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segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

As Minhas 14 Preferidas de Suzanne Vega (16, na verdade)


Tem convites que são mais presentes que pedidos. Falar de Suzanne Vega já é algo que me apraz. Afinal, não é de hoje - desde os anos 80, pra falar a verdade, lá se vão mais de 30 anos - que admiro imensamente a obra desta artista californiana dona de um estilo muito próprio e sofisticado de música pop. Já a resenhei em duas ocasiões nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS aqui do blog, aliás. E o convite? Montar uma lista com 14 músicas preferidas do cancioneiro de Miss Suzanne. Um pedido mais que uma ordem, ainda mais vindo de outro fã da artista, meu amigo igualmente radialista André Buda, para a montagem de um programa especial O Método Buda de Controle Mental na Internova Rádio Web. Aí, falar de Suzanne Vega e montar lista não é tarefa: é juntar dois prazeres.

Muito já compartilhamos André e eu impressões em relação a ela e sua encantadora música. Parte delas, pois, está nesta listagem. A melodista incrivelmente criativa. A poeta e songwritter folk. A feminista consciente e existencialista. A cantora da voz de cristal e da dicção perfeita. A conhecedora de todos os caminhos para uma composição pop e cantarolável. A exímia violonista. Enfim, características que vão aparecendo no decorrer das selecionadas e que denotam, todas a seu modo, uma arte pop altamente elegante. 

Porém - e isso é uma das premissas que levou André a me convidar a colaborar tanto quanto o gosto que comungamos - o óbvio foi evitado. Ou seja, o megahit "Luka" e até "Tom's Diner", que tocou bastante no início dos anos 90 com o remix dance feita pela dupla inglesa D.N.A., não estão contemplados. Adoro ambas as músicas, aliás, mas Suzanne é muito mais do que elas. Está aqui, sim, uma playlist de 16 canções na ordem cronológica de suas feituras que, para além de transmitirem essas características as quais mencionei anteriormente (bem como outras possíveis de serem percebidas), o que se dá naturalmente, refletem a versatilidade da autora ao longo dos quase 40 anos de carreira e dão, assim, a dimensão de seu talento e de sua rica obra. 

Ah! E deram 16 faixas no final, pois convenci André de socar mais duas além das que tinha pedido. Coisa de fã, consentimento de outro fã. Mesmo assim fiquei me coçando pra incluir outras amadas, como "Book of Dreams", "Night Vision", In Liverpool", "Unbound", "Pornographer's Dream"... Paciência. Mas a quem estiver lendo esta seleção, além das escolhidas, recomendo fortemente a audição destas aqui também, quando não de seus discos completos.

Seja folk, bossa nova, ethnic, blues, jazz, punk, rap, tecno ou clássica. Tudo está na voz e no violão de e uma das artistas mais completas da música pop. Uma pequena deusa, que nem todos acham ou sabem. Mas André e eu concordamos com isso, isso que importa.

*********

O emblemático
primeiro disco
1. "The Queen and the Soldier"
(de Suzanne Vega”, de 1985)

A veia literata da filha de professora e poeta num folk “coheniano”. Suzanne no primeiro disco dizendo a que veio. 



 
2. "Ironbound / Fancy Poultry" (de “Solitude Standing”, de 1987)
Quanta elegância musical dessa mulher, credo! Folk-soul-pop com pitadas de bossa nova - sem ser nenhum deles propriamente dito. 

 
3. "Tired of Sleeping" (de “Days of Open Hand”, de 1990)
Perfect pop pra começar arrasando o terceiro disco. Daquelas perfeitas em tudo: letra, arranjo, estrutura, canto, poesia. 


O ótimo "Days...", com 3
na lista
4. "Rusted Pipe" (de “Days of Open Hand”, de 1990)
Afropop com a elegância só dela. Craque em melodias de voz. 
OUÇA AQUI
               







5. "Fifty-Fifty Chance" (de “Days of Open Hand”, de 1990)
A mais beatle de todas de Suzanne, e ainda com arranjo de Philip Glass. Que luxo. 


              
6. "Rock in This Pocket (Song of David)" (de "99.9 F°", de 1992)
Pedrada feminista pra arrancar o ótimo 99.9. Suzanne se renova em alto estilo. 


7. "Blood Makes Noise" (de "99.9 F°", de 1992)
Eletrorap com o fluxo sanguíneo como batida, é isso mesmo? Genial (e um baita clipe)



8. "99.9 F°" (de "99.9 F°", de 1992)
De novo a África correndo nas veias. Sensual pra caralho. 


9. "Blood Sings" (de "99.9 F°", de 1992)
Literalmente, encarnada. Das melodias misteriosas de Suzanne. Triste, triste! Mas linda, linda! E como toca violão, como canta com afinação e assertividade, cruzes! 


10. "Birth-Day (Love Made Real)" (de “Nine Objects of Desire”, de 1995)
Essa vem lá de dentro da selva, de tão orgânica que é. Começo arrasador do melhor disco de Suzanne. 

11. "Caramel" (de “Nine Objects of Desire”, de 1995)
Sinceramente: só uma grande compositora pra fazer uma bossa nova com essa elegância e personalidade sem ser brasileira



12. "Thin Man" (de “Nine Objects of Desire”, de 1995)
Outro samba da brasileirinha Suzanne. Quanta sensualidade - e letra na primeira voz feminina. 


13. "World Before Columbus"
 
(de “Nine Objects of Desire”, de 1995)
Das mais tocantes de sua quase irretocável obra. Que letra, que melodia! Quanta beleza! 


Filme brasileiro
"Jenipapo"
14. "Ignorant Sky"
(da trilha sonora do filme “Jenipapo”, de 1995)

A única que não é de sua autoria, mas o motivo é grandioso, pois é parceria de Philip Glass com Antonio Cícero. Tá bom? 


 

15. "Penitent" (de "Songs in Red and Gray", de 2001)
A songwriter ataca de novo! Que fineza ao cantar! Outra abertura de disco. 



Arte do Blue Note
"B&C"
16. "Zephyr & I"
(de “Crime and Beauty”, de 2007)

A música de Suzanne já é charmosa, agora imagine gravada pelo selo Blue Note?! E como sabe abrir um disco, né?




Daniel Rodrigues


domingo, 7 de agosto de 2022

Caetano Veloso - “Estrangeiro” (1989)




“'Estrangeiro' é um grande disco (...). Foi feito em Nova Iorque e foi produzido por Arto, que eu conhecia desde que cheguei a Nova Iorque, em 1982 ou 83, e queria muito produzir um disco meu. Arto conhecia bem minha música, porque tinha vivido muito tempo no Brasil e adora o trabalho dos tropicalistas. Ele queria que aqueles procedimentos tropicalistas fossem conhecidos e reconhecidos internacionalmente (...) O 'Estrangeiro' tem também a marca muito forte do Peter Scherer - sempre a partir das coisas que eu estava fazendo, das ideias que vinha tendo - e de muitas ideias musicais do Arto: sempre resultado das conversas que tínhamos os três.” 
Caetano Veloso


Em “O Cru e o Cozido”, Claude Lévi-Strauss sustenta que todo compositor musical é perpassado pelos mitos os quais o definem como indivíduo em uma coletividade. “O mito da mitologia”, define. Esta acepção, articulada em 1964, parece se adequar a Caetano Veloso, que chega gloriosamente às oito décadas de vida. O mesmo antropólogo francês que Caetano diz ter detestado a Baía de Guanabara na música que dá título ao disco “O Estrangeiro”, de 1989, talvez tenha este conceito de um dos cartões-postais do Rio de Janeiro e do Brasil justamente por ser alguém de fora e distanciado da mitologia a qual não pertence. Não é nem a falta de elogio, e sim o fato de que este olhar estrangeiro dá vantagens as quais Caetano não só não contrapõe - embora discorde - como entende muito bem. 

Como em qualquer mitologia, porém, nem tudo é perfeito. Pode soar pouco festivo, mas a chegada de Caetano Veloso aos 80 anos simboliza um Brasil que nunca se realizou. Menos pessimista, que seja: uma promessa de Brasil. Caetano, tanto quanto alguns de sua dourada geração – Gil, Chico, Nara, Hermeto, Elis, Edu, Jards – mas mais do que todos eles em alguns aspectos, estetizou o Brasil assim como fizeram alguns dos ícones da nossa cultura: Villa-Lobos, Portinari, Machado de Assis e Mário de Andrade. E o fez, em grande parte, pela discordância. Caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento, num movimento constante de imersão e submersão, de identificação e distanciamento. Isso faz com que ponha no mesmo pentagrama axé music e microtonalismo, pop e vanguarda, e nos ensine a não só ouvir, como pensar essas diferenças/semelhanças para chegar a um fim maior: o âmago da própria mitologia. A dissonância aprendida na bossa nova de João Gilberto aplica em tudo sem nunca, sobretudo, fugir do embate. Ele, que discutiu com universitários esnobes e alienados no FIC de 1968; que se exilou por causa da Ditadura; que sempre disse o que pensava e não admite desaforo. 

“Estrangeiro”, um dos melhores discos da extensa obra do baiano, materializa em sons, letras e forma essa utopia tropicalista quase policarpiana de ser mito e mitologia ao mesmo tempo. A começar pela capa, reprodução da maquete concebida pelo Hélio Eichbauer para a peça "O Rei da Vela", do Oswald de Andrade, montada em São Paulo pelo Zé Celso Martinez Corrêa nos anos 60, pensada por Caetano quando este estava fora do Brasil. 

