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segunda-feira, 21 de julho de 2025

Talking Heads - “Little Creatures” (1985)


 
"Com o resto do mundo pop ainda se recuperando do brilhante 'Remain in Light', o que poderia ser mais subversivo do que um disco limpo e feliz?"
Rob Tannenbaum, para a revista Rolling Stone, em 1985

"É muito divertido poder relaxar e tocar sem sentir que você tem que ser vanguardista o tempo todo".
Tina Weymouth

Pode-se contar nos dedos o número de bandas ou artistas que chegaram ao seu sexto disco de forma irrepreensível. Afinal, isso subentende já se ter começado acertando. Nem os Beatles, oscilantes no início da discografia, ou a Kraftwerk, que levou quatro trabalhos para encontrar sua verdadeira sonoridade, ou mesmo Bob Dylan, cuja musicalidade e visceralidade poética começaram a valer de fato a partir de seu segundo, o clássico “The Freewheelin’ Bob Dylan”. Não é fácil entender a si próprio já no início da carreira a ponto de “estar pronto” no primeiro disco, bem como manter a qualidade nos trabalhos subsequentes e, mais ainda, evoluir.

A Talking Heads pode orgulhar-se de ser esse exemplo de banda. O que David Byrne, Tina Weimouth, Cris Frantz e Jerry Harrison construíram em termos de discografia perfaz esse caminho: um disco de estreia, “77” (1977), já dotado dos principais elementos da sua sonoridade, algo entre o punk nova-iorquino e a new wave; um segundo álbum de consolidação da mesma ideia e encontro com o produtor Brian Eno, “More Songs About Buildings and Food” (1978); um terceiro que avança sobre si mesmos e põe o pé na vanguarda, “Fear of Music” (1979); um quarto de recriação de identidade, “Remain in Light” (1980), pisando fortemente no terreno da world music; e, no quinto, a emancipação do grupo e o encontro com o pop de “Speaking in Tongues” (1983).

Todo esse percurso irretocável de Byrne e cia. faz com que eles cheguem a “Little Creatures”, de 1985, maduros, experientes e integralmente autorais. O resultado é, se não é o melhor disco da música pop dos anos 80, o crème de la crème da própria banda, que soube evoluir e se aperfeiçoar. Totalmente produzido pelos próprios integrantes, "Little..." é a cristalização de todas as experiências sonoras, estéticas e conceituais que souberam, como músicos inteligentes e antenados, recolher desde que formaram o grupo. Assim, o disco soa ao mesmo tempo pop, rock, world music, experimental e vanguarda, tudo de maneira muito fluida e amalgamada, numa sequência de faixas daquilo que se pode chamar de “perfect pop” do início ao fim do álbum.

A clássica “And She Was”, dos melhores hits da banda e também das melhores aberturas de disco deles (e da discografia oitentista), dá os ares num pop-rock alegre, melódico, saboroso. O marcante refrão (“The world was moving and she was right there with it (and she was)/ The world was moving she was floating above it (and she was) and she was”), cantado em coro, é evidente legado de Eno para a banda. O britânico, que produziu a trilogia “More Songs....”/“Fear...”/“Remain...”, trazia na bagagem a influência dos cantos africanos e arábicos, o que foi parar na sonoridade de músicas da Talking Heads, como já se via em “Born Under Punches” (“Remain...”) a “I Get Wild / Wild Gravity” (“Speaking...”). 

Por sua vez, Byrne, um dos mais inventivos e carismáticos artistas da sua geração, está excepcional nos vocais e como front man, assim como toda a banda, que atinge em “Little...” um nível técnico de excelência. Não é mais somente Tina a grande instrumentista do grupo: todos, com o auxílio da ótima produção musical, estão perfeitos. Tudo soa no lugar certo, na altura certa, na medida certa. As guitarras, outrora experimentais (“Fear...”, “More Songs...”) ou vanguardistas (“Remain...”), não se eximem desses exemplos e os adicionam ao contexto. O mesmo com a bateria. Se em “Speaking...” ela perde potência e no álbum subsequente se potencializa, em “Little...” está no meio termo, com o peso certo.

Esse equilíbrio, realizado sem perder identidade, é o que se vê em "Give Me Back My Name", que num primeiro momento lembra a atmosfera art rock de “Remain...” (“Houses In Motion”) e a densidade séria e introspectiva de "Warning Sing" ("More Songs...") ou "No Compassion" ("77"). No entanto, ela resulta num refrão novamente cantarolável e agradável, assim como “And...”.  Tina, por sua vez, não deixa por menos e mostra porque o baixo da Talking Heads é um diferencial estético da banda.

Byrne, que avançaria em sua penetração no universo folk norte-americano no disco seguinte da Talking Heads, “True Stories”, de 1986, já trazia essa ideia em "Creatures of Love", das mais bonitas do repertório. Romântico e cotidiano, esse country típico, com violão de cordas de aço, guitarra com pedal steel e levada simples, diz: “Uma mulher fez um homem/ Um homem fez uma casa/ E quando eles deitaram juntos/ Todos saem pequenas criaturas”. Além de uma bela e tocante canção, é a que traz o título do álbum em sua letra. Semelhanças com “People Like Us”, que Byrne comporia para “True...”, não são coincidência.

Maior sucesso do álbum, "The Lady Don't Mind" é, mais do que isso, um dos grandes hits de toda a música pop dos anos 80. Quem não cantarolou e se divertiu com os vocais de Byrne cantando: “Pee-pee-pee-pee/ Pee-pee-pee-pee/ Peeree-pee-pee-pee”? Mas, claro, “The Lady...” não é feita apenas melismas esquisitos: é um legítimo pop perfeito (mas com cara de Talking Heads). O riff, feito de dois acordes dissonantes de guitarra com tremolo, que se contrapõem por outros dois em notas da mesma escala, só que invertidas, é emblemático. A percussão latina de Steve Scales é outra marca da música, grande responsável pelas ótimas vendagens do disco. O excelente viodeoclipe dirigido pelo cineasta Jim Jarmusch, com cenas de Nova York em P&B e cromatismos e que rodava direto na MTV à época, é também impossível de se esquecer.

O clipe de "The Lady Don't Mind",
do cineasta Jim Jarmusch

O primeiro lado do vinil se encerra com outra linda e, com o perdão da redundância, perfeita: "Perfect World". Aliás, quiçá dotada do mais bonito refrão de todo o disco. Igualmente cantada em coro, diz os versos: “This is a perfect world/ I'm riding on an incline/ I'm staring in your face/ You'll photograph mine” (“Este é um mundo perfeito/ Estou subindo uma ladeira/ Estou olhando na sua face/ Você vai fotografar a minha”). A melodia é tão bonita (principalmente, no refrão), que chega a emocionar. E ainda conta com as percussões mágicas de Naná Vasconcellos, que abrilhanta a música.

Animada, "Stay Up Late", assim como “And...”, abre um dos lados do LP em alto-astral. Pode-se dizer que é um aperfeiçoamento, em termos melódicos e de produção, do que haviam feito em “Speaking...”, que se ressente do peso que “Stay...” tem, principalmente na bateria de Frantz, aqui bem funkeada. Mas não só: as guitarras ao estilo “percussivo” de Adrian Belew de “Remain...” estão também presentes, mas integradas e menos “étnicas”. Uma suavização, que dá ganho à faixa no contexto em que está inserida.

Já "Walk It Down", outra maravilha, traz a típica melodia estranha de uma banda que não se exime de ser assim. Nunca se eximiu, aliás, pois sempre foi o diferencial deles diante da secura da cena punk nova-iorquina da qual eles emergiram. Os teclados de Harrison são fundamentais na textura dada a essa faixa, que traz elementos do conceito de produção aprendidos com craques com quem trabalharam, como Eno e Toni Visconti. E assim como “Give...”, segunda do lado A, “Walk...” repete a fórmula: melodia mais densa, mas um refrão que dá vontade de entrar de backing vocal com eles batendo palmas em ritmo: “Walk it down/ Talk it down/ (oh, oh, oh) Sympathy. Luxury/ Somebody will take you there”.

