Curta no Facebook

Mostrando postagens classificadas por data para a consulta "O Regresso". Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por data para a consulta "O Regresso". Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 3 de abril de 2023

Ryuichi Sakamoto - "Beauty" (1989)

 

"O mundo dá adeus comovido a um dos seus maiores músicos."
Caetano Veloso

“O que eu quero fazer agora é música livre das restrições do tempo.”
Ryuichi Sakamoto

Como pode a gente se apegar a alguém que nunca se viu pessoalmente – nem sequer através da distância plateia/palco como se dá a artistas a que se assiste – e que está a quilômetros de ti, noutro país? Neste caso, não somente noutro país, mas ainda mais longe, noutro continente, no outro lado do mundo. No Japão. Ryuichi Sakamoto era, é, como um parente sanguíneo na minha casa. Ele é seguidamente convidado a entrar, sentar-se ao sofá, estender-se na cama, a cozinhar ouvindo música. Sempre aceitou os convites com a gratidão e a sapiência calma dos orientais. Embora toda esta intimidade, obviamente, o parentesco não existe. Nem sequer, como abri dizendo, conheci-o pessoalmente quando em vida - quanto menos conhecemo-nos, de ele e eu reconhecerem-se mutuamente como fazem os próximos. Eu, brasileiro fruto da África e da Europa. Ele, japonês, filho de dinastias orientais longevas.

Então, como se explica tamanha familiaridade, tamanha cumplicidade? Bastam poucas audições de sua grandiosa e universal música para se entender. Afora a proximidade dele com a música daqui do Brasil, a qual não apenas admirava como atuava a se ver pelas parcerias com Caetano Veloso, Arto Lindsay, Marisa Monte, Jacques Morelembaum e outros, a obra de Sakamoto, mesmo as mais identificavelmente orientais, pertencem ao Planeta. Até mesmo quando diversas vezes usou os elementos folclóricos típicos do Japão em sua música, Sakamoto o fez à sua maneira: abarcante, cosmopolita, conectada, democrática, inclusiva. Soava japonês, mas africano, americano, indígena, nórdico. Soava a todos os povos. 

Sakamoto, de fato, são muitos. O Sakamoto do final dos anos 70, que ajudou a cunhar o synth pop e a new wave com a precursora Yellow Magic Orchestra e que tanto inspirou grupos do Ocidente como Cabaret Voltaire, Human Leaugue, New Order, Depeche Mode. O Sakamoto maestro, que regeu a Filarmônica de Tóquio. O Sakamoto dono de uma das discografias mais ecléticas e diversas da música pop, com trabalhos que vão desde o experimental à bossa nova, passando pela eletrônica, o erudito e a trilhas sonoras. O Sakamoto instrumentista, colaborador de obras marcantes do pop-rock, como da Public Image Ltd., David Sylvian, Thomas Dolby e Towa Tei. O Sakamoto que engendrava trabalhos multiplataformas, que cruzavam música, artes visuais e performance. 

"Beauty", seu oitavo disco solo, de 1989, é, afora a própria nomenclatura, um resumo de uma concepção de mundo múltipla, pois humanista e libertária. Gente de todas as nacionalidades tocam em suas 11 faixas. Suíça, Senegal, Brasil, Inglaterra, Japão, Espanha, Jamaica, Índia, Estados Unidos, Burkina Faso, Canadá, Coréia... Sakamoto realizou, com a naturalidade de um mestre sensei, a conjunção difícil da world music, aventada por alguns, mas nem sempre acessível e palatável. "Beauty" aprofunda a experiência lançada em “Neo Geo”, seu álbum anterior, convidando para este passeio sonoro músicos da mais alta qualidade e diferentes vertentes, como o icônico beach boy Brian Wilson, o veterano “The Band” Robbie Robbertson, a poesia ancestral de Youssou N'Dour, os percussionistas africanos Paco Yé, Seidou "Baba" Outtara e Sibiri Outtara, os jazzistas Mark Johnson e Eddie Martinez e mais uma turba de conterrâneos arraigados na música tradicional oriental. 

Do Brasil, especialmente, Arto toca guitarra, canta e coassina com ele cinco faixas, entre elas as tocantes “A Pile Of Time”, com o som característico do gayageum coreano; “Rose”, com percussões de ninguém menos que Naná Vasconcelos, e a linda “Amore”, que além da sonoridade arábica do shekere e da batida especial do talking drum, tem contracantos de N'Dour sobre os simples versos cantados pelo próprio Sakamoto: “Good morning/ Good evening/ Where are you?” De arrepiar.

Os encantos não param por aí. O craque Robert Wyatt empresta sua dolorida voz para Sakamoto versar Rolling Stones em "We Love You", que tem ainda as contribuições do congolês Dally Kimoko na guitarra, do britânico Pino Palladino no baixo, do porto-riquenho Milton Cardona no shekere e de coro multiétnico encabeçado por Wilson, Kazumi Tamaki, Misako Koja, Yoriko Ganeko e o próprio Sakamoto. Tem ainda “Calling From Tokyo”, a faixa de abertura, um art-pop com a bateria jamaicana de Sly Dunbas e a tabla indiana de Pandit Dinesh; a espetacular “Diabaram”, com a voz penetrante de N'Dour, que faz remeter a uma humanidade pacífica da Ática-Mãe quiçá perdida; a contemplativa “Chinsagu No Hana”, adaptação de canção tradicional do folclore de Okinawa, assim como “Chin Nuku Juushii”, de “Neo Geo”; “Asadoya Yunta”, cujo inconfundível som do samisém tocado pela japonesa Yoriko Ganeko lhe confere séculos de conhecimento, e “Romance”, totalmente oriental, mas totalmente planetária.

Por essa riqueza toda que a obra de Sakamoto carrega que fico chateado (mas não surpreso) com as manchetes de anúncio de sua morte, ocorrida no último dia 28, aos 71 anos. As notícias de veículos referenciais da imprensa dão conta, em sua maioria, de que: "Morre Ryuichi Sakamoto, célebre compositor que levou o Oscar por 'O Último Imperador'". Ora, Oscar é importante, sim, mas ESSE é o destaque para se falar em Sakamoto?! Pegando-se apenas o cinema, não precisa ser um fã ou profundo conhecedor de Sakamoto para apenas atentar-se a outras trilhas sonoras assinadas por ele e perceber o quanto sua obra se entrelaça com as nossas vidas há décadas, a exemplo de “De Salto Alto”, "Femme Fatale", "O Regresso" e "Black Mirror".

Sakamoto, como Akira Kurosawa, me mostrou há muitos anos que essa dicotomia Orient-Occident, tal o yin-yang taoísta, serve para a geografia ou a estadistas divisionistas. Se Kurosawa quebrou as barreiras ao levar para o cinema do Oriente Shakespeare, Dostoiévski e Gorki, intercambiando, igualmente, a cultura japonesa com o Ocidente, Sakamoto fez, a seu curso, semelhante trajeto. Ao atravessar o Greenwich com sua música, provou que não existem divisões na humanidade. Difícil ensinamento para um mundo tão desigual e superficial... E mais: mostrou que lhe existe, sim, o belo. Sakamoto, esse meu ente que se foi. Mas só de corpo físico. As outras matérias ele generosamente deixou para nós mundanos através dos sons. Por isso, estará sempre presente aqui em casa, pois sabe que a porta está permanentemente aberta para ele entrar com sua beleza e ficar quanto tempo quiser. 


