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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Sean Lennon - "Into the Sun" (1998)


“Sean Lennon inteligentemente se posicionou entre o pop e o experimental, propondo uma ideia caleidoscópica como fizeram os multiculturais dos anos ‘90 Beastie Boys, Beck e Cibo Matto.” 
 Stephen Thomas

A estas alturas, segunda década dos anos 2000, já é possível identificar com clareza quais foram os grandes discos da última década do século passado, os anos 90. Depois dos anos 50, marco do nascimento do rock, dos explosivos e extrapolados ’60, dos psicodélicos e revoltados ’70 e dos criativos e inteligentes ’80, o que restaria à música pop nos ’90? Repetir-se? Não! Alguns artistas souberam recriar e até trazer coisas bem novas. "Broken" , do 9 Inch Nails, "Nevermind" , do Nirvana, ou "Loveless", do My Bloody Valentine, já elencados como Álbuns Fundamentais neste blog, são bons exemplos. “Moon Safari”, do Air, “Odelay”, do Beck, e “Big Calm”, do Morcheeba, provavelmente darão as caras por aqui ainda. Mas mesmo gostando mais de alguns destes, um que a mim marcou muito os anos 90 e com o qual me delicio a cada audição é “Into the Sun”, do cantor, compositor e multi-instrumentista Sean Lennon, o “filho do homem”.
“Into the Sun” é, simplesmente, apaixonante. De sonoridade sofisticada, experimental e com um toque artesanal, o CD de estreia deste abençoado ser – resultado da cruza de John Lennon com Yoko Ono – emenda uma pérola atrás da outra, numa explosão de criatividade e técnica. O referido ar “caseiro” não é à toa: exceto algumas participações, Sean compõe, produz, canta e toca todos os instrumentos. A delicada faixa-título – uma bossa-nova de rara beleza com direito à batida de violão a la João Gilberto – é a única em que divide o microfone, acompanhado de Miho Hatori, vocalista da banda Cibo Matto. A outra integrante deste grupo, a então namorada Yuka Honda, co-produtora e “musa inspiradora” da obra, dá sua contribuição com samples, programações e no vocal de “Two Fine Lovers”, um jazz-lounge funkeado ao mesmo tempo romântico e dançante, e de “Spaceship”, outra das melhores.
Uma peculiaridade que impressiona na música de Sean é a sua capacidade de inventar melodias de voz absolutamente belas. É o caso de “Home”, single do CD que rodava direto na MTV com o ótimo clipe de Spike Jonze. Por trás das guitarradas estilo Sonic Youth e da bateria possante do refrão, a melodia de voz é doce, linda, daquelas de cantar de olhos fechados pra saborear cada frase. Outra assim é “Bathtub”, um mescla de MPB com Beatles em que, novamente, Sean destila sua destreza com a palavra cantada, principalmente na parte final, onde se cruzam três melodias de voz apresentadas durante a faixa.
Eu sei, eu sei! É óbvio que a dúvida surgiria: afinal, a música Sean se parece com a de John? Como TUDO em música pop depois dos  The Beatles, sim; mas, surpreendentemente, menos do que seria normal pela consanguinidade. A voz, claro, lembra o timbre levemente infantil do beatle. Das músicas, “Wasted”, só ao piano e voz, e, principalmente, “Part One of the Cowboy Trilogy”, um country como os que John tinha incrível habilidade ao compor, remetem bastante. Mas fica por aí. No máximo, a parecença conceitual com álbuns do pai como “Plastic Ono Band” ou “Imagine” por conta da diversidade estilística – o que, convenhamos, não era uma característica só de sir. Lennon.
Outra marca de Sean é a composição no violão. Da ótima faixa de abertura, “Mystery Juice”, à balada “One Night”, passando pelas bossas – a já citada “Into the Sun” e “Breeze”, outra belíssima –, ele brande as cordas de nylon para extrair melodias muito pessoais e profundas. A mais intensa destas é, certamente, “Spaceship”, que começa só ao violão sobre ruídos eletrônicos e na qual vão se adicionando outros instrumentos e sons, até estourar em emoção no refrão, com guitarras distorcidas, bateria alta e a voz de Honda no backing. Ótima.
Mas a variedade musical de Sean não pára por aí. Depois de MPB, indie, country e balada, ele apresentaria ainda, se não melhor, a mais bem trabalhada música do álbum: “Photosynthesis”, um jazz-rock instrumental no melhor estilo Art Ensemble of Chicago. Puxado pelo baixo acústico, que mantém a base o tempo inteiro, tem samples, solos de flauta e de piano, até que, depois de um breve breque, a música volta com um impressionante solo de percussão latina e, emendando, um outro de trompete. Incrível! “Sean’s Theme”, mais um jazz, este mais piano-bar, fecha bem “Into the Sun”, que traz ainda “Queue”, um gostoso rock embaladinho que termina sob uma camada densa de guitarras, revelando, mais uma vez, a engenhosidade no trato com a melodia de voz.
Um “disco de cabeceira” para mim, que não canso de reouvir. Um baita disco de rock com a distinção de quem herdou o que de melhor seu pai tinha como gênio da música que foi: a sensibilidade artística.

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vídeo de "Home", Sean Lennon



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FAIXAS:
1. "Mystery Juice"
2. "Into the Sun"
3. "Home"
4. "Bathtub" (S. Lennon/Yuka Honda)
5. "One Night"
6. "Spaceship" (S. Lennon/Timo Ellis)
7. "Photosynthesis"
8. "Queue" (S. Lennon/Y. Honda)
9. "Two Fine Lovers"
10. "Part One of the Cowboy Trilogy"
11. "Wasted"
12. "Breeze"
13. "Sean's Theme"

Todas as músicas de autoria de Sean Lennon, exceto indicadas.
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Ouça:

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

CLAQUETE ESPECIAL 15 ANOS DO CLYBLOG - Cinema Brasileiro: 110 anos, 110 filmes (parte 4)

 

Os clássicos absolutos chegaram, entre eles,
"O Beijo da Mulher Aranha", primeiro filme
brasileiro a vencer um Oscar
Demorou um pouco além do normal, mas voltamos com mais uma parte da nossa série especial “Cinema Brasileiro: 110 anos, 110 filmes”. E tem justificativa para esta demora. Isso porque reservamos este quarto e penúltimo recorte da lista para o mês de agosto, o de aniversário do Clyblog, uma vez que este Claquete Especial, iniciado em abril, é justamente em celebração dos 15 anos do blog.

Talvez somente esta justificativa não baste, entendemos. Então, já que vínhamos mês a mês postando uma nova listagem com 20 títulos cada, propositalmente falhamos em julho para que agora, no mês do aniversário, fizéssemos uma sequência não apenas de 20 filmes, mas de 40 de uma vez. E não se tratam de quaisquer quatro dezenas! Afinal, a seleção inteira é tão rica, que igualável em qualidade a qualquer cinematografia mundial. Mas, especialmente, porque estes novos compreendem as posições do 50º ao 11º. Ou seja: aqueles “top top” mesmo, quase chegando nos “finalmentes”.

Waltinho, um dos 6 com 2 filmes entre
os 40 melhores
E se o adensamento já vinha acontecendo fortemente, com a presença de grandes realizadores, títulos clássicos e premiados e escolas reconhecidas somadas às novas produções do furtivo século XXI, agora, então, esta confluência se faz ainda mais presente. Dá para se ter ideia pelos nomes de cineastas de primeira linha como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Walter Salles Jr., Luis Sergio Person, Hector Babenco e Eduardo Coutinho, que já deram as caras com obras anteriormente e, desta feita, emplacam dois filmes cada entre os selecionados, até então os mais bem colocados. Somam-se a eles os altamente competentes João Moreira Salles, Jorge Furtado e Bruno Barreto, também com dois entre os 40.

Pode-se dizer que, agora, é quando de fato entram os clássicos incontestes, aqueles “divisores de águas” do cinema nacional (e, por que não, mundial), como “Ganga Bruta”, de Humberto Mauro, "O Beijo da Mulher Aranha", de Babenco, “São Paulo S/A”, de Person, e “Tropa de Elite”, de José Padilha. Mas também pedem passagem “novos clássicos”, tal o perturbador documentário “Estamira” e o premiado “Bacurau”, de 2019, quarto mais recente entre os 110 atrás apenas de “Três Verões” (63º), “Marte Um” (79º) e “Marighella” (106º).

Elas, as cineastas mulheres, se ainda em desigualdade na contagem geral, marcam forte presença nesta fatia mais qualificada até aqui. Estão entre elas Kátia Lund, Daniela Thomas e Anna Muylaert, esta última, responsável por um dos filmes mais tocantes e críticos do cinema brasileiro, “Que Horas Ela Volta?”. Então, pegando carona na expressão, para quem estava nos perguntando "que horas eles voltariam?”: voltamos. E voltamos abalando com 40 filmes imperdíveis, que dignificam o cinema brasileiro e latino-americano. Pensa bem: apenas 10 títulos os separam do melhor cinema do Brasil. Isso diz muito.

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50. "Estamira”, Marcos Prado (2004)

Dentre as dezenas de documentários realizados na década 00, um merece especial destaque por sua força expressiva incomum: "Estamira". Certamente o que colabora para esta pungência do filme do até então apenas produtor Marcos Prado, sócio de José Padilha à época, é a abordagem sem filtro e nem concessões da personagem central, uma mulher catadora de lixo com sério desequilíbrio mental, capaz de extravasar o mais colérico impulso e a mais profunda sabedoria filosófica. A própria presença da câmera, aliás, é bastantemente honesta, visto que por vezes perturba Estamira. Obra bela e inquietante. Melhor doc do FestRio, Mostra de SP, Karlovy Vary e Marselha, além de prêmios em Belém, Miami e Nuremberg.