Como toda grande banda, a Talking Heads sabe muito bem montar repertórios – a se ver, por exemplo, o excelente setlist do disco ao vivo “Stop Making Sense”, de um ano antes. Então, eles deixam para o final a parte que impacta no encerramento de uma obra. Nisso, "Television Man", não à toa a faixa mais longa do álbum, vem cumprir esse papel de (quase) fechar o trabalho com uma melodia preciosa, marcada pela bateria potente de Frantz e um riff bem sacado, cheio de inteligência musical. 

Os minutos a mais de “Television...” em relação aos outros números se justificam. Ah, e como se justificam! Pela metade da faixa, uma virada inesperada acontece. É quando entram as percussões brasileiríssimas de Scales e a canção se transforma. Byrne, como bem sabe fazer, eleva os ânimos e energiza o clima, puxando um coro feminino para repetir com ele um simples: “Na-na-na-na-na-na”. Metais, linha de teclados que se cruzam, guitarras percussivas, solo de guitarra: tudo que há em temas como “Crosseid and Painless” ou “The Great Curve”, de “Remain...”, mas agora reelaborados, mais pop. O que começa mais contido se encerra em ebulição. Se Byrne já ensaiava proximidade com a música brasileira, a qual ele consolidaria anos depois no encontro com Tom Zé, Caetano Veloso e com a música nordestina, essa semente está em “Television...”. Além disso, a música, com sua visão sobre a TV e a sociedade de consumo, também serviria de fonte para “True...”, projeto multimídia de Byrne que envolvia música, cinema e livro e de semelhante sucesso de crítica e público. 

A divertida contracapa do disco,
com a banda em trajes espalhafatosos

Faltava, no entanto, o desfecho. Bem que o disco poderia acabar com “Television...”, que não haveria perda alguma. Mas, como dito, eles entendem de narrativa musical. Para quem já finalizou discos anteriores de forma brilhante, como “Drugs” em “Fear...” ou “This Must Be The Place” em “Speaking...”, não haveriam de deixar por menos. Tanto que guardam para o final aquela que, possivelmente, seja a melhor música do vasto e assertivo cancioneiro da Talking Heads: "Road to Nowhere". 

Semelhante ao ritmo marchado de músicas mais antigas da banda, “Thank You For Sending Me An Angel”, de “More Songs...”, e “I Zimbra”, de “Fear...”, “Road...” adiciona algo que estas duas não tinham, que é um universo onírico e poético, como poucas vezes visto na música pop mundial. O começo é de estremecer quando as vozes em estilo gospel entram em uníssono e sem instrumentos, dizendo: “Bom, sabemos pra onde estamos indo/ Mas não sabemos onde estivemos/ E sabemos o que sabemos/ Mas não podemos dizer o que vimos/ E não somos criancinhas/ E sabemos o que queremos/ E o futuro é certo/ Nos dê tempo para entender”. É o prenúncio de uma impactante canção.

Aparece, então, a banda, como numa torrente sonora. Em um crescendo, a música fala sobre a humanidade, a qual “caminha a lugar nenhum” em busca... de amor. O clipe, dirigido pelo próprio Byrne em parceria com Stephen R. Johnson, transmite esse olhar humanista, que dominaria a temática de “True...” logo adiante. E isso sem deixar também de ser engraçado e performático, como nas cenas em que os membros da banda atuam ou na constante corrida sem sair do lugar de Byrne no canto inferior da tela. Profundamente inspirada, “Road...” traz essa mensagem otimista do mundo, intensificada pela instrumentalização, que vai se intensificando, inclusive pela adição do acordeom de Jimmy Macdonell e o washboard de Andrew "El Pantalones" Cader, literalmente uma tábua-de-lavar cujo uso musical é herdado da tradição folk norte-americana. Em êxtase, com um Byrne empolgado, coro intenso e banda contagiada, o último recado é dado, novamente somente com as vozes: “We're on a road to nowhere”. Linda, tocante, universal.

Completando 40 anos de seu lançamento, “Little...” é certamente o disco mais pop da Talking Heads. Pode não o preferido de todos os fãs, que invariavelmente mencionam outros como “True...”, “Remain...” e “Fear...”. Porém, é inegável que este trabalho sinteriza e reúne tudo que a banda fez e faria a partir de então. Além da capa brilhante, do artista outsider Howard Finster (melhor do ano pela Rolling Stone), “Little...” também foi eleito o álbum do ano pela Village Voice, semanário cultural alternativo mais tradicional de Nova York. Mais do que isso: é o disco de estúdio mais vendido da banda, com mais de dois milhões de cópias vendidas nos Estados Unidos. Ao lado de outros discos memoráveis de 1985, “The Head on the Door”, da The Cure, e “Brothers in Arms”, da Dire Straits, “Little...” é o movimento de uma banda de origem rock, que adere ao pop sem danos à sua própria história. Poucos foram, entretanto, tão felizes como a Talking Heads nesse processo.

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FAIXAS:
1. "And She Was" – 3:36
2. "Give Me Back My Name" – 3:20
3. "Creatures of Love" – 4:12
4. "The Lady Don't Mind" (David Byrne/Chris Franz/Jerry Harrison/Tina Weymouth) – 4:03
5. "Perfect World" (David Byrne/Chris Franz) – 4:26
6. "Stay Up Late" – 3:51
7. "Walk It Down" – 4:42
8. "Television Man" – 6:10
9. "Road to Nowhere" – 4:19
Todas as composições de autoria de David Byrne, exceto indicadas


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OUÇA O DISCO:


Daniel Rodrigues

quinta-feira, 1 de março de 2018

The Cure, eu te amo mas não te quero mais

Apesar de tudo, você ainda tem meu coração.
Eu já amava o The Cure antes mesmo de conhecer. Sim! Pode parecer exagero mas é a mais pura verdade. Por ocasião  da vinda da banda em 1987, uma rádio de Porto Alegre fez um especial de uma hora com alguns dos melhores momentos da carreira do grupo até então. Eu, um garoto de doze anos recém começando a escutar coisas interessantes, estimulado pela então recente explosão do rock nacional, fui ouvir o programa interessado em saber quem eram aqueles tão badalados ingleses que em alguns dias desembarcariam na minha cidade. E eis que o programa começa e eu percebo que não  somente já conhecia, como sempre gostara daquelas músicas mesmo sem saber de quem eram. "Inbetween Days" era a abertura do programa Clip Clip, "Close To Me" era aquela do clipe do armário, "Primary" era vinheta de uma rádio, "The Walk" tocava num comercial, "Boys Don't Cry" tocava à insistência por todo o canto, e outras que eu não conhecia, mais soturnas e sombrias, caíram  imediatamente nas minhas graças. Eram eles! Era o que eu queria ouvir e tudo estava reunido em uma só  banda. Estava estabelecida uma relação de amor. 
Não fui no show porque os tempos eram outros e se hoje em dia a meninada passa dias acampada numa fila em frente a um estádio para ver seus ídolos, não só com o consentimento dos pais como muitas vezes com acompanhados deles, naquela época, eu um fedelho, mesmo que me fosse permitido ir, meus pais não pagariam meu ingresso ainda mais pra ver uns caras mórbidos e esquisitos como aqueles. Mas passei então a partir dali a obter tudo o que pudesse daquela banda.
A coletânea "Standing On A Beach"
que me orientou quanto ao que
procurar e conhecer da banda.
Comprei a coletânea  "Standing on a Beach" e conhecendo a partir dele a ordem cronológica da obra da banda fui atrás de tudo. O exótico "The Top", o acessível e consagrado "The Head On The Door" e o ao vivo "Concert", que tiveram distribuição no Brasil, a muito custo, economizando mesada, consegui comprar. Os importados, no entanto, fora da minha realidade, eu dava um jeito de conseguir numa loja que gravava os álbuns por um valor bem mais em conta do que fosse comprá-los. Aí  que conheci o "Three Imaginary Boys", que hoje vejo como irregular mas que na época lembro de deixar rolando de madrugada até que eu pegasse no sono; os álbuns  gêmeos "Seventeen Seconds"e "Faith", ambos direcionadores da identidade que a banda assumiria e viria a lhe ser distintiva; o tecno-pop mal-resolvido porém de bons resultados comerciais de "Japanese Whyspers" e mais um monte de bootlegs, que na época era ao que se atribuía o termo "pirata". Com muito esforço consegui comprar o clássico "Pornography", este sim, disco definidor de característica e linguagem, e o subestimado e pouco valorizado "Blue Sunshine" do projeto de Robert Smith com Steven Severin do Siouxsie and The Banshees, disco de importância crucial na consolidação do pop que o Cure apresentaria a partir dali.