RYUICHI SAKAMOTO 
(1952-2023)



***************
FAIXAS:
1. "Calling from Tokyo" (Arto Lindsay, Roger Trilling, Ryuichi Sakamoto) - 4:26
2. "Rose" (Lindsay, Sakamoto) - 5:12
3. "Asadoya Yunta" (Katsu Hoshi, Choho Miyara) - 4:35
4. "Futique" (Lindsay, Sakamoto) - 4:09
5. "Amore" (Lindsay, Sakamoto) - 4:55
6. "We Love You" (Mick Jagger, Keith Richards) - 5:16
7. "Diabaram” (Sakamoto, Youssou N'Dour) - 4:13
8. "A Pile of Time" (Lindsay, Sakamoto) - 5:34
9. "Romance" (Kazumi Tamaki, Misako Koja, Yoriko Ganeko, Stephen Foster) - 5:29
10. " Chinsagu no Hana" (Folclore japonês) - 7:26
Faixa Extra da versão CD americana*
11. "Adagio" (Samuel Barber) - 7:47 


***************
OUÇA O DISCO:


Daniel Rodrigues


quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Black Alien - “Abaixo de Zero: Hello Hell” (2019)

 

"Quem precisa de correntes de ouro pra ser Gustavo?/
Quem precisa de correntes de ferro pra ser escravo?"
Da letra de "Área 51"

“Eu sou o agora.”
Da letra de "Que nem o meu Cachorro"

Após os Racionais MC’s terem aberto a porteira para o novo rap brasileiro nos anos 90, uma questão se formou: identificar este gênero musical dentro do contexto da música brasileira. Por incrível que pareça, não foi aquele que lançou a principal interrogação pós-“Sobrevivendo no Inferno” quem matou a charada. Se Marcelo D2 foi quem propôs encontrar “a batida perfeita”, a qual pressupunha uma junção do estilo marginal e urbano norte-americano com o samba brasileiro, coube a outro ex-Planet Hemp ser o verdadeiro achador deste formato próprio de um hip hop que respondesse aos anseios de seus criadores e de um novo mercado fonográfico no Brasil: Black Alien. Não é de se estranhar, afinal Gustavo de Almeida Ribeiro sempre se diferenciou dentro da Planet. Enquanto os outros integrantes exauriam o discurso do “Legalize Já!”, este carioca de São Conrado mostrava-se conectado com uma infinidade de referências como jazz, literatura, psicanálise, pós-punk e cinema cult, visão “extrapunk/extrafunk” que lhe dava mais condições de perceber além, de ver que o grito libertário da geração pós-Ditadura deveria ser necessariamente mais amplo. Tanto foi coerente e certeiro que, em seu primeiro disco solo, “Babylon By Gus Vol. 1 – o Ano do Macaco”, de 2004, foi ele quem, na esteira de Sabotage e seu "Rap É Compromisso!", de três anos antes, encontrou a tal batida perfeita. Chegava-se, enfim, ao que se pode chamar de rap brasileiro.

Acontece que, se a batida é perfeita, as quebradas são tortas. O cara que abriu as portas para que viessem a público os novíssimos talentos do rap brasileiro, como Criolo, Emicida, Rincon Sapiência e Baco Exu do Blues, levou mais de uma década para lançar um segundo trabalho, o irregular “No Princípio Era o Verbo – Babylon by Gus, Vol. II”. Neste meio tempo, Criolo já havia colocado o gênero de ponta-cabeça com o revolucionário “Nó na Orelha”, em que abria um paradigma como há décadas não se via na música brasileira, Emicida reinventava o discurso da negritude, Rincon retornava às raízes da África para forjar uma nova poesia nagô e Baco elevava o estilo ao nível de art-rap como apenas ousaram MF Doom e Beastie Boys. Black Alien parecia haver perdido o passo, perdido o tempo da batida. Alguma coisa haveria de estar imperfeita – e estava. A dependência química, hábito da adolescência, tomava dimensões indesejáveis na vida do músico a ponto de lhe atrapalhar a carreira e a produção artística. A ponto de quase o deixar à sombra de seus discípulos.

Só que, como diz o próprio Black Alien: “Não ir pra frente é retrocesso, nada que vale a pena é fácil”. Precisou, então, descer abaixo do nível zero e dar um alô para o diabo para que ressurgisse. Limpo das drogas e de tudo que não lhe interessava, Black Alien, como a fênix, lança, 17 anos depois da estreia solo, seu terceiro e melhor álbum: o corajoso e autorreferencial “Abaixo de Zero: Hello Hell”. Coeso, tal grandes discos da MPB do passado tem curta duração, o suficiente para apresentar, em menos de 10 faixas, uma música altamente impactante e bem produzida feita basicamente a quatro mãos com o produtor carioca Papatinho nas composições, beats, samples e programações. Black Alien desfila, com uma poesia áspera e sofisticada, visto que rica em figuras de linguagem e rimas rebuscadas (dos tipos emparelhada, coroada, preciosa, entre outros), versos confessionais e conscientes sobre drogas, religiosidade, existência e política, mas sem cair no enfadonho. Pelo contrário. "Área 51", que abre o disco, manda ver em versos brilhantes como estes: “Invicto no fracasso, invicto no sucesso/ A gata mia, boemia aqui não me tens de regresso/ De boa aqui na minha, não foi sempre assim, confesso/ Levitei em excesso, neve tem em excesso/ A costela quebrada me avisa quando eu respiro/ A favela e a quebrada te avisam quando me inspiro”. E o refrão é impagável: “Vim pesadão ninguém vai me ‘dirrubá’/ E problema com pó quem tem é o dono do bar”.

Outra joia confessional, o charme-soul “Carta pra Amy” nem precisa mencionar a homenageada em sua letra para dar o recado. Versos doloridos e inspiradíssimos aprofundam a ideia central do disco, elevando a reflexão a questões existenciais e da religiosidade (“Jurei por Deus que ia acertar as contas/ E aí lembrei que é Deus quem acerta as contas/ Ele acerta no início, no meio, e no fim das contas”). Mas sempre com a visão catalisadora, como nesta passagem em que traz a banda de David Byrne como referência: “Vencer a mim mesmo é a questão/ Questão que não me vence/ Minha cabeça falante fala pra caralho/ E aí my talking head stop makin’ sense”. Usa este mesmo último verso, aliás, para criar outra analogia, numa rima indireta com o nome Byrne: "No confinamento as paredes são minhas páginas de cimento/ Babylon burn." Sem deixar, ainda, de alfinetar a demagogia dos ex-companheiros de grupo (“Quando legalizarem a planta/ Qual vai ser o seu assunto? Cara chato”), Black Alien guarda para o refrão o mais alto nível poético e literário em que conjuga Bob Marley, William Faulkner e C.J. Young num tempo: “Mostre-me um homem são e eu o curarei/ You’re runnin and you’re runnin’ and you’re runnin’ Away/ Não posso correr de mim mesmo/ Eu sei, nunca mais é tempo demais/ Baby, o tempo é rei/ Em febre constante e o dom da cura/ Nem mais um instante sem o som e a fúria”.

A dissonante “Vai Baby” literalmente descontrói o compasso para problematizar a questão do sexo neste novo contexto de vida longe das drogas. Mais uma vez, contudo, a veia poética faz com que Black Alien não recorra a um artifício óbvio, mencionando o filme “Mais e Melhores Blues”, de Spike Lee (1990), para representar, numa metonímia, a ideia do casamento entre erotismo e música negra. “Quero mais e melhores blues/ Com água sob os pés, sobre a cabeça, céus azuis/ Mais e melhores jazz, mais e melhores Gus/ Só de tá na busca, eu tô além do que eu supus”. Passo além dentro da própria obra de Black Alien, lembra em temática “Como eu te Quero”, sucesso de seu primeiro disco, porém noutro nível de maturidade.

Outra pungente, "Que Nem o Meu Cachorro", com um belo e circunspecto riff jazzístico de piano, fala da força de vontade para manter-se sóbrio, num esforço artístico e pessoal de autorreconhecimento. Black Alien diz a si mesmo: não esquecer para não reincidir. “Bem-vindo ao meu lar, cuidado pra não tropeçar, a mesa ainda tá aqui, porém mudei certezas de lugar”, alerta. A animalização causada pela dependência química (“Tô que nem o meu cachorro no domínio do latim”) é suplantada pela consciência do “só por hoje”, “pois”, como diz a letra, “a zona de conflito é minha zona de conforto, e a estrada pro inferno se desce de ponto morto, então parou com a zona”. E finaliza: "Não tô nem aí, nem lá, tô bem aqui, além do que se vê/ Se vêm baseado no passado, só há um resultado: 'Cê' vai se fuder.”

Referência direta ao cool jazz e a Dave Bruback, “Take Ten” adiciona ao relato pessoal a crítica ao sistema: “Quem me viu, mentiu, país das fake News/ Entre milhões de views e milhões de ninguém viu”. Além disso, estão num mesmo caldeirão John Coltrane, Disney, Dr. Jekyll Mr. Hyde e Jimi Hendrix e anáforas geniais como estas: “Hoje cedo no Muay Thai de manhã/ Outros tempos, só Deus sabe onde ia tá de manhã/ O cara vai ter pra adiantar de manhã/ Praticava o caratê de rá-tá-tá de manhã”. 

Sensual e picante como já havia trazido em “Vai Baby”, “Au Revoir”, no entanto, também reflexiona a relação amorosa imbricando-a com a passagem do tempo e, novamente, o sentimento de atenção ao presente: “Não tem como saber sem ir/ Aonde a gente vai chegar/ Au revoir/ Mais e melhores blues/ Assinado Guzzie”. Como diz Fernando Brant em naqueles versos clássicos: “O trem que chega é o mesmo trem da partida”. Já a tocante "Aniversário de Sobriedade" relembra com distanciamento o Gustavo “fundo do poço” para que o mesmo não seja esquecido. Que letra! Ao mesmo tempo forte, autocrítica e filosófica e na qual Black Alien cita até Nietsche. Metalinguística, referencia a sua própria obra “Babylon By Gus” para escancarar seu comportamento no passado e o quanto isso o fez desperdiçar oportunidades: “Vishh!!!/ Meu ‘cumpadi’ que fase/ Me olho no espelho ‘mas Gustavo, o que fazes?’/ Cadê as letras?/ Esqueceu da caneta/ Fica só cheirando em cima do CD de bases/ Os beatmakers, os melhores do país/ E eu só vou pra Jamaica pra acalmar o meu nariz/ Mete a venta e não produz/ Bye bye Gus, babylon by trevas volume zero, sem luz”. No estúdio com ele e Papatinho, ainda Julio Pacman nos teclados e o suingado solo de sax de Marcelo Cebukin.

Black Alien reserva para o fim de um disco irretocável aquilo que desde a Planet foi seu forte, que é a crítica social. Porém, “Jamais Serão” traz esta verve agora filtrada pelo "despertar temporão" do novo Gustavo, percorrendo uma lógica que vai do particular para o público. Tradução da era Temer, que havia se instaurado com o golpe político-jurídico à época da feitura de “Abaixo de Zero...”, a música astuciosamente prevê que o pior ainda viria no governo Bolsonaro. No entanto, alerta com esperança que "presidentes são temporários". E sentencia: "música boa é pra sempre/ esses otários jamais serão".

Rap, trap, reggae, funk, rock, charme, soul, jazz e R&B. Deu para perceber que não se fala de samba? Pois é: Black Alien não só achou a “batida perfeita” acalentada por D2 quanto, ainda, desmistificou que rap no Brasil precisa ser “tropicalizado”. A se ver por um estilo pós-moderno e de origem suburbana que é, não haveria de precisar abrasileirar-se para se tornar essencialmente brasileiro visto a semelhança socioantropológica que une as nações de diáspora negra. Com uma sonoridade quase doméstica e despida de rodeios – ao contrário do caminho tomado por D2, Emicida e, principalmente, Criolo, que evoluiu para um som além do próprio rap – o feito de Black Alien conquistou o Prêmio Multishow como Disco do Ano e foi eleito o Melhor Álbum pelo Prêmio APCA de Música Popular. “Abaixo de Zero...”, no entanto, mostrou muito mais do que um encontro classificatório para as prateleiras de lojas ou playlists de streaming. O principal achado não estava fora, mas dentro do próprio artista. Afinal, Black Alien entendeu que ele é “o agora”.

***********
FAIXAS:
1. "Área 51" - 2:46
2. "Carta pra Amy" - 4:23
3. "Vai Baby" - 2:57
4. "Que Nem o Meu Cachorro" - 3:31
5. "Take Ten" - 2:33
6. "Au Revoir" - 3:27
7. "Aniversário de Sobriedade" - 2:45
8. "Jamais Serão" - 2:59
9. "Capítulo Zero" - 1:27
Todas as composições de autoria de Black Alien e Papatinho

***********
OUÇA O DISCO:

Daniel Rodrigues

terça-feira, 18 de setembro de 2018

"Alfa", de Albert Hughes (2018)


O faro quase instintivo para escolher um filme para assistir tendo em mãos poucas informações a seu respeito me ajudou a fazer uma escolha acertada dias atrás, quando Leocádia e eu aproveitamos a promoção “PartiuCinema”, do Praia de Belas Shopping, em Porto Alegre, para pegar um cineminha durante a semana. A opção foi pelo longa “Alfa”, de Albert Hughes (2018), no qual apostamos e não saímos decepcionados. Pelo contrário: ficamos muito surpreendidos positivamente. Muito bem conduzido em seu todo, com imagens exuberantes e fotografia caprichada, entre outras qualidades, o longa é uma daquelas atrações cinematográficas aptas a qualquer tipo de público sem desmerecer a inteligência de nenhum deles.

Na história, que se passa há 20 mil anos na Europa, na Era do Gelo, o jovem Keda (interpretado por Kodi Smit-McPhee), passa a lutar pela sobrevivência quando, após um acidente, é abandonado por sua tribo, que pensa que ele havia morrido. Dentre os diversos desafios que tem de enfrentar para tentar retornar à sua aldeia, Keda, já muito machucado, é atacado por uma matilha. Ele consegue ferir um dos lobos, mas decide não matar o animal, de quem passa a cuidar e com quem estabelece uma relação de amizade a partir de então.

