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quinta-feira, 5 de junho de 2025

Filó Machado - Grezz - Porto Alegre/RS (27/05/2025)


Filó Machado foi uma descoberta tardia, que o POA Jazz Festival de 2014 me trouxe. Naquela edição, o show dele foi surpreendentemente o melhor da noite em que se esperava que o "bruxo" Hermeto Pascoal ocupasse esse espaço. A partir dali, passei a ter contato direto com o som e a impressionante musicalidade desse paulista genial cujo obscurantismo (ou segmentação) dentro da indústria cultural no Brasil só pode ser explicado pela incapacidade do brasileiro de assimilar suas próprias coisas boas. Afinal, surgido à mesma época que Djavan, que guarda MUITAS semelhanças com a musicalidade de Filó, a mesma indústria acabou por separá-los em caixinhas: um na popular, para rodar na mídia, e o outro no segmentação, destinado a ouvidos mais "exigentes".

Ocorre que Filó, 74 anos e carreira tão consolidada quanto robusta, vai muito além da sonoridade “djavanesca” e não é nada difícil apreciar sua música, Excelente guitarrista, é um cantor, compositor e arranjador daqueles que o Brasil deveria diariamente se orgulhar. E se os brasileiros não lhe dão o devido reconhecimento, os estrangeiros, estes sim, dão. Admirado por artistas do calibre de Michel Legrand, Jon Hendricks, John Patitucci e Warvey Waynape - além de brasileiros de alcance internacional, como Gal Costa, João Donato, Joyce e outros - Filó é ovacionado no Japão, Estados Unidos, França, Rússia, Holanda, Bélgica, Lituânia, Canadá, Equador, Croácia e mais dezenas de países. Tivemos a oportunidade Leocádia e eu de fazermos o mesmo novamente após 11 anos.

Desta vez, no entanto, foi mais especial ainda. Na nossa primeira vez no Bar Grezz, localizado na região do 4º Distrito de Porto Alegre e que fora fortemente afetada pelas enchentes de um ano atrás, pudemos ver de perto um show muito mais intimista de Filó. Ele cantou, contou histórias e emanou toda sua infinita musicalidade, que entremeia bossa nova, jazz, samba e soul com a naturalidade dos deuses negros da música. Acompanhado dos músicos locais Ras Vicente (piano), James Liberato (baixo) e Renato Popó (bateria), Filó iniciou cantando nada mais, nada menos que o samba perfeito “Acontece”, de Cartola. Só ele e o violão elétrica. Uma música que, na sua versão original, econômica e limpa, dura pouco mais de 1 min, com Filó ganhou a dimensão dramática que a própria melodia sugere. Um começo de arrepiar.

Simpático e conversador, Filó falou sobre “Jogral” antes de cantá-la. Gravada em 1981 por Djavan, então um assíduo frequentador da casa noturna onde Filó tocava em São Paulo, a história elucida de onde veio a ideia do suingue, das divisões rítmicas e das construções harmônicas que tanto caracterizaram a sonoridade do autor de “Oceano”. “Meu pensamento rodou/ Cortando o torrão nesse trem, andando bem/ Acho que a mais de cem/ De Maceió aqui parece ali”. Parece letra escrita por alguém nascido na capital do Alagoas como Djavan, né? Mas, não: é de Filó.

As lindas melodias prosseguiram: a emocionante “Por Onde Andávamos”, parceria com o célebre Sérgio Ricardo (“Por onde andávamos quando éramos estranhos/ Quem sabe estivéramos perto a ponto de nos tocar”), que fala sobre a sincronicidade da vida e do amor; a hispânica “Carmens e Consuelos”, esta com outro genial, Aldir Blanc, presente no disco mais recente de Filó, “Cisne Negro”, lançado em 2024, somente com parcerias inéditas dele com o saudoso letrista de outros clássicos da MPB como “O Bêbado e a Equilibrista” e “Delírio Carioca”; o suingado samba “Amar a Maria”, que faz um admirável jogo sonoro com as palavras (“Mas a Maria não estava nem aí/ A Maria é uma Maria se ela estivesse fora de si”); e uma das minhas preferidas dele, “Perfume de Cebola”, esta, com o poeta mineiro Casaco, que se ele não tocasse, eu ia pedir, juro.

A admirável musicalidade de Filó, seja no violão vívido e jazzístico, seja nas melodias cheias de pulsação e criatividade harmônica, também se expressava nos deliciosos melismas ao estilo George Benson em que não apenas fazia duos da voz com ao próprio violão, como, percussionista que também é, inventava solos de percussão com a boca. E que solos! Isso quando não chamava a nós da plateia para acompanhar em seus acordes, às vezes difíceis de arremedar. Rolou este expediente vocal no pot-pourri de “Je Viens te Dire la Verite”, parceria com o músico francês Michael Legrand e cantada por Filó, claro, num invejável francês, emendada com uma das composições dele e da musicista carioca Fátima Guedes, no caso, a belíssima “Blue Note”, gravada por ela em 1983.