Naquele ano de 87 a banda em seu melhor momento e com sua melhor formação, que se tornaria a mais clássica e idolatrada, lançaria "Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me", um duplo muito bem acabado e repleto de hits mas que, como conjunto, poderia ter sido melhor como um álbum simples mais enxuto. 
Dois anos se passaram e mesmo com todo o sucesso dos últimos trabalhos, boatos sobre problemas internos e um possível fim da banda não paravam de rolar. E foi em meio a esse clima e a essa boataria que surgiu "Disintegration", um álbum denso, pesado mas que mesclava com maestria essa melancolia com um pop de alta qualidade resultando num improvável sucesso que fez deste o álbum  mais vendido e um dos mais cultuados da banda. Meio que na carona veio a coletânea de remixes "Mixed Up" que, se não se justificava plenamente, trazia ao menos algumas boas releituras e a então inédita e interessante "Never Enough". Mais fofocas, mais diz-que-diz, e novamente do meio do turbilhão outro grande disco: "Wish", mais solto e leve surgia como um raio luminoso na carreira do Cure, emplacando novamente um monte de sucessos e trazendo a reboque dois ótimos registros ao vivo, os discos "Show" e "Paris".
Robert Smith , no show do Rio em 2013
Mas os boatos não eram somente rumores e os problemas existiam de verdade: Laurence Tolhurst, um dos fundadores e amigo de longa data de Robert Smith, com problemas de alcoolismo era mandado embora, outros integrantes com outros interesses e projetos davam no pé, o selo pelo qual o Cure gravara desde o início da carreira, a Fiction, era vendido e Dave Allen, produtor de todos os grandes trabalhos do grupo não estava mais nos planos. Ninguém fica indiferente a tudo isso e quando o Cure veio ao Brasil em 1996 para o Hollywood Rock, e quando finalmente consegui realizar meu desejo de vê-los ao vivo, o que se viu foi uma banda confusa, desentrosada e com um repertório novo bastante irregular. É que aquela vinda precedia o lançamento do álbum "Wild Mood Swings" e foi aí que nossa relação começou a estremecer. Desde então a banda pareceu ter perdido o rumo, a identidade, criatividade e limitar-se a tentar imitar a si mesma. O bom mas, para mim, superestimado "Bloodflowers" ainda foi um último suspiro de qualidade e, embora seja colocado ao lado de "Pornography" e "Disintegration" como parte de uma espécie de trilogia das sombras, passa muito longe dos dois e até mesmo de outros momentos mais criativos da banda.
Depois disso, então, tudo só veio a piorar. O Cure virou uma auto-paródia e seus discos seguintes "The Cure" e "4:13 Dream" passaram a ser não somente dispensáveis como irrelevantes. Assim que eu não ouço mais The Cure. Praticamente ignoro tudo depois de "Wish". Tenho o "Bloodflowers" em casa mais por respeito do que por paixão mas de resto, tudo que ouço depois desta época me parece insosso, indiferente ou mais do mesmo. Até o visual, a cabeleira desgrenhada de Robert Smith, hoje parece muito mais uma caricatura do que colabora no seu papel de marca registrada.
É claro, ouço todos os antigos discos com o mesmo fervor e admiração e ainda sou apaixonado por aquela banda que eu conhecia. É como aquele cara que teve que acabar um namoro porque sabia que era necessário, que a namorada não era mais a mesma, que mudara, mas que ao chegar em casa dorme abraçado com o porta-retrato com a foto dela. 
Teaser do show comemorativo de 40 anos no Hyde Park
Nesse 2018 quando o The Cure completa 40 anos de existência, embora respeitada fico com a sensação que a banda nunca recebeu o devido valor e reconhecimento por sua obra e trajetória. O Cure não inventou a roda, não descobriu o fogo, mas criou uma identidade musical tal que é referência desde que a banda se firmou, sabendo expandir seu leque e suas possibilidades de modo a não ficar restrito a determinado tipo de público, sem para isso abrir mão de suas características. Sua música pode não ser originalíssima mas seu som e tão único que eu costumo dizer que tem coisas que só o Cure faz pr'a gente. Mas não tem feito. E faz tempo.
A banda comemorará suas quatro décadas de atividade com um show monumental no Hyde Park em Londres no mês de julho, que tem tudo para ser épico e no qual certamente tocará todos seus grandes sucessos e as preferidas dos fãs, que é o que atualmente o que vale a pena no Cure: seu passado. Tive a oportunidade de compensar o fraco show do Hollywood Rock com uma apresentação de mais de três horas, aqui no Rio, em 2013, que foi mais ou menos nessa linha: apresentaram o que tinham de melhor. Apesar da fraca e pouco carismática formação atual, lavaram a alma e com certeza levarei aquele dia como um dos grandes momentos da minha vida. Mas a essas alturas tenho a impressão de que isso é tudo que teremos deles: grandes recapitulações e rememoramentos. E é aí que eu fico pensando que se é para ficar gravando discos como os que o Cure vem apresentando e insistindo em musiquetas sem a menor inspiração, seria melhor Robert Smith cumprir aquilo que tantas vezes ameaçou e dar um ponto final nisso tudo. Não pensem que falo isso sem alguma dor. Que recomendo isso com satisfação. Não! The Cure é minha banda do coração. Mas se é pra fazer música como quem trabalha num cartório, prefiro apenas ficar com os nossos bons momentos: descobrir aquela banda num programa de rádio, dormir ao som do "Three Imaginary Boys", comprar o "Pornography", presenciar aquele showzaço de 2013... Sim, eu te amo, The Cure, mas tenho que ser realista e admitir para mim mesmo que, se for assim como está, eu não te quero mais.



Cly Reis
(texto publicado originalmente no blog Zine Musical)

sexta-feira, 4 de março de 2016

Talking Heads - "True Stories" (1986)




“Quando terminamos as bases e os vocais
para aquela leva de músicas,
 começamos a ensaiar um material
que poderia render ainda mais um disco,
mas que eu havia composto para o filme.
Quando ‘Little Creatures’ saiu,
 eu já estava no Texas para filmar ‘True Stories’.
Levei as fitas de multicanal com as nossas faixas-base
para as músicas do filme até o set de filmagens em Dallas
e adicionei um pouco do tempero texano”.
David Byrne,
em seu livro
“Como funciona a música”.