A impressionante cena do ataque do javali a Keda
Com um ritmo narrativo muito bem orquestrado pela direção de Hughes (“Do Inferno”, 2001, e “O Livro de Eli”, 2010, ambos codirigidos com seu irmão, Allen Hughes) e em uma montagem eficiente (a cargo de Martin Gschlacht), o filme constrói uma verdadeira saga, a qual faz trazer à tona elementos inatos da natureza humana, como o medo, a solidão, a culpa, mas também o amor, a amizade e a força interior. Igualmente, os laços familiares, como a ancestralidade e a ligação emocional com os pais, fonte de todas as representatividades da existência. É este amor profundo de pai e mãe que, unindo coração e coragem, faz Keda se transformar como indivíduo e superar os obstáculos com os quais se defronta no caminho. E não são poucos! Impressionantes as sequências do ataque aos javalis logo no início e a de sua queda nas águas geladas, com as imagens subaquáticas emocionantes.

Tudo no filme é conduzido, entretanto, com muito equilíbrio. Sem exageros nem vazios. Isso se reflete num dos trunfos de “Alfa”, que é seu equilíbrio de planos e movimentos de câmera. Hughes segue um storyboard bem desenhado, o qual usa com inteligência tanto nos enquadramentos mais próximos do objeto filmado (feições faciais, expressão dos olhos, “tomadas de ombro” do animal para o protagonista e vice-versa) como, principalmente, sabe se valer muito bem da imensidão da natureza selvagem do cenário – com montanhas, campos, cavernas, céu e outros – em ótimos plongées aéreos e planos longos, que requerem muita habilidade para serem utilizados sem causar sensação de distanciamento no espectador quando não deve ou precisa.

A fotografia bem cuidada, que explora a
imensidão da natureza selvagem
Igualmente integrado, o argumento inicial, de que ali começou na história da humanidade a convivência entre pessoas e animais da forma como a concebemos hoje, doméstica e amigável, embora careça de maior investigação socioantropológica, parece totalmente plausível da forma como é contextualizada no enredo.

Até nas referências a outros filmes “Alfa” é certeiro. Há momentos em que, pela temática, estética e ambientação, lembre “O Regresso” (2016), porém com um protagonista não motivado pela vingança, como no longa de Alejandro González Iñárritu, mas, sim, por um sentimento muito mais elevado, que é o amor. Igualmente, Hughes faz breves e bem-vindas alusões ao oitentista “Koyanisquaatsi”, o clássico documentário-visual de Godfrey Reggio, nas cenas em que a câmera percorre rapidamente os vales sob a sonorização de uma música levemente minimalista, a qual lembra, obviamente, a que o genial compositor Philip Glass criou para a obra de 1983 e que se tornou escola para o audiovisual mundial desde então. Até "Era uma Vez no Oeste", o memorável faroeste spaghetti de Sergio Leone (1968) é resgatado com propriedade.

Enquadramento de "Alfa" inspirado no
clássico  "Era Uma Vez no Oeste"
Todos esses predicados fazem de “Alfa” um épico dos tempos modernos do cinema. Para além de pretensos épicos, lançados às pencas todos os anos e que necessariamente não sustentam tal condição, o filme de Hughes consegue este feito numa boa, sem forçar a barra. Chega a ser até estranho (não frustrante, não entendam mal!) em se tratando de cinema norte-americano: nem nos momentos em que podia forçar as lágrimas do espectador, isso não acontece. Seria até aceitável, a considerar que todo o restante até então explora outros estímulos que não o sentimentalismo. E não ocorre nem no clímax, quando se revela ser, na verdade, uma loba e não um animal macho que acompanhou Keda. A cena é bonita, tocante e simbólica, mas não apelativa.

“Alfa” é um programão tanto para as crianças quanto para os vovôs, pois é apto a que todos se entretenham, vibrem e se envolvam com essa bem contada história. Feito cada vez mais raro no cinema, uma vez que os nichos temáticos e o empobrecimento dos conteúdos (mal ajudados pela febre dos remakes e franquias) tomam conta de boa parte da produção cinematográfica dos grandes estúdios. Neste sentido, o filme carrega também um pouco de “O Urso”, de Jean-Jaques Annaud, de 1989, capaz de unir todos os tipos de classificação – ou melhor, dissolvê-los. Por fim, “Alfa”, como um bom filme de busca, tal como no mais alto cinema de Abbas Kiarostami ou Win Wenders, nos impele a refletir sobre qual realmente é a maior aventura empreendida: a das emoções físicas vividas no percurso ou aquela que nos faz viajar pelas descobertas do próprio íntimo? A nós, espectadores e amantes dos pets, fica também a mostra do quanto os animais de estimação, em suas consciências discutivelmente irracionais, ensinam aquilo que é principal na vida - inclusive a apurar o faro para escolher um bom filme como este para assistir.

tralier de "Alfa"


Daniel Rodrigues

terça-feira, 11 de outubro de 2016

“Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho (2016)


A força de ressignificação
 por Daniel Rodrigues



Um dos trunfos do cinema moderno é o da subversão. Mais do que somente a criatividade estética trazida pelos cinemas novos ou da reelaboração narrativa proposta pelos “rebeldes” da Hollywood nos anos 70, o elemento que de alguma maneira transforma o status quo, que contraria o esperado pelo inconsciente coletivo, é o que determina com maior eficiência a ponte entre moderno e clássico em cinema. Afinal, por que até hoje é tão impactante o pastor assassino de “O Mensageiro do Diabo” ou a brincadeira com a dualidade de gênero de “Quanto Mais Quente Melhor”, mesmo ambos os filmes contados em narrativa tradicional?  Em “Aquarius” (2016), o diretor Kleber Mendonça Filho, diferente do que fizera em seu filme anterior, o ótimo “O Som ao Redor”, vale-se desta premissa com sucesso ao reelaborar, hibridizando ambas as formas, significados muito peculiares do universo da história que se propôs a contar, construindo uma narrativa impregnada desses elementos não raro surpreendendo o espectador.

O longa conta a história de Clara (Sônia Braga, magnífica), uma jornalista e crítica de música aposentada. Viúva, mãe de três filhos adultos e moradora de um apartamento repleto de livros e discos na beira da praia da Boa Viagem, em Recife, ela se vê ameaçada pela especulação imobiliária quando a empresa detentora do seu edifício – o emblemático Aquarius – tenta a todo custo tirá-la de lá para demolir o prédio e construir um empreendimento gigante e pretensamente moderno. Fiel a suas convicções e sabedora de seus direitos, Clara resiste, não sem consequências e retaliações.

As praias de Recife, elemento presente nos filmes
de Kleber Mendonça Filho.
Antes de qualquer coisa, impossível dissociar a história de Clara do momento do Brasil. O embate entre o poder estabelecido do capitalismo e a resistência do pensamento humanístico, à luz do maniqueísmo ideológico que tomou o País nos últimos anos, fazem de “Aquarius” um símbolo do cinema brasileiro da atualidade, o que, em parte, explica o sucesso de bilheteria (mais de 55 mil pessoas já assistiram). Entretanto, é a forma com que Mendonça Filho escolha para contar que faz de “Aquarius” uma obra marcante e, talvez, tão apreciada. Ele vale-se de elementos da cultura de sua terra natal, Pernambuco, e principalmente da Recife enquanto símbolo de metrópole brasileira, com seus medos, violências, angústias e neuroses, mas também as benesses: a ligação com o mar e o mangue, o desenho da cidade, sua rica cultura e suas memórias. Aliás, memória é o substrato do filme. Contrapondo permanentemente passado e presente, o diretor suscita a crítica ao perpassar questões imbricadas à sociedade, como a desigualdade socioeconômica, a “commoditização” dos relacionamentos, a relação entre gerações e os preconceitos, sejam estes raciais, sociais, de gênero ou condição física.

