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quarta-feira, 10 de abril de 2024

Música da Cabeça - Programa #365

Na semana em que Krenak virou imortal e Ziraldo se imortalizou, a gente faz uma homenagem ao genial cartunista reprisando nosso episódio 360, que fala especialmente de quadrinhos (y otras cositas más) na entrevista com o historiador e colecionador Christian Ordoque. Mais vivo do que nunca, o MDC vai ao ar na maluquinha Rádio Elétrica. Produção, apresentação e fardão: Daniel Rodrigues


www.radioeletrica.com

segunda-feira, 8 de abril de 2024

"Maluquinho por festas", "Maluquinho por Arte", "O Diário da Julieta" e "Coisas de Menina", de Ziraldo - ed. Globinho (edição de 2006)

 


Ziraldo, cartunista que nos deixou no último sábado, um dos maiores nomes da arte, jornalismo, letras da história deste país, de uma forma ou de outra, esteve presente em nossas vidas em algum momento. Para mim, embora sempre tivesse a admiração pelo traço e pelos personagens do artista que apareciam não somente em suas obras mas ilustrando revistas, capas de livros, propagandas, etc. campanhas publicitárias, etc., só vim a ter mesmo um contato mais próximo, mesmo, tardiamente, com minha filha.

Ainda não totalmente alfabetizada e tendo sido presenteada com uma pequena coleção de publicações temáticas do Menino Maluquinho e da Julieta, lia com ela, à noite, antes de dormir, as histórias daquela turminha e todas as suas confusões e trapalhadas. Travessuras, zoações, namoricos, fofocas, competições, brincadeiras, tudo estava presente de forma muito doce e emocional naqueles quadrinhos de Ziraldo. Repetíamos várias vezes a leitura de uma mesma história, poucos dias depois de a termos lido, de tão gostosas que eram as aventuras do Maluquinho e sua galerinha. 

Agora, com o falecimento de Ziraldo, perguntei à minha filha se ainda tinha as HQ's, ao que ela prontamente me respondeu que sim. Foram páginas que fizeram parte da infância dela e, por conta desses momentos únicos de proximidade e cumplicidade, da minha vida também.

Além de toda sua contribuição para a arte e cultura brasileira, obrigado por isso também, Ziraldo: por proporcionar esses momentos maravilhosos entre pais e filhos, que tenho certeza, não aconteceram só lá em casa, mas em muitos outros lares por aí também.


Vai em paz, Ziraldo!



Cly Reis

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

COTIDIANAS nº 654 - Especial Dia do Saci - Saci Pererê



Vou prestigiar o time do Saci-Pererê
Ê, ê, ê, ê, ê
Saci de Ziraldo
Vou prestigiar
O neguinho deve ser da grande escola Pelé
É, é, é, é, é
Vou prestigiar

O moleque Saci-Pererê com uma perna só
Ó, ó, ó, ó, ó
Vai ver que é melhor
Do que muitos por aí com duas pernas-de-pau
Ah, ah, ah, ah, ah
Vai ver que é melhor

Entra um time novo, troca o time inteiro, muda tudo
Tem jeito não
Falta alguma coisa tipo liberdade, profissão de fé
Devoção
Vou buscar a fantasia no conto da carochinha
Com a varinha de condão

Moleque Saci
Vou prestigiar
Um gol Pererê
Pra gente vibrar

Moleque Saci
Saci-Pererê
Um gol de Pelé
Que é pra gente ver

***************

"Saci-Pererê"
Banda Black Rio
(música: Gilberto Gil)

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

“Pequeno Cidadão” - Arnaldo Antunes, Antonio Pinto, Edgar Scandurra e Ticiana Barros (2009)




“É sinal de educação
Fazer sua obrigação
Para ter o seu direito
de pequeno cidadão”.
refrão da música "Pequeno Cidadão"




Por um bom tempo, parecia que os memoráveis especiais de música infantil da Globo, os quais geralmente viravam LP’s de grande sucesso de público e vendas, tinham terminado. Do final dos anos 80 até a entrada do século XXI, estes ricos especiais como "A Arca de Noé" ou “Pirlimpimpim” sumiram das telas e das lojas – à exceção de “Castelo Rá-Tim-Bum”, único resistente dos anos 90. No mesmo período, não tão coincidentemente assim, os pequenos passaram a ficar cada vez mais emburrecidos pela computadorização limitadora do conteúdo educativo-cultural, desassistidos pelo desleixo das escolas e perdidos entre a superproteção e o desinteresse da “nova família” brasileira de classe média. Espaço para a criatividade, para o exercício do lúdico, para a valorização das coisas bonitas da vida – amigos, família, natureza, arte – restaram escanteados. Para que lançar produtos que elevam essas coisas “do passado”, já que não tem consumidor para tal? Resultado: desvalorização e consequente idiotização da criança.

A salvação veio a pouco mais de 10 anos pelas mãos dos paulistas da geração anos 80 – alguns dos responsáveis por, na minha infância/adolescência, fazerem-me aprender a gostar de música. São eles os criadores de um dos melhores exemplos de uma nova visão da condição infantil: “Pequeno Cidadão”. Desde este primeiro CD do conjunto, lançado em 2009, reúnem pais músicos e “mais um monte de filhos”, como eles mesmos dizem. Os protagonistas são alguns dos principais nomes da música brasileira daquela década para cá: o ex-Titã Arnaldo Antunes, o cabeça do Ira! Edgar Scandurra, a ex-Gang 90 Ticiana Barros e o multi-instrumentista Antonio Pinto (autor de várias e ótimas trilhas sonoras de filmes como “Cidade de Deus”, “Central do Brasil” e “Colateral”).

O grupo faz um som baseado no rock mas que investe também na psicodelia e nos ritmos brasileiros, passando pelo pop, funk e eletrônico. Conceitualmente, “Pequeno Cidadão” encerra a ideia de uma educação infanto-juvenil comprometida com o ser humano e com o planeta, sem perder o lado legal da brincadeira e da modernidade – ou seja, sem deixar esse “comprometimento” virar uma coisa chata e somente pró-forma. As músicas trazem como temas coisas normais (ou que deveriam ser normais) do universo infantil: alegrias, dúvidas, bichos, desafios, tristezas e aquilo que move a todos (ou deveria mover): amor. Afinal, criança não precisa de música bobinha: ela pode muito bem curtir um rock ‘n’ roll com poesia que lhe faça pensar. Multiplataforma e ativo, “Pequeno Cidadão” é, no entanto, mais do que apenas só música: o projeto conta com um segundo CD (2012), um precioso DVD de animações de todas as faixas do primeiro volume e quatro livros temáticos, além de jornal online e várias ações culturais que promovem em São Paulo. Tudo com ilustrações de Jimmy Leroy, que dá uma assinatura plástica muito peculiar em todos os materiais.

Uma das lindas artes de Jimmy Leroy.
Pontapé inicial do projeto, este CD começa pela faixa que lhe dá nome e que, de certa forma, o sintetiza, pois expressa a ideia de formar uma criança com responsabilidades mas a deixando ser aquilo que ela é: criança. E como Vinícius de Moraes ensinou: não duvidando da inteligência delas. Arnaldo, acostumado a escrever para esse público desde os Titãs, pratica isso se valendo de figuras de linguagem como anáforas, repetições no início de cada frase, e, principalmente, de anástrofes – e aí está já uma das sacadas pedagógicas da turma: mostrar para a criança a riqueza da língua portuguesa. A anástrofe é um caso especial dentro de nossa gramática, pois usa a inversão de maneira incomum: trocando sujeito e predicado, surpreende com a lógica que forma. Na letra, tudo que é brincadeira vira dever e vice-versa, estabelecendo uma dialética de correlação e não de condicionamento entre ambos. Por exemplo, o verso “Agora pode fazer a lição” ganha sentido de um consenso entre pais e filhos e não de obrigação como geralmente se entende daquilo que não é diversão. Em contrapartida, “Agora tem que jogar videogame” passa a ter a ideia de um convite à brincadeira, rejeitando o famigerado “tenke” imposto pelos mais velhos. Além de tudo, a música é um rock embalado e pegajoso, cujo gostoso refrão o resume clara e brilhantemente: “É sinal de educação/ Fazer sua obrigação/ Para ter o seu direito de pequeno cidadão”.

Antonio Pinto, coautor da primeira faixa, assina com Ticiana uma das mais lindas canções (infantis? De amor? Da música brasileira deste século?) do álbum: “O Sol e a Lua”. A música emociona a mim e a muitas pessoas que conheço, sejam crianças ou adultos. É um pop-rock cantado por ele e por um dos meninos, além do coro das crianças no refrão e das recitações na voz grave de Arnaldo. Voltada para os mais crescidinhos, fala sobre um acontecimento que ocorre com todo mundo na pré-adolescência: o amor não retribuído, aqui personificando nos dois astros. Apaixonado, o Sol pediu a Lua em casamento e disse que lhe amava há muito tempo, mas a Lua respondeu que seu coração não pertencia a ninguém, pois ela só servia para inspirar os casais, “dos grandes poetas aos mais normais”. O Astro-Rei, claro, ficou na fossa. Desesperado, foi pedir ajuda até para o Vento, que, apressado, nem parou para lhe escutar. Foi então que: “O Sol sem saber mais o que fazer/ Tanto amor pra dar/ E começou a chorar/ E a derreter/ E começou a chover, e a molhar/ E a escurecer”. E não é assim mesmo que nos sentimos quando ficamos tristes por amor: derretidos e sem brilho? No final, o consolo dito na delicadeza da voz infantil: “Se a Lua não te quer, tudo bem/ Você é lindo, cara/ E seu brilho vai muito mais além/ Um dia você vai encontrar alguém que com certeza vai te amar também”. Poesia da maior singeleza.

A doce canção de ninar “Meu Anjinho”, de Ticiana (“E aqui dentro/ no escurinho/ nos braços desta canção/ vou te ninar...”), se alinha à outra das ótimas do disco, o gostoso xote “Leitinho”, a qual traz a mensagem de que “um leitinho é muito bom” pro bebê e pros pais, pois, depois, vem aquele compensador “soninho” que descansa toda a família. Impossível não lembrar-me de uma vez com minha sobrinha Luna ainda pequena, com pouco mais de um ano, quando cantei essa música para ela, sabendo que gostava e que seu pai, meu irmão, costumava cantar-lhe e pô-la para ouvirem. A surpresa pura que ela ficou quando identificou que era a mesma música que o papai cantava foi engraçado e emocionante.

A funkeada “O ‘X’” e a agitada “Sobe Desce” são pura diversão, duas brincadeiras com palavras, letras e suas sonoridades. Mais pedagógica e profunda é “Tchau, Chupeta” (de Ticiana e Arnaldo), que versa sobre uma das maiores revoluções pessoais pela qual o passamos na infância: o momento de largar o bico. O complexo tema, que especialistas há muito discutem – os limites da chamada “fase oral” e a troca (nem sempre exitosa) de um substituto simbólico do seio materno –, é colocado de uma forma absolutamente poética e lúdica, propondo à criança nesse necessário rompimento o desapego em nome de uma nova fase de vida. “Todo mundo tem seu tempo de mamar”, diz um dos versos. Graciosa, a letra lança várias suposições de forma a demonstrar à criança que a chupeta não combina mais com alguém que não é mais neném: “Já pensou uma mãe chupando chupeta?/ Já pensou um pai chupando chupeta?/ E uma vó de bobs e chupeta?/ E um vovô de bengala e chupeta?”. E a proposta para deixar a tal peta? Libertar-se dela jogando-a no mar para, enfim, poder cantar “sem uma tampa de borracha pra atrapalhar”. O assunto é tão importante e passível de desdobramentos que virou um dos livros do projeto, de 2011 (Ed. Leya).
A banda Pequeno Cidadão, com os grandes e os baixinhos.

O tom educativo segue de outras formas. Tem as ecológicas “O Uirapuru”, bossa-nova que remete à “Passaredo”, de Chico Buarque, e a “Passarim”, de Tom Jobim, revelando a beleza linguística quase despercebida pelos brasileiros do tupi-guarani; e “Sapo-Boi”, um divertido rock ‘n’ roll urbano de Scandurra cantado por seu filho Lucas: “Se eu fosse o prefeito aqui da capital/ Pegava o sapo-boi e espalhava pela marginal (...)/ A dengue não passa de um mês/ pois o mosquito é o prato da vez”. Por falar em bichos, a punk-rock “Larga a Lagartixa”, além de ser mais uma quebra de paradigma – afinal, é saudável criança também gostar de barulho –, é igualmente educativa, uma vez que a frase principal, dita da forma acelerada para acompanhar o ritmo frenético, torna-se um trava-línguas, bom exercício para a garotada treinar a dicção.

Outra das mais queridas do disco é "Bonequinha do Papai", a qual minha sobrinha Luna gosta até hoje. Tecno bem dançante, põe a meninada na pista! Alem do mais, seu premiado videoclipe, algo como um retrô-futurista com desenhos estilo anos 20 (mas com uma animação dinâmica e moderna), é uma verdadeira obra-de-arte, o qual assisti pela primeira vez no Dia Internacional da Animação, em 2010.

Mas, claro, não podia faltar o futebol, esporte tão gostado no Brasil e praticado por meninos e meninas. Identifico-me com as duas faixas que tratam desse tema por trazerem-me lembranças de tempos passados. A primeira é mais uma bossa-nova: “Futezinho na Escola”, motivadora de outro dos livros do projeto, “1 drible, 2 dribles, 3 dribles — A história do futebol e outras informações interessantes”, de Marcelo Rubens Paiva (Companhia das Letrinhas, 2014). Nela, Scandurra aborda o que a mim era um corriqueiro hábito no 1º Grau: bater uma bola com os colegas na cancha da escola antes de começar os estudos. A letra descreve com muita sensibilidade as sensações e a dinâmica de um jogo: “O último lance, vâmo logo, passa a bola/ Recebi, quase perdi pro ladrão que eu nem vi/ Chegou primeiro pedalei e passei/ Chegou o segundo e eu também driblei/ Veio o terceiro e eu fiz uma tabela/ Tô livre parceiro, vou chutar de trivela/ É gol!”. Mas tem a hora do divertimento e a do dever. Acaba-se o jogo rapidinho, pois agora é preciso correr para ir a outro compromisso: a aula de português.

Tratando ainda do esporte bretão e fechando o disco, "Carrinho por Trás" é mais uma de Scandurra e novamente um samba. Neste caso, um partido-alto. Com uma pegada carioca e eletrônica, faz-me recordar de outra época, esta, da adolescência, quando jogávamos nos campos de várzea com nosso time de amigos, a Juventus. O universo das peladas é muito bem captado pelo compositor, que pega como mote um dos polêmicos lances que acontecem nas partidas: o carrinho (segundo a definição de Rubens Paiva, extraída do livro: “o jogador se lança no gramado e, deslizando pelo chão, tenta tirar a bola do adversário, arremessando os pés na direção dele.”). Como pode acarretar em uma jogada violenta, o carrinho é mal visto, ainda mais que nem todo jogador tem boas intenções e nem todo zagueiro tem habilidade para executá-lo. Eu, da posição, tenho lá minhas dificuldades, confesso. Porém, a canção fala sobre um defensor que entende do negócio: “O carrinho é perigoso/ No mínimo um tanto suspeito/ Mas se você acerta na bola/ É aplaudido com muito respeito”. João Nogueira merecia estar vivo para gravar essa música. Como extra, ainda tem “Pererê”, com participação do cartunista e escritor Ziraldo declamando um texto seu.

Ao escutar uma obra como essa, fica a sensação de que nem tudo está perdido no que se refere a conteúdo cultural para criança. Afora “Pequeno Cidadão”, outro projeto da mesma época, Adriana Partimpim, da cantora e compositora Adriana Calcanhoto, também teve continuidade e conquistou o público. No meu círculo, percebo, inclusive, que não são poucas as crianças que gostam de um ou de outro, desde Luna até outros pequenos que conheço como Bento, Dora e Gabriel. Bom sinal. Sinal de que há uma geraçãozinha aí antenada e bem orientada. Além disso, de que existe uma consciência do valor das coisas importantes da vida (muitas vezes, as simples), que não se resumem a consumo e tecnologia. Iniciativas como estas se mostram sintonizadas com tal mentalidade. E neste Dia das Crianças, é um alento perceber gente consciente de que, para se exercer a cidadania no mundo de hoje, começa-se desde cedo.
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FAIXAS:
1. Pequeno Cidadão
2. O Sol e a Lua
3. Meu Anjinho
4. Futezinho na Escola
5. O ´x´
6. Tchau Chupeta
7. Sapo-boi
8. Leitinho
9. Larga a Lagartixa
10. O Uirapuru
11. Sobe Desce
12. Bonequinha do Papai
13. Carrinho Por Trás
14. Pererê (extra)

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OUÇA O DISCO E VEJA OS CLIPES:



domingo, 29 de agosto de 2010

Zeróis - Ziraldo na Tela Grande - CCBB - Rio de Janeiro




Dei um pulo no CCBB hoje à tarde e dei uma olhada nas exposições que estão rolando por lá. Uma da pintora Anita Malfati, outra do pesquisador Langsdorf, mas a que eu curti mesmo foi a do cartunista Ziraldo. Nela, em grandes painéis pintados em acrílico, o artista faz referências de arte, do mundo pop, faz suas habituais ironias e crítica sociais e contextualiza momentos históricos através das figuras dos super-heróis clássicos, utilizando-se de imagens que já estamos acostuamados a ver, mas ali, com outra roupagem. Bacana, principalmente a adaptação da "Maja" de Goya, como Mulher-Maravilha. Uma interessante recriação artística.
Um grande barato. Vale a pena ver.

Alguma semelhança com 'La Maja'?



E aí, Wahol?



  






Heróis americanos (?)




















E aqui, o "nosso herói" compondo o painel.





















Cly Reis