O ano de 1986 é especial para quem pegou o rock dos anos 80. Talvez junto apenas com o ano anterior (que viu nascerem "Meat is Murder", dos Smiths"The Head on The Door", do The Cure, e "Psycho Candy", da The Jesus and Mary Chain), tanto no Brasil quanto fora houve discos essenciais de bem dizer todas as grandes bandas e artistas da cena pop da época. No cenário internacional, em especial, muitos se superariam no sexto ano da chamada “década perdida”. Siouxsie and the Banshees poria na praça o sucesso “Tinderbox”, a P.I.L; de John Lydon chegaria ao auge com "Album" e Smiths e New Order estourariam nas rádios com “The Queen is Dead” e "Brotherhood" respectivamente, para ficar em apenas quatro exemplos. Embora de sonoridades distintas, mesmo que afim em certos aspectos, o ponto que os unia era o fato de que, já trilhados alguns anos e discos lançados, todos chegavam naquele momento mais maduros e donos de sua música. Assim, 1986 trouxe uma culminância de grandes álbuns não por coincidência, mas por que representou o desenvolvimento artístico da geração vinda do punk.

Essa onda atingiu outra grande banda do final dos 70/início dos 80: o Talking Heads. Liderados pelo talentoso esquisitão David Byrne, os Heads, surgidos na cena punk nova-iorquina, haviam largado com o referencial "77", daquele ano, passado pela brilhante trilogia com Brian Eno (“More Songs about Bouildings and Food”/"Fear of Music"/"Remain in Light") e pelo bom “Sepeaking in Tongues”, além de mais três registros ao vivo. Nesse transcorrer, atravessaram a virada dos anos 70 para os 80 avançando em estilo e personalidade. Se no começo, comandados pelo produtor Toni Bongiovi, foi o proto-punk e, logo em seguida, Eno os tenha empurrado para o experimentalismo pós-punk e para a world-music, em “Speaking...”, de 1982, passam a produzir a si próprios e mostram uma intenção pop-rock mais refinada. Afinal, a criatividade de Byrne, seu principal compositor, nunca correspondeu exatamente à tosqueira do punk-rock genuíno dos colegas de CBGB Ramones e Richard Hell. Veio, então, outra joia da safra 1985: “Little Creatures”, para muitos o melhor trabalho da banda e um dos ápices do pop-rock dos Estados Unidos. De admirável musicalidade, trazia pelo menos dois hits marcantes: “Lady Don’t Mind” e “And She Was”. Seriam Byrne & cia. capazes de superar aquele feito? A resposta veio um ano depois, no fatídico 1986, não apenas em um disco, mas num até então incomum projeto multimídia: o disco-filme-livro “True Stories”, que está completando 30 anos em 2016.

Para a época, o que hoje é comum no showbizz, em que um artista grava o CD, DVD, videoclipe e um documentário num mesmo espetáculo sem precisar gastar uma fortuna, foi bem impressionante a ousadia de Byrne, o verdadeiro “head” do projeto. Não se via uma proposta naquele formato até então, no máximo os abastados clipes-filmes de Michael Jackson. Neste, entretanto, de feições quase intimistas, Byrne, dentro de um mesmo tema, dirigiu um filme, atuou nele, lançou um livro de fotos e textos e ainda criou de cabo a rabo um disco, componto-o e produzido-o por inteiro. E mais: tudo de altíssima qualidade! Da turma que aprendeu com Andy Warhol a transformar produto em arte, Byrne e seus habilidosos companheiros de grupo – a ótima baixista Tina Weymouth, o competente baterista Chris Frantz e o versátil guitarrista e tecladista Jerry Harrison – traziam três “produtos culturais” interligados mas independentes entre si. Pode-se ver o filme e não comprar o disco ou ler o livro e por aí vão as combinações. Há quem teve o primeiro contato com a obra, por exemplo, através dos clipes da MTV (de certa forma, um quarto tipo de produto cultural) e depois ouviu o disco ou assistiu ao filme.

Para se falar sobre as músicas, no entanto, é fundamental que se comece abordando sobre o filme. Em "Histórias Reais" (tradução nos cinemas no Brasil), um narrador, encarnado pelo próprio Byrne, percorre como um repórter a pequena Virgil, no estado do Texas, em plena comemoração dos 600 anos da cidade, onde encontra diversos personagens hilários e típicos. Conforme as situações vão se apresentando, as músicas da trilha vão surgindo. Byrne, escocês radicado nos EUA, cria um filme no qual engendra com delicadeza e humor uma crônica cotidiana da vida norte-americana, tudo permeado por um olhar aparentemente infantil mas carregado de perspicácia e ligado à relação emocional do autor com o seu lugar. Lindamente poético, algo entre o documental e a fantasia, o longa sintetiza as belezas e as fragilidades do povo do país mais poderoso do mundo.

Como se vê, no filme está a razão do trabalho musical, pois este funciona como uma trilha sonora que veste a narrativa da história filmada ao mesmo tempo em que é “apenas” mais um disco de carreira do Talking Heads, seu sétimo de estúdio. Na seara de avanço de seu próprio estilo, eles repetem acertos do passado, principalmente de seu trabalho antecessor “Little Creatures”. A começar, assim como o disco anterior, um pouco por coincidência “True Stories” também tem dois hits marcantes. O primeiro deles é “Love for Sale”, que o abre. A letra já denota com humor e distanciamento crítico o caráter pueril e materialista do ser norte-americano, que põe tudo à venda, até – e principalmente – o amor. “O amor está aqui/ Venha e experimente/ Eu tenho amor pra vender”, canta, enquanto, no clipe, imagens de publicidade pulam na tela em cores vibrantes e kitch. Divertido, o clipe é a própria cena extraída do filme, numa total interação entre as obras. E que grande música! A batida lembra a de “Stay up Late”, de “Little...”, só que mais acelerada, e o riff, memorável, é daqueles que se reproduz o som com a boca. Pode-se colocá-la na classificação de perfect pop, músicas de estrutura perfeita e próprias para tocar no rádio mas que guardam qualidades genuínas de estilo e composição.

Com uma pegada bastante Brian Eno pela base no órgão, “Puzzlin' Evidence“ – no filme, a cena de um culto religioso em que se projeta um vídeo com as maravilhas da tecnologia e do poderio bélico e financeiro yankee – tem o vigor do gospel, principalmente no refrão, com o coro cantando com Byrne: “Puzzling Evidence/ Done hardened in your heart/ Hardened in your heart”. Em seu livro “Como Funciona a Música”, de 2012, ele comenta que compôs as faixas de “Little...” e “True...” praticamente ao mesmo tempo, por isso as semelhanças entre um e outro. No caso do segundo, o que já se diferenciava em sua cabeça era a aplicação: seriam músicas para o filme que ainda pretendia rodar. Assim, já no Texas para inteirar-se das locações, levou consigo as demos ainda por finalizar e lá teve a ideia de inserir os elementos mais peculiares do folk norte-americano, como o acordeom Norteño, a steel guitar e o coral de igreja protestante de “Puzzlin'...”.

Durante todo o disco, a bateria de Chris é especialmente amplificada, ótimo ensinamento pescado da faixa “Television Man”, de “Little...” – resgatada, porém, de antes, pois já nota-se isso em “Electric Guitar”, de “Fear of Music”, de 1979. Pois a caribenha “Hey Now” é marcada com essa batida forte, acompanhada de bongôs e de uma guitarrinha ukelele, a mesma que faz um solo totalmente no espírito ula-ula. Por conta de seu ritmo e melodia quase lúdicos, no filme, Byrne a arranjou diferentemente: são crianças, todas com instrumentos improvisados como pedaços de pau e latas, quem, numa das passagens mais bonitas, entoam os versos: “I wanna vídeo/ I wanna rock and roll/ Take me to the shopping mall/ Buy me a rubber ball now”.
“Papa Legba”, das melhores de “True...”, é outra que mostra como a banda aprendeu consigo própria. A programação eletrônica faz intensificar o ritmo sincopado da música africana, que começa com percussões típicas do brasileiro Paulinho da Costa, um craque, e um canto quase tribal extraído por Byrne. Visível influência dos trabalhos com Eno, principalmente do world-music “Remain in Light”. O tema em si é lindo: um canto ritualístico do vudu haitiano (“Papa Legba” significa aquele que serve como intermediário entre a loa – mundo dos espíritos – e o homem) que é usado no filme quando o personagem de John Goodman, um homem em busca de uma carreira como cantor, recorre a esta espécie de pai-de-santo – vivido pelo cantor Pops Staple, que a canta lindamente. No disco, é Byrne quem está nos microfones, esbaldando-se em seu vocal rasgado e emotivo.

