quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
cotidianas #124 - Ela Está Deixando o Lar
A letra desta música foi inspirada em um fato verídico ocorrido na Inglaterra em 1967, publicado no jornal Daily Mail, de que uma jovem de 17 anos, Melanie Coe, fugiu de casa sem seus pais saberem, desaparecendo.
Ela está deixando o lar
Quarta-feira de manhã, às cinco horas enquanto o dia inicia
Silenciosamente fechando a porta de seu quarto
Deixando um bilhete que espera que dirá por si
Ela desce a escada até a cozinha
segurando seu lenço
Cuidadosamente virando a chave da porta dos fundos
Pisando lá fora ela está livre
Ela
(Nós a demos a maior parte de nossas vidas)
está deixando
(Sacrificamos a maior parte de nossas vidas)
o lar
(Nós a demos tudo que o dinheiro pudesse comprar)
Ela está deixando o lar após viver só
Por tantos anos. (Bye, bye)
O pai ronca enquanto sua esposa
veste seu roupão
Apanha o bilhete que está deixado ali
Em pé sozinha no topo das escadas
Ela se desmancha e clama para o seu marido
Papai, nosso bebê se foi
Porque ela nos trataria de modo impensado?
Como que ela pode fazer isto comigo?
Ela
(Nunca pensamos em nós)
está deixando
(Jamais um pensamento para nós)
o lar
(Nós lutamos com dificuldade para vencer)
Ela está deixando o lar após viver só
Por tantos anos. (Bye, bye)
Sexta-feira de manhã às nove ela está bem longe
Esperando para manter o compromisso que ela firmou
Encontrando um rapaz da indústria automobilística
Ela
(O que foi que fizemos de errado?)
Está se
(Nós não sabíamos que era errado)
Divertindo
(Diversão é a única coisa que dinheiro não consegue comprar)
Algo por dentro que sempre foi renegado
Por tantos anos. (Bye, bye)
Ela esta deixando o lar (bye bye)
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"She's Leaving Home"
Lennon/MacCartney
do álbum "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band"
Ouça:
The Beatles - "She's Leaving Home"
quinta-feira, 26 de junho de 2014
"Lar" - volume I
Está em vias de ser publicada a antologia “LAR”, na qual participo com um conto de minha autoria. Editado pela Multifoco, na série Antology (pela qual meu irmão já teve duas participações), tem organização do escritor Frodo Oliveira e conta com textos de, além do próprio organizador, outros 24 autores: Helvio Caldeira, Mariana Kexfe, Danilo Albuquerque, Alice Monteiro, Fabio Baptista, Suzy M. Hekamiah, Bruna Leôncio, Mariana Moura, Alan Villela Barroso, Penélope Lsteak, Silvia Teixeira Alexandre, Emerson D. e Pimenta, Douglas Rosa, GS Lewd, Juliana de Oliveira, Cláudio Lopes de Araújo, Michele Mourão, Angela Loregian Carbonera, Ana Carolina, Paula Tolentino, Vinícius Trindade, Luísa Borges Pontes, Gui Barreto e Suzana Savedra.No texto de introdução da antologia, o editor explica a diferença básica entre “lar” e “casa”, ressaltando os diferenciais do primeiro termo. “Algumas pessoas confundem LAR com casa. Mas LAR não é casa. LAR é muito mais que isso. Casa é apenas uma construção física, LAR vai muito além, é uma construção psíquica.” Pois a “pegada” é justamente essa, que incorpora os elementos larários às questões psicológicas, e o meu conto não foge a isso.
Assim que estiver na mão o livro físico, a gente divulga aqui pelo clyblog. Aguardem! Agora, conheçam a capa para sentirem um gostinho.
quarta-feira, 3 de setembro de 2014
"Lar - Volume I" - Vários Autores - Ed. Multifoco (2014)
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| Lar (foto: Leocádia Costa) |
quinta-feira, 2 de outubro de 2014
Coletânea "LAR" – Noite de autógrafos de Daniel Rodrigues – Livraria Bamboletras e Bar Mr. Pickwick - Porto Alegre/RS (23/09/2014)
Num clima agradável e divertido, comemorei com amigos e parentes o
lançamento da coletânea “LAR” em parceria com a livraria Bamboletras, na amável
pessoa de Lu Vilella, que me recebeu super bem desde o início. O local onde
recebi os convidados foi o Bar, Restaurante e Café Mr. Pickwick, parceiro da
livraria e com o qual Leocádia e eu temos uma longa relação, haja vista que frequentamos o local há anos. Então, estava tudo em casa. ![]() |
| A amiga e fotógrafa Iris Borges foi prestigiar também |
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| A artista plástica Rosana Splitzer, presença sempre carinhosa |
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| Com Lu Vilella da livraria Bamboletras, na estante onde se pode encontrar o livro. |
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| Com Luís Ventura (esq.), aqui sendo fotografado, e Marcelo Costa. |
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| Elisete Mallman veio de Lajeado prestigiar o lançamento. |
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| Família Reis presente na pessoa da Tia Isaura. |
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| Lúcio Bragança sempre presente nos lançamentos. |
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| Livro e autor sendo apresentados pela fotógrafa da noite, Leocádia Costa |
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| Malu também foi prestigiar junto com os pais, os amigos Rodrigo e Lisiane. |
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| O casl Victor e Cristina, queridos. |
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| O legítimo 'facebook' do autor, com Carolina Costa. |
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| Registro com - quase - todos à mesa |
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
Lançamento do livro "LAR"
| foto: Leocádia Costa |
Cidade Baixa, Porto Alegre/RS)
sábado, 23 de abril de 2016
Rita Lee - "Babilônia" (1978)
Álbum básico da discografia nacional. O quarto disco de Ritta Lee depois dos Mutantes e o último com a banda Tutti-Frutti colabora enormemente para uma afirmação da linguagem e identidade musical da cantora para a partir dali alçar novos voos em sua carreira. Embora bem rock'n roll, "Babilônia", (1978) já começava a apresentar as características que marcariam os trabalhos futuros da cantora.
"Babilônia" conseguia com grande mérito alternar temas banais como uma bebedeira ou uma relação alucinante com críticas de comportamento, questionamentos existenciais e protesto. De inteligência privilegiada e ironia ácida, Rita Lee, já lá nos idos dos anos 70, em "Miss Brasil 2000", ironizava o estereótipo de beleza nacional e perguntava qual seria o perfil da mulher brasileira do século XXI. Seria a "bela, recatada e do lar"? "Será que ela vai continuar uma tradição?/ Será que ela quer modificar uma geração?", perguntava. Era Rita Lee sendo naturalmente feminista muito antes da atual atitude feminina renascer com força como acontece hoje. A propósito de atualidades, "Agora é Moda", um rock proto new-wave com refrão puxado no xaxado, que remete muito a ousadia rítmica dos Mutantes, é outra que nem parece ter sido escrita ali na metade dos anos 70 tal sua atualidade, uma vez que muitas coisas que eram "moda", lá em 1978, por incrível que pareça, continuam ou voltaram a estar em alta em pleno 2016.
"Jardins da Babilônia", a faixa que inspira o nome do disco, é um daqueles desafios que poucos artistas tiveram a inteligência e ousadia para fazer contra o sistema e o regime totalitário do Brasil daquele momento, colocando-se na linha de frente, chamando pra briga e afirmando estar ali para o que desse e viesