só isso: dá vontade de usar aquela calça rasgada no joelho, de usar aquele bracelete de couro, uma camisa com dizeres desaforados...
Ele é extremamente bem fundamentado, estudado, repleto de referências, citações, com alto grau e profundidade de pesquisa mas passa longe de ser pedante e cansativo. Ele flui. Flui muitíssimo bem. 
Consegue conjugar um gosto pessoal musical, inequívoco e indesmentível, com muita informação, embasamento teórico e análise detalhada e  numa proporção perfeita e exata de modo a tornar a leitura absolutamente agradável e sempre interessante (...) Leia mais...

Anarquia em Porto Alegre - Noite de autógrafos de Daniel Rodrigues - Pinacoteca Café



2013
Álbuns Fundamentais Especial de 5 anos do ClyBlog - O quinto ano do ClyBlog foi marcado por uma série de comemorações e publicações especiais. Uma delas foi a participação especialíssima do ex-Replicante, Carlos Gerbase, na seção ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, falando sobre o cultuado disco de estreia da banda "O Futuro é Vortex". Tinha alguém mais autorizado a falar sobre o assunto?

Os Replicantes - "O Futuro é Vortex" (1986)

A palavra “Vortex” já significou muitas coisas na minha vida. Meu primeiro encontro com ela foi em meados dos anos 70, numa máquina de fliperama, aquelas antigas, de bolinha, imortalizadas no musical “Tommy”.  Os desenhos da máquina eram futuristas, misturando sexo e violência em doses perfeitas para a adolescência.  Na minha interpretação, esses desenhos representavam um planeta distante, cheio de monstros e mulheres maravilhosas. Eu jogava e, mesmo perdendo as cinco bolas rapidamente, curtia o visual (...) Leia mais...






2014
Copa do Mundo Rock - Era ano de Copa e o ClyBlog resolveu fazer a sua Copa do Mundo também. Só que a nossa foi uma Copa do Mundo Rock. Isso mesmo! Música contra música para descobrirmos qual a melhor obra de determinado artista. Em 2014 três bandas tiveram suas competições, The Cure, uma das favoritas dos donos do blog, Legião Urbana, também uma das nossas queridinhas, e, nada mais nada menos que os maiores de todos, os Beatles. "Comentaristas", jurados convidados decidiam os confrontos que eram sorteados e avançavam de fase, afunilando até a grande final. Foram copas com definições diferentes: resultado incontestável, favorito ganhando, decisão apertada... Enfim, um grande barato essa experiência músico-futebolística na qual quem ganhou, mesmo, foi quem acompanhou.

Copa do Mundo Rock

Qual a melhor maneira de escolher a melhor música de uma banda?
No clyblog a gente escolhe no mata-mata.
Vai começar a Copa do Mundo Rock (...)







2015
Tributo a Bukowski - Uma das coisas legais de 2015 foi outro acontecimento literário. Fui selecionado, com um conto, para integrar a coletânea "Big Buka", homenagem a Charles Bukoswki, escritor pelo qual tenho grande admiração, o que tornou ainda mais especial minha inclusão na publicação.

“Big Buka: para Charles Bukowski”, organização: Afobório (Vários Autores) - ed. Os Dez Melhores (2015)

A proposta nasceu ousada: homenagear o norte-americano Charles Bukowski , escritor de forte influência a vários outros, de grande apelo com o público e dono de um estilo muito peculiar, que vai da crueza de mau gosto e a putaria à mais doce beleza sentimental. Um homem que, por detrás da obscenidade e da contundência, era extremamente profundo, poético e comprometido com suas verdades. Assim, a coletânea "Big Buka: para Charles Bukowski" (ed. Os Dez Melhores, 2015), da qual soube do projeto ano passado, encarou o desafio de reunir dez textos que remetessem ao universo de Bukowski tanto em temática quanto em estilo. Para que tal funcionasse, contudo, os contos deveriam ser muito bem selecionados, uma vez que o risco de não corresponder à altura do mestre tornava-se um erro fácil de cometer (...)




2016
Juntos no mesmo livro - Eu já havia sido selecionado para algumas coletâneas de contos, Daniel já tinha seu próprio livro solo, mas em 2016, pela primeira vez integraríamos uma mesma publicação. Por meio de uma seletiva da editora Multifoco, contos nossos vieram a ser escolhidos para a antologia "Conte Uma Canção, vol. 2", que tinha como proposta a ligação do conto com determinada música. Posteriormente, naquele mesmo ano, promovemos um pequeno sarau, na sede da editora, no Rio de Janeiro, onde lemos nossos contos para convidados.