Teve também participação do músico gaúcho de vasta experiência internacional Adriano Trindade, que tocou com o mestre e professor duas belas canções: “Canto da Senzala” (parceria com Gelson Oliveira) e uma ótima “milonga jazz”, a qual contou também com a participação de Dida Larruscaim e Pietra Keiber, chamados ao palco para uma jam.

O gaúcho Adriano Trindade tocando com uma milonga com o mestre Filó Machado

Filó reservou sabiamente para encerrar o show sua abismal versão de “Take Five”, clássico jazz modal de Dave Bruback, que ele transforma num samba-jazz visceral e muito, mas muito brasileiro! Shows de improviso, melismas e desempenho da banda. No bis, amável, Filó acatou pedidos da plateia. E que bom, pois uma das solicitadas foi a belíssima “Venha até a Minha Casa”, dele e de Judith de Souza, das joias do seu brilhante álbum “Canto Fatal”, de 1984. Surpreendendo gregos e troianos (aliás, gaúchos), ele ainda manda ver numa versão do samba do nome negro da MPG, Gelson Oliveira – que, infelizmente, me escapa o título da canção.

Um desbunde. É a melhor definição que se pode dar. Há centenas de talentos no Brasil, mas certamente poucos guardam tantas qualidades reunidas como Filó Machado. E com todo respeito e admiração a Djavan, há de se convir, depois de ouvir e ver Filó assim, tão de perto, que a sina de cada um merece, digamos, os seus devidos lugares. Como querer filonear o que há de bom – e de muito bom.

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Começa o show!

Somente Filó e seu violão tocando Cartola. Nem precisava mais

Surpresas, participações e muito jazz

Visão geral da banda no palco do Grezz

Improvisação no violão


Filó Machado esbanjando musicalidade 
com seus melismas


Filó com a afiada banda de músicos gaúchos

O gigante Filó. Canto ancestral

Rolou jam com Adriano Trindade e convidadas 

Mais um pouco da participação de Adriano Trindade
aqui tocando a bela "Canto da Senzala"


Talento puro

Filó e banda se despedem do palco do Grezz



texto: Daniel Rodrigues
fotos e vídeos: Daniel Rodrigues, Leocádia Costa e Canal Youtube Adriano Trindade 

quinta-feira, 20 de março de 2025

John Coltrane - “Giant Steps” (1960)

 

"Aquela sessão foi diferente das gravações anteriores. Parecia a única coisa em que ele [Coltrane] sabia que tinha algo importante. Todos sabíamos".
Tommy Flanagan

Como explicar o fenômeno John Coltrane? A cada disco que se escuta, a cada faixa que se reouve, a cada acorde que é emitido do seu sax transcendente é como se se ouvisse a sublimação. Não fosse sua morte prematura, em 1966, vitimado por um câncer, poderia se afirmar que a genialidade deste compositor e instrumentista sui generis era infindável. Afinal, mesmo em uma discografia extensa, tanto dos trabalhos solo quanto nos quais compôs bandas e/ou parcerias, muitos desses discos trazem um sopro divinal – com o perdão da expressão. Aqui no blog mesmo já listamos entre os álbuns fundamentais de sua autoria cinco deles: “Blue Train”, “My Favourite Things”, “Crescent”, “A Love Supreme” e “Ascension”. Isso, fora os diversos outros discos nos quais integra bandas, como os memoráveis “Kind of Blue” e “Cookin’”, ambos de Miles Davis e também resenhados no blog. 

Porém, em se tratando de Trane, não só cabem mais discos nessa lista como alguns ainda não incluídos são faltas notórias. Caso do gigante no nome e em conteúdo “Giant Steps”, de 1960, que completa 55 anos de lançamento em 2025. Primeiro trabalho como band leader de Coltrane para a sua então nova gravadora, a Atlantic, na qual produziu alguns de seus melhores trabalhos, o disco é um marco na sua carreira por uma série de motivos. O primeiro deles, além da estreia na nova casa, era que se tratava do primeiro projeto autoral do saxofonista e compositor após as gravações justamente do já mencionado “Kind...”, aquele que é considerado um dos maiores clássicos do jazz de todos os tempos e o de maior sucesso do gênero. “Kind...” fora gravado apenas quatro semanas antes por ele junto a Miles mais Paul Chambers (baixo), Jimmy Cobb (bateria), Bill Evans e Wynton Kelly (pianos). Impossível Coltrane não ter sido contagiado por aquela atmosfera modal concebida por Miles.

Acontece que Coltrane sabia muito bem o que queria expressar em sua música, e a proximidade com as sessões de “Kind...” não foram suficientes para influenciar o centro daquilo que pretendia fazer na estreia pela Atlantic: uma ode ao bebop. Partindo do estilo que o formou, desde a audição de seus ídolos Dexter Gordon, Coleman Hawkins e Lester Young, até os trabalhos solo realizados nos anos anteriores na Prestige e no seu único Blue Note, o memorável “Blue Train”, de um 1959, Coltrane deixou de lado (pelo menos, por ora) o jazz modal e aproveitou para despedir-se do bebop em alto estilo. Ele sabia que seu caminho seria tomado por outras facetas sonoras dali para frente. Era inevitável para um artista sempre em busca da renovação estilística e espiritual. Talvez até nem soubesse ainda quais caminhos seriam estes, mas os intuía. Por esse sentimento de gratidão, então, Coltrane entendeu que ainda não era a hora de apontar para novas fronteiras e, sim, aproveitar a confiança e a profundidade emocional adquiridas com sua experiência até ali e encerrar um ciclo.

