Seja nas salas de cinema, pela Sessão da Tarde ou Corujão
da Globo, pelos VHS ou DVDs alugados, pela TV fechada ou streaming. Filmes mais
antigos ou mais novos. Com este ou aquele ator de protagonista.
Independentemente destas variáveis – todas cabíveis neste caso – os filmes da
série 007 encantam fãs de diversas gerações. Desde os que pegaram o nascer de
James Bond, há 60 anos quando do lançamento de “007 Contra o Satânico dr. No”,
primeiro da celebrada franquia inspirada no romance de Ian Fleming, até as
superproduções recentes, o famoso agente da MI-6, invariavelmente a serviço
secreto da Coroa britânica, tornou-se um dos mais queridos – e longevos –
personagens da história do cinema. Um ícone que excede os limites da tela.
Assim como super-heróis dos quadrinhos, figuras fictícias,
mas de tamanha realidade em sua existência que se tornam mais críveis que muita
gente de carne e osso, JB vive graças ao imaginário do público. Tal Batman,
Super-Homem ou Homem-Aranha, cujas características físicas, psicológicas e
visuais vão sendo manipuladas ao longo do tempo pelas mãos de diversos autores
tendo como base um conceito, este fenômeno acontece com 007 tendo ainda como
atenuante um fator: o de ele não ser um desenho, mas uma pessoa “de verdade”.
Quem ousa dizer que Pierce Brosnan ou Daniel Craig são menos James Bond do que
Sean Connery ou Roger Moore?
Connery, Lazemby, Moore, Dalton, Brosnan e Craig: qual o melhor James Bond?
Mas a idolatria a Bond e à série não se resume somente ao
ator que o interpreta - embora este fator seja de suma importância. A produção
caprichada e milionária, os efeitos especiais, a construção narrativa, os
lançamentos de moda e design, a trama aventuresca: tudo foi ganhando, à medida que a série ia tendo
continuidade, um alto poder midiático. As produções de 007 passaram a ser uma
vitrine que dita moda, tendências, comportamentos e parâmetros, inclusive na
indústria do cinema, uma vez que os filmes de espionagem nunca mais foram os
mesmos depois que este personagem foi parar nas telas. De certa forma, 007
acompanhou e desenvolveu muitas das invenções que o cinema de ação presenciou
ao longo deste tempo, funcionando como criador e criatura. Isso tudo sem falar
nos detalhes fundamentais: o charme canastrão de Bond, os vilões maníacos, a
beleza das bond girls, o tema original e as trilhas sonoras, as invenções estapafúrdias
de Q, as paisagens incríveis pelas quais se passeia (não raro, a quilômetros
por hora)...
Quem tem autoridade para dizer se tudo isso confere ou não
são, claro, os fãs. Por isso, convidamos 8 desses aficionados por James Bond
para nos dizerem três coisas: qual o seu ator preferido entre os que encarnaram
o espião ao longo destas seis décadas, qual a sua melhor trilha e,
principalmente, quais os seus 5 títulos preferidos da franquia. Todos eles
conhecem muito bem as artimanhas, os clichês, os truques, as piadinhas, as gags
e as viradas narrativas a ponto de antecipá-las mentalmente enquanto assistem
algum filme da série. Há longas melhores que outros? Qual o James Bond
preferido da galera? E das músicas-tema, muitas vezes oscarizadas, qual a mais “mais”?
Para isso, esse time de bondfãs foi chamado. Numa coisa, contudo, todos concordam:
é sempre uma emoção ver aquelas aberturas com efeitos especiais conceituais,
prólogo e, principalmente, aquela figura elegante surgindo de dentro do círculo
branco para virar-se na direção do espectador e atirar enquanto a toca a trilha
clássica de Monty Norman e John Barry. É a certeza de que, a partir dali, vem mais uma grande aventura de
Bond, James Bond.
