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domingo, 15 de agosto de 2021

O Dia em que a Arte Dramática Brasileira Morreu

 

Em 2007, quando, com diferença de menos de 24 horas, os cineastas Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni faleciam, aquela fatídica virada de 29 para 30 de julho ficou conhecida como o “dia em que o cinema moderno morreu”. Semelhante sensação de perda e de triste coincidência se abateu sobre o mundo das artes dramáticas brasileira entre 11 e 12 deste mês de agosto ao despedirmo-nos de dois ícones: Paulo José e Tarcísio Meira. Poucas vezes em tão pouco tempo foi-se embora tanta beleza, tanta significância, tendo em vista a história de cada um para o cinema, a TV e o teatro brasileiros. Até mesmo na vida pessoal pareceram-se. Um, com 84, o outro, com um ano a mais. Na vida pessoal, amaram com fidelidade poucas mulheres igualmente do seu ciclo de atores: Tarcísio, casado com Glória Menezes por 61 anos; Paulo, viúvo de Dina Sfat e, posteriormente, parceiro da também atriz Zezé Polessa.

Paulo em "O Palhaço":
sensibilidade de veterano
Pertencentes a uma geração rara que forjou as artes cênicas no País, como Paulo Gracindo, Cacilda Becker, Sérgio Brito, Walmor Chagas, Bibi Ferreira e Paulo Autran, Paulo e Tarcísio, por meio desse ímpeto pioneiro, ajudaram a esculpir de certa forma o que conhecemos de Brasil. Tanto que é impensável pensar no teatro, no cinema ou na TV sem lembrar de ambos. Paulo, no teatro, criou o Teatro de Equipe, dirigiu o Teatro de Arena, encenou Guarnieri e Molière. Tarcísio, por sua vez, também forjado nos palcos e Prêmio Shell de Teatro por “O Camareiro”, ia de Shakespeare a Keiser.

Mas é no audiovisual que a carreira tanto de um quanto de outro se fez popular, por vários antagônicos motivos – o que só prova suas versatilidades. Como outro grande das artes cênicas recentemente falecido, o sueco Max Von Sydow, capaz de interpretar Jesus Cristo e um cavaleiro assombrado pelo Diabo, Tarcísio, especialmente, foi da cruz ao inferno. Assim como Sydow, o brasileiro foi o Salvador em “A Idade da Terra”, de Glauber Rocha e, noutro extremo, fez a encarnação do demônio ao interpretar o vilão Hermógenes, de “O Grande Sertão: Veredas”, série dirigida por Walter Avancini para a Globo. Com Paulo, não é tão diferente. Se viveu o angustiado religioso de “O Padre e a Moça”, também vestiu o fanfarrão “Macunaíma”, noutro marco do Cinema Novo. 

"O Padre e a Moça", com Paulo José (1966)

"O Beijo no Asfalto", com Tarcísio Meira (1980)


Tarcisão na atuação
premiada de "A Muralha"
Aliás, não faltaram grandes que os dirigissem. Tarcisão, além dos já citados Glauber e Avancini, encarnou “O Marginal” no ótimo e raro filme de Carlos Manga pós-Chanchada, e protagonizou uma das mais emblemáticas cenas da história do cinema nacional com o “beijo mortal” de “O Beijo no Asfalto”, de Bruno Barreto. Tarcísio, e mais ninguém, teria tamanha autoridade para ser D. Pedro II ou o asqueroso Dom Jerônimo Taveira de “A Muralha” ou o “regenerado” Renato Villar de “Roda de Fogo”. 

Paulo, por sua vez, esteve sob as lentes de Joaquim Pedro de Andrade, Jorge Furtado, Domingos Oliveira, Júlio Bressane... Como não lembrar de seus papéis em “Faca de Dois Gumes”, do Murilo Salles, “O Palhaço”, do Selton Mello, “O Rei da Noite”, do Babenco?... Isso quando não era ele mesmo quem dirigia! Paulo oportunizou algo que une e simboliza a obra desses dois gigantes quando dirigiu, gaúcho como era, a série “O Tempo e o Vento”, da obra de Erico Verissimo, dando a Tarcísio com sabedoria o papel de Capitão Rodrigo, aquele que talvez melhor tenha marcado o ator paulista, mas que, com seu talento, identificou-se profundamente com os gaúchos. 

Considerando que, desta geração nascida por volta dos anos 30 e que erigiu a arte de encenar no maior país da América depois dos Estados Unidos, resta apenas Fernanda Montenegro (vida longa!), não é exagero dizer que esta semana de agosto de 2021 poderá ser lembrada pelo “dia em que a arte dramática brasileira morreu”. 

