Curta no Facebook

Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta bruno ganz. Ordenar por data Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta bruno ganz. Ordenar por data Mostrar todas as postagens

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Coluna dEle #52 - Os dez filmes favoritos dEle



Vi que geral tá fazendo essas listinhas de filmes preferidos na rede social aí de vocês  e, como é semana de Oscar, resolvi fazer a minha também. Afinal de contas, Eu também  sou filho de..., digo, Eu sou o Pai do..., Eu sou o... Ah, vocês  entenderam.
Pessoal diz que é só pra postar uma imagem, sem comentar, mas Eu vou comentar, sim, porque Eu que mando nessa bagaça e Eu faço o que Eu bem quiser!
Sendo assim, então, sem maiores enrolações, aí vai a lista dos filmes favoritos dEle (Eu, no caso):



Eu negão é uma honra!
1. "O Todo Poderoso", de Tom Shadyac (2003)
Ah, podem falar o que quiserem mas Eu não podia deixar de falar desse! Eu negão tô demais!!! Ainda mais interpretado pelo Morgan Freeman. Isso sem falar no Jim Carrey que Eu curto pra caramba também. Eu vejo esse filme é fico imaginando o estrago que vocês  fariam se estivessem no Meu lugar. Eu Me livre!





"It's alive! It's alive!"
2. "Frankenstein", de James Whale (1931)
E por falar em vocês querendo se meter nas Minha, no meio de tantos filmes desses do homem querendo brincar de Eu, o "Frankenstein", o antigo, o clássico, não podia ficar fora da Minha lista. É a parada de neguinho querendo ser criador e não somente criatura, saca? Essa sensação de criar uma vida Eu conheço bem. Lembro de quando criei o Adão, a minha reação foi exatamente a mesma do cientista no filme: "Está vivo! Está vivo!".





Ó Eu, aquele foguinho ali,
gravando as leis nas tábuas sagradas.
3. "Os Dez Mandamentos", de Cecil B. de Mille (1956)
Falando em Adão, adoro esses filmes antigos adaptados do Meu livro sagrado tipo "Ben-Hur", "O Manto Sagrado", "Sansão e Dalila" e tal. Mas o Meu preferido mesmo é "Os Dez Mandamentos", que tem o Charlton Heston de Moisés e Eu contracenando com ele como um foguinho escrevendo as dez leis, aquelas que vocês nunca seguem, nas tábuas sagradas.





"Sai, tentação."
4. "A Última Tentação de Cristo", de Martin Scorsese (1988)
Esse é com o Filhão. Outro "bíblico" mas esse já de outra turma. É dos provocativos, dos contestadores. Gosto disso! Não fiz vocês pra serem tudo uns cordeirinhos. Gostei da hipótese do JC ter tido uma vida sem ter que carregar a cruz de ser Meu filho. Scorsese matando a pau!





Estás linda, Maria!
5. "Je Vous Salue, Marie", de Jean-Luc Godard
Outro dos controversos que Eu gosto de montão. E esse é mais sobre a Patroa. Adorei a leitura que o Godard deu pra história do nascimento do JC. Gosto desses caras que tem colhão de mexer com o que é... sagrado. Ah, e adorei aquele anjo Gabriel, todo grosseirão, e que dá umas biabas no tal de José que quer bulir com a Minha mulher.






Bruno agora, sim, virou um anjo.
6. "Asas do Desejo", de Wim Wenders (1997)
Por falar em anjo, um filme que Eu sou apaixonado e que mostra um pouco como é essa coisa de vida de guardião de vocês, é o "Asas do Desejo" do Wenders. Comentei isso, inclusive, com o Bruno, o Bruno Ganz, que acabou de chegar por aqui. E o pior é que a coisa é bem assim, mesmo: Eu mando os Meus funcionários de asas aí pra tomar conta de vocês, ficar na retaguarda e tal e, de vez em quando, um que outro pede pra ser um de vocês e ficar por aí mesmo. Não sei qual a vantagem que eles vêem nisso, mas...






É pra isso que Eu pago
Meus funcionários?
7. "O Sétimo Selo", de Ingmar Bergman (1957)
Sabe que aqui em cima Eu tenho um monte de tipo de gente trabalhando pra Mim e, outro tipo de empregado, que não deixa de ser um anjo, é a tal da Morte. Nesse filme, que pra Mim é obra-prima, esse Meu funcionário tem que ir lá buscar um cavaleiro das Cruzadas que já tá com o nome escrito no Meu livro final, mas o carinha fica enrolando, enrolando esse Meu servidor jogando uma partida de xadrez. Ora, vejam! Foi bom ver pra saber como é que Meu pessoal fica embaçando na hora do trabalho pra chegar o fim do expediente.





"Estamos a serviço do Senhor."
8. "Os Irmãos Cara-de-Pau", de John Landis (1980)
Esses não são Meus empregados mas, como eles dizem no filme, "Estamos a serviço do Senhor". Missão divina, muita perseguição de carro, muita risada e muito som... Baita filme! Já vi zilhões de vezes e não canso. Sem falar naquele pessoal todo que aparece lá: Aretha, Hooker, Ray, o Mr. Dynamite... Já tá todo mundo aqui em cima e de vez em quando rola umas jams por aqui. Comandadas pelo Belushi, é claro. O Jake Blues.





9. "Monthy Python em Busca do Cálice Sagrado", de Terry Gillan e Terry Jones (1975)
Ó Eu, de novo,
agora em animação.
Adoro esses caras! Me mijo de rir com eles! Podia falar aqui do "A Vida de Brian" em que eles zoam direto com o Meu Filhão, mas vou destacar mesmo o "Em Busca do Cálice Sagrado" que, pra Mim, é o melhor deles. O galope de cocos, Os Cavaleiros que dizem Ni, a gruta dos coelhos assassinos, as freiras sedentas por sexo, as andorinhas europeias ou africanas... Meu Eu! Aquilo é impagável! E pra melhorar, nesse Eu faço uma pontinha. Apareço designando a missão pro Rei Arthur e seus Cavaleiros.





O que diabos significa esse monolito?
10. "2001 - Uma Odisseia no Espaço", de Stanley Kubrick (1968)
Esses dias, conversando com o Stanley, por aqui pelos corredores, ele Me disse, "O conceito de Deus está no centro de 2001". Eu não sei se, na verdade, com o filme dele, ele mais me explica ou me complica. Seria Eu o monolito? Estaria confirmando Minha onipresença? Estaria negando minha existência? Só um primata endeusaria um sólido cravado no chão? Seria uma ridicularização da religião? Seria uma exaltação à ciência? Uma contestação da evolução? Uma minimização da Minha importância? Perguntei pra ele o que ele queria dizer com tudo aquilo e ele me disse que a ideia era provocar a interpretação de cada espectador. Ai, Kubrick, assim tu confunde minha cabeça! É demais pra minha capacidade. Mas que é um baita filme, é! Stanley, tu é gênio.


E aí, o que acharam da minha lista?
Qualquer coisa, tipo, críticas, correções, pitacos na lista, indicações de filmes, ingressos cortesia, súplicas, pedidos, orações pro seu filme favorito levar o Oscar...
enviar e-mail para: god@voxdei.gov

Fui, filharada!
Fiquem Comigo e que Eu os acompanhe!

Ele

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

"Você Nunca Esteve Realmente Aqui", de Lynne Ramsay (2017), e "A Festa", de Sally Potter (2017)


Depois do almoço de Dia dos Pais, eu e Andrea encaramos dois filmes dirigidos por mulheres lá no Itaú Cinemas, em Porto Alegre: "Você Nunca Esteve Realmente Aqui" da diretora escocesa Lynne Ramsay, e "A Festa", da inglesa Sally Potter. O interessante é que, mesmo sendo dirigidos por mulheres, os filmes são absolutamente diferentes entre si. O primeiro conta a história de Joe, um veterano de guerra com tendências suicidas, interpretado por Joaquin Phoenix, que sustenta a si e à sua mãe como assassino de aluguel que também resgata meninas fugitivas ou sequestradas. Seu mais recente trabalho é trazer a filha de um senador de volta pra casa. Com um roteiro da diretora e de Jonathan Ames, o escritor do livro no qual o filme foi baseado, "Você Nunca Esteve...", avança e recua nos flashbacks para nos dar pequenos vislumbres da vida de Joe, que vão montando o quebra-cabeça de sua existência e de suas motivações.

