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sexta-feira, 23 de julho de 2010

Van Morrison - "Astral Weeks" (1968)



"As canções de Astral Weeks" ... eram de outro tipo de lugar nada óbvio. Elas são poesia e reflexões míticas canalizadas da minha imaginação."
Van Morrison


Uma obra inusitada!
Em seu segundo álbum solo, após deixar o Them, Van Morrison surpreende com um álbum acústico acompanhado por músicos de jazz e rythm'n blues, recheado de improvisações e virtuosismo.
Composições belas e de rara inspiração; interpretações emocionantes; uma sonoridade singular. Tudo isso faz de "Astral Weeks" um dos meus discos preferidos.
Destaques para a excelente primeira faixa, que dá nome ao álbum; para a tocante "Beside You", para "The Way Young Lovers Do" que ainda traz ecos do Them e para "Slim Slow Slider" que fecha com chave-de-ouro.
"Astral Weeks" de Van Morrison, amigos: Básico!
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FAIXAS:
  1. "Astral Weeks" – 7:06
  2. "Beside You" – 5:16
  3. "Sweet Thing" – 4:25
  4. "Cyprus Avenue" – 7:00
  5. "Afterwards"
  6. "The Way Young Lovers Do" – 3:18
  7. "Madame George" – 9:45
  8. "Ballerina" – 7:03
  9. "Slim Slow Slider" – 3:17
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Ouça:
Van Morrison Astral Weeks


Cly Reis

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Van Morrison - "Moondance" (1969)



"Não me encaixo nos padrões do showbiz, definitivamente"
Van Morrison



 Depois de um trabalho ‘difícil’, introspectivo, de vendagens baixas, um projeto conceitual quase acústico, como foi "Astral Weeks", o inquieto e criativo Van Morrison tirava da cartola outra obra-prima. “Moondance” de 1969, visitava o jazz, o soul, o blues, o folk, com beleza, sutileza e sofisticação. “Moondance” a canção que nomeia o disco é exemplo perfeito desse apuro sonoro, num jazz-rock charmoso cheio de metais e de interpretação impecável do cantor.
As baladas “Crazy Love” e “Brand New Day” são duas preciosidades, a primeira com uma bela linha gospel das backing vocals e a outra altamente sofisticada em sua composição misturando jazz, country e gospel de uma maneira incrível, com destaque para o trabalho de piano e para uma slide-guitar chorosa que conduz a canção.
“These Dreams of You” é bem blues; já “Into the Mystic” vai mais pelo lado regionalista, interiorano, explorando de certa forma uma veia folk no trabalho de Morrison; e “Caravan” destaca-se sobemaneira pela interpretação envolvida e intensa do cantor. “And It Stoned Me”, que lembra bandas fúnebres de New Orleans por causa dos metais, é absolutamente notável; a embalada “Come Running”, carregada no soul é espetacular; “Glad Tidings”, que também vai por essa linha black-music não faria feio pra nenhum James Brown; e o rock-barroco “Everyone” ainda é resquício do trabalho anterior de Morrison pela levada acústica e uso de flautas.
Se parecia que Van Morrison tinha chegado ao máximo com "Astral Weeks", “Moondance” estava lá, pelo menos para botar aquela duvidazinha na cabeça dos fãs e críticos.
Eu sou um que fico com essa dúvida? Qual o melhor, “Moondance” ou "Astral Weeks"?
Na dúvida, tenha os dois.

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FAIXAS:
1. "And It Stoned Me" — 4:30
2. "Moondance" — 4:35
3. "Crazy Love" — 2:34
4. "Caravan" — 4:57
5. "Into the Mystic" — 3:25
6. "Come Running" — 2:30
7. "These Dreams of You" — 3:50
8. "Brand New Day" — 5:09
9. "Everyone" — 3:31
10. "Glad Tidings" — 3:42

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Ouça:
Van Morrison Moondance


Cly Reis

sexta-feira, 5 de julho de 2019

Nick Drake - "Five Leaves Left" (1969)



"O violão de Nick sempre foi perfeito, sua voz era sempre perfeita".
Joe Boyd, produtor musical