A faixa-título é um de seus maiores clássicos, ao nível do que também representam temas como "Blue Train", "Resolution" e "My Favourite Things". Não por coincidência, visto que abre o disco trazendo sua assinatura estilística aliada ao domínio da variação de acordes próprias do bebop. O riff, dos mais conhecidos da história do jazz, larga arrebatando para, na sequência, Coltrane dominar todos os espaços (físicos e emocionais) com um solo de praticamente 4 minutos e meio. Isso, sustentado por outro fator que faz do disco um feito distinto: a banda. Se corria nas veias de Coltrane o sangue “tipo azul” do recente trabalho com Miles, o mesmo fluido mágico pulsava nas dos companheiros Cobb, Chambers e Kelly, que tocam em ambos os discos. Nada é por acaso. 

"Cousin Mary", na sequência, reduz um compasso, mas mantém a força expressiva de quem compunha a partir de progressões de sequências de acordes e tirava, no fim, peças como esta. O piano de Tommy Flanagan (responsável por esta e por mais quatro das seis faixas do álbum) tenta pacificar um pouco o clima, solando com a inteligência concentrada ao estilo de Thelonious Monk. Chambers, no embalo, engata um improviso arejado. Mas Coltrane é sempre intenso, e retorna vigoroso para encerrar a faixa. Embora a reverência ao "antigo", a alma de Coltrane carregava invariavelmente algo pessoal e com o olhar para uma experiência inovadora. Flanagan conta que era um desafio aprender as músicas, pois havia algo de muito especial em cada uma delas, o que os músicos queriam captar em essência. "As músicas não se resolviam do jeito que você espera de uma progressão, embora tudo tivesse uma lógica. Tinha lógica, mas era diferente para a época", relembra.

Se havia até então alguma concessão em amenizar a velocidade e a complexidade características dos be-bopers, a curta mas intensa "Countdown", totalmente formada a partir desses exercícios de progressões de escala altamente técnicas de Coltrane, não deixa dúvidas de que o músico queria venerar a geração de Charlie Parker e Dizzie Gillespie. Também nesta linha, mas injetando aspectos inovadores, "Spiral" – cujo nome dá a entender o sentido de sua estrutura – consegue mesclar a impermanência harmônica do bebop com uma ideia levemente inspirada no modal, em que os blocos de solos do sax, do piano e do baixo, respeitam um “limitante” de escalas, indo e voltando para o mesmo ponto, numa imagem espiral. 

"Syeeda's Song Flute", um blues suingado em homenagem à filha de Coltrane com a então esposa Naima, tem um salutar ar de descontração, que quebra o hermetismo das duas faixas anteriores, trazendo leveza para a narrativa geral. E se Trane acarinha a filha, agora é a vez de fazer o mesmo para com o seu amor. A música que leva o nome da esposa, no entanto, não se trata de qualquer canção romântica que se escuta por aí e logo se esquece. Mesmo separando-se de Naima anos depois (ele casou-se posteriormente com a pianista de jazz Alice Coltrane, com quem teve Ravi Coltrane, também talentoso músico e saxofonista como o pai), esta música guarda um lugar especial em todo o cancioneiro de Coltrane. Afinal, é talvez a maior balada jazz de todos os tempos. Não é exagero afirmar que “Naima”, com sua emotividade e sensibilidade compositiva singulares, está no mesmo patamar que temas clássicos como “Round Midnight”, “Virgo”, “Body and Soul”, “Blue in Green” ou “Embraceable You”. Possivelmente, até mais que estas. A perfeição.

Finalizando, mais um preito, desta vez para o amigo e parceiro Paul Chambers ("Mr. P.C."), um acelerado hard-bop com todos os ingredientes da obra-prima que Coltrane e sua trupe construíam: variações de escala, progressões e harmonias intrincadas apoiadas por muito coração, apuro técnico e intensidade expressiva. Como não se abismar com Coltrane tocando? Ele pisando confiante no seu terreno, o bebop, é puro proveito – e deleite.

O próprio Coltrane conta que “Giant...” foi um adeus à estrada harmônica construída pelos pioneiros do bebop. “Eu não sabia para onde ir em seguida. Não sei se eu já tinha pensado em abandonar os acordes, mas ele chegou fazendo aquilo, eu ouvi e disse: ‘bem, acho que essa é a resposta”. O “ele” a quem Coltrane se refere é Ornette Coleman e a “resposta” é seu revolucionário “The Shape of Jazz to Come”, lançado meses antes e que abriria portas para toda uma nova revolução no jazz: o free-jazz. Coltrane, claro, deixaria igualmente sua marca nesse capítulo inovador do jazz, dando sua contribuição para a história do gênero através também do jazz modal, do avant-garde, do spiritual e do post-bop nos álbuns subsequentes. Considerando que são menos de seis anos até sua morte, pode-se dizer, tranquilamente, que ele só o fez por ser capaz de dar “passos gigantes”, como o próprio nome de seu disco diz. Mas a pergunta inicial era: “como explicar o fenômeno John Coltrane?” Bem, não existe explicação para fenômenos. Eles não têm como serem dimensionados. 

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FAIXAS:
1. "Giant Steps" - 4:43
2. "Cousin Mary" - 5:45
3. "Countdown" - 2:21
4. "Spiral" - 5:56
5. "Syeeda's Song Flute" - 7:00
6. "Naima" - 4:21
7. "Mr. P.C." - 6:57
Todas as faixas de autoria de John Coltrane

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OUÇA O DISCO:


Daniel Rodrigues

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Wayne Shorter - "Etcetera" (1980)

 


Acima, a capa criada em 1965 com 
arte de Patrick Roques e foto de Francis
 Wolff, e, abaixo, a arte para o
lançamento póstumo, em 1980 
“Minha ambição desde o início como engenheiro de gravação era capturar e reproduzir a música melhor do que outros na época. Fui levado a fazer a música soar mais próxima da maneira como soava no estúdio. Essa era uma luta constante - fazer com que os eletrônicos capturassem com precisão o espírito humano.”
Rudy Van Gelder

Destacar como exemplo um trabalho de Rudy Van Gelder, que completou um século de nascimento no último dia 2, é impossível. Ele é a mente e as mãos que moldaram a sonoridade da música mais avançada do mundo, o jazz, ao longo de quatro décadas. O talento de gênios como John Coltrane, Thelonious Monk, Tom Jobim, Don Cherry, Sonny Rollins e Miles Davis certamente não seriam transmitidos com a mesma fidelidade entre aquilo que foi pensado e o que foi gravado não fosse este judeu ex-optometrista nascido em Nova Jersey (EUA) e apaixonado por jazz desde a adolescência, nos anos 30 de Era do Jazz. Dono de uma técnica refinada e própria de engenharia e a masterização de som, Van Gelder, entre outras inovações, foi o pioneiro no uso de técnicas de captação próxima, limitação de pico e saturação de fita para imbuir a música com uma sensação adicional de imediatismo. Sua estética de gravação é dotada de uma inconfundível acústica. Límpida, elegante e orgânica.

Após montar um pequeno estúdio na casa dos pais, na metade dos anos 40, foi na década seguinte que ele passa a realizar as gravações para o selo Vox Records. Um de seus amigos do meio do jazz, o saxofonista Gil Mellé, apresentou-o, em 1953, a Alfred Lion, cabeça da Blue Note Records. Em 1959, muda, então, o Van Gelder Studio para o lendário endereço na Englewood Cliffs, onde assina, por diversas gravadoras como Prestige, Verve, A&M, CTI e, claro, a própria Blue Note, centenas de trabalhos, grande parte deles clássicos absolutos da história da música moderna, como “Maiden Voyage”, de Herbie Hancock, “A Love Supreme”, de Coltrane, ”Walkin'”, de Miles, e “Song for my Father”, de Horace Silver.

São tantas realizações de Van Gelder, que seria impossível resumir em apenas uma. No entanto, “Etcetera”, do saxofonista e compositor Wayne Shorter, é certamente uma dessas extraordinárias joias modeladas por Van Gelder. Gravado na fase áurea de Shorter pela Blue Note, em meados dos anos 60, embora tenha permanecido inédito até 1980, traz na banda Hancock, ao piano; Joe Chambers, bateria, e Cecil McBee, baixo. Há muito considerado um dos melhores álbuns de estúdio do artista, “Etcetera” tem cinco composições de autoria de Shorter, com exceção de “Barracudas” de Gil Evans, um extenso tema modal com atuação especialmente destacável para um possuído Hancock em estado de graça.

A faixa-título, no entanto, encarrega-se de abrir o álbum dando as cartas: jazz modal pós-bop capaz de hipnotizar o ouvinte. Misto de tensão e enigma, “Etcetera” tem incursões esparsas do piano e do sax, que mantém um diálogo o tempo todo. Sustentado pelo chipô e variações tam-tam/caixa de Chambers (que, aliás, encerra a faixa com um excelente solo, cuja espontaneidade Van Gelder soube ressaltar), é mais uma prova do quanto Shorter entende de como abrir bem um disco, assim como os imediatamente anterior “JuJu”, na faixa homônima e também de 1965, e posterior, “Speak no Evil”, de 1966, com a fenomenal “Witch Hunt”.

Balada como só os mestres do jazz sabem compor e executar, “Penelope” é mais do que cativante:  é estonteante. Quanta sensualidade no sax de Shorter! E que leveza do piano até bem pouco de notas carregadas por Hancock na faixa anterior. Aqui, ele equilibra o tempo cadenciado do compasso, enquanto McBee se encarrega de apenas conduzir a saudável lentidão, como um sono prazeroso. Chambers quase se cala, não fosse os leves chispados das escovinhas na caixa da bateria.

“Indian Song”, na sequência, ocupa o lugar especial no cancioneiro de Shorter como uma de suas composições mais intensamente hipnotizantes. Dividida em duas partes, carrega a atmosfera oriental que o músico expressava com frequência desde que se identificou com essa cultura, no início daquela década. "Mahjong", de “JuJu”, e "Charcoal Blues", de “Night Dreamer”, não deixam mentir. “Indian...” também evoca as tradicionais faixas de encerramento de discos de Shorter, invariavelmente a mais rebuscada dos álbuns, tal “Playground” (de “Schizophrenia”), "Armageddon" (de “Night...”) e “Mephistopheles” (“The All Seeing Eye”),

O encontro de Van Gelder com os músicos do jazz é, certamente, um dos maiores acontecimentos da história da música moderna. A técnica, como em raros outros momentos, unia-se de forma amalgamada a uma grande profusão de expressões do mais alto nível musical proporcionadas pelo jazz a partir dos anos 40 nos Estados Unidos. Shorter, foi um desses beneficiados: sua arte maior pode, por obra deste talentoso engenheiro de som com sensibilidade de artista chamado Rudy Van Gelder, ser transmitida com precisão diante daquilo que criou. 

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FAIXAS:
1. “Etcetera” - 5:17
2. “Penelope” - 6:44
3. “Toy Tune” -7:31
4. “Barracudas (General Assembly)” (Gil Evans) - 11:06
5. “Indian Song” - 11:37
Todas as composições de autoria de Wayne Shorter, exceto indicada

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OUÇA O DISCO:

Daniel Rodrigues


segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

A arte do MDC em 2023

E lá se foi mais um ano, ouvintes radioelétricos! Posso dizer, no entanto, o contrário: já se veio mais um ano. Afinal, são quase sete no ar de Música da Cabeça, o programa que comando com muita satisfação na Rádio Elétrica. E como todas as quartas-feiras tem programa novo, tornou-se habitual desde o início que a cada edição houvesse também uma arte. E é aí que a gente entra. Tal no ano passado, quando começamos a fazer essa retrospectiva específica do MDC a exemplo do "A arte do Clyblog", recorrente há mais tempo por aqui, selecionamos algumas das artes criadas para anunciar o programa em 2023, ano dos 15 do blog.

O aviso foi dado anteriormente, mas não custa repetir: não se esperem obras-primas do design gráfico, pois as ferramentas e as habilidades são, se não parcas, básicas. Sei que peco pelo acabamento (um designer profissional deve querer se enforcar a cada vez que vê). Mas não é por mal. Assim como o programa em si, a arte é fruto da vontade de fazer. Até porque, isso dá pra afirmar, busca-se sempre a criatividade, algo que instigue que vê/lê, e até que a coisa sai legal por vezes. Amparadas pelo texto, no qual também invariavelmente tento puxar por algo interessante, as artes se baseiam em acontecimentos da vida cotidiana do Brasil e do mundo que só podem resultar em algo, no mínimo, legal graficamente falando.

Houve a favor, no decorrer de 2023, um caldeirão de eventos para que isso acontecesse. Guerra na Croácia e na Faixa de Gaza, perdas de gente como Rita Lee, Ryuichi Sakamoto, João Donato e Zé Celso Martinez Corrêa, Camões de Chico Buarque, urso em Marte, submarino perdido, 8 de janeiro... É, entre fatos bons e não tão bons, a gente vai contando, quase como uma crônica semanal e musical, aquilo que nos cerca e nos interessa. As artes do MDC são um espelho disso. Então, fique aí com essa seleção do que mais de legal teve em 2023.

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Iniciamos o ano com nada mais, nada menos, que a edição especial de nº 200, que teve a participação à altura: o músico e jornalista pernambucano Fred Zero Quatro, líder da Mundo Livre S/A




Mas nesse Brasil, a festa demora pouco. Uma semana depois da posse do Presidente Lula, 
a barbárie do 8/1, que nos motivou a esta arte para o MDC 301


Enxergaram urso em Marte? A gente enxergou no MDC 304


Em março, ferviam as investigações sobre o "caso das joias"
apreendidas com a comitiva de Bolsonaro, mote pro MDC 311


Ainda em março, a edição 310 teve entrevista especial com meu primo-brother Lucio Agacê,
figura lendária do rock alternativo (e preto) gaúcho





Ramadã, em abril, e o programa também se inspirou pro 314. Ficou bonito


Chico finalmente pôs a mão no certificado do Camões, que, na verdade, era o MDC 316



Em maio, para o especial de nº 320, entrevistamos a psicóloga, musicista e ativista preta gaúcha Caroline Rodrigues


Em junho, a abertura do texto da chamada do programa 321 foi assim: "A gente fotografa a floresta assim,
neste ângulo, só pra que seu olhar se direcione para aquilo que deve". Cara de pau


Lembram daqueles ricaços excêntricos (e sem noção) que se meteram num
submarino sem socorro e não voltaram mais?


Foi uma reprise, mas nem por isso deixamos de comemorar com uma arte especial a primeira edição de julho com o anúncio (quase "ilegígel") da ilegibilidade do Bozo. Só de lembrar, dá vontade de gritar de novo: I-NELEGÍVEEEEL!!



