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quarta-feira, 12 de julho de 2023

Música da Cabeça - Programa #326

 

Evoé, MDC! Na roda viva da vida, a arte perde ZÉ CELSO, mas ganha a afirmação de sua eternidade. Celebrando este sempre, o programa traz ele e muitas outras peças, que vão de MY BLOODY VALENTINE a TIM MAIA, de CAN a GERALDO AZEVEDO, de ZÉ MIGUEL WISNIK a ANDRÉ ABUJAMRA. Desafiando a plateia, subimos ao palco hoje às 21h na inquieta RÁDIO ELÉTRICA. Produção, apresentação e "merda!": DANIEL RODRIGUES.



quarta-feira, 22 de junho de 2022

Música da Cabeça - Programa #272

 

É McCartney, é Chico, é Bethânia, é Ray, é Brian, é Hermeto, é Ivan...! Quanta gente pra celebrar esta semana! Mas deixa que a gente dá um jeito. No MDC de hoje, além de rodar alguns destes aniversariantes, ainda teremos David Bowie, Geraldo Azevedo, Zeca Pagodinho, Reverend Horton Heat, Sinéad Oconnor e mais. Também tem quadro móvel e fixo, de Música de Fato a Sete-List. Não deixa de apagar as velinhas com a gente hoje, 21h, na comemorativa Rádio Elétrica. Produção, apresentação e rá-tim-bum: Daniel Rodrigues.



Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Música da Cabeça - Programa #145


A democracia anda dando vertigem em muita gente por aí. Mas vertiginoso mesmo é o Música da Cabeça de hoje! Sente só o que terá: Small Faces, João Gilberto, João Cabral de Melo Neto, U2, Curtis Mayfield e mais. Tem também “Sete-List” sobre o grande baterista Neil Peart, falecido esta semana, e homenagem a Geraldo Azevedo. Sentiu uma tonturinha? Fica tranquilo: é só ouvir o MDC, às 21h, na Rádio Elétrica que passa. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues. Foi golpe.



Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS ESPECIAL 11 anos do Clyblog - Zé Ramalho - "Zé Ramalho 2" ou "A Peleja do Diabo com o Dono do Céu" (1979)



"Foi o meu segundo disco. Veio implacável, com letras furiosas e políticas, ditas num tom profético e nordestino, passando para a época uma fornada de músicas, que marcaram a minha carreira para sempre." 
Zé Ramalho

Quanto mais o tempo passa, mais nos damos conta de que ele na verdade voa mesmo... Quando penso que se passaram 40 anos desde que gravamos esse lendário LP (permitam-me...), chega a ser difícil de acreditar.

Zé Ramalho tinha “estourado” para o grande público no ano anterior, 1978, com “Avôhai”, “Vila do Sossego”, “Chão de Giz” e tantos outros sucessos que são cantados até hoje. Já tínhamos começado a entrar em uma rotina de shows e viagens que só cresceria nos anos seguintes. A banda que o acompanhava, da qual eu fiz parte durante inesquecíveis cinco anos, já estava com um grande entrosamento, justamente por conta da sucessão de shows que fazíamos por todo o país. Com isso, a entrada em estúdio para gravar foi algo feito com muita tranquilidade e segurança. Quero dizer, com muito ensaio mesmo...

O saudoso estúdio da não menos saudosa CBS, situado no centro do Rio de Janeiro, era a nossa casa: lá tínhamos um espaço para ensaios onde preparávamos o repertório para os shows – e também para os discos. No fundo do corredor do clássico prédio, o enorme pé direito de um estúdio imenso, mas com apenas oito canais de gravação. Isso nos dias de hoje é quase incompreensível pelas novas gerações que só conheceram os equipamentos digitais. O “nosso” era analógico mesmo. E só oito canais mesmo...

Mas o equipamento era excelente e os técnicos também, então tudo fluía como se estivéssemos em casa. E de certa forma, estávamos: Zé Ramalho estava se tornando o principal artista da gravadora, e trazia consigo uma galera de respeito, já com “nome na praça”, mas às vésperas de alcançarem seus grandes sucessos individuais: Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Amelinha, Cátia de França, entre tantos outros. Com tudo isso, a CBS estava totalmente voltada para esse time, e proporcionava as melhores condições para que pudéssemos trabalhar com calma.