“Conte uma Canção – vol. 2”, organização Frodo Oliveira e Marla Figueiredo (Vários autores) – Ed. Multifoco (2016)

O Clyblog tem o orgulho de anunciar que mais uma vez nós, os editores-chefes deste espaço, Daniel Rodrigues e eu, Cly Reis, temos contos selecionados para publicações coletivas (...) Leia mais...

Já está nos pontos de venda a antologia “Conte uma Canção – vol. 2”, pela editora Multifoco, da qual meu irmão e editor deste blog, Cly Reis, e eu, subedidor, fazemos parte com um conto cada um. O livro teve lançamento no último dia 30, durante a 24ª Bienal do Livro de São Paulo, no Anhembi (...) Leia mais...

A ocasião era oportuna: meses após o lançamento da antologia "Conte Uma Canção - vol.2", da editora Multifoco, na qual participamos meu irmão Cly Reis e eu cada um com um conto, estaríamos juntos no Rio de Janeiro, sede da editora. Então, por que não fazermos um encontro que abordasse isso? Foi o que aconteceu no dia 16 de dezembro. A partir de uma ideia de Leocádia Costa, que nos deu o privilégio de fazer as honras, realizamos um sarau de leitura de ambos os contos no bistrô da própria Multifoco, na Lapa (...) Leia mais...





2017
Museu Nacional -O destaque de 2017 fica por conta da nostalgia, da lástima, da saudade, da falta que faz... Naquele ano eu visitava mais uma vez o Museu Nacional, recentemente devorado pelas chamas do descaso em um trágico incêndio, e o fazia, na ocasião, para o ClyBlog trazia, na ocasião o registro de seu acervo, sua beleza e importância. 

Museu Nacional / UFRJ - Rio de Janeiro / RJ

(...) Desta vez visitamos o Museu Nacional do Rio de Janeiro, na Quinta da Boa Vista, prédio histórico que serviu à Família Imperial brasileira no séc. XIX, que esteve meio abandonado, meio largado mas que agora, embora não na plenitude de suas condições, apresenta boas condições de visitação e um acervo muito significativo e em bom estado. O Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, é voltado à pesquisa científica, histórica e antropológica possuindo um acervo valiosíssimo em todos os seus segmentos. Possui, por exemplo, significativos fósseis de procedências diversas; registros materiais humanos de datas remotas; artefatos e relíquias de civilizações de diversos sítios; múmias de altíssimo valor histórico em ótimo estado de conservação; grande variedade de amostras animais e geológicos; e itens impressionantes como é o caso do meteorito encontrado na Bahia em 1784 exposto orgulhosamente logo na entrada do circuito (...) Leia mais...



2018
ClyBlog 10 anos - O décimo ano do ClyBlog foi comemorado com entusiasmo e durante os 12 meses do ano tivemos atrações em todos nosso segmentos, com diversos e qualificadíssimos convidados especiais em todas as áreas, como, entre outros, o diretor de teatro Cleiton Echeveste falando sobre Andrei Tarkovski, o fotógrafo Wladimyr Ungaretti apresentando-nos suas imagens que estimulam a imaginação, o ex-DeFalla Castor Daudt relatando um fato curioso com um ex-integrante do Joy Division e o músico Lucio Brancatto, inovando e destacando cinco discos de uma vez só num Super-Álbuns Fundamentais. Isso é que é aniversário. Assim vale a pena ficar mais velho.

Especiais de 10 anos no ClyBlog

Não é toda hora que se comemora dez anos, não é? E tratando-se de uma marca tão especial,conforme já adiantamos, 2018 terá uma série de atrações e participações especiais em várias seções do nosso blog. Convidados contarão histórias e desfilarão poesia nas nossas COTIDIANAS; falarão sobre seus discos preferidos e marcantes nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS; sobre grandes obras da literatura no LIDO; clássicos da sétima arte no CLAQUETE; mostrarão sua visão do mundo pelas lentes de suas câmeras na seção CLICK; e suas criações no CLYART; enfim, todos os nossos espaços estarão abertos às valiosas contribuições de nossos talentosos amigos. Então, fiquem ligados porque a partir de fevereiro, a qualquer momento poderá pintar uma das publicações especiais de 10 anos do ClyBlog. Posso garantir que vem coisa muito legal por aí.