49. “Tropa de Elite”, de José Padilha (2007)
48. “Batismo de Sangue”, de Helvécio Ratón (2007)
47. “Terra Estrangeira”, Walter Salles Jr. e Daniela Thomas (1996) 
46. “O Dia em que Dorival Encarou a Guarda”, Jorge Furtado e José Pedro Goulart (1986)
45. “Amarelo Manga”, de Cláudio Assis (2002)



44. “Nunca Fomos Tão Felizes”, Murilo Salles (1984) 
43. “Edifício Master”, de Eduardo Coutinho (2002)
42. “O Homem da Capa Preta”, Sérgio Rezende (1986)
41. “O Beijo da Mulher Aranha”, Hector Babenco (1985)


40. 
“São Bernardo”, Leon Hirszman (1971) 

Adaptação do livro do Graciliano Ramos, que transporta para a tela não só a história, mas a secura das relações e a incomunicabilidade numa grande fazenda do início do século XX, escorada na desigualdade dos latifúndios. Não há diálogo: a vida é assim e pronto. Daqueles filmes impecáveis em narrativa e concepção. E Leon, comunista como era, não deixa de, num deslocamento temporal, dar seu recado quanto à reforma agrária. A trilha, vanguarda e folk, algo varèsiana e smetakiana, é de Caetano Veloso, que acompanha a secura da narrativa e cria uma "música" totalmente vocal em cima de melismas lamentosos e desconcertados. Recebeu vários prêmios em festivais, entre eles o de melhor ator para Othon Bastos no Festival de Gramado, o Prêmio Air France de melhor filme, diretor, ator e atriz (Isabel Ribeiro), além do Coruja de Ouro de melhor diretor e atriz coadjuvante (Vanda Lacerda). 



39. “Carandiru”, de Hector Babenco (2002)
38. “O Som do Redor”, Kleber Mendonça Filho (2012)
37. “Que Horas Ela Volta?”, Anna Muylaert (2015) 
36. “Notícias de uma Guerra Particular”, Kátia Lund e João Moreira Salles (1999)
35. “Ganga Bruta”, Humberto Mauro (1933)



34. “Lavoura Arcaica”, Luiz Fernando Carvalho (2001)
33. “Bar Esperança, O Último que Fecha”, Hugo Carvana (1982) 
32. “Couro de Gato”, Joaquim Pedro de Andrade (1962)
31. “Os Fuzis”, Ruy Guerra (1964)


30. “O Bandido da Luz Vermelha”, Rogério Sganzerla (1968) 

Se existe cinema marginal, esta classificação se deve a “O Bandido...”. Transgressor, louco, efervescente, non-sense, crítico, revolucionário. Adjetivos são pouco pra definir a obra inaugural de Sganzerla, que trilharia pela "marginalidade" até o final da coerente carreira. Um filme de manifesto, questionamento de ordem política, de uma estética diferente e bela (apesar do baixo orçamento) e a vontade de avacalhar com tudo. "Quando a gente não pode fazer nada, a gente avacalha e se esculhamba". Grande vencedor do Festival de Brasília de 1968. O filme que fez o “terceiro mundo explodir” de criatividade.


29. "Santiago", de João Moreira Salles (2007)
28. “Jogo de Cena”, Eduardo Coutinho (2007)
27. “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro”, Glauber Rocha (1968)
26. “Noite Vazia”, Walter Hugo Khouri (1964)
25. “São Paulo S/A”, Luis Sérgio Person (1965) 



24. "Terra em Transe", Glauber Rocha (1967) 
23. "Sargento Getúlio”, Hermano Penna (1981) 
22. “O Caso dos Irmãos Naves”, Luis Sergio Person (1967) 
21. “Memórias do Cárcere”, Nelson Pereira dos Santos (1984) 

20. 
 “Ilha das Flores”, Jorge Furtado (1989)

É incontestável a importância de "Ilha das Flores" para a cinematografia gaúcha e nacional. O filme que, em plenos anos 80 ainda de fim do período de Ditadura, expôs ao mundo uma realidade muito pouco enxergada, o fez de forma absolutamente criativa e impactante. Ao acompanhar o percurso de um mero tomate da horta até o lixão a céu aberto onde vive uma fatia da população em total miséria e descaso social, Furtado virou de cabeça para baixo a narrativa do audiovisual brasileiro, influenciado diretamente as produções de TV dos anos 80 e 90 e o cinema pós-retomada nos anos 2000. Urso de Prata para curta-metragem no 40° Festival de Berlim, Prêmio Especial do Júri e Melhor Filme do Júri Popular no 3° Festival de Clermont-Ferrand, França, entre outras premiações na Alemanha, Estados Unidos e Brasil. Um clássico ainda hoje perturbador.



19. “O Beijo no Asfalto”, Bruno Barreto (1980) 
18. “Central do Brasil”, de Walter Salles Jr. (1998) 
17. “Dnª Flor e seus Dois Maridos”, Bruno Barreto (1976)
16. “Garrincha, A Alegria do Povo”, Joaquim Pedro de Andrade (1962)
15. “Barravento”, Glauber Rocha (1962)


14. “Rio 40 Graus”, Nelson Pereira dos Santos (1955)
13. “Bacurau”, Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles (2019)
12. “Assalto ao Trem Pagador”, Roberto Faria (1962) 
11. “Bye Bye Brasil”, Cacá Diegues (1979) 



Daniel Rodrigues


segunda-feira, 23 de novembro de 2020

DJ Marky - "Audio Architecture" (2000)

 



"Acho que as pessoas gostam do nosso jeito de tocar. 
Estamos sempre fazendo palhaçada, sorrindo, dançando. 
A gente faz o que gosta (...)
Nossa entrada mudou o comportamento de alguns DJs de lá: 
tem cara que começou a dançar mais 
e a conversar com o público depois que chegamos. 
A gente solta a franga mesmo."
Dj Patife
sobre o trabalho dele 
e do DJ Marky na Inglaterra


DJ Marky é, sem dúvida alguma, um dos DJ's brasileiros mais prestigiados e respeitados pelo mundo afora. Figurinha confirmada nos grandes círculos da dance-music e nas principais casas londrinas, o paulistano é uma da grandes referências do drum'n bass e um dos inovadores do estilo.

 Tive a oportunidade de vê-lo discotecar num evento especial de comemoração pelo aniversário de uma festa tradicional de música eletrônica que acontecia em Porto Alegre, a Fulltronic. Ao contrário dos shows tradicionais do festival que costumavam ocorrer em pavilhões  ou ao ar livre, daquela vez a apresentação das atrações se deu no Bar Ocidente, uma casa clássica da noite portoalegrense, para um número bem reduzido de pessoas e com ingresso caríssimo, até pelo tamanho do convidado e pelo espaço reduzido. Mas valeu cada centavo! Marky, com toda sua habilidade, sonoridade e criatividade não  deisou ninguém  parado naquela grande noite no bairro Bonfim.

Destacamos aqui o disco "Audio Architecture", de 2000, trabalho em que o DJ coloca suas batidas e dá seu toque pessoal com suas mixagens, em algumas das músicas que mais executava  e qu faziam sucesso  nas nas mais badaladas casas noturnas de Londres. "Hide U", da Kosheen, com sua levada misteriosa e cativante; as frenéticas "The Specialist", do Future Cut e "Champion Sound", do Q Project; a envolvente "Atlantis"; e a veloz e furiosa "Nitrous", do Bad Company, que não  deve ser ouvida num automóvel sob pena do sujeito dar direto com a cara num poste, são somente alguns dos destaques de um disco que, a bem da verdade, é todo tão bom que poderia ter qualquer uma mencionada e recomendada aqui.

"Audio Architecture" de, certa forma, representa a qualidade da música eletrônica brasileira e justifica o respeito que ela adquiriu pelo mundo, especialmente por conta do talento de nomes como o de DJ Marky que dapois viria a inovar ainda mais o estilo, abrasileirando cada vez mais a sua drum'n bass, mas aí já é história para uma próxima vez.

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FAIXAS:

1."Hide U" (Kosheen; Decoder & Substance remix)4:40
2."The Specialist" (Future Cut)4:41
3."Reflections" (Ram Trilogy)5:46
4."Champion Sound" (Q Project; Total Science remix)5:06
5."Just A Vision" (Solid State; Marcus Intalex & ST Files remix)5:25
6."RS 2000" (EZ Rollers)4:47
7."Brand Nu Day" (60 Minute Man)5:13
8."30 Hz" (Dillinja)3:58
9."Atlantis" (Moving Fusion Atlantis)3:36
10."Thin Air" (Bad Company & Fierce)4:19
11."Detroit Blues" (DJ Reality)5:02
12."Aí Maluco!" (Drumagick; DJ Marky remix)5:03
13."Remote Control" (Phantom Audio)4:32
14."Nitrous" (Bad Company & Trace)5:19

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Ouça:


por Cly Reis



terça-feira, 14 de maio de 2013

The Beatles - "Magical Mystery Tour" (1967)


"Longe no céu, além das nuvens, vivem 4 ou 5 mágicos.
Com feitiços maravilhosos transformaram
a mais comum viagem de ônibus
em uma Mágica Excursão Misteriosa.
Se você deixar-se levar,
os Magos vão te levar a lugares maravilhosos.
Talvez você tenha estado em uma Excursão Mágica e Misteriosa mesmo sem perceber.
Você está pronto para ir?
Esplêndido!"
texto do encarte do disco