E a capa do disco? Com sua original criatividade, Zé Ramalho convidou a excêntrica e genial figura de Zé do Caixão para representar o Diabo, enquanto ele próprio, vestido de branco, assumia o papel do “Dono do Céu”. A encenação da peleja para a foto de capa, com Zé Mojica Marins e suas enormes unhas diabólicas e duas lindas atrizes, Xuxa Lopes e Monica Schmidt cercando ambos, é um registro inesquecível na memória de todos nós que vivemos aquela época.


Arte do encarte e da capa do disco de autoria de Zé Ramalho
em parceria com o cineasta "udigrudi" Ivan Cardoso
Comandando essa galera toda estava o produtor Carlos Alberto Sion, assistido por Lygia Itiberê e por meu irmão Marcelo Falcão, que posteriormente se tornaria empresário e produtor do grande Moraes Moreira. O pianista, compositor e arranjador Paulinho Machado cuidava dos arranjos de base junto com o próprio Zé Ramalho, e se encarregava dos arranjos de orquestra, mestre que era das partituras e do bom gosto.

A sensação que tínhamos, como músicos da banda, era de uma grande animação, por percebermos que estávamos testemunhando ao vivo a ascensão de um grande artista, e nós fazíamos parte dessa interminável aventura.

Por trás da mesa de som, Manoel Magalhães, com a paciência de um monge, e Eugênio de Carvalho, aquele que perdia o amigo, mas não perdia a piada, conduziam as sessões com a habilidade de dois mestres da engenharia de gravação com anos de estrada.

No repertório, além da música-título, outros futuros sucessos já se enfileiravam: “Frevo Mulher” já mostrava sua primeira versão, mas que acabou explodindo mesmo pouco tempo depois na voz de Amelinha.
Waldemar, em 1981, em show com
a banda de Zé Ramalho

“Admirável Gado Novo” era outro sucesso aguardando a sua vez de entrar em cena. Lembro-me como se tivesse sido ontem uma noite, em 1978, quando Zé Ramalho bateu no meu quarto de hotel para me mostrar em primeira mão a “Vida de Gado” que tinha acabado de compor. Nós, na época, fazíamos o show de lançamento do primeiro disco em São Paulo e já se pressentia todo o sucesso se aproximando.

“Falas do povo”, uma homenagem a outro conterrâneo famoso, Geraldo Vandré, resumia sua força poética em dois versos simples e diretos do seu refrão: “falo da vida do povo/nada de velho ou de novo”.

A linda “Beira Mar”, que como diz o título, é um “Galope à Beira-Mar”, um dos formatos poéticos mais utilizados pelos cantadores nordestinos, também estava no repertório. Aprendi com meu compadre Zé (sou o orgulhoso padrinho de sua filha caçula, a Linda, outra artista de grande personalidade) todas as regras destes modos poéticos dos repentistas e cantadores: além do “Galope à Beira-Mar”, existem o “Martelo Alagoano”, o “Martelo Agalopado”, entre muitos outros martelos e galopes.

Lembro-me também com clareza – e sei de cor até hoje – um martelo alagoano que escrevi para ele quando estávamos em Porto Alegre em 1981 numa turnê do saudoso Projeto Pixinguinha e ele completava trinta e dois anos de idade. O aluno mostrando para o mestre que aprendeu a lição direitinho. Aí vai:

"Aproveito feliz ocasião
Pra saudar meu amigo Zé Ramalho
Companheiro de vida e de trabalho
Na batalha diária pelo pão.
Como artista é um grande criador
Seja em prosa, em canto ou em verso
É autor de inúmeros sucessos
Na sua voz de moderno cantador.
Lá do Brejo do Cruz paraibano
Caminhou sob as vistas de Avôhai
O seu velho irmão, avô e pai
Que o viu nascer há 32 anos.
Aproveito o vento minuano
Não preciso usar o dicionário
Lhe desejo Feliz Aniversário
Nos dez pés de martelo alagoano”.