2019
"Meia-Noite: Contos da Escuridão" -E 2019 ainda está na metade e já temos coisa boa: assim como em 2016, a pareceria se repete e Daniel e eu integraremos juntos novamente uma antologia de contos. Fomos recentemente selecionados para a coletânea "Meia-Noite: Contos da Escuridão", do selo Fantastic da editora Autografia, e teremos uma história arrepiante de cada um na publicação que será lançada daqui a alguns dias, na Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Além do aniversário, mais um motivo para comemorar.
Abaixo, matéria publicada no site Literatura RS sobre nossa participação na publicação.


Irmãos integram coletânea de contos de editora carioca
Dois autores gaúchos, os irmãos Daniel Rodrigues e Clayton Reis, foram selecionados para integrar a coletânea de contos de terror Meia-Noite: Contos da Escuridão, publicada pelo selo Fantastic da editora carioca Autografia. Organizada pelo editor Frodo Oliveira, a obra contou com processo seletivo no qual concorreram autores de todo o Brasil. Dentre os contos selecionados, estão Clichês, de Reis, e O Monstro do Armário, de Rodrigues. O livro será lançado em sessão de autógrafos no dia 4 de setembro, às 13h30min, durante a Bienal do Livro do Rio de Janeiro, no estande da editora (Pavilhão Verde, R32). Na ocasião, ambos os autores estarão presentes. (...) Leia mais...



ClyBlog 11 anos
Obrigado a todos os seguidores, amigos,
colaboradores e parceiros
que participam, visitam ou nos acompanham
nestes 11 anos de existência.




Cly Reis

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

"Anarquia na Passarela" vencedor do Prêmio Açorianos 2013 - categoria Ensaio de Litaratura e Humanidades



E não é que no seu debut como escritor, meu irmão e parceiro de blog, Daniel Rodrigues já emplaca seu primeiro prêmio? Pois é. E muito merecido. Seu ótimo "Anarquia na Passarela"  foi agraciado com o prêmio mais importante das letras no Rio grande do Sul na Categoria Ensaio de Literatura. Sinceramente, não conhecia os outros concorrentes, mas pela qualidade do trabalho deste livro que mistura moda com filosofia com música com cultura pop, não me espanto nem um pouco com o resultado.
É isso aí, meu velho!
Parabéns, mais uma vez, e manda ver. Queremos ver outros como este em breve.
Tenho certeza que este prêmio é apenas o primeiro de muitos.
Que estreia, hein!


quinta-feira, 12 de julho de 2012

Lançamento do livro "Anarquia na Passarela" de Daniel Rodrigues



Acontecerá na próxima quinta-feira em Porto Alegre o lançamento do livro "Anarqui na Passarela" do meu irmão e colaborador deste blog, Daniel Rodrigues , muito aguardado por mim por mim, em especial, em primeiro lugar por ver uma realização pessoal de uma pessoa querida e muito também por já conhecer a essência do trabalho exposto no livro, uma vez que o assunto praticamente foi o tema de sua tese final para o curso de jornalismo.
Trata-se de mostrar o quanto o punk, mesmo com seu caráter negativo a tudo, destrutivo, anti-moda, anti-tendência, de comportamento anti-comportamental, acabou por ter enorme influência na maneira de vestir, agir, portar-se, criar, compor a partir de seu acontecimento no final dos anos 70, e demostrar toda a influência estética que acabou exercendo na sociedade desde então.
(estou certo, Dã?)
De minha parte, já estou inclusive de passagens compradas e estarei lá para prestigiar o lançamento.
O evento acontece no dia 19 de julho, no Pinacoteca Café, na Rua da República, 409, no Centro de Porto Alegre.
Parabéns pelo livro, Daniel.
Tomara que eu consiga um autógrafo.


Cly Reis

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

cotidianas #391 - Ildo e a Porto Alegre que está se indo



Ildo, o garçom mais querido da cidade.
Não sou um andarilho de Porto Alegre. Já fui, não sou mais. O perímetro limitador do círculo casa-trabalho ajuda a isso. Mas não SÓ por isso. Cada vez mais desinteressada consigo, minha cidade vem ficando cada vez mais desinteressante para os outros. Políticas públicas burras, mal pensadas, não planejadas, intransigentes e corruptas a acinzentam diariamente. É resultado visível o atraso econômico, social e cultural a cada meio-fio sem pintura, a cada negócio de anos que fecha as portas, a cada buraco que aniversaria, a cada reestreia de peça teatral igual há 30 anos, a cada mão de via pública invertida sem por que. Não que deixe de circular e ir a lugares, teatros, museus, parques, shows, restaurantes, bares, etc. Faço; entretanto, em virtude de alguma atração ou programação prévia. Ir pelo prazer de ir, deriva, raramente.