É com base nesta visão muito pessoal, a qual não esconde o inimigo nem exclui o belo, que “Aquarius” se monta. Muitos dos significados vão ganhando forma à medida que o filme transcorre, às vezes quase uma suspeita inconscientemente desconsiderada assim que o enigma se dissolve. Como a relação de Clara com seu sobrinho, a qual, num primeiro momento, pode parecer ao espectador, que ainda não teve informações suficientes sobre ela (ou melhor: tem informações suficientemente superficiais para desconfiar do mais vulgar e aparente), tratar-se de um caso amoroso liberal e promíscuo. A explicação vem sutil, sem alarde, mas dizendo muito sobre a personagem e a história.

A personagem, aliás, carrega em si outro símbolo: o da mulher emancipada e independente. De pronto percebe-se que Clara é reconhecida como profissional. Porém, à medida que se entende melhor, revela-se que ela, no passado, optou em deixar os filhos ainda pequenos com o pai para não perder a oportunidade de ganhar a vida no centro do País. De certa forma, um pouco da própria Sônia Braga, que, de modo a dar a natural continuidade internacional à sua trajetória já restringida no deficiente Brasil pré-democracia, precisou dar as costas às críticas “vira-latas” e rumar para a indústria norte-americana – sem, ao contrário do que lhe acusavam, perder identidade e raízes.
Sônia Braga, magnífica,  à frente do famigerado ed. Aquarius"

Estes dois exemplos mostram bem o jogo de ressignificações proposto por Mendonça Filho. Largamente empregadas por cineastas maduros do cinema moderno, como os irmãos Coen e Quentin Tarantino, a ressignificação tem o poder de desfazer mitos e quebrar expectativas, muitas vezes a custa de anticlímaces e desconstruções do imaginário sociocultural. “Aquarius” mostra não o relacionamento de uma “tiazona” com um rapazote como propositadamente dá a entender, mas, sim, uma possível, afetuosa e saudável relação entre tia e sobrinho. O filme mostra não um estereótipo de heroína vencedora e invencível – e, por isso, desumanizada e reforçadora da ótica sexista –, mas uma mulher com suas qualidades e defeitos, com inquietudes e paixões tentando fazer o melhor na vida.

Maior evidência dessa ressignificação é a cena do nu parcial da personagem. A mensagem imediata que se transmite, ao vê-la começando a se despir para tomar banho, é o de que se verá a antiga musa e símbolo sexual despida agora com idade avançada. “Como estará o corpo de Sônia Braga aos 66 anos? Será que está uma velha gostosa?” Mendonça Filho quebra a lógica rala não ao confirmar o que se suspeitava no que diz respeito às marcas da idade terem chegado à Dona Flor. Fazendo emergir outro nível de mensagem, mais profundo e agudo, mostrando-a com um dos seios amputados, consequência de um câncer da personagem Clara. Em milésimos de segundo, entremeiam-se o preconceito com o deficiente físico – algo explorado ainda mais e sem rodeios no decorrer –, com a mulher “não-jovem”, com a mulher em si.

Interessante notar que, a título de narrativa, o cineasta dá um passo atrás no que se refere à modernidade na comparação com seu filme anterior. Enquanto “O Som ao Redor” é uma trama coral ao estilo das de Robert Altman e Paul Thomas Anderson, “Aquarius”, por se concentrar numa personagem, torna-se mais linear e anedótico. O que não é nenhum demérito, pelo contrário. Assim como o cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu, que depois de uma trilogia de sucesso de tramas corais (“Amores Perros”, “21 Gramas” e “Babel”) e de passar pelo radicalismo de "Birdman" optou acertadamente pelo formato clássico para realizar "O Regresso", seu grande filme. Mendonça Filho parece de certa forma e em noutra realidade repetir o recente feito de Iñárritu: iniciar a carreira explorando uma linha intrincada de narrar para, em seguida, aperfeiçoar seu estilo e simplificar a narrativa voltando as atenções a um herói/heroína. Em “Aquarius”, contado em capítulos tal qual a construção literária de Stanley Kubrick e Tarantino – inclusive, com um prólogo, com Clara ainda jovem, em 1980 –, Mendonça Filho equilibra com assertividade a forma tradicional e a moderna de contar a história.

Outros elementos de ressignificado são compostos de maneira muito segura pelo diretor, que conduz o filme num ritmo cadenciado, por vezes poeticamente contemplativo, como um ir e vir da onda do mar da praia. Igual a “O Som ao Redor”, em “Aquarius” o mar é um olho divino que a tudo enxerga. O som, inclusive, faz-se presente novamente e, agora, é demarcado pela música. De Queen a Gilberto Gil, passando por Roberto Carlos e Taiguara, as canções pontuam o filme do início ao fim, ajudando a construir a narrativa e dando-lhe uma dimensão tanto documental quanto lúdica. Novamente, Mendonça Filho reelaborando o passado para trazer luzes ao presente. Na guerra indigna que Clara tem de deflagrar contra a construtora que quer tomar o prédio sob a égide monetária e desfazendo o real valor sentimental e simbólico, fica clara a mensagem que o autor que transmitir: o mundo precisa de mais poesia. Se Cazuza integrasse a trilha com estes versos de “Burguesia”, não seria nenhum absurdo: “Enquanto houver burguesia não vai haver poesia”.

Para além da discussão partidária e da polêmica em torno da afronta direta ao Governo no episódio da classificação etária e da não escolha pelo título à concorrência ao Oscar de Filme Estrangeiro, o objeto do filme é por si saudavelmente revolucionário, o que o torna, por esse viés, sim, bastante político. Como um “Sem Destino” ou “Um Estranho no Ninho”, marcos de uma era logo ao serem lançados, “Aquarius” está igualmente no lugar e na hora certa, tornando-se de imediato importante como registro do Brasil do início do século XXI polarizado ideologicamente. Polarização largamente mais desfavorável do que proveitosa. A ideia do que Clara representa, “minoria empoderada” e não sujeita aos preceitos verticais da sociedade machista e ditada pelo dinheiro, celebra uma verdadeira liberdade de pensamento e conduta cidadã a que tanto se aspira entre os tantos tabus que hão de serem quebrados. Os novos significados, uma maneira de pensar despida de pré-concepções e amarras sociais, é o que intentam aqueles que acreditam em igualdade e fraternidade. Se isso concorda ou discorda do pensamento de esquerda ou de direita, é outra questão. “Aquarius” é, isso sim, um libelo da necessária subversão em tempos de intolerância.


trailer "Aquarius"

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Oscar 2016 - Os Vencedores




E "Mad Max: Estrada da Fúria" foi o grande vencedor da noite! Bom, isso quantitativamente, porque qualitativamente o vencedor da noite pode ser considerado "O Regresso", com prêmios em algumas das principais categorias. Mas isso se, mesmo ganhando prêmios tão significativos, "Spotlight: Segredos Revelados" não tivesse levado o principal prêmio da noite. Foi isso, uma noite de premiações bastante divididas. Enquanto o road-movie apocalítico "Mad Max" arrebatava praticamente todos os prêmios técnicos, o incensado filme do mexicano Iñárritu conquistava aqueles que dão o grande indicativo de qualidade de um grande filme, exceto o de melhor filme que foi parar nas mãos do investigativo "Spotlight".
Numa cerimônia marcada pela polêmica das indicações para atores negros em Hollywood, tivemos um Chris Rock bastante desenvolto na condução dos trabalhos apesar de uma desconfortável insistência na questão racial, uma bela performance de Lady Gaga apresentando a canção do filme "The Hunting Ground", uma interpretação pífia de Dave Grohl tocando "Blackbird" dos Beatles durante a homenagem aos falecidos; o tricampeonato de Emmanuel Lubezki na fotografia e o bi de Iñárritu como diretor, fato que só acontecera duas vezes anteriormente na história da premiação.
As surpresas ficaram por conta de "Ex Machina" cujo principal mérito na minha opinião é o roteiro  de trama labiríntica e inteligente, ter levado o prêmio de efeitos visuais em detrimento a "Star Wars ep.VII: O Despertar da Força" ou até mesmo a "Mad Max" que vinha faturando todos os técnicos até então; a canção original ter ficado com a chatíssima trilha de "007 contra Spectre", a pior da história de James Bond; e, não exatamente surpresa, mas uma ponta de desapontamento que tenho certeza muitos compartilham  comigo, com o fato do carismático Silvester Stallone não ter levado sua estatueta por sua atuação em "Creed" nesta que provavelmente terá sido sua última chance.
No mais, "Amy", confirmou o favoritismo nos documentários; o mestre Ennio Morricone, com a trilha para "Os Oito Odiados", finalmente ganhou seu Oscar por um filme (havia ganho pelo conjunto da obra); e Leo, de grande crescimento artístico nos últimos anos, é verdade, mas favorecido esse ano por todo um contexto de ausência de medalhões como Nicholson, Redford, De Niro, de concorrentes em papeis de deficientes que sempre sensibilizam a academia, ou que revivessem personalidades históricas, finalmente levou sua tão desejada estatueta dourada pra casa. Nunca vi uma campanha tão grande para que um ator levasse esse prêmio mas, enfim... Que seja. Aleluia!
Ah, e antes que eu esqueça, não foi dessa vez que o Brasil trouxe o seu Oscar.

Confira abaixo a lista completa dos ganhadores:

Di Caprio e Iñárritu, os dois grandes
vencedores da noite.

Melhor filme
"Spotlight: Segredos revelados"


Melhor ator
Leonardo DiCaprio ("O regresso")

Melhor atriz
Brie Larson ("O quarto de Jack")

Melhor diretor
Alejandro G. Iñárritu ("O regresso")

Melhor canção original
"Writing's on the wall", Sam Smith ("007 contra Spectre")

Melhor trilha sonora
"Os 8 odiados", de Ennio Morricone

Melhor filme estrangeiro
"O filho de Saul" (Hungria)

Melhor curta de live action
"Stutterer"

Melhor documentário
"Amy"

Melhor documentário de curta-metragem
"A Girl in the River: The Price of forgiveness"

Melhor ator coadjuvante
Mark Rylance ("Ponte dos espiões")

Melhor animação
"Divertida mente"

Melhor curta de animação
"Bear Story"

Melhores efeitos visuais
"Ex Machina"

Melhor mixagem de som
"Mad Max: Estrada da fúria"

Melhor edição de som
"Mad Max: Estrada da fúria"

Melhor montagem
"Mad Max: Estrada da fúria"

Melhor fotografia
"O regresso"

Melhor cabelo e maquiagem
"Mad Max: Estrada da fúria"

Melhor design de produção
"Mad Max: Estrada da fúria"

Melhor figurino
"Mad Max: Estrada da fúria"

Melhor atriz coadjuvante
Alicia Vikander ("A garota dinamarquesa")

Melhor roteiro adaptado
"A grande aposta"

Melhor roteiro original
"Spotlight - Segredos revelados"





Cly Reis

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

"O Regresso", de Alejandro González Iñárritu (2016)



Deve ter sido delicioso aos que, pelo menos por algum período, puderam acompanhar just-in-time a filmografia de algum grande diretor do passado. No caso de Alfred Hitchcock, por exemplo: o mestre do suspense superava-se a cada produção que lançava, reelaborando às vezes a mesma ideia ao longo do tempo, desde a fase inglesa (anos 20 e 30), passando pelos primeiros anos nos Estados Unidos (década de 40) até chegar às obras-primas definitivas (50 e 60). É perceptível que a confusão no teatro lotado de “Os 39 Degraus” (1935) se repetira em “Cortina Rasgada” (1962), ou o mesmo tenha ocorrido com a cena da escada de “Suspeita” (1941) e, depois, na clássica de “Psicose” (1960), a que Norman Bates mata o detetive. Dois exemplos de um realizador que soube como poucos reciclar suas próprias ideias e progredir constantemente.

Dadas as devidas dimensões, os espectadores e cinéfilos de hoje podem gozar dessa sensação quanto ao cinema de Alejandro González Iñárritu. Ele, que começara em alto nível com a trilogia “Amores Perros” (2000), “21 Gramas” (2003) e “Babel” (2006), resvalou um pouco no hiperbólico “Biutiful” (2010) mas logo retomou-se com o labiríntico "Birdman" (2014), Oscar de melhor filme do ano passado. Agora, o cineasta mexicano, aproveitando com parcimônia elementos de todas as suas realizações anteriores, avança em estilo e estética e lança o filme que certamente é sua obra-prima até então: “O Regresso”. Dos favoritos para levar o mesmo prêmio que “Birdman”, é a produção de mais indicações este ano, 11 no total, tendo ainda grandes chances à estatueta em Melhor Ator, com Leonardo DiCaprio, e em Direção, com o próprio Iñárritu.

O filme, baseado numa história verídica (sobre o romance de Michael Punke) situa-se na primeira metade do século XIX e conta a história de Hugh Glass (DiCaprio), um forasteiro que parte com seu filho para o oeste americano disposto a ganhar dinheiro caçando. Atacado por um urso na floresta, fica seriamente ferido e é abandonado à própria sorte por um dos parceiros, John Fitzgerald (Tom Hardy, digno de Oscar também), o qual ainda mata seu filho. Entretanto, mesmo com toda adversidade, Glass consegue sobreviver e inicia uma árdua jornada em busca de vingança. Dado a personagens fortes, o talentoso DiCaprio, provavelmente o melhor ator de sua geração, se esbalda no papel. É impressionante vê-lo na pele de Glass nas cenas de solidão desafiando a natureza opressiva e ainda doente, com dor, fome e dilacerado por dentro pela brutal perda do filho.

Com a ajuda de um elenco afinado e de uma fotografia acachapante (de Emmanuel Lubezki, impecável tanto nos grandes planos quanto nos fechados), Iñárritu compõe um filme extremamente intenso, porém rigoroso. Nada está fora do lugar, nem mesmo a intensidade. Do roteiro (Iñarritu e Mark L. Smith) ao figurino, da cenografia à edição de som, da trilha sonora – do mestre Ruiychi Sakamoto – à montagem (Stephen Mirrione). Tudo é muito exato, porém, sem recair no artificial, comum ao tecnicista cinema norte-americano. Afinal, está se falando de um esteta do cinema da atualidade. Estão preservados vários elementos estilísticos que já se tornaram marcas de Iñárritu: sua câmara andante, contemplativa e participativa, o estreitamento entre civilização e barbárie, o limite entre vida e morte, o contato com o etéreo e, mais do que tudo, o animalesco instinto de sobrevivência do bicho homem.

Com esse suco, o diretor cria um western estilizado em que a carga emocional é permanente, mas muito bem conduzida. Diferentemente de outros filmes seus, em “O Regresso” Iñárritu, tão louvado pela linguagem inovadora, vale-se sem embaraço de uma narrativa clássica. E não poderia ter sido a melhor escolha, pois o enredo se presta a isso. Neste caso, a estrutura tradicional do cinema preenche o enredo, prescindindo da dificultação intrínseca à linguagem moderna. Com uma trama em que os personagens são apresentados de início e partindo de um problema, gera-se uma “crise” na história que faz com que os caminhos se diluam e se dificultem. Esse problema de resolução complicada é vencido pouco a pouco pelo personagem principal, gerando tensão à história, até que este chegue a seu objetivo. Não muito diferente de milhares de filmes nesta linha, o clímax é uma vingança. A construção dos personagens também respeita isso: há o herói com mais qualidades que defeitos e que, embora bruto, é movido por sentimentos genuínos. Em contrapartida, o vilão é tomado de inveja e maldade, enquanto há aqueles que, por não penderem nem a um nem a outro, cumprem a função de dar o contrapeso. Como na vida. Entretanto, até nisso é dado um teor diferenciado. Seguindo a abordagem realista que permeia toda a história, os índios não são nem os perversos dos bang-bangs enlatados nem idiotas indefesos. São, sim, mostrados como a História os deve ver: um bravo povo dizimado pela gananciosa civilização do homem branco.

É interessante notar a maturidade adquirida por Iñárritu no transcorrer de sua filmografia. Este começou com três filmes de tramas corais, quase novelas, bastante alicerçadas no roteiro do conterrâneo Guillermo Arriaga. Em “Biutiful”, quando tenta emancipar-se do parceiro de escrita, escorrega principalmente neste quesito, exagerando na dose de dramaticidade. Não repete o erro e, ainda por cima, realiza o inesperado e ousado “Birdman”, em que apresenta uma narrativa totalmente contemporânea e igualmente distinta da utilizada em seus primeiros filmes. Assim, em “O Regresso” Iñárritu pinça com inteligência feições de todas as suas obras anteriores, porém, sem deixar com que este perca personalidade. De “Biutiful”, está o aspecto espiritual do protagonista, que mantém contato constante com a esposa morta e, depois, com o filho. Até o enquadramento e o conceito fotográfico da tomada da copa de pinheiros altos com fumaça e cinzar no ar sob a neve é parecida. De “Birdman”, mesmo sendo o que mais se difere de “O Regresso” entre suas obras, é visível que a câmera na mão, ligeira mas firme e de ritmo humano, é novamente um personagem a mais na trama.  Da trilogia inicial, também: no segundo quadrante do filme criam-se quatro histórias paralelas: Glass tentando voltar; os companheiros já chegados ao forte; Fitzgerald e um comparsa a caminho; e o grupo de franceses trapaceando os índios. De “Amores Perros”, em especial, a equiparação bicho x homem é ainda mais clara. Um pouco de cada um dos cinco anteriores, mas principalmente do próprio “O Regresso”.

A impactante e real cena do ataque do urso.
Outro fator-base da história, também largamente usado no cinema clássico – mas de fácil ocorrência de erros –, são os elementos da natureza simbolizando os narrativos. A atmosfera selvagem não é apenas mostrada permanentemente através da fotografia, inóspita e desafiadora, mas num conceito amplo em que o homem é apenas mais um componente dentro daquele universo, assim como os animais e as intensas intempéries. Os sentidos estão todos despertos. Do tato, a umidade, o frio, o calor, a dor. Da audição, o zumbido do vento, o ofego do respirar, o estrondo das quedas d’água, os ruídos da mata. Tudo se mistura e se integra com muita propriedade à edição de som e à trilha sonora, igualmente inserida com lucidez e sem excessos. Tudo é vivo, o que faz com que tudo seja também morte. Dessa forma, Iñárritu se utiliza do ambiente natural e dos sentidos não como adereço, mas numa constante construção dos personagens e da narrativa. Glass, por exemplo, durante o seu regresso e ainda tentando se recuperar da surra do urso, põe sobre os ombros uma pele justamente deste grande mamífero, como se assumisse o papel do bicho. Antes mesmo, quando, muito debilitado, assiste a Fitzgerald matar seu filho sem poder fazer nada e espuma saliva pela boca, a mesma que o próprio urso deixa escorrer sobre seu rosto quando o ataca, pois o fazia pelo mesmo motivo que movia Glass: proteger sua cria. Homem e animal: nenhuma diferença.

DiCaprio, atuação para Oscar novamente.
Essa cena, aliás, é altamente impactante e merece destaque. Feita com um urso de verdade, o mais impressionante é que o ator também é de verdade. Sim, não é um dublê: é o próprio DiCaprio, inteiro dentro do personagem. Mesmo contracenando com um animal adestrado, ele saiu bem machucado pelo que se tem notícia. Valeu o esforço. Certamente é das cenas mais célebres dos últimos 20 anos, junto com a chuva de sapos de “Magnólia” ou o acidente no ringue com a lutadora de “Menina de Ouro”. Daquelas que entra para a seleta lista de cenas inesquecíveis do cinema mundial. Mas não apenas essa: o filme é uma sucessão de grandes momentos e sequências, várias daqueles de tirar o espectador da poltrona, como o ataque indígena do início, a fuga de Glass sobre o cavalo e, obviamente, o duelo final, cujo requinte da montagem remete ao tempo fílmico de Sergio Leone e John Ford. Chega a ter parecença com o tradicional ritmo de Quentin Tarantino, que o próprio muito se valeu no seu último longa, "Os Oito Odiados", também um western e que guarda-lhe também semelhanças estéticas. Diferentemente do filme de Tarantino, cujo proveito do máximo das sequências e dos diálogos o tornam de fato por vezes arrastado, em “O Regresso”, por conta da conjunção do tom realístico e da estrutura clássica da narrativa, os tempos de tensão e distensão estão perfeitos. Simbolizam, em última instância, a luta eterna entre o calor e o frio, entre o fogo e a água, entre o som e o silêncio, entre o bem e o mal. Entre o espaço e o tempo.

É o próprio tempo que, já fora da tela, poderá aligeirar-se no que tange a premiar Iñárritu dando-lhe a primazia jamais alcançada por ícones como William Wyler, Elia Kazan e Billy Wilder: o de levar o Oscar de Diretor em dois anos seguidos – feito obtido por apenas dois craques desde 1929: John Ford e Joseph L. Mankiewicz. Ou, contrariamente, o mesmo tempo venha a reconhecer com atraso DiCaprio, merecedor da estatueta há bastante tempo, seja em filmes que concorreu (“O Aviador”, “Diamante de Sangue”, "O Lobo de Wall Street") ou não (“Django Livre”, “J. Edgar”). Além destes, “O Regresso” desponta como favorito para levar ainda Filme, Ator Coadjuvante, Fotografia e Edição de Som. O reconhecimento no prêmio Bafta anteviu isso. Afinal, não se trata apenas da melhor produção de 2016: é, sim, um dos grandes dos últimos 10 ou 15 anos. Pode-se colocá-lo tranquilamente ao lado de títulos como “A Vida dos Outros”, "Guerra aoTerror" e “Ida”. Daqueles que vem para entrar para a lista dos essenciais do cinema, porque o tempo (novamente ele) é quem o dignificará para a eternidade. Ganhe o Oscar ou não.


trailer "O Regresso"






quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Oscar 2016 - Os Indicados



DiCaprio tem mais uma chance de conseguir
seu tão almejado Oscar com "O Regresso".
E saiu a lista dos indicados para o Oscar 2016!
Surpresa para mim, apesar dos muitos elogios que ouvi e li a respeito, é "Mad Max: Estrada da Fúria" ter recebido 10 indicações, só atrás de 'O Regresso" de Alejandro González Iñárritu que pode fazer um bicampeonato em Hollywood. Outros que aparecem como bons candidatos, pelas qualidades que vem sendo apontadas e pelo número de indicações são 'Spotlight" (6 indicações), "Perdido Em Marte" (7) e "A Grande Aposta" (5). Tarantino, com seu "Os Oito Odiados"  dessa vez ficou de fora da corrida principal de filme e direção, e  até de sua especialidade, o roteiro original, mas  mesmo assim concorre em três categorias. Nas categorias técnicas "Star Wars: O Despertar da Força" deve fazer uma limpa, mas sempre de olho em "Mad Max" que também disputa com qualidade algumas delas.
No mais, Leo DiCaprio que goza de grande torcida feminina, muito mais por suas qualidades físicas do que técnicas, terá uma nova chance por sua atuação no filme de Iñárritu; Stallone recebe reconhecimento importante pela nominação a ator coadjuvante; e a animação brasileira "O Menino e o Mundo" tem a honra de ser indicado mas terá uma parada duríssima pele frente, o favoritíssimo "Divertidamente" da Disney/Pixar.
Conheça, abaixo, todos os indicados. A premiação ocorre no dia 28 de fevereiro em Los Angeles.



  • Melhor filme
"A grande aposta"
"Ponte dos espiões"
"Brooklyn"
"Mad Max: Estrada da fúria"
"Perdido em Marte"
"O regresso"
"O quarto de Jack"
"Spotlight: Segredos revelados"

  • Melhor ator
Bryan Cranston ("Trumbo")
Matt Damon ("Perdido em Marte")
Leonardo DiCaprio ("O regresso")
Michael Fassbender ("Steve Jobs")
Eddie Redmayne ("A garota dinamarquesa")


  • Melhor atriz
Cate Blanchett ("Carol")
Brie Larson ("O quarto de Jack")
Jennifer Lawrence (“Joy”)
Charlotte Rampling (“45 anos”)
Saoirse Ronan ("Brooklyn")


  • Melhor diretor
Alejandro G. Iñárritu ("O regresso")
Tom McCarthy ("Spotlight: Segredos revelados")
George Miller ("Mad Max: Estrada da fúria")
Adam McKay ("A grande aposta")
Lenny Abrahamson ("O quarto de Jack")


  • Melhor animação
"Anomalisa"
"O menino e o mundo"
"Divertida mente"
"Shaun, o carneiro"
"Quando estou com Marnie"


  • Melhor filme estrangeiro
"Embrace of the Serpent" (Colômbia)
"Cinco graças" (França)
"O filho de Saul" (Hungria)
"Theeb" (Jordânia)
"A war" (Dinamarca)


  • Melhor trilha sonora
"Ponte dos espiões"
"Carol"
"Os 8 odiados"
"Sicario"
"Star Wars: O despertar da força"


  • Melhor roteiro adaptado
"A grande aposta"
"Brooklyn"
"Carol"
"Perdido em Marte"
"O quarto de Jack"


  • Melhor roteiro original
"Ponte dos espiões"
"Ex Machina"
"Divertida mente"
"Spotlight: Segredos revelados"
"Straight Outta Compton"

  • Melhor design de produção
"Ponte dos espiões"
"A garota dinamarquesa"
"Mad Max: Estrada da fúria"
"Perdido em Marte"
"O regresso"


  • Melhor fotografia
"Carol"
"Os oito odiados"
"Mad Max: Estrada da fúria"
"O regresso"
"Sicario"


  • Melhor figurino
"Carol"
"Cinderela"
"A garota dinamarquesa"
"Mad Max: Estrada da fúria"
"O regresso"


  • Melhores efeitos visuais
"Ex Machina"
"Mad Max: Estrada da fúria"
"Perdido em Marte"
"O regresso"
"Star Wars: O despertar da força"


  • Melhor montagem
"A grande aposta"
"Mad Max: Estrada da fúria"
"O regresso"
"Spotlight: Segredos revelados"
"Star Wars: O despertar da força"


  • Melhor atriz coadjuvante
Jennifer Jason Leigh ("Os 8 odiados")
Rooney Mara ("Carol")
Rachel McAdams ("Spotlight: Segredos revelados")
Alicia Vikander ("A garota dinamarquesa")
Kate Winslet ("Steve Jobs")


  • Melhor ator coadjuvante
Christian Bale ("A grande aposta")
Tom Hardy ("O regresso")
Mark Ruffalo ("Spotlight: Segredos revelados")
Mark Rylance ("Ponte dos espiões")
Sylvester Stallone ("Creed")

  • Melhor edição de som
"Mad Max: Estrada da fúria"
"Perdido em Marte"
"O regresso"
"Sicario"
"Star Wars: O despertar da força"


  • Melhor mixagem de som
"Ponte dos espiões"
"Mad Max: Estrada da fúria"
"Perdido em Marte"
"O regresso"
"Star Wars: O despertar da força"


  • Melhor curta de animação
"Bear Story"
"Prologue"
"Sanjay's Super Team"
"We can't live without Cosmos"
"World of tomorrow"


  • Melhor curta de live action
"Ave Maria"
"Day one"
"Everything will be okay (Alles Wird Gut)"
"Shok"
"Stutterer"

  • Melhor cabelo e maquiagem
"Mad Max"
"The 100-year-old man who climbed out the window and disappeared"
"O regresso"

  • Melhor documentário
"Amy"
"Cartel Land"
"The look of silence"
"What happened, Miss Simone?"
"Winter on fire: Ukraine's Fight for Freedom"


  • Melhor documentário de curta-metragem
"Body team 12"
"Chau, beyond the lines"
"Claude Lanzmann: Spectres of the Shoah"
"A Girl in the River: The Price of forgiveness"
"Last day of freedom"


  • Melhor canção original
"Earned it", The Weekend ("Cinquenta tons de cinza")
"Manta Ray", J. Ralph & Antony ("Racing extinction")
"Simple song #3", Sumi Jo e Viktoria Mullova ("Youth")
"Writing's on the wall", Sam Smith ("007 contra Spectre")
"Til it happens to you", Lady Gaga ("The hunting ground")