A Skatista foto: Leocádia Costa (pista de skate do Aterro do Flamengo - abril 2024) |
Ali pudemos parar para dar uma descansada da caminhada e assistir a agradável Tereza, A Banda, uma turma cheia de suingue e brasilidade inspirada, claro, em Jorge Ben e seu clássico samba-rock “Cadê, Tereza”. Com um repertório que ia de Djavan a Rita Lee, passando, obviamente, pelo Babulina, tivemos uma agradável surpresa, principalmente pela qualidade vocal de sua cantora, Vitória Viegas, de voz potente e muito musical. Toda a banda, aliás, de bons músicos, talvez ainda um pouco crus em relação a suas próprias musicalidades, que creio que devem seguir percebendo que têm cada um como crescer ainda mais na liberdade de tocar. Mas isso passa longe de ser uma crítica, afinal, o que vimos, gostamos. Tomara nos deparemos de novo com a Tereza, A Banda por aí.
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O agradável ambiente de fim de tarde no Marina |
Este casal que vos fala curtindo o festival |
Desavisados quanto aos adiamentos do dia anterior, por conta da chuva, acabamos chegando cedo demais no sábado, uma vez que provas do dia anterior ainda tinham que ser realizadas e a agenda colocada em dia. Assim, a provas às quais fomos assistir, as semifinais do street, feminino e masculino, que iniciariam por volta de 10 da manhã, só vieram a começar mais de duas da tarde.
Ruim?
Que nada!
Aproveitamos para rodar pelo complexo, tirar fotos nos tótens, assistir aos ensaios dos dançarinos de break e street-dance, ver os habilidosíssimos praticantes do skate freestyle com todos seus impressionantes malabarismos e também, por que não, para tietar as estrelas do evento que aos poucos iam chegando para suas provas.
Na pista, pra variar a dupla Rayssa Leal e Pamela Rosa deu show e ambas garantiram vagas para final que aconteceria no dia seguinte. A Fadinha, sempre muito celebrada, especialmente pelas crianças, desfilou seu arsenal de manobras complicadas, complexas, difíceis, com aquela a habitual naturalidade de quem faz parecer tudo muito fácil e a multicampeã Pamela Rosa, também não decepcionou e arrancou aplausos da galera com sua velocidade na pista e precisão nas manobras.
Passamos praticamente do dia inteiro no complexo do STU. Saímos da praça ali pelas 6 da tarde, cansados, esgotados, mas valeu a pena. Um dia cheio de atrações, surpresas e muita coisa legal. E o melhor de tudo: ver a alegria no rosto da filhota que pode acompanhar de perto o esporte de que tanto gosta e estar, ali, pertinho de suas ídolas.
Confira abaixo algumas imagens do nosso dia por lá:
O ensaio do pessoal do street-dance, ainda durante a manhã |
Ao longo do complexo do STU, várias outras atrações e modalidades de skate |
O pessoal 'da antiga' exibindo seu freestyle |
Pamela Rosa, ainda no aquecimento. |
Rayssa Leal, ainda no pré-prova |
Tietar pode? Pode, né? Minha filha com Rayssa e Pamela |
A arena, durante a prova masculina. Giovani Vianna na pista. |
ClyBlog marcando presença no STU |
E este seu blogueiro, no trono da realeza do skate. |
Cly Reis
O carisma da Fadinha, que não pode comparecer ano passado por que estava em período de provas no colégio, foi a atração que faltava para que o evento reunisse impressionantes 50 mil pessoas nos seus três dias de realização. Mas mais do que Raíssa, a etapa do STU trouxe à cidade também as campeãs mundial e nacional Pâmela Rosa e Gabi Mazetto que, aliás, foi a vencedora, tendo Raíssa em segundo. Além delas, teve também gauchinhas talentosas: Ariadne Souza, de e 21 anos, e Maria Lúcia, cujos 13 aninhos evidenciam o talento que ainda tem a desenvolver.
Esses dois aspectos chamam a atenção: a idade das atletas e o fato de as principais atrações de todo o evento serem justamente as mulheres. Não somente mulheres, aliás, mas em sua maioria meninas, como a grande estrela Raíssa, de 15 anos, sendo a mais velha, Gabi, de 25.
Tiveram os homens, que andaram num horário bem mais confortável, à noite, quando o sol dava uma necessária trégua, ao contrário do escaldante final da manhã destinado a elas, à noite. Porém, não há dúvida de que as estrelas são elas. Coisa boa ver isso acontecendo num país tão machista.
Em contrapartida, de por mais que as "meninas do skate" sejam a razão de ser do sucesso desse esporte no Brasil, fica a sensação de que, ainda nesta hora, as mulheres tem que passar por cima da desvalorização em detrimento do homem. É assim em todo campeonato de skate: as provas femininas vem antes das masculinas. Mas, ainda mais no Brasil, podia-se mudar isso.
Foi justamente esse desprestígio que, indiretamente, provocou a que não conseguíssemos permanecer, pois o sol escaldante nos mandou para casa mais cedo. Certamente, se fosse fim de tarde - como para os rapazes, resistiríamos. Mas foi muito bom ver ao vivo Raíssa e as outras competidoras fazendo manobras em nível profissional, o que é estimulante para quem gosta de esporte. E naquela paisagem da Orla, na maior pista de skate da América Latina, com tanta gente feliz por presenciar aquilo, ficou claro que Porto Alegre ganhou um espaço muito especial.
Confiram aí algumas fotos do que batemos e/ou vimos:
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Visão da pista a nossa frente |
Arquibancadas cheias |
E as provas começaram! |
Raíssa fazendo suas manobras mágicas como se fosse fácil |
Debaixo do sol implacável de Porto Alegre |
Hora de Gabi manobrar seu skate sobre o corrimão |
Mais um pouco da visão geral do complexo de skate |
A campeã Gabi Mazetto comemorando com a filhinha no colo |
Aqui, este casal acalorado mas feliz com o STU Panorâmica de parte da pista de skate do Complexo Esportivo da Orla |
Pedaço do cartaz do evento |
Tínhamos a melhor banda de rock do Rio Grande do Sul dos
anos 90. Digo isso sem soberba, até porque, se sobrava qualidade, faltou
persistência a nós para prosseguimos e provar todo esse talento. A Hímen
Elástico, nossa banda, era uma mistura muito bem azeitada de todas as
referências que nós, integrantes, tínhamos: punk rock, hip hop, quadrinhos, samba,
poesia concreta, música clássica, revistinha adulta, skate, hardcore, desenho animado. De tudo
um pouco e tudo misturado emaranhando as mentes de Clayton Reis, meu irmão e
principal vocalista/letrista; Leandro Reis Freitas, o Lê, primo backing assim
como eu e dono de sacadas e ideias sempre criativas; Cezar “Pereba” Castro, o
melhor batera dessas bandas sulistas depois de Pezão; e o baixo, vocais, and
other instruments by Lucio Agacê, irmão de Lê e também nosso primo, um
turbilhão de musicalidade e o verdadeiro músico entre nós – não à toa, o cara
que mais seguiu por esse caminho entre todos nós depois da “dissolução” da
Hímen, como carinhosa e debochadamente nos apelidávamos,.
Compúnhamos juntos e de forma contributiva, aliás, como
sempre fizemos desde a infância, crescendo juntos como guris e seres criativos.
Se a sintonia entre nós era sanguínea, geracional e afetiva, na guitarra a
Hímen ainda reservava um charme à parte: sempre tínhamos um guitarrista diferente.
Sabe a The The, a P.I.L., a This Mortal Coil, todos com guitarristas móveis?
Pois é: éramos iguais. Dependendo da ocasião, algum amigo, familiar, parceiro
ou até fã nosso era contemplado – desde que soubesse minimamente tocar o
instrumento, visto que nenhum de nós tinha essa capacidade.
Todas essas características faziam da Hímen uma banda sui
generis, que botava no chinelo em musicalidade Comunidade Nin-Jitsu, Cidadão
Quem, Papas da Língua, Tequila Baby... todas as bandas de sucesso do RS na
época. E nada dessa de banda “couve”: nossas músicas eram todas escritas por
nós mesmos. O que não era de nossa autoria, transformava-se assim, como as
versões de Ramones e Legião Urbana, que emendávamos com uma de nossas canções,
“Fórmula de Bhaskara’, ou as ousadas versões de “Ego Sum Abbas” de CarminaBurana ou da techno-punk Suicide para o formato baixo-guitarra-bateria.
Tínhamos inteligência musical e repertório suficiente para gravar um disco,
certamente. Mas o fato é que não tivemos muito tempo de “estrada”. Embora as
músicas ainda existam, foram poucos os que, ao contrário das bandas de sucesso
do rock gaúcho, bem mais persistentes, tiveram o “privilégio” de nos ouvir. A
não ser numa fatídica, gélida, perigosa e memorável noite de rock ‘n’ roll que
nós promovemos.
Não vou lembrar com detalhes, pois lá se vão 28 anos, mas
recordo que ensaiamos algumas horas na tarde daquele 13 de agosto de 1993 num
estúdio que alugamos no Bom Fim. Terminados os ensaios, ‘simbora lá pra nossa
casa, meio do caminho para nosso destino final, para comer alguma coisa feita
por minha mãe, dona Iara, que levou as mãos à cabeça ao saber para onde iríamos
depois dali: Alvorada. E à noite! E numa sexta-feira 13! E na cidade mais
perigosa do Estado! Isso porque, naquela semana, a imprensa havia noticiado,
assombrada, vários assassinatos cometidos em Alvorada em que os criminosos
haviam decapitado suas vítimas. Misto de irresponsabilidade e descomplicação
juvenil, obviamente, fomos. Seria a primeira apresentação ao vivo da Hímen
Elástico! Nossas músicas, nós no palco! Adrenalina, rock ‘n’ roll! Não íamos
perder de jeito nenhum a oportunidade de fazer aquele show, nem que, para isso,
cortassem nossas cabeças!