Essa “desidentidade” que a cidade Porto Alegre (ou seria uma “des-cidade”?) vem sofrendo de mais de uma década para cá (assim como o Estado gaúcho, haja vista esse atual governo, a institucionalização do escapismo) com certeza é o que vem me afastando dela mesma. Adoro suas ruas, sua luminosidade subtropical, seu céu de azul paralelo 30, a beleza inequívoca de suas gentes, sua infinita e mal aproveitada capacidade intelectual. No entanto, de lugares, pontos-chave da urbanidade porto-alegrense, aqueles que são sinônimos e se confundem com a urbe, poucos se salvaram da despersonalização. Poucos, cabem nos dedos, mas existem. E a Lancheria do Parque é um deles, graças a Deus.

Por essas coisas que talvez somente Ele possa explicar (se quiseres, estou aqui de ouvidos atentos, combinado?), estávamos livres Leocádia, Carolina e eu antes do show de Caetano Veloso e Gilberto Gil, no Araújo Vianna, quase ali de fronte para a Lancheria. A conclusão foi óbvia: paramos antes na “Lanchéra” e depois “s’imbora pro show!”. Além do mais, fazia anos que cada um de nós não voltava lá. Desavisados de que um fato importante ocorreria dali a horas (menos de 48), sentamos no aperto das mesas e pedimos a um dos garçons mais novos xis e um balde de suco a preço de um copo cada um, como todo bom frequentador dali faz.
A emblemática Lancheria, de tão homogeneizada com o Bom Fim, com as imediações da Redenção, com a cidade de uma forma geral, parece existir ali desde que éramos ainda a Porto dos Casais (Não é essa a impressão que lhes dá também?). QG dos alternativos, cozinha dos moradores do bairro, ponto de encontro e turístico. Circulam ali jovens, velhos, crianças, hippies, punks, rajneeshes e até gente normal. E todo mundo convive todos os dias, como se o exótico não fosse exótico aos normais e como se os normais não fossem normais aos exóticos. Ou vice-versa. Essa naturalidade é tão mais democrática e simbólica do que qualquer protocultura de CTG nativista, muitas vezes segregadora e sexista. Uma Porto Alegre que tenta dar certo.

Histórias dali? Eu, como qualquer jovem porto-alegrense e roqueiro, tenho. Lembro de uma vez que, ainda redigindo meu livro "Anarquia na Passarela", estava com a bíblia punk “Mate-me, por Favor” a tiracolo para pesquisa. Lá pelas tantas, na mesa com alguns amigos meus, um frequentador, um cara vestido de forma simples mas com uma expressão nada simples – perturbada, pra ficar por aqui – vidrou no meu livro e veio até mim pedir-me emprestado enquanto eu permanecesse ali – e fez isso com toda a educação que podia, registre-se, até porque era evidente que queria MUITO ler o que desse e não podia correr o risco de receber de mim uma negativa. Claro que disponibilizei (não sou louco de negar pra um maluco daqueles!). Enquanto conversava com meus amigos, de vez em quando percebia o “colega” parar a leitura e virar devagarzinho não só para mim, mas para todos no bar, como numa panorâmica de filme de terror que antecede uma cena horripilante. Os olhos vidrados e um sorriso entre o sarcástico e o psicótico na boca. De arrepiar! Ficava imaginando e comentando na mesa: “que parte ele deve estar lendo pra ter essa reação?” Na hora de ir embora, mesmo com certo receio de pedir o volume de volta, tomei coragem e, em troca, fui até abraçado por ele num esfuziante agradecimento.

Coisas de Lancheria do Parque.

Pois uma dessas coisas peculiares ocorreu não naquela ida que nós três fizemos antes do show, mas logo depois. Espetáculo assistido, corações ainda pulsando, demos passos desnorteados pela Osvaldo Aranha em direção ao HPS pela quadra da esquerda. Ao passarmos pela Lancheria, brinquei:

- Vamos, então, na Lancheria? – num tom de como não tivéssemos feito isso a menos de quatro horas.