*********
Rodrigo Dutra
formado em Letras e editor do Rodriflix (Porto Alegre/RS)
"Contra o Foguete da Morte": "Tá, filme ruim, mas o cara tá no bondinho do Pão de Açúcar... já vale 🤣🤣🤣"
Melhor James Bond:
Roger Moore
Filmes preferidos:
1. "007: O Espião que me Amava" (Lewis Gilbert, 1977)
2. "007 Contra Goldfinger" (Guy Hamilton, 1965)
3. "007 Contra o Satânico Dr. No" (Terence Young, 1962)
4. "007 Contra GoldenEye" (Martin Campbell, 1995)
5. "007 Contra o Foguete da Morte" (Lewis Gilbert, 1979)
Trilha preferida:
"Live and Let Die", Paul McCartney (filme: "Com 007 Viva e Deixe Morrer")
Christian Ordoque
historiador (Porto Alegre/RS)
Melhor James Bond:
Connery como JB mais velho jogando charme para Kim Basinger em "Nunca Mais..."
Roger Moore
Filmes preferidos:
1. "007 Contra Goldfinger"
2. "007 Contra o Foguete da Morte"
3. "007: A Serviço Secreto de Sua Majestade" (Peter R. Hunt, 1970)
4. "007: Nunca Mais Outra Vez" (Irvin Kershner, 1983)
5. "007 Contra Spectre" (Sam Mendes, 2015)
Trilhas preferidas:
"All the Time in the World" - Louis Armstrong (filme ""007: A Serviço Secreto de Sua Majestade")
"You Only Live Twice" - Nancy Sinatra (filme "Com 007 Só Se Vive Duas Vezes")
"Goldfinger" - Shirley Bassey (filme "007 Contra Goldfinger")
Luna Gentile Rodrigues
estudante (Rio de Janeiro/RJ)
As várias versões do poster de "Sem Tempo...", último filme da série, um dos escolhidos de Luna
Melhor James Bond:
Roger Moore
Filmes preferidos:
1. "Com 007 Viva e Deixe Morrer" (Hamilton, 1973)
2. "007 Na Mira dos Assassinos" (John Glen, 1985)
3. "007: O Mundo Não é o Bastante" (Michael Apted, 1999)
4. "007: Operação Skyfall" (Mendes, 2012)
5. "007: Sem Tempo Para Morrer" (Cary Fukunaga, 2021)
"GoldenEye" -Tina Turner (filme "007 Contra GoldenEye")
"Diamond Are Forever" - Shirley Bassey (filme "007: Os Diamantes São Eternos", 1971)
"On her Majesty's Secret Service" - John Barry (filme "007: A Serviço Secreto de Sua Majestade")
Vagner Rt
professor e blogueiro (Porto Alegre/RS)
Melhor James Bond:
1. Daniel Craig - "Ele bate sem cerimonia, foge do que esperamos do 007, por isso adoro ele."
2. Sean Connery - "Clássico e único, até hoje."
3. Pierce Brosnan - "Meu 007 da infância, de jogar do Nintendo 64."
Filmes preferidos:
1. "007: Quantum of Solace" (Marc Forster, 2008)
2. "007 Contra GoldenEye"
3. "007: Operação Skyfall"
4. "007: O Amanhã Nunca Morre" (Roger Spottiswoode, 1998)
5. "007 Contar Goldfinger""simplesmente clássico"
"007: O Amanhã Nunca Morre":
"Minha mãe era fã desses filmes então eles tem espaço no meu
coração, sem falar que foi o 007 da minha época"
Trilhas preferidas:
"Writing's On The Wall" - Sam Smith (filme "007 Contra Spectre")
"Skyfall" - Adelle
"Goldfinger" - Shirley Bassey
Leocádia Costa
publicitária e produtora cultural (Porto Alegre/RS)
Craig: melhor JB na opinião de Leocádia
Melhor James Bond:
Daniel Craig
Sean Connery
Filmes preferidos:
1. "007 Contra Spectre"
2. "007 Contra GoldenEye"
3. "007: Um Novo Dia para Morrer" (Lee Tamahori, 2002)
4. "Moscou Contra 007" (Young, 1964)
5. "Com 007 Viva e Deixe Morrer"
Trilhas preferidas:
"James Bond Theme" - John Barry (filme ""007 Contra o Satânico dr. No")
"Goldfinger" - Shirley Bassey
"GoldenEye" -Tina Turner
