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quarta-feira, 24 de janeiro de 2024
Música da Cabeça - Programa #355
quinta-feira, 4 de janeiro de 2024
Criolo - “Convoque seu Buda” (2014)
Quando “Convoque seu Buda” foi lançado, no final de 2014, Criolo já ocupava seu merecido lugar no panteão dos grandes da música brasileira. “Nó na Orelha”, seu antecessor de três anos antes, havia garantido este posto ao cantor e compositor paulista ao lado de colegas do gabarito de Chico Buarque, Caetano Veloso e Milton Nascimento. Obras como “Subirodoistiozin”, “Não Existe Amor em SP” e “Grajauex” eram provas incontestes de que, depois de muitos anos, havia surgido um talento acima da média na já tão bem representada MPB, mas carente de novas referências.
Só status, contudo, não era suficiente para Criolo. Para um artista de alto nível e, principalmente, honesto consigo e para com seu público, contentar-se com a atribuição externa seria impensável. Ainda mais porque, indiretamente, espera-se, sim, que grandes artistas sigam produzindo bem e, consequentemente, evoluindo. Por isso, fazer um novo disco só para cumprir tabela lhe soaria, ao mesmo tempo, a mediocridade e calvário. O que se vê em “Convoque...”, além de um Criolo totalmente consciente de seu universo sonoro, é a manutenção de parte da estrutura narrativa da estreia, bem como da veia contestadora e do rap como força-motriz. Mas com acréscimos.
A pegada hip hop está lá, preservada, como na faixa-título e de abertura. Porém, já aí se nota um Criolo mais maduro e dono de uma musicalidade talvez menos instintiva. As referências não-óbvias ao rap samurai da Wu-Tan Clan, bem como a seus ídolos Sabotage e Racionais, chamam o ouvinte para uma experiência diferente. Na letra, a pungência onírica improvável de sua poética: "De uzi na mão, soldado do morro/ Sem alma, sem perdão, sem jão, sem apavoro/ Cidade podre, solidão é um veneno/ O Umbral quer mais Chandon/ Heróis, crack no centro/ Da tribo da folha favela desenvolvendo/ No jutsu secreto, Naruto é só um desenho".
Pronto: foi dada a largada para um novo grande disco de Criolo, que definitivamente não se resume ou se estreita, como “Nó...” já sugeria, apenas ao rap, sua raiz das quebradas paulistas. A musicalidade brasileira afro se homogeneíza fortemente agora. Caso evidente da obra-prima “Esquiva da Esgrima”. Misto de rap e candomblé. E que letra, que refrão! “Hoje não tem boca pra se beijar/ Não tem alma pra se lavar/ Não tem vida pra se viver/ Mas tem dinheiro pra se contar/ De terno e gravata teu pai agradar/ Levar tua filha pro mundo perder/ É o céu da boca do inferno esperando você”. E mais uma evolução visível: Criolo está cantando melhor. Seja nos detalhes de overdubs, nas variações de timbre e até na extensão, seu belo timbre está mais bem trabalhado e aproveitado.
Sem dar fôlego, Criolo apresenta aquela que é ao mesmo tempo a mais pop e uma das mais críticas do álbum: a sarcástica “Cartão de Visita”. Rap de excelente arranjo e cantado por ele com uma debochada voz afetada sobre a frivolidade perversa da alta sociedade, tem a parceira de Tulipa Ruiz no marcante refrão: “Acha que 'tá mamão, 'tá bom/ 'Tá uma festa/ Menino no farol se humilha e detesta/ Acha que 'tá bom/ Não é não nem te afeta/ Parcela no cartão/ Essa gente indigesta”. Nada menos que genial.
Mas Criolo estava, definitivamente, disposto a fazer história. “Casa de Papelão” pode não se tratar da melhor do disco, mas certamente a mais radical aproximação com aquilo que se entende por MPB. O arranjo, primoroso, lembra os dos clássicos discos dos anos 70 assinados por Rogério Duprat, Edu Lobo, Wagner Tiso ou Francis Hime. A música soa épica, densa, imponente. O forte teor social, igualmente, retraz as denúncias musicais e a atmosfera grave dos Anos de Chumbo, como "Cala a Boca, Bárbara", "Demônio de Guarda", "Sacramento", "Café". Deste nível. Criolo, que à época já ensaiava parcerias com Milton, Arthur Verocai e Tom Zé, chegava, sozinho, àquilo que seus mestres o ensinaram.