Já passos adiante da porta de entrada, Leocádia e Carolina param e respondem:

- Ué, por que não?

Voltamos. Para encerrar a noite com um derradeiro café e acalmar os ânimos daquele momento glorioso do qual vínhamos. Entramos no mesmo fuzuê de sempre: muita gente na porta, muita gente na frente do caixa, muita gente nos corredores estreitos, todo o tipo de gente sentada tomando uma ceva, comendo um lanche, mandando ver num suco. Nós queríamos um simples café. Já nos bastava.

Naquela mesa lá do fundo, aquela encostada na escadinha que dá para a cozinha (a mesma em que vi Nei Lisboa certa vez, sozinho e de porre), sentamos e enxergamos no cardápio a palavra que queríamos encontrar: “Café”. Estava completo nosso fechamento da noite. Até estranhamos nós, que não voltávamos lá fazia anos, estarmos ali pela segunda vez no mesmo dia... Quem veio nos atender? Não o mesmo garçom de horas atrás, mas o Ildo. Ele, que seria dali a menos de 48 horas o tal fato importante ao qual me referi. Pedi-lhe três cafés e ele, na sua simpatia de sempre, desculpou-se:

- Puxa, meu amigo, vou ficar te devendo. A essa hora a gente não serve mais café.
Entreolhamo-nos e, antes de nos esboçarmos frustração, Ildo largou uma joia:

- Café a essa hora só na Rodoviária!

Sim: em Porto Alegre, cujos atrasos e intransigências não preciso repetir, café àquelas alturas só mesmo na deslocada Rodoviária. Não falo de uma desértica madrugada de domingo, mas de um horário antes da meia-noite de uma agitada sexta-feira. Contudo, não ficamos chateados com o Ildo, afinal, a própria Lancheria fecharia dali a 15 minutos. De resto, é mais uma nesse poço que a cidade e seu comércio, por consequência, se meteu. Nem um local de circulação garantida 24 horas por dia com ali resiste ao empobrecimento social, econômico e cultural dos melancólicos dias atuais da metrópole gaúcha. Segurança? Hábito? Invalidade da demanda? Não sei; só sei que saímos com mais uma desgostosa confirmação da cidade onde vivemos.

Afora isso, Ildo, simpático e espirituoso, nos deu ao menos uma sensação de acolhimento, mesmo sem os cafés. Tentei argumentar, em vão, e foi então que ele completou com algo que me marcou. Simbólico por demais o diálogo:

- É que a gente teve aqui mais cedo, e agora só voltamos pra tomar um cafezinho – disse eu, ao que ele me responde:

- Eu sei que vocês tiveram aqui. Eu conheço todo mundo.

Tinha essa sensação de acolhimento na infância no antigo Naval, no Mercado Público, sobre o qual já falei noutra crônica. Paulo Naval e Mauro, os eternos garçons de lá, nos recebiam, desde guris, com esse mesmo espírito atencioso, honesto e alegre, invariavelmente com brincadeiras comigo ou com meu pai, com quem ia sempre. Era nítida a percepção de que eles, igualmente a Ildo, conheciam “todo mundo” que passava por ali. Embora de épocas diferentes em minha vida, ambos os estabelecimentos carregam o mesmo clima de um lugar que você entra e se sente bem. Digo sempre que a Lancheria, especificamente, é tão legal que não tem nada de especial: não há um prato campeão de concurso gastronômico, uma bebida conhecida da casa, nada suficientemente marcante de sua cozinha ou geladeiras que justifique tamanha fama. O legal da Lancheria é a Lancheria. E ponto. A atmosfera; o movimento; a luz branca forte; a permanente fila do banheiro feminino; a comida indigesta que passa o dia inteiro próximo à porta que dá pra avenida; a visão da Redença quando se está dentro.

E pessoas como o Ildo, ele, símbolo desse ambiente, desse universo. Ildo estava, sim, sempre de olho em tudo e sabia quem entrava e quem saía, por anos a fio, dia a dia. Até que resolveu dignamente recolher de vez o guarda-pó, o boné e o paninho úmido no armário.

Ildo está indo embora.