Rock a gente associa a algo quente, infernal, furioso,
certo? Neste caso, porém, substitua-se o calor dos infernos por um frio dos
infernos. Sim: afora todas as justificativas que inibiriam qualquer ser
minimamente ajuizado de não sair de casa, fomos nós, sob uma temperatura quase
negativa, pegar dois busões em direção a Alvorada para desespero de minha mãe.
Além de caminhar trechos com os instrumentos nas costas, sabe como é pegar
ônibus de noite num fim de semana, né? Chá de banco. E com aquele frio! Deu pra
ver que a galera não tinha grana, né? Táxi? Impossível, muito caro. Carro
próprio? Àquela época, nem carteira aqueles guris tinham. Mas se faltava grana,
assim como para com nossas músicas, sobrava criatividade – e um bocado de
ousadia, confesso. No caminho para a condução, Cezar, quieto e sempre atento,
encontrou uma garrafa de cachaça inteirinha e quase intocada. Que alento para
aquele frio! E tudo bem pegar a bebida numa ocasião como aquela, não fosse a
cachaça ser de um despacho. E acham que a gente se intimidou com o santo? Que
nada! A insolência falou mais alto. Afinal, estávamos indo para um show de
rock, caramba! O NOSSO show de rock.
Foi realmente uma apresentação digna a que fizemos no
Woodstock Bar. Com uma formação de guitarra, baixo, bateria, voz e backing
vocals, abrimos, como numa homenagem àquela sexta-feira 13 maldita, com “A
Marcha Fúnebre”, (sim: trata-se de "Sonata para piano Nº 2 em si bemol menor, Op. 35", de Chopin),
que havíamos ensaiado bastante durante o dia, embasbacando quem assistia.
Seguiram-se nossas músicas: “Ex”, “Grandes Lábios”, E Daí?”, “Clayton” e
outras. Nossas músicas.
Voltando a memória para antes do show, lembro de minutos
antes de entrar no palco – pela primeira vez. Senti aquele famoso frio na
barriga que todo músico ou ator diz ter antes de começar o espetáculo. Dei mais
uns goles na nossa cachaça enfeitiçada e, não sei por que cargas d’água,
arranquei o lenço que eu levava na cabeça e o amarrei numa das pernas, logo
acima do joelho. Depois, foi só transe. Dito assim, parece um ato infantil, sem
propósito ou até irrelevante. Mas aquilo era rock, bebês. Dadas as devidas
proporções (afinal, considerávamos os melhores do nosso território, mas não do
planeta), é a pulseira de spike dos metaleiros; é a camiseta rasgada de Sid
Vicious; é o figurino extravagante do Elton John; é o tênis All Star dos
Ramones; é o crucifixo do Ozzy. Não é a música, mas faz parte. Afinal, rock não
é só som: é atitude. É o momento em que se experencia algo transformador: deixa-se
de ser somente a si próprio para se tornar, pelo menos por minutos, sua própria
criação artística.
Com todo o cenário que se pintou, de perigos tanto do além
quanto da vida real, posso afirmar que subir num palco é como ter a sua cabeça
cortada e entregue numa bandeja para o público. Como no mito de Salomé, sedução
e morte se amigam. É quase um milagre. Ou dá pra explicar de outra forma a voz
do Clayton ter voltado perfeitamente na hora do show depois de emborcar a nossa
aguardente magiada? Deus, ou melhor, o Diabo, pai do rock, fez-se presente
naquele dia para ele tão especial para nos permitir que a nós também fosse. E
foi.
Não eram muitos na plateia, certamente. Mas que quem esteve
lá, viu uma verdadeira banda de rock, isso, viu. A melhor do Rio Grande do Sul
da década de 90, o que muitos nunca souberam. Mas a gente, “hermenêuticos”, sem
modéstia, sabemos que sim.
Sabe a dancinha da Rayssa Leal? Era o MDC que ela estava escutando! No embalo do skate e também do surf olímpicos, o programa de hoje vem fazendo altas manobras - sonoras, claro. The Smashing Pumpkins, Buena Vista Social Club, Luedji Luna, Madonna, Lobão e outros vêm radicalizando. A gente manda ver também nos quadros fixos e num "Sete-List" que, claro, também tem a ver com o Japão. Faz igual ao Ítalo: abre os braços e agradece pela existência do programa, cuja bateria começa às 21h na pista ou nas ondas da Rádio Elétrica, como ´preferir. Produção, apresentação e medalha no peito: Daniel Rodrigues.
A galerinha de "Kids", com o skate presente, dando um daqueles rolezinhos. |
A tensa cena da corrida em que Ali tem que dar tudo de si (mas nem tanto assim). |
O tiro certeiro de Merida que lhe garantiu a solteirice (e a indignação da mãe). |