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terça-feira, 31 de agosto de 2010

"A Montanha dos Sete Abutres", de Billy Wilder (1951)







Esse negócio todo que está acontecendo no Chile de mineiros presos em uma mina, perfuração da rocha, longo tempo para o resgate e tudo que envolve a situação, inevitavelmente me traz à cabeça um ótimo filme e boa dica pra quem quiser conferir, chamado "A Montanha dos Sete Abutres", do genial Billy Wilder. Diretor consagrado por comédias como "Quanto mais Quente Melhor" e "Se Meu Apartamento Falasse", de vez em quando atacava no drama e igualmente acertava em cheio como no ótimo e premiadíssimo "Farrapo Humano", por exemplo. A "Montanha dos Sete Abutres" que não foi sucesso de público na época de seu lançamento, mostra o drama de um mineiro preso numa mina tida como amaldiçoada pelos índios, numa cidadezinha no Novo Mexico. Seu  resgate até seria trabalhoso porém simples, mas é dificultado pelo interesse de um jornalista recém chegado ao lugarejo, que vê naquilo a oportunidade para uma  grande matéria, um grande furo e um reimpulso na sua carreira já abalada por seu comportamento antiprofissional. Por meio de acordos, conchavos, subornos e ameaças convence interessados e autoridades a irem atrasando o processo de remoção de modo que o fato vá se tornando cada vez mais comovente para o público e Leo, o mineiro preso, uma espécie de mártir. Porém dentro da mina, sob pedras, Leo, vai sofrendo com as condições adversas, com o pó, a umidade e vê sua saúde prejudicada pela longa permanência lá, mas como mantém contato com Tatum, o jornalista inescrupuloso vivido maravilhosamente por Kirk Douglas, e o julga seu amigo, supõe que todos os esforços estejam sendo feitos para tirá-lo dali o mais rápido possível mas vai vendo o tempo passar esua situação ficar cada vez mais crítica, enquanto lá fora há acampamentos, vigílias e aglomerações em solidariedade a ele.
O jornalista Tatum com o mineiro
Leo preso entre as pedras
Uma aula de direção e um estímulo à reflexão sobre a ética humana e principalmente jornalística.
Imperdível!


FICHA TÉCNICA:
Direção: Billy Wilder
Roteiro: Walter Newman / Lesser Samuels / Billy Wilder
Preto e Branco
Duração: 111
País: USA
ELENCO:
Kirk Douglas: Charles "Chuck" Tatum
Jan Sterling: Lorraine Minosa
Robert Arthur: Herbie Cook
Porter Hall: Jacob Q. Boot
Frank Cady: sr. Federber
Richard Benedict: Leo Minosa
Ray Teal: xerife
Lewis Martin: McCardle
John Berkes: pai Minosa
Frances Dominguez: mãe Minosa


Cly Reis

segunda-feira, 30 de março de 2020

"A Fantástica Fábrica de Chocolate", de Mel Stuart (1971) vs. "A Fantástica Fábrica de Chocolate", de Tim Buton (2005)



Sabe aqueles velhos que vem com aquele papo, "Bom mesmo era o futebol no meu tempo!"?  Pois é... É mais ou menos a sensação que tenho em relação a "A Fantástica Fábrica de Chocolate". Embora reconheça todos os méritos da refilmagem de Tim Burton, de 2005, não consigo deixar de gostar mais da versão original de 1971. Acho que por uma espécie de Síndrome da Sessão da Tarde, uma vez que este foi um dos filmes que mais assisti, e tenho certeza que não somente eu, nas tardes globais dos anos oitenta, numa época em que a sessão vespertina do mais popular canal aberto era tudo o que se tinha e não havia toda essa avalanche de canais exibindo filmes 24 horas por dia, sem falar streaming, aplicativos , plataformas e todas essas coisas que essa meninada de hoje em dia gosta.
Com uma grade de filmes muito menos ampla que as que os canais possuem hoje em dia, volta e meia repetia o filme daquele excêntrico proprietário de uma famosa fábrica de chocolate que permitia que cinco crianças que encontrassem a etiqueta dourada na embalagem nas barras do seu produto, espalhadas ao redor do mundo, visitassem sua empresa e as instalações de produção. O filme revelava, através da personalidade e cada criança e seu respectivo caráter, bem como dos pais que os acompanhavam no tour, uma crítica não somente à sociedade consumista e de aparências, como também à criação e educação que muitos pais dão a seus filhos fazendo delas criaturas mimadas, glutonas, prepotentes e alienadas. Lá, só o humilde Charlie, um garoto pobre que conseguira seu ticket dourado por pura sorte, com míseros trocados que achara na rua, fugia a essas características e por isso mesmo, aos poucos, vai ganhando a simpatia do dono da fábrica.
Mas minha preferência pelo antigo não se limita a uma mera nostalgia infanto-juvenil. O filme original é, na minha opinião, superior a seu remake em diversos pontos, a começar pela atuação sóbria e precisa no equilíbrio entre o cômico e o perturbador de Gene Wilder como Willy Wonka, em contraste com as expressões caricaturais de Johnny Depp, quase sempre exibindo um sorriso maníaco forçado e aquele olhar abobalhadamente distante. Prova dessa competência de Wilder no papel, é que um dos memes mais conhecidos da internet tem ele, em uma cena do filme, com uma cara tão cínica, tão enfadada, que o quadro passou a ser utilizado nas mais diversas situações de sarcasmo, descrença e desprezo. Outro ponto a favor do antigo é a concisão. O novo filme se alonga demais em coisas desnecessárias, tem flashbacks que não acrescentam nada, e acrescenta uma historinha da infância do chocolateiro que, ainda que remeta a família, a união, a compreensão, ok!, é, no fim das contas, de pouca contribuição para o resultado final ou para formar uma "mensagem". Pra ser justo, a origem dos Oompa-Loompas, que revela a origem dos pequenos pigmeus que trabalham na fábrica, e faz velada menção à escravidão dos povos negros, é uma dessas cenas de recuperação que é válida, interessante e é um gol a favor do filme de Tim Burton. Por outro lado, os homenzinhos do filme original, anões com seu tamanho natural, são melhores, na minha opinião, que os da refilmagem, onde um também anão é infinitamente multiplicado para representar todos os funcionários da fábrica e digitalmente reduzido ainda mais que sua estatura original, sendo que em algumas cenas o efeito não fica lá muito convincente.
Apesar do efeito discutível dos minúsculos funcionários da fábrica, a parte técnica é um dos pontos a favor do novo filme. Os efeitos especiais e sonoros são na maior parte das vezes muito bons e prestam bom serviço às pretensões do diretor. A propósito, a direção de Burton também é bastante competente, com suas tradicionais cores, ordem, profundidade e atmosferas soturnas. Os cenários e a direção de arte são bem característicos com distorções, maquinários e bizarrices que são a cara do diretor.
"Mas como assim? Se o remake é tão bom nisso, naquilo e naquilo outro, como é que o original ganha?". Eu disse que o original ganhava, eu não disse que seria fácil!
Pois bem, vamos então lance a lance, decidir esse confronto:
E a garota Violet, digo..., a bola rola na grama comestível do Wonka Stadium...
Gene Wilder em relação a Johnny Depp, pelos motivos já listados lá no início, é gol para o time de 1971; em compensação Freddie Highmore, que viria a ser o Norman Bates de "Bates Motel" e o médico de "The Good Doctor", ainda pirralho, como o garoto Charlie, é um ganho do remake: 1x1 no placar. A cena do garoto encontrando o bilhete é melhor na primeira versão: 2x1; mas a cena da entrada na fábrica com a musiquinha dos bonecos mecânicos e os mesmo derretendo nas chamas, numa cena de um estranhamento macabro tipicamente timburtiano, garante novo empate para o remake: 2x2.
Com um ganho aqui, outro ali, os passeios de visitação se equivalem, mas os "acidentes" com as crianças fazem o placar se movimentar novamente: o do gordinho Augustus, que funciona melhor no primeiro filme e causa um grande impacto no espectador por ser o primeiro acidente e o da chicleteira chata Violet, exagerado demais na nova versão, garantem mais um tento para o time de Mel Stuart. Só que do outro lado tem treinador, quero dizer, diretor e o time de Tim Burton contra-ataca com a macabra cena dos esquilos atacando a pedichona mimada Veruca Salt e a levando para o buraco das nozes ruins. Cena de filme de terror perturbadoramente fantástica. 3x3 para o original. E o remake passa à frente do placar pela primeira vez por conta do número musical do incidente com o garoto Mike Teavee que depois de ser teletransportado para dentro de um televisor, invade programas de culinária, de esportes, de música e tudo mais. 3x4. Que jogo, senhoras e senhores!