Se houve o que celebrar, também tiveram perdas. E grandes. Ryuichi Sakamoto (abril),
Rita Lee (maio) e Zé Celso Martinez Corrêa (julho) foram três delas




As guerras também, infelizmente, mancharam o calendário, mas viraram arte de denúncia nas edições 324 (julho), 339 (outubro) e 346 (novembro). MDC NO WAR!





Mais perdas, algumas tristes, outras revoltantes: João Donato, em julho e, em agosto, Sinéad O'Connor, e Mãe Bernadete  


Mais uma arte legal, esta pro cabalístico programa 333, último de agosto


É "O Pequeno Príncipe de Maquiavel"? Não, só o MDC tirando sarro da cara de
gente ignorante, mas metida a sabe-tudo (setembro)


Mais uma vez, o 20 de novembro (que agora virou feriado) nos inspirando


Mais edição de data fechada, a de 340, que teve como convidado
a lenda do rock gaúcho Frank Jorge


Adentrando o último mês de 2023, uma arte baseada em grafismos


Talvez a perda mais sentida: Paulo Moreira, nosso "Cabeção", que virou "capa Blue Note"
a la Reid Miles para a nossa edição 349


Quem começa o ano com edição especial, acaba o ano com edição especial: MDC 350, que teve entrevista internacional com o produtor musical cabo-verdiano Djô da Silva (era pra ter  sido um vídeo na época, mas deu problema no programa...)



Daniel Rodrigues



quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Música da Cabeça - Programa #349

 

Imagine Paulo Moreira numa capa de Reid Miles para a Blue Note, que ele tanto gostava? Pois para homenagear nosso querido Paulinho, que nos deixou esta semana, o MDC de hoje faz quase isso com uma programação especial só com o que teve de melhor de jazz no nosso Cabeção, quadro que ele nos inspirou e deu nome. Na playlist, Miles Davis, Charlie Parker, Eumir Deodato e outros, tudo extraído de edições de 2018 até agora. Ao som de jazz, o programa hoje presta este tributo às 21h, na jazzística Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues. (R.I.P., amigo "cabeção")


www.radioeletrica.com

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

John Coltrane - “Blue Train” (1957)

 


"Coltrane pode ter feito álbuns mais importantes, mas nenhum foi tão eficaz quanto este". 
Colin Larkin, criador e editor da Encyclopedia of Popular Music, no livro“All Time Top 1000 Albums”

“Aquela gravação de ‘Blue Train’ era mesmo diferente... dava para ver, havia algo de espiritual”.
Curtis Fuller 

Quando se fala em bandas no jazz, John Coltrane é conhecido pelo quarteto mágico que formou entre 1961 e 1965 ao lado de Elvin Jones, na bateria, Red Garland, piano, e Jimmy Garrison, baixo. Porém, é verdade também que Coltrane nunca deixou de experimentar outros formatos de banda menos enxutos. Compôs, por exemplo, em 1961, para o disco “Olé”, um septeto e para o free jazz avant-garde “Ascension”, de 1965, nada menos que um decateto. A versatilidade para aplicar seu gênio musical, fosse rodeado de menos ou de mais músicos, está, aliás, desde que se tornou um band leader no final dos anos 50. “Blue Train”, seu primeiro e único disco pela cultuada Blue Note e menos de quatro meses depois de sua estreia como líder em outro selo clássico, a Prestige, é fruto da sessão de gravação a 15 de setembro de 1957 com cinco parceiros em estúdio. 

Porém, não se trata apenas de uma mera reunião para mais um mero disco, nem muito menos Trane estava acompanhado de quaisquer músicos. O trompete, sim senhores, estava a cargo do enfant terrible Lee Morgan, então com apenas 19 anos, mas já considerado em toda a Costa Leste norte-americana como um fenômeno do jazz. Além de Morgan, estavam com ele naquele dia no Van Gelder Studios, em New Jersey, só craques: o trombonista Curtis Fuller, maior do seu instrumento à época e sucessor de J.J. Johnson; o já tarimbado pianista Kenny Drew, da escola de Charlie Parker e Johnny Griffin; o jovem baixista Paul Chambers, presença constante a toda turma do be-bop; e o disputado baterista Philly Joe Jones – estes dois últimos, aliás, ex-colegas de Coltrane do famoso primeiro quinteto de Miles Davis. O resultado é um dos maiores clássicos da história do gênero e um dos mais célebres da exitosa, mas curta carreira do artista.

Com uma das aberturas mais emblemáticas da discografia jazz, aquele chorus dos metais marcados pelos dois acordes de piano, a faixa-título é daquelas desbundes provadores de que ali estava pronto, lapidado, já no primeiro projeto solo, o maior nome do jazz: John Coltrane. Como compositor, arranjador e, principalmente, pelo sofisticado e intrincado modo de tocar. Algo único e inédito até então, haja vista que, experimentado nas bandas de Dizzy Gillespie e Earl Bostic, no quinteto de Miles Davis e ex-aluno de Thelonious Monk, Trane unia num só soprar o blues, o spiritual, o be-bop e a vanguarda. Em “Blue Train”, embora um trabalho inicial, já fica notória a forma de tocar de Coltrane num movimento em direção ao que se tornaria seu estilo característico: solos harmônicos e linhas arpejadas em que o tempo muitas vezes está fora ou acima do compasso, estabelecendo sutis conexões com a melodia.

