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terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Legião Urbana - “Que País é Este?” (1987)

 

“E depois do começo o que vier vai começar ser o fim...”

Nos últimos dias do mês de novembro, fez 35 anos do lançamento do terceiro disco da banda brasiliense Legião Urbana, “Que País é Este?”. Eu já morava em Aracaju, vindo de Brasília, quando o disco chegou às lojas e as canções começaram a tocar nas rádios. Particularmente, gosto das nove faixas: “Que País é Este?”, “Conexão Amazônica”, “Tédio (com T bem grande pra você)”, “Depois do Começo”, “Química”, “Eu Sei”, “Faroeste Caboclo”, “Angra Dos Reis” e “Mais do Mesmo”. 

“Das favelas, do senado, sujeira para todo lado...”

Este LP foi composto por canções escritas entre os anos de 1978 e mil 1987, da época que o Renato Russo e os irmãos Fê e Flávio Lemos (Capital Inicial) formavam a banda Aborto Elétrico. Excetuando-se “Mais do Mesmo” e “Angra dos Reis”, que foram compostas após o disco “Dois”, da Legião Urbana, de 1986. 

“... A noite acabou talvez tenhamos que fugir sem você...”

Aqui abro parêntese para uma curiosidade pessoal: de 1978 até 1987, foi justamente o tempo em que morei em Brasília, vindo de Fortaleza com quatro para cinco anos e depois indo para Sergipe com 13 para 14 anos. O mais frustrante disso, é que mesmo morando na cidade na época em que a banda surgiu, e sendo muito fã, eu nunca consegui assistir ao show ao vivo deles. Lembro de um que teve, antes daquele de junho de 1988, que nunca acabou, acho que foi em 1986, pouco depois do lançamento do “Dois”, que minha mãe cortou meu barato e não me deixou ir com a galera lá da quadra. E em Aracaju eles nunca vieram tocar... 

“... Andar a pé na chuva às vezes eu me amarro, não tenho gasolina, também não tenho carro...”

Neste disco, a banda retorna ao som mais furioso e punk que a impulsionou no primeiro álbum, já que o disco “Dois”, outro grande sucesso, tinha uma linha mais melodiosa. A banda também consegue captar exatamente os anseios da juventude da época. Política, problemas sociais, solidão e rebeldia dão o tom das letras de Renato Russo, sempre poéticas e melancólicas. 

“... Intrigas intelectuais rolando em mesa de bar...” 

O álbum foi um grande sucesso de vendas e foi contemplado com disco de diamante. Este LP também marcou por ser a última participação do baixo contundente de Renato Rocha na banda. 

“Em vez de luz tem tiroteio no fim do túnel...” 

No ano de 2010, numa enquete realizada pela revista Veja, o LP ganhou como melhor disco de rock brasileiro dos anos 80, seguido de “Cabeça Dinossauro”, do Titãs, e “Vamos Invadir sua Praia”, do Ultraje a Rigor

“Ser responsável, cristão convicto, cidadão modelo, burguês padrão, você tem quer passar no vestibular..." 

Sem dúvida alguma, duas canções marcaram bastante este disco. A representativa “Que país é este?”, que virou um hino de protesto e a é épica e bobdyliana “Faroeste Caboclo”. Quem nunca cantou esta última, a plenos pulmões, ao lado dos amigos, todo exibido por saber de cor a extensa letra, não viveu completamente aquela época. 

“Ele queria sair para ver o mar e as coisas que ele via na televisão...”.

Ouça no volume máximo!

“Se fosse só sentir saudade, mas tem sempre algo mais...”.

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FAIXAS:
1. "Que País É Este" - 2:57
2. "Conexão Amazônica" (Renato Russo/ Fê Lemos) - 4:37
3. "Tédio (Com Um T Bem Grande Pra Você)" - 2:32
4. "Depois do Começo" - 3:13
5. "Química" - 2:19
6. "Eu Sei" - 3:10
7. "Faroeste Caboclo" - 9:04
8. "Angra dos Reis" (Renato Russo/ Renato Rocha/ Marcelo Bonfá) - 5:00
9. "Mais do Mesmo" (Dado Villa-Lobos/ Renato Russo/ Renato Rocha/ Marcelo Bonfá) - 3:18
Todas as composições de autoria de Renato Russo, exceto indicadas

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OUÇA O DISCO

por Jowilton Amaral da Costa


domingo, 6 de dezembro de 2020

Legião Urbana - Ginásio Gigantinho - Porto Alegre / RS (Julho/1988)



A Legião Urbana, no palco,
em Porto Alegre, em 1988
(foto: página Legião Urbana Infinito - Facebook)
 Aquilo parecia um show de uma banda internacional, de nome grande, atração pesada. Gente que não acabava mais no pátio, fila que dava volta no ginásio, ingressos esgotados... A Legião Urbana havia chamado atenção com seu primeiro álbum, havia conquistado público e crítica com seu segundo trabalho, "Dois", mas foi "Que País é Este", de 1987, que os alçou definitivamente ao mega-estrelato e deu início a uma idolatria quase religiosa que nunca deixou de acompanhá-los. O brado de contestação da música que dava nome ao disco; a delicadeza frágil de "Angra dos Reis"; e o sucesso espontâneo de "Faroeste Caboclo", fizeram de um disco que era praticamente um apanhado de sobras, um fenômeno popular. Todo mundo tinha o disco, todo mundo sabia as letras de cor e, é claro, todo mundo queria ir ao show. O resultado disso era um Gigantinho lotado como só costumava-se ver em ocasiões especiais com atrações de renome mundial. Mas não, quem estaria ali seria uma banda brasileira, e tão brasileira que clamava pela resposta a uma pergunta que ainda hoje, diante de todos os absurdos e barbaridades que estão à nossa volta, faz todo o sentido: Que país é esse?
 E foi com essa que eles começaram o show, quase botando abaixo o ginásio do Sport Club Internacional. A voz de Renato Russo e a do público faziam uma só e a pólvora estava definitivamente acesa. O que se seguiu a partir dali foi uma catarse coletiva crescente com músicas como "Será", "Geração Coca-Cola", uma emocionante "Tempo Perdido", "Angra..." à luz de isqueiros, uma visceral "Conexão Amazônica", "Índios" com aquele "charminho" de esquecer a letra, e a quilométrica "Faroeste Caboclo", que mesmo sem repetições ou refrão, era incrivelmente cantada, de cabo a rabo,  por mais de nove minutos, por 15 mil vozes.
Um show inesquecível! No momento, talvez, de maior popularidade da banda, e ainda com sua formação clássica, com Renato Rocha no baixo, tive a oportunidade de ver Renato Russo e sentir toda aquela energia que ele transmitia àquela hipnotizada legião de seguidores. Experiência essa ainda mais valorizada considerando que, infelizmente, nunca mais teremos essa oportunidade. Quem viu, viu; quem não viu, não verá mais.


Legião Urbana - Maracanãzinho (15/07/1988)

Não há registro em vídeo do show do Gigantinho mas o show do Rio de Janeiro, daquele mesmo ano, 
foi registrado e, por ser da mesma turnê e por ter ocorrido apenas uma semana depois do de Porto Alegre,
 dá uma boa ideia de como foi o show que ralato aqui. 


Cly Reis
(para Nílson Araújo 
que estava comigo naquela noite
memorável no Gigantinho)

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

ClyBola 2014


Nem só de cultura vive o homem e, de vez em quando é legal, SIM, alguma futilidade. Mesmo que alguns digam que é alienante, que é  'ópio do povo', que é tudo armado, mesmo que muitos se perguntem como é que alguém pode gostar de ver 22 marmanjos correndo atrás duma bola, nós do clyblog também nos amarramos em futebol, afinal, como diz o 'filósofo contemporâneo', "futebol é a coisa desimportante mais importante do mundo". E não é mesmo?
Assim, nesse ano de Copa do Mundo traremos uma programação toda especial de publicações. Pra começar, teremos a ClyBlog Rock Cup decidindo qual a melhor música de um artista ou banda, ali, no mata-mata, uma música contra a outra. Fantásticos 'confrontos' estão por vir!!! Imagine um "There's a Light That Never Goes Out" X "The Boy With the Thorn in His Side", numa Copa The Smiths; ou um "Tempo Perdido" contra "Faroeste Caboclo, numa Copa Legião Urbana; ou ainda, um "Vogue" versus "Like a Prayer" numa Copa Madonna. Uau! Estes e outros duelos incríveis estão por acontecer na nossa Copa do Mundo particular.
Além disso, durante esse ano, até a Copa, teremos a seção "O Jogo da Sua Vida", onde leitores, amigos, colaboradores vão nos contar tudo sobre aquele jogo que lhes arrepia até hoje, quando lembram. O jogo que os fez chorar, que fez sorrir, o grito de campeão, a estrondosa derrota, a primeira vez no estádio, o show da torcida, o gol inesquecível... o que quer que tenha feito aquele jogo tornar-se o jogo da sua vida.
E não para por aí: as demais seções do Clyblog volta e meia trarão alguma coisa ligada a futebol, seja nas tirinhas, onde já desfilaram, por exemplo, figuras como o Peymar no Pix, ou o time dos Transgênicos no Berinjela Beligerante , só para citar algumas; nas COTIDIANAS, onde, não raro, já figuram textos sobre o esporte mas que terá algum incremento neste sentido; e mesmo na seção ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, que trará alguns discos, logicamente de grande importância musical, mas que tenham aquela ligação com o esporte mais popular do Brasil.
É isso aí: 2014 começando e vem coisa por aí.
Preparem-se.
Vai ser dado o apito inicial...


Cly Reis

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Copa do Mundo Legião Urbana - classificados da primeira fase

Os grandes hits entraram neste primeira fase mas nem todos tiveram boa vida, não. Geração Coca-Cola, Monte Castelo, Angra dos Reis ficaram pelo caminho, mas a maior zebra da competição até agora foi a eliminação do clássico Faroeste Caboclo logo na fase inicial. Em compensação times tradicionais como Tempo Perdido, Paise Filhos, Há Tempos e Que País é Esse confirmaram suas vagas na segunda fase sem dificuldades e algumas que entraram na pré, como Daniel na Cova dos Leões, Andrea Doria e a surpreendente O Descobrimento do Brasil que já tirou Ainda é Cedo e A Via Láctea, mesmo sem o status de mega-sucesso vão seguindo firme sua caminhada.
Confira abaixo todos os classificados e fiquem ligados no sorteio para a segunda fase da Copa LEGIÃO URBANA.
(Os classificados destacados em vermelho):


terça-feira, 6 de junho de 2017

Tributo à Legião Urbana: Guilherme Lemos e Os Filhos da Revolução - Bar La Esquina - Rio de Janeiro/RJ (02/06/2017)




Guilherme Lemos em momento
completamente entregue
à interpretação.
Eu não vou parabenizar Guilherme Lemos e sua banda, Os Filhos da Revolução, pelo show da última sexta-feira, 02/06, no Bar La Esquina, eu gostaria de agradecer pelo show. Agradecer pelo fato de terem me feito sentir novamente a energia de um show da Legião Urbana. Não, não era a Legião, não era Renato Russo à frente da banda, mas penso que poucos artistas poderiam demonstrar tamanha vivacidade como o fizeram Guilherme Lemos e banda.
Guilherme é um representante legítimo dessa religião chamada Legião Urbana. Com seu domínio de palco, de repertório, carisma e  ele transporta-nos para o universo legionário sem muito esforço. Sua aparência física ajuda, é claro, mas o que seria de sua semelhança com Renato se não houvesse nenhum talento ou competência? Não é porque estamos VENDO Renato Russo, é porque o estamos SENTINDO.
Para que se tenha ideia da atmosfera que a banda consegue transmitir, eu, homem feito, cheguei a ficar  emocionado em diversos momentos, em parte pelo repertório sempre muito tocante, mas muito também por conta das interpretações contagiantes que o cantor imprimia às canções.
Um desses momentos mágicos foi na longa mas nunca cansativa "Faroeste Caboclo". A saga de João de Santo Cristo com suas alternâncias de ritmos e intensidades foi cantada verso por verso por toda a plateia numa apresentação nada menos que sensacional.
Guilherme e sua turma conseguiram fazer de "Love Song (Cantiga de Amor)", mais do que meramente um apêndice de "Metal Contra as Nuvens" dando a ela vida própria; e à apenas mediana "Dezesseis", dar mais vivacidade compensando um pouco suas carências. "A Dança", por sua vez, foi absolutamente vibrante, intensa; e "Química", no trecho punk final do show, foi visceral, ocasionando uma pequena festa headbanger na pista do La Esquina.
"Pais e Filhos" teve mantida intacta a emoção que era passada por Renato Russo no palco e ainda teve, assim como nas apresentações dos rapazes de Brasília, o medley com "Stand By Me", por sinal, não menos arrepiante.
 O show teve lá seus problemas técnicos, falhas de microfones, retornos, pedaleiras, mas nada que uma banda tarimbada  como é, não conseguisse tirar de letra  com muito jogo de cintura. Sinceramente, só me desagradou um pouco o fato de Guilherme Lemos dedicar parte do show a uma transmissão via celular para uma pessoal em outra cidade, em Santa Catarina. Foram duas músicas com o celular na mão dando mais atenção a quem estava do outro lado do que para o público à sua frente, mas dá para relevar por tudo que foi o show em si, ali na nossa frente.
Já havia sido convidado pela produtora e esposa do cantor, Patrícia Ferreira, algumas vezes e por circunstâncias diversas não havia conseguido ir a um show deles. Felizmente desta vez tive a oportunidade de vê-los e pude comprovar o porquê da reputação de Guilherme Lemos como o melhor cover de Renato Russo no Brasil, apoiado por uma banda competentíssima e extremamente profissional.
Obrigado à amiga Patrícia pelo convite e a Guilherme Lemos e Os Filhos da Revolução por me fazerem reviver a sensação de assistir a um show da Legião Urbana. Tenho a impressão que todas aquelas pessoas vibrando diante do palco se sentiram um pouco gratos também.



abaixo algumas imagens da noite:


Guilherme em ação no palco com sua competentíssima banda.

E que tal esse setlist?

O blogueiro com a produtora e esposa do cantor, Patrícia Ferreira.

Tietagem no camarim com o grande Guilherme Lemos.


Cly Reis


segunda-feira, 28 de abril de 2014

Copa do Mundo Legião Urbana - primeira fase

Acabou a brincadeira!
As grandes entraram na jogada.
Agora tem Faroeste Caboclo, Geração Coca-Cola, Eduardo e Mônica e outros grandes sucessos.
Sorteados os confrontos, já temos embates fantásticos como Teatro dos Vampiros x Acrilic on Canvas, Meninos e Meninas x Metal Contra as Nuvens, O Senhor da Guerra x A Dança, Quase sem Querer x Baader-Meinhof  Blues, e alguns curiosos como o 'clássico da espera', Se Fiquei Esperando Meu Amor Passar x Esperando por Mim, o 'clássico dos perdidos', Perdidos no Espaço x Tempo Perdido e o 'clássico do clima', Vento no Litoral x A Tempestade. Temos ainda os, teoricamente, mais fáceis como Há Tempos x Love Song, Perfeição x A Ordem dos Templários, mas sabe como é que é, né... rock'n roll às vezes é uma caixinha de surpresas
Bom, confira aí, abaixo, todos os confrontos:





sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Legião Urbana - "As Quatro Estaçoes" (1989)




"EXISTEM MARÉS
E EXISTE A LUA (...)
EXISTEM
CANÇÕES"
(do texto do encarte do disco)



O imenso sucesso do terceiro disco da Legião Urbana, “Que País É Este”, gerou uma enorme expectativa pelo lançamento do seu sucessor, até porque, embora extremamente exitoso em vendas e nas paradas, “Que País É este” era uma espécie de coletânea de material não lançado porém já conhecido por parte do público. Esperava-se então uma novidade, supostamente de material composto desde o grande "Dois" , de 1986. O que sabia-se há muito, desde praticamente o andamento da turnê do terceiro, era que o trabalho seguinte chamar-se-ia, “As Quatro Estações”. Conhecido o nome, que de certa forma continuava a seqüência numérica interrompida pelo último disco, (“Legião Urbana” de 1985, conhecido como “Um” por não ter nome e “Dois” de 1986) começavam as especulações sobre como viria a Legião para este novo trabalho. Se seguiria a linha do "Dois" que na verdade, em termos de ineditismo era o antecessor imediato; se a veia punk resgatada em “Que País É este” seria a tônica a partir daquele momento; se o modelo cancioneiro, quase acústico de "Faroeste Caboclo" prevaleceria. As possibilidades eram muitas. Renato Russo avisava que voltaria a utilizar material antigo do Aborto Elétrico e sinalizava com as gravações de “Dado Viciado” e “Marcianos Invadem a Terra”, duas conhecidas do público de Brasília mas não lançadas em disco e que acabaram só aparecendo mesmo muitos nos depois na coletânea póstuma “Uma Outra Estação”. Mas os planos mudaram, tudo mudou, fatos novos aconteceram, a banda mudou, a cabeça do vocalista mudou e o lançamento prometido para o início de 1988 foi sendo postergado por diversas vezes. Primeiro, inesperadamente para os fãs, Renato Rocha, o baixista competente de bases firmes e sangue punk foi afastado da banda em circunstâncias naquele momento pouco esclarecidas. Isso teria gerado a primeira mudança de rumo e afastamento da idéia inicial, já concebida e em fase de maturação para o novo álbum. Em segundo lugar, o estado emocional de Renato Russo, deprimido, confuso e se reavaliando, repensando novamente então o conceito que pretendia desenvolver no projeto. Depois ainda, resultado dessa autoavaliação com certeza, Renato Russo decidia, neste meio tempo, assumir sua homossexualidade, fator importante e decisivo para o resultado final do trabalho, mas que naquele momento fazia com que novamente alguma coisa fosse revista, excluída, incluída no trabalho. Assim, somente depois de 3 anos, era apresentado o tão esperado “As Quatro Estações” da Legião Urbana e a sensação quando se ouviu foi a de que valeu a pena esperar.
Com um Renato Russo mais equilibrado depois de tantas complicações, a Legião, agora um trio, nos brindava com um disco mais leve, mais otimista, mais espiritual, que como o próprio Renato afirma no encarte do álbum, não fora feito sem ajuda, valendo-se desde a Bíblia à filosofia oriental para compor uma das grandes obras da discografia nacional.
A lindíssima “Monte Castelo”, de sonoridade medieval, com letra praticamente tirada do soneto “O Amor é o fogo que arde sem se ver” de Camões, refrão adaptado da Epístola de São Paulo, com toques do “Tao Te King” do filosofo chinês Lao Tse, é bom exemplo de todos os pontos levantados: da ‘ajuda’ externa, da espiritualidade e do otimismo. “Quando o Sol Bater na Janela do Teu Quarto” também serve de amostra dessa aura positiva, esperançosa e mística de Renato e da banda. Sobre uma contagiante levada de violão, Renato convoca-nos (como sempre) a reagir e fazer um mundo melhor. Detalhe: toda a parte do “tudo é dor e toda a dor vem do desejo de não sentirmos dor” é de uma doutrina budista creditada a Bukkyo Dendo Kyokai, mais um dos inusitados ‘parceiros’ de autoria no disco.
A propósito de parceiros, mas agora em outro sentido, Renato Russo aproveita o disco pra se libertar e gritar para o mundo o que realmente é, e o faz especialmente no gostosíssimo rock “Meninos e Meninas” e na grave “Maurício”; fazendo, por sua vez, menção também à AIDS, que mais tarde lhe vitimaria, na excelente “Feedback Song For a Dying Friend”, um hard rock agressivo, guitarrado, cantado em inglês, finalizado com um instrumental árabe extasiante.
“Pais e Filhos” um dos grandes sucessos do disco é um blues acústico que coloca diversas situações familiares desde um aguardado nascimento de uma criança até um suicídio por falta de atenção, nos lembrando de um princípio básico da vida, num dos refrões mais conhecidos da música nacional (“é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã porque e você parar pra pensar na verdade não há”).
Com uma condução lenta, pontuada por um bandolim e com teclados soando como sinos, “Eu Era um Lobisomem Juvenil” é uma das poucas que soa um pouco mais lamentosa pela desilusão amorosa que expõe, mas no fundo falando mesmo simplicidade de espírito, de alegrias comuns, de coisas corriqueiras que parecem desimportantes mas que são na verdade a verdadeira vida.
O disco é tão positivo que até uma romântica como “Sete Cidades”, rock básico conduzido por uma harmônica muito legal, não chega a ser uma canção de amor sofrida como em muitos casos, servindo mais como uma espécie de instrumento de autoconhecimento e resignação do que uma dor-de-cotovelo clássica.
A primeira faixa de trabalho do disco, a smithiana “Há Tempos”, impressionava pela objetividade e contundência das sentenças manifestando, nesta sim, um certo desapontamento e preocupação com a juventude em um daqueles hinos característicos de Renato dirigidos à sua ‘geração Coca-Cola’. “Há Tempos” também tem colaborações externas assumidas e o segundo verso (“muitos temores nascem do cansaço e da solidão”) é adaptado da “Desiderata”, obra do filósofo-poeta Max Ehrmman.
A punkzinha “1965 (Duas Tribos)” também aborda um tema desagradável, a tortura e a ditadura militar, mas no fim das contas propõe uma volta por cima e cobra uma atitude positiva (“eu quero tudo pra cima”)
“As Quatro Estações” termina com “Se Eu Fiquei Esperando Meu Amor Passar”, outra canção romântica de composição simplória e delicada e que confirma toda a espiritualidade do disco encerrando com os versos do rito litúrgico “Cordeiro de Deus”.
E num momento equilibrado de Renato, tranquilo da banda, os abençoados éramos nós, os fãs, por recebermos depois de tanta espera um disco iluminado como aquele “As Quatro Estações”. Fresco como um dia de outono, gostoso como um dia de primavera, não sem ser severo como um dia frio de inverno, mas, sobremaneira, ensolarado como um dia de verão.

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FAIXAS:
  1. "Há Tempos" (Villa-Lobos/Russo/Bonfá) – 3:18
  2. "Pais e Filhos" (Villa-Lobos/Russo/Bonfá) – 5:08
  3. "Feedback Song for a Dying Friend" (Villa-Lobos/Russo/Bonfá) – 5:25
  4. "Quando o Sol Bater na Janela do Teu Quarto" (Villa-Lobos/Russo/Bonfá) – 3:13
  5. "Eu Era um Lobisomem Juvenil" (Villa-Lobos/Russo/Bonfá) – 6:45
  6. "1965 (Duas Tribos)" (Villa-Lobos/Russo/Bonfá) – 3:44
  7. "Monte Castelo (Renato Russo) – 3:50
  8. "Maurício" (Villa-Lobos/Russo/Bonfá) – 3:17
  9. "Meninos e Meninas" (Villa-Lobos/ Russo/Bonfá) – 3:23
  10. "Sete Cidades" (Villa-Lobos/Russo/Bonfá) – 3:25
  11. "Se Fiquei Esperando Meu Amor Passar" (Villa-Lobos/Russo/Bonfá) 4:56
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Ouça:

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Copa do mundo Legião Urbana - classificados para as oitavas-de-final


Só restam 16.
A segunda fase, como prometia, foi eletrizante e derrubou mais algumas que eram dadas como candidatas certas ao título: Faroeste Caboclo já havia sido eliminada na primeira fase e agora na segunda, Eduardo e Mônica, Será e Por Enquanto ficaram pelo caminho e, no super-confronto desta fase, Pais e Filhos foi eliminada por Tempo Perdido.
Confrontos difíceis? Vocês não viram nada. Agora que vem o pior. Tá afunilando, tá afunilando e as dezesseis músicas destacas em vermelho, abaixo, seguem na competição. Amanhã saem os confrontos.





quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Legião Urbana - "Legião Urbana" (1985)


URBANA LEGIO
OMNIA VINCIT
(Legião Urbana a tudo vence)



Mesmo em meio à explosão do rock nacional da metade dos anos 80, podia-se notar que a Legião Urbana tinha algo de diferente. Ainda que tenham sido elevados quase que imediatamente a uma espécie de papel de porta-vozes de uma geração, pelas letras engajadas, políticas, sociais, as mesmas não se limitavam à mera convocação ao levante popular ou a um niilismo juvenil, mostrando diferenciais intelectuais e estruturais de seu principal compositor, Renato Russo; e mesmo as mais pessoais, por sua vez se destacavam do lugar comum, saindo do tradicional modelo intimista- apaixonado-desesperado com uma poesia muito peculiar, elaborada e de qualidade. Na parte instrumental, embora não se destacassem tecnicamente por virtuosismos instrumentais individuais, compensavam isso por uma solidez sonora, competência, doses equilibradas de agressividade e lirismo.
“Legião Urbana”, seu primeiro trabalho de 1985, é um tanto cru ainda, meio tosco em alguns momentos, mas essa pureza talvez seja interessante para que se perceba o verdadeiro espírito da música do grupo que nunca foi abandonado mesmo em trabalhos posteriores mais elaborados e sofisticados.
“Será”, não só faz as honras de abertura do disco como é a responsável por apresentar a banda ao Brasil, mostrando muitas das marcas que o grupo levaria consigo ao longo de sua trajetória. Num punk-rock bem trabalhado que fundia brilhantemente questões pessoais com um âmbito mais amplo, abraçando dúvidas e anseios coletivos, Renato Russo, como voz e representante, aproximava-se de maneira muito íntima e solidária de seus interlocutores, e começava a criar grande parte da empatia e liderança que viria a exercer sobre seus fãs.
Segunda faixa do álbum, a embalada “A Dança”, é uma pedrada numa juventude vazia, sem interesses, valores ou expectativas, conduzida com competência pelo baixo de Renato Rocha, o melhor instrumentista da banda, que deixaria a banda em seguida. Se “O Petróleo do Futuro”, a terceira, é um exemplar mais característico do punk de Brasília do início dos anos 80, mais tosca, pesada e agressiva; “Ainda é Cedo”, requintada e limpa, talvez seja o momento de maior maturidade sonora da banda até então para um primeiro disco, numa canção de amor, desentendimento e despedida, interpretada de forma esplêndida por Renato Russo. O disco segue com “Perdidos no Espaço”, canção de amor apenas interessante e de estrutura esquisita em determinados momentos; e com “Geração Coca-Cola”, um daqueles hinos instantâneos, ainda mais naquele contexto pós-militarismo clamoroso por democracia, um autêntico manifesto punk, agressivo e indignado, mas gritado com muito mais inteligência, vocabulário e recursos que o punk paulista suburbano, por exemplo, que sempre fez aquilo, verdade seja dita, mas de forma tão primária que muitas vezes caía no folclórico.
Em “O Reggae”, como o título já faz supor, a banda explora o tradicional ritmo jamaicano, e Renato Russo nos dá a primeira mostra de sua capacidade de desenvolver histórias musicais, no que mais tarde ficaria célebre em "Eduardo e Mônica" e “Faroeste Caboclo”, descrevendo aqui uma trajetória anunciadamente trágica, desde o berço até a crueldade das ruas. Em “Baader-Meinhof Blues”, o vocal conduzido levemente por Renato Russo contrasta com a letra pesada e irônica sobre violência; e igualmente impactante é a pessimista “Soldados”, com sua batida marcial e teclado melancólico.
O espetacular punk-rock “Teorema”, de letra extremamente bem concebida, encaminha o final do disco de forma absolutamente empolgante, especialmente no fraseado de guitarra de introdução para o refrão e no improviso vocal final, extático, histérico, espontâneo e inspirado de Renato Russo. E se por um momento o ouvinte vem a pensar que não poderia haver um encerramento melhor do que aquele notável epílogo que acabara de ouvir, vem então a belíssima “Por Enquanto”, uma melancólica canção de amor, que apenas com uma flutuante base de teclado desenvolvida sobre uma batida eletrônica quebra toda a energia beligerante do álbum e, aí sim, se despede do ouvinte com o sugestivo e inesquecível verso “estamos indo de volta pra casa”. Um final perfeito.
Estava feito: com a quele primeiro álbum a Legião Urbana era conhecida. O mito estava começando a surgir. O sucesso, mito, a idolatria, a identificação, a comoção... O resto da história todo mundo conhece.
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FAIXAS:
1. "Será" (D. Villa-Lobos/M. Bonfá /R. Russo) 2:30
2. "A Dança" (D. Villa-Lobos/M. Bonfá/R. Russo/R. Rocha) 4:01
3. "Petróleo do Futuro" (D. Villa-Lobos/R. Russo) 3:02
4. "Ainda É Cedo" (D. Villa-Lobos/I. Ouro Preto/M. Bonfá/R. Russo) 3:57
5. "Perdidos no Espaço" (D. Villa-Lobos/M. Bonfá/R. Russo) 2:57
6. "Geração Coca-Cola" (R. Russo) 2:22
7. "O Reggae" (R. Russo/M. Bonfá) 3:33
8. "Baader-Meinhof Blues" (D. Villa-Lobos; M. Bonfá; R. Russo) 3:27
9. "Soldados" (M. Bonfá/R. Russo) 4:50
10. "Teorema" (D. Villa-Lobos/M. Bonfá/R. Russo) 3:06
11. "Por Enquanto" (R. Russo) 3:16 

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Ouça:


Cly Reis






terça-feira, 20 de outubro de 2015

Fellini - "3 Lugares Diferentes" (1987)






" A rapaziada tá brincando bastante.
Ninguém ganha nada, não tá vendendo nada,
o disco não tá legal mas a gente
tá dando muita risada 
e tá realmente sendo uma grande curtição,
vamos levar isso pra frente."
Osmar Santos,
trecho do programa "Balancê" com participação do Fellini,
na introdução da música "Rio-Bahia"





Mas o que era aquilo? Legião e Titãs detonando tudo aqui pelo Brasil em vendagens, hits, shows, popularidade e a Bizz insistindo destacar o disco de um tal de Fellini como um dos grandes de 1987? A Bizz, para quem não sabe, era a grande publicação musical do país e todo ano elegia os melhores de crítica e público. É lógico que a galera, na qual me incluía, não tinha dúvidas que o "Que País é Este" da Legião Urbana, embora fosse praticamente uma "coletânea" de material antigo mas cheio de protesto, carisma e hits, como o improvável sucesso radiofônico "Faroeste Caboclo" era um dos favoritos a disco do ano; mas especialmente o ótimo "Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas" com suas "Lugar Nenhum", "Comida", Diversão" e "Desordem", até por ser um álbum de inéditas e sucessor à altura do revolucionário "Cabeça Dinossauro" era para o público geral imbatível. Mas os críticos da revista, convidados e músicos que votavam, para minha surpresa, os equivaliam ao quase desconhecido "3 Lugares Diferentes", do tal Fellini, fazendo-o empatar na primeira colocação daquele ano com o discaço dos Titãs. Bom, "quase desconhecido" para mim, uma vez que o projeto da dupla de amigos Cadão Volpato e Thomas Pappon já gozava de uma certa reputação no underground paulistano, vinha de dois discos no mínimo interessantes na bagagem e orgulhava-se, com justiça, de já ter sido tocado no programa do lendário DJ inglês John Peel, que apresentara ao mundo entre outros bandas como Pink FloydJoy DivisionThe Cure, no seu Radio 1 da rádio BBC.
Devo admitir que, naquela época, descobrindo muitos sons novos e com a enxurrada de boas bandas que apareciam naquela metade dos anos 80, ávido por conhecer o máximo de coisas legais que pudesse, diante da premiação da Bizz, fiquei bastante curioso para conhecer o som dos caras, mas não era um som que se encontrasse em qualquer Mesbla da vida e na época isso acabou não cruzando meu caminho o que só veio a acontecer alguns anos depois assitindo a um show que a TV Educativa de Porto Alegre transmitiu, realizado na Reitoria da UFRGS e que já trazia o repertório do disco "Amor Louco", mas o que foi suficiente para fazê-los caírem nas minhas graças e ganharem minha total simpatia a admiração.
O Fellini fazia uma espécie de samba experimental, minimalista, eletrônico, com raízes no punk paulista, admitindo no entanto quaisquer inter-relações musicais que pudessem torná-lo interessante como blues, valsa, funk, reggae, bossa nova, bolero, apresentando letras de enorme sensibilidade poética cantadas muitas vezes com um vocal quase declamatório por seu vocalista, Cadão Volpato, que compensava sua limitação vocal com moderação, inteligência e criatividade interpretativa. 
"3 lugares diferentes", traz todos esses elementos. É um disco, ao mesmo tempo, primário e sofisticado. Se por um lado suas gravações muito básicas, quase artesanais, com condições técnicas mínimas, muitas vezes somente com uma bateria eletrônica e uma guitarra, sua concepção sonora e é avançada com uma leitura ímpar dos ritmos brasileiros numa quase improvável, mas muitíssimo bem sucedida, integração com o rock e suas vertente. O conceito já havia sido explorado no segundo "Fellini Só Vive Duas Vezes", contudo, limitados pelas condições técnicas, seu resultado, embora interessante, mostrava-se ainda muito duro, cru, com pouca plasticidade e flexibilidade. "3 Lugares Diferentes" conseguia o resultado estético mais interessante com canções mais sonoras e marcantes.
Depois de um texto de abertura, um manifesto sobre música (que de certa forma sugere que uma banda como o Fellini, por exemplo, não poderia fazer música), sucedido por uma introdução de gaita harmônica, a programação eletrônica que marca o singular samba felliniano já dá as caras na maravilhosa "Ambos Mundos", canção de uma poesia urbana lindíssima que une cotidiano, sonho, astronomia e surrealismo ("Depois do batente Vênus descansava/ Marte sempre cortês jogava cartas/ preto era o céu/ bom de se olhar/ onde Três Virgos queriam se arrumar"). "Rosas", que a segue, é uma espécie de blues experimental, lento, arrastado e sussurrado;  e "La Paz Song, a seguinte, traz uma sonoridade que, por conta de sua percussão eletrônica e do teclado, sugere algo militar, numa letra que mistura o português com o espanhol de maneira bastante sonora.
O Fellini não tocou nas rádios, não teve um grande hit, mas se tem uma canção que teria esse potencial seria a adorável "Teu Inglês", uma das faixas mais bem acabadas da banda, com a participação do percussionista Silvano Marcelino, de trabalhos com vários artistas da MPB, que combina sua contribuição à batucada eletrônica característica da banda, uma guitarra leve e requintada primorosa em todos os momentos, uma nova aparição oportuna e interessante da harmônica e um refrão absolutamente gostoso e cativante.
Outra das melhores do disco, "Zum Zum Zum Zazoeira", com um mínimo de elementos, uma batida repetida básica, uma base de teclado quase constante, uma linha de guitarra sinuosa e perturbadora e um inteligente e preciso jogo de palavras-chave ("poeira", "lampião", porteira", "boi") consegue sugerir uma atmosfera regionalista, sertaneja, nevoenta, quente e árida. Genial!
A bela "Pai", de andamento meio new-wave, por assim dizer, é mais um exemplo da doce poesia cotidiana de Cadão Volpato ; de letra repleta de enigmas, signos e chaves, mais uma vez mesclando português com espanhol, "Valsa de La Revolución" justifica o nome num valseado minimalista conduzido pela guitarra de Thomas Pappon; e soturna, característica da turma do underground paulistano das noites de Madame Satã, "Massacres da Coletivização" divaga de forma pesada sobre o tempo e memórias.
"Rio-Bahia" apresenta novamente o tal "samba-maluco da rapaziada do grupo Fellini" como definira o falecido Osmar Santos na introdução da própria música, numa gravação do programa de rádio "Balancê" que apresentava e do qual a banda participara em certa ocasião. Além da batucada eletrônica, "Rio-Bahia" e "Lavorare Stanca", que são praticamente emendadas, mostram desta vez alguma intervenção acústica dos próprios integrantes com tamborins e outros elementos percussivos. Sem falar no do tradicional "trompete bucal" do vocalista Cadão, mais um dos muitos improvisos espontâneos da banda que costumava seguir seus instintos musicais e que pela ausência de um instrumento, pela vontade de enriquecer o som, pela sensibilidade de perceber que um determinado som cairia bem, arriscava uma brincadeira, a registrava e tornava seu som ainda mais interessantes e original.
Como um ocaso, a ainda mais esquisita "Onde o Sol se Esconde", minimalista sonoramente, de vocal embriagado e letra non-sense misturando palavras em português, inglês, francês, espanhol, traz o encerramento do álbum não sem ainda uma pequena vinheta da descontração de estúdio da gravação de "Teu Inglês" ao final.
O relançamento em CD traz ainda gravações bem interessantes ao vivo de "Zum Zum Zum Zazoeira", "Ambos Mundos" e "Teu Inglês", além de uma faixa oculta, a canção "Aeroporto", gravada ao vivo no antigo programa "Matéria Prima" de Serginho Groissman na rádio Cultura.
Embora os cabeças da banda tenham restrições técnicas ao álbum e o próprio Thomas Pappon admita uma certa decepção com ele pela ausência de baixo, "3 Lugares Diferentes", reconhecem também, por outro lado, que o disco foi inovador, quase revolucionário, antecipando muitas coisas que só começaram a serem feitas agora no pop-rock nacional, e seu reconhecimento com a premiação da Bizz, embora apenas simbólico, e posteriormente essa aura cult que paira sobra a banda, representam uma espécie de vitória da independência, da liberdade, do idealismo, da arte enquanto senso de seguir o próprio coração e ter prazer no que se faz.
O trabalho do Fellini, seu conceito, sua concepção de música, sua produção, seu conteúdo, seu resultado e seu reconhecimento, atualmente, como uma das bandas mais interessantes do rock nacional fazem com que o texto do gaitista norte-americano "Sugar Blue, sugerido pelo próprio Pappon para a introdução do disco, soe hoje ainda mais curioso, controverso e irônico: “Música não é para preguiçosos, música não é para engraçadinhos, música não é para desmiolados. Música é um negócio sério que reflete esforços humanos para nos tornarmos o que buscamos quando nos manifestamos".
Será mesmo?
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FAIXAS:
  1. Ambos Mundos
  2. Rosas
  3. La Paz Song
  4. Teu Inglês
  5. Zum Zum Zum Zazoeira
  6. Pai
  7. Valsa de La Revolución
  8. Massacres da Coletivização
  9. Rio-Bahia
  10. Lavorare Stanca
  11. Onde o Sol se esconde

A versão relançada em 1995 contém as seguintes faixas gravadas ao vivo:
12. Zum Zum Zum Zazoeira
13. Ambos Mundos
14. Teu Inglês

faixa oculta:
15. Aeroporto

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Ouça:

terça-feira, 20 de maio de 2014

Copa do Mundo Legião Urbana - Grande Campeão


Como já diria o filósofo contemporâneo, Jardel, ex-atacante do Grêmio, "Clássico é clássico e vice-versa". Pois é. Deu jogaço na decisão. Duas grandes equipes, duas grandes músicas e a nossa bancada legionista, integrada por Luan Pires, Christian Ordoque, Daniel RodriguesCly Reis e Jowilton Amaral da Costa, ajudada pelos amigos no facebook, decidiram qual o grande vencedor desta competição que mexeu com os fãs da LEGIÃO URBANA.
Pois então, vamos lá, um a um, vamos descortinar os votos, os comentários e o andamento da partida segundo cada um dos integrantes:







HÁ TEMPOS x TEMPO PERDIDO



Luan Pires
É um jogo sem favoritos. Duas torcidas fanáticas. Dois times bem estruturados, maduros, objetivos. Duas letras inteligentes, maduras, sem filosofar demais, sem filosofar de menos. Melodias marcadas, que crescem, que explodem. Jogo épico. Jogo respeitoso. Nada de muitos gols. Empate até os momentos finais. Até que um lance desequilibra tudo. Um único lance que vem da motivação. É que Há Tempos sempre me pareceu uma música de constatação, de aceitação, de doce amargor, de conformidade nua e crua. Já em Tempo Perdido sinto uma fagulha de otismo, de querer mudança, de não ter desistido. Para outros, os sentidos podem ser diferentes e até contrários. Mas Tempo Perdido, pra mim, reflete alguém que ainda tem fé. Tempo Perdido não desiste, da vida, do mundo, do jogo. Um digno jogo pra marcar histórias, dividir opiniões e alimentar rodas de conversa por muito tempo ainda. Mas a vitória só pode ir para um: Tempo Perdido ganha com um gol feio, esparramado, nos minutos finais.
Porque acho que música é um pouco isso: não desistir de mudar as coisas, jamais
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Christian Ordoque
Tempo Perdido e Há Tempos têm uma conexão cronológica e de conteúdo muito interessante. Por elas terem chegado às finais fico muito contente. Tempo Perdido tem o mérito de ser uma boa música pop smithiana com estrutura de verso e refrão. É o Satisfaction da Legião Urbana. Sempre achei muito mal mixada com ‘esses’ muito sibilantes. Tempo Perdido passa uma mensagem positiva de esperança de jovem que se acha dono do mundo e por isso padece de soberba. Inebriado pelo primeiro amor como todo jovem fica e por isso se julga eterno. E todo jovem é eterno. Até que a realidade bate à sua porta ou algumas vezes a coloca abaixo. Nesse momento, ele se dá conta que não tem mais todo o tempo do mundo e que não terá nem mais nem seu próprio tempo. O mundo o oprime ou na melhor das hipóteses o sujeita, o submete. No verso: Não tenho medo do escuro, Mas deixe as luzes acesas agora, O que foi escondido é o que se escondeu, E o que foi prometido, Ninguém prometeu é onde essa nova realidade do amadurecer aparece. E a partir daí, desse momento de crueza do mundo ante o idealismo juvenil e da certeza da morte que começa Há Tempos. Com mensagem mais pé no chão que diz maisoumenos o seguinte: “Ok, foste jovem, mas a maior parte da tua vida será como adulto”. Fazendo uma relação com a Tempo Perdido seria a frase: “Há tempos tive um sonho, não me lembro, não me lembro” a ponte de contato entre o que pensávamos quando jovens e que agora ficou mais longe ?
Quantas vezes andando de carro isolado e pressionado por problemas das mais diferentes ordens explodi gritando ao volante para aliviar a pressão ? Doença muito cedo, aos 18 anos “Há tempos são os jovens que adoecem”, a volta dela dez anos depois aos 28 e ficar sempre a monitorando como uma sombra na existência. Enfim, tratar a vida como ela é, sabendo de tuas limitações do teu tamanho e que em última instância tu não podes com ela, não tens a ilusão da juventude e já tiveste vários amores de olhos castanhos, verdes e azuis. Não tenho mais todo o tempo do mundo, tenho menos tempo pela frente do que o tempo que já passou. E no último verso fica o ensinamento da música e da vida: Disciplina é liberdade Compaixão é fortaleza, Ter bondade é ter coragem. Por mostrar a vida real de adulto e não a ideal de jovem que meu voto para melhor música da Legião Urbana vai para Há Tempos.


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Daniel Rodrigues
Se Santos e São Paulo é o Clássico dos Santos, porque não poderia ter o Clássico dos Tempos? Pois é: “Há tempos” e “Tempo Perdido”, também Clássico dos Pares (discos “Dois” e “Quatro Estações”). Pois, como dizia aquele jogador extremamente lógico e filosófico: “clássico e clássico”. Tanta expectativa posta em cima de cada equipe deu num jogo truncado, cheio de faltas no primeiro tempo. Galera chegando junto. Mas todo mundo estava decidido a ganhar, afinal, são, em tese, as duas melhores da Legião. No segundo tempo, então, os times vieram determinados a fazer gol. “Há tempos” abre o placar logo aos 3 min com um gol de bicicleta! Que catêga, hein? Mas o lance bonito não assustou “Tempo perdido”, cuja máxima futebolística vocês já conhecem: “sempre em frente, não temos tempo a perder”. Time ofensivista esse! Tanto que, aos 12 min, num chute na entrada da área, empatam. “Tempo perdido” se empolga, vai pra frente de novo e quase amplia. Mas “Há tempos” não tava morta e mete uma no ângulo que o goleiro faz milagre e põe pra escanteio. E esse escanteio foi o ponto-chave do jogo. Aos 40 min, lateral esquerdo cobrou, o atacante, que foi lá defende. Ele tira de cabeça e a bola vai parar no pé do meia armador, que estava fora da área só esperando ela sobrar. Contra-ataque. Fulminante. Depois de 12 toques na bola, a jogada é concluída pelo mesmo atacante, que percorreu todo o campo para ir lá na frente só escorar de cabeça e por a bola pra dentro. “Tempo perdido”: 2 x 1 e, com o perdão da redundância, não há mais tempo pra nada. "Há tempos" ainda leva o resultado para o tapetão, alegando que "Tempo perdido" jogou o campeonato inteiro com um jogador a mais (aquele finalzinho acústico valeria, segundo o adversário, como outra música, e que “Tempo Perdido” teria tirado vantagem com isso). Mas a Confederação analisou as súmulas e tava tudo certinho. Tempo Perdido campeã!

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Jowilton Amaral da Costa
Há tempos x Tempo Perdido. E chegou a grande final, um grande jogo sem dúvida. Ainda assim, acho que diante das finalistas “Índios” é a melhor, mas, o choro é livre no futebol, todo mundo sabe disso. Bem, aproveito para agradecer ao Daniel pelo convite para participar como comentarista e ao Cly pela aceitação. Muito obrigado, me diverti a vera. Voltei a ouvir músicas que há um bom tempo eu não escutava, e isso foi uma boa viagem. Agradecer também ao outros comentaristas, o Luan e o Christian. Valeu pela companhia e pelos comentários sempre criativos, emocionados e, sobretudo, especializados. Valeu mesmo galera. Contudo, vou dar uma cornetadinha que ninguém é de ferro, né? Senti falta de Geração Coca-cola, Eduardo e Mônica, Faroeste Caboclo e Metal Contras as Nuvens nas fases finais. Mas está de bom tamanho. As finalistas são grandes canções de dois belos discos. Não vou me alongar nos comentários propriamente ditos. Neste jogo para mim ganha Tempo Perdido de 2 a 1.
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Cly Reis
Pelas mesmas virtudes que a fizeram eliminar Índios, aquele riff inicial matador, a letra repleta de figuras de linguagem utilizadas de maneira poética e perfeita, o ímpeto final a partir do "então me abraça forte..." e aquele somos tão jovens que, mais que um verso transformou-se numa espécie de epígrafe da banda, sem falar na, profundidade, na permanência e na dimensão do sucesso alcançado, Tempo Perdido derruba a ótima Há Tempos, que também tem grandes virtudes, muitas até parecidas, mas que não são páreo para as da oponente. Tempo Perdido faz 2x0. Mas não um 2x0 fácil. É aquele de um gol no primeiro tempo quando o jogo estava equilibrado e o segundo só lá pelas tantas depois de quase ter sofrido o empate por diversas vezes. Pra mi, Tempo Perdido é a campeã.



TEMPO PERDIDO CAMPEà


vídeo de Tempo Perdido - Legião Urbana