A cineasta faz um filme extremamente violento sem explicitar. A própria figura de Phoenix, gordo, barbudo e seboso, contribui para a construção do personagem. Realizado basicamente em cima das expressões e olhares dos personagens, o filme tem pouquíssimos diálogos, todos eles essenciais na resolução da trama. Mas o espelho da alma de Joe é o rosto de Joaquin Phoenix, um ator realmente espetacular. A música de Jonny Greenwood, do grupo Radiohead, é fundamental na criação dos climas mostrados na tela. Responsável pelo excelente "Precisamos Falar Sobre o Kevin", Lynne Ramsay faz um filme surpreendente, onde a violência cotidiana está presente antes de acontecer e depois do fato consumado, nunca durante. Tudo isso contado em menos de uma hora e meia de projeção. Muitos diretores deveriam ver este filme antes de fazer seus "épicos" de 3 horas de duração.

trailer de "Você Nunca Esteve Realmente Aqui" 



**************


O segundo filme que vimos foi "A Festa", da diretora inglesa Sally Potter, de "Orlando, A Mulher Imortal" e "Uma Lição de Tango". Com uma cinematografia totalmente oposta à película de Lynne Ramsay, Potter apostou na estética do "teatro filmado", usando e abusando da qualidade de seu elenco estelar: Kristin Scott Thomas, Patricia Clarkson, Bruno Ganz, Cillian Murphy, Timothy Spall (irreconhecível), Emily Mortimer e Cherry Jones. O básico da trama é um jantar de comemoração à indicação de Janet (Scott Thomas) ao Ministério da Saúde. Os convidados são o casal de amigos, April (Clarkson) e Gottfried (Ganz), ela uma cética e ele um pós-hippie que acredita em terapias alternativas; o casal formado pela professora Martha (Jones) e sua partner Jinny (Mortimer), o enigmático e descontrolado Tom (Murphy) mais o marido de Janet e também professor (Spall), que vai revelar um segredo durante o encontro.

Filmado em p&b, "A Festa" se justifica nesta escolha pelo peso que Potter dá às palavras, aos diálogos e às atitudes de seus personagens. É como se filmar em cores distraísse os espectadores do que está sendo dito. Com um ensemble deste calibre, "A Festa" faz uso de cenas com dois e três personagens por vez, sendo que uma única ocasião os protagonistas estão todos juntos na mesma sala. Com uma duração de 71 minutos, Potter coloca questões interessantes na boca de seus atores: a situação política da Inglaterra; o homossexualismo feminino e a necessidade da formação de uma família; o adultério; o contraponto entre medicina tradicional e alternativa; a ganância, as drogas, o sucesso imperativo e o avanço da tecnologia na vida das pessoas.

Interessante é que a música do filme é toda retirada de discos que o personagem de Timothy Spall vai alternando em seu toca-discos de vinil, demonstrando seu gosto eclético (o roqueiro Bo Diddley, os jazzistas Sidney Bechet e Albert Ayler, os cubanos Rubén Gonzalez e Ibrahim Ferrer; o reggaeiro Ernest Ranglin, o fadista Carlos Paredes e os clássicos Henry Purcell e Grigoras Dinicu). Com diálogos deliciosos e irônicos, "A Festa" nos reserva uma surpresa final hilariante e que define a existência de todas aquelas figuras.

trailer de "A Festa"


por Paulo Moreira


quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Meus 50 atores e Christhopher Walken



Christopeher Walken na marcante cena
da roleta russa em "O Franco Atirador"
Ainda hoje tenho certeza que foi o Christopher Walken que matou a atriz Natalie Wood em 1981. Na fatídica noite, estavam ela, seu marido, o ator Robert Wagner, e Walken, todos bebendo muito a bordo de um iate. Após uma discussão entre os dois "amigos", a atriz sumiu e só foi encontrada horas depois, morta afogada. Naquele ano o caso foi encerrado e a causa da morte foi diagnosticada como afogamento. Em 2011, os arquivos foram reabertos e com novas evidências, hematomas no corpo da atriz levaram a investigação para outros rumos que poderiam apontar um assassinato. Acusações à parte, o certo é que Walken sempre me assustou. Aquela sua cara de “American Psycho” poderia muito bem ter dito a Wagner; "Se você me dedurar, será o próximo, te acharei no inferno". Eu entenderia o aviso rapidinho.