Soube pela Carolina, no dia seguinte, que Ildo se despediria da Lancheria, dos fregueses e amigos no último dia 30 de agosto. Estava explicada nossa misteriosa segunda ida na noite anterior. Uma comoção bonita na cidade a fez ganhar quase esquecidas cores de beleza e sinceridade, abafando um pouco o cinzento cotidiano. Ildo recebeu centenas de pessoas, que foram se despedir dele num domingo de sol quente em temperatura e afetividade. Mal trabalhou: ficou ali tirando fotos e selfies, dando entrevistas, brindando com a cerveja que era acostumado a servir. Recebendo o destaque que alguém como ele raramente recebe. E que bom que numa época como a de hoje alguém com ele receba. Vendo a mobilização, uma amiga postou no face algo como: “às vezes, ainda creio na humanidade”.

Não fui à despedida oficial do Ildo. Nosso último encontro dentro da Lancheria valeu como uma. Informal, como ele sempre agiu com todos que atendia. Afinal, não acredito (e é aí que Tu entras, viu, Deus?) que aquele improvável e até mal explicado retorno nosso à Lancheria, quase à meia-noite, como que empurrados para retroceder os passos que já dávamos adiante, tenha sido uma coincidência. Foi algum toque dos deuses do Bom Fim (Scliar, Nêga Lu, RöhneltNico, Hartlieb), das forças míticas oswaldeiras que nos puseram lá de novo para sermos atendidos pela derradeira vez por Ildo. Justo por ele entre tantos garçons. Definitivamente, não era o café que nos aguardava. Era ele, para um último aperto de mão engendrado pelo destino.

Embora sutil e desavisada, foi uma despedida como a que não pude ter com Paulo e Mauro do Naval: quando voltei lá, uma nave espacial clean e carioquesada havia aterrissado sobre o verdadeiro boteco. Mas a Lancheria do Parque permanece lá, orgânica e resistente. Mesmo sem o querido Ildo. Diferente de lugares como o próprio Naval, irremediavelmente solapados pela nossa “desidentidade/des-cidade”. Não sou um andarilho de Porto Alegre; já fui, como disse. Mas bem que vale a pena às vezes circular, mesmo numa cidade que está se indo a olhos vistos. E pior: sem a integridade com que Ildo o fez.





sexta-feira, 27 de setembro de 2024

"Dublinenses", de James Joyce - ed. L&PM - coleção L&PM Pocket (2012)


 
"Ao meu ver, sempre escrevo sobre Dublin, porque se eu puder chegar ao coração de Dublin, posso chegar ao coração de todas as cidades do mundo. No particular está contido o universal". 
James Joyce

Um dos escritores da influente escola russa, Liév Tolstoi, disse certa vez a famosa frase: "Se queres ser universal, começa por pintar tua aldeia". James Joyce, cuja primeira obra em prosa completa 110 anos de lançamento, a coletânea de contos “Dublinenses”, internalizou este pensamento. Reconhecido como um dos principais autores do século XX, o irlandês marcaria a história da literatura com os romances de vanguarda “Ulysses” (1922) e “Finnegan’s Wake” (1939). Porém, direta ou indiretamente, física ou emocionalmente, mesmo morando em Trieste e Paris na maior parte da vida, nunca sairia de sua Dublin a qual passara a infância e breves temporadas.

O nome da obra por si já faz deduzir. Composto por 15 contos, “Dublinenses” carrega em si o espírito de uma cidade no conjunto de seus cidadãos. As personagens que povoam essa Dublin são quase sempre marginalizadas e frívolas, marcadas pela frustração e pela impotência. Jesuítas, mendigos, alcoólatras e artistas, que povoam velórios, pensões, cafés e comitês de província, declarando seus preconceitos de classe e revelando seus dramas pessoais.

Considerada a obra mais acessível de Joyce, “Dublinenses” nem por isso é menor em relação a sucessoras, visto que, se não pela escrita densa e experimental de “Ulysses” e “Finnegan’s Wake”, traz uma revolução na literatura realista do início do século XX. Quando Joyce lança o livro, o primeiro tiro da Primeira Guerra Mundial havia sido dado fazia apenas um mês e duraria terríveis quatro anos, atingindo tanto sua Irlanda (Batalha de Easter Rising, 1916) quanto a França onde morava. Os ventos de desesperança e crueldade do maior conflito bélico da história da humanidade até então transparecem nas linhas de cada um dos contos de uma forma muito profunda o original. Daí a capacidade de inovação narrativa e estilística de Joyce.

A experiência narrativa de Joyce adensa-se na direção da consciência de suas personagens, incluindo, misturando e confundindo os diversos gêneros do discurso e pontos de vista. As angústias, os pensamentos e as impressões subjetivas parecem se deslocar do tempo da narrativa para, a favor do leitor, exprimir o interior das personagens. “Os Mortos”, obra-prima contista joyceana e um dos maiores da literatura universal nesse estilo, é primoroso nessa conjunção de real e imaginário. A partir de uma cena burguesa, em que o personagem Gabriel Conroy vai a uma festa na casa das tias solteironas e descobre fatos novos sobre a vida afetiva pregressa da esposa, toda uma análise psicológica e social é tecida. O conto, o mais longo do livro e responsável por desfecha-lo, trata de amor, perda, morte e separação a partir de uma “aceitação lírica e melancólica de tudo o que a vida e a morte oferecem”, comentou o crítico literário Richard Ellmann. Embora nenhum dos 15 contos se refira à Grande Guerra, a morte está ali, insinuada e pulsante.  

Entretanto, a própria construção narrativa da obra como um todo, no que se refere à ordem de seus textos, é igualmente inovadora. Embora composta por histórias curtas, seu conceito como obra é pensado num âmbito maior e fluido, que dá, assim como “Um Médico Rural” de Franz Kafka, um caráter quase romanesco. A sequência dos contos faz com que se dialoguem. “As Irmãs”, que abre “Dublinenses”, evoca o fantástico e o fantasmagórico quando a personagem Eliza, envolta em memórias, sente estranhamente a presença do velho padre O’Rouerke morto. Mesma sensação presente da vida além da morte que o conto final, “Os Mortos”, desenvolve com maestria (“A alma dele havia se aproximado daquela região habitada pelas infindáveis hostes da morte”). Igualmente, o sentimento de desacomodação para com a cidade das crianças de “Um Encontro”, igual ao da jovem “Eveline”, prestes a casar e mudar de cidade aos olhos críticos dos vizinhos.

A aparente desconexão dos títulos-temas com as histórias, a onipresença do catolicismo e a decadência econômico-social de Dublin estão também permanentemente expressas através de seus personagens se não banais, desprovidos de qualquer epicismo. Interessante notar esta visão de Joyce: a absoluta dessacralização dos valores. Até mesmo quando, anos depois, em “Ulysses”, que se centra num personagem homérico, paralelizando o guerreiro Ulisses a seu simplório Leopold Boom, há crítica à condição de heroísmo. Em “Dublinenses”, “história moral da Irlanda”, como o próprio autor descreve, mais ainda. Os protagonistas são como a inocente solteirona Maria de “Terra” ou o artista frustrado Pequeno Chandler de “Uma Pequena Nuvem”: desprovidos de grandes atos. Apenas, são. Vivem o dia a dia difícil e invariavelmente desafiador da existência terrena.

Este pensamento de Joyce esvaziado de grandiosidade aventuresca é também bastante moderno. Na sua absoluta quebra da construção narrativa clássica, os momentos de ápice da tragédia e até mesmo da comédia gregas são propositalmente frustrados. No fundo, Joyce diz que as mudanças as quais se espera na ficção não se dão, assim, tão facilmente na vida real (isso quando não se retrocede). A expectativa para com a alma humana, assim, é um erro do caráter. O cinema foi uma das artes que mais soube aproveitar dessa ideologia de transgressão da catarse, haja visto filmes de cineastas como Michelangelo Antonioniirmãos Cohen.

Por fim, outro aspecto moderno da obra de Joyce é sua visão da sociedade. Oposto ao nacionalismo bairrista, ele tem, sim, amor por sua terra, mas nem por isso se exime de criticá-la. Critica-a, aliás, por amá-la: para vê-la suplantar seus valores ultrapassados e desumanizadores. Uma forma de ver mais do que poética, pois até mesmo cívica e que hoje pauta a agenda das correntes socialdemocratas pelo mundo. 

Para alguém como eu, um contista que editou seu primeiro livro, “Anarquia na Passarela”, por uma editora chamada justamente de Dublinense, esta obra de Joyce é uma constante referência. Considerando a ainda forte marca das Grandes Guerras no século XXI, as mazelas sociais, a perversidade humana e as batalhas travadas nas trincheiras do cotidiano para (sobre)viver, seja em Dublin ou em qualquer metrópole do mundo, 110 anos não são nada de tempo para as “Dublinenses”. Temos muito ainda a assimilar de suas páginas.


Daniel Rodrigues