"Die Another Day" - Madonna (filme "007: Um Novo Dia para Morrer")
Clayton Reis
arquiteto, cartunista e blogueiro (Rio de Janeiro/RJ)
Melhor James Bond:
Roger Moore
Filmes preferidos:
1. "007: O Amanhã Nunca Morre"
2. "Com 007 Viva e Deixe Morrer"
3. "007: Operação Skyfall"
4. "007: O Espião que me Amava"
5. "007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro" (Hamilton, 1974)
Trilhas preferidas:
"Diamonds are Forever" - Shirley Bassey
"Tomorrow Never Knows" - Sheryll Crow (filme: "007: O Amanhã Nunca Morre")
"GoldenEye" - Tina Turner
"The World is so Enough" - Garbage (filme: "007: O Mundo Não É o Bastante")
"Live and Let Die" - Paul McCartney
A Garbage está entre as trilhas preferidas
Paulo Altmann
publicitário e blogueiro (Campinas/SP)
"Goldfinger", listado pela maioria e preferido de Altmann
Melhor James Bond:
Sean Connery
Filmes preferidos:
1. "007 Contra Goldfinger"
2. "007 Contra a Chantagem Atômica" (Terence Young, 1966)
3. "007 Contra o Satânico Dr. No"
4. "007: Operação Skyfall"
5. "Com 007 Viva e Deixe Morrer"
Trilhas preferidas:
"You Only Live Twice" - Nancy Sinatra
Daniel Rodrigues
jornalista, escritor e blogueiro (Porto Alegre/RS)
Moore: 0 James Bond mais querido pelos bondfãs
Melhor James Bond:
Roger Moore
Filmes preferidos:
1. "Com 007 Viva e Deixe Morrer"
2. "007: O Espião que me Amava"
3. "007 Contra Goldfinger"
3. "007: O Amanhã Nunca Morrer"
4. "007: A Serviço Secreto de Sua Majestade"
5. "007: Operação Skyfall"
Trilhas preferidas:
"Live and Let Die" - Paul McCartney
"GoldenEye" - Tina Turner
*********
Resultado final:
Melhor James Bond:
Roger Moore - 5 votos
Sean Connery - 2 votos
Pierce Brosnan e Daniel Craing - 1 voto
George Lazemby e Timothy Dalton - o votos
Filmes preferidos:
6 votos
"007 Contra Goldfinger"
5 votos
"007: Operação Skyfall" e "Com 007 Viva e Deixe Morrer"
3 votos
"007: O Espião que me Amava", "007 Contra GoldenEye" e "007: O Amanhã Nunca Morre"
2 votos
"007 Contra o Satânico Dr. No", "007 Contra GoldenEye", "007 Contra Spectre", "007 Contra o Foguete da Morte" e "007: A Serviço Secreto de Sua Majestade"
1 voto
"007 Contra a Chantagem Atômica", "007: Cassino Royale", "007 Contra o Foguete da Morte", "007 Na Mira dos Assassinos", "007: O Mundo Não é o Bastante", "007: Sem Tempo Para Morrer", "007: Quantum of Solace", "007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro" , "007: Nunca Mais Outra Vez", "007: Um Novo Dia para Morrer" e "Moscou Contra 007"
Morrissey chicoteando o ar com o fio de seu microfone em uma apresentação da Oye Esteban Tour.
Ele entrou no palco fazendo pose de esnobe, empinando o nariz e, logo ele que em hipótese alguma serviria à Coroa Britânica, surgia à nossa frente, transbordando ironia, ao som de "For Her Majesty's Secret Service", dos filmes de James Bond. Um sonho começava a se realizar. Se eu não podia mais ver The Smiths, uma das minhas bandas do coração, ao menos poderia ver seu ex-vocalista, não menos idolatrado por mim. Apesar de tão marcante na minha vida, muitos detalhes e até músicas me escapam da memória mais imediata, e acho que, de certa forma esse é um charme de uma época em que não ficava-se mais preocupado em fotografar e filmar, com os celulares pra cima, do que em ver e curtir o espetáculo.