Quatro anos antes ele ganhava o Oscar de melhor ator coadjuvante por "O Franco Atirador", do Michael Cimino, um filme totalmente ambientado em diversos contrapontos que vão da loucura, drogas, sexo etc. Pra ter uma noção do clima do filme, nas cenas de roleta russa, os atores Robert De Niro, Walken e John Cazale chegaram a usar balas de verdade para das mais veracidade. Cazale, que já estava com seus dias contados por um câncer terminal, dizia que nada tinha a perder. Na minha lista de 50 atores em grandes atuações, Walken está presente como um símbolo de visceralidade, loucura e medo em termos de atuação. O ator já fez mais de 100 filmes, clipes e peças. Na vida real, ele consegue ser um dos únicos seres na terra o qual eu temeria mesmo. Tenho um certo “amor e ódio” por sua figura. Mas desejo longa vida ao mr. Walken, e que não saia impune de seu(s) crime(es), se é que foi ele.

Abaixo, senhores, minha lista de melhores atores em suas grandes atuações. Completei com atores das listas que amigos compartilharam comigo e fiz uma única:



Marlon Brando - O Poderoso Chefão


- Robert De Niro - Touro Indomável
- Al Pacino - Scarface
- Malcom McDowell - Laranja Mecânica
- Dustin Hoffman - Midnight Cowboy
- Henry Fonda - Era uma Vez no Oeste
- Sean Connery - Os Intocáveis
- Jack Nicholson - O Iluminado
- Paul Newman - Butch Cassidy
- Robert Redford - Todos os Homens do Presidente
- Robert Duvall - Apocalypse Now
- Anthony Hopkins - Silêncio dos Inocentes
- Joe Pesci - Os Bons Companheiros
- Tom Berenger - Platoon
- Val Kilmer - The Doors
- River Phoenix - Conta Comigo
- Bruno Ganz - A Queda
- Jean Reno - O Profissional
- Cristian Bale – Psicopata Americano
- Gael Garcia Bernal - Amores Perros
- Heath Ledger – Batman - O Cavaleiro das Trevas
- Cristhoph Waltz - Bastardos Inglórios
- Wagner Moura - Tropa de Elite
- Ian McKellen - O Senhor dos Anéis
- Daniel Day-Lewis - Sangue Negro


- Kevin Costner - Dança com os Lobos
- Charlton Heston - Ben-Hur
- Leonardo DiCaprio – O Lobo de Wall Street
- Rutger Hauer - Blade Runner
- Javier Bardem - Onde os Fracos não Tem Vez
- Eli Wallach - O Bom, o Mau e o Feio
- Harrison Ford - Indiana Jones, Caçadores da Arca Perdida
- Russel Crowe - Gladiador
- Charlie Sheen - Platonn
- Ricardo Darin - O Segredo dos Seus Olhos
- Woody Harrelson - O Povo Contra Larry Flint
- Emile Hirsch - Na Natureza Selvagem
- Roberto Benigni - O Monstro
- Willian Holden - Meu Ódio será Sua Herança
- Morgan Freeman - Um Sonho de Liberdade
- John Cazale - O Poderoso Chefão II
- Warren Oates - Traga-me a Cabeça de Alfredo Garcia
- Matheus Nachtergaele – O auto da Compadecida
- César Troncoso – O Banheiro do Papa
- Juan Villegas - El Perro
- Mel Gibson - Gallipoli
- Michael Fassbender - 12 Anos de Escravidão
- Matthew McConaughey - Clube de Compras Dallas
- Sean Penn - O Pagamento Final
- Christopher Walken - O Franco Atirador





com a colaboração de:
Carlos França, Josi Rizzari, Daniel Cóssio Porto,
Daniel Russell Ribas, Fernando De Souza Médici,
Daniel RodriguesRicardo Lacerda e José Francisco Botelho.


segunda-feira, 17 de maio de 2021

“Nosferatu: Uma Sinfonia do Horror”, de F. W. Murnau (1922) vs. “Nosferatu: O Vampiro da Noite”, de Werner Herzog (1979)

 

Seja no futebol ou no cinema, têm enfrentamentos que se pode dizer que metem medo. Colocar frente a frente os dois “Nosferatu”, as adaptações mais conhecidas do romance de horror “Drácula”, do escritor britânico Bram Stocker, é um desses que dá aquele frio na espinha mesmo antes de a partida começar. Qual time é mais “mordedor”? Qual deles “ataca” mais? Qual saberá se valer melhor do “elemento surpresa”? Qual escola conseguirá superar a outra? Indagações que os comentaristas se fazem, mas que ninguém sabe ao certo as respostas até o certame ser definido ali, dentro das quatro linhas, olho no olho, dente por dente.

 Os retrospectos das duas equipes são de amedrontar qualquer adversário. São duas forças do futebol alemão, inegavelmente. De um lado, aquela que é considerada a obra-prima do Expressionismo Alemão: “Nosferatu: Uma Sinfonia do Horror”, de F. W. Murnau, de 1922. Produto do período Entre-Guerras, é um ícone máximo de uma escola de cinema, incorpora uma série de inovações, tanto técnicas (como o uso do contraste negativo, a expressividade do jogo de luz e sombra, a cenografia distorcida, a maquiagem carregada) quanto narrativas, tornando-se referência para todo e qualquer filme de terror até os tempos atuais. Do outro, “Nosferatu: O Vampiro da Noite”, de Werner Herzog, de 1979, a versão muito bem elaborada pela leitura de outra referencial escola cinematográfica, mas esta do pós-Guerra, o Novo Cinema Alemão, do qual o cineasta, um dos grandes expoentes, tinha como parceiros de movimento nomes como Win Wenders, Margarethe Von Trotta, Volker Schlöndorff e Rainer Werner Fassbinder.

Mas por que se lê “Nosferatu” e não “Drácula” nos uniformes? Porque, na década de 20, oito anos após a morte de Bram Stocker, a família do escritor não queria ceder os direitos para a obra ser filmada. Além da mudança do título, o vampiro titular se tornou o Conde Orlock na a primeira versão. Jonathan Harker foi rebatizado para Thomas Hutter, Lucy Harker tornou-se Ellen Hutter e Abraham Van Helsing virou Professor Bulwer. Nos anos 70, com esse impasse superado, Herzog consegue utilizar os nomes originais, mas mantém o roteiro (e o título) do filme mudo. Ambos, porém, são baseados na trama do livro “Drácula”: um homem faz uma viagem de negócios para um fantasmagórico castelo, onde o vampiro quer seduzir sua noiva. Em ambos há também o acréscimo de alguns elementos para mudar um pouco a obra original e, claro, disfarçar a inspiração, como a ideia de que a luz do sol mata os vampiros.

Schreck e Kinski: vampiros de atuações matadoras
Mas chega de pré-jornada. Vamos, de fato, à jornada em si, aquela que vai da pacata Wisborg rumo à assustadora mansão nos Montes Cárpatos. Depois daquele papo motivacional nos vestiários (“quero ver todo mundo dar sangue hoje!”, “vâmo entrar mordendo!”, “se passar por ti, gadunha!”, etc.), é hora de enfrentar aquele friozinho na barriga e entrar em cena de vez. A bola (fita) vai rolar! Poucos minutos decorrem e já se percebe que o jogo vai ser, como diz na linguagem do futebol, “pegado”. Esquemas espelhados em campo: marcação no cangote do adversário, mas sem perder a qualidade quando vão pra frente. O filme de Murnau começa fazendo o contraste necessário da proposta expressionista: cenário bucólico e iluminado ao mostrar a vida de Hutter antes de chegar à Transilvânia, local onde a atmosfera, agora sombria, sem profundidade e claustrofóbica, se transforma em algo sinistro, gótico. Já Herzog prefere adicionar ao expressionismo o qual homenageia aspectos barrocos do período medieval em que a trama transcorre, seja na fotografia e direção de arte quanto no aspecto cênico, retirando um pouco da carga romântica típica do expressionismo (os arroubos emocionais, as expressões exageradas) e incluindo maior naturalidade às interpretações. Futebol moderno, mais prático. Estratégias que mostram estilos diferentes: um mais cru, mais objetivo; o outro, mais elaborado, mais híbrido e, assim, o placar permanece no zero.

O páreo segue duro quando se fala dos atores que interpretam Conde Orlock/Drácula: Max Schreck e Klaus Kinski. Igual Luis Suárez na Copa de 2014, os dois disputam cada centímetro do gramado na base da dentada! Imbuído do espírito expressionista de uma interpretação mais teatral e hiperbólica, o ator do primeiro simplesmente cria um ícone do cinema. Além dos olhos esbugalhados, da maquiagem distorcedora e da expressão de mistério, seu trabalho corporal compõe o personagem: gestos lentos, passos curtos, costas curvadas, mãos contorcidas, semblante esquelético e braços colados ao corpo (como que recém saído do caixão). No entanto, Kinski não fica para trás. Ele – com quem Herzog havia rodado anos antes o excelente mas traumático “Aguirre: A Cólera dos Deuses”, em que Kinski quase enlouqueceu a equipe a ao próprio cineasta com ataques de sua própria cólera – usa sua fúria natural para assimilar o que Schreck lhe legara, porém valendo-se muito bem de um elemento ao qual o outro não tinha condições de aproveitar à época da primeira realização: a comunicação sonora. Kinski, que é louco mas não é bobo, dota seu vampiro de voz e de sons guturais e animalescos, que o fazem parecer ainda mais com um assombroso morcego. Não disse que era páreo duro? Nem a destreza cênica de Kinski, entretanto, é capaz de superar a invenção de uma forma de atuar e a marcante personificação de um mito da cultura ocidental quando se fala em histórias de terror. Afinal, o que seria de um Freddie Krugger ou dos filmes de zumbis se não fosse esse grotesco vilão? Sim: Schreck mostra os dentes e marca o primeiro. E não dá pra dizer que foi descuido da defesa, não! Foi, sim, total habilidade do atacante. 1 x 0 pra “Nosferatu” de 22.

Acontece que, como deu pra perceber, o remake não veio só pra reverenciar, mas para disputar palmo a palmo. E qual a tática que usa para isso? Valorizar o que tem de diferencial. Bruno Ganz e Isabelle Adjani como casal Harker é um desses pontos, e quase marcam gol. Momento de pressão do time mais jovem (se é que dá pra falar disso de um cara como Drácula, com 200 anos de idade). Os atores são um elemento do esquema tático que se soma ao uso da cor desmaiada da foto de Jörg Schmidt-Reitwein e da trilha da banda krautrock Popol Vuh, constantes colaboradores de Herzog àquele época e corresponsáveis pelo climatização sonora de seus filmes. No volume de jogo, “Nosferatu” de 1979 empata a partida: 1 x 1.

 

O pavor das mocinhas Greta Schröder (como Ellen Hutter) e Isabelle Adjani (Lucy Harker)

Mas o primeiro “Nosferatu” não se intimida e segue propositivo, assustando (literalmente) a cada vez que chega na área. Time entrosado, em que os jogadores trocam passes em silêncio, sem trocar uma palavra sequer. Mas nem precisa! Eles cercam o adversário quando estão sem a bola, diminuindo os espaços. E quando vão pra cima, meus amigos! É bola na trave, é sequência de escanteios, é defesa daquelas sobrenaturais do arqueiro, é salvada do zagueiro e cima da linha. Na gíria futebolística: “Nosferatu” bota terror! Eis então que o longa mudo desempata novamente a partida com a sequência da chegada de Orlock com o navio cheio de ratos trazendo a peste à cidade, momento em que não apenas impressionam as cenas dele andando pelas ruas com o caixão nos braços quanto o filme de Murnau se vale de efeitos visuais bem ousados para sua época. 

Não leva muito tempo, porém, e o desafiante, num contra-ataque, digamos, “letal”, altera o placar mais uma vez! Que jogo histórico estamos presenciando! Mais do que histórico: secular! Aproveitando-se exatamente desta sequência do desembarque da nau pesteada a Wisborg, que corresponde ao 4º ato do filme original, o professor Herzog intensifica ainda mais a atmosfera fantástica e põe milhares de ratos a invadirem as ruas da cidade. Que coisa apavorante! Isso é que se chama de povoar o campo do adversário! O jogo está indo para seus 15 minutos finais e o que se vê no marcador é 2 x 2. Tudo igual mais uma vez. Os ânimos vão ficando cada vez mais nervosos. O juiz, ao perceber as entradas estão cada vez mais fortes e que dos dois times, que têm tendência a machucar, estão querendo tirar sangue do adversário, distribui alguns cartões para colocar um freio. Se não a coisa descamba, Arnaldo!


Filmes "Nosferatu" completos: de 1922 e de 1979





Acontece que time que sabe que é grande não se amedronta fácil. O filme de Murnau sabe que representa não só um marco no cinema mundial como, em termos históricos, artísticos e sociológicos, uma síntese dos tempos pré-nazismo. A psicanálise, a industrialização e, principalmente, a 1ª Guerra, traumatizaram o mundo dos anos 20. A Alemanha, inferiorizada e pobre, tinha nas diversas correntes artísticas daquele período manifestos desta conturbação. Um deles, dos mais bem sucedidas enquanto forma de arte, é justamente o Expressionismo Alemão, o que se vê em obras como esta ou “O Gabinete do Dr. Caligari” (1919), “As Mãos de Orlac” (1924), “Fausto” (1926) e “Metrópolis” (1922). Dá pra dizer que “Nosferatu” de Murnau não é apenas um filme: trata-se da invenção de uma escola, da demarcação de um estilo, da mais profunda manifestação artística de uma real onda sombria a qual não só se intuía como, infelizmente, se concretizaria no Holocausto anos depois.

A inigualável cena da sombra 
subindo a escada
Não tem como segurar um time desses, né? Pois é o que acontece. A “sinistra” qualidade técnica do filme dos anos 20, como a montagem precisa, o uso mimético dos planos de câmera e a adequação da luz à simbologia cênica fazem o time crescer para cima da sua vítima. A cena de Orlock subindo as escadas e levando a mão à maçaneta da porta da casa de sua pretendida, como se apenas a sombra agisse, é daquelas jogadas que somente os grandes ousam. O cinema noir até hoje agradece por esta cena, sem a qual dificilmente este movimento cinematográfico existiria. Além disso, o aspecto altamente erótico, que envolve desejo, medo e morte, outra ousadia que certamente impacta mais em um filme do início do século para um mais ao final deste. Herzog, um técnico honesto e sensato, no fundo sabe que seu lugar na história cinematográfica é de um renovador e não de pioneiro como o seu adversário, a quem ele reverencia. Por isso, ciente do seu tamanho, Herzog não se mete a besta em “copiar” a cena com o seu Conde Drácula, e é justo nesse detalhe que a partida se define: 3 x 2 para o clássico “Nosferatu”. E está fechado o caixão!

Planos parecidos em jogo de esquemas táticos espelhados:
bem acima, cena da aparição de Nosferatu no navio;
abaixo, o vampiro sai da tumba; ratos, muitos ratos,
levam a peste para a cidade; por fim, a luz do sol,
mortal para um vampiro que salva os homens
da criatura das trevas.


Num confronto tenso, com sustos para os dois lados, 
defesas mordedoras e ataques afiados como caninos, 
“Nosferatu: O Vampiro da Noite” faz um jogo de igual 
pra igual com o seu original, “Nosferatu: Uma 
Sinfonia do Horror”. Mas a camiseta – ou melhor, 
a capa – pesa nessas horas, e nos 10 minutos 
finais, quase ao apagar das luzes (ou seria ao
“acender das luzes” quando mata o vampiro... 
ah, sei lá!), o clássico de Murnau se impõe 
como grande obra-prima da história do cinema 
e crava! Opa, o placar, não os dentes! 
Não pensem que, no entanto, por ser disputada, 
a partida foi feia, desleal ou tenha partido para a
 violência gratuita. Não! Muita qualidade 
para os dois lados, agressividade na medida certa 
e atuações dignas de duas escolas campeãs. 
Placar justo em um clássico bem jogado.






Daniel Rodrigues