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PAULO JOSÉ GÓMEZ DE SOUSA
(1937-2021)



TARCÍSIO PEREIRA DE MAGALHÃES SOBRINHO
(1935-2021)



Daniel Rodrigues

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Os meus 10 melhores filmes gaúchos


Furtado, cineasta com mais títulos na lista entre
longas e curtas
Por conta de um grupo do qual participo, fui instigado a pensar nos filmes produzidos no Rio Grande do Sul em toda a sua história cinematográfica. Isso, incluindo até os não necessariamente feitos por cineastas/equipes gaúchas, mas também rodados ou produzidos. São diversos os talentos que são ou saíram desse extremo-Sul brasileiro, como Jorge Furtado, Carlos Reichenbach, Carlos Gerbase, Ana Luiza Azevedo, Paulo José, Walmor Chagas, José Lowgoy, Ítala Nandi, entre outros técnicos e realizadores. Por isso, e até em razão do recorte ao qual se pretende chegar com essa pesquisa a qual me referi, senti-me à vontade para montar uma lista dos meus filmes preferidos feitos no Estado onde nasci e vivo. Assim, bem pessoal e cinéfila.

Bastante prolífica, a produção gaúcha data do início do século, sendo dessas terras de onde saiu a primeira produção de cinema que se tem registro no Brasil: “Os Óculos do Vovô”, de 1913, de Francisco Santos, realizado numa cidade com a qual mantenho saudável proximidade, Pelotas. Não bastasse essa importância histórica para o cinema nacional, o Rio Grande do Sul também é dos estados de maior produção ao longo do último século e, certamente, deste em que estamos. Somente do ano 2000 para cá, há cerca de 100 longa-metragens, além de uma infinidade de curtas – formato, aliás, no qual se construiu considerável tradição no audiovisual gaúcho, principalmente a partir dos anos 80.

Além disso, a grande maioria do que fora rodado não se trata apenas de negativos gastos sem finalidade. Criatividade, diversidade de estilos e gêneros e qualidade técnica pautam uma parte considerável dos filmes. Goste-se ou não do resultado, trata-se de uma produção qualificada e, por outro ângulo, sociologicamente importante em seu papel de registro da cultura gaúcha. Por ser um estado froteiriço, muito de sua produção audiovisual tem influência dessa proximidade com os vizinhos platinos, tendo papel essencial para a realização de coproduções com Argentina e Uruguai principalmente.

Em termos de projeção, igualmente. É na ponta de baixo do País que ocorre o festival de cinema mais longevo e ininterrupto do Brasil, o Festival de Gramado. No que se refere a premiações, não são poucos os premiados no Brasil e no exterior ao longo da história, chegando-se ao apogeu com o multipremiado curta “Ilha das Flores”, que abocanhou láureas na França, Alemanha, Estados Unidos e no próprio País.

Isso tudo coloca a terra de P.F. Gastal tranquilamente entre os cinco polos cinematográficos mais importantes do Brasil, atrás apenas de Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais e, quiçá, igualado por Bahia. Claro que, desses, tenho meus preferidos, que lanço aqui os 10 principais, incluindo curtas, aliás. Pude, por isso, dispensar títulos de produções rodadas no Estado, como os ótimos “A Intrusa”, produção carioca do cineasta argentino-brasileiro Carlos Hugo Christensen, ou “Cão sem Dono”, do paulistano Beto Brant. Assim, predominam os filmes da Casa de Cinema de Porto Alegre e dos anos 80, tendo Furtado o destaque, com três deles. Porém não podia deixar de elencar o essencial "Vento Norte", primeiro longa sonoro feito nesses pagos, e dois títulos da nova safra, somando, junto com outro de Furtado, três realizações do século XXI.
Então, vamos à lista:


1 – “Ilha das Flores”, de Jorge Furtado (1989)










2 – “Verdes Anos”, de Giba Assis Brasil e Carlos Gerbase (1984)
3 – “O Dia em que Dorival Encarou a Guarda”, de Jorge Furtado e José Pedro Goulart (1986)
4 – “Vento Norte”, de Salomão Scliar (1951)



5 – “Deu Pra ti, Anos 70”, de Nelson Nadotti e Giba Assis Brasil (1981)
6 – “O Mentiroso”, de Werner Schunemann (1988)
7 – “O Homem que Copiava”, de Jorge Furtado (2003)
8 – “3 Minutos”, de Ana Luiza Azevedo (1999)




9 – “A Mulher do Pai”, de Cristiane Oliveira (2016)
10 – “Castanha”, de Davi Pretto  (2014)


O ator José Carlos Castanha interpretando a si mesmo no
impressionante filme de Davi Pretto


por Daniel Rodrigues

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Navegante Errante





foto: Doris de Oliveira - fototeca Cioma Breitman
Museu Joaquim José Felizardo - Pref. mun. de Porto Alegre
O Naval foi e sempre será o bar da minha infância. Encravado em pleno Mercado Público de Porto Alegre, centro histórico da cidade, o típico boteco, aberto nos longínquos anos de 1907, é parte essencial da história de porto-alegrenses como eu, tendo em vista sua tradição e notoriedade. Aquele pé-direito altíssimo; as portas de madeira estilo português; o piso de lajotas intercalando preto e branco; o cheiro de trago no ar; as mesas de madeira com plástico grosso por cima; os porta-retratos com fotos antigas; os afrescos do teto; o enorme cartaz acima das cabeças com a imagem de um navio; as fotografias pitorescas nas paredes; o ar que parecia tomado por uma neblina de satisfação. Tudo ali me encantava desde quando, guri, levado por meu pai e, muitas vezes, juntamente com meu irmão, comecei a frequentar o bar Naval. Ia a vários outros com meu pai, mas ao Naval era especial. Não era sempre. Às vezes, no dia de pagamento de meu pai, funcionário da prefeitura, saíamos da repartição dele na Borges de Medeiros e rumávamos direto para lá, felizes. E mesmo com essa frequência menos assídua era incrível como sempre me senti em casa, tal como se o bar fosse uma extensão da minha.