O que lembro é que Morrissey vinha com uma banda jovem de uns garotos topetudos que pareciam saídos de "Juventude Transviada" ou de algum outro filme de James Dean. Não lembro de todas as músicas, é claro, mas me marcou bastante o fato de terem executado "The teachers are afraid about the pupils", música de um disco que, embora interessante, bem pegado no rock, "Sowthpaw Grammar", de 1995, tinha uma estrutura "difícil", iniciado e finalizado com duas canções quilométricas, ambas de letras curtas e de longa duração instrumental e "The Teachers...", por sinal, era uma delas, exatamente a qua abria o disco. Uma canção bastante boa, intensa, mas cuja execução, ali, ao vivo, não ficou das melhores, com uma base pré-gravada que não funcionou bem, rodando levemente descompassada em relação à original do disco, o que compromeu um pouco não somente o trabalho dos músicos, como até mesmo a própria performance vocal do cantor. Do mesmo disco lembro também de terem tocado a vibrante "Boy Racer" e ainda guardo vivo na retina Morrissey serpenteando o fio do microfone, como um chicote, acompanhando os primeiros acordes da música. Lembro com emoção de "Alma Matters" com o público entoando seu refrão como um hino, em coro com Moz, num dos momentos grandiosos do show. Dos Smiths, Morrissey e sua banda tocaram poucas, o que já era esperado pelo que se sabia de shows anteriores daquela turnê, até porque naquele momento profissional, o artista se empenhava com mais ênfase para que fosse reconhecido mais pelas virtudes de sua carreira solo do que pela trajetória exitosa de sua antiga banda. Mas com uma discografia de qualidade bem satisfatória e uma produção bastante prolífica e interessante, o repertório smithiano, embora superior ao da carreira solo do cantor, acabou não fazendo tanta falta e o show atendeu a todas as expectativas.
Lembro também que Moz usava naquele show camisetas com estampas vintage que ficava trocando o tempo inteiro e jogando a usada para a galera que disputava o pedaço de pano suado acirradamente. Embora bem posicionado para assistir à apresentação, não estava perto o suficiente para poder concorrer ao souvenir. Mas aquilo era dispensável. Minha maior recompensa eu já havia ganhado e era extamente estar ali. E isso ninguém podia tirar de mim. Depois disso até já vi Morrissey, aqui no Rio de Janeiro, mais uma vez e quase vi uma terceira vez quando ele teve que cancelar por problemas de saúde, mas aquele show no Bar Opinião, em Porto Alegre, guarda o encanto de ser ainda o momento mágico de ter à minha frente pela primeira vez um dos meus maiores idolos e um dos grandes nomes da história do rock. Preferia que fosse com Johnny Marr mas... já que não tinha jeito mesmo, parte do desejo estava cumprido e, diga-se de passagem, a parte mais significativa. Sim, eu tinha visto Morrissey.
Morrissey - Oye Esteban Tour 1999/2000
O vídeo, a seguir, mostra trechos da turnê Oye Esteban, em várias localidades, sendo que a partir do minuto 5, pode-se ver boa parte da apresentação de São Paulo, ocorrida poucos dias depois da de Porto Alegre e bastante parecida com a que relatei aqui.
Nesta época de final de ano, o cinema, essa representação encenada e
diegética da realidade, reforça sua função, seja ela de ajudar a refletir ou
simplesmente entreter (ou os dois juntos, por que não?). Como n’"O Poderoso Chefão - Parte 2", em que os acontecimentos da máfia e da política estão fervilhando
em plena virada de 1959 para 1960 em Cuba, ou em “Boogie Nights”, quando todos
interrompem a chegada da década de 80 por causa de um suicídio em plena festa
de Réveillon, o dia de Natal também (ou a passagem de 24 para 25) aparece em
alguns filmes não necessariamente como tema central, mas como um pano de fundo
essencial àquilo que se quer contar. Às vezes é um detalhe, mas extremamente
simbólico para determinada obra de cinema. Um nexo narrativo que contribui para
a história de forma a lhe trazer os ícones que a data representa (o nascimento
e o significado simbólico de Cristo, a figura pop do Papai Noel, a valorização
dos sentimentos de fraternidade e compaixão, a representação do consumismo, o
pertencimento à sociedade capitalista ocidental, etc.).
Por isso, o Clyblog registra aqui algo nessa linha: não aquelas
comédias natalinas típicas que, embora divertidas, são óbvias. Aqui, fugimos da
obviedade. Listamos, sim, filmes que se nutrem dos elementos natalinos mais
profundos por assim dizer, ainda que apenas como instrumento para dar um toque
à trama, para gerar contraste entre a aparência e real ou apenas para contar
melhor uma história. Se você está cansado de assistir as franquias “Esqueceram
de Mim” ou “Meu Papai é Noel”, aqui vão alguns títulos que não esquecem da
data, mas vão além da mesmice – e que, justo por isso, merecem ser vistos mesmo
em outras épocas do ano. Mesmo que, porventura, apenas passem pelo tema, o
Natal, com seus significados, está lá.