"Existe algo místico sobre Nick Drake, pois ele gravou apenas três discos e não é muito conhecido. Mas há algo mágico em sua música, uma espécie de fragilidade que muitos podem reconhecer".
Paul Weller

"Eu não acho que tencionava ser uma estrela, mas creio que ele sentiu que tinha algo a dizer às pessoas de sua própria geração, que poderia torná-las mais felizes, e ele sentiu que não havia conseguido".
Molly Drake, mãe de Nick Drake

O ano de 1969 é talvez o mais abundante da história da música moderna. Na música clássica e de vanguarda, John Cage, Dimitri Shostakovitch e sir. Maxwell Davies produziam obras referenciais como a “HPSCHD”, “Sinfonia nº 14” e “Vesalii Icones”, respectivamente. No jazz, Miles Davis trazia o duo de discos que abriria as portas para o fusion, “Bitches Brew” e “In A Silent Way”, e Manfred Eicher lançava na Alemanha o revolucionário selo ECM. No Brasil, já exportador da bossa nova, o Tropicalismo erigia seus mais pungentes manifestos ainda hoje em processo de assimilação. Se foi assim para estes gêneros, imagine para o rock! Tudo culminava naquele último ano da efervescente década de 60. A segunda geração do pós-guerra, os baby boomers, deparava-se com a emergência de uma nova sociedade num mundo em transformação, o que se expressava nas artes de maneira avassaladoramente criativa, sendo a música, especialmente o rock, a principal delas.

São deste ano, só para se ter ideia, o Festival de Woodstock, a pintura musical-impressionista “Astral Weeks”, de Van Morrison, os dois primeiros da Led Zeppelin, começo do metal/hard rock, o grito da denúncia Black Power “Stand!”, da Sly & Family Stone, a paulada inicial do punk da MC5 e da The Stooges e a perfeição do “canto do cisne” beatle, “Abbey Road”. Mais do que os dois anos anteriores, também fartos, a sensação que se tinha em 1969 era a de que se findava um ciclo sem acabá-lo. Talvez por isso a angústia gerada em artistas e músicos em simbolizá-lo, em registrá-lo, em guardá-lo para a posteridade. Uma dessas mentes impactadas pelo contexto sociocultural da época é o cantor e compositor britânico-birmanês Nick Drake. É dele um dos históricos trabalhos cunhados naquele fatídico 1969 e que está completando 50 anos de lançamento: “Five Leaves Left”.

Capaz de unir a postura transgressora do rock com a tradição dos trovadores medievais, Drake traz em seu folk uma poesia ora arcadista ora romântica. Isso aliado a uma sonoridade altamente expressiva e penetrante, reforçado por um canto sóbrio, na medida exata. Tudo numa atmosfera cult que nem Dylan e nem Donovan conseguiram atingir. Ainda, bom gosto absoluto nos arranjos de Harry Robinson e Robert Kirby, os quais, sintonizados com os gostos de Drake, traziam como referência a atmosfera vanguardista da Velvet Underground, o barroco da Beach Boys de “Pet Sounds” e o primor melódico dos mestres do folk e do blues.

Clássica sessão de fotos de Keith Morris em 1969
mostra o alto e elegante Drake
O clima sombrio e peculiar da música de Drake era fruto do gênio de um jovem alto, elegante e bonito, porém tímido e antissociável. Em contrapartida, absolutamente inventivo e capaz. Além de praticar vários esportes na adolescência, desde cedo mostrava habilidades musicais. Tocava clarinete, saxofone, piano e, com muita desenvoltura, o violão, seu instrumento-base. É do pinho que Drake tira preciosidades como “Time Has Told Me”, cuja combinação com a guitarra folk abre “Five...” numa declaração bastante confessional e sobre a passagem do tempo, tema recorrente na obra do músico: “O tempo me disse/ Você é um achado raro/ Uma cura problemática/ Para uma mente problemática”. Das mais lindas canções daquele ano – talvez da década de 60, como uma “Blackbird”, "Blowin' in the Wind" ou “Little Wing”  – “River Man” é tão melancólica e potente, que parece o escorrer de uma lágrima mansa. As cordas intensificam o sentimentalismo dos versos entoados com rara candura sobre uma sofrida personagem Betty: “Estou indo ver o homem do rio/ Indo dizer a ele tudo que eu puder/ Sobre o plano/ Pra quando desabrocharem as violetas”.

Outra de “beleza sombria e arrepiante”, como classificou o crítico musical Richie Unterberger,  vem na sequência. É “Three Hours”, um country de ares dark cujo baixo acústico mantém um tom grave enquanto o violão dedilha um riff variante, quase improvisado. As cordas orquestradas por Kirby carregam na intensidade para fazer cama à voz seca e contida de Drake, lembrando temas como “She’s Leaving Home”, dos Beatles, e aquilo que Morrissey repetiria quase duas décadas mais tarde com a igualmente arrebatada “Angel, Angel, Down We Go Together” – inclusive no final repentino.

A habilidade de criar afinações diferenciadas para o violão aparecem muito claramente em “Way To Blue”, outra cortante, e o country-rock “'Cello Song”, que tem um acompanhamento interessantíssimo de congas e, como o título indica, de um violoncelo. “The Thoughts Of Mary Jane” é, assim como “River...”, mais uma canção introspectiva que versa sobre um alter ego feminino: “Quem pode saber/ Os pensamentos de Mary Jane/ Porque ela voa/ Ou vai lá pra chuva/ Onde ela esteve/ E quem ela viu/ Na sua jornada para as estrelas”.

“Man In A Shed”, um blues “piano bar”, é cantado tão delicadamente que a voz quase se dissolve em meio ao som dos instrumentos, cujo arranjo privilegia, com muito bom gosto e economia, apenas o piano, um baixo acústico e o violão de Drake. Não dá pra dizer que seja alegre, mas é com certeza a mais animada do disco, com o arejamento jazzístico que outro contemporâneo de Drake, Tim Buckey, também apresentaria naquele mesmo ano em “Happy Sad”.

A fossa retorna, no entanto, com mais uma balada sangrenta: “Fruit Tree”. Novamente autobiográfica, como o tema de abertura, de certa forma prevê a trajetória curta que o homem/artista Nick Drake teria: “Fama é uma árvore frutífera/ Tão estática/ Que pode nunca florescer/ Até que os ramos encontrem o chão/ Alguns homens de renome/ Podem nunca encontrar um caminho/ Até que o tempo voe/ Além do dia de sua morte”. Mais uma vez o arranjo de Kirby dá cores especiais à composição sem competir com o violão cristalino de Drake, intenção esta obtida pelo produtor Joe Boyd: “Quando você ouve os álbuns dele uma das coisas que são extraordinárias é o violão, porque soa tão limpo e forte, e todas as notas são equilibradas. É muito raro isso, pois é muito complicado".

Um final digno para um disco sem ressalvas, “Saturday Sun”, a única do disco com bateria – cuja leves batidas ainda têm o acompanhamento de um elegante vibrafone –, traz em sua poesia novamente a questão do tempo emocional e a relação de seu autor com o mundo externo, revelando os elementos naturais quase como personagens: “O sol de sábado/ veio cedo em uma manhã/ Em um céu tão limpo e azul/ O sol de sábado/ veio sem aviso/ Então ninguém soube o que fazer “. E, pessimista, conclui, sua única maneira possível: “E o sol de sábado/ Se tornou a chuva de domingo/ Então o domingo cobriu o sol de sábado/ No sol de sábado/ E entristeceu-se por um dia que se foi”. De arrepiar.

Depois dessas dez obras-primas escritas para “Five...”, Drake se reclusaria cada vez mais e registaria apenas outras 21 canções, as quais compõem os discos “Bryter Layter”, de um ano depois, e "Pink Moon", de 1971. Apenas três álbuns, que, com o tempo, entraram para a história, visto que todos figuram entre os 500 Discos de Todos os Tempos da Rolling Stone, mesma consideração dada pelo livro “1001 Albums You Must Hear Before You Die”, do jornalista Robert Dimery. Que o digam Robert Smith, Paul Weller, Peter Buck, David Silvian e Renato Russo, fãs que o reverenciam e justificam a essencialidade de 100% de sua obra. A morte prematura, em 1974, aos 26 anos, por overdose, não impediu que, ao contrário dos próprios versos pessimistas, Drake se transformasse em um “homem de renome”. Desconfia-se, contudo, que tenha, na verdade, cometido suicídio - ou, talvez ainda pior, não tenha se importado em perder a vida. Como um tardio poeta romântico, o sensível e deslocado Drake morria antes do tempo para que sua obra fosse reconhecida. Fatídico, mas tragicamente procedente. Como o próprio ano de 1969: uma incompletude que não tem o que tirar nem por.

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FAIXAS:
1. Time Has Told Me - 3:56
2. River Man - 4:28
3. Three Hours - 6:01
4. Day Is Done - 2:22
5. Way To Blue - 3:05
6. 'Cello Song - 3:58
7. The Thoughts Of Mary Jane - 3:12
8. Man In A Shed - 3:49
9. Fruit Tree - 4:42
10. Saturday Sun - 4:00
Todas as composições de autoria de Nick Drake

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OUÇA O DISCO:

Daniel Rodrigues

quinta-feira, 16 de julho de 2009

OS 100 MELHORES DISCOS DE TODOS OS TEMPOS

Coloquei no blog o primeiro da minha lista do melhores álbuns de todos os tempos e então agora resolvi listar o resto.
Sei que é das tarefas mais difíceis e sempre um tanto polêmica, mas resolvi arriscar.
Até o 10, não digo que seja fácil, mas a concepção já está mais ou menos pronta na cabeça. Depois disso é que a gente fica meio assim de colocar este à frente daquele, tem aquele não pode ficar de fora, o que eu gosto mais mas o outro é mais importante e tudo mais.
Mas na minha cabeça, já ta tudo mais ou menos montado.
Com vocês a minha lista dos 100 melhores discos de toda a história:



1.The Jesus and Mary Chain “Psychocandy”
2.Rolling Stones “Let it Bleed”
3.Prince "Sign’O the Times”
4.The Velvet Underground and Nico
5.The Glove “Blue Sunshine”
6.Pink Floyd “The Darkside of the Moon”
7.PIL “Metalbox”
8.Talking Heads “Fear of Music”
9.Nirvana “Nevermind”
10.Sex Pistols “Nevermind the Bollocks"

11.Rolling Stones “Exile on Main Street”
12.The Who “Live at Leeds”
13.Primal Scream “Screamadelica”
14.Led Zeppellin “Led Zeppellin IV
15.Television “Marquee Moon”
16.Deep Purple “Machine Head”
17.Black Sabbath “Paranoid”
18.Bob Dylan “Bringing it All Back Home”
19.Bob Dylan “Highway 61 Revisited”
20.The Beatles “Revolver”
21.Kraftwerk “Radioactivity”
22.Dead Kennedy’s “Freshfruit for Rotting Vegettables”
23.The Smiths “The Smiths”
24.The Stooges “The Stooges”
25.Joy Division “Unknown Pleasures”
26.Led Zeppellin “Physical Graffitti
27.Jimmy Hendrix “Are You Experienced”
28.Lou Reed “Berlin”
29.Gang of Four “Entertainment!”
30.U2 “The Joshua Tree”
31.David Bowie “The Rise and the Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”
32.David Bowie “Low”
33.My Bloody Valentine “Loveless”
34.The Stone Roses “The Stone Roses”
35.Iggy Pop “The Idiot”
36.The Young Gods “L’Eau Rouge”
37.The 13th. Floor Elevators “The Psychedelic Sounds of The 13th. Floor Elevators”
38.The Sonics “Psychosonic”
39.Ramones “Rocket to Russia”
40.The Beatles “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”
41.PIL “Album”
42.REM “Reckoning”
43.Love “Forever Changes”
44.Madonna “Erotica”
45.Grace Jones “Nightclubbing”
46.Pixies “Surfer Rosa”
47.Pixies “Doolitle”
48.Rolling Stones “Some Girls”
49.Michael Jackson “Off the Wall”
50.Michael Jackson “Thriller”
51.Beck “Odelay”
52.Nine Inch Nails “Broken”
53.The Fall “Bend Sinister”
54.REM “Green”
55.Neil Young and the Crazy Horse “Everybody Knows This is Nowhere”
56.Kraftwerk “Trans-Europe Expreess”
57.The Smiths “The Queen is Dead”
58.New Order “Brotherhood”
59.Echo and The Bunnymen” Crocodiles”
60.Prince “1999”
61.Morrissey “Viva Hate”
62Iggy Pop “Lust for Life”
63.Pixies “Bossanova”
64.Chemical Brothers “Dig Your Own Hole”
65.Prodigy “Music For Jilted Generation”
66.Van Morrisson “Astral Weeks”
67.Pink Floyd “Wish You Were Here”
68.Muddy Waters “Electric Mud”
69.Sonic Youth “Dirty”
70.Sonic Youth “Daydream Nation”
71.Nirvana “In Utero”
72.Björk “Debut”
73.Nirvana “Unplugged in New York”
74.Björk “Post”
75.Jorge Ben “A Tábua de Esmeraldas”
76.Metallica ‘Metallica”
77.The Cure "Disintegration"
78.The Police ‘Reggatta de Blanc”
79.Siouxsie and the Banshees “Nocturne”
80.Depeche Mode “Music for the Masses”
81.New Order “Technique”
82.Ministry “Psalm 69”
83.The Cream “Disraeli Gears”
84.Depeche Mode Violator”
85.Talking Heads “More Songs About Building and Food”
86.The Stranglers “Black and White”
87.U2 “Zooropa”
88.Body Count “Body Count”
89.Massive Attack “Blue Lines”
90.Lou Reed “Transformer”
91.Sepultura “Roots”
92.John Lee Hooker “Hooker’n Heat”
93.The Cult “Love”
94.Dr. Feelgood “Malpractice”
95.Red Hot Chilli Peperrs “BloodSugarSexMagik”
96.Guns’n Roses “Appettite for Destruction”
97.The Zombies “Odessey Oracle”
98.Johnny Cash “At Folson Prison”
99.Joy Division “Closer”
100.Cocteau Twins “Treasure”

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Them - "The Angry Young Them" (1965)



"Estes cinco jovens rebeldes 
são escandalosamente fiéis a si mesmos.
Provocadores! Irritados! Tristes!
Eles são honestos ao nível do insulto!"
pequena descrição da banda
na contracapa original de 1965



Quando assisti a "Coração Selvagem", de David Lynch, além de ter me apaixonado pelo filme, a trilha sonora me chamou muito atenção, diversificada, visitando o clássico, como nas composições de Angelo Badalamenti, usual parceiro de Lynch; o metal, na estrondosa "Slaughterhouse" da banda Powermad que pontua o filme diversas vezes ao longo de sua duração; o blues como na cena do posto de gasolina, por exemplo; Elvis Presley por conta da admiração pessoal do protagonista Sailor Ripley que chega a interpretar, com alguma competência "Love Me" do Rei do Rock; e o rock'n roll de uma maneira geral. Uma que se destacava no filme era a canção que tocava no momento em que Sailor e sua namorada Lula decidem vilar a condicional do rapaz e irem para Nova Orleans. Era um rock, agudo, enérgico, vivaz que, na época, na minha ignorância não situei como sendo um rock sessentista, podendo, tal sua qualidade e atemporalidade, ser contemporânea do filme. Gostei tanto da trilha que comprei o LP. Nele descobri que a música chamava-se "Baby Please Don't Go" e que era efetivamente um rock lá dos idos dos anos 60, e era interpretado por uma banda irlandesa chamada Them. Só algum tempo depois quando meu irmão me apresentou o álbum "Astral Weeks" foi que soube que a tal Them era a banda original da carreira do cantor irlandês Van Morrison, a quem passei a admirar muito assim que conheci sua obra solo.
No entanto não conhecia muito do Them a não ser aquela canção do filme, assim fui atrás do álbum em que ela estivesse e para minha surpresa ele não constava na curta discografia da banda com o enfezado Morrison na formação, de apenas dois discos. A faixa havia sido lançada apenas em single com "Gloria", o grande sucesso da banda no lado B. Mas mesmo saindo somente em compacto e em um EP posterior, "Baby Please Don't Go", de tantas outras regravações por diversos artistas, alcançou êxito e popularidade sendo reconhecida como um clássico na versão da banda.
Assim cheguei ao álbum "The Angry Them Young", o primeiro da banda, lá de 1965, e que além do hit "Gloria", marcante pelo seu refrão com pronunciado alto com toda a clareza, traz todo aquela atmosfera de invasão rock dos anos 60, blues acelerados e baladas que começavam a fugir do tradicional pelo som "sujo" de garagem e os vocais rasgados que o vocalista imprimia às canções.
O álbum traz além de "Gloria", o rock frenético de guitarra nervosa "Mystic Eyes" que faz as honras de abrir o álbum; a balada com clima meio western "You Just Can't Win" e  a outra "If You And I Could Be As Two", onde Morrison já exercita rumos que seu trabalho viria a tomar;  o blues agressivo e gritado "Just A Little Bit"; a versão para "Don't Look Back" de John Lee Hooker; a intensa "I Like It That", e a boa e bem ritmada versão de "Route 66", que fecha o disco.
A fama de maus fez mal à banda, à gravadora, às vendas, e o já irritadiço e enfezado Morrison não tardou a mandar tudo pro inferno e ir cuidar da própria vida, o que, diga-se de passagem, fez muito bem, pois, embora o Them tenha sido importante para geração britânica da metade dos anos 60, tenha tido papel importante na história do rock e seu lugar reservado nela, o futuro acabou por mostrar que aquele universo de som sujo e caras de mau era reduzido demais para a genialidade e o talento de um cara como ele.

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FAIXAS:
  1. "Mystic Eyes" (Van Morrison) – 2:41
  2. "If You and I Could Be as Two" (Morrison) – 2:53
  3. "Little Girl" (Morrison) – 2:21
  4. "Just a Little Bit" (Ralph Bass, Buster Brown, John Thornton, Ferdinand "Fats" Washington) – 2:21
  5. "I Gave My Love a Diamond" (Bert Berns, Wes Farrell) – 2:48
  6. "Gloria" (Morrison) – 2:38
  7. "You Just Can't Win" (Morrison) – 2:21
  8. "Go On Home Baby" (Berns, Farrell) – 2:39
  9. "Don't Look Back" (John Lee Hooker) – 3:23
  10. "I Like It Like That" (Morrison) – 3:35
  11. "I'm Gonna Dress in Black" (M. Gillon aka Tommy Scott, M. Howe) – 3:34
  12. "Bright Lights, Big City" (Jimmy Reed) – 2:30
  13. "My Little Baby" (Berns, Farrell) – 2:00
  14. "(Get Your Kicks On) Route 66" (Bobby Troup) – 2:22

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Ouça o disco:



Cly Reis



sábado, 4 de julho de 2015

Van Morrison - “Into the Music” (1979)




“Quando você escuta a música tocando sua alma/
E sente em seu coração e cresce e cresce/
E vem daquele rock and roll das ruas
e a cura começou” 
da letra de “And the Healing Has Begun”




Tem uma cena do filme “The Last Waltz” (“O Último Concerto de Rock” no Brasil), de Martin Scorsese, que define o irlandês Van Morrison, autor do disco que é um dos favoritos totais aqui da casa: “Into the Music”, de 1979. Após cantar seu sucesso “Caravan” com The Band, o guitarrista do grupo, Robbie Robertson, olha para a plateia e diz: “Van the Man”. É exatamente isso que Van Morrison é: THE MAN! Um irlandês baixinho, arretado, irritado, brigão, xarope, malão mesmo. Mas quando compõe e abre a boca pra cantar, todo mundo esquece estas “qualidades” e se delicia com a música em estado puro que se derrama daquele corpinho. Mas nem sempre foi assim.