Oompa-Loompa -
número musical para Mike Teavee



Mas por falar em musical, voltando aos Oompa-Lumpa, embora o filme de 2005 tenha praticamente um videoclipe ultra-produzido para cada intervenção dos nanicos, mesmo sem todo o aparato técnico da nova produção, as performances musicais dos baixinhos do filme de 1971 são, no âmbito geral, mais marcantes e sua canção é daquelas que não sai da memória de quem já assistiu ao longa. 4x4 para os baixinhos de Gene Wilder. E a galera canta "Oompa Loompa, doompadee doo..."!

Oompa-Loompa - 
número musical para Augustus Gloop

Finalzinho do jogo e a cena do elevador define a partida: a do filme original é muuuito mais impactante. A primeira vez que vi aquilo, lá pelos meus 8 ou 9 anos fiquei surpreso, fascinado e emocionado. Charlie ganhado o prêmio final, aquele elevador rompendo o teto da fábrica e sobrevoando triunfalmente a cidade. Golaço para o antigo, até porque no novo a ideia do elevador é muito mal utilizada fazendo com que a inusitada máquina apareça antes do final levando os visitantes restantes à sala de TV e, depois, torne-se praticamente um elemento ordinário, perdendo um tanto de seu caráter extraordinário por servir como uma espécie de transporte particular comum para Willy Wonka, estacionado numa esquina à sua espera para ir pra lá e pra cá.
A essas alturas o treinador Mel Stuart já está no banco gritando, "Acabou, acabou!!!", pois o filme dele acabou, mesmo ali no voo do elevador, mas o time de Tim Burton quer jogo e tenta alguma coisa nos acréscimos com aquela história toda de família é bom, é ruim, de dou a fábrica, não dou a fábrica, olha meu dentinhos, perdão papai e tudo mais. Willy Wonka ainda tentou tirar alguma coisa da cartola apostando na experiência do craque Christopher Lee nos minutos finais, mas não foi o suficiente para empatar o jogo. E o placar ficou assim mesmo: 5x4 para o filme original, para o antigo, para o filme de '71. Aquilo é que era futebol, digo..., aquilo é que era filme!

"Então você é do ramo de doces...
Conte-me então como é o sabor da derrota."

Não foi um nenhum chocolate,
mas o time de Gene Wilder e companhia pode saborear 
o doce gosto da vitória.







por Cly Reis


domingo, 31 de dezembro de 2017

12 Filmes de Ano Novo



Filmes natalinos são bastante comuns, desde gostosas comédias como "Esqueceram de Mim"; aventuras frenéticas como "Duro de Matar", terror de péssimo nível como o infame "Krampus"; até dramas europeus como o clássico "Fanny e Alexander" de Ingmar Bergman que tem seu momento de celebração de Natal. Mas, em se pensando nas festas de final de ano como um todo, os de ano novo são bem mais raros. Então o Claquete  fez um esforço de memória e alguma pesquisa pra ajudar e trouxe aqui para vocês doze filmes marcantes de virada do ano. Alguns melhores, outros piores, alguns clássicos, outros bem dispensáveis, mas todos de alguma maneira emblemáticos dentro do tema.
Confiram então a nossa lista e feliz ano novo.


Talentos desperdiçados
num filme medíocre
1. "Noite de Ano Novo", de Gary Marshall (2011) - Vou começar com este não por uma questão de qualidade ou preferência, mas sim porque ele, como o nome já propõe, trata direta e objetivamente do assunto. Porque se fosse pela qualidade... Meu Deus! "Noite de Ano Novo" de Gary Marshall tem o atrativo de contar com um elenco estrelar formado por nomes como Robert de Niro, Hillary Swank, Hale Barry, Ashton Kutcher, Michelle Pfeiffer e até o cantor Bon Jovi, mas faz extremo mau uso desse time de estrelas com uma série de histórias simultâneas que se passam poucas horas antes da entrada do novo ano até o momento da virada. Atuações caricatas, personagens estereotipados, diálogos ridículos e situações inverossímeis são alguns dos motivos que fazem de "Noite de Ano Novo" um péssimo filme. Todos os continhos são bobos, melosos, pueris e exagerados, mas o da disputa de dois casais para que um dos bebês que as esposas estão esperando seja o primeiro a nascer, é de pedir pra morrer.






A antiga estrela Norma Desmond
com seus trejeitos e gestual exagerados.
2. "Crepúsculo dos Deuses", de Billy Wilder (1950) - Pra compensar a ruindade do anterior, vamos com um clássico então: "Crepúsculo dos Deuses", um dos maiores filmes da história do cinema, conta a história de um roteirista fracassado e endividado, que, fugindo de seus credores, acaba na casa de uma estrela esquecida do cinema mudo, Norma Desmond, que sabedora da atividade do rapaz deseja que ele revise um de seus horríveis roteiros para sua sonhada volta triunfal ao cinema. Duro e procurado, Joe Gillis patrocinado pela ricaça excêntrica, fica por ali mesmo e torna-se seu amante. O fato é que a atriz, já meio lelé da cuca, recusa-se a admitir que seu tempo passou, que está esquecida e acha que é mada e idolatrada pelo público e pela indústria do cinema. Exemplo perfeito do que a estrela tornara-se para o que achava que ainda era é a festa de ano novo que promove na qual apenas ela, seu amante e... os músicos comparecem. A festa de reveillón é um dos momentos mais amargos e melancólicos do filme nesta que é uma verdadeira obra-prima da Sétima Arte. Uma abertura genial, diálogos afiados, tomadas improváveis e um narrador cadáver. Mestre Billy Wilder!






Gabriel Byrne encarna bem o belzebu
em "Fim dos Dias"
3. "Fim dos Dias", de Peter Hyams (1999) - A passagem para o século XXI suscitava grande expectativa, curiosidade mas também uma enorme quantidade de superstições e predições. Seitas, religiões, profecias prenunciavam que o mundo acabaria no ano 2000 e aproveitando-se dessa paranoia apocalíptica "Fim dos Dias" montava o enredo de um bom filme de ação sobrenatural estrlado pelo carismático Arnold Schwarzenegger. O lance todo é que o Demônio volta à Terra e quer que seu filho nasça na passagem do milênio e para isso escolhe uma jovem, Christine York, à qual Jericho Crane, nosso heroi, deve proteger a todo custo a fim de evitar o fim dos tempos. O roteiro não é lá muito bem desenvolvido, as coisas muitas vezes ficam sem fio da meada mas, vá lá, como filme de ação, de entretenimento, "tiro, porrada e bomba", até que funciona. Destaque para Gabriel Byrne que faz mais um dos bons demônios do cinema.






A grande luta na noite de ano novo
4. "Rocky, Um Lutador", de John G. Avildsen (1976) - Filme que consagrou definitivamente Sylvester Stallone e eternizou o personagem boxeador na galeria dos mais emblemáticos da história do cinema. Um lutador humilde, de subúrbio tem a oportunidade de lutar contra o campeão mundial dos pesos pesados, Apollo Creed. Como é costume nos Estados Unidos, grandes eventos esportivos são marcados para a noite de ano novo e é exatamente o que acontece com a luta. O que num primeiro momento parecia que seria uma barbada, um mero treino para o imbatível campeão dos pesados, aos poucos, pela garra, coragem e irresignação de Rocky, passa a tomar um rumo diferente daquele esperado. Clássico o cinema!







O ambiente pode modificar o homem?
Este é o mote da aposta dos irmãos Duke..
5. "Trocando as Bolas", de John Landis (1983) - Divertidíssima comédia com Eddie Murphy e Dan Aykroyd na qual dois irmãos empresários, donos de uma grande investidora, resolvem fazer um experimento sócio-antropológico transformando seu gerente, um empresário rico, bem nascido e bem sucedido num mendigo marginal, e um vagabundo de rua, delinquente num respeitável homem de negócios. A troca da certo e Louis Winthotpe (Aykroyd), sócio-gerente da Duke & Duke, é rebaixado ao último nível humano, enquanto o pé-rapado trambiqueiro Billy Ray Valentine (Murphy) é colocado na empresa dos irmãos, tornando-se um homem sério, trabalhador e responsável. Só que quando os dois descobrem que foram objeto de uma humilhante aposta que mexeu com suas vidas de tal forma por apenas um dólar, e que mesmo provada a teoria não pretendem desfazer aquela situação, se unem e resolvem se vingar dos velhotes. Para isso, tem que interceptar o relatório da colheita de laranja que os irmãos Duke pretendem ter em primeira mão antes da divulgação oficial no primeiro dia útil do ano, de modo a terem vantagens na compra de ações. Valentine, ainda dentro da empresa, descobre que o documento será levado por um informante num trem que sairá de Washington e deverá  ser entregue aos irmãos exatamente na hora da virada, à meia-noite, em Nova Iorque. No trem onde também acontece uma festa de ano novo à fantasia, Valentine, Winthorpe, o mordomo Coleman e uma prostituta que os ajuda (Jamie Lee Curtis), instalam-se disfarçados na cabine do informante com a intenção de trocar as maletas e pegar o relatório que chegue às mãos dos empresários e ali, cada um encarnando tipos diferentes, proporcionam alguns dos momentos mais engraçados do filme. A cantoria de Valentine, disfarçado de estudante camaronês de intercâmbio, Dan Aykroyd caraterizado de negão jamaicano, e a entusiástica saudação dos dois aos se encontrarem são motivos para boas risadas.






6. "O Destino do Poseidon", de Ronald Neame (1972) - Na noite de ano novo, pouco depois da virada, um transatlântico de luxo, lotado de passageiros, é atingido por uma onda gigantesca e virado de cabeça para baixo, começa lentamente a afundar. Aí é quando um pastor cético, vivido por Gene Hackmann, e um policial acovardado, Ernest Bornigne, tentam conduzir outros poucos passageiros ao casco do navio (que está na superfície) onde talvez tenham alguma chance de serem vistos e resgatados. 
Típico filme catástrofe bem característico da época, como "Inferno na Torre", "Krakatoa - O Inferno de Java", "Aeroporto 75", "Terremoto", e outros.
Tirnado um momento em que poderia ser mais ágil, "O Destino do Poseidon" é um bom filme e mantém a tensão o tempo todo depois do início da tragédia. Só cuidado para não enjoar. A câmera, em grande parte do filme, fica balançando angustiantemente, como se o espectador estivesse a bordo.



"O Destino do Poseidon" - trailer






O jovem Arnie é outra pessoa atrás do volante de Chritine.
7. "Christine, O Carro Assassino", de John Carpenter (1983) - Um Plymouth Fury vermelho com vida própria. Com vontade própria. Com crueldade própria. Capaz de "seduzir" seu dono a tal ponto de deixá-lo completamente irreconhecível. Esta é Christine, um caro comprado praticamente em sucata, remontado e tratado com amor por seu novo dono, Arnie, um garoto simplório e tímido, que ignora o passado sombrio e trágico que o automóvel carrega consigo. Aos poucos a atenção e o cuidado de Arnie vão tornando-se obsessão e o rapaz muda radialmente de comportamento passando a agir de forma egoísta, arrogante e até perigosa.
Na véspera de ano novo, Arnie chama o amigo Dennis pra dar uma voltinha na Christine e em meio a uma exibição de velocidade e imprudência, o amigo percebe o quanto aquela máquina maldita mudara o garoto que conhecera desde a infância. Prato cheio para amantes do terror e de rock'n roll uma vez que Christine adora ligar seu rádio por conta própria e tocar clássicos do rock.







O beijo da morte de Michael Corleone
"O Poderoso Chefão - Parte 2", de Francis Ford Copolla (1974) - Uma das cenas mais marcantes da Sétima Arte é a em que Michael Corleone, chefe da família desde a aposentadoria do pai Don Vito, na viagem a Cuba para negociações com o rival Hymann Roth, descobre a traição do irmão Fredo e na festa  de ano novo, em meio à revolução que ocorre em Havana, sela nele o chamado "beijo da morte". Ali estava decretado que Fredo, mesmo sendo sangue do próprio sangue de Michael, não teria tratamento diferente de qualquer outro que tentasse se colocar no caminho da família. A frase do momento do beijo ficou célebre e é uma das mais lembradas na história do cinema: "Eu sei que foi você, Fredo. Você partiu meu coração."






O atrapalhado mensageiro Ted vivendo
uma noite de ano novo um tanto agitada.
8. "Grande Hotel", de Allison Anders, Alexandre Rockwell, Robert Rodriguez e Quentin Tarantino (1995) - Quatro histórias que se passam na véspera de ano novo num decadente hotel de Hollywood onde apenas o mensageiro Ted (Tim Roth), em seu primeiro dia de trabalho, é abandonado à própria sorte para atender os pedidos dos hóspedes. Só que é cada coisa que aparece!!! Uma irmandade de bruxas liderada por ninguém menos que Madonna; um marido muuuuito ciumento; dois pestinhas deixados por seus pais para que ele tome conta; e uma aposta muito inusitada entre amigos, neste que é certamente o melhor dos capítulos. Quentin Tarantino, que dirige o episódio, interpreta um excêntrico diretor de cinema, Chester Rush, que aposta seu carrão contra o dedo mindinho de um dos amigos que encontram-se com ele na suíte, se aquele conseguir acender o isqueiro dez vezes seguidas como num filme do qual todos eles são fãs. A situação é hilária e tem toda aquela "enrolação" que Tarantino sabe conduzir como poucos. E o que é que o mensageiro tem a ver com isso? Está lá especialmente para, com o cutelo que levara, a pedido de Chester, cumprir a aposta caso o isqueiro não acenda.







10. "Boogie Nights - Prazer Sem Limites", de Paul Thomas Anderson (1997) - Um clássico imediato e um dos melhores filmes dos últimos tempos, "Boogie Nights - Prazer Sem Limites" é uma preciosidade. Impecável em todos os sentidos, roteiro, fotografia, atuações excelentes e uma direção primorosa, o filme traz dois planos sequência que só quem entende do assunto é capaz de fazer. Acompanhando a indústria pornográfica desde o final dos anos 70 e focando na vida de um rapaz que se torna astro do gênero Dirk Diggler (Mark Wahlberg), "Boogie Nights" também volta-se para outros personagens periféricos mas não menos interessantes e importantes dentro do contexto. É o caso de Little Bill, vivido por William H. Macy (espetacular no papel!), assistente do diretor Jack Horner (Burt Reynolds) que, casado com uma estrela pornô, convive humilhantemente com constantes traições da esposa, e não falo das atuações dela nos filmes, e sim de suas trepadas fora do set de filmagem.
Cansado daquilo, na festa de ano novo promovida por Horner, num plano sequência arrebatador, Little Bill entra na luxuosa casa de Horner, percorre os cômodos, pergunta pela esposa para os amigos e a encontra num quarto, mais uma vez transando com outro homem. Ele fecha a porta do quarto parecendo resignado, volta pelo mesmo caminho, chega ao pátio e vai até o carro. O espectador é levado por um breve momento a crer que ele, corno conformado como é, simplesmente vai ligar o carro e ir pra casa. Mas não. Ele se inclina, pega algo no porta luvas, não temos certeza mas logo percebemos que é uma arma. Ele sai do carro, volta pelo mesmo caminho, chega na porta do quarto e dali mesmo mata os dois. Só então a cena corta. Os outros convidados assustados correm para o local de onde ele sai com a arma e com uma expressão meio abobalhada no rosto. Ele sorri, mete a arma na boca e dispara.
Uma das grandes cenas da história do cinema e, sem dúvida um dos melhores e mais impactantes planos sequência já feitos e já que é o nosso tema, se passa na noite de ano novo.



"Boogie Nights" - plano sequência da Festa de Ano Novo




11. "Se Meu Apartamento Falasse", de Billy Wilder (1960) - Mais um de Billy Wilder e mais um grande filme. "Se Meu apartamento Falasse", vencedor de 5 Oscar, incluindo os de filme e direção, mistura com maestria drama, romance e comédia , abordando temas delicados como ética, adultério, depressão, suicídio, sem deixar o filme pesado.

Lemmon e MacLaine brilhantes
no filme de Wilder.
O apartamento que revelaria muitos segredos se pudesse fazê-lo, no caso, é o de C.C. Baxter, vivido brilhantemente por Jack Lemmon, funcionário de uma grande empresa de seguros que ambicionando cargos maiores, empresta o apartamento para o chefe, o dono da empresa, Jeff Sheldrake, ter encontros extraconjugais com garotas, em geral funcionárias da empresa. Só que os vizinhos pensam que ele é quem recebe mulheres, faz noitadas barulhentas e regadas a bebida e Baxter, um solteirão, é tido como o garanhão, fama que sustenta, até para compensar exatamente o contrário, que é sua personalidade tímida e recatada. Numa dessas da vida, Baxter descobre que uma das amantes do patrão é nada mais nada menos que Fran (Shirley MacLaine) a ascensorista do prédio onde ele trabalha e pela qual ele está apaixonado. A história se desenrola, ela percebe  que o amante nunca vai largar esposa e filhos, se frustra, percebe que é só mais uma entre tantas, tenta o suicídio dentro do apartamento, o que a aproxima do colega apaixonado. Na cena crucial, que se passa na noite de ano novo, jantando com Sheldrake, Fran descobre que o colega atencioso, mesmo depois de alcançar a posição desejada dentro da empresa, pedira demissão e negara-se a ceder o apartamento, e então percebe que aquele sim era o tipo de homem que valia  a pena, que lhe daria carinho, que realmente a amava. Ela então deixa o patrão-amante no restaurante sai correndo em direção ao apartamento e antes de entrar ouve um estampido. Teria ele, sem esperanças de tê-la, dado um fim à sua medíocre vida? Assista para saber o final.





12. "Harry e Sally, Feitos Um Para o Outro", de Rob Rainer (1989) - Não sou muito de comédias românticas mas essa, devo admitir, é das minhas preferidas. Provavelmente por seu realismo (sim, realismo) uma vez que em meio à comicidade que o filme se propõe, muito das situações vividas pelos personagens são baseadas em histórias reais, entrevistas, relatos de casais, terapeutas conjugais e amigos. Harry e Sally se conhecem desde que acabaram a faculdade e ele dá uma carona a ela até Nova Iorque. Num primeiro momento ele dá em cima dela, ela o odeia, se separam em Nova Iorque, se reencontram, tornam-se amigos, muito amigos, confidentes, compartilham amizades, apadrinham relacionamentos, servem de ombro um para o outro nas decepções amorosas, mas parece que a amizade acaba fazendo com que não percebam que o par ideal está ali, bem mais perto do que imaginam. O estalo ocorre exatamente na noite de ano novo quando Harry, entediado, anda solitário pelas ruas da cidade. Em meio à sua caminhada ele percebe que tudo que queria era estar com ela naquela noite. Ele então, como se o mundo fosse acabar, sai correndo em direção ao prédio onde acontece uma festa de ano novo na qual Sally está.  Na hora da contagem Harry chega, faz uma das declarações de amor mais apaixonantes do cinema e finalmente eles acabam juntos. Foi spoiler? Não! O título do filme já entrega tudo: são feitos um para o outro. O grande barato do filme mesmo é curtir cada fase da vida e do relacionamento deles até chegar naquele momento. No quesito cenas de ano novo, a de "Harry e Sally" sem dúvida alguma, é um das mais marcantes.



"Harry e Sally, Feitos Um Para o Outro" - Cena Final


* também podem ser lembrados, "200 Cigarros", "O Dário de Bridget Jones", "O Primeiro Dia", "Os Penetras", "O Acampamento", Primeiro Dia de Um Ano Qualquer", "Uma Longa Queda", "Onze Homens e Um Segredo" (1960), "O Amor Não Tira Férias", "Sex And The City - O Filme", "O Expresso do Amanhã", Em Busca de Um Beijo à Meia Noite" e "Fruitvale Station" (se lembrarem de mais algum, deixe nos comentários)


por Cly Reis

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

As 10+1 grandes frases finais de filmes




Tem aquelas frases que marcam o final de um filme e agente lembra delas ainda muito tempo depois e cita e menciona em diversas situações e diálogos cotidianos. Quero colocar aqui algumas das minhas preferidas. As 10 mais!
Mas não são diálogos finais. São um encerramento. Aquela última coisa que um personagem diz e aí baixam os créditos, sobe a música, escurece a tela.
Posso estar esquecendo de alguma mas acho que não. Dei uma ‘busca’ legal na minha cachola.
Aí vão:


Christine, indestrutível.
Será?
1. "Chistine: O Carro Assasino", de John Carpenter (1983)
Para mim, a frase campeã está neste filme. A menina ex-namorada do dono de um carro que sempre começava a tocar rock'n roll sozinho quado matava, ao destruir o carro numa compactadora de ferro-velho, declara cheia de ódio:
"Eu odeio rock'n roll!".
Detalhe: a tela escurece e começa a tocar "Bad to the Bone", de George Thorogood". Seria o carro revivendo mais uma vez ou apenas a música final?
Demais!




Clássico de Brian De Palma


2. "Os Intocáveis", de Brian de Palma (1987)
Depois de uma empreitada ardorosa para apanhar o chefão da máfia e do tráfico de bebidas, Al Capone, quando perguntado o que faria se a Lei Seca fosse revogada, o agente Elliot Ness responde com bom humor e bom sendo:
“Vou tomar um drink.”.
E sobe a exepcional trilha de Ennio Morricone, a câmera sobe por uma avenida de Chicago, se afasta e acompanha Elliot Ness se afastando. Grande final!






Dorothy descobriu em Oz
o valor de sua casa.


3. “O Mágico de Oz” de Victor Fleming (1939)
Depois de ter fugido de casa e ter passado por todoas as aventuras no fantástico reino de Oz, a pequena Dorothy chega à mais óbvia conclusão que poderia:
Não existe lugar melhor do que a nossa casa.”.
Eu que adoro estar em casa e voltar para ela, sempre repito essa.







Grande tacada de Scorsese
4. “A Cor do Dinheiro”(1986), de Martin Scorscese
Do grande Paul Newman, jogador de bilhar revitalizado depois de uma temporada de trambiques com um talentoso porém vaidoso aprendiz. Num embate revanche entre os dois, o velhote dipõe as bolas na mesa, encara o adversário e dispara:
“Eu estou de volta!”.
Uma tacada e fim do filme.
Matador.




Você gosta de olhar, não gosta?


5. "Invasão de privacidade” de Phillip Noyce (1993)
Passa longe de ser um grande filme mas gosto do final quando Sharon Stone, tendo descoberto que era vigiada indiscretamente por seu senhorio e amante, destrói o equipamento de bisbilhotagem do voyeur.  A loira atira nas telas dos monitores de TV onde o curioso observa a intimidade dos moradores e larga essa:
“Arranje o que fazer".
Perfeito!





Apenas humanos.
6. "Robocop 2", de Paul Verhoeven (1990)
Irônica e perfeita frase dita por um robô no segundo filme da franquia original "Robocop".
"Somos apenas humanos".
E diz isso ajustando um parafuso na cabeça.
Ótimo.






Quando se ama...
7. "Quanto Mais Quente Melhor", de Billy Wilder (1959)
Fugitivo de mafiosos e travestido de mulher, a fim de dar credibilidade a seu disfarce, um músico, interpretado brilhantemente por Jack Lemmon, infiltrado numa orquestra feminina, depois de ter "conquistado" um velhote ricaço e diante de um inusitadíssimo pedido de casamento, é obrigado a se revelar como homem, ao que surpreendentemente ouve como resposta:
"Ninguém é perfeito”.
Mestre Billy Wilder.




O bom filme "Kuarup"
8. “Kuarup”de Ruy Guerra (1989)
Outro que não é um grande filme mas tem um final marcante. O personagem interpretado por Taumaturgo Ferreira, diante de uma total derrocada final, sem perspectivas é perguntado sobre o que iria fazer então diante daquela situação:
“Eu vou fazer um Kuarup”.
Sempre penso nessa frase final quando não há mais nada o que fazer.









Confusão de corpos, frases,
sentimentos, significados e lugares.
9. “Hiroshima, meu amor” de Alain Resnais” (1959)
Revelação bombástica do jogo sensual e enigmático dos amantes, ele japonês e ela francesa, em meio a lençóis no clássico de Alain Resnais.
“Teu nome é Nevers”.






A boca vermelha de Maria.
O adeus à pureza?


10. "Je Vous Salue, Marie!", Jean-Luc Godard, de 1985
Maria se dá o direito de ser mulher. Fuma, passa um batom escarlate vibrante nos lábios e é saudada pelo "anjo" Gabriel com a frase:
“Je vous salue, Marie!".
Ih, parece que o menino Jesus vai ter um irmãozinho.






e como extra...

10 +1.  "Cidadão Kane", de Orson Welles (1941)
Frase que não é frase e que também não é dita, é mostrada no trenó do magnata Kane, quando jogado ao fogo, sendo que sabemos que fora a última palavra proferida por ele antes de morrer, e é a palavra que encerra a obra-prima de Orson Welles:
"Rosebud".
E sobe a fumaça, sobe a trilha e... FIM.

Cena final de Cidadão Kane, considerado por muitos o melhor filme de todos os tempos.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Os 500 melhores filmes de todos os tempos




Mais uma lista daquelas de melhores filmes de todos os tempos...
Esta da revista inglesa Empire escolhida por leitores e cineastas.
Chama a atenção a inclusão do recentíssimo "O Cavaleiro das Trevas" e a posição curiosa de 28° para "Cidadão Kane", quase sempre colocado nas listas como o número 1, ou senão entre os 5, pelo menos.
Na ponta aparece o "...Chefão 1", que eu não concordo, mas compreendo e já vi nesta condição em outras listas, mas o 2° lugar pro "Indiana..." é muita areia pro caminhãozinho do Sr. Jones.




Confiram aí os 30 primeiros e a lista completa no site da revista no link logo abaixo:

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1. "O Podereso Chefão", de Francis Ford Coppola (1972)
2. "Indiana Jones Os caçadores da arca perdida", de Steven Spielberg (1981)
3. "Star Wars: O Império contra-ataca", de Irvin Kershner (1980)
4. "Um sonho de Liberdade", de Frank Darabont (1994)
5. "Tubarão", de Steven Spielberg (1975)
6. "Os Bons Companheiros", de Martin Scorsese (1990)
7. "Apocalipse Now", de Francis Ford Coppola (1979)
8. "Cantando na chuva", de Stanley Donen e Gene Kelly (1952)
9. "Pulp Fiction", de Quentin Tarantino (1994)
10. "Clube da Luta", de David Fincher (1999)
11. "Touro Indomável", de Martin Scorsese (1980)
12. "Se meu Apartamento Falasse", de Billy Wilder (1960)
13. "Chinatown", de Roman Polanski (1974)
14. "Era uma vez no Oeste", de Sergio Leone (1968)
15. "O cavaleiro das trevas", de Christopher Nolan (2007)
16. "2001: Uma Odisséia no Espaço", Stanley Kubrick (1968)
17. "Taxi Driver", de Martin Scorsese (1976)
18. "Casablanca", de Michael Curtiz (1942)
19. "O Poderoso Chefão - Parte II", de Francis Ford Coppola (1974)
20. "Blade Runner", de Ridley Scott (1982)
21. "O Terceiro Homem", de Carol Reed (1949)
22. "Star Wars: Uma Nova Esperança", de George Lucas (1977)
23. "De volta para o futuro", de Robert Zemeckis (1985)
24. "O Senhor dos Anéis: A sociedade do anel", Peter Jackson (2001)
25. "Três Homens em Conflito", de Sergio Leone (1967)
26. "Dr. Fantástico", Stanley Kubrick (1964)
27. "Quanto mais quente melhor", de Billy Wilder (1959)
28. "Cidadão Kane", de Orson Welles (1941)
29. "Duro de matar", de John McTiernan (1988)
30. "Aliens - O resgate", de James Cameron (1986)

A lista da Empire:

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

"A Marca da Maldade", de Orson Welles (1958) e "Irma La Douce" de Billy Wilder (1963)



Tive a felicidade, nesta semana que passou, de rever dois dos melhores filmes que já vi na minha vida. No domingo passado, no Telecine Cult, exibiram o grande "A Marca da Maldade" ("Touch of Evil") de Orson Welles, que, pra mim é o melhor filme deste diretor, contrariando a opinião geral que exalta "Cidadão Kane".
"Marca da Maldade" para mim tem um Welles mais maduro como diretor e por consequência tem um produto final mais bem acabado. Um jogo genial de luz e sombras, de movimentos, de tomadas e planos, de fotografia, além de uma atuação impecável de Welles como o asqueroso policial corrupto Quinlan.
Com certeza "Touch of Evil" faz parte da MINHA lista dos 10 mais do cinema.


Outro que também frequenta esta minha seleta listinha particular é o adorável "Irma La Douce" de BillyWilder, que assisti ontem, também no Cult, e pelo qual também ando na contramão quanto à opinião geral que prefere "Se meu apartamento falasse".
Assim como em relação a Orson Welles, considero que Wilder a essas alturas do campeonato, estava tão senhor do seu cinema que fazia tudo como mágica. O filme é divertidíssimo e conta novamente com a dupla de sucesso do "The Apartment", Shirley McLaine e Jack Lemmon que está ótimo como o honesto polcial Patou que se apaixona pela prostituta Irma, numa charmosa Paris suburbana retratada em planos baixos de cenários com ruas estreitas.
Dois filmes maravilhosos de dois mestres do cinema.
Não é toda semana que, zappeando à toa, se ganha presentes inesperados como estes.


Cly Reis

segunda-feira, 2 de maio de 2022

As 30 melhores aberturas de filmes

 

Não sei quanto a quem não é cinéfilo de carteirinha, mas mais de uma vez me surpreendi tanto com a abertura de um filme, que a sensação imediata era a de quem nem precisava mais continuar assistindo. Foi assim quando, em 1995, na companhia de vários amigos – em sua maioria absoluta amantes de cinema mas não necessariamente cinéfilos – reunimo-nos para ver o VHS locado de “Pulp Fiction: Tempo de Violência”, do Quentin Tarantino. Eu não havia visto “Cães de Aluguel” ainda, seu primeiro e anterior longa, embora já ouvisse todo o debate em torno do nome do cineasta que dizia-se estar revolucionando o cinema. Mas o que me despertava maior interesse era, principalmente, porque o filme em questão havia ganhado a Palma de Ouro em Cannes. Isso, mais do que toda a celeuma sobre Tarantino significar ou não um novo capítulo na história da 7ª Arte (o que poderia ser, escaldado que sou, um exagero proposital, comum na mídia), de fato me surpreendia. Cannes desde cedo em minha vida cinéfila fez muito sentido, pois cresci assistindo seus premiados e indicados, que não raro eram (ainda são) alguns dos melhores filmes que já assisti, como “A Balada de Narayama”, “Coração Selvagem” e “Mephisto”. No caso de “Pulp Fiction”, ainda mais por saber tratar-se de um filme “comercial” norte-americano e não algum cult europeu ou asiático, isso, sim, chamava-me mais a atenção e despertava a curiosidade de vê-lo.

Pusemos a fita no videocassete. A grande maioria sabe o que acontece nos primeiros minutos de “Pulp Fiction”, né? A sequência do diálogo entre Pumpkin (Tim Roth) e Honey Bunny (Amanda Plummer) antes de assaltarem o restaurante e a entrada triunfal dos letreiros iniciais com “Miserlou” de Dick Dale arrasando com um surf-rock na trilha e, ainda pelo meio dos créditos, a mudança de música, como se alguém tivesse mudado uma estação de rádio para o funkão “Julgle Boogie”, da Kool & The Gang. Tudo aquilo, o estilo; a atmosfera pop; a inteligência da montagem; o bom gosto musical; o tom de tele-seriado B; a referência a Godard no nome da produtora A Band Apart: toda essa sequência minimamente bem pensada de como iniciar um filme me fez ficar absolutamente estarrecido. Somava-se a isso a engenhosidade da montagem no momento em que Pumpkin e Honey Bunny levantam-se sobre o banco do restaurante (e Roth diz: “I love, Honey Bunny”, e eles se beijam em close antes de apontarem as armas) e anunciam o roubo, a imagem congela e mantém-se o áudio das falas – estas, aliás, extremamente musicais, tanto que se tornam inseparáveis da música de Dale que vem na sequência no próprio disco da trilha sonora. Apaixonei-me pelo filme que mal havia começado.

"Pulp Fiction", Quentin Tarantino (1994)


Excitado, eu olhava para meus amigos na sala enquanto aquela série de genialidades iam surgindo da tela para observar suas reações, mas todos, embora estivessem, sim, gostando, nem de perto se exaltavam como eu. Aquele sentimento de arrebatamento era única e exclusivamente meu. Cheguei a perguntar, incrédulo: “Gente, vocês estão vendo a MESMA coisa que eu?!”. A resposta? Com desdém adolescente: “Sim, Dani, o que é que tem? O filme tá recém começando”. Sim, o filme estava recém começando, mas não de um jeito normal. Para mim (e para muito cinéfilo e estudiosos do cinema) confirmava-se ali a tal revolução cinematográfica atribuída a Tarantino. Não precisava nem ver o filme por completo: era certo que o cinema, então a 4 anos de completar seu primeiro século de existência, mudava a partir dali, e isso era o máximo de eu estar presenciando. Aprendi, naquela situação, que não era uma pena meus amigos não estarem vendo o mesmo que eu: era, sim, o que me diferenciava do senso comum na forma de ver e sentir cinema.

Não foi a primeira abertura de filme que me surpreendeu a de “Pulp Fiction”, claro, mas é certo que esta sensação de entusiasmo se me repetiu várias vezes. Seja em casa ou numa sala de cinema, de vez em quando sou pego de surpresa com algum começo de filme que, como um bom disco de música, sabe dar o start certo e cativar de cara quem o está apreciando, mesmo que a obra em si não corresponda tanto a seu bom início – embora seja geralmente um bom indicativo. Pois essa lista se propõe a elencar justamente isso: não os filmes inteiros, mas seus primeiros minutos. A rigor, por “openning scene” entendemos não somente o design de créditos, mas o suficiente para apresentar o filme, embora não seja necessariamente uma regra.

A junção de fatores, a inventividade na disposição dos letterings, a edição, o prólogo, o design, o impacto da cena, o significado simbólico para com a história que será contada: tudo conta para impressionar e construir uma introdução digna de memória. As maneiras de fazer, assim como de se contar uma história em imagens, são infinitas, e não há um jeito melhor que outro. O critério para a escolha destes 30 exemplos sem ordem de preferência – e que pode tranquilamente ser ampliada por novos filmes ou por títulos aos quais não me ocorreram – é apenas o da sentir-se conquistado já na largada por uma obra cinematográfica. Aqueles filmes que, contrariando a lógica, recomendo que não sejam necessariamente vistos até o final. Os primeiros minutos já bastam.

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“Era uma Vez no Oeste”, Sergio Leone (1968)

São pouco mais de 7 min de puro deleite daquela que é provavelmente a melhor abertura de um filme de todos os tempos. O filme de Leone, aliás, por si merece essa alcunha, mas se se destacar apenas o seu começo já está mais do que bem representado. O design, o cenário, os enquadramentos, a disposição criativa dos letterings, o tempo da montagem, a arte e o figurino, a fotografia. Tudo em perfeita sintonia e, mais que isso, conceitual, visto que apresenta, sem precisar valer-se da poderosa música de Ennio Morricone e quase sem nenhuma palavra dita, tal westerns do cinema mudo, as ideias centrais do filme: o embate ideológico entre passado e futuro, entre vida e morte, entre instinto e consciência..


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“Cassino”, Martin Scorsese (1996)

Lembro também de, no cinema, sentir a reação da sala ao surpreender-se com a explosão do carro do personagem Sam Rothstein, vivido por Robert DeNiro, em “Cassino”, nos idos de 1996. Uma reação espontânea do público, que, assim como eu, era abduzido para dentro da história em poucos minutos de fita transcorridos. Scorsese, justificadamente fã de Saul Bass, conseguira em vida trabalhar com o mestre do design de créditos cinematográficos ainda em dois filmes: “Cabo do Medo”, de 1991, e neste, do ano em que ele morreu.


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“Fahrenheit 451”, François Truffaut (1966)

A nouvelle vague foi o movimento que melhor soube subverter os padrões da linguagem cinematográfica. Esta ficção científica de forte crítica filosófica baseada na novela e Ray Bradbury, além de ser um dos melhores filmes de Truffaut e do cinema, inova desde o seu primeiro minuto. E de forma simples. Aliás: simples em formato, haja vista que se engendra apenas por uma sequência de imagens estáticas e monocromáticas em zoom in e uma locução que descreve aquilo que geralmente apareceria escrito. Porém, a simplicidade da sequência de "Fahrenheit 451" é de uma criatividade tamanha, visto que traduz conceitualmente o principal elemento da história, que é a proibição de qualquer material escrito num futuro distópico. Genial e simples.


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“Cidade de Deus”, Fernando Meirelles e Katia Lund (2002)

A experiência com "Cidade de Deus" também foi inesquecível. Fui assisti-lo pouco depois de seu lançamento já tomado pela fama em torno do filme. Na sala de cinema, pude comprovar estar diante da obra que demarca o antes e depois do cinema brasileiro, o filme que deu fim à dolorosa era da Retomada. E sua sequência introdutória (“Pega a galinha, pega a galinha!”), com a faca cintilante simbolizando o perigo, os fragmentos de imagens intercaladas por legendas, a foto em cores pulsantes, o som da lâmina sendo afiada misturado ao do samba para devorar a ave fujona. Uma cena de tensão que se cria em poucos minutos e que já diz a que o filme viera: para revolucionar o cinema nacional e mundial.


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“Um Corpo que Cai”, Alfred Hitchcock (1956)

Saul Bass foi, inegavelmente, o gênio do design de créditos em cinema. E quando a genialidade dele se encontrava com a de outros, como, no caso, Alfred Hitchcock, com quem colaborou mais de uma vez, aí era gol certo. Altamente conceitual, como os videoclipes musicais que passariam a existir apenas décadas depois, a entrada de "Vertigo", com o casamento perfeito com a trilha de Bernard Hermann e os efeitos especiais bastante ousados e criativos para sua época, ainda surpreendem. Se hoje fosse feito por computadores já seria louvável, imagina em 1956.


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“Psicose”, Alfred Hitchcock (1960)

Outro da colaboração Bass/Hitchcock, "Psicose" vale-se dos tradicionais grafismos que eram comuns ao trabalho de Bass, dono de um traço magnifico. A assustadora trilha de Hermann, sinônimo de thriller de suspense, é traduzida por linhas retas paralelas em p&b que se deslocam horizontal e verticalmente em conjunção com as letras, geram uma sensação de instabilidade e não-linearidade, ideia a qual, por sua vez, simboliza a perturbadora história do assassino psicótico Norman Bates. Junto com "Vertigo", aquele que é considerado o grande filme de Hitch. Não à toa.


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“O Segundo Rosto”, John Frankenheimer (1966)

Mais uma de Bass, esta perturbadora abertura de "O Segundo Rosto" é um verdadeiro exercício artístico. Valendo-se de potente trilha de Jerry Goldsmith e da trama de suspense psicológico do filme de Frankenheimer, Bass explora distorções como as do expressionismo alemão e carrega nas sombras e imagens projetadas em espelhos para, já de início, entrar na mente do espectador, que, a se confirmar pelo excelente longa, será conduzido a um mundo de medos e aflições internas. Poucas vezes uma introdução casou tão bem com a ideia central de uma obra. 


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“O Jogador”, Robert Altman (1992)

Esta cena já esteve destacada aqui no Clyblog por outro motivo: o plano-sequência. Pois Altman consegue com este engenhoso desenho de cena não apenas criar uma das melhoras sequências sem corte da história do cinema (afinal, o próprio filme trata sobre os bastidores da sua indústria) como, por conta exatamente disso, causar um incrível impacto já no início do filme, visto que o plano-sequência é justamente o que o abre. Altman, dos melhores do cinema autoral dos Estados Unidos, sabia como ninguém abrir suas obras, haja vista "Nashville", "M*A*S*H*" ou "Três Irmãs", mas nada bate a de "O Jogador".

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“Magnólia”, Paul Thomas Anderson (1999)

Outro dos que fui assistir no cinema é fui totalmente arrebatado. Também pudera: que forma criativa de se começar um filme! P.T.Anderson põe pra baixo o queixo do espectador num prólogo ao mesmo tempo divertido e instigante, que relaciona fortuitos momentos da história, para, ao final, triunfantemente, soltar a imagem da flor "Magnólia" abrindo-se em velocidade acelerada sobre a projeção de diversos vídeos. Além disso, tem a apaixonante música de Aimee Mann, a quem nem conhecia e passei a adorar por causa da trilha do filme. Inteligentemente, a aparente dissociação dos acontecimentos do prólogo antecipa a trama coral proposta pelo roteiro e a nada casual relação entre aquelas histórias paralelas. “Isto não foi uma coincidência”.

 

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“O Homem do Braço de Ouro”, Otto Preminger (1955)

Bass de novo, aqui na sua forma mais naturalmente criativa e genial: grafismos e desenhos com seu traço característico sobre um fundo preto e legendas sendo dispostas em conjunto com a música de Elmer Bernstein. A primeira parceria do designer com Otto Preminger, com quem trabalharia em vários outros projetos, também explora os meandros obscuros da mente humana, no caso, de um baterista de jazz viciado em heroína vivido incrivelmente pelo jovem (mas já ídolo) Frank Sinatra. Só o desenho do braço distorcido já é uma das mais felizes contribuições de Bass para a história do cinema e do design.


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“A Marca da Maldade”, Orson Welles (1958)

Outro que, assim como "O Jogador", também tem um dos grandes plano-sequências da história cinematográfica para começar o filme. Porém, havemos de dar ainda mais mérito para o sempre inquieto e criativo Orson Welles em ousar abrir um filme deste jeito nos anos 50, quando o cinema e os espectadores tinham como padrão o formato convencional de créditos iniciais. Nunca se havia visto uma cena de abertura tão complexa, com vários atores e figurantes em cena, câmara em travelling, mudança de enquadramento de primeiríssimo plano para planos médios e grande, num espaço físico extenso e com direito até à explosão. E tudo isso SEM corte. Caramba! Como se não bastasse, o longa confirma todas as expectativas de seus de minutos iniciais naquele que é, talvez, o grande de Welles.


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“Uma Mulher É uma Mulher”, Jean-Luc Godard (1961)

Godard, assim como Truffaut e seus companheiros de nouvelle vague, nunca deixaram de inovar a maneira de começar a contar suas histórias. O suíço, aliás, comumente radical, já fez muito filme que, a rigor, não começa nunca – e nem “termina”, consequentemente, como “Je Vous Salue, Marie” ou “FilmSocialisme”. Mas uma das marcas que Godard nunca abandonou é o trato formal da tipografia dos letterings, os quais se utiliza geralmente com fontes não serifadas tipo Futura ou Arial (e nas cores da bandeira da França) sobre fundo escuro, encurtando os limites entre poesia concreta, cinema, vídeoarte e literatura. Caso de “Uma Mulher é Uma Mulher”, que ele faz a proeza de apresentar genialmente em menos de 2 min.


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“Fellini 8 1/2”, Federico Fellini (1963)

Fellini não cria suspense nenhum em relação ao nome do filme, o qual aparece já no segundo frame sobre fundo escuro na forma da conhecida logo. Mas a partir dali o que se vê até os 3 min que se transcorrem é a mais absoluta genialidade felliniana. A história do cineasta pressionado pela crise de criatividade é expressa numa espécie de prólogo onírico minuciosamente bem construído. O claustrofóbico engarrafamento, cuja mudez é ensurdecedora, e os olhares condenatórios à sua volta, sufocam aquele homem sem rosto dentro de seu carro a ponto de fazê-lo... sair voando! A lindeza do sonho se encerra numa praia, sobrevoando o mar e sendo puxado por uma corda da areia por ele próprio, que tem a companhia de um homem de capa sobre um cavalo negro. E o melhor: o oitavo filme (mais um média) de Fellini mantém esse nível até o fim.



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“2001: Uma Odisseia no Espaço, Stanley Kubrick (1969)

 A ficção científica que estabeleceu o padrão do gênero para sempre é uma aula de narrativa para realizadores até hoje, o que inclui sua marcante abertura. Copiado e referenciado centenas de vezes, o início de "2001", de apenas 1 min30’, é, contudo, dos mais originais da história da 7ª Arte. Traduzindo em imagens siderais grandiosas a impactante abertura da sinfonia "Also Sprach Zarathustra", de Richard Strauss, Kubrick mostra o raro alinhamento do planeta com Sol com a Lua valendo-se, para isso, de poucos mas precisos elementos: tela escura que vai aos poucos revelando a imagem e apenas três letreiros em tipografia Futura: “Metro-Goldwyn-Mayer Presents”, “A Stanley Kubrick Production” e o nome do filme em tamanho maior (com o detalhe do Copyright abaixo bem pequeno). Separadamente do filme, só esse trecho já pode ser considerado uma obra-prima.


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“O Poderoso Chefão, Francis Ford Coppola (1972)

Este é um caso de uma forma própria de apresentar a história. O nome, através da bela logo com a mão divina comandando a marionete com o letreiro “Mario Puzo’s The Godfather” e os acordes da clássica música tema de Nino Rota, já está garantido no segundo frame. Porém, os 6 minutos seguintes apenas de diálogos traduzem diversos níveis narrativos e simbólicos que serão trazidos nas quase 3 horas de fita subsequentes. As relações de poder, a inteligência manipuladora do Padrinho, os valores familiares, os papeis sociais, os meandros dos poderosos... muita coisa é dita ou subentendida até o momento em que Vito Corleone (Marlon Brando, espetacular) cheira a rosa de sua lapela e dá-se continuidade à “festa”. 


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“A Terceira Geração, Reiner Werner Fassbinder (1979)

Um dos maiores estetas do cinema, o alemão Fassbinder deve muito de suas criativas aberturas de filmes a um contemporâneo e conterrâneo seu ligado à arte moderna a quem muito se inspirava para isso: Joseph Beuys. Não raro, as introduções de seus filmes referenciam o estilo de Beuys, com tipografias monocromáticas dispostas sobre imagens em movimento ou estáticas, criando peças dignas de galerias expositivas. O começo de “A Terceira Geração” é um deles, com os créditos pulsando no ritmo de uma batida cardíaca enquanto vão sendo apresentados sobre um zoom out que vai descortinando um apartamento com telas, móveis e pessoas.


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“Assassinos por Natureza, Oliver Stone (1994)

Cineasta pautado pelo experimentalismo, Oliver Stone desde seu primeiro longa, “Platoon”, de 1986, sempre soube começar bem um filme. Porém, 8 anos depois, ao invés de tornar-se mais conservador, Stone mostra-se saudável e surpreendentemente ainda mais ousado com o altamente pop e sarcástico “Assassinos por Natureza”. O começo do filme é visivelmente influenciado pela linguagem dos videoclipes da MTV, emissora à época em alta, seja pelos enquadramentos distorcidos, pelo movimento de câmera frenético, pela alteração brusca de ISO ou pela montagem de ritmo musical. Tão musical, que, na cena, o violento casal espanca e mata pessoas em um restaurante com absoluto prazer ao som do punk-rock da L7. 


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“Persona, Ingmar Bergman (1960)

Um dos maiores cineastas de todos os tempos, Bergman tinha total domínio da narrativa. Porém, a introdução de seus filmes invariavelmente traziam a fonte Times sem serifa sobre fundo escuro. Mas Bergman sabia quando contrariar o próprio estilo, e o profundo “Persona” incitou-lhe a isso. Num conceito de vídeoarte – já existente nas galerias contemporâneas mas pouco exploradas no cinema de arte –, o cineasta funde imagens em alta profusão, usa fotos reais e ousa em enquadramentos e fotografia p&b. Tudo de forma a criar uma atmosfera de sonho e fluidez do tempo/espaço o qual Bergman tão bem constrói naquele que é considerado“o filme mais difícil de todos os tempos”.


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“Cidadão Kane, Orson Welles (1940)

Em seu primeiro longa, o então jovem Welles, com apenas 25 anos, inovava consideravelmente o modo de abrir uma história filmada. Aliás, não somente essa parte, mas em diversos aspectos da linguagem cinematográfica daquele que é ainda hoje para muitos o melhor filme de todos os tempos. Quanto à introdução, mesmo com o título revelado imediatamente ao começo (seria muita transgressão não informar pelo menos isso ao público da época), nunca havia se visto um prólogo in média rés (com o qual se começa uma narrativa no auge da ação antes de começar de novo para explicar como se chegou lá), tão comum hoje. Enigmática (o que será aquele "Rosebud" dito antes do cara morrer?!), a primeira imagem que aparece traz uma placa com a mensagem “No Trapessing” (“Não Ultrapasse”). Era Welles, o mesmo que anos antes havia apavorado multidões com a transmissão em rádio d'"A Guerra dos Mundos", manipulando o subconsciente do espectador.


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“Manhattan, Woody Allen (1979)

Assim como Bergman, Allen tem um estilo geralmente muito próprio de iniciar seus filmes, quase que invariavelmente com legendas em fonte tipo Windsor Light Condensed e uma música inteligentemente bem selecionada para sonorizar. Porém, como o mestre sueco em "Persona", Allen também sabe transgredir a si próprio. Em "Manhattan", ao invés do fundo preto com letterings, ele monta uma pequena sinfonia urbana com uma sequência de imagens documentais e poéticas de sua Nova York num cristalino p&b. A sutileza da forma como anuncia o título (e nada mais que isso), num letreiro luminoso de uma rua qualquer do bairro, prevê a abordagem que será dada aos personagens do filme: todos meras continuações do próprio corpo da cidade. Poesia.