“Convoque...” tem, assim como “Nó...”, mais uma vez a mão dos produtores Daniel Ganjaman e de Marcelo Cabral nos arranjos, instrumentos e coautorias. Mas não se resume a estes, pois novos parceiros são, como o título sugere, convocados. A turma originalíssima da Metá Metá, donos da musicalidade afro mais raiz da música brasileira, são alguns deles. Seus integrantes, Kiko Dinucci, Thiago França e Juçara Marçal, aparecem em mais de uma faixa e em momentos fundamentais. É o que se vê noutra excelente do repertório, “Pegue pra Ela”, com a sonoridade folclórica dos pífaros tocados por França e a percussão marcante de Maurício Badé, bem como em “Pé de Breque”, dub jamaicano tal como reggae “Samba Sambei” do álbum anterior, compondo uma variação estratégica na narrativa sonora.
O samba, claro, está novamente presente. Repetindo também a "fórmula" de “Nó...”, que trazia o partido-alto "Linha de Frente", agora é vez da sociopolítica “Fermento pra Massa”, crônica urbana que defende em seus versos o direito à greve para se obter melhores condições de trabalho. Interessante que a música tem relação com o que Criolo fez antes, mas também com o que faria depois, a se ver por seu disco só de sambas “Espiral da Ilusão”, que lançaria 4 anos depois, e canções atuais.
Outra com olhar para a música brasileira de outros tempos, “Plano de Voo” carrega na lírica com uma letra extensa e densa que conta com ajuda do rapper Síntese. Encaminhando-se para o fim, a forte “Duas de Cinco” traz o sampler da canção "Califórnia Azul", de Rodrigo Campos, com a voz de Luísa Maita – filha de Amado Maita e de visível semelhança ao timbre da saudosa Beth Carvalho – para abrir a música com um canto melancólico e circunspecto, que dá lugar, aí sim, ao Criolo rapper. "Ela conta uma epopeia sem Ulisses", diz Criolo sobre seu rap-denúncia-confissão. Afinal, o narrador é um sujeito impregnado de "realidade", um sujeito comum que vivencia os fatos fractalmente narrados, sem a homérica intenção de heroísmo.
A excelente “Fio de Prumo (Padê Onã)”, com os vocais de Juçara e arranjo de Dinucci, inundam de signos brasileiríssimos e põem na boca de Juçara as palavras nagô: "Laroyê eleguá/ Guarda ilê, onã, orum/ Coba xirê desse funfum". Ancestralidade poética, musical, cultura. Resistência, ode, memória. Que forma de terminar um grande disco, aquele que punha definitivamente Criolo entre os maiores. Se “Nó...” serviu para ele abrir a porta ao de muito desvalorizado rap como sendo pertencente ao universo da música brasileira, “Convoque...” solidificou sua posição e desfez de vez qualquer preconceito musical, artístico ou cultural. E pode-se dizer hoje: sim, a linhagem de Noel Rosa, Pixinguinha, Dorival Caymmi, Gilberto Gil e outros gigantes fez-se preservada em Criolo.
FAIXAS:
quarta-feira, 3 de janeiro de 2024
Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2023
Rita e Sakamoto nos deixaram esse ano mas seus ÁLBUNS permanecem e serão sempre FUNDAMENTAIS |
Foi o ano em que nosso blog soprou 15 velinhas e por isso, tivemos uma série de participações especiais que abrilhantaram ainda mais nossa seção e trouxeram algumas novidades para nossa lista de honra, como o ingresso do primeiro argentino na nossa seleção, Charly Garcia, lembrado na resenha do convidado Roberto Sulzbach. Já o convidado João Marcelo Heinz, não quis nem saber e, por conta dos 15 anos, tascou logo 15 álbuns de uma vez só, no Super-ÁLBUNS FUNDAMENTAIS de aniversário. Mas como cereja do bolo dos nossos 15 anos, tivemos a participação especialíssima do incrível André Abujamra, músico, ator, produtor, multi-instrumentista, que nos deu a honra de uma resenha sua sobre um álbum não menos especial, "Simple Pleasures", de Bobby McFerrin.
Esse aniversário foi demais, hein!
Na nossa contagem, entre os países, os Estados Unidos continuam folgados à frente, enquanto na segunda posição, os brasileiros mantém boa distância dos ingleses; entre os artistas, a ordem das coisas se reestabelece e os dois nomes mais influentes da música mundial voltam a ocupar as primeiras posições: Beatles e Kraftwerk, lá na frente, respectivamente. Enquanto isso, no Brasil, os baianos Caetano e Gil, seguem firmes na primeira e segunda colocação, mesmo com Chico tendo marcado mais um numa tabelinha mística com o grande Edu Lobo. Entre os anos que mais nos proporcionaram grandes obras, o ano de 1986 continua à frente, embora os anos 70 permaneçam inabaláveis em sua liderança entre as décadas.