“Duro de Matar” (“Die Hard”, John
McTiernan, EUA, 1988)
Provavelmente o melhor filme de ação dos anos 80 junto com “Um Tira da
Pesada”, “48 Horas” e alguns outros poucos, tem o Natal como pano de fundo para
uma trama inteligente que mescla policial, comédia e realismo (sim, realismo)
na medida certa. O policial nova-iorquino John McClane (Bruce Willis) vai
visitar a esposa em Los Angeles, que está numa festa de Natal da empresa onde
trabalha, no edifício Nakatomi Plaza. Durante a festa, terroristas alemães,
liderados por Hans Gruber (Alan Rickman) invadem o prédio e sequestram todos os
convidados com a intenção de roubar milhões em ações da companhia. McClane
escapa de ser aprisionado pelo grupo de Gruber e, com grande dificuldade, mas
com perícia e astúcia, passa a combatê-los.
A fórmula é muito parecida com o que Hollywood fazia de muito tempo no
gênero ação/policial – as sequências com o gancho da tensão e as explosivas
cenas de ação, entremeadas por tiradas engraçadas que aliviam a seriedade e a periculosidade
– mas adiciona-lhe algo que passaria a servir de exemplo para trocentas
produções posteriores: a pegada realista. McClane derrota os terroristas neste
dia de Natal atípico, mas o consegue a custas de muito esfolamento. O conceito
de anti-herói, humano e mortal, é uma quebra de paradigma no cinema norte-americano
do gênero. Se há estilhaços de vidro no chão e McClane está descalço, ele vai
cortar o pé, ora essa! É exatamente isso que acontece, numa ressignificação do
tipo James Bond, perfeito e inatingível. Tanto é que, por tudo que passa, McClane
sai um trapo no final do filme, o qual finaliza emblematicamente com o jazz
natalino “Let It Snow! Let It Snow! Let It Snow!” na voz de Vaughn Monroe.
Igualmente, o contraste dos elementos visuais e alegóricos da data com a
violência (o vermelho da roupa do Papai Noel com o sangue dos ferimentos)
funciona muito bem. Daqueles que sempre que estão passando na TV se assiste,
inevitável.
"Duro de Matar" - "Ho-Ho-Ho!"
“Morte e Vida Severina” (Walter
Avancini, BRA, 1981)
Uma obra-prima da teledramaturgia mundial (vencedora do Emmy daquele
ano), é a encenação do poema de João Cabral de Melo Neto, o qual se chama
também “Auto de Natal Pernambucano”. Com músicas primorosas de Chico Buarque e
aproveitando parte do elenco que Zelito Viana usara na filmagem da história quatro
anos antes para o cinema, esta é, sem dúvida, a mais bela versão do texto
clássico do poeta pernambucano.
De forte cunho social e denunciador, narra a trajetória do retirante
nordestino Severino (José Dumond, impecável) do sertão árido à capital Recife
através de versos musicados ou recitados em busca de respostas à vida miserável
que leva. O que encontra em muitas das etapas dessa cruzada é apenas morte
através do descaso e da desassistência do povo, de “Severinos iguais em tudo na
vida”, o que o faz pensar em “saltar fora da ponte e da vida”. Mas o nascimento
de mais um “Severino”, filho de um carpinteiro pobre mas sábio, vem trazer
cores à desesperança. É a “boa nova” que o Natal ensina, o Cristo incutido
naquela pequena e franzina vida que se rebenta. “E não há melhor resposta/ que o espetáculo da vida?”.