Mas quem não fica para trás são Morgan e Fuller. Convidados de honra para dividirem os sopros com o anfitrião, eles se esmeram em suas participações sempre inspiradas. Caso de “Blue Train”, mas também da gostosa “Moment's Notice”, quando dividem o chorus com Coltrane. Fuller com seu jeito colorido de tocar um instrumento de registro grave. Já Morgan exibe seu virtuosismo possante de viradas criativas, agudos surpreendentes e encadeamentos improváveis. Chambers tira das cordas do baixo através do tanger do arco sons mágicos num solo luminoso. Já o blues ligeiro “Locomotion”, como o nome indica, tem na bateria de Joe Jones o impulso inicial para improvisações de alta habilidade de Coltrane, Morgan e Fuller. Mais uma vez, funciona com perfeição a trinca, com o devido destaque para cada um. Porém, não são somente eles que se sobressaem. Drew é pura elegância, enquanto Jones repete o destaque da abertura num curto, mas marcante improviso.

Diminuindo o ritmo com elegância, a romântica “I'm Old Fashioned”, originalmente da trilha sonora do musical de Fred Astaire “Bonita como Nunca”, de 1942, capta a atmosfera de que Coltrane muito se valeu junto a Miles Davis em suas inseparáveis baladas. Porém, também antecipa o tipo de releitura de standarts do cinema norte-americano que faria a partir de então, culminando na obra-prima “My Favourite Things”, de “A Noviça Rebelde”, o qual versaria em seu álbum homônimo em 1960. A pronúncia lânguida do sax na abertura, articulada com leves salpicos nas teclas, são de arrebatar. Escovinhas na caixa e no prato, um baixo vadio por detrás e um piano machucado dão aquele ar de fim de noite de nightclub

Para terminar, outro clássico, das preferidas dos amantes do jazz e de Coltrane: “Lazy Bird”, brincadeira com a progressão harmônica de “Lady Bird”, do pianista e então recente parceiro Tadd Dameron. A impressionante performance do líder pela metade da faixa quase não deixa perceber que quem a abre com o riff e executa a primeira sessão de improviso não é ele e, sim, Lee Morgan. A inteligência musical de Coltrane é tamanha que, longe de qualquer vaidade, ele percebe que cabia ao trompete esta função dentro do arranjo do tema. E olha que se trata do número de encerramento e para o qual podia, com todas as razões, puxar para si o protagonismo. Mas o que se escuta é, a bem dizer, uma música do repertório de Morgan. Na sequência, Fuller, Coltrane, Drew, Chambers e Jones cada um entra para seu momento, fechando, novamente, com a irreverência vigorosa de Morgan. 

Não por coincidência, "Blue Train" foi um dos trabalhos preferidos pelo próprio Coltrane, que continuaria a promover maravilhas fosse com duos, trios, quartetos, sextetos, octetos... Sua escalada sonora e espiritual ainda revelaria muitos momentos singulares para o desenvolvimento do jazz moderno até seu apogeu criativo naquela que pode ser considerada a trilogia máxima: "Crescent", "A Love Supreme" e "Ascencion". Porém, nada disso seria construído não fossem os trilhos abertos por este "trem azul", a linha de partida para o estilo hipnótico e exultante que o músico seguiria até sua prematura estação final, em 1966. Quase uma metáfora para um artista que passou pelo planeta "blue" na velocidade de um trem, iluminando por onde passava e emanando os sons que simbolizam o supremo.

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FAIXAS:
1. "Blue Train" - 10:43
2. "Moment's Notice" - 9:10
3. "Locomotion" - 7:14
4. "I'm Old Fashioned" (Johnny Mercer, Jerome Kern) - 7:58
3. "Lazy Bird" - 7:00
Todas as composições de autoria de John Coltrane, exceto indicada

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OUÇA O DISCO:


Daniel Rodrigues

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

As Minhas 14 Preferidas de Suzanne Vega (16, na verdade)


Tem convites que são mais presentes que pedidos. Falar de Suzanne Vega já é algo que me apraz. Afinal, não é de hoje - desde os anos 80, pra falar a verdade, lá se vão mais de 30 anos - que admiro imensamente a obra desta artista californiana dona de um estilo muito próprio e sofisticado de música pop. Já a resenhei em duas ocasiões nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS aqui do blog, aliás. E o convite? Montar uma lista com 14 músicas preferidas do cancioneiro de Miss Suzanne. Um pedido mais que uma ordem, ainda mais vindo de outro fã da artista, meu amigo igualmente radialista André Buda, para a montagem de um programa especial O Método Buda de Controle Mental na Internova Rádio Web. Aí, falar de Suzanne Vega e montar lista não é tarefa: é juntar dois prazeres.

Muito já compartilhamos André e eu impressões em relação a ela e sua encantadora música. Parte delas, pois, está nesta listagem. A melodista incrivelmente criativa. A poeta e songwritter folk. A feminista consciente e existencialista. A cantora da voz de cristal e da dicção perfeita. A conhecedora de todos os caminhos para uma composição pop e cantarolável. A exímia violonista. Enfim, características que vão aparecendo no decorrer das selecionadas e que denotam, todas a seu modo, uma arte pop altamente elegante. 

Porém - e isso é uma das premissas que levou André a me convidar a colaborar tanto quanto o gosto que comungamos - o óbvio foi evitado. Ou seja, o megahit "Luka" e até "Tom's Diner", que tocou bastante no início dos anos 90 com o remix dance feita pela dupla inglesa D.N.A., não estão contemplados. Adoro ambas as músicas, aliás, mas Suzanne é muito mais do que elas. Está aqui, sim, uma playlist de 16 canções na ordem cronológica de suas feituras que, para além de transmitirem essas características as quais mencionei anteriormente (bem como outras possíveis de serem percebidas), o que se dá naturalmente, refletem a versatilidade da autora ao longo dos quase 40 anos de carreira e dão, assim, a dimensão de seu talento e de sua rica obra. 

Ah! E deram 16 faixas no final, pois convenci André de socar mais duas além das que tinha pedido. Coisa de fã, consentimento de outro fã. Mesmo assim fiquei me coçando pra incluir outras amadas, como "Book of Dreams", "Night Vision", In Liverpool", "Unbound", "Pornographer's Dream"... Paciência. Mas a quem estiver lendo esta seleção, além das escolhidas, recomendo fortemente a audição destas aqui também, quando não de seus discos completos.

Seja folk, bossa nova, ethnic, blues, jazz, punk, rap, tecno ou clássica. Tudo está na voz e no violão de e uma das artistas mais completas da música pop. Uma pequena deusa, que nem todos acham ou sabem. Mas André e eu concordamos com isso, isso que importa.

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O emblemático
primeiro disco
1. "The Queen and the Soldier"
(de Suzanne Vega”, de 1985)

A veia literata da filha de professora e poeta num folk “coheniano”. Suzanne no primeiro disco dizendo a que veio. 



 
2. "Ironbound / Fancy Poultry" (de “Solitude Standing”, de 1987)
Quanta elegância musical dessa mulher, credo! Folk-soul-pop com pitadas de bossa nova - sem ser nenhum deles propriamente dito. 

 
3. "Tired of Sleeping" (de “Days of Open Hand”, de 1990)
Perfect pop pra começar arrasando o terceiro disco. Daquelas perfeitas em tudo: letra, arranjo, estrutura, canto, poesia. 


O ótimo "Days...", com 3
na lista
4. "Rusted Pipe" (de “Days of Open Hand”, de 1990)
Afropop com a elegância só dela. Craque em melodias de voz. 
OUÇA AQUI
               







5. "Fifty-Fifty Chance" (de “Days of Open Hand”, de 1990)
A mais beatle de todas de Suzanne, e ainda com arranjo de Philip Glass. Que luxo. 


              
6. "Rock in This Pocket (Song of David)" (de "99.9 F°", de 1992)
Pedrada feminista pra arrancar o ótimo 99.9. Suzanne se renova em alto estilo. 


7. "Blood Makes Noise" (de "99.9 F°", de 1992)
Eletrorap com o fluxo sanguíneo como batida, é isso mesmo? Genial (e um baita clipe)



8. "99.9 F°" (de "99.9 F°", de 1992)
De novo a África correndo nas veias. Sensual pra caralho. 


9. "Blood Sings" (de "99.9 F°", de 1992)
Literalmente, encarnada. Das melodias misteriosas de Suzanne. Triste, triste! Mas linda, linda! E como toca violão, como canta com afinação e assertividade, cruzes! 


10. "Birth-Day (Love Made Real)" (de “Nine Objects of Desire”, de 1995)
Essa vem lá de dentro da selva, de tão orgânica que é. Começo arrasador do melhor disco de Suzanne. 

11. "Caramel" (de “Nine Objects of Desire”, de 1995)
Sinceramente: só uma grande compositora pra fazer uma bossa nova com essa elegância e personalidade sem ser brasileira



12. "Thin Man" (de “Nine Objects of Desire”, de 1995)
Outro samba da brasileirinha Suzanne. Quanta sensualidade - e letra na primeira voz feminina. 


13. "World Before Columbus"
 
(de “Nine Objects of Desire”, de 1995)
Das mais tocantes de sua quase irretocável obra. Que letra, que melodia! Quanta beleza! 


Filme brasileiro
"Jenipapo"
14. "Ignorant Sky"
(da trilha sonora do filme “Jenipapo”, de 1995)

A única que não é de sua autoria, mas o motivo é grandioso, pois é parceria de Philip Glass com Antonio Cícero. Tá bom? 


 

15. "Penitent" (de "Songs in Red and Gray", de 2001)
A songwriter ataca de novo! Que fineza ao cantar! Outra abertura de disco. 



Arte do Blue Note
"B&C"
16. "Zephyr & I"
(de “Crime and Beauty”, de 2007)

A música de Suzanne já é charmosa, agora imagine gravada pelo selo Blue Note?! E como sabe abrir um disco, né?




Daniel Rodrigues