A faixa de abertura, igualmente, é uma daquelas grandes composições de Caetano em letra e música, e traduz a ideia dual do álbum, em que diversos ritmos se cruzam e se hibridizam em tonalismo e atonalismo, assonância e dissonância. O reggae conversa com eletrônico, que conversa com o batuque, que conversa com world music, que conversa com a art rock e o jazz contemporâneo. Naná Vasconcelos, no esplendor da maturidade, e Carlinhos Brown, já um grande entre os grandes, são dois dos principais contribuintes da sonoridade do disco, visto que integram, através de suas percussões universais, aquilo que há de mais visceral e de mais moderno em arte musical. Sem refrão, numa verborragia típica do seu autor, “O Estrangeiro” (“Uma baleia, uma telenovela, um alaúde, um trem?/ Uma arara?/ Mas era ao mesmo tempo bela e banguela a Guanabara” ou “À áspera luz laranja contra a quase não luz, quase não púrpura/ Do branco das areias e das espumas/ Que era tudo quanto havia então de aurora”), reflexiona o ser brasileiro se colocando numa posição quase brechtiana de distanciamento e proximidade com o objeto. Até o videoclipe, dirigido pelo próprio Caetano, é um exercício de cinema de arte, extensão do experimental “O Cinema Falado”, único filme dirigido por ele três anos antes. E convicto de sua posição, ainda arremata: “E eu, menos estrangeiro no lugar que no momento/ Sigo mais sozinho caminhando contar o vento”. A música, aliás, inaugura algo que se poderia chamar de brazilian-post-jazz, o que o próprio Caetano, que atribui a Gilberto Gil a criação não reclamada do “samba-jazz-fusion”, mostra-se ainda mais modesto ao também desdenhar tamanho feito. 

Videoclipe de "O Estrangeiro", de e com Caetano Veloso 


Não à toa, “Estrangeiro” é produzido por dois músicos além-fronteiras: os Ambitious Lovers Peter Scherer e Arto Lindsay – este último o qual, assim como Caetano, faz uma permanente ponte entre o nordeste brasileiro e cosmopolitismo, visto que norte-americano de nascimento, mas criado em Pernambuco. Ligados a cena do jazz M-Base de Nova York e a nomes ultramodernos como Ryuichi Sakamoto, Laurie Anderson, John Zorn e Brian Eno, Arto e Peter edificam a melhor e mais bem acabada produção da discografia de Caetano até então, algo que o músico não só repetiria a dose (“Circuladô”, de 1991) como serviria de base para revolucionar a música brasileira do início dos anos 90 inaugurando-lhe um novo padrão produtivo, a se ver por trabalhos marcantes como “Mais” e “Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão" (1992 e 1994), ambos de Marisa Monte, “The Hips of Tradition”, de Tom Zé (1992), e “Alfagamabetizado”, de Carlinhos Brown (1996).

Na sequência de “O Estrangeiro” vem o lindo pop afoxé “Rai das Cores”, que evoca as colorações sonoras tanto da canção-irmã “Trem das Cores”, composta por Caetano em 1982 para “Cores Nomes”, quanto outra ainda mais antiga: “Beira-Mar”, em parceria com Gil e gravada por este em seu primeiro disco, de 1966. A reiteração do “azul” como símbolo de beleza e pureza (“Para o fogo: azul/ Para o fumo: azul/ Para a pedra: azul/ Para tudo: azul”) dialoga com os belos versos finais da balada cantada em ritmo de bossa-nova pelo parceiro: “É por isso que é o azul/ Cor de minha devoção/ Não qualquer azul, azul/ De qualquer céu, qualquer dia/ O azul de qualquer poesia/ De samba tirado em vão/ É o azul que a gente fita/ No azul do mar da Bahia/ É a cor que lá principia/ E que habita em meu coração”. Já “Branquinha”, esta, aí sim, deixa de lado modos mais modernos para voltar à bossa-nova a qual Caetano nunca se desligou homenageando com graciosidade a então recente esposa Paula Lavigne, ainda hoje companheira e com quem ele teria dois filhos, Zeca e Tom, ambos músicos como o pai. Quão lindos, sensuais e apaixonados estes versos: “Branquinha/ Carioca de luz própria, luz/ Só minha/ Quando todos os seus rosas nus/ Todinha/ Carnação da canção que compus/ Quem conduz/ Vem, seduz”. E, mais uma vez ciente do deslocamento no mundo, ele diz: “Vou contra a via, canto contra a melodia/ Nado contra a maré”. 

Mais um grande momento de “O Estrangeiro”: “Os Outros Românticos”. Samba-reggae potente, a música discute os conceitos de modernidade e racionalidade propostos no livro “O Mundo Desde o Fim” do não apenas compositor, poeta e parceiro Antonio Cícero, mas também filósofo. Além disso, traz os teclados firmes de Peter, as guitarras abrasivas de Arto e a sonoridade dos tambores afro de Salvador, que tanto começavam a fazer sucesso àquele final de anos 80 com a Olodum e a qual o próprio Caetano se valeria bastantemente dali para adiante, como em “Haiti” (“Tropicália 2”, 1993), “Luz de Tieta” (trilha sonora de “Tieta do Agreste”, 1997), “Alexandre” (“Livro”, 1997) e “Ó Paí Ó” (trilha do filme, 2007). Afora isso, a letra, análise sociopolítica contundente com referência ao olhar “universal” do cineasta alemão Win Wenders em “Asas do Desejo” (“Anjo sobre Berlim”), é daquelas altamente poéticas de Caetano: “Eram os outros românticos, no escuro/ Cultuavam outra idade média, situada no futuro/ Não no passado/ Sendo incapazes de acompanhar/ A baba Babel de economias/ As mil teorias da economia”. Para emendar com “Os Outros...”, a ainda mais internacional “Jasper”, parceria de Caetano com seus produtores. Outro ponto alto do disco, afora a brilhante melodia de ares eletro-funk e afro-brasileiros, traz por trás do inglês do cantor belos versos como: “Tempo é tão leve como a água”.

Ainda mais autorreferente, a segunda parte do álbum começa com a tocante “Este Amor”, que se pode classificar como a “Drão” de Caetano. Assim como a clássica canção de Gil dedicada à antiga esposa quando da separação dos dois, em “Este Amor” Caê versa para Dedé Gadelha, com quem vivera quase 20 anos e tivera Moreno, outro talentoso músico, espelhando-a dentro do disco com a anterior “Branquinha”, feita para a atual mulher. Ao contrário da balada melancólica de Gil, no entanto, a de Caetano é um afoxé suavemente ritmado e um canto sereno de um homem maduro, entrando nos 50 anos, capaz de olhar para trás e enxergar sem mágoa a beleza do que se viveu. “Se alguém pudesse erguer/ O seu Gilgal em Bethania... Que anjo exterminador tem como guia o deste amor?”. 

Assim, espelhando-se mais uma vez na família de sangue e de vida, o disco prossegue com “Outro Retrato”. Se fez presentes Gal Costa, a irmã Maria Bethânia e Gil – também oitentão como ele em 2022 –, Caetano agora retraz a sua maior devoção: João Gilberto. Em ritmo caribenho, a música diz: “Minha música vem da música da poesia/ De um poeta João que não gosta de música/ Minha poesia vem da poesia da música/ De um João músico que não gosta de poesia”. Traços do arranjo de “Outro...” inspirariam canções futuras, como “Neide Candolina” e “"How Beautiful a Being Could Be", como os contracantos e a pegada pop sobre o ritmo latino. É o mesmo João que evoca, mas aqui junto de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, em “Etc.”, melancólica e romântica como os primeiros sambas da parceria clássica da bossa nova. 

Caetano acompanhado de Brown e Moreno
na turnê de "Estrangeiro", em 1989
Quase fechando o álbum, a faixa que talvez tenha surpreendido até Caetano tamanha repercussão que fez: “Meia-Lua Inteira”. Primeira de autoria Brown com maior projeção popular, a música estouraria nas rádios depois de entrar na trilha de “Tieta”, uma das telenovelas de maior sucesso da Rede Globo, e roubar o protagonismo, inclusive, da canção-tema, que abria o programa. Na época, até poderia soar um tanto modístico aquele samba-reggae colorido como os que Olodum, Banda Reflexus e Luiz Caldas vinham fazendo. Mas Caetano é Caetano. Tropicalista, mais uma vez adiantava-se ao que a crítica supunha entender e fincava a bandeira das manifestações populares e urbanas. “Meia-Lua Inteira”, aliás, mesmo sendo Caetano um artista desde muito acostumado com as paradas, pode ser considerado o seu abre-alas para as grandes vendagens, o que ocorreria pelo menos mais três vezes com “Não Enche” ("Livro"), “Sozinho” (“Prenda Minha – Ao Vivo”, 1998) e "Você não me Ensinou a te Esquecer" (trilha de "Lisbela e o Prisioneiro", 2003).

Para desfechar, Caetano vai buscar, enfim, a própria mitologia. O poeta retorna ao seu âmago, à sua origem, às suas reminiscências da infância em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo baiano, onde nasceu, com a brejeira “Genipapo Absoluto”. No livro “Sobre as Letras” (2003), Caetano diz que um dado da letra que lhe emociona é que essa canção fala de sua identificação com o pai (“Onde e quando é jenipapo absoluto?/ Meu pai, seu tanino, seu mel”). Mas declara, em seguida: “minha mãe é minha voz”. Quando canta os versos “Que hoje sim, gera sóis, dói em dós”, inclusive, ele o faz imitando a de Dona Canô. E outro tocante refrão: “Cantar é mais do que lembrar/ É mais do que ter tido aquilo então/ Mais do que viver, do que sonhar/ É ter o coração daquilo”. Ao citar a irmã Mabel em certo momento, também é possível fazer ligação com outra antiga melodia sua: “Alguém Cantando”, do disco “Bicho”, de 1977, igualmente uma faixa de encerramento e cuja voz, literalmente, não é a sua, mas da outra irmã do compositor, Nicinha.