No ano em que perdemos o Ryuichi Sakamoto e Rita Lee, não podiam faltar mais discos deles na nossa lista e a rainha do rock brasuca, não deixou por menos e mandou logo dois. Se temos perdas, por outro lado, celebramos a vida e a genialidade de grandes nomes como Jards Macalé que completou 80 anos e, por sinal, colocou mais um disco entre os nossos grandes. E falando em datas, se "Let's Get It On", de Marvin Gaye entra na nossa listagem ostentando seus marcantes 50 anos de lançamento, o estreante Xande de Pilares, coloca um disco entre os fundamentais logo no seu ano de lançamento. Pode isso? Claro que pode! Discos não tem data, música não tem idade, artistas não morrem... É por isso que nos entregam álbuns que são verdadeiramente fundamentais.
Vamos ver, então, como foram as coisas, em números, em 2023, o ano dos 15 anos do clyblog:
PLACAR POR ARTISTA (INTERNACIONAL)
- The Beatles: 7 álbuns
- Kraftwerk: 6 álbuns
- David Bowie, Rolling Sones, Pink Floyd, Miles Davis, John Coltrane, John Cale* **, e Wayne Shorter***: 5 álbuns cada
- Talking Heads, The Who, Smiths, Led Zeppelin, Bob Dylan e Lee Morgan: 4 álbuns cada
- Stevie Wonder, Cure, Van Morrison, R.E.M., Sonic Youth, Kinks, Iron Maiden , U2, Philip Glass, Lou Reed**, e Herbie Hancock***: 3 álbuns cada
- Björk, Beach Boys, Cocteau Twins, Cream, Deep Purple, The Doors, Echo and The Bunnymen, Elvis Presley, Elton John, Queen, Creedence Clarwater Revival, Janis Joplin, Johnny Cash, Joy Division, Madonna, Massive Attack, Morrissey, Muddy Waters, Neil Young and The Crazy Horse, New Order, Nivana, Nine Inch Nails, PIL, Prince, Prodigy, Public Enemy, Ramones, Siouxsie and The Banshees, The Stooges, Pixies, Dead Kennedy's, Velvet Underground, Metallica, Dexter Gordon, Philip Glass, PJ Harvey, Rage Against Machine, Body Count, Suzanne Vega, Beastie Boys, Ride, Faith No More, McCoy Tyner, Vince Guaraldi, Grant Green, Santana, Ryuichi Sakamoto, Marvin Gaye e Brian Eno* : todos com 2 álbuns
PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)
- Caetano Veloso: 7 álbuns*
- Gilberto Gil: * **: 6 álbuns
- Jorge Ben e Chico Buarque ++: 5 álbuns **
- Tim Maia, Rita Lee, Legião Urbana, Chico Buarque, e João Gilberto* ****, e Milton Nascimento*****: 4 álbuns
- Gal Costa, Titãs, Paulinho da Viola, Engenheiros do Hawaii e Tom Jobim +: 3 álbuns cada
- João Bosco, Lobão, João Donato, Emílio Santiago, Jards Macalé, Elis Regina, Edu Lobo+, Novos Baianos, Paralamas do Sucesso, Ratos de Porão, Roberto Carlos, Sepultura e Baden Powell*** : todos com 2 álbuns
*contando com o álbum "Brasil", com João Gilberto, Maria Bethânia e Gilberto Gil
**contando o álbum Gilberto Gil e Jorge Ben, "Gil e Jorge"
*** contando o álbum Baden Powell e Vinícius de Moraes, "Afro-sambas"
**** contando o álbum Stan Getz e João Gilberto, "Getz/Gilberto"
PLACAR POR DÉCADA
- anos 20: 2
- anos 30: 3
- anos 40: -
- anos 50: 121
- anos 60: 100
- anos 70: 160
- anos 80: 139
- anos 90: 102
- anos 2000: 18
- anos 2010: 16
- anos 2020: 3
*séc. XIX: 2
*séc. XVIII: 1
PLACAR POR ANO
- 1986: 24 álbuns
- 1977 e 1972: 20 álbuns
- 1969 e 1976: 19 álbuns
- 1970: 18 álbuns
- 1968, 1971, 1973, 1979, 1985 e 1992: 17 álbuns
- 1967, 1971 e 1975: 16 álbuns cada
- 1980, 1983 e 1991: 15 álbuns cada
- 1965 e 1988: 14 álbuns
- 1987, 1989 e 1994: 13 álbuns
- 1990: 12 álbuns
- 1964, 1966, 1978: 11 álbuns cada
PLACAR POR NACIONALIDADE*
- Estados Unidos: 211 obras de artistas*
- Brasil: 159 obras
- Inglaterra: 126 obras
- Alemanha: 11 obras
- Irlanda: 7 obras
- Canadá: 5 obras
- Escócia: 4 obras
- Islândia, País de Gales, Jamaica, México: 3 obras
- Austrália e Japão: 2 cada
- Itália, Hungria, Suíça, França, Bélgica, Rússia, Angola, Nigéria, Argentina e São Cristóvão e Névis: 1 cada
domingo, 25 de junho de 2023
Liniker - Tim Music Rio - Praia de Copacabana - Rio de Janeiro /RJ (28/05/2023)
Liniker, poderosa, imponente, inteiramente dona do palco. |
Eis que em 2023 a justiça foi feita! Liniker, um dos maiores nomes da nova geração da música braseira, ganhou seu papel de destaque. Um show todinho dela. E nada mais merecido pois ela está cada vez melhor. Cantando ainda melhor, mais fluidez, espontaneidade, mais presença de palco, um repertório afiado e maduro, ou seja, um baita show.
Tenho que admitir que sou, na verdade, ainda, muito mais um admirador do que um fã e, desta forma, embora a ouça e me impressione com seu talento a cada audição, não conheço todo o repertório, não sei exatamente o nome da maioria das canções, ainda que já as tenha escutado mais de uma vez e até cante junto o refrão, lá no meio da galera. Mas dentre os pontos altos do show, com todos os méritos e elogios a seu maravilhoso repertório próprio, cujas letras impressionam pela poesia cotidiana carregada emotividade e de uma sensualidade urgente e selvagem, não há como não destacar a interpretação, a homenagem da artista a Djavan, segundo ela mesmo, uma de suas principais influências, cantando "Oceano". Meus Deus! Aquilo foi fenomenal. De arrepiar. Me arrepio, de novo, agora mesmo, escrevendo. Uma versão poderosa, emocionante, quase uma recriação de uma canção que, por si só, já é uma joia da música brasileira, e com uma interpretação dessa, então, fica ainda mais gigantesca.
Só esse momento já teria válido o show mas ele foi ainda mais que isso é Liniker cada vez confirma mais sua condição de uma das artistas mais significativas dos novos tempos da nossa música. Ave, Liniker!
trecho da música "Baby 95"
Cly Reis
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023
cotidianas #788 Especial Dia de Yemanjá - "Yemanjá Chegou"
Yemanjá chegou, menino-rei
Yemanjá chegou
Yemanjá chegou, menino-rei
Yemanjá chegou
Yemanjá chegou, menino-rei
Pede Salonpas pro papai que esse Free não é de Gelol
Que de tanto se rebaixar aponta o cu pro sol
Coca e formol não é Omeprazol
E quem paga pau pra elite, menor, passe o cerol
Às quatro da manhã lota uma van
Depois pegar um trem sentido Vietnã
Bater cartão, olha a cara do patrão
Como um loki desse aí vai mandar nos meus irmãos?
A vala é fria, o jogo é sujo, luto contra esse absurdo
Mausoléu de ouro e prata pra aquele que rouba tudo
E vala comum ao povo do subúrbio
"Sereia", de Alfredo Volpi (1960) |
Não fui eu que fiz a guerra e todo dia morre alguém
Enquanto isso a gente aplaude seus heróis
Pacote de Seven Boys
Yemanjá chegou
Yemanjá chegou, menino-rei
Yemanjá chegou
Yemanjá chegou, menino-rei
Ao corpo lençol, favela não é pogobol
Quer falar mal dos pretos, lave a boca com pinho sol
Nas redes comentários e unfolow now now
Eu não vim pra te agradar, eu sou favela lol lol
Escola, educação é caixão lacrado
Eles gostam de humilhar e o ódio vem do descaso
Todo secundarista é um alvo marcado
No Brasil professor apanha, é processado
A fé é lindo, amor é o fruto
Luto contra esse absurdo
Mausoléu de ouro e prata pra aquele que rouba tudo
E vala comum ao povo do subúrbio
Tsu-zen na favela, cê é quem?
Não fui eu que fiz a guerra e todo dia morre alguém
Enquanto isso a elite aplaude seus heróis
Pacote de Seven Boys
Yemanjá chegou
Yemanjá chegou, menino-rei
Yemanjá chegou
Yemanjá chegou, menino-rei
Yemanjá chegou
Yemanjá chegou, menino-rei
Yemanjá chegou
Yemanjá chegou, menino-rei
quinta-feira, 5 de janeiro de 2023
Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2022
O nigeriano Fela Kuti foi um dos destaques do ano nos nossos Álbuns Fundamentais |
No campo internacional, os Beatles ampliaram sua vantagem na liderança entre artistas, embora, entre os países, seja os Estados Unidos quem lideram com folga. Destaque na 'disputa' internacional para o primeiro nigeriano na lista, Fela Kuti, que aumenta o número de representantes africanos, ainda tímido, nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS. O Brasil segue na segunda colocação, mesmo com a reação dos ingleses que não colocaram nenhum álbum em 2021 mas voltaram a ter destacados grandes discos em 22. Só que com três craques da música brasileira, Gil, Caetano, Paulinho e Milton, fazendo oitenta anos em 2022, ficou impossível não destacar discos deles e abrir vantagem novamente sobre os ingleses. A propósito, Milton Nascimento que, de início não tinha nenhum, depois colocou o "Clube da Esquina", com Lô Borges, depois a parceria com Criolo e agora, com os dois que emplacou nesse ano que marcou seus oitentinha, já desponta com destaque na lista nacional. Contudo, ele não era o único a completar oito décadas e Caetano Veloso, garantindo mais um na nossa lista de grandes discos, continua na liderança nacional.
Em 2022, o ano que mais teve discos na nossa lista foi o de 1992, embora a década de 80 tenha colocado 8 na lista, mas ainda não o suficiente para ultrapassar a de 70 que ainda é a que lidera nesse âmbito.
Vamos, então, aos números que é o que interessa.
Confira aí abaixo como ficou a situação dos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS depois da temporada 2022:
- The Beatles: 7 álbuns
- Wayne Shorter: 5 álbuns ***
- David Bowie, Kraftwerk, Rolling Sones, Pink Floyd, Miles Davis e Wayne Shorter: 5 álbuns cada
- John Cale* **
- Talking Heads, The Who, Smiths, Led Zeppelin, Bob Dylan, John Coltrane e Lee Morgan: 4 álbuns cada
- Stevie Wonder, Cure, Van Morrison, R.E.M., Sonic Youth, Kinks, Iron Maiden ,Lou Reed** e Herbie Hancock***: 3 álbuns cada
- Björk, Beach Boys, Cocteau Twins, Cream, Deep Purple, The Doors, Echo and The Bunnymen, Elvis Presley, Elton John, Queen, Creedence Clarwater Revival, Janis Joplin, Johnny Cash, Joy Division, Madonna, Massive Attack, Morrissey, Muddy Waters, Neil Young and The Crazy Horse, New Order, Nivana, Nine Inch Nails, PIL, Prince, Prodigy, Public Enemy, Ramones, Siouxsie and The Banshees, The Stooges, U2, Pixies, Dead Kennedy's, Velvet Underground, Metallica, Dexter Gordon, Philip Glass, PJ harvey, Rage Against Machine, Body Count, Suzanne Vega, Beatie Boys, Faith No More, McCoy Tyner, Vince Guaraldi, Grant Green e Brian Eno* : todos com 2 álbuns
PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)
- Caetano Veloso: 7 álbuns*
- Gilberto Gil: * **: 6 álbuns
- Jorge Ben: 5 álbuns **
- Tim Maia, Legião Urbana, Chico Buarque e Milton Nascimento +#: 4 álbuns
- Gal Costa, Titãs, Paulinho da Viola, Engenheiros do Hawaii e João Gilberto* ****: 3 álbuns cada
- Baden Powell***, João Bosco, Lobão, Novos Baianos, Paralamas do Sucesso, Ratos de Porão, Roberto Carlos, Criolo + e Sepultura : todos com 2 álbuns
*contando com o álbum "Brasil", com João Gilberto, Maria Bethânia e Gilberto Gil
**contando o álbum Gilberto Gil e Jorge Ben, "Gil e Jorge"
*** contando o álbum Baden Powell e Vinícius de Moraes, "Afro-sambas"
**** contando o álbum Stan Getz e João Gilberto, "Getz/Gilberto"
PLACAR POR DÉCADA
- anos 20: 2
- anos 30: 3
- anos 40: -
- anos 50: 120
- anos 60: 97
- anos 70: 145
- anos 80: 124
- anos 90: 96
- anos 2000: 14
- anos 2010: 16
- anos 2020: 2
*séc. XIX: 2
*séc. XVIII: 1
PLACAR POR ANO
- 1986: 22 álbuns
- 1977: 19 álbuns
- 1969, 1972, 1976, 1985, 1992: 17 álbuns
- 1967, 1968, 1971, 1973 e 1979: 16 álbuns cada
- 1970 e 1991: 15 álbuns cada
- 1965, 1975, 1980 e 1991: 14 álbuns
- 1987 e 1988: 13 álbuns
- 1989 e 1994: 12 álbuns cada
- 1964, 1966 e 1990: 11 álbuns cada
- 1978 e 1983: 10 álbuns
PLACAR POR NACIONALIDADE*
- Estados Unidos: 201 obras de artistas*
- Brasil: 145 obras
- Inglaterra: 118 obras
- Alemanha: 9 obras
- Irlanda: 6 obras
- Canadá: 4 obras
- Escócia: 4 obras
- Islândia, País de Gales: 3 obras
- México, Austrália e Jamaica: 2 cada
- Japão, Itália, Hungria, Suíça, França, Bélgica, Rússia, Angola, Nigéria e São Cristóvão e Névis: 1 cada
quarta-feira, 7 de dezembro de 2022
Música da Cabeça - Programa #296
Não fica assim, Busquets! Marrocos só está tomando a Espanha de novo. Olha só: pra você amargar a derrota da melhor forma possível, hoje tem MDC, que vai trazer bálsamos como Whale, Joy Division, Criolo, Adoniran Barbosa e mais. Ainda tem Cabeção sobre o saudoso Arnaud Rodrigues e Música de Fato sobre Os Sertões. É muita coisa boa pra ficar com essa cara aí de chororô! Faz assim: põe na arábica Rádio Elétrica às 21h, que essa ressaca passa. Produção, apresentação e classificação: Daniel Rodrigues
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quarta-feira, 5 de outubro de 2022
Música da Cabeça - Programa #287
Prontos para a segunda dose? É, minha gente, tem segundo turno, sim, e o MDC está aqui pra ajudar a engolir essa e seguir em frente, que vem mais por aí. Nesse empenho conosco estão Criolo, Herbert Vianna, Public Enemy, Bill Withers, Simply Red e mais. A gente também chamou o Síndico Tim Maia, que completaria 80 anos se vivo, pra uma participação no Sete-List. Com o copo meio cheio, o programa de hoje vai ao ar às 21h na etílica mas sóbria Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues. Estão servidos?
Rádio Elétrica:
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quarta-feira, 27 de julho de 2022
Música da Cabeça - Programa #277
Evocamos a força delas para o MDC vem hoje. Celebrando as mulheres negras do passado, do presente e do futuro, temos Criolo, R.E.M., Judy Mowatt, Caetano Veloso, Crosby, Stills, Nash & Young e mais. No quadro especial, "Cabeção" com o músico e produtor recém-sessentão Steve Albini. Com a bênção de Dandara, Zezé, Lélia, Ciata, D, Ivone e todas elas o programa vai ao ar às 21h na "preta pretinha" Rádio Elétrica. Produção, apresentação e devoção: Daniel Rodrigues.
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quarta-feira, 1 de junho de 2022
Música da Cabeça - Programa #269
Descobrimos o que todo mundo quer saber: qual a tatuagem que Anitta fez no tororó! Claro que foi do MDC, né, gente? Ela sabe o programa de hoje vai deixar a sua marca e que vai ter de um todo: The Velvet Underground, Tim Maia, Criolo, Ronnie Lane & Pete Townshend, Gilberto Gil, Ratos de Porão e mais. Ainda, Cabeção pelos 100 anos de nascimento de Iannis Xenakis. Sem deixar o seu na reta, o programa é às 21h, na tatuada Rádio Elétrica. Produção, apresentação e marca íntima: Daniel Rodrigues.
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segunda-feira, 16 de maio de 2022
Criolo, com participação especial de Liniker - Tim Music Rio - Praia de Copacabana - Rio de Janeiro /RJ (14/05/2022)
Criolo comandando o palco ao lado do DJ Dandan e com seu trio de multi-instrumentistas ao fundo. |
Sim, voltamos aos shows! O ClyLive até já havia voltado a ter relatos de comparecimento a espetáculos, por parte de colaboradores, mas, depois de todo o período de pandemia, suspensão de eventos, distanciamento, aquele temorzinho pela exposição, pela aglomeração, parece que agora as coisas já estão suficientemente controladas para que, mesmo com alguns cuidados, a gente volte para a muvuca.
E não tinha maneira melhor de voltar do que com um showzaço desses! Criolo, juntamente com seu trio de percussão e seu DJ e MC Dandan, destruíram, botaram tudo abaixo, quebraram tudo, causaram uma verdadeira tempestade de areia na praia de Copacabana, no Festival Tim Music Rio. O cara é pura força, pura intensidade! É rap, é soul, é reggae, é batuque, é africanidade, é música brasileira. Muita energia vinda do palco com uma resposta incrível do público que entoava com empolgação e vibração os versos contundentes e incisivos do cantor, desde as coisas mais recentes, como "Preto ganhando dinheiro incomoda demais", do novo trabalho "Sobre Viver", às mais conhecidas como, "Eu tenho orgulho da minha cor /Do meu cabelo e do meu nariz /Sou assim e sou feliz /Índio, caboclo, cafuso, criolo /Sou brasileiro", da marcante "Sucrilhos", assinando embaixo no discurso de resistência, de luta, mas sobretudo de paz, amor e igualdade.