“A Felicidade não se Compra”
(“It's a Wonderful Life”, Frank Capra, EUA, 1946)
Capra é um dos mestres do primeiro cinemão norte-americano. Era capaz
de criar filmes de marcantes conceitos estético e narrativo a um espírito
fortemente nacionalista, seja na valorização dos símbolos de seu país, seja no
recorrente tom moral típico daquele povo, o qual vai da puerilidade à
arrogância. No caso, mais para onírico, “A Felicidade...” conta a história de
um espírito candidato a anjo que, para ganhar suas asas, recebeu a missão de
ajudar um empresário (James Stewart) que, em virtude de grave problema
financeiro, tinha a intenção de se suicidar. O aspirante a anjo aparece-lhe na
véspera do Natal quando este está prestes a saltar de uma ponte. Ele fala de
sua missão e comentou que seria um desperdício matar-se, pois ele era
importante para muita gente. Ante o ceticismo de seu protegido, que se sentia
um fracassado, o amigo espiritual mostrou-lhe várias situações que teriam
acontecido se não fosse sua interferência: a morte do irmão, o desespero da II
Guerra (recém terminada quando o filme foi rodado), a tristeza da esposa, a
situação lastimável de sua cidade, entre outras.
Com fotografia P&B impecável – bastante forjada no cinema soviético
de Eisenstein e Vertov –, Capra amarra uma história cheia de acontecimentos com
um domínio narrativo espantoso sem deixá-la confusa ou chata. Trata-se de um
típico clássico natalino, eu sei, mas com tamanha qualidade não daria para
deixá-lo de fora – até por que, atualmente, está em desuso assistir a filmes
antigos ainda mais nessa ditatoriamente colorida época natalina. No final, a
mensagem é evidente, o que não lhe tira a emoção – até por que muito bem
escrito e realizado.
“Cortina de Fumaça” (“Smoke”,
Wayne Wang e Paul Auster, EUA/Alemanha, 1995)
Uma ode à solidariedade e ao respeito às diferenças, sejam elas
raciais, de gênero ou qualidades pessoais. Tem coisa mais a ver com Natal isso?
Pois esta pequena obra-prima com cara de Jim Jarmusch traz isso e mais um
pouco. O “isso” é a história envolvente e coral: Auggie Wren (Harvey Keitel)
tem uma tabacaria onde circulam tipos bem peculiares (olha aí as diferenças
subtextualizadas). Ele também tem um hábito próprio: o de fotografar, às oito
da manhã, a fachada de sua loja. É assim que ele conhece o escritor em crise
criativa e emocional Paul Benjamin (William Hurt), que, por um momento
fortuito, acaba conhecendo um jovem negro morador de rua a quem ajuda a
encontrar seu pai. A história é, na verdade, um reencontro das raízes pessoais
e dos laços afetivos mal resolvidos no passado.
O “um pouco mais” a que me referi é, além desse instigante subtexto, há
a célebre cena em que Auggie vai parar na casa de uma senhora cega cujo neto
furtara-lhe a loja. Ela, amorosa e sem os pré-conceitos de quem enxerga apenas
com os olhos, o recebe e o convida para cear com ela naquela véspera de Natal.
Tudo ao som da belíssima canção “Innocent When You Dream”, de Tom Waits. Cena emocionante. Uma história tão linda que, renovadas as emoções de todos na
trama, motiva o até então travado escritor Paul em seu novo romance, chamado: “Auggie
When’s a Christmas Story”.
"Cortina de Fumaça" - História de Natal de Auggie Wren
“O Natal do Charlie Brown” ou “Feliz
Natal, Charlie Brown” (“A Charlie Brown Christmas”, Bill Melendez, EUA, 1965)
Já havia me referido ao filme indiretamente aqui no blog no Natal de
2013 quando escrevi sobre a magnífica trilha sonora de Vince Guaraldi nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS. Pois além da preciosidade que musica o episódio, a própria
animação merece destaque. Com os elementos característicos da série de Charles
Schulz, o curta “O Natal do Charlie Brown” é o primeiro desenho animado da
turma dos Peanuts. Quando o questionador Charlie Brown reclama sobre o sentido
materialista que as pessoas dão à data, Lucy sugere que ele se torne o diretor
de uma peça teatral no colégio. Charlie Brown aceita, mas, claro, sua
insegurança e os ingovernáveis fatores externos fazem com que ele perca o
controle, frustrando-se. “Que puxa!” O
amigo de todas as horas Linus, entretanto, lhe consola relembrando o verdadeiro
sentido natalino.
Tem um Charlie Brown e Snoopy novo por estrear no Brasil que aproveita
o Natal (comercialmente, inclusive) como pano de fundo, mas este aqui é
insuperável, não só pela trilha original de Guaraldi mas pela precisão de
Melendez na direção, que sempre imprimiu à série de TV a dose certa de doçura,
comédia, entretenimento e ludicidade. Atração – e ensinamento – para crianças e
adultos.