Perdoem-me os beatlemaníacos, mais entendidos que eu quando o assunto são os Rapazes de Liverpool, mas meu disco favorito do quarteto é sem dúvida "Magical Mystery Tour", uma trilha sonora de um filme estrelado pelos próprios integrantes, e que teve versões diferentes de lançamento nos Estados Unidos e na Inglaterra. A inglesa, inicialmente trazia apenas 6 faixas distribuídas em 2 discos, o que era absolutamente inapropriado para os padrões comerciais americanos, que por sua vez tiveram uma edição de álbum simples, com todas as 6 faixas originais num lado A, e cinco outras que eram sobras do disco anterior, "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", inéditas, ou de compactos, compondo um lado B.
Embora reconheça a importância, a técnica, a inovação de outras obras do grupo, este trabalho, na verdade, acho que é o disco que mais consegue me empolgar do começo ao fim. É aquela minha velha argumentação sobre os Beatles de que muitas vezes as canções são irrefutavelmente perfeitas, reconhecidamente impecáveis, admiráveis sob o ponto de vista compositivo, com recursos nunca antes pensados ou utilizados mas no que diz respeito à audição, não conseguem causar aquela sensação de entusiasmo. Ótimas, sem dúvida, a gente aprecia, fica admirado com cada instrumento, com toda a produção, com o trabalho vocal, etc., mas não canta a plenos pulmões ou mesmo faz um air-guitar, por exemplo.
"Magical Mystery Tour", não! Ainda que seja considerado por muitos um trabalho menos, um trabalho sem conceito, sem unidade, talvez seja intrínsecamente o álbum mais rock'n roll dos Beatles, pela loucura, pela sonoridade, pela crueza, pela viagem, pela psicodelia, pela 'imperfeição'. Já na abertura, a música que dá nome ao disco a energia já pode ser sentida numa viagem psicodélica com Paul fazendo um vocal mais intenso e gritado do que o habitual, um trumpete enlouquecido e uma bateria alta e marcante. Aliás este é um disco em que Ringo Starr pode ser destacado em diversas faixas, seja pela performance, seja pelo andamento ou pelo arranjo que privilegia o instrumento, como na viajante "Flying", na pirada "Blue Jay Way" ou na ótima e subestimada "Baby, You're A Rich Man", da parte extra do disco.
Num disco bem mais psicodélico e sujo, por assim dizer, que outros da banda, mesmo a balada, "Fool in the Hill" me impressiona mais do que algumas mais cultuadas de disco mais célebres, com um arranjo excepcional com com destaque especial para a flauta. "Your Mother Shoud Know", é o que pode-se chamar uma boa canção pop, nada excepcional mas perfeitinha, competente e muito agradável. A ótima instrumental "Flying", a primeira composta pelos 4 a ser gravada, com seu andamento oscilante e variado é ácido puro; "Blue Jay Way", mesmo com uma atmosfera perturbadora, surreal, não esconde o toque exótico habitual das composições de George Harrison; e a excepcional "I'm the Walrus", que fecha o lado A da edição americana, talvez seja melhor música do disco com sua concepção nonsense, chapada, doida, com sua levada alegre, instrumentação maluca, o vocal com efeito de John, e aqueles graciosos gritinhos do refrão.
Poderia parar por aqui se falasse só do EP britânico, mas a versão ampliada, o que seria o lado B americano, ainda contava com as ótimas "Strawberry Fields Forever", "Penny Lane" e a belíssima e gostosa "All You Need is Love", que tem no côro, entre vários nomes famosos, nada mais nada menos que Jagger e Richards dos 'rivais' Rolling Stones.
Perdoem-me os beatlemaníacos se não admiro tanto um "Sgt. Pepper's...", se não me entusiasmo tanto com o "Álbum Branco", se não me rasgo em elogios ao "Rubber Soul". Não é questão de desrespeito. Não é por desfazê-los, eu lhes asseguro. É só questão de pegar pelo ouvido, e se tem um disco dos Beatles que eu curto, que eu canto junto, que eu tamborilo com os dedos, é esse "Magical Mystery Tour".
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FAIXAS:
Lado A
1. "Magical Mystery Tour"
2. "The Fool on the Hill"
3. "Flying"
4. "Blue Jay Way"
5. "Your Mother Should Know"
6. "I Am the Walrus"


Lado B
7. "Hello, Goodbye"
8. "Strawberry Fields Forever"
9. "Penny Lane"
10. "Baby, You're a Rich Man"
11. "All You Need Is Love"

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Ouvir:

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Música da Cabeça - Programa #61


O Brasil parou por causa dos caminhoneiros, mas aqui a gente não para nunca. Afinal, não é gasolina o nosso combustível: é música! Teremos uma trilha interessantíssima neste programa, que contará, entre outras coisas, com: The Commodores​, Buffalo Springfield, Adriana Partimpim​, Air​ e Gilberto Gil em três versões distintas. Na nossa boleia tem ainda o “Música de Fato”, o “Palavra, Lê” e um “Cabeça dos Outros” do outro lado do mundo. Afivela o cinto e vem com a gente na estrada do Música da Cabeça. O ponto de partida é 21h, na parada da Rádio Elétrica​, que temos um tanque cheio de sonoridades. Produção e apresentação e pé no acelerador: Daniel Rodrigues.


Rádio Elétrica:

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2016



Os líderes já vêem os alemães do Kraftwerk pelo retrovisor.
Vamos combinar que 2016 foi cruel com alguns grandes ídolos da música, não? David BowiePrinceCauby PeixotoPierre Boulez; Alan Vega do Suicide; Paul Katner do Jefferson Airplane; Pete Burns do Dead Or Alive; Glenn Frey dos Eagles; Maurice White  do Earth, Wind and Fire; a espinha dorsal do Emerson, Lake and Palmer, Keith e Greg; Leonard Cohen e, por último, no apagar das luzes do ano, George Michael. Foi pesado, hein! Mas não adianta: esses caras se foram mas suas obras ficam e serão sempre lembrados e, entre outras coisas é para isso que uma seção como esta, a ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, serve. Para eternizar grandes obras do meio musical e manter imortalizados os artistas que nos proporcionaram o privilégio de tê-las entre nós. Prova disso, na nossa coluna, é que o recém-falecido David Bowie ocupa a liderança de discos destacados, ali, abraçadinho com as duas maiores bandas de rock do mundo, Beatles e Stones. Que trinca, hein! Sim, é verdade, a ponta de cima não teve nenhuma alteração em relação ao mesmo período do ano passado, mas a meiúca, o miolo ali teve movimentação com gente nova entrando como a talentosa Janelle Monáe com seu "ArchAndroid", o Blur saindo em vantagem na eterna briga contra o Oasis botando "Parklife" na lista e já com algum atraso, finalmente pintando um Marvin Gaye entre os nossos fundamentais. Alguns subiram de posição, como é o caso do Kraftwerk que com seu "Tour de France Soundtracks" aproximou-se ameaçadoramente dos líderes já colocando na roda seu quarto A.F.; assim como os Smiths que, fazendo a última postagem do ano na seção, tiveram seu terceiro relacionado e já ocupam lugar destacado entre os internacionais.
Por esses lados, Jorge Ben continua na ponta no ranking nacional e a parte de cima continua sem alteração com Titãs, Legião, Engenheiros, Caetano, Gil e Tim Maia seguindo de perto. Os fatos mais  consideráveis foram o de Lobão, com seu "O Rock Errou", por sinal o primeiro A.F. de 2016, ter subido para dois indicados, empatado com nomes como Chico Buarque, Novos Baianos, Tom Jobim, Chico Science, entre outros que já tem um bicampeonato; e o da Tia Rita finalmente ter colocado seus pés no nosso "Hall da Fama" com seu ótimo "Babilônia".
Na disputa por décadas os anos 70 continuam mandando fácil, em compensação por ano, o de 1986, é o que tem mais discos integrantes do nosso grupo de honra. Por nacionalidade, os Estados Unidos lideram com ampla vantagem, e os brasileiros que haviam roubado a segunda posição dos ingleses na temporada passada, ampliaram ainda mais a vantagem em relação ao pessoal da Rainha, mas isso sem contar com Irlanda e Escócia, o que faria, aí sim, com que o Reino Unido estivesse à nossa frente no placar geral. A novidade ficou por conta do primeiro A.F. francês com a dupla Air emplacando seu excelente "Moon Safari" entre os Fundamentais do Clyblog.
E esse empate triplo na ponteira internacional? Ninguém vai pular à frente? E no Brasil, Jorge Ben vai continuar reinando absoluto por tanto tempo? E aí Chico Buarque, não vai reagir? E essa briga Brasil vs Inglaterra pela vice-liderança? Será que o English Team vai se reaproximar? Será que vai passar? Bala na agulha tem pra isso com toda aquela elite do rock, não? Em compensação a criatividade, a musicalidade, o ritmo brasileiro tem meios de se defender. Enfim, 2017 promete. Ainda mais pelo fato de que provavelmente, pelo ritmo que a coisa vai, chegaremos ao número 400 e certamente pensaremos em algo especial com alguma convidado que venha a engrandecer este número e momento especial.
Enquanto isso, voltemos a 2016 e confiramos como foram as coisas. É!!! Porque 2017 já está aí e muitos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS inda estão por vir. Sendo assim, vamos aos números:


PLACAR POR ARTISTA (GERAL)

  • The Beatles: 5 álbuns
  • David Bowie 5 álbuns
  • The Rolling Stones 5 álbuns
  • Kraftwerk 4 álbuns
  • Stevie Wonder, Cure, Smiths, Led Zeppelin, Miles Davis, John Coltrane, Pink Floyd, Van Morrison e Bob Dylan: 3 álbuns cada


PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)

  • Jorge Ben 4 álbuns*
  • Gilberto Gil*, Caetano Veloso, Legião Urbana, Titãs, Engenheiros do Hawaii e Tim Maia; 3 álbuns cada
*contando o álbum Gil & Jorge

PLACAR POR DÉCADA

  • anos 20: 2
  • anos 30: 2
  • anos 40: -
  • anos 50: 13
  • anos 60: 67
  • anos 70: 98
  • anos 80: 92
  • anos 90: 67
  • anos 2000: 9
  • anos 2010: 7


*séc. XIX: 2
*séc. XVIII: 1

PLACAR POR ANO

  • 1986: 18 álbuns
  • 1976: 15 álbuns
  • 1985: 14 a´lbuns
  • 1991: 13 álbuns
  • 1967, 1972 e 1979: 12 álbuns cada
  • 1968, 1971 e 1992: 11 álbuns cada
  • 1969, 1970, 1973, 1989 e 1992: 10 álbuns cada


PLACAR POR NACIONALIDADE*

  • Estados Unidos: 133 obras de artistas*
  • Brasil: 94 obras
  • Inglaterra: 86 obras
  • Alemanha: 7 obras
  • Irlanda: 6 obras
  • Canadá e Escócia: 4 cada
  • México, Austrália e Islândia: 2 cada
  • Jamaica, Gales, Itália, Hungria, Suíça e França: 1 cada

*artista oriundo daquele país

quinta-feira, 29 de maio de 2014

The Police- "Reggatta de Blanc" (1979)


Reggatta de Blanc
=
Reggae de Branco



Meu amigo Christian Ordoque, colaborador aqui do blog, foi quem me apresentou esse disco. Na verdade o que aconteceu foi que me abriu os olhos para o The Police, ou melhor, os ouvidos. Já conhecia a banda da celebrada coletânea "Every Breath You Take" mas acho que naquela audição, no apartamento dele no bairro São Geraldo em Porto Alegre, eu tenha percebido todas as grandes virtudes da banda e em especial daquele disco, o "Reggata de Blanc" (1979). Acho que o que me despertou mesmo foi quando ouvi "No Time This Time", depois de já ter rolado todo o disco e descoberto suas grandes qualidades. Quando começou aquele ska-rock alucinante e acelerado eu fiquei simplesmente de queixo caído. Um show de baixo de Sting, é verdade, mas nada comparado à performance simplesmente do outro mundo de Stewart Copeland na bateria. Um show! Aquilo me conquistou de vez.
Mas "No Time This Time" é a última. Antes disso, como eu disse, já havia descortinado o disco inteiro. "Message in a Bottle" é o mais perfeito cartão de visitas que a banda podia ter escolhido para abrir o álbum, pois é a mostra exata da proposta da banda com uma fusão de punk, reggae e new-wave poucas vezes obtida com tanto êxito. A, praticamente instrumental, "Reggatta de Blanc", a segunda faixa do disco, evolui numa crescente até tornar-se um rock forte e vigoroso com alguns vocais esparsos, sem letra; "Bring on the Night", que até então eu só conhecia da versão ao vivo da carreira solo de Sting, e da versão um pouco diferente da coletânea, é brilhante na sua sutileza e sofisticação jazzística, combinados a um agradável refrão carregadíssimo no reggae; e a excelente "Walking on the Moon", é um show de técnica do trio em outra das grandes músicas do álbum.
Muito interessantes também são a aninada "It's Allright For You"; o reggae embalado "The Bed's Too Big Without You"; a brilhante muitíssimo bem construída "Contact", cujo início sempre me remete a "Tom Sawyer" do Rush; e "Does Everyone Stare" que começa com um piano e o baterista Stewart Copeland no vocal, e parece prenunciar algumas características da futura carreira solo de Sting.
Daqueles discaços da primeira à última. Mas devo admitir que até hoje, quando chega a última, levanto o volume e ensaio um air-drum imitando o Copeland.
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FAIXAS:
1. "Message In A Bottle"
2. "Reggatta De Blanc"
3. "It's Alright For You"
4. "Bring On The Night"
5. "Deathwish"
6. "Walking on the Moon"
7. "On Any Other Day"
8. "The Bed's Too Big Without You"
9. "Contact"
10. "Does Everyone Stare"
11. "No Time This Time"


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Ouça:

Cly Reis
(para Christian Ordoque)

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Hüsker Dü - "Warehouse: Songs and Stories" (1987)


"Revoluções começam em casa,
de preferência no espelho do banheiro."
do texto do encarte do álbum



Pode até não ser uma unanimidade mas pode-se afirmar sem medo que o Hüsker Dü é uma das bandas mais respeitadas da cena alternativa. Mesmo com a abertura musical promovida pela banda em "Warehouse: Songs and Stories" sua reputação permaneceu intocada diante de um público que não costuma tolerar muitas concessões mas que provavelmente viu na pequena mudança de comportamento musical do Hüsker Dü muito mais um amadurecimento do que uma traição, como muitas vezes costuma-se rotular os que desviam de sua linha original.
Neste disco de 1987, o Hüsker Dü deixava seu tradicional hardcore mais melódico sem, contudo, ficar meloso. Era apenas a admissão de influências e sonoridades dando vazão para outras possibilidades mas que não descaracterizavam de modo algum o som honesto da banda. "Warehouse..." é mais bem trabalhado, mais polido mas não menos original. A boa produção, a carga psicodélica e as alternativas sonoras experimentadas só fizeram dar mais valor ao som guitarrado e potente da banda, fazendo com que a verdadeira sonoridade e a qualidade da música ficasse mais evidenciada. Fruto de uma participação coletiva mais efetiva, ao contrário de outras ocasiões quando Bob Mould, o vocalista e guitarrista, centralizava as ações com raras exceções de concessão para o baterista Grant Hart, outro dos principais compositores da banda, o disco acabou gerando um material mais diversificado em relação a seus antecessores e mais numeroso também resultando na inevitabilidade de transformar aquele projeto em um álbum duplo. Mas é um daqueles poucos duplões que não cansam e, pelo contrário, deixam um gostinho de quero mais. Disco bom do começo ao fim. Uma musicaça depois da outra. Mas infelizmente, depois da obra-prima do Hüsker Dü o público ficou mesmo só no gostinho de quero mais pois "Warehouse: Songs and Stories" foi o último suspiro da banda que encerrou ainda naquele ano de 1987 suas atividades. Mas mais justo não seria chamar de "último suspiro" mas talvez de derradeiro sopro de criatividade e inspiração uma vez que o álbum, um clássico dos anos 80, da cena independente, do rock alternativo, perdura como um dos mais do rock contemporâneo sendo inspiração inegável e facilmente detectável na geração que se seguiria, especialmente no grunge e suas derivações.
Disco tão impecável que é quase injusto destacar algumas e deixar outras de fora mas, com certeza, não dá pra deixar de falar neste álbum sem lembrar de "Could Be the One?", "Standing in the Rain", "These Important Years", "She Floated Away", "Charity, Chastity, Prudence, and Hope" e... ah, todas!
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FAIXAS:
  1. "These Important Years" – 3:49
  2. "Charity, Chastity, Prudence, and Hope" – 3:11
  3. "Standing in the Rain" – 3:41
  4. "Back from Somewhere" – 2:16
  5. "Ice Cold Ice" – 4:23
  6. "You're a Soldier" – 3:03
  7. "Could You Be the One?" – 2:32
  8. "Too Much Spice" – 2:57
  9. "Friend, You've Got to Fall" – 3:20
  10. "Visionary" – 2:30
  11. "She Floated Away" – 3:32
  12. "Bed of Nails" – 4:44
  13. "Tell You Why Tomorrow" – 2:42
  14. "It's Not Peculiar" – 4:06
  15. "Actual Condition" – 1:50
  16. "No Reservations" – 3:40
  17. "Turn It Around" – 4:32
  18. "She's a Woman (And Now He Is a Man)" – 3:19
  19. "Up in the Air" – 3:03
  20. "You Can Live at Home" – 5:25

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Ouça:



Cly Reis

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

The White Stripes "Elephant" (2003)



"Em breve estaremos longe de você,
mas você poderá nem perceber.