Como se não bastasse a performance magnética de Criolo, a programação previa a participação de Liniker, um dos nomes que, particularmente, mais admiro da nova geração nacional, e que embora tenha demorado e se limitado a um trecho bastante reduzido do show, a canja que deu valeu a pena cada minuto. Com seu vocal potente e com uma presença de palco eletrizante, a cantora incendiou o público e botou a baixo o que ainda restava. Destaque todo especial para sua participação na, já clássica, "Não Existe Amor em SP", que com os dois ao microfone, com a melancolia calculada de Criolo, e com poderio vocal dela, foi uma daquelas coisas, simplesmente, de arrepiar.
Voltando ao Live em grande estilo!
Muito contente em ter presenciado um espetáculo como esse, com tanta atitude, inclusão, respeito e diversidade, e com dois dos grandes nomes da atualidade da música brasileira. Pra lavar a alma por todo esse tempo longe dos shows.
quarta-feira, 20 de abril de 2022
Música da Cabeça - Programa #263
Mais um MDC especial pelos nossos 5 anos! Claro, com muita coisa legal, como sempre: Criolo, George Duke, Ivan Lins, Miles Davis, Leo Jaime e mais. Na retrospectiva, um Cabeção de junho de 2019. Tudo hoje, na Rádio Elétrica, 21h. E se liga na nossa #promo5anosmdc em parceria com a Regentag, que vai sortear 3 camisetas personalizadas!
A dinâmica para participar do sorteio tem quatro etapas:
1) Responder nos comentários desse post a seguinte pergunta: "Quem você gostaria de ter estampado em sua camiseta para comemorar os 05 anos do MDC?"
2) Marcar 03 (três) amigos para eles também participarem do sorteio.
3) Marcar a hashtag #promo5anosmdc
4) Curtir a página do Música da Cabeça no Facebook e/ou seguir no Instagram.
Os três sorteados serão conhecidos durante o programa, no final de abril.
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quarta-feira, 26 de janeiro de 2022
Música da Cabeça - Programa #251
Ela cumpriu a promessa de cantar até o fim. Prosseguindo com seu canto, o MDC de hoje faz homenagem à deusamulher rodando não somente ela, como também The Beatles, Simple Minds, Criolo, Luiz Melodia e +. Ainda temos Legião Urbana no "Cabeça dos Outros" e aniversariante no "Palavra, Lê". Duro na queda, o programa das 21h desta quarta vai estar igual Elza Soares: pra fuder! Isso na Rádio Elétrica, nosso lugar de fala. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues.
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segunda-feira, 24 de janeiro de 2022
Fela Kuti & The Africa '70 with Ginger Baker – “Why Black Man Dey Suffer” (1971)
Pode-se dizer que com Fela Kuti aconteceu o mesmo choque transformador. Nascido na cidade de Abeokuta, no estado de Ogum, na Nigéria, em uma família de classe média alta, o músico, performer, agitador cultural e ativista Fela Anikulapo Ransome-Kuti tinha exemplos dentro de casa para autovalorizar-se. A mãe, Funmilayo Ransome-Kuti, foi a primeira mulher ativista dos direitos em seu país, e seu pai, Reverendo Israel Oludotun Ransome-Kuti, um pastor protestante e diretor de escola. É em Londres, onde foi estudar Medicina nos anos 50, que migra definitivamente para e faculdade de Música, retornando a Lagos posteriormente para formar a banda Nigeria ‘70. Porém, só em 1969, quando, em meio da Guerra Civil da Nigéria, vai para os Estados Unidos e se depara com efervescência do movimento Black Power, que Fela encontra-se consigo mesmo. Relaciona-se com a ativista Sandra Smith, membra dos Panteras Negras, que o influencia fortemente em sua música e visões políticas. Fela despe sua música de qualquer resquício colonizador e mergulha nas raízes de seu povo, de sua gente. É ali que, então, retorna novamente à capital nigeriana Lagos recarregado para assumir o posto ao qual agora entendera estar destinado: tornar-se um símbolo de resistência política.
O referencial Fela: revolução que perdura |
Composto por apenas duas longas sessões, uma de cada lado do vinil (expediente que usaria várias outras vezes em sua vasta discografia), “Why Black...” explora a musicalidade do multi-instrumentista Fela e de seus parceiros em temas que se desenvolvem de forma crescente e aglutinante. Cantos tradicionais africanos, percussão marcada num compasso ritualístico e vocais e estrutura musical que passam pelo jazz e linhas de metais funk. O endless groove também é usado, com um ritmo básico com baterias, muted guitar e baixo, que são repetidos durante o andamento, algo que influenciaria sobremaneira o funk e o hip-hop. Além disso, Fela fazia questão de cantar em um Pidgin baseado no inglês, de forma que sua música pudesse ser apreciada por indivíduos de toda a África, onde as línguas faladas locais são diversas e numerosas.
Ambas as músicas carregam um discurso fortemente desafiador e engajado, como jamais havia se ouvido antes na oprimida África. Sua República Kalakuta, que reunia uma comuna, um estúdio de gravação e uma casa, além do Afrika Shrine, boate onde apresentava regularmente suas performances, era declaradamente independente da Nigéria. Ou seja: uma pedra no sapato para a ditadura nigeriana. A letra da faixa-título, questiona: “Por que os negros sofrem hoje”? “Por que homem negro não ganha dinheiro hoje?”. Sob um ritmo “chamado Kanginni Koko, usado em algum tipo particular de santuários na minha cidade natal, Abeokuta City”, explica Fela na letra, a música não deixa dúvida do quanto era perigosa a sua mensagem para o governo militar:
“Nossas riquezas foram levadas para suas terrasEm troca, eles nos deram sua colôniaEles tiram nossa cultura de nósEles nos deram uma cultura que não entendemosNegros, não nos conhecemosNão conhecemos nossa herança ancestralNós brigamos todos os diasNunca estamos juntos, nunca estamos juntosÉ por isso que os negros sofrem hoje”.
Já a outra faixa do disco, valendo-se bastantemente dos dialetos, “Ikoyi Mentality Versus Mushin Mentality”, escancara as diferenças de “mentalidade” dos bairros rico (Ikoyi) e pobre (Mushin) de Lagos, exigindo que todos sejam respeitados como seres humanos. Enquanto o Ikoyi representa o “homem de fora” que viajou o mundo todo e levou para a Nigéria uma “civilização que não entendemos”, o “Homem Mushin”, nativo, mesmo nunca tendo se deslocado fisicamente para lugar nenhum devido a suas condições, é capaz de entender “a linguagem das pessoas”, de falar a “língua da África”.
A própria arte da capa, de autoria de Lemi Ghariokwu, artista visual e designer autor das principais capas de discos de Fela Kuti, trazia essa força de ativismo. Em traços muito característicos, Lemi monta uma espécie de hieróglifos pictográfico iorubá, representando questões sociais, religiosas e existenciais.
As tensões foram se avolumando em relação a Fela ao longo dos anos, o qual se tornou uma espécie de inimigo nº 1 do ditador Olusegun Obasanjo. Tanto foi que, em 1977, mil soldados atacaram a comuna. Fela foi severamente espancado e sua mãe, já idosa, arremessada de uma janela, provocando-lhe a morte. A República Kalakuta foi incendiada e o estúdio e a boate destruídos. O que não foi motivo para o combativo Fela baixar a guarda. Aliás, não faltaram episódios polêmicos ou controversos na vida de Fela: além de outros discos e shows, perseguição por parte do governo, prisões forjadas, candidaturas à presidência da Nigéria, poligamia e a conversão a uma corrente mística bastante duvidosa. A resistência genuína acabaria em 2 de agosto de 1997 quando, atingido pelo então irremediável vírus HIV, Fela Kuti, enfim, rendia as armas.
Não apenas a sonoridade, com suas texturas e polirritmia, quanto a concepção da arquitetura melódica, seriam largamente inspiradoras daquilo que alguns anos depois passaria a se chamar world music. David Byrne, Brian Eno, Stevie Wonder, Peter Gabriel, Malcolm McLaren e Beyoncé foram alguns dos ocidentais que beberam em sua fonte baseada nas difíceis harmonias pentatônicas. Gilberto Gil, igualmente, foi outro que chegou a visitar Shrine na metade dos anos 70, retornando para o Brasil com uma nova concepção de negritude a qual desaguou no disco “Refavela”. Como Gil, outros brasileiros tal Criolo, BaianaSystem, Metá Metá e Rincon Sapiência também prestam tributo à música de Fela. Está no novo afropop, no left-field rap, no alternative R&B, no jazz contemporâneo. O afrobeat representa, de fato, uma revolução travada a partir da luta de alguém que entendeu o tamanho da sua responsabilidade e cujos ecos seguem sendo ouvidos até hoje. Uma luta que lhe valeu a vida, mas que, no entanto, fez-lhe cumprir com seu objetivo revolucionário: tornar-se um grande homem.
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