O segundo lado no formato LP abre com outro hit e outro perfect pop: a sacolejante "Wild Wild Life", marco dos anos 80 e da música pop internacional. Impossível ficar parado se estiver tocando numa pista. Além da letra ácida, a canção, bem como seu clipe, também extraído do filme, é superdivertida, num convite a se assumir o “lado selvagem”. Várias pessoas, os integrantes da banda e atores, sobem num palco em um programa de tevê fazendo playback e interpretando as figuras mais exóticas. O refrão, de versos móveis, é daqueles inesquecíveis de tão naturalmente cantaroláveis: “Here on this moutain-top/ Oh oh/ I got some wild wild life/ I got some news to tell ya/ Oh oh/ About some wild wild life...”.

Alegre e ritmada, "Radio Head" lembra a levada das bandinhas folclóricas europeias (as que migraram para os EUA em várias localidades), ainda mais pelo uso da gaita-ponto. Mas, claro, com o toque todo dos Heads, desde a forte batida de Chris, as percussões de Paulinho da Costa – contribuinte costumaz da banda –, e o vocal aberto de Byrne, perito em criar refrãos pegajosos, como o desta: “Transmitter!/ Oh! Picking up something good/ Hey, radio head!/ The sound... of a brand-new world”, “Radio Head” guarda uma curiosidade: é a música em que Byrne se inspirou num verso de Chico Buarque – de “O último blues”, da trilha do filme “Ópera do Malandro” – e que, por consequência, inspirou o nome da banda inglesa, que juntou as duas palavras.

A melódica “Dream Operator” – que no filme transcorre numa engraçada sequência de um desfile, mais bizarro e brega impossível – tem uma bela letra, a qual versa sobre o eterno estado de sonho em que vivem os norte-americanos: “Todo sonho tem um nome/ E nomes contam a sua história/ Essa música é o seu sonho/ Você é o operador de sonho”. Algo nem bom nem ruim: apenas verdadeiro. Outra clássica do álbum, “People Like Us”, tema-chave do filme, é, assim como “Creatures of Love”, de Little...”, um típico country-rock, com direito a guitarra com pedal steele de Tomy Morrell. Uma verdadeira declaração de amor do estrangeiro Byrne para os EUA, reverenciando a cultura daquele país e ao mesmo tempo totalmente integrado nela. Os versos iniciais dizem tudo: “Quando nasci, em 1950/ Papai não podia comprar muita coisa para nós/ Ele disse: ‘Orgulhe-se do que você é’/ Há algo de especial em pessoas como nós”. E o refrão, dentro da mesma ideia de “Creatures...”, não deixa por menos, impelindo-nos a enxergar a alma norte-americana com um olhar mais humano: “Não queremos liberdade/ Não queremos justiça/ Só queremos alguém para amar”.

De ritmo parecido a outra faixa de “Little...”, “Walk it down”, bem como a outras daquele álbum no refrão de coro em tom entoado, como “Perfect World” e “Road to Nowhere” (a ideia vem desde o primeiro trabalho com Eno, em “The Good Thing”, de 1978), “City of Dreams” desfecha a obra com puro lirismo. A letra fala da perda de identidade provocada pelas aculturações e dizimações, algo muito presente na formação de sociedades modernas como a norte-americana: “Os índios tinham uma lenda/ Os espanhóis viviam para o ouro/ O homem branco veio e os matou/ Mas eles não sabem quem realmente foram”. Porém, artista sensível como é, Byrne joga luzes otimistas sobre o futuro daquela nação e suas gentes, tendo como metáfora a pequena Virgil: “Vivemos na cidade dos sonhos/ Nós dirigimos na estrada de fogo/ Devemos despertar/ E encontrá-la por fim/Lembre-se disso, nossa cidade favorita”.
Se “True...” deve muito a “Little...”, que lhe serviu de espelho em vários aspectos, também é fato que o disco de 1986 supera seu antecessor em completude conceitual, uma vez que conversa o tempo todo com a obra filmada e, consequentemente, com o trabalho fotográfico posto em páginas. Além do mais, o sucesso alcançado por “True...”, seja motivado pela mídia televisiva e radiofônica ou pelas telas do cinema, foi consideravelmente maior de tudo o que já jamais conseguiriam, tendo em vista que “Wild Wild Life” ficou por 72 semanas no 25º posto da Billbord, melhor posição de uma música da banda nesta parada. Comparações afora, o fato é que ambos os discos revelam um grupo no auge de sua capacidade criativa, produzindo música pop sem descuidar das próprias intenções e aspirações.

Tudo isso está ligado bastantemente à iniciativa de David Byrne que, com o passar do tempo, foi se tornando cada vez mais o principal compositor e criador da banda, a ponto de passar a ser o único. Assim, se “True...” é o ápice dos Heads, também é o começo de seu declínio. A redução paulatina mas permanente da participação de Chris, Tina e Jerry enfraqueceu-os enquanto conjunto, sufocando os companheiros de Byrne. O fim estava próximo. Ainda tentaram um sopro de comunhão, “Naked”, de 1988, mas o mais fraco álbum deles só serviria para denotar que não tinha mais saída que não a separação de uma das grandes bandas do pop-rock mundial. Os discos, porém, estão aí até hoje, longe de se datarem e donos de alguns dos melhores momentos do que se produziu nos anos 80, a tal “década perdida” – que, aliás, de “perdida” não teve nada em termos de rock. Basta uma audição de “True Stories” para se certificar de que essa história, por mais onírica que tenha sido, é real e muito especial.

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O filme “Histórias Reais” tem, aliás, uma trilha sonora própria, a qual traz temas incidentais. Apenas “Dream Operator”, em versão instrumental arranjada por Philip Glass (“Glass Operator”), se repete, além da faixa “City of Steel”, que é, na verdade, a melodia de “People Like Us”, também só com instrumentos. As outras são de artistas variados, como “Road Song”, da genial Meredith Monk, “Festa para um Rei Negro” (“Olê lê/ Olá lá? Pega no ganzê/ Pega no ganzá...”), com a banda brasileira Eclipse, e a mexicana “Soy de Tejas”, de Steve Jordan, além de seis composições do próprio Byrne que só se encontram em “Sounds From True Stories”.
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FAIXAS:
1. "Love for Sale" – 4:30
2. "Puzzlin' Evidence" – 5:23
3. "Hey Now" – 3:42
4. "Papa Legba" – 5:54
5. "Wild Wild Life" – 3:39
6. "Radio Head" – 3:14
7. "Dream Operator" – 4:39
8. "People Like Us" – 4:26
9. "City of Dreams" – 5:06

todas as canções compostas por David Byrne.

vídeo de "Wild Wild Life" - Talking Heads

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OUÇA O DISCO




terça-feira, 1 de abril de 2014

Copa do Mundo The Cure - classificados primeira fase

Passada a fase preliminar, uma espécie de peneira, os singles e hits entraram nesta primeira fase e não encontraram vida fácil. Mega-sucessos como "Why Can't I Be You?", "Close to Me" e "Catch" já ficaram pelo caminho. Por outro lado algumas menos badaladas como "This Twilight Garden" e a surpreendente "Do the Hansa" que já tirou "The Holy Hour" e "The End of World" aparecem como surpresas.
No mais, as grandes confirmam suas condições de favoritismo e se impõe, como "Inbetween Days", "Just Like Heaven", "Friday I'm in Love", "Boys Don't Cry", "The Walk", etc., mas entre estas despontam um pouco à frente 'Push" que superou duas pedreiras ("Another Journey by Teain" e "Why Can't I Be You?"), "Fascination Street" pela consistência e "A Forest" que num primeiro confronto, contra a forte "Other Voices", não deu a menor chance.
O saldo dos calssificados da fase, por álbum foi de 6 do "Three Imaginary Boys"; 4 do "Disintegration"; do "The Top", "Wish" e "The Head on the Door", 3 cada; 2 de "Japanese Dream", "Seventeen Seconds" e "Pornography", além de 2 B-sides de singles; 1 do "Faith", 1 do "Kiss Me...", 1 do "4:13 Dream", 1 do "Boys Don't Cry" (uma vez que a música "Boys Don' Cry" não saiu no "3 Imaginary Boys") e 1 single, "Charlotte Sometimes", que na discografia original não saiu em álbum.
Abaixo, destacados, em vermelho, todos os classificados:

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

cotidianas #256 - Uma Floresta



Quem é amante de música como eu vai entender essa história, mas quem é fã da banda inglesa The Cure vai, mais do que isso, se identificar. Embora tenha ocorrido há uns bons anos, a sensação daquele acontecimento ainda me é bastante presente. Os “bons anos” a que me refiro significam 23 deles atrás, em 1990. O local: a emblemática loja Mesbla da Voluntários da Pátria, Centro de Porto Alegre.

Era um início de noite de um dia útil qualquer, terça, quarta, qualquer coisa assim. Hora do pico: pessoas pegando condução, umas correndo para os compromissos noturnos, outras voltando para casa, comércio fechando, meretrício abrindo, ambulantes aproveitando o movimento para vender, frotas de coletivos lotando as ruas, muito zunzunzum. Minha mãe, que trabalhava na Senhor dos Passos, combinou comigo de nos encontrarmos ao final de seu expediente, por umas 18h30. Ela precisava comprar algo ou simplesmente pesquisar preços, não lembro ao certo. Lembro, sim, de pegá-la em seu trabalho e rumarmos em direção da Mesbla, por ficar ali perto e por ser um dos poucos estabelecimentos que se mantinham abertos até mais tarde do que o horário normal do comércio.

A Mesbla, para os que não conhecem, era uma loja de departamentos (tal qual uma Magazine Luiza ou Colombo da vida) de origem francesa cuja falência, decretada em 1999, diz-se, se deu por má administração. Porém, naquela época, princípio dos anos 90, a Mesbla ainda reinava, embora, por debaixo dos panos, já se prenunciava a derrocada, o que só veio a público anos depois, quando tentaram em vão salvar o negócio e as lojas foram fechando aos poucos até definhar. Havia outra loja Mesbla na esquina da Otávio Rocha com Dr. Flores (onde funciona hoje uma Manlec). No entanto, a da Voluntários era “A” Mesbla. Majestosa. Moderna. Convidativa. Numa época em que outras boas lojas de departamento já guerreavam entre si com ofertas e preços, as também extintas Grazziotin, Hipo-Incosul, JH Santos e Arapuã (que se situavam se não na mesma rua, no entorno), nenhuma batia a Mesbla. Lá era o shopping de uma Porto Alegre que, naquele então, tinha apenas o Iguatemi como grande centro comercial.

Parte desta importância se devia, certamente, à arquitetura do Edifício Mesbla. Projetado pelo arquiteto Arnaldo Gladosch, em 1944, o prédio, marco da arquitetura comercial da cidade, se já era vistoso por fora, com sua fachada acompanhando a curvatura da rua e cuja superfície explorava a textura dos tijolos em tom terroso-escuro, por dentro, então!... No seu interior, os três primeiros pisos eram integrados através de mezaninos em forma de anéis, enquanto os demais, destinados a escritórios, desenvolviam-se perifericamente, liberando uma área central que possibilitava uma iluminação vinda do cume em todos os pisos de loja. Isso sem falar na visibilidade do seu todo, apreciável de qualquer ponto em que se estivesse.

Depois que aquela Mesbla fechou as portas, antes mesmo de a empresa anunciar a falência, duas situações vividas por mim envolvendo o prédio – hoje pertencente ao Centro Cultural do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia e onde se pretende, em breve, instalar a nova sede do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul – me geraram sentimentos opostos. Uma delas, em 1997, de puro deleite, quando pude visitar a 1ª Bienal do Mercosul, evento o qual, inteligentemente, se valeu da beleza e da disposição espacial do prédio para integrar lindamente o desenho de sua arquitetura a quadros, esculturas e instalações da nata da arte moderna brasileira. A outra circunstância, no entanto, nada tem de encantadora, pois foi quando, a trabalho, em 2009, fui à TV Ulbra à época em que as emissoras da universidade, então dona do imóvel, se transferiram da cidade de Canoas para lá. Encontrei tudo “remendado”: divisórias, paredes móveis e estúdios montados no hall que, numa lógica funcional e burra, descaracterizaram totalmente o local, dando-me, logo ao entrar, a nítida sensação de que não estava no mesmo lugar. Nada daquele visual clean e do espaço amplo, que fazia destacar com clareza os produtos e as pessoas que circulavam. Não localizei nem a grande escada em alas simétricas ao fundo da área central, nos moldes dos primeiros magazines de departamentos do século XIX, que facilitavam a progressão vertical do público no interior da loja.

Naquele início de noite com minha mãe, no entanto, não subi as escadas da Mesbla. Enquanto ela comprava-pesquisava suas bugigangas noutros andares, eu permaneci no térreo, pois ali ficava o que me interessava: os discos. O setor de Música e Vídeo era ao fundo e à esquerda do salão principal, com seus módulos para LP’s separados por categorias (Cantor Nacional, Banda Nacional, Gauchesco, por exemplo) mais os mostruários de fitas K7 e as de VHS, que não recordo como ficavam expostas. Ao chegar, o vendedor do departamento, um rapaz de uns 30 anos de quem não lembro o nome (perdoem-me, mas quem me conhece sabe que tenho dificuldade de gravar nomes, ainda mais quando de um acontecimento de tanto tempo atrás), cumprimentou-me como pede a conduta de um bom atendimento varejista. Porém, percebi que ele ficou observando (com motivo de sobra) aquele pré-adolescente de 12 anos vestido de blusa preta, calças jeans rasgadas num dos joelhos, tênis tipo basquete sujos, cabelo pixaim com corte quase moicano, óculos de grau com armação redonda e de cor azul fluorescente e, para arrematar, pendurado no pescoço por uma corrente metálica, um crucifixo de ferro fundido de uns 14 cm de altura, que tomava a extensão do tórax, comprado não numa loja de artigos de rock, mas num antiquário da rua Fernando Machado. Sim: eu me vestia desse jeito, algo entre o punk, o dark e eu mesmo. E pior: minha mãe, mais por coragem do que por amor, mesmo que fizesse algum comentário a respeito de um exagero ou outro, andava com seu filho numa boa pelo Centro ou onde fosse. Inclusive em lojas de departamentos.

Como não tinha por hábito comprar filmes para assistir no videocassete, pois me eram caros (alugava-os como solução), meu interesse ali era voltado especialmente para os discos de vinil. Diletante já naquela época, colecionava junto com meu irmão o que me era possível com a mesada, mas a maioria dos discos, inevitavelmente, eram apenas objetos de desejo que eu não cansava de admirar nas prateleiras das lojas. Repetia este ritual de contemplação mais uma vez ali na Mesbla, dedilhando volume após volume para, ávido por conhecer mais, descobrir novos títulos, ver os já conhecidos e aqueles que almejava ter ou rever os que já figuravam na discoteca de casa. Passando pela letra C da fileira de Bandas Internacionais, deparei-me com os LP’s de um dos meus grupos preferidos desde aqueles idos: o The Cure. Tinham posto para venda os mais populares em vendagem e conhecimento do cliente mediano, afinal, tratava-se de uma loja de departamentos que, vendedora de produtos muito mais caros e rendosos, não se preocupava em ser especialista justamente em discos. Disco era coisa para aficionados como eu. E o vendedor.