Apesar dos quarenta anos de estrada, todas estas lembranças permanecem vivas na minha memória, e o melhor de tudo, a amizade continua a mesma. No ano passado, quando foi lançada uma regravação de todo este repertório com “apenas” a voz de Zé Ramalho e o seu firme violão, recebi na dedicatória que ele escreveu para mim: “Para o Mazinho, com quarenta anos de música e amizade”.

Além de tudo, este ano de 2019 comemora os setenta anos de vida deste cantador, deste grande artista e compositor, do meu compadre Zé Ramalho.


Vida longa e próspera, Compadre!


W A L D E M A R   F A L C Ã O

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FAIXAS:
1. A Peleja do Diabo Com o Dono do Céu - 04:24
2. Admirável Gado Novo - 04:53
3. Falas do Povo - 04:11
4. Beira-Mar - 03:54
5. Garoto de Aluguel (Taxi Boy) - 03:03
6. Pelo Vinho e pelo Pão - 03:19
7. Mote das Amplidões - 03:57
8. Jardim das Acácias - 05:10
9. Agônico - 01:43
10. Frevo Mulher - 03:38
11. Admirável Gado Novo (instrumental) - 4:49*
12. Mr Tambourine Man - 2:26* (Bob Dylan)
13. Hino Amizade - 3:06*
14. O Desafio do Século - 3:41*
* Faixas-bônus da reedição de 2003
Todas as composições de autoria de Zé Ramalho, exceto indicada

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OUÇA O DISCO:
Zé Ramalho - "A Peleja do Diabo com o Dono do Céu"

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Waldemar Falcão é músico, astrólogo e escritor. Atua como músico, compositor e produtor musical desde 1975. De 1978 a 1982, fez parte da banda do cantor e compositor Zé Ramalho, excursionando por todo o Brasil como flautista, vocalista e percussionista. Trabalhou como produtor  e engenheiro de som de músicos como Steve Hackett e Moraes Moreira. Em 1985, durante o primeiro Rock in Rio, foi assessor artístico de Nina Hagen e James Taylor. Astrólogo profissional desde 1987, foi membro fundador do Sindicato de Astrólogos do Rio de Janeiro (SINARJ) e do Conselho Deliberativo da Central Nacional de Astrologia (CNA). Tem quatro livros publicados: "Encontros com Médiuns Notáveis", "O Deus de cada Um", " Conversa sobre a Fé e a Ciência" com Marcelo Gleiser e Frei Betto, e "A História da Astrologia para quem Tem Pressa". 

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

“Sítio do Picapau Amarelo” - Trilha Sonora - Vários Artistas (1977)



"Monteiro Lobato e aquele mundo louco da minha infância, minha avó na cozinha e a gente lendo aquilo. Dori, esbocei alguma coisa. Fala de cada um, mas é o sítio, aquele lugar mítico, aquela música saltitante".  Gilberto Gil, na ligação que fez a Dori Caymmi logo após compor a música-tema da série

"Indo dali a pouco ao rio com a trouxa de roupa suja, ao passar pela jabuticabeira parou para ouvir a música de sempre — tloc! pluf! nhoc..." - Trecho de "Reinações de Narizinho", de Monteiro Lobato

Parece mentira de adulto pra valorizar a própria infância, mas foi a 40 anos que a música feita para crianças mudou completamente o rumo da música popular feita no Brasil. A Rede Globo, percebendo um filão pouco explorado, o público televisivo infantil, resolveu investir em teledramaturgia para este e, na esteira, numa “ferramenta” que atingia as mentes e corações dos baixinhos: a música. Da cabeça de Guto Graça Melo, diretor musical da emissora à época, e do talentosíssimo compositor e arranjador Dori Caymmi, veio a missão de musicar um especial baseado no universo de Monteiro Lobato que começaria a ser rodado. Mas não apenas dar sonoridade ao vídeo como, principalmente, criar uma atmosfera que transmitisse aquilo que a mágica obra literária oferecia. Assim, surgiu a trilha sonora de “Sítio do Picapau Amarelo”, um sucesso nas telas e nas vitrolas que inspiraria artistas de todas as gerações seguintes.