Sou um tanto suspeito em falar desse filme, pois trata-se de meu
preferido da longa, profícua e expressiva filmografia do gênio Bergman.
Entretanto, como deixar de fora essa obra-prima que, além de alinhar-se
bastante com o recorte que proponho, é o amadurecimento total de um artista que
já nascera maduro para o cinema. Superprodução que encerra a carreira do
cineasta na grande tela, transcorre-se em dois anos da primeira década do
século XX na família Ekdahl. Após um alegre Natal, o pai de um casal de
crianças morre. Deste momento em diante Alexander (Bertil Guve), o menino, passa
a ver o fantasma do pai frequentemente. Tempos depois, sua mãe casa-se com um
extremamente rígido religioso e as crianças são obrigadas a deixar a casa da
avó paterna para viverem com a família do padrasto de hábitos severos, onde são
tratados como prisioneiros. Na casa do padrasto o sensível e inventivo
Alexander passa a ver o fantasma da primeira esposa dele e suas filhas, que
haviam morrido tentando escapar dele. Decorrido algum tempo, a mãe se
conscientiza da real personalidade do marido e de quanto seus filhos sofrem
naquela casa e planeja um modo de tirá-los daquele lugar e levá-los de volta para
casa.
O proposital clima espiritualista de toda a história faz cama para a
impactante sequência da fuga, em que as forças divinas operam um milagre de
Natal e os três conseguem escapar da prisão domiciliar. Haveria muito a se
falar sobre “Fanny e Alexander” (a relação entre pais e filhos, a
espiritualidade imanente, a percepção afinada da criança, a metáfora da vida
como palco – e vice-versa –, os limites entre vida e morte, etc.) mas destaco
aqui um fator primordial: o fato de o Natal estar presente no início e no final
do filme. A data do nascimento de Jesus demarca dois momentos psicológicos e
emocionais dos personagens, numa significação das possibilidades de mudança e
desenvolvimento da vida e das pessoas. Cada um com suas qualidades e
dificuldades, com suas personalidades e jeitos, mas passíveis de enxergarem o
mundo para além de si mesmos. Afinal, é Natal.
Londres tem inúmeros museus dos mais variados estilos, assuntos e interesses, desde arte a tecnologia, de história natural a moda, mas dentre todos, um dos mais legais, clássicos e imperdíveis é o lendário museu de cera de Madame Tussauds. Com suas reproduções altamente fiéis de celebridades, o museu é um dos mais famosos e frequentados do mundo. O acervo vai sempre se renovando, adequando-se à época e aos ídolos e grandes nomes que façam parte do momento, mas algumas figuras como Pelé, Michael Jackson, Marilyn Monroe, Beatles e a realeza britânica estão sempre presentes nas coleções. Vai a Londres? Não deixe de visitar o Tussauds, que como mais uma atração, curiosamente, fica exatamente na rua que inspirou o famoso livro de Arhtur Conan Doyle para o detetive Sherlock Holmes, a Baker Street, que tem até uma estátua para o icônico personagem de romances de mistério.
Confira abaixo algumas imagens do Madame Tussauds:
Deus Salve a Rainha. (Rainha Elizabeth e o Príncipe Consorte Philip)
Royalle with Cheese (Samuel L. Jackson e John Travolta)
Bond, James Bond. (Sean Connery)
Tudo é relativo. (Albert Einstein)
Meu brother Morgan (Morgan Freeman)
E aí, Nicolinha, será que rola? (Nicole Kidmann)
A benção, João de Deus. (João Paulo II)
Supense! (Alfred Hitchcock)
Acelera, Lewis! (Lewis Hamilton)
Beckham e a Posh Spice (David e Victoria Beckham)
Oscar e eu, divagando. (Oscar Wilde)
Os quatro rapazes (The Beatles)
Vamos fazer um som, aí, Jimi! (Jimi Hendrix)
Hum! Que peitinhos, Britney. (Britney Spears)
Nos contentamos com o que há de melhor, não é, Winston? (Winton Churchill)
Guilhotina neles (Luís XVI e Robespierre, os dois à esquerda e Maria Antonieta, bem à direita)
E na parte de fora, Sherlock Holmes, na Baker Street.