Caetano, tão nativo quanto forasteiro, decifrou o Brasil nestas últimas oito décadas de vida e seis de carreira unindo alta e baixa cultura, provando por que, pela visão tropicalista, é possível, sim, levar o pensamento aprofundado a “quem não tem dinheiro em banco” e catequisar “as pessoas da sala de jantar”. Utopia? Pode ser, mas sua obra gigantesca e da qual “Estrangeiro” é um dos mais significativos exemplares, está aí para ser sorvida. “Todo mundo pode aprender tudo”, disse ele certa vez. Mais do que apenas misturar, a diferença de Caetano está na sua visão, uma visão para além do óbvio, para além da própria música e da poesia, visto que filosófica. Caetano, literato e intelectual, ensinou o Brasil a pensar-se. "As coisas migram e ele serve de farol"... Mito e mitologia, ajudou a fundar a nossa modernidade. Ele, que é o tropicalista mais convicto de todos, visto que dialoga com a mesma potência poética "a delícia e a desgraça" como escreveu sobre os estrangeiros americanos. O estrangeiro que canta, na verdade, é ele próprio, num país que nunca, de fato, se realizou. 

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FAIXAS:
1. “O Estrangeiro” - 6:14
2. “Rai Das Cores” - 2:37
3. “Branquinha” - 2:35
4. “Os Outros Românticos” - 4:58
5. “Jasper” (Caetano Veloso, Peter Scherer, Arto Lindsay) - 4:58
6. “Este Amor” - 3:26
7. “Outro Retrato” - 5:00
8. “Etc.” - 2:06
9. ”Meia-Lua Inteira” (Carlinhos Brown) - 3:43
10. “Genipapo Absoluto” - 3:22
Todas as composições de autoria de Caetano Veloso, exceto indicadas


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OUÇA O DISCO:


Daniel Rodrigues

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Gal Costa – Turnê “Estratosférica” – Auditório Araújo Vianna – Porto Alegre/RS (02/10/2015)




Divina e maravilhosa.
Sinceramente pensei que havíamos perdido Gal Costa. Por quase duas décadas, ela, uma das maiores cantoras do Brasil e do mundo havia se afundado numa fase obscura de falta de criatividade e trabalhos opacos que nem a voz cristalina conseguia impulsionar. Parcerias ruins, projetos mal elaborados, repertórios duvidosos, ações de marketing ineficientes. Tudo contribuía para pior a ponto de quase tirar o brilho da intérprete de tantas glórias e êxitos. Porém, em 2012, renascida das cinzas, Gal Costa chama o “mano” Caetano Veloso para exorcizar seus demônios e lança o “divisor de águas” "Recanto", no qual não só retoma uma série de referências que havia deixado no passado quanto, obviamente, se ergue de novo musicalmente.
Não é mesmo à toa que “Recanto” tenha esse título, pois de fato a partir dele tudo mudou para Maria da Graça Costa Penna Burgos, que completa louváveis 50 anos de carreira em 2015. E uma das mostras dessa mudança para melhor é o novo CD “Estratosférica”, cuja turnê passou por Porto Alegre numa memorável apresentação da baiana e sua banda de jovens rapazes. Aliás, a nova geração é que, sob a batuta dessa experiente cantora, dá o tom dos novos trabalho e show. A começar pela direção musical, a cargo de Pupilo (Nação Zumbi), certamente responsável em boa parte pelo tom de rock do show. Igualmente, o repertório é recheado de canções de compositores de agora, como Mallu Magalhães, Marcelo Camelo, Criolo, Zeca Veloso (sim, filho de Caetano!) e Alberto Continentino.
Maravilhosamente bem iluminado e com uma Gal em boa forma física e principalmente vocal, “Estratosférica” é uma aula de construção de repertório e conceito de espetáculo. Mesclando as novas músicas com sucessos e clássicos da carreira, Gal não faz apenas o que se espera como, assim, reassume a função que sempre foi sua desde que se tornou a revolucionária resistente do tropicalismo e a dona de hits incontestes das rádios: a de servir de canal transformador entre o novo e o tradicional na música brasileira. Afinal, foi ela uma das principais responsáveis por gravar, nos anos 60 e 70, os então jovens Caetano, Gilberto GilTom ZéJards Macalé, Luiz Melodia, Jorge Ben e vários outros. stoneano “Sem medo nem esperança”, música do novato Arthur Nogueira com poesia do veterano Antonio Cícero dando o recado pela intérprete: “Nada do que fiz/ Por mais feliz/ Está à altura/ Do que há por fazer” (assim é que nós gostamos de ver, Gal!). Esta emenda com “Mal Secreto”, de Jards e Waly Salomão, gravada por ela no histórico “Fa-Tal” ou “Gal a Todo Vapor”, de 1971. Voltando mais no tempo, Gal revive o ápice do tropicalismo com “Namorinho de Portão”, de Tom Zé, que ganha arranjo tão parecido com o de 1969 que a guitarra de Guilherme Monteiro soa até com aquele distorcido rasgado de Lanny Gordin. Grande momento.
Gal e sua excelente banda.
Nessa linha, o show começa detonando com o rockzão
Como todo bom concerto de rock, a base harmônica está na guitarra, que ganha ora peso ora groove, auxiliado pela bateria de Thomas Harres, pelo baixo de Fábio Sá e, principalmente, pelos teclados do ótimo Maurício Fleury, ora modernos ora retrô-psicodélicos, servindo como elemento climático e de textura. Soa assim a versão de outro clássico, “Não Identificado”, de Caetano, cujos efeitos do sintetizador cobrem muito bem a orquestração intensa e espacial de Rogério Duprat da original. “Pérola Negra”, de Melodia, é outra das antigas que conquista o público. As canções novas não deixam, no entanto, nada a dever para as já consagradas. É o caso de “Quando você olha pra ela”, gostoso samba-rock assinado por Mallu com cara do melhor Jorge Ben: melodia suingada, linha vocal assimétrica e a docilidade romântica de uma “Ive Brussel” e “Moça”. Aliás, Benjor é reverenciado mais de uma vez: primeiro numa embasbacante “Cabelo”, parceria com Arnaldo Antunes que ganha arranjo de funk-rock pesado, tipo Parlaiment/Funkadelic (o que é aquilo!). Lá no fim, Babulina volta em alto estilo para encerrar o show com uma improvável (mas maravilhosa) "Os Alquimistas Estão Chegando", misto de indie e samba-soul (o que é aquilo, de novo!).
Voltando às novas, ainda surpreendem a doce bossa-nova “Pelo fio”, de Camelo, com ares de Carlos Lyra ou Ronaldo Bôscoli; “Ecstasy”, joia nova de João Donato e Thalma de Freitas; a interessante faixa-título, de Maria Poças, Romário Oliveira Jr. e Barreto; e, principalmente, a genial “Por baixo”, um malicioso baião eletrônico de Tom Zé encomendado pela conterrânea: “Por baixo do vestido: a timidez/ Baixo da timidez: a seda fina/ Baixo dela: uma nuvem de calor/ Baixo de calor: um perfume da China...”. Ainda, a bela “Você me deu”, de Caetano e seu filho Zeca, revisitando o conceito de “Recanto”; “Muita Sorte", última música escrita pelo saudoso Lincoln Olivetti (morto em 2014), "Amor, Se Acalme" (de Marisa Monte, Arnaldo e Cezar Menezes); a sensorial “Anuviar”, de Moreno Veloso e Domenico; e a rica “Dez Anjos”, parceria de Criolo e Milton Nascimento, também feita especialmente para Gal. Aliás, para abrilhantar a noite no Araújo Vianna, Bituca, na cidade para um show que faria dali a dois dias, foi prestigiar a amiga.
Como nos velhos tempos, voz e violão.
O clima especial de quem está reverenciando sua própria obra faz com que a artista passe por pontos importantes, e Caetano está presente aí novamente. Além de ser personagem fundamental no resgate da companheira de Doces Bárbaros e o único a ter quatro composições no set-list, é dele ainda outro feito: a primeira canção gravada por Gal (ainda como Maria da Graça), “Sim, Foi Você”, em 1965. Para tocá-la, a própria volta a empunhar o violão, numa das horas emocionantes do show.
A pulsante “Casca” (Jonas Sá e Alberto Continentino), das melhores do show e que novamente remete ao tom kratrock de “Recanto”, fecha muito bem com o hino “Cartão Postal”, de Rita Lee e Paulo Coelho, resgatada com muita sensibilidade por Gal. É o que acontece também com “Arara”, de Lulu Santos, e no desbundante blues de “Como 2 e 2”, em que a cantora repete a performance que faz com que sua interpretação seja tão definitiva quanto a de Roberto Carlos. Por falar em Roberto, é a parceria dele com Erasmo Carlos escrita em homenagem à própria em 1969, o sucesso “Meu nome é Gal”, que fecha o show no bis. Ainda teria mais um impressionante arranjo, este para o samba dor-de-cotovelo de Lupicínio Rodrigues “Vingança”, que vira um bolero modernista, para encanto dos gaúchos.