A fórmula parecia óbvia: chamar os talentos da MPB da época para ilustrarem musicalmente os elementos narrativos. Entre estes, João Bosco, Jards Macalé, Ivan Lins, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Sérgio Ricardo, entre outros. Entretanto, muitas vezes o resultado saía – saudavelmente – complexo e até intrincado. E assim ficava. Afinal, Guto e Dori partiam do pressuposto de não subestimar a inteligência do público, mesmo sendo o infantil, postura que, por si, foi uma revolução de linguagem. Caso claro da dissonante “Peixe”, dos Doces Bárbaros, e da mística e intensa “Tio Barnabé”, em que Jards divide autoria e microfones com a talentosíssima Marlui Miranda (“Oi, nessa mata tem flores/ Os olhos do Saci/ Pula com suas dores/ Gentis com seus amores/ Os cantos da caapora/ Os orixás que nos acudam e nos valham nessa hora”). Ambas as faixas aparentemente jamais poderiam integrar uma seleção de músicas para crianças. Mas, aqui, entraram e fizeram muito significado.

O desbunde, contudo, já se dá na faixa que intitula a série. Mais do que isso: o tema passou a representar a já antiga obra de Lobato (datada dos anos 20) não só através das letras e ilustrações das páginas dos livros, mas também pelos sons. A canção que Gil cria sobre a simples sinopse dada a ele por Dori para se inspirar se transforma numa lúdica e colorida canção – e com referência a Beatles, como Caetano bem identificou no livro “Verdade Tropical”. Leitor dos contos fantasiosos de Lobato na infância, Gil resgata sua memória afetiva e praticamente a sintetiza em poucos versos, demonstrando uma familiaridade ímpar com o mundo lobatiano. “Marmelada de banana, bananada de goiaba/ Goiabada de marmelo [...]/ Boneca de pano é gente, sabugo de milho é gente/ O sol nascente é tão belo [...]/ Rios de prata, pirata, voo sideral na mata/ Universo paralelo [...]/ No país da fantasia, num estado de euforia/ Cidade polichinelo”. A estrutura melódica faz com que tudo termine rimando com aquilo que lhe é originário e inequívoco: “Sítio do Picapau Amarelo”. Genial.

Mesmo as canções mais palatáveis são de uma complexidade harmônica invejável – muito pela mão de Dori nos arranjos e orquestrações. “Narizinho”, doce canção de Ivan Lins cantada por sua então esposa, Lucinha, mostra bem isso. Outro mestre da MPB chamado para dar sua contribuição é Paulo César Pinheiro. Ele não economiza na carga poética e brasilianismo, o que faz em duas faixas, ambas parcerias com Dori: a divertida “Ploquet Pluft Nhoque" (“Jaboticaba”), cantada pelo grupo vocal Papo de Anjo (“Olha o bando/ que acode com o baque/ que bate no galho/ que faz pinque ploque...”), e “Pedrinho”, tema do corajoso personagem Pedro Encerrabodes de Oliveira, lindamente interpretada pelo grupo Aquarius.

O capricho desta trilha passa também por excelentes instrumentais, caso de “Saci”, autoria de Guto e brilhantemente arranjada por Dori e com as vozes da Aquarius fazendo vocalizes. Tema denso como a mitologia que tematiza, porém muito bem equilibrado harmonicamente pela instrumentalização utilizada, que dá “alívios” à tensão. É a primeira canção dedicada à lenda do Saci-Pererê de um especial infantil. Depois desta, vieram outras semelhantes cujo tema central é a alegoria de origens indígenas e africanas que representa o folclore brasileiro: duas diferentes assinadas por Jorge Ben (uma delas para o também especial infantil “Pirilimpimpim”, de 1982), e uma de Gil para a Black Rio (de 1980).