Havia ali dois ou três do Cure, provavelmente “The Head on the Door”, álbum de carreira repleto de hits da banda, de 1985, e “Standing on a Beach”, de um ano depois, a coletânea com os maiores sucessos de Robert Smith e Cia. até então, um campeão de vendagens. O terceiro, no entanto, não podia ser classificado exatamente um estrondo de vendas. Não era o exótico “The Top” nem o deprê “Pornography”, mas, sim, o único LP oficial ao vivo da banda até aquele momento, de 1984: o “Concert”. Embora fosse dos que já tivesse em casa, puxei-o da pilha com surpresa e emoção e fiquei a admirar a capa. Foi quando ouvi uma voz atrás de mim perguntar-me com empolgação:

- Tu gosta de The Cure?!

Virei-me e constatei que quem me perguntava era o vendedor da loja. Respondi que sim com um sorriso tanto de surpresa quanto de identificação. Comentei que meus preferidos (na época era) do Cure eram o “Pornography” e o “Faith”, os bem gothic-punk, mas que gostava muito, no “Concert”, entre outras coisas, da sonoridade da bateria do Andy Anderson, um negrão que assumira as baquetas do grupo naquela época e que tocava forte como um bate-estacas. Foi visível que o tal moço da loja também se identificou comigo, tendo ficando, inclusive, positivamente espantado por aquele pirralho conhecer e gostar do mesmo que ele, de uma geração mais velha – situação que vira e mexe me ocorria quando era mais guri. Ele ainda disse:

- Eu fui no show deles no Gigantinho. Foi demais. – contou-me com emoção. – Cara, me dá esse disco aqui que eu vou colocar pra rodar.

Sim: ele interrompeu uma Paula Abdul ou George Michael qualquer que tocava sonolentamente na vitrola e substituiu por The Cure. Pelo “Concert”. O som dos alto-falantes, espalhados por toda a loja, saía, tirando as interrupções para os anúncios em voz dos vendedores ao microfone, somente dali. Ou seja: toda a Mesbla estava prestes a escutar The Cure. Ele pôs na primeira faixa. Chiados da agulha no sulco e entra um sobe-som da plateia ovacionando a banda que, percebe-se, entrava no palco naquele instante para abrir o “concerto”. Robert Smith dá boa noite e anuncia a canção de abertura. Andy Anderson faz um longo rolo na bateria conjugando tom-tom e surdo, abrindo caminho para que toda a banda entrasse explodindo naquele clima soturno e denso, de guitarras distorcidas, teclados espaciais e bateria possante. Era “Shake Dog Shake", para delírio do público, meu e do vendedor.

Escutamos a música inteira entre uma conversa e outra sobre partes da mesma que achávamos legal e sobre nossa paixão pelo Cure. Tudo num volume ambiente, afinal, o som ia para toda a loja. Não que Cure não pudesse tocar na Mesbla, mas o “Concert”, cheio de músicas da fase dark da banda, carregado em sonoridades ruidosas e perturbadoras, além do fato de ser ao vivo, o que adensa as vibrações irregulares por causa do rumor da plateia, não era exatamente o mais aconselhável para uma situação como aquela. Por isso, respeitávamos os ouvidos das senhoras que, como minha mãe, estavam lá para comprar uma colcha, roupa de banho, artigos para casa, etc. Mas nossa vontade era de arrebentar as caixas de som! Durante a conversa, concordamos que a melhor performance da bateria era a de “A Forest”. Sem dúvida. Afinal, aquela marcação de ritmo da música original pedia mesmo uma batida forte. Empolgado, ele virou o lado e foi direto nesta faixa. Largou a agulha ainda no fervor da multidão, que vibrava com o final de “A Hundred Years”, a anterior. Foi a partir dali que a luminosa e moderna loja Mesbla se transformou...

A clássica abertura de teclados, num tom grave e ritualístico, mórbido como que vindo de dentro de uma caverna, e as espaçadas frases da guitarra prenunciando o riff, levam a galera ao êxtase. E nós também. Começava um dos épicos do Cure. Já alheio a qualquer outra coisa que estivesse por perto, inclusive o seu gerente ou outros clientes, o vendedor aumentou o volume. Naquele mesmo momento, a sensação foi de que anoitecera dentro da Mesbla e de que entrávamos definitivamente para dentro de uma selva fechada e escura. Parecia que ninguém mais existia em nossa volta. Só nós, a música e uma floresta.

A introdução de “A Forest”, de pouco mais de 1 minuto, parece ter durado uma hora. Nós, diante daquele som, não falávamos, talvez com receio de alertar os bichos à espreita. Até que, finda a abertura, entra, enfim, a tal batida, marcada em dois tempos, pesada, esmurrando as caixas da bateria e até mais acelerada que na versão original. Arrasador! Meu companheiro silvícola não se conteve e aumentou ainda mais o volume. Para o máximo! Os acordes de “A Forest” retumbavam pelos corredores, fazendo vibrar as mesas, os eletrodomésticos, as vidraças e as louças do setor de Bazar.

Robert Smith dizia: “The sound is deep/ In the dark/ I hear her voice/ And start to run/ Into the trees/ Into the trees...” (“O som é profundo/ Na escuridão/ Eu ouço a voz dela/ E começo a correr/ Para dentro das árvores/ Para dentro das árvores...”). E corríamos, ali, parados. Sentíamos o som reverberar por todo o espaço, tomando totalmente os 15 metros de altura que iam do chão ao teto (ou seria a copa?).

Absorvidos por aquela atmosfera selvagem, os versos: “Again and again and again...” nos fazia investir mais ainda mata adentro. E de novo, e de novo, e de novo. Será que saberíamos voltar agora? “I’m lost in a Forest”? We lost in a Forest? O maravilhoso solo de guitarra, cheio de efeito de pedal, já avançava e levava a canção para o final, em que os instrumentos pouco a pouco vão morrendo, perdendo-se no escuro da noite silvestre. Anderson dá o último soco da bateria; ficam apenas as guitarras e os teclados, que logo se retira, para, por fim, manterem-se as cordas, que saem de cena uma a uma. Cessam as guitarras e fica apenas o baixo, que suspira espaçadamente os últimos pares de acordes: “tan dan - tan dan - tan dan...”, até sua propagação esvaecer de vez no espaço.

Bastou a música terminar para tudo voltar a ser como era antes. Claridade, senhoras comprando ou pesquisando preços, crianças correndo e berrando, vendedores vendendo. Uma loja de departamentos. Entretanto, entreolhamo-nos com a sensação de que algo diferente ainda pairava no ar, mas que não tínhamos mais como saber ao certo o que era. Retomados, trocamos ainda algumas animadas palavras de “cureanos” até que minha mãe retornou para irmos embora. Despedi-me do parceiro de viagem calorosamente, afinal, só nós sabíamos a experiência que tínhamos vivido naqueles 6 minutos e 46 segundos minutos entre o primeiro e o último acorde de “A Forest” que pareceram durar uma madrugada inteira.

Indo em direção à porta de saída, minha mãe ainda observou impressionada:

- Tu faz amizade rápido, hein, Dã?!

- ... É-é... – respondi meio bobo, ainda sem muita noção do que se sucedera ali naquele magazine entre tantos objetos supérfluos e desnecessários, entre tantas pessoas que eu não conhecia e jamais conhecerei.