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“Laranja Mecânica, Stanley Kubrick (1971)

Com total domínio do fluxo narrativo, Kubrick é um craque das aberturas. "O Grande Golpe", "O Iluminado" e o já citado "2001: Uma Odisseia no Espaço" são exemplos, mas outro diferenciado neste sentido é "Laranja Mecânica". Uma música feita em sintetizador começa sobre uma tela vermelha até quase 30 segundos, quando finalmente surgem os primeiros letterings numa tipografia Arial negritada. Percebe-se, então, que a tal música é uma versão eletrônica da peça “Music for the Funeral of Queen Mary”, de Henry Purcell, do século XVII. O fundo vermelho se transforma em azul e, de novo, em vermelho para anunciar o nome do filme. Até que, num corte brusco, muda para o close da figura andrógena de Alex (Malcom McDowell), personagem principal da história de Anthony Burgess. Dessa imagem, Kubrick não corta novamente e, sim, a faz prosseguir num travelling frontal-out sob o off do brilhante texto que reproduz o fluxo de pensamento de Alex, o qual situa o espectador do universo de distopia que se verá a partir dali.


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“Arizona Nunca Mais”, Joel e Ethan Coen (1987)

A abertura do segundo e cativante filme dos irmãos Coen, quando eles ainda eram uma revelação, no final dos anos 80, é tão criativa, engraçada, pop e publicitária (no bom sentido), que serve como trailer. A história do assaltante pé-rapado H.I. McDonnough (Nicholas Cage) contada em off por ele mesmo enquanto as imagens vão sendo exibidas com a trilha magistral de Carter Burwell – suas idas e vindas pra cadeia, os personagens bizarros que conhece no caminho – denotam, pelo brilhante texto, principalmente, seu coração bom. O mesmo que o faz conhecer o amor de sua vida, a policial Ed (Holly Hunter). Depois, eles resolvem sequestrar um dos sete bebês da ricaça família Arizona, mas aí é que a história mesmo começa...

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“Alien: O 8º Passageiro”, Ridley Scott (1979)

Lembrando a abertura de "2001", filme ao qual Scott bastante homenageia neste revolucionário terror espacial, tem, assim como na obra de Kubrick, um desenho de cena simples mas muito eficiente. Uma câmera se desloca no espaço da esquerda para a direita em uma panorâmica enquanto veem-se manchas brancas surgirem, as quais vão formando numa uniformidade não-sequencial o nome “Alien” em uma fonte pesada e sem serifa. Não há nos créditos, mas diz que também é obra de Saul Bass.


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“Monty Python em Busca do Cálice Sagrado”, Terry Gilliam e Terry Jones (1975)

Como avacalhar os créditos iniciais de um filme? O grupo Monty Python tem a resposta. Em “Monty Python em Busca do Cálice Sagrado”, usando praticamente só tipografia e tela preta, eles conseguem subverter tudo que se imagina de uma opening scene. Sob uma trilha austera, os subtítulos são exibidos, até que, bem abaixo, algumas palavras com caracteres escandinavos começam a aparecer. Frases totalmente desconexas como “Não vai ter feriado na Suécia este ano?” ou uma história esquisita de um alce que mordeu a irmã de alguém. Eis, então, que surge um crédito para explicar o erro nos créditos: “Nos desculpamos pela falta de subtítulos. Os responsáveis foram despedidos”. Muda a música, mas as intromissões continuam, e um novo aviso, agora de que os responsáveis por demitir os demitidos também foram demitidos. Já com uma absurda trilha mexicana, a confusão segue até o fim e, com muito “esforço”, conseguem dar o nome dos diretores: Terry Gilliam e Terry Jones, principais responsáveis por essa bagunça toda.



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“007: O Espião que me Amava”, Lewis Gilbert (1977)

Poderia citar vários tanto anteriores ou posteriores a este filme, mas esta de "O Espião que me Amava" se tornou uma referência dentro da própria franquia. A começar que a abertura com créditos nunca está dissociada do prólogo, que sempre começa com a famosa “gun barrel sequence”, em que um vilão qualquer está olhando por uma mira e vê 007 entrar em cena e atirar contra ele. Depois, os minutos de ação, neste caso, mostrando o agente em duas de suas situações comuns: namorando e se aventurando. Já a abertura em si, assinada pelo mestre Maurice Binder, designer gráfico que estabeleceu o estilo das clássicas aberturas dos filmes de James Bond, consolidaria os elementos que caracterizariam para sempre as chamadas iniciais da série: arte figurativa com efeitos de elementos da história, uso da figura/silhueta de figuras e pessoas - como a do próprio ator que faz JB (Roger Moore à época) -, a fonte Arial fina e branca, o disparo de pistola e, claro, uma trilha especial feita para aquele filme, no caso "Nobody Does it Are Bether", com a Carly Simon – das melhores.


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“Crepúsculo dos Deuses, Billy Wilder (1945)

O sucesso de consagradas comédias como “Se Meu Apartamento Falasse” e “Quanto Mais Quente Melhor” fez com que Wilder ficasse pouco lembrado por outros gêneros como o suspense e o drama aos quais, contudo, ajudou a solidificar um novo padrão de qualidade na Hollywood dos anos 40 e 50. Este clássico do cinema é uma prova de sua versatilidade, o que deve bastante de seu impacto pela forma como inicia. O modo aparentemente fortuito como o título aparece, numa placa indicando o mítico endereço “Sunset Boulevard”, é precedido por uma câmera em travelling filmando o asfalto cinza na direção de algum lugar específico. É onde está o corpo desfalecido do narrador. Sim! Como em "Memórias Póstumas de Brás Cubas", em "Crepúsculo dos Deuses" é o morto, afogado numa piscina, quem está narrando pleno de consciência de seu estado moribundo. Impossível não ter curiosidade de assistir até o fim.



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“Apocalypse Now”, Francis Ford Coppola (1979)

Não há nenhuma palavra escrita dizendo que filme é. Mas nem precisa. O grande plano de uma floresta é aos poucos invadido por helicópteros que cruzam a tela e uma fumaça começa a levantar. Percebe-se, porém, que a fumaça não é de areia, mas, sim, o venenoso napalm. Até que várias bombas caem sobre a mata, provocando gigantescas explosões. A música que toca não podia ser outra: “The End”, da The Doors. É um presságio. É a guerra. É o Vietnã. É “o horror”. Diversas imagens apocalípticas se fundem ao rosto de um homem em close, o personagem principal do filme, o perturbado Capitão Benjamin Willard (Martin Sheen). A sensação de quebra no tempo perfaz todo o longo filme, que perscruta os mais terríveis meandros psicológicos da guerra.


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“Cléo das 5 às 7”, Agnés Varda (1962)

Outra grande esteta do cinema moderno, Varda pautou toda sua filmografia pela inventividade narrativa e estética, a qual passava por um filtro muito pessoal. Em "Cléo das 5 às 7", seu primeiro longa, fica clara esta criatividade seja na forma como no conteúdo. A mesa de uma cartomante é filmada em plongê mostrando somente o baralho e as mãos dela e da cliente. Os subtítulos em branco são gerados conforme a disposição das cartas sob um silêncio que provoca tensão. Que mensagem as cartas vão dizer? E dizem: a jovem Cléo tem apenas 2 horas de vida, o tempo que o filme transcorrerá: das 5 da tarde às 7 da noite. Varda dá um show em montagem e no jogo simbólico entre cor, que aparece somente quando as cartas são lidas (supostamente, enquanto ainda há vida), e p&b, que domina o filme, marcado pela agourenta previsão que atormentará a personagem.



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“A Pantera Cor-de-Rosa”, Blake Edwards (1963)

Um modo interessante de se abrir filmes – e que fecha muito bem para comédias – é a animação. No entanto, como as da série Pink Panther, não tem igual, principalmente a do primeiro da franquia. A atrapalhada mas elegante pantera de cor exótica criada pelo próprio Blake Edwards virou desenho animado para a TV depois do filme tamanho o sucesso que fez exatamente na abertura do filme, assinada pelos designers e animadores David H. DePatie e Fritz Freleng. Aliás, este é o único momento em que ela, fugindo do ainda mais atrapalhado inspetor Jacques Clouseau, aparece, visto que o nome Pantera Cor-de-Rosa é o de uma pedra preciosa na trama. Além da simpatia da Pantera, ainda tem a infalível trilha do genial Henri Mancini, uma música altamente charmosa e de fácil assimilação, tanto que virou o tema de jazz mais conhecido de todos os tempos.




Daniel Rodrigues