Foi mais um show deste histórico momento de comemorações de 50 anos de carreira e/ou de 70 anos de idade, aos quais já presenciei de dois anos para cá de Caetano e Gil (tanto juntos quanto separadamente), Milton, Maria Bethânia e da norte-americana Meredith Monk. Ou seja: a celebração de uma geração que, na faixa ou acima dos 70 anos (ponham-se aí os Rolling StonesPaul McCartneyStevie WonderBob Dylan e outros precursores), ainda nos tem muito para dizer. E Gal, para sorte de todos, voltou ao time de forma inteira. Total. Legal. Fa-tal. Estratosférica.





quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

“Poesia Total”, de Waly Salomão – Ed. Companhia das Letras (2013)


Where's Waly?
por Leocádia Costa




“Nascer não é antes, não é ficar a ver navios,
Nascer é depois, é nadar após se afundar e se afogar...” 
Waly Salomão,
trecho do poema “Sargaços”


“Que o leitor, livre dos lugares-comuns, possa agora,
perambular livremente entre as falanges das máscaras que povoam
os libanos de sonho da mente régia de Waly Salomão,
um dos poetas mais originais e vigorosos do nosso tempo.” 
Antonio Cícero





            Cada vez que escuto uma canção ou sua voz falando verborragicamente sobre algum tema, paro. Ler não é a mesma coisa. Parece que a voz de Waly Salomão ou a sua poesia transformada em canção tem que estar no volume máximo. Assim, daquele jeito que o coração dispara, os olhos se fixam no interlocutor e a mente divaga.
         Sempre uma cena mágica abre-se com sua presença. Ora pela risada estrondosa, ora pelo seu porte de Rei Salomão. Lá de cima, com o limite cacheado dos cabelos, observa com muita acidez o que ocorre nas entrelinhas da sociedade. E não perdoa. Solta as palavras como leões ferozes, coreografados como se fossem um cardume infindável de peixes dançarinos em nossa frente, chamando a atenção, hipnotizando.
Waly sempre intenso,
escrevendo ou falando
       Confesso que o conheci por vias tortas. Explico. Custo a perceber as autorias, e olha que minha desatenção já foi pior. Só quando alguma composição me toca é que mergulho nos créditos, senão deixo um espaço livre para que as informações que valem a pena se fixem. Talvez uma forma de backup saudável em tempos que tudo interessa, tudo é cool, tudo deve ser fixado, aprendido numa mente que não pode ser ampliada com acréscimos de memória eletrônica. Afinal “A memória é uma ilha de edição”, não?
            Não soube da existência e paradeiro de Waly por muitos anos. Tempo demais, mas que me permitiu escutá-lo numa palestra em Porto Alegre na Usina do Gasômetro, junto com a minha irmã, em 1998. E lá estava Waly, ocupando um dos lugares na mesa, o homem das Artes múltiplas, dos dizeres não-óbvios, das filosofias vãs e das frases sem comprometimento com o dever de dizermos o que deve ser dito. Diga você o que quiser, mas escute também o que vier. Dali em diante prestei atenção nele. E descobri muito lentamente onde ele estava morando. Em quais espaços estava presente. Desde então sempre quis saber por “Onde estava o nosso Waly?” como se um mapa sinônimo da personagem Wally criado pelo ilustrador americano Martin Handford pudesse avistá-lo, numa terra à vista, em meio a tantos cacarecos desnecessários à essência humana. Afinal é fundamental selecionar o que queremos receber, privilegiar aquelas produções que sejam sintonizadas conosco, abrir espaço para aquilo que nos desacomoda. A vida sem desafios torna-se muito tediosa e improdutiva.
Waly era assim, desafiava a todos, começando por si próprio. Não poupava os seus compatriotas, não poupava sua nação de escutá-lo. Baiano, filho de Xangô e virginiano (“Eu deliro, mas tenho os pés no chão porque sou de virgem”) sempre esteve ligado aos coletivos.  Gostava de dizer: “Chega do papo furado de que o sonho acabou: A Vida é Sonho. A Vida é Sonho. A Vida é Sonho.” como um cale-se a quem dizia que o sonho havia acabado, gerando uma onda de baixa estima a tudo que fosse revolucionário. Irreverente, sempre. Múltiplo também. Porque dizer algo que não tenha um pouco de poesia, humor e sarcasmo misturados? De origem síria, não escondia suas raízes “estrangeiras”, mas também sua relação com essa pátria em que todos vivemos paridos pelo caos. Isso não o assombrava: o que seria diferença para outros, para ele era semelhança.
            Lemisnki dizia que Waly “se não chegou a se tornar tudo, foi muitas coisas”. Isso, claro, para a nossa sorte que bebemos um pouco de lucidez através da sua poesia. Entre 1970 e 2000, Waly atuou como poeta, ensaísta, letrista, articulador cultural, diretor de espetáculos, artista visual e homem público. Dirigiu entre outros o espetáculo “FA-TAL – Gal a todo vapor”; de Gal Costa, esteve na Direção da Fundação Gregório de Matos de Salvador e coordenou o Carnaval da Bahia. Seus poemas foram musicados por muitos artistas, entre eles: Caetano VelosoGilberto GilJards MacaléJoão Bosco e Adriana Calcanhoto.
            Depois de 11 anos da sua passagem, em 2003, a editora Companhia da Letras lançou com a bênção dos herdeiros a poesia completa de Waly, “Poesia Total”. Cada vez que a família de algum artista faz essa ação de compartilhar de forma organizada e acessível à obra de quem não pode mais decidir sobre publicações, sinto-me esperançosa. As publicações são formas de perpetuar a obra de um artista, daí meu agradecimento pela reunião da produção do artista.
            Ali estão os poemas e as reflexões de Waly. Minhas prediletas são os poemas que viraram canções: “Vapor Barato” com Gal; “Mal Secreto” com Jards; “Mel” e “Cobra Coral”, ambas na voz de Caetano Veloso; “Fábrica do Poema”, em homenagem à arquiteta italiana Lina Bo Bardi, a hipnótica “Pista de Dança” e a recente “Teu nome mais secreto”, todas na voz de Adriana Calcanhoto; “Zumbi (A Felicidade Guerreira)” e “Ganga Zumba (O Poder da Bugiganga)”, que encantam no filme “Quilombo”, na voz de Gil; a descontraída e pontual “Assaltaram a Gramática”, musicada por Lulu Santos e gravada por Paralamas do Sucesso; “Memória da Pele”, musicada e gravada por João Bosco e outros poemas dedicados em pura palavra-sentimento a Solange Farkas, in memoriam à Lygia Clarck e a Luiz Zerbini, além do amoroso poema “Mãe dos Filhos Peixes” a sua Yemanjá: Martha.
            Waly, diferente da personagem americana que tem em seu protagonista um jovem adolescente, cresceu. Ele que diz: “Tenho fome de me tornar em tudo que não sou”, porém soube ser muitos sendo um só. Amadureceu cedo demais. O poeta Alexei Bueno comenta uma obra de Waly, “Lábia, 1998”, sua retomada cortante e límpida com as palavras, mais adiante na resenha diz que está na sintaxe sua mais poderosa característica. Senão isso, talvez a clareza e a assertividade de pensamento fazem de Waly um poeta que nos deixa suspensos numa ponte pênsil a cada palavra dita. Em Desejo&Ecolalia, de 1995, ele diz: “O que é que você quer ser quando crescer? Poeta polifônico”. E foi assim que ele nos alcançou em meio ao caos pertinentes da mesma pátria em que vivemos.




O "Pocket Waly", apresentado na
60ª Feira do Livro de POA
            Ainda no ano passado, uma dupla de músicos, Thiago Pirajira e Ricardo Pavão, levaram sua poesia em canção em plena Feira do Livro de Porto Alegre – 60ª edição no “Pocket Waly”. A performance sonora misturava canções e dizeres de Waly e lotou a Tenda de Pasárgada, tradicional palco para apresentações montado durante a Feira. Waly estava ali cintilando de dourado e negro em meio aos violões e vozes. Podia ver-se Waly vestido num parangolé pamplona junto com Oiticica, enfeitado de muita sensibilidade e delicadezas que ele possuía igualmente a sua capa de devaneio concreto. Vivo.
           Se você nunca esbarrou na obra de Waly Salomão ou nem pensou em procurá-lo, mude de rota. Estabeleça uma meta e persiga-o incessantemente. Se conseguir alcançá-lo não desista nas primeiras leituras: siga sereno, mas constante. Leia, cante e diga em voz alta sua poesia. Aos brados retumbando suas frases você sentirá o que ele tinha internamente. Um vulcão prestes a explodir! E sabemos que as terras próximas aos vulcões são sempre as mais férteis, mas suas lavas podem queimar. Mesmo assim siga em frente, rompa essa fronteira. Se necessário queime-se, transforme-se. Vale a pena. 


Adriana Calcanhoto canta Waly






quinta-feira, 8 de setembro de 2011

cotidianas #103 - "Virgem"



As coisas não precisam de você
Quem disse que eu
Tinha que precisar
As luzes brilham no Vidigal
E não precisam de você
Os dois irmãos
Também não precisam


O Hotel Marina quando acende
Não é por nós dois
Nem lembra o nosso amor
Os inocentes do Leblon
Esses nem sabem de você
O farol da Ilha
Só gira agora
Por


Outros olhos e armadilhas
Outros olhos e armadilhas
Eu disse
Outros olhos e armadilhas
Outros olhos (outros olhos)
E armadilhas


O Hotel Marina quando acende
Não é por nós dois
Nem lembra o nosso amor
Os inocentes do Leblon
Não sabem de você
Nem vão querer saber
E o farol da Ilha
Procura agora


Por outros olhos e armadilhas
Outros olhos e armadilhas
Eu disse outros olhos e armadilhas
Outros olhos (outros olhos)
E armadilhas


As coisas não precisam de você

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"Virgem"
(Marina Lima/ Antonio Cícero)

Ouça:
Marina Lima - "Virgem"