O elenco da série da Globo estreada em 1977: um marco
na tevê brasileira
Ivan Lins, em ótima fase, vem com outra, agora para a querida “Dona Benta” (vivida pela atriz Zilka Salaberry), cantada por Zé Luiz Mazziotti. Melodia jobiniana e jazzística comandada no Fender Rhodes. Ronaldo Malta interpreta outra bela composição, “Arraial dos Tucanos”, de Geraldo Azevedo e Carlos Fernando. O início melodioso dá lugar, logo em seguida, a um baião de notas abertas, expansivo como os pássaros cantados na letra: “Arraial dos tucanos/ Até quando o homem/ Que da terra vive/ E que da vida arranca/ O pão diário/ Vai ter tua paz/ Paz/ Aparentemente paz”. Igual questionamento faz a também “ecológica” (termo que ainda não era moda naqueles idos) “Passaredo”, de Chico Buarque e Francis Hime. Entoada com absoluta perfeição pela MPB-4, a clássica canção, após enumerar diversos nomes da abundante variedade de espécies da fauna brasileira, avisa: “Bico calado/Toma cuidado/ O homem vem aí” – seja este o caçador sem escrúpulos ou o soldado daquele Brasil de Ditadura Militar. Duas faixas lúdicas, mas altamente reflexivas, que chamavam os baixinhos a pensar.

Cabe ao inventivo Sérgio Ricardo o tema de uma das personagens mais queridas da história, a boneca de pano “Emília”. Habilidoso, ele elabora uma melodia que remete aos violeiros do sertão e que em alguns momentos lembra a musicalidade e o fraseado de Geraldo Vandré, Dorival Caymmi e Alceu Valença. Igualmente hábeis são João Bosco e Aldir Blanc, a parceria clássica de tantos hinos da MPB daquela época. Aqui, os autores de “O Bêbado e a Equilibrista” e “O Cavaleiro e os Moinhos” valem-se de suas mentes privilegiadas para dar mote a Visconde de Sabugosa, o fascinante boneco feito de sabugo de milho, cuja sabedoria obteve através dos livros da estante de Dona Benta. Samba sincopado típico da dupla e com as características tiradas vocais de Bosco a la Clementina de Jesus. Na letra, Aldir dá um show: “Sábio sabugo/ Filho de ninguém/ Espiga de milho/ Bobo sabido/ Doido varrido/ Nobre de vintém”.

Como se não bastasse, para arrematar, Dori, com o acesso que somente ele podia ter, chama ninguém menos que o pai, o gênio Dorival Caymmi. Este, por sua vez, escreve uma joia para “Tia Nastácia”. E não podia ser para outra personagem, haja vista a identificação do velho Caymmi com a cultura afro-brasileira: ela, uma preta velha bondosa e sábia, típica negra filha recente da abolição da escravatura. Traduzida em versos pelo mestre baiano, Tia Nastácia, interpretada pela atriz Jacyra Sampaio na série, sai assim: “Na hora em que o sol se esconde/ E o sono chega/ O sinhôzinho vai procurar/ A velha de colo quente/ Que canta quadras e conta histórias/ Para ninar”.

Esta histórica trilha sonora abriu portas para uma série de outras semelhantes de especiais infantis da tevê nos anos seguintes, como “A Arca de Noé I e II”, “Pirilimpimpim”, “Plunct-Plact Zum”, "Casa de Brinquedos" e “O Grande Circo Místico”, todas bastante baseadas na questão musical. Havia dado certo a fórmula. Juntamente com a peça “Os Saltimbancos”, que Chico Buarque escrevera junto com Sergio Bardotti e Luis Bacalov também em 1977, “Sítio...”, assim, inaugura a entrada dos grandes talentos da música brasileira no universo sonoro e afetivo das crianças. Em tempos de pré-abertura, impossibilidade de diálogo e de esgotamento das ideologias, os artistas pensaram: “Já que os adultos estão tão saturados, por que não produzirmos para os pequenos?”. Pensaram certo e o fizeram muito bem, abrindo um paradigma na cultura de massas no Brasil sem precedente no mundo da música.