O segurança abriu-nos a porta da entrada e, ao sairmos para a rua, educadamente deu-nos “boa noite” antes de fechá-la novamente como quem passa o cadeado numa jaula. Antes de a passagem ser totalmente fechada, porém, juro ter escutado, vindo lá de dentro da loja, o uivo de um lobo, o que, lamentavelmente, logo se perdeu no ruído metálico da frenagem desvairada dos ônibus que cumpriam, com suas toneladas de realidade, a correria irracional da vida, deixando-me com a dúvida, até hoje, se realmente escutei aquilo.



quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Iron Maiden - "Piece of Mind" (1983)





“Voe, pelo seu caminho, como uma águia
Voe tão alto como o sol
No seu caminho, como uma águia
Voe, e toque o sol”
"Flight of Icarus"



"A Hard Day's Night" dos Beatles, "The Head on the Door" do The Cure, "Machine Head" do Deep Purple, Electric Café do Kraftwerk, "Violator" do Depeche Mode e outros discos possuem a mesma característica, quero ver se vocês adivinham... Mais um tempinho... Bom, vou dizer hein... Todos estes discos são discos de discografia normal de suas bandas mas de tantas músicas boas e icônicas para suas respectivas bandas parecem um "The Best Of...".

E este é o caso deste disco, "Piece of Mind"(1983), do Iron Maiden, banda que na época eu chamava assim e no final do texto explico como chamo agora. Estava eu na gloriosa Galeria Chaves, aqui em Porto Alegre, quando vi uma camiseta dos Replicantes na Discoteca e pedi dinheiro para minha mãe e ela me deu um pouco mais para comprar a camiseta e dava para mais um disco. Comprei este disco pela capa mesmo e pensei “o que esta múmia (mais tarde viria a saber que é o mascote da banda) com camisa-de-força está fazendo nesta capa ?”. Foi meu primeiro disco comprado com o livre arbítrio (Michael Jackson "Thriller", Ultraje a Rigor e As Aventuras da Blitz ganhei de presente).

Cheguei em casa, abri minha vitrola laranja portátil da Philips e coloquei o disco para tocar. E daí a coisa toda muda de figura. Conhecia através do metal e tinha agora meu primeiro disco de Rock. Li, reli, revirei o encarte e fiquei impressionado com a banda olhando o cérebro na mesa em uma foto. Comecei a comprar todos os discos do Iron Maiden desde então e tive todos os LP´s até o "Seventh Son". Depois veio a era do CD e os discos foram se perdendo.

Clássicos do metal como 'Where Eagles Dare", "Flight of Icarus", "Die With Your Boots On" (com uma risadinha bem sem vergonha do Dickinson pelo meio da música), e a inesquecível e gloriosa "The Trooper" que eles tocam em todo show (seria ela a "Satisfaction" do Iron Maiden ? Pode ser hein...). Foi neste disco que pela primeira vez ouvi uma frase gravada ao contrário em um disco. A bem da verdade o Lado B do disco prenuncia o que viria a ser seu próximo trabalho, o "Powerslave", com músicas não tão mais empurradas no triunvirato formado por 2 guitarras e pelo baixo do dono da banda Steve Harris. Exceção é a maravilhosa "Sun And Steel" que é uma daquelas pérolas que somente os fãs mesmo conhecem e dão o valor.

A propósito disso, cara que conhece as músicas do Iron Maiden aos poucos vai ficando íntimo da banda e vai deixando o “Maiden” de lado, chamado carinhosamente de Iron. E tu, vais te arriscar a escutar este disco? Olha que daqui a pouco tu podes estar chamando os guris de Iron.

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FAIXAS:
  1. Where the Eagles Dare
  2. Revelations
  3. Flight of Icarus
  4. Die With Your Boots On
  5. Ther Tropper
  6. Still Life
  7. Quest of Fire
  8. Sun and Steel
  9. To Tame a Land

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Ouça:






quinta-feira, 4 de abril de 2013

The Cure - "The Head on the Door" (1985)



The Cure - The Head on the Door (clyblog)
"Acho que muitos fãs gostam desse disco porque ele está balanceado.
Tem o nosso lado mais soturno como em 'The Blood',
mas há momentos muito relaxados como em 'In Between Days' e 'Close to Me' ."
Robert Smith
“The Head on the Door” , de 1985, é certamente o disco mais pop do The Cure. Mas isso não significa que a banda tenha meramente se entregado ao mercado musical fazendo o que a 'indústria' e o grande público desejavam. O álbum é resultado de toda uma bagagem que o Cure foi agregando ao longo de sua trajetória desde o punkzinho dos dois primeiros discos, a atmosfera dark da fase seguinte, o synth-pop da época que o Cure foi apenas uma dupla, chegando à metade dos anos oitenta tão bem constituída a ponto de dar subsídio para que a banda conseguisse produzir um trabalho extremamente variado sem abrir mão de sua identidade sonora e de suas convicções, com qualidade e personalidade.

“In Between Days “ que abre o disco dá a mostra do quão acessível é esse trabalho da banda, num dos maiores hits de sua carreira. Uma base com um violão marcante, um teclado fluído e inconfundível e um refrão daqueles de não tirar da cabeça. A segue “Kyoto Song”, uma belíssima e perturbadora balada de característica sonora bem à japonesa; uma levada agressiva de violões à espanhola dão início e pautam toda a forte e intensa “The Blood” que vem na sequeência, cujos versos "I'm paralized by the blood of Christ" são resultado de alucinações causadas por um vinho português; vem em seguida “Six Different Ways”, psicodélica, interessante, mas nada mais que apenas graciosa; mas “Push”, a seguinte, com uma introdução longa, típica do Cure, apresentando primeiro toda a parte sonora antes de entrar com a letra, tem um dos melhores trabalhos de guitarra de Robert Smith, nesta que é para mim uma das grandes músicas do álbum.

“The Baby Screams”, que durante algum tempo até mesmo abriu shows da banda, é uma interessante mistura de guitarras com recursos eletrônicos com Robert Smith verdadeiramente gritando, numa interpretação muito legal e interessante; vem na sequência outro super-hit, “Close to Me” com sua batida seca, vocal quase sussurado e tecladinho adorável. Não precisaria nem dizer que é uma das melhores da banda até hoje. O acerto pela simplicidade. “A Night like This’ é outra jóia do disco. Música belíssima, bem composta, tristinha (como de costume) mas de uma leveza impressionante.  Tem um solo de sax lindíssimo que, se o ouvinte não estiver derretido até ali, cai de vez depois dele. Gosto muito de “Screw”, esquisitona, quebradiça, com destaque especial para o ótimo Simon Gallup e seu baixão distorcido. E então o disco fecha magistralmente com a ‘climosa’ “Sinking”, sombria, soturna, depressiva, para, se havia ficado alguma dúvida, ter-se certeza de que tudo o que ouviu-se até então era realmente o bom e velho The Cure.

Um trabalho perfeito de síntese musical dos anos 80. A mistura exata entre o clima de obscurantismo do início da década com a fórmula pop que consegue atirngir o grande público. Com sua melhor formação e auge técnico, o Cure conseguia com um álbum impecável atingir o sucesso comercial, não trair a si próprio, ganhar novos fãs e manter os existentes sem desagradá-los. Nem é meu preferido, até porque sou mais fã dos discos bem ‘góticos’ por assim dizer, como "Disintegration", “Faith”, "Pornography", mas reconheço sua alta qualidade e não estranharia e não tiraria a razão de algum fã se me afirmasse ser este o melhor disco do The Cure.
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FAIXAS:
  1. "In Between Days" – 2:57
  2. "Kyoto Song" – 4:16
  3. "The Blood" – 3:43
  4. "Six Different Ways" – 3:18
  5. "Push" – 4:31
  6. "The Baby Screams" – 3:44
  7. "Close to Me" – 3:23
  8. "A Night Like This" – 4:16
  9. "Screw" – 2:38
  10. "Sinking" – 4:51
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Ouvir: