Comemora, Brian de Palma! Invicto nos mata-mata. Também, né, com a ajuda do Tony Montana...
Começou por causa da Copa do Mundo, período em que normalmente fazemos posts relacionados a futebol. Era uma brincadeira, fazendo como se a comparação de um filme com sua refilmagem, fosse um jogo de futebol. As virtudes e as fraquezas de cada filme, avaliados como se fossem times, seus roteiros, esquemas táticos, seus diretores técnicos. A ideia era encerrar a seção uma vez findado o ano de Copa, só que era tão divertido falar de cinema em linguagem de futebês que não tinha como parar por ali e aí emendamos uma segunda temporada. Depois disso a seção já estava oficializada e era inevitável que continuasse e seguisse para uma terceira temporada. E, assim, a Clássico é Clássico (e vice-versa) entrou mais um ano com novos embates cinematográfico-futebolísticos emocionantes e, se nos anos iniciais os originais passaram por cima dos remakes como o trem do filme do Lumière, nesta terceira temporada, as refilmagens mostraram mais competitividade e, embora continuem perdendo no geral, equlibraram as ações e, como um terror-soft, até meteram um pouquinho de medo nos originais.
No que diz respeito a diretores, como curiosidade, apenas dois deles conseguiram 100% de aproveitamento considerando mais de um confronto, é claro. Somente Brian De Palma, com "Carrie" e "Scarface", e Paul Verhoeven, com "Vingador do Futuro" e "Robocop", tiveram duas vitórias nas duas contendas em que estiveram envolvidos. Já Zack Snyder e Don Siegel, também tiveram dois jogos mas cada um só conseguiu uma vitória.
Embora tenhamos feito uma breve estatística dos confrontos no final do segundo ano, não nos demos ao trabalho, no entanto, de examinar e de dar um maior destaque ao placar geral. Então é hora de organizar as coisa e botar esses números em ordem: primeira temporada, a segunda, o somatório geral, diretores mais assíduos, os que mais venceram e tudo mais que for interessante. Vamos repassar as tabelas dos três últimos certames porque o ano tá começando e a temporada 2021 já tá pra começar.
2018
A primeira temporada teve apenas 9 jogos e apontou uma evidente supremacia dos filmes originais sobre as refilmagens, com destaque, na temporada para a maior goleada até aqui, o 11x0 do "Ben_Hur" de William Wyller sobre o fraquíssimo desafiante de 2016.
2019
A segunda temprada também teve apenas 9 partidas e trouxe o primeiro empate na nossa disputa filme contra filme. Nenhum dos "Bravura Indômita" conseguiu domar e montar o adversário.
2020
Já o ano que passou, teve o número de jogos das duas temporadas anteriores somadas e, por mais que os remakes tenham dado uma boa reagida, ainda tem que se conformar em não conseguir superar os originais (por enquanto). Curiosidades nesta temporada foram os dois confrontos de filmes de mesmo diretor ("Gloria" x "Gloria Bell", ambos de Sebastián Lelio, e "A Garota de Rosa-Shocking" x "Alguém Muito Especial", os dois de Howard Deutch), os dois placares mínimos nos confrontos dos dois "12 Homens e Uma Sentença" e dos dois "Black Christmass", e o incrível confronto dos Dráculas com uma vitória pra cada lado e empate no placar agregado. No total, uma vitoriazinha apertada dos originais, bem diferente do que acontecera nos anos anteriores.
No geral, os originais ainda gozam de boa vantagem, mas é bom ficarem espertos. Os remakes estão reagindo.
Sabe aquela máxima do futebol que diz que "em time que está ganhando não se mexe"? Pois é,... não se aplica se John Hughes for o cartola. Depois do sucesso de "A Garota de Rosa-Shocking", o produtor e roteirista, insatisfeito com o produto final e contrariado pelo fato do desfecho original, escrito por ele, ter sido mudado para agradar o público, resolveu, um ano depois, rodar outro filme, "Alguém Muito Especial", para fazer as coisas do jeito que realmente queria. Para isso resolveu trocar toda a comissão técnica, demitindo, num primeiro momento, até o treinador mas voltando atrás logo em seguida e dando a ele, novamente, o comando do projeto. Ambos os filmes foram dirigidos por Howard Deutch, que na primeira versão fez um filmes típico de adolescentes dos anos 80, bem ao estilo de John Hughes, como em "Gatinhas e Gatões", "Mulher Nota 1000", "Curtindo a Vida Adoidado, bem descontraído, colorido, com personagens bem carismáticos, ritmo ágil e uma trilha sonora recheada de hits da década. Já na segunda versão, embora mantenha o clima juvenil, gere situações engraçadinhas, Deutch conduz um filme mais sério e com abordagens um pouco mais profundas sobre as relações humanas, dinheiro, futuro, aparências e escolhas pessoais e profissionais. Uma diferença crucial é a mudança do gênero dos personagens principais de um filme para o outro: enquanto no primeiro a protagonista é uma garota, Andie, que é vidrada no bonitão ricaço da escola; no segundo, até para dar uma virada geral no panorama, o personagem central é um rapaz, Keith, cujo alvo é uma bela garota, Amanda Jones, que até não é tão endinheirada, mas só anda com a classe alta. No primeiro, Blane, o boa pinta, até está a fim de Andie e arrasta uma asa violenta pra ela, mas se leva muito pelas aparências e no que vão pensar os amigos e a família rica; Amanda, por sua vez, no remake, parece inalcansável num primeiro instante, com um namorado risquinho e babaca e andando com a turminha esnobe da zona nobre da cidade. No entanto, em ambos os casos, nossos heróis estão tão cegos com a beleza dos seus desejados que não percebem que o verdadeiro amor está debaixo dos seu narizes. Duckie, o engraçado e esquisitão amigo de Andie é até contundente em alguns momentos e não esconde dela sua paixão; já a alternativa baterista Watts, embora mais discreta quanto a seus sentimentos, até disfarçando, se escondendo, fazendo beicinho, também não deixa de transparecer o que tem em seu coração. Assim, escalados, os dois times entram em campo. O time de rosa-choque sai na frente por uma jogada individual. Molly Ringwald, uma das atrizes símbolo dos anos 80 e, no caso particular, uma protagonista bem mais marcante do que é Eric Stoltz na refilmagem, assume o protagonismo do jogo e tira o primeiro zero do placar. Só que a refilmagem, com um esquema de jogo mais bem mais pensado, com um conjunto melhor, empata o jogo.
"A Garota de Rosa-Shocking"
Duckie na loja de dicos dublando "Try a Little Tenderness"
"Alguém Muito Especial"
Watts ensinando Keith a beijar
Em outra jogada individual, Duckie, numa performance incrível na cena da loja de discos, em que dubla "Try a Little Tenderness", de Otis Redding, marca o segundo para o time original. Mas se o melhor amigo de lá marca um, o do remake responde também com o seu. Mary-Stuart Masterson, como Watts, está tão espetacular que chega a dar vontade de pegar no colo e consolá-la cada vez que ela chora ou se decepciona pelo amigo. Sua atuação de luxo é outro gol para a segunda versão. 2x2. Mas aí vem a trilha sonora do filme de 1986 e aí é um golaço. É New Order tabelando com Echo and The Bunnymen, tocando para Otis Redding, que passa pra The Smiths, que rola para OMD e... toca a múúsicaaaa! 3x2 para "A Garota de Rosa-Shocking". Mas se o quesito é música, a referência aos Rolling Stones nos nomes dos três personagens principais, Keith, Jones e Watts garante novo empate para "Alguém Muito Especial". 3x3. Jogo se encaminhando para o final. A segunda versão quer ser melhor e para isso a cartolagem intervém. A ordem vem lá de cima, da sala da diretoria, e o técnico do time de 1987 obedece e queima sua ultima troca. Sobe a placa: sai o final em que um protagonista fica com um personagem dos sonhos e entra o final em que o protagonista fica com quem realmente o merece. Gol do remake! Golzinho chorado , aos 44 do segundo tempo. Que virada!
A torcida vaia o resultado, acha injusto. Mas não adianta, o time de 1986 é mais badalado mas o de 1987 é melhor.
Substituição: Sai "final de conto de fadas" e entre "final mais justo e realista". Vitória com o dedo do treinador (mas com a mão da diretoria).
A Garota Rosa até pode ser a queridinha da galera, mas descobriu que tem alguém que é mais especial.