Embora eu não entenda nada de astrologia, deve passar por alguma explicação neste sentido a minha ligação com o Rio de Janeiro. Digo frequentemente que, mesmo gaúcho, porto-alegrense nato, e com família e amigos que moram no Rio, ando por lugares que nem os cariocas circulam, o que me faz conhecer a cidade mais do que muitos deles. Numa dessas andanças cariocas na última vez que estive na cidade, saía eu de uma visita ao Paço Imperial, na Praça XV, no Centro (lugar que, sei, muitos turistas e nem os próprios cariocas vão) e, ao atravessar a 1º de Março, percebi no frondoso prédio da calçada oposta que havia uma entrada iluminada e convidativa. Parecia ser um espaço novo. E era: o Centro Cultural PGE-RJ, aberto em 2022 pela Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, atual responsável pelo prédio histórico.
"Novo", modo de falar, pois o Centro Cultural PGE-RJ, recém-restaurado, fica no antigo Convento do Carmo, uma das mais antigas construções do país, cedido pelos monges carmelitas para servir de residência para D. Maria I quando da vinda da Família Real para o Brasil e datado da mesma época que o Paço, século XVII. Mas voltando à astrologia. Diz-se que o Rio de Janeiro tem como signo peixes, o que o faz ser uma cidade de belezas e mistérios. Afinal, não são à toa os versos: “cidade maravilhosa, cheia de encantos mil”. E o que me aconteceu naquele finalzinho de tarde em que saía do Paço Imperial foi de revelação de um desse tipo de mistério que o Rio guarda nas suas entranhas. Arrisquei e minha curiosidade foi recompensada pelo belo espaço expositivo que encontrei, o qual me lembrou os do próprio Paço Mais do que isso: a qualidade da exposição em si: "Nuances de Brasilidade: Repertório".
Não deu muito tempo para visitar, pois, como falei, já era fim de tarde e o horário de atividade estava se encerrando. Mas deu para apreciar a pequena e agradável mostra de 14 artistas brasileiros com obras cedidas por colecionadores particulares. Os trabalhos são de gente do calibre de: Abraham Palatnik; Emanoel Araújo; Frans Krajcberg; José Bechara; Luiz Zerbini; Miguel Rio Branco; OSGEMEOS; Rubem Valentim e outros. Só coisa fina.
Confiram algumas obras em exposição até setembro no belo espaço do casarão da PGE-RJ.
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Já de cara, um Palatnik (acrílica sobre madeira, 2015) |
As formas orgânicas e perturbadoras de Krajcberg: obra (pigmentos naturias sobre madeira) que é um dos destaques da mostra |
A profusão ótica do paulista Zerbini ("Sem título", 2007) |
A fotografia também presente na mostra pelas lentes de Luiz Braga ("Menino sentado no pneu", 1988) |
A genialidade afro-simbolista de Emanoel Araújo, que marcou esta minha ida ao RIo em três expos diferentes |
A arte d'OS GÊMEOS, "Gravidade Zero", técnica mista sobre madeira (2012) |
Outro gênio, Miguel Rio Branco, e suas imagens densas que desafiam o conceito de fotografia ("Havana velha", 1994) |
O baiano Valemtim, a quem me deparei também mais de uma vez, com "Emblema 80", de 1980 (acrílica sobre tela) |
Daniel Rodrigues