Aquela aura do local me dava impressão de que, ao adentrar pela porta, fosse pela de dentro do Mercado, fosse pela da calçada, que dá para a rua, saíamos do resto do mundo para entrar, exclusivamente, no Naval, como navegantes num barco solto no meio do mar. A percepção de criança fazia com que, inclusive, eu nunca atinasse exatamente de qual dos quatro lados do Mercado Público se entrava para acessá-lo. Parecia que era pelo lado do Guaíba... mas, não, era pelo Largo... ou pelo lado da Prefeitura...? Afora a justificativa do senso de direção ainda em desenvolvimento em uma criança como eu, não posso deixar de pensar hoje que a entrada para aquele museu boêmio era, na verdade, imaginária.

A melhor parte para nós eram as comidas. Comida de boteco típica, daquelas suculentas, sempre com o mesmo gosto anos a fio. Tínhamos nossos pratos prediletos: as almôndegas gigantes, espetacularmente bem fritas, e a chuleta de porco, um respeitável bife cujo sabor especial era um verdadeiro segredo. Tinha também uma pimenta maravilhosa, a melhor que já comi na vida, feira na casa, que só passei a apreciar mais velho, pois era muito forte para meu paladar naquela época.

Não bastasse todo esse espírito, ainda o aspecto humano era de total acolhimento por parte dos garçons, que, na minha mente infantil, estavam ali desde sempre (e, quem sabe, não estavam?). Paulo Naval, um português de olhar entre o arguto e o carinhoso cujo nome resume a simbiose de sua existência com o local, visto que ele e o bar eram parte da mesma coisa; e Mauro, tipo turco dono de olhos verdes intimidadores até o momento em que abria seu sorriso largo e receptivo. Ambos eram amigos de meu pai, a quem tratavam como verdadeira deferência. No entanto e até por isso, Paulo chamava-o, com uma permissividade cúmplice de quem sabia de muita safadeza de meu pai, de “negro sem-vergonha”. O local sempre recebeu desde cidadãos comuns até personalidades, como Lupicínio Rodrigues, Carlos Gardel, Túlio Piva, Elis Regina, Glênio Peres, Leonel Brizola, Jânio Quadros, Olívio Dutra. Mas não havia distinção: podia ser político, conhecido, operário, personalidade, artista, zé-niguém, jovem, ancião, bicha, vesgo. Independia: anônimos ou famosos, todos os clientes eram tratados com o maior dos respeitos e atenção, e, alguns, como meu pai, pessoa comumente querida aonde ia (ainda mais nas rodas de birita e botecos da vida), ganhavam, sim, uma atenção especial.

Episódio clássico que mostra essa afetuosidade foi a ocasião em que meu pai, num dos tais dias de pagamento, pegou todo seu ordenado e se atirou para o Naval, sozinho. Lá, tomou todas a ponto de não ter condições de voltar para casa tamanho o porre. Tentou dar uns passos, mas caiu em plena rua. Pois então que o Paulo, sabendo que o pai tinha recém recebido o salário e que estava com este todo sacado dentro da bolsa, tomou a liberdade de abri-la e guardar o dinheiro consigo. Depois, chamou um taxi, pagou do seu bolso o taxista e mandou meu pai pra casa. No dia seguinte, já refeito do pileque, meu pai voltou ao bar para resgatar seu pertence, agradecer e pagar o taxi. Paulo não aceitou o dinheiro. Meu pai sempre se emocionava ao se lembrar desse ato de pura amizade, tanto pela consideração que tiveram com ele, rara para com um cliente, quanto pela ética de como agiram.

Por essas e outras, não à toa o Naval me parecia algo realmente poético. E Paulo Naval era um poeta de mão cheia, autor do livro "O Garçom e o Cliente - No Balcão do Naval" cujo lançamento ocorreu em pleno bar num concorrido coquetel. Recordo de uma vez que, sentados numa das mesas, ele, orgulhoso, de avental enxovalhado e paninho branco úmido na mão, recitou uma de suas obras. Momento inesquecível para mim.

Na esteira de meu pai, eu e meus irmãos também éramos muito queridos lá. Lembro da primeira vez que fomos com minha irmã, ainda uma criança de uns 4 ou 5 anos, sob os olhos arregalados de minha mãe, que permitiu o passeio com a pequena mas não sem certo receio. Mas deu tudo certo. Engraçado que, por conta daqueles dias de calor louco de Porto Alegre, misturado ao cansaço de sair cedo de casa conosco, ela acabou dormindo profundamente em nosso colo, chegando a ficar com o corpo todo mole. Parecia uma boneca de pano, pois, além de não acordar, precisava ser segurada permanentemente para não desmoronar. Naquele dia, Paulo e Mauro, felizes com a ilustre visita como se fosse a de uma familiar sua, bateram uma foto dela ainda acordada, tomando uma Mirinda de garrafa. Essa foto foi parar na parede do bar, ficando ali desde então.

Os anos se passaram. Cresci, a dinâmica de minha vida se alterou e, nesse meio tempo, entre outras mudanças, meu pai, motivo de meu contato primeiro com o Naval, foi para o outro plano. Mesmo assim, sempre procurei com uma frequência até parecida com a que tinha na infância dar uma passada por lá, fosse para sentar e comer, levar algo pronto para casa ou apenas dar um alô para o Paulo e o Mauro. Sentia-me, no fundo, com certa responsabilidade de manter a herança emocional de meu pai para com eles. Via-os nessas ocasiões, e era muito bom. Mas os anos de casa e a rotina religiosamente diária já os havia desgastado. Normal. Envelhecidos, mantinham a mesma simpatia e sorriso aberto, fazendo as mesmas perguntas a cada vez que eu ia (em que eu e meu irmão trabalhávamos, se eu ou meu irmão que é arquiteto, como estavam minha mãe e minha irmã, essas coisas de gente afeita a ti). No entanto, era perceptível que estavam cansados e que aquele cenário se alteraria, mas eu, talvez por apego ao sentimento de magia alimentado desde a infância, nem pensei em cogitar.

Mas as mudanças, de fato, ocorreram. Outro dia, dando voltas no Mercado Público, resolvi, como de costume, visitar os amigos Paulo e Mauro. Fui tomado de surpresa quando cheguei à porta do Naval. O local, todo reformado, agora tinha límpidas paredes brancas, arquitetura requintada e ar totalmente asséptico. Descaracterização própria de uma protomodernidade ignorantemente desmemoriada. A foto de minha irmã não estava mais lá, assim como os porta-retratos velhos, o cartaz do navio e tampouco a névoa de prazer. Até a porta que dava pra rua havia virado uma simplória janela. Dava pra ver que uma conceituada consultoria empresarial havia agido ali implacavelmente e passado o rodo em tudo que fosse nostálgico e não-moderno, deixando o local com cara não de botequim do Mercado Público de Porto Alegre, mas com cara de boteco bacaninha da Vila Madalena paulista. E, eu, com cara de bobo.

Perguntei a um garçom, um loiro baixinho, onde estavam o Sr. Paulo e o. Sr. Mauro. “Se aposentaram”, respondeu, olhando-me com uma expressão de estranhamento desdenhoso como se eu fosse um navegante errante em águas alheias. Mas meu desapontamento era a maior prova de que, na verdade, era ele o deslocado. Aquela indiferença modernosa e acéfala, que valoriza apenas o novo e cuja falta de alcance nem se presta a procurar no passado sentidos para o hoje, era o maior sinal da ação desrespeitosa desses tempos atuais. De fato, tudo que não fosse jovem tinha ficado para trás ali: aquelas conversas revolucionárias ou jogadas fora, aquelas bebedeiras homéricas ou o simples trago no fim do expediente, aqueles amores arrebatadores ou meros galanteios, aquelas figuras pitorescas ou cidadãos comuns, aquelas geniais ideias artísticas ou importantes acordos políticos. Tudo isso pertenceu a um tempo espacial diferente disso que se vive no dia a dia. Um tempo não-racional impossível de ser percebido por um simples garçom como os de hoje, que bate ponto como um escriturário. Tive o impulso de perguntar onde tinham posto a foto de minha irmã... mas recolhi a fala. Agradeci e fui embora, com um fio de melancolia e resignado com um mundo que insiste em ser muito real.

Mesmo assim, não deixei de frequentar o Naval. Volto lá de vez em quando. A comida é outra, gostosa também. Mas incomparável. Trata-se de outro Naval, pois “aquele” Naval, dos mocotós violentos, dos saraus de poesia, dos bate-papos inflamados, do chope perfeitamente tirado e dos tipos elegantemente extravagantes e encantadores, como foi meu pai, não existe mais. Perdeu-se no horizonte do oceano de lembrança, rumando para outra dimensão de tempo e espaço. Contudo, talvez minha paixão pelo Naval permaneça porque explique, justamente, esta minha atemporalidade ou o sentimento de, às vezes, estar deslocado no tempo. Assim como me acontecia quando subia à proa do Naval e me sentava à nau, com as pernas curtinhas que não encostavam o convés do tombadilho, para navegar longe sem sair do lugar. 

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

20 filmes para entender o cinema brasileiro dos anos 60



Outro dia, logo após postar no Facebook que havia revisto um dos meus filmes favoritos da cinematografia nacional, “Bye Bye Brasil” (sobre o qual comentarei melhor em um próximo post), surtiram, como geralmente ocorre, alguns comentários. Na ocasião, entretanto, um dos que comentou foi meu primo e colaborador do ClyBlog (especialmente para da seção ClaqueteVagner Rodrigues. Amante de cinema, ele revelou não apenas querer conhecer o filme em questão quanto se aprofundar mais no cinema brasileiro das décadas de 60, 70 e 80.

Dispus-me, então, a elencar para ele títulos que dessem um panorama da produção de cada década no combalido e combativo cinema no Brasil. Até aí, nada incomum, considerando que gosto de compartilhar conhecimento sempre que posso e o considero suficiente para tal. O que eu mesmo não esperava era que, ao comentar brevemente cada filme somente de forma a justificar ao Vágner o porquê de sua presença numa classificação tão seleta, fui me empolgando não apenas com cada anotação, como, principalmente, com a seleção em si. Tanto que, somando-se os três períodos, cheguei a 55 títulos!

Afora a trabalheira prazerosa que sei que dei ao meu primo, acabaram surgindo três listas bem interessantes que dão a dimensão da qualidade, importância, versatilidade e profundidade artística, estilística, sociológica e política do cinema brasileiro em cada uma destas décadas, sem dúvida as melhores em nível qualitativo em toda a história dessa arte no Brasil (e olha que tem como concorrentes os fortes anos 50 e a primeira década do séc. XXI). Ao mesmo tempo, juntos, dão uma mostra bem real do quanto já foi muito mais difícil fazer cinema no Brasil, tanto pela questão técnica (produções quase sem recurso, tecnologia defasada e falta de mão de obra) quanto, principalmente nos 60 e 70, pelo cenário político, tendo em vista que muitos desses filmes – mesmo os corajosamente denunciadores – sofreram com a censura do governo militar antes, durante ou depois de lançados.

Comecemos, então, com a melhor de todas: a década de 60, marcada pelo boom do Cinema Novo – que revelou os gênios Glauber Rocha e Julio Bressane, mestres como Leon Hirszman, Joaquim Pedro de Andrade e Cacá Diegues e técnicos de primeira linha como Dib Lufti e Eduardo Escorel – mas que presenciou, tanto quanto, obras memoráveis não necessariamente ligadas ao movimento. Enfim, uma seleção de 20 títulos com seus respectivos diretores e em ordem cronológica de ano que me deram muito trabalho para escolher, mas que dão uma ideia legal da produção da época pelo filtro daquilo que gosto e acredito como arte – a sétima, neste caso.



1 - "O Pagador de Promessas", Anselmo Duarte (60) – Com absoluta convicção, o melhor de todos os tempos no Brasil. Perfeito do início a fim: fotografia, atuações, roteiro, trilha, edição, cenografia. E tem um dos papeis mais memoráveis do cinema: Leonardo Villar como Zé do Burro. E ainda é um Palma de Ouro em Cannes que venceu AntonioniPasolini e Buñuel. Tá bom pra ti? Irretocável.






2 – “Barravento”, Glauber Rocha (62) – Primeiro filme do Glauber, coloca-se num ponto entre o Neo-Realismo e o Cinema Novo. Extremamente poético, é o filme que melhor retrata o universo místico do candomblé e da vida dos pescadores do interior, aqueles que raramente temos acesso no mundo urbano. Venceu prêmio na República Checa e tem montagem do Nelson Pereira, quer mais?










3 - “Assalto ao Trem Pagador”, Roberto Faria (62) – Outro daqueles filmes essenciais. O Roberto Faria sempre fez filmes com arte e apelo popular. Esse é bem assim: com uma cara ainda de Atlântida dos anos 40/50, mas com um pé no Neo-Realismo. Atuações fantásticas do irmão Reginaldo Faria, do Grande Otelo e do ator principal, Eliezer Gomes, como o inesquecível Tião Medonho.










4 - “Os Cafajestes”, Ruy Guerra (62) – Clássico do Cinema Novo, tem toda a questão da câmera na mão, do enquadramento intuitivo, do aspecto documental, da inspiração estética e temática na nouvelle vague. Fala sobre a decadência da burguesia, pondo em evidência seu vazio e a falta de sentido. Daniel Filho e Jece Valadão ótimos. E ainda tem o primeiro nu frontal da história do cinema, e quando a Norma Bengell era tri gata!







5 - “Cinco Vezes Favela”, Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade, Miguel Borges, Leon Hirzsman e Marcos Farias (62) – Filme de episódios (5, obviamente), todos retratando algum aspecto das então pouquíssimo retratadas favelas, papel de denúncia que o Cinema Novo foi hiperimportante. O do Cacá, embora ainda cru em termos de estilo, é bem interessante, pois fala sobre uma escola de samba e os problemas da comunidade num dia de carnaval. “Couro de Gato”, do Joaquim Pedro, chegou a ganhar Cannes. O de Leon também é incrível, “Pedreira de São Diogo”, sobre trabalhadores da pedreira que são obrigados a fazer implosões perto de uma comunidade que iria para os ares. O do Miguel Borges, sobre um lixão, é claramente uma das inspirações do “Lixo Extraordinário” e com o recente britânico-brasileiro “Trash”.







6 – “Vidas Secas”, Nelson Pereira dos Santos (63) - Genial. Precursor em muitas coisas: fotografia seca, roteiro, cenografia, atuações. Daquelas adaptações literárias tão boas quanto o livro, ouso dizer. Tem uma das cenas mais tristes que já vi, a o sacrifício da cachorra Baleia. Limite também entre Neo-Realismo e Cinema Novo. Indicado a Palma de Ouro. Aula de cinema.










7 - “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, Glauber Rocha (63) - A obra-prima do Cinema Novo, um dos maiores filmes do século XX. De tirar o fôlego. Sobre este, me reservo o direito de indicar um post inteiro que escrevi sobre ele em meu blog de cinema: http://oestadodascoisascine.wordpress.com/2010/11/09/a-terra-do-homem-e-o-mito-da-morte/









8 - “Os Fuzis”, Ruy Guerra (64) – Um soco no estômago. Sobre um cerco militar que se forma numa cidade do sertão nordestino, pondo à mostra toda a miséria social e moral gerada pelo Estado, quase um presságio do derramamento de sangue que ocorreria com os que combateriam a ditadura militar, então recém-iniciada. Dos filmes preferidos de gente como Gustavo Spolidoro e Eduardo Valente, foi Urso de Prata em Berlim em Direção.








9“Noite Vazia”, Walter Hugo Khouri (64) – O Khouri sempre teve o seu jeito de fazer cinema, abordando temas como a depressão das altas classes, o vazio existencial, a anestesia da vida moderna, e bastante inspirado em Antonioni. “Noite Vazia”, no entanto, não é uma cópia brasileira de “A Noite”: é um filme com personalidade e referencial. Trilha do Duprat, tá louco! E concorreu a Palma de Ouro. Depois, o Khouri só se repetiu, mas esse é demais.










10 - “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, Roberto Santos (65) – Uma joia meio esquecida. Leonardo Villar, de novo ele, faz o papel principal, que ele literalmente encarna. Baseado no conto-novela do Guimarães Rosa, é daquelas adaptações ao mesmo tempo fiéis mas que souberam transportar a história pra outro suporte. Obra-prima pouco lembrada.








11 – “São Paulo S/A”, Luis Sérgio Person (65) – Outro clássico. Walmor Chagas tá ótimo. Na linha d’”Os Cafajestes”, mas sob outra ótica, mostra a asfixia da classe média (paulistana, no caso), imersa na impessoaliadade da vida industrial e maquinal da grande cidade. Recebeu prêmios na Itália, México e São Paulo. Muito atual.








12 – “O Desafio”, Paulo César Saraceni (65) – Parece loucura, mas o diretor fez um filme sobre a ditadura em plena ditadura. Haja peito! E mostra em detalhes a vida daqueles que não se enquadram naquilo, a tristeza de ver seu país tomado sem lado para correr. É um filme revoltado, corajoso e triste com todos os elementos de Cinema Novo: câmera na mão, fotografia natural, improvisação, tom documental, trilha sonora da MPB combativa da época.








13 - “O Padre e a Moça”, Joaquim Pedro de Andrade (66) - Lindo. Primeira ficção do Joaquim Pedro, que foi um contista de mão cheia. Sobre um padre (o maravilhoso Paulo José) que se apaixona por uma moça de família no interior. Claro que dá merda, né? Fotografia PB rigorosa e pouco diálogo, que dá um clima sufocante à história. Indicado ao Urso de Ouro em Berlim.







14 – “O Caso dos Irmãos Naves”, Luis Sergio Person (67) – Filme de tribunal sobre uma história real de um julgamento injusto ocorrido no interior de Minas na Era Vargas envolvendo os tais irmãos da família Naves. Super bem narrado e fotografado. Alto nível. Interpretações, idem. Interessante que, por se passar em uma época antiga, o filme passou pela censura, é os militares burros não perceberam ser uma baita crítica ao governo. Até torturas mostra... Venceu Brasília (Roteiro e Atriz Coadjuvante) e foi indicado em Moscou.







15 - "Terra em Transe", Glauber Rocha (67) - Pra muitos, o melhor do Glauber. Também altamente referencial do que foi o Cinema Novo e a visão dos artistas daquela época no Brasil. Algumas das cenas – captadas pela câmera-personagem de Dib Lufti – e ícones do movimento estão diretamente ligadas a essa filme. Premiado em Cannes, Locarno e Havana. Não menos que genial.








16 - “O Dragão da Maldade Conta o Santo Guerreiro”, Glauber Rocha (68) - Espécie de continuação do “Deus e o Diabo...”, porém num outro conceito e contexto. Altamente Teatro de Arena e Teatro Oficina, considero-o uma “ópera do Sertão” em cores, uma tragédia shakesperiana nordestina. Texto incomparável. Filme amado por Scorsese. Metafórico e forte. Melhor Direção em Cannes.






17 - “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, José Mojica Marins (68) – O genial Mojica traz indiretamente seu célebre personagem, que não aparece mas “representa” os 3 episódios que compõem o longa. Sua melhor produção, que mostra o quanto ele, um dos maiores mestres do terror trash mundial, ao lado de ArgentoCarpenter e Bava, é capaz de fazer miséria com um pouquinho mais de recurso.








18 - “O Bandido da Luz Vermelha”, Rogério Sganzerla (68) – Se existe cinema marginal, é “O Bandido...”. Transgressor, louco, efervescente, non-sense, crítico, revolucionário. Adjetivos são pouco pra definir. Grande vencedor do Festival de Brasília daquele ano. O filme que fez o “terceiro mundo explodir” de criatividade.










19 – “O Anjo Nasceu”, Julio Bressane (69) – Gênio do cinema autoral da atualidade (haja vista que é vivo e segue produzindo), junto com Sganzerla originou o chamado cinema “udigrudi”, o underground brasileiro, que subvertia ainda mais a estética e narrativa do que o Cinema Novo. Segundo filme dele, que, embora tenha um pouco mais de história (o que o diretor praticamente abandonou a partir do final dos 70), é tomado de simbologias e metáforas, que, por sinal, embaralharam a cabeça dos militares, que o proibiram sem saber porquê.






20 – “Brasil Ano 2000”, Walter Lima Jr. (69) – Fala-se muito do “Macunaíma” (referencial certamente, mas um filme confuso), mas esse do Walter Lima é exemplar no que seria um cinema “tropicalista” e “antropofágico”. É um musical com trilha original do Gilberto Gil cujos temas são muito bem integrados à história, pois se trata de uma ficção surrealista inteligente e engraçada. Muita criatividade com pouco.






quinta-feira, 24 de agosto de 2023

CLAQUETE ESPECIAL 15 ANOS DO CLYBLOG - Cinema Brasileiro: 110 anos, 110 filmes (parte 4)

 

Os clássicos absolutos chegaram, entre eles,
"O Beijo da Mulher Aranha", primeiro filme
brasileiro a vencer um Oscar
Demorou um pouco além do normal, mas voltamos com mais uma parte da nossa série especial “Cinema Brasileiro: 110 anos, 110 filmes”. E tem justificativa para esta demora. Isso porque reservamos este quarto e penúltimo recorte da lista para o mês de agosto, o de aniversário do Clyblog, uma vez que este Claquete Especial, iniciado em abril, é justamente em celebração dos 15 anos do blog.

Talvez somente esta justificativa não baste, entendemos. Então, já que vínhamos mês a mês postando uma nova listagem com 20 títulos cada, propositalmente falhamos em julho para que agora, no mês do aniversário, fizéssemos uma sequência não apenas de 20 filmes, mas de 40 de uma vez. E não se tratam de quaisquer quatro dezenas! Afinal, a seleção inteira é tão rica, que igualável em qualidade a qualquer cinematografia mundial. Mas, especialmente, porque estes novos compreendem as posições do 50º ao 11º. Ou seja: aqueles “top top” mesmo, quase chegando nos “finalmentes”.

Waltinho, um dos 6 com 2 filmes entre
os 40 melhores
E se o adensamento já vinha acontecendo fortemente, com a presença de grandes realizadores, títulos clássicos e premiados e escolas reconhecidas somadas às novas produções do furtivo século XXI, agora, então, esta confluência se faz ainda mais presente. Dá para se ter ideia pelos nomes de cineastas de primeira linha como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Walter Salles Jr., Luis Sergio Person, Hector Babenco e Eduardo Coutinho, que já deram as caras com obras anteriormente e, desta feita, emplacam dois filmes cada entre os selecionados, até então os mais bem colocados. Somam-se a eles os altamente competentes João Moreira Salles, Jorge Furtado e Bruno Barreto, também com dois entre os 40.

Pode-se dizer que, agora, é quando de fato entram os clássicos incontestes, aqueles “divisores de águas” do cinema nacional (e, por que não, mundial), como “Ganga Bruta”, de Humberto Mauro, "O Beijo da Mulher Aranha", de Babenco, “São Paulo S/A”, de Person, e “Tropa de Elite”, de José Padilha. Mas também pedem passagem “novos clássicos”, tal o perturbador documentário “Estamira” e o premiado “Bacurau”, de 2019, quarto mais recente entre os 110 atrás apenas de “Três Verões” (63º), “Marte Um” (79º) e “Marighella” (106º).

Elas, as cineastas mulheres, se ainda em desigualdade na contagem geral, marcam forte presença nesta fatia mais qualificada até aqui. Estão entre elas Kátia Lund, Daniela Thomas e Anna Muylaert, esta última, responsável por um dos filmes mais tocantes e críticos do cinema brasileiro, “Que Horas Ela Volta?”. Então, pegando carona na expressão, para quem estava nos perguntando "que horas eles voltariam?”: voltamos. E voltamos abalando com 40 filmes imperdíveis, que dignificam o cinema brasileiro e latino-americano. Pensa bem: apenas 10 títulos os separam do melhor cinema do Brasil. Isso diz muito.

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50. "Estamira”, Marcos Prado (2004)

Dentre as dezenas de documentários realizados na década 00, um merece especial destaque por sua força expressiva incomum: "Estamira". Certamente o que colabora para esta pungência do filme do até então apenas produtor Marcos Prado, sócio de José Padilha à época, é a abordagem sem filtro e nem concessões da personagem central, uma mulher catadora de lixo com sério desequilíbrio mental, capaz de extravasar o mais colérico impulso e a mais profunda sabedoria filosófica. A própria presença da câmera, aliás, é bastantemente honesta, visto que por vezes perturba Estamira. Obra bela e inquietante. Melhor doc do FestRio, Mostra de SP, Karlovy Vary e Marselha, além de prêmios em Belém, Miami e Nuremberg.




49. “Tropa de Elite”, de José Padilha (2007)
48. “Batismo de Sangue”, de Helvécio Ratón (2007)
47. “Terra Estrangeira”, Walter Salles Jr. e Daniela Thomas (1996) 
46. “O Dia em que Dorival Encarou a Guarda”, Jorge Furtado e José Pedro Goulart (1986)
45. “Amarelo Manga”, de Cláudio Assis (2002)



44. “Nunca Fomos Tão Felizes”, Murilo Salles (1984) 
43. “Edifício Master”, de Eduardo Coutinho (2002)
42. “O Homem da Capa Preta”, Sérgio Rezende (1986)
41. “O Beijo da Mulher Aranha”, Hector Babenco (1985)


40. 
“São Bernardo”, Leon Hirszman (1971) 

Adaptação do livro do Graciliano Ramos, que transporta para a tela não só a história, mas a secura das relações e a incomunicabilidade numa grande fazenda do início do século XX, escorada na desigualdade dos latifúndios. Não há diálogo: a vida é assim e pronto. Daqueles filmes impecáveis em narrativa e concepção. E Leon, comunista como era, não deixa de, num deslocamento temporal, dar seu recado quanto à reforma agrária. A trilha, vanguarda e folk, algo varèsiana e smetakiana, é de Caetano Veloso, que acompanha a secura da narrativa e cria uma "música" totalmente vocal em cima de melismas lamentosos e desconcertados. Recebeu vários prêmios em festivais, entre eles o de melhor ator para Othon Bastos no Festival de Gramado, o Prêmio Air France de melhor filme, diretor, ator e atriz (Isabel Ribeiro), além do Coruja de Ouro de melhor diretor e atriz coadjuvante (Vanda Lacerda). 



39. “Carandiru”, de Hector Babenco (2002)
38. “O Som do Redor”, Kleber Mendonça Filho (2012)
37. “Que Horas Ela Volta?”, Anna Muylaert (2015) 
36. “Notícias de uma Guerra Particular”, Kátia Lund e João Moreira Salles (1999)
35. “Ganga Bruta”, Humberto Mauro (1933)



34. “Lavoura Arcaica”, Luiz Fernando Carvalho (2001)
33. “Bar Esperança, O Último que Fecha”, Hugo Carvana (1982) 
32. “Couro de Gato”, Joaquim Pedro de Andrade (1962)
31. “Os Fuzis”, Ruy Guerra (1964)


30. “O Bandido da Luz Vermelha”, Rogério Sganzerla (1968) 

Se existe cinema marginal, esta classificação se deve a “O Bandido...”. Transgressor, louco, efervescente, non-sense, crítico, revolucionário. Adjetivos são pouco pra definir a obra inaugural de Sganzerla, que trilharia pela "marginalidade" até o final da coerente carreira. Um filme de manifesto, questionamento de ordem política, de uma estética diferente e bela (apesar do baixo orçamento) e a vontade de avacalhar com tudo. "Quando a gente não pode fazer nada, a gente avacalha e se esculhamba". Grande vencedor do Festival de Brasília de 1968. O filme que fez o “terceiro mundo explodir” de criatividade.


29. "Santiago", de João Moreira Salles (2007)
28. “Jogo de Cena”, Eduardo Coutinho (2007)
27. “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro”, Glauber Rocha (1968)
26. “Noite Vazia”, Walter Hugo Khouri (1964)
25. “São Paulo S/A”, Luis Sérgio Person (1965) 



24. "Terra em Transe", Glauber Rocha (1967) 
23. "Sargento Getúlio”, Hermano Penna (1981) 
22. “O Caso dos Irmãos Naves”, Luis Sergio Person (1967) 
21. “Memórias do Cárcere”, Nelson Pereira dos Santos (1984) 

20. 
 “Ilha das Flores”, Jorge Furtado (1989)

É incontestável a importância de "Ilha das Flores" para a cinematografia gaúcha e nacional. O filme que, em plenos anos 80 ainda de fim do período de Ditadura, expôs ao mundo uma realidade muito pouco enxergada, o fez de forma absolutamente criativa e impactante. Ao acompanhar o percurso de um mero tomate da horta até o lixão a céu aberto onde vive uma fatia da população em total miséria e descaso social, Furtado virou de cabeça para baixo a narrativa do audiovisual brasileiro, influenciado diretamente as produções de TV dos anos 80 e 90 e o cinema pós-retomada nos anos 2000. Urso de Prata para curta-metragem no 40° Festival de Berlim, Prêmio Especial do Júri e Melhor Filme do Júri Popular no 3° Festival de Clermont-Ferrand, França, entre outras premiações na Alemanha, Estados Unidos e Brasil. Um clássico ainda hoje perturbador.



19. “O Beijo no Asfalto”, Bruno Barreto (1980) 
18. “Central do Brasil”, de Walter Salles Jr. (1998) 
17. “Dnª Flor e seus Dois Maridos”, Bruno Barreto (1976)
16. “Garrincha, A Alegria do Povo”, Joaquim Pedro de Andrade (1962)
15. “Barravento”, Glauber Rocha (1962)


14. “Rio 40 Graus”, Nelson Pereira dos Santos (1955)
13. “Bacurau”, Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles (2019)
12. “Assalto ao Trem Pagador”, Roberto Faria (1962) 
11. “Bye Bye Brasil”, Cacá Diegues (1979) 



Daniel Rodrigues