“Em um tempo em que
as pessoas
“baixam” músicas
e não tem noção
do que é um álbum,
nada
mais bacana que
poder falar dos álbuns
e de suas influências em
nossas vidas.”
Marcelo Rossi
(fotógrafo, diretor de videoclipes e
compositor)
Topei, dia desses, com o livro
“Discoteca Básica: 100 personalidades e seus 10 discos favoritos” e, blogueiro como sou, com seção dedicada a
álbuns importantes, além de apaixonado por música e colecionador
de CD's e LP's, fiquei extremamente interessado. Trata-se de uma
série de listas elaboradas por 100 personalidades, em sua maioria
ligadas ao mundo da música, que destacam, cada um, 10 álbuns
musicais importantes de alguma forma em suas vidas. Por mais que
tivesse me dado coceira pra comprar, até hesitei um pouco em comprar
imaginando que as indicações dos convidados pudessem meramente cair
naqueles clichês tipo
“progressivo é mais técnico e o resto é
pobre”, ou
“sou do metal e escolhi 5 AC/DC e 5 Iron Maiden" ou
“Beatles é melhor que tudo” e simplesmente saírem nomeando 5
entre os 10, 7 de 10 ou mesmo 100% da lista só de
Beatles. Mas não.
Um que outro até manifestou a intenção de relacionar Beatles nas
10 posições mas felizmente meus temores não se confirmaram. No
caso do Fab Four, em especial, tiveram, por óbvio, um número de
indicações proporcional à sua importância de maior banda de todos
os tempos, mas felizmente as listas mostraram-se bem diversificadas,
curiosas e contendo dicas bem interessantes. Os convidados em sua
maioria são de alguma maneira ligadas ao mundo da música, como os
músicos
Arnaldo Baptista, Péricles Cavalcanti,
Dinho e
Andreas Kisser, por exemplo, mas também encontramos artistas visuais,
produtores, executivos de gravadoras, e ex-VJ's da MTV como Didi,
Gastão, Edgar e Thunderbird.
O que torna o livro mais interessante é
que a proposta do organizador, Zé Antônio Algodoal, não foi a de
necessariamente listar 10 discos qualitativamente ou em ordem de
preferência. Seus entrevistados podiam utilizar o critério que
quisessem e essa liberdade de escolha resultou em listas muito
bacanas. Questões afetivas, cronológicas, de formação,
profissionais, primeiras aquisições, parcerias, influências, os
critérios adotados são os mais diversos, alguns convidados
preferindo comentários mais genéricos, abrangentes, outros mais
detalhados, pontuais, disco a disco. Alguns relatos como o da
francesa Laetitia Sadier da banda Stereolab são muito amplos,
bonitos e completos, por outro lado, pessoas de quem gostaríamos de
ter alguma consideração a mais sobre suas escolhas, como no caso do
apresentador Jô Soares, foram extremamente econômicos, deixando uma
breve observação ou às vezes nenhuma.
A paixão demonstrada pelo músico
Hélio Flanders em suas descrições; o envolvimento do diretor de
cinema e teatro Felipe Hirsh; as metamorfoses da ex-diretora da MTV
Brasil, Ana Buttler; o caso dos primeiros dez discos que o Gordo
Miranda ganhou do pai; o texto criativo e bem escrito de Xico Sá; e
a emoção de Airto Moreira ao ser apresentado ao álbum “Miles
Ahead” pela cantora Flora Purim, no relato de Rodrigo Carneiro, são
alguns dos pontos mais legais do livro e que não podem deixar de
serem lidos. Como curiosidades, me chamou a atenção o fato do álbum
“Boys Don't Cry” do
The Cure, que eu, fã, nem considero dos
melhores, aparecer bastante entre os votantes; a surpreendente
'disputa' acirrada entre o
"Força Bruta", muito votado, e o
"Tábua de Esmeralda", que no fim das contas prevaleceu; e o fato
de que alguns dos meus xodózinhos como o
"Psychocandy" do Jesus
and Mary Chain, que eu considero a melhor coisa que eu já ouvi, e o
"Loveless" do My Bloody Valentine, que eu costumo dizer que seria
o disco que eu levaria para uma ilha deserta, aparecem com bastante
frequência no livro em diversas listas, inclusive na do próprio
organizador. No mais, muitos dos meus favoritos aparecem com grande
destaque entre os mais escolhidos como, por exemplo, o
"Nevermind"
do Nirvana, o
"Transa" do Caetano e o
"Tábua de Esmeralda" de Jorge Ben.
Elogios também para a parte gráfica
do livro muito caprichada, cuja arte, meio retrô e saudosista, faz
referência, desde a capa, a vinis, toca-discos e equipamentos de som
antigos.
Para quem gosta de listas, como eu,
especialmente aqs de música, é um livro que desperta a vontade de
montar as suas próprias, com critérios diferentes, de modo que se
consiga contemplar todos aqueles discos que, de certa forma quase
como filhos, e tem um lugar reservado no coração.
Cly Reis