Aí, quando os pais de hoje dizem que o conteúdo do que eles tinham nas suas infâncias era muito melhor do que o de hoje, não se trata de mentira e nem de saudosismo. É a mais pura verdade.

Vídeo de abertura de "Sítio do Picapau Amarelo" (1977)




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FAIXAS

01. Narizinho (Ivan Lins – Vitor Martins) - Lucinha Lins
02. "Ploquet Pluft Nhoque" (Jaboticaba) (Dory Caymmi – Paulo César Pinheiro) - Papo de Anjo
03. Peixe (Caetano Veloso) - Doces Bárbaros
04 . Saci (Guto Graça Mello) - Papo de Anjo
05. Visconde de Sabugosa (João Bosco – Aldir Blanc) - João Bosco
06. Dona Benta (Ivan Lins – Vitor Martins) - José Luís (Zé Luiz Mazziotti)
07. Sítio do Picapau Amarelo (Gilberto Gil) - Gilberto Gil
08. Pedrinho (Dory Caymmi – Paulo César Pinheiro) - Aquarius
09. Arraial dos Tucanos (Geraldo Azevedo – Carlos Fernando) - Ronaldo Malta
10. Tia Nastácia (Dorival Caymmi) - Dorival Caymmi
11. Passaredo (Francis Hime – Chico Buarque de Hollanda) - Mpb4
12. Emília (Sergio Ricardo) - Sérgio Ricardo
13. Tio Barnabé (Marlui Miranda – Jards Macalé – Xico Chaves) - Marlui Miranda e Jards Macalé

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OUÇA

por Daniel Rodrigues

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Rock In Rio - Bon Jovi, Tears For Fears, Ney Matogrosso com Nação Zumbi, Jota Quest, Alterbridge (22/09/2017)



Minha primeira experiência em um Rock In Rio, embora totalmente normal, sem nenhum contratempo ou incidente, não posso dizer que tenha sido das mais positivas. Não sei se eu tô ficando velho, se não tenho mais paciência pra algumas coisas, se é porque a gente vai adquirindo mais critérios com o passar do tempo, mas aquela coisa toda, todo aquele complexo de entretenimento não me desce. É muito grande, tudo é muito difícil, pra se chegar num outro palco, numa praça de alimentação, num banheiro, tem que se percorrer quilômetros e pra piorar desviando de milhares de pessoas e tropeçando em outras que estão estendidas pelo chão. um festival desse é um incentivo pra quem quer deixar de beber porque conseguir uma cerveja, em determinado momento, foi um ato de perseverança e heroísmo. E é tanta roda-gigante, montanha-russa, tirolesa, joguinhos, brindezinhos que no fim das contas o público que está ali, está mais interessado em todas essas bobagens do que no que está rolando nos palcos, disperso e alheio aos shows. Aliado a escalações de artistas muito heterogêneos e atrações pouco interessantes, esta atitude neutra do público acabou se refletindo nas apresentações, até mesmo nos principais nomes que se esforçaram, fizeram seu melhor mas tiveram que lidar com um público frio e indiferente.
Não é a toa que volta e meia o palco Sunset, com um público mais interessado e atrações com propostas mais mais interessantes, rouba a atenção, e de certa forma, não foi diferente no dia em que fui.
Mas vamos então a uma breve impressão das atrações que vi no festival:



Palco Rock District

  • Evandro Mesquita and The Faboulous Tab

O palco Rock District foi uma 
atração interessante.
Ainda quando estava adentrando no complexo, uma banda tocava um rock do bom nu trecho de passagem, perto de um corredor de área de alimentação. Para minha surpresa era Evandro Mesquita comandando um bom time de músicos que incluía Arnaldo Brandão, ex-Hanoi-Hanoi, no projeto denominado The Fabulous Tab, mandando ver em versões de clássicos do rock. Evandro, que nunca foi lá essas coisas como cantor, assim, num show mais restrito, escancarou suas deficiências vocais, mas o lance tava tão espontâneo, tão gostoso, que mesmo o parco potencial vocal do ex-Blitz não prejudicou a jam session. Destaques para as execuções de "Honk Tonk Woman" e "Let It Bleed" dos Rolling Stones, "Walk of Life" do Dire Straits, "Going to California" do Led Zeppelin  numa versão mais embalada e a já clássica mix, pela não casual semelhança, de "Knockin' on Heaven's Door" de Bob Dylan com "Dois Passos do Paraíso" da Blitz.


Palco Sunset

  • Ney Matogrosso e Nação Zumbi

Nação Zumbi com a lenda
Ney Matogrosso no palco.
Quando cheguei, o show de Elba Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo já havia terminado, mas se perdi este que deve ter sido bastante interessante, tive a felicidade de assistir a o encontro de Ney Matogrossoo com a Nação Zumbi que, apesar de potencialmente ter sido mais do que foi, ainda assim, valeu muito a pena. A proposta rítmica da Nação dialoga bem com a artística de Ney e isso fez com que as intervenções da banda nos clássicos, especialmente dos Secos e Molhados, funcionassem bem, de um modo geral. Senti falta de mais músicas da Nação, algumas que fariam muito sentido no atual contexto sócio-político e ainda levantariam a galera como "Maracatu do Tiro Certeiro" e "Banditismo, Uma Questão de Classe" mas imagino que fugisse da concepção de show pensada que, pelo jeito, privilegiava o repertório da banda original de Ney Matogrosso. "Mulher Barriguda" teve um ganho de peso com a guitarra de Lúcio Maia; "Sangue Latino" ficou grandiosa; "Fala" foi linda" e "Maracatu Atômico" de Jorge Mautner, um dos poucos hits do grupo pernambucano que rolaram no show, foi simplesmente... atômica. Bom show!



Palco Mundo

  • Jota Quest

Vi pouco. Ouvi mais de longe enquanto me deslocava por algum motivo (cerveja, banheiro, comida...) mas é mais ou menos aquilo, né... Nada demais. Uma bandinha pop sem maiores pretensões e sem grande ascendência. Alguns hits, pra ser bem justo; um coro com a galera aqui, um discursinho pela paz ali e era isso. Não acrescentou nada.


  • Alterbridge

Não tinha nenhuma expectativa com essas figuras, aí o show começa e a minha impressão se confirma. Uma coisa indefinida: não sabiam se eram pop, hard rock, glam, metal farofa ou sei lá o que. Lá pelas tantas explodem num trash metal furioso que parecia um Megadeth quase me fezendo bater cabeça e ter uma esperança em algo melhor dali pra frente. Alarme falso! Voltaram à mesma lenga-lenga. Terrível!


  • Tears For Fears

Show competente. Bom repertório mas a impressão que dava é que eram a banda errada no lugar errado. Tem bandas que são pra 10.000 pessoas e outras que são pra 100.000. Eles estão no primeiro caso e por mais que tenham desfilado sucessos e hinos pop, não conseguiram dar conta daquilo tudo.


  • Bon Jovi

Apesar dos pesares, Bon Jovi agradou aos fãs.
Olha, eu não gosto muito de Bon Jovi. Tenho que admitir que fui para acompanhar minha esposa, mas também tenho que admitir que é uma banda ainda que totalmente previsível musicalmente, extremamente competente, com uma baita duma estrada, um balaio de fãs e uma pilha de hits. Só que, independente do meu gosto, por constatação do que vi no local, tenho também que dizer que John Bon Jovi e sua banda não conseguiram empolgar a Cidade do Rock. Em parte por culpa da banda, na minha opinião com uma distribuição equivocada de repertório; em parte pelo público que, como eu disse, anteriormente, pela heterogeneidade e por interesses paralelos parecia não estar nem aí para o que estava acontecendo no palco. Sim, havia os fãs, lá na frente, no gargarejo que não paravam, que sabiam cantar todas, que topavam o que viesse, mas grande parte das pessoas estava mais interessada em transitar, mexer nos celulares e comprar cerveja. Aí, lá de vez em quando, na hora do mega-hit, levantavam as mãos e cantavam junto o refrão e era isso o que quem não estava lá via pela TV quando parecia que a Cidade do Rock inteira estava cantando. A impressão que deu era que a maioria estava lá só para ouvir e cantar as músicas dos álbuns "Slipery When Wet" e do "New Jersey" só que, além de Bon Jovi ser um artista bem resolvido que a essas alturas não precisa mais ficar se esforçando para ganhar o público, a banda tinha que vender seu peixe e quis apresentar coisas novas de seu último trabalho "This House Is Not For Sale" e aí, acho que reside a outra parte da "falha", por assim dizer, do entrosamento banda-público. Acho que tem, sim, que apresentar as coisas novas, tem que manter uma linha de repertório próxima da turnê convencional, mas entendo também que em festival deve-se fazer algumas concessões e uma delas seria ter uma ordem de músicas mais conveniente a um evento assim onde nem todo mundo é fã de carteirinha. Por exemplo: não começa com uma nova, vai numa pra incendiar a galera logo de cara. Só para que se tenha uma ideia, a massa só foi à loucura mesmo, na quarta música, em "You Give Love a Bad Name". Tá bom, não precisava gastar sua melhor arma no início, mas uma banda com tantos sucessos poderia tranquilamente arrastar algum deles lá pro início e pôr tudo abaixo já de cara.
Outra reclamação que ouvi de muitas fãs foi a ausência de alguns clássicos indispensáveis. E aí os caras privilegiam músicas novas ou a balada acústica "Someday I'll Be Saturday Night" que ninguém ia dar falta em detrimento de "Never Say Goodbye", "These Days", "Blaze of Glory" ou da reclamadíssima "Always". Bom, se tem alguém que pode cometer estes pecados e mesmo assim sair com saldo positivo é o Bon Jovi uma vez que, de um modo geral, mesmo com algumas ressalvas de repertório e um quase consenso sobre a qualidade da voz do cantor que estaria bem inferior às últimas turnês, as fãs gostaram, compreenderam e perdoaram as ausências. Eu sou suspeito, não sou muito do som deles mesmo, mas posso garantir que a patroa curtiu.
No fim das contas, para mim, que achava que seria o show do Bon Jovi seria uma espécie de tortura apache, o que posso comparar é com aquela criança que a mãe fica avisando por meses que ela vai tomar vacina e  aí quando chega no dia, o pirralho tá se borrando, tipo, "Vai doer, vai doer...", e chega na hora da injeção o guri percebe que foi só uma picadinha de nada. Pois é... Doeu menos do que eu imaginava.


Bon Jovi - "You Give Love a Bad Name"
do meio do público do Rock In Rio



Cly Reis

sábado, 20 de maio de 2017

Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo – O Grande Encontro – Auditório Araújo Vianna – Porto Alegre/RS (19/05/2017)



Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo
dividem o palco do Araújo Vianna


Ainda resta uma esperança! Numa semana em que a República parece ter desmoronado, a música brasileira não só salva, como renova o espírito de nação. Foi isso que aconteceu ontem à noite no Araújo Vianna. O show “O Grande Encontro”, que reuniu Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo, deu um banho de civilidade e brasilidade nas três mil pessoas que lotaram o local. De Gonzagão a Dominguinhos, passando por Vital Farias e Jackson do Pandeiro, os três artistas demonstraram vitalidade e altíssima qualidade musical, cada um em sua especialidade.

Alceu com sua energia inesgotável e seus sucessos; Geraldo Azevedo com suas composições e sendo uma espécie de diretor artístico do espetáculo e Elba cantando como nunca. Aliás, devo confessar que nunca fui muito fã da paraibana mas ela me ganhou. Seu resgate de "Sangrando", de Gonzaguinha, fez um arrepio de emoção percorrer as fileiras do Araújo Vianna.

Acompanhados por uma banda com destaque para o guitarrista Paulo Rafael - velho parceiro de Alceu desde os anos 70 - os nordestinos fizeram o público cantar, dançar e perceber que a saída está na variada e luminosa cultura do nosso país, atualmente afastada da mídia tradicional mas permanente nos corações de cada um.

por Paulo Moreira