Você não precisa de ninguém, inumana como é.
O estranho é que nós não podemos partir sem você.
K. Johnson (1905)
trecho no encarte do álbum



Lembro da primeira vez que vi e ouvi os White Stripes. Estava passando distraidamente pelo Vídeo Music Awards, sem muita expectativa, assim só mudando de canal e resolvi dar uma paradinha ali. Parei ali bem na hora do número desta banda. Na hora já me causou sensação aquilo: Só dois e numa formação inusitada: guitarra e bateria. E os dois estranhamente trajando apenas vermelho e branco e seus instrumentos acompanhavam estas cores também. A era música extremamente criativa, bem elaborada, com um inegável potencial pop sem deixar de ter uma”pegada” e uma fúria digna do que há de melhor no rock. Era “Seven Nation Army” com aquela marcação grave, o acompanhamento no bumbo naquela bateria sem muita técnica de Meg White equilibrada e compensada pelo completo domínio técnico de Jack White que faz a guitarra explodir e gritar no refrão sem letra, desta que se mostrava para mim naquele momento uma das poucas músicas que conseguiam me surpreender em anos, de uma das poucas bandas que conseguiam igualmente o mesmo efeito.
Na verdade, na hora, no VMA, não consegui ouvir o nome da banda, mas sabia que tinha que descobrir do que se tratava. Catei na Internet as apresentações que ocorreram naquela noite e descobri o nome: White Stripes.
Foi o suficiente pra ir a uma loja e comprar o CD, o último da banda até aquele momento, chamado “Elephant”, que hoje veio de trilha sonora no meu carro pelas ruas do Rio de Janeiro.
O álbum apresenta uma clara distinção de trechos. Um primeiro bem agitado e agressivo, passando a um outro mais lento com baladas, indo a um terceiro de blues e mais energia novamente e fechando num meio termo. Resultado da concepção inicial que previa o lançamento em LP duplo, em alguns países, gerando assim 4 lados.
O disco abre com a que eu ouvira na MTV, “Seven Nation Army”, e a versão de estúdio tem o ganho de um melhor preenchimento de eventuais vazios ocasionados pela sua “mera” individualidade no palco. Afinal Jack White é um só, só ele é guitarrista e a banda não tem baixo. (Mesmo assim, ao vivo também manda muito bem)
A seqüência é uma porrada com “Black Math” com a guitarra estourando as caixas num punk violento. Jack White adapta Burt Bacharach em “I Just Don’t Know What to Do With Myself” que também explode em guitarras e microfonias no refrão e no final, mas que com seu clima predominante breguinha de cabaré, já introduz para a seqüência de baladinhas. A bonitinha “In the Cold. Cold Night” é cantada por Meg e "I Want to Be the Boy to Warm Your Mother's Heart” é executada no piano por Jack.
A pegada retorna com o melhor blues feito desde a geração dos mestres, “Ball and Biscuit” com três solos diferentes incríveis ao longo da música. Blues que aliás é influência evidente do guitarristas e aparece com freqüência na maior parte das outras faixas do álbum, mas Jack White, em especial nesta, estraçalha verdadeiramente.
Segue-se com “The Hardest Button to Button”, que por ter uma marcação grave da guitarra com acompanhamento do bumbo lembra a concepção de “7 Nation Army”. “Little Acorns” que vem em seguida traz um início de piano acompanhando uma narração de uma espécie de novela, culminando numa ensurdescedora guitarrada; e “Hypnptize” que vem depois é um empolgante punk clássico que dá vontade de sair pogueando.
“Girl, You Have No Faith in Medicine” é outra das boas canções do disco também cheia de blues e “Well, It’s True that We Love One Another” que fecha o disco é um simpático e agradável triângulo amoroso com participação nos vocais da amiga Holly Golighlty.
Uma das poucas bandas que ainda tem alguma coisa diferente a mostrar e com um resultado muito interessante, em um dos discos que considero dos melhores dos últimos tempos, embora se reconheça a fraca mas importante e competente performance de Meg White como baterista.
Mas é aquele negócio, né: a gente percebe na música de Jack White tudo que ele ouviu, toda a sua formação. Punk, country, blues. E como ele sabe transformar, sabe aproveitar, sabe expressar, não poderia sair coisa ruim.
Disco que já nasceu clássico.
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FAIXAS:
1."Seven Nation Army"– 3:51
2."Black Math" – 3:03
3."
There's No Home for You Here" – 3:43
4."
I Just Don't Know What to Do with Myself" (Burt Bacharach, Hal David) – 2:46
5."In the Cold, Cold Night" – 2:58 (vocal principal : Meg White)
6."I Want to Be the Boy to Warm Your Mother's Heart" – 3:20
7."You've Got Her in Your Pocket" – 3:39
8."Ball and Biscuit" – 7:19
9."
The Hardest Button to Button"– 3:32
10."Little Acorns" (
Mort Crim, J. White) – 4:09
11."Hypnotize" – 1:48
12."The Air Near My Fingers" – 3:40
13."Girl, You Have No Faith in Medicine" – 3:17
14."Well It's True That We Love One Another" – 2:42


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Ouça:
The White Stripes Elephant



Cly Reis