Muita gente prefere o cultuado “Nowhere”, álbum de estreia dos ingleses do Ride, mas, particularmente, tenho um carinho todo especial e uma grande admiração pelo ótimo “Going Blank Again” de 1989. Embora seu antecessor seja inegavelmente bom, um clássico do shoegaze britânico, “Going Blank Again” soa mais radiante, mais luminoso, mais aberto.
Um órgão ecoando, uma virada de bateria, uma linha de baixo sinuosa e as guitarras rasgando estridentes apresentam a maravilhosa “Leave Them All Behind”. O vocal em coro de Andy Bell e Mark Gardener se encarrega de dar toda uma monumentalidade à canção, enquanto os solos psicodélicos, os rolos e as pratadas constantes conferem um gostoso ar de jam session à faixa de abertura que, de cara, já se apresenta como uma das grandes do álbum.
Provavelmente pelo efeito extasiante da faixa inicial, as seguintes “Twisterella” e “Not Fazed” e “Chrome Waves” podem dar a falsa impressão de serem menos interessantes, mas assim que o ouvinte se recupera da sensação estonteante da abertura e depois de algumas audições um pouco mais atentas a impressão facilmente é rechaçada, especialmente em relação a “Not Fazed”, faixa elétrica, cheia de energia, conduzida por um riff cativante. Mas se mesmo com uma observação mais cuidadosa, de alguma forma o sentimento persistir, com certeza será desfeito logo em seguida pela empolgante “Mousetrap”, uma adorável canção delineada por uma belíssima melodia vocal em coro da dupla Bell e Gardener; e pela espetacular “Cool Your Boots”, outra que justifica a grandeza do álbum, com uma inspirada linha de guitarras ruidosas e rascantes, incrementada por pedais wah-wah, mas cujo ponto alto, no entanto, se dá no seu trecho final quando a bateria alterna o ritmo cadenciado da canção com breves acelerações ao estilo punk, culmina num final apoteótico.
A simpática “Making Judy Smile” é uma daquelas canções de transição como todo grande disco tem, fazendo uma espécie de ponte para o segmento final quando outros dois grandes momentos se afiguram: as espetaculares “Time Machine”, e “OX4”. A primeira, surgindo com uma introdução de teclado viajante, algo meio “espacial”, seguido por uma linha de baixo dub, que quebrada por uma marcação no aro da bateria, irrompe agora sim, em um baixão com distorção, contrapondo com guitarras que desta vez aparecem puras e limpas, acompanhadas por uma programação de teclado contínua que pontua com magia e levez toda a canção. E se a difícil tarefa de finalizar bem um álbum de qualidade como “Going Blank Again” ficaria a cargo de “OX4” ela não decepciona e o faz de forma perfeita numa das canções mais belas e inspiradas do disco. Com uma introdução de teclados bem psicodélica, uma levada apaixonante e outra linha de baixo muito envolvente, a faixa conta com um trabalho de guitarras excepcional, dobrando e soando como bandolins em alguns momentos assumindo assim um certo tom de grandiosidade e, por fim, desfazendo-se num belíssimo solo de guitarra que some silenciando aos poucos, já deixando vontade de ouvir de novo.
À parte qualquer questão pessoal por ser “Going Blank Again” um dos meus xodós, ele não entra nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS por uma questão meramente pessoal. Ride é um dos grandes representantes do rock inglês produzido no final dos anos 80 e o álbum um dos melhores exemplares do britpop, deixando um pouco de lado o ranço de alguns de seus colegas e compatriotas, e jogando um pouco de luz na obscura cena musical britânica daquele momento.
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FAIXAS:
1. Leave Them All Behind (Ride, Gardener) 8:18
2. Twisterella (Ride, Gardener) 3:43
3. Not Fazed (Ride, Bell) 4:25
4. Chrome Waves (Ride, Bell) 3:55
5. Mouse Trap (Ride, Gardener) 5:15
6. Time Of Her Time (Ride, Bell) 3:17
7. Cool Your Boots (Ride, Bell) 6:04
8. Making Jody Smile (Ride, Bell) 2:39
9. Time Machine (Ride, Gardener) 5:55
10. OX4 (Ride, Gardener) 7:04
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Ouça:
Ride Going Blank Again