Durante os anos 60, ele surgiu liderando o grupo Them, que fez muito sucesso com “Gloria”. Quando o empresário começou a dar palpites, Van partiu pra carreira solo, que começou lá em cima com o cultuado "Astral Weeks", em 1968, e seguiu com "Moondance", dois anos depois  (ambos perfilados aqui no blog como ÁLBUNS FUNDAMENTAIS). Na segunda metade dos anos 70, entretanto, ele passava por um momento de reflexão profunda da sua carreira musical e se voltando – como todo irlandês, aliás – para a religião e o amor a Deus. Após gravar “Veedon Fleece”, em 1974, ficou três anos fora dos estúdios e dos palcos. Ao voltar, fez um disco chamado “A Period of Transition”, que era exatamente isso. No ano seguinte, ensaiou uma volta à velha forma com “Wavelength”, mas ainda não era aquele disco que se esperava de uma figura mítica como ele. Isto só aconteceu em 1979 com “Into the Music”, não por acaso uma brincadeira e trocadilho com uma de suas canções mais conhecidas, “Into the Mystic”. Ao lado de seu fiel escudeiro, o baixista David Hayes, mais a violinista Tony Marcus e a dupla extraordinária Pee Wee Ellis (ex-James Brown) no saxofone e Mark Isham nos trompetes, teclados e arranjos, entre outros, Van reuniu um grupo de canções que louvam a Deus, ao poder curador da música e, é claro, às mulheres, todas embaladas em blues, folk, R&B, soul e muito mais.

Tudo começa com “Bright Side of the Road”, um country com levada R&B, onde brilham a harmônica de Van, o violino de Marcus e os backing vocals de Katie Kissoon. Na letra, Van diz à mulher amada que “Do final escuro da rua/ ao lado iluminado da estrada/ seremos amantes novamente/ no lado iluminado da estrada/ Querida vem comigo/ me ajuda a repartir este peso?”.

Ao começar o disco com um discurso “profano”, Van se retrata com “o homem” em “Full Force Gale” cantando: “Como uma tempestade a toda força/ eu fui erguido novamente/ eu fui erguido pelo Senhor/ E não importa por onde eu ande/ Vou encontrar meu caminho de volta pra casa/ Vou sempre voltar para o Senhor”. Esta letra de entrega à religião é carregada pela slide guitar de Ry Cooder e o naipe de sopros fazendo aquele clima soul music.

Em “Steppin' Out Queen”, Van volta a conversar com uma mulher afirmando que ela pode “Passar seu batom/ se maquiar/ Às vezes você está vivendo num sonho/ e então cai fora rainha”. Na verdade, Van quer convencê-la a “vir para o jardim e olhar as flores”, ao invés de sair pra rua. O naipe de sopros toca um tema irresistível, daqueles de ficar assobiando o dia inteiro.

“Troubadours” traz o penny whistle (flautim irlandês) de Robin Williamson, um dos fundadores da Incredible String Band. Van fala sobre os trovadores e sua música que “trazia as pessoas que vem de longe e vem de perto/ para ouvir os trovadores”. Mais adiante, afirma que “eles vem cantando canções de amor e cavalheirismo dos tempos antigos”. Ellis e Isham também ganham solos nesta canção, que trata do poder curativo da música.

Já “Rolling Hills” traz a influência da música celta que Van ouviu a vida inteira em Belfast. E volta o discurso místico: “Entre as colinas ondulantes/ Eu vivo minha vida com ele/ Oh eu vivo minha vida com ele/ entre as colinas ondulantes/ Eu leio minha Bíblia quieto/ Oh eu leio minha Bíblia quieto/ entre as colinas ondulantes”.

Pra fechar o Lado 1, um exemplo bem claro do que se poderia chamar de soul music na versão de Van Morrison: “You Make Me Feel So Free”. Como as letras são ambíguas durante todo o disco, Van pode estar se referindo a uma mulher ou à música: “Algumas pessoas passam a vida correndo em círculos/ sempre atrás de um pássaro exótico/ eu prefiro gastar meu tempo apenas ouvindo algo muito especial/ que nunca ouvi/ Gosto de ter uma canção nova pra cantar, outro show ou algum lugar totalmente diferente para ficar/ mas baby, você me faz sentir muito livre”. Quem é “baby”? A música, uma mulher, o Deus? Faça sua escolha. O saxofonista Pee Wee Ellis deve ter lembrado dos seus tempos com os JBs, pois seu solo tem todas aquelas características dos melhores trabalhos de James Brown. E o pianista Mark Jordan brinca com o jazz de New Orleans e a sonoridade de Professor Longhair e Dr. John.

Abrindo o lado 2 do LP, mais uma ode, agora explícita, a uma mulher, “Angeliou”, um anjo em forma de fêmea. O encontro aconteceu “no mês de maio/ na cidade de Paris”. Tony Marcus faz misérias com seu mandolin e violino, enquanto Mark Jordan faz um tema ao piano que lembra aquelas peças para cravo de Bach. Ao abrir seu coração para Angeliou, ele afirma que “caminhando numa rua quem poderia imaginar que seria tocado por uma total estranha, não eu/ Mas quando você veio até a mim aquele dia e contou sua história/ Lembrou muito de mim mesmo/ Não foi o que você disse mas a maneira como pareceu a mim/ sobre uma busca e uma jornada como a minha”. Nesta canção, Van faz o que se tornou uma marca registrada de suas interpretações, o ad-lib ou a improvisação em cima da letra e do tema da música, bem ao estilo jazzístico, mudando o andamento e o tempo. À medida que avança, “Angeliou” vai se transformando numa balada R&B.

Este estilo interpretativo chega ao auge na próxima música, “And the Healing Has Begun”. O título diz tudo: “E a cura começou”. A cura através da música. Com a batida de Peter van Hooke beirando a soul music e a violinista Tony Marcus tomando as rédeas dos solos nas suas mãos, Van se transporta a um nirvana musical cantando: “Quando você escuta a música tocando sua alma/ E sente em seu coração e cresce e cresce/ E vem daquele rock and roll das ruas e a cura começou”. E se sua cura não começar ao ouvir esta música, pode crer que está muito doente!

Depois deste orgasmo musical, Van, expert em dinâmica de um disco, baixa a bola. Tudo recomeça com a única música que não foi composta por ele neste disco: “It's All in the Game”, que ganhou letra de Carl Sigman em 1951 em cima de uma melodia composta 40 anos antes por Charles Dawes, que foi vice-presidente dos Estados Unidos. Foi sucesso pop no final dos anos 50 com Tommy Edwards, um cantor de R&B. A curiosidade é que Van usa esta canção como um veículo para desaguar em outra composição sua, “You Know What They're Writing About”. Esta sim explicando a quem porventura não tenha entendido ainda o poder mágico da música e suas curas. Ele abre esta canção sussurrando: “Você sabe sobre o que eles estão compondo/ É uma coisa chamada amor através dos tempos/ Te faz ter vontade de chorar às vezes/ Te faz ter vontade de deitar e morrer às vezes/ Te anima às vezes/ Mas quando tu entendes, te levanta o astral”. No final, os sopros de Pee Wee Ellis e Mark Isham fazem um tema, enquanto Van canta “quero te encontrar/ você está aí?”. O resto da banda se esbalda até a canção ir morrendo aos poucos.

Um final apoteótico para “Into the Music” que, segundo ele, representa a volta à música. Esta busca incessante de Van Morrison pelo amor da musa, por Deus e pela cura dos males através da música continua até hoje. Recentemente, ele lançou um disco cujo título diz absolutamente tudo: “Born to Sing: No Plan B”, ou seja, “Nascido para cantar: sem Plano B”.
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FAIXAS:
1. "Bright Side of the Road" – 3:47
2. "Full Force Gale" – 3:14
3. "Stepping Out Queen" – 5:28
4. "Troubadours" – 4:41
5. "Rolling Hills" – 2:53
6. "You Make Me Feel So Free" – 4:09
7. "Angeliou" – 6:48
8. "And the Healing Has Begun" – 7:59
9. "It's All In The Game" (Charles Dawes/Carl Sigman) – 4:39
10. "You Know What They're Writing About" – 6:10

todas as composições de autoria de Van Morrison, exceto indicada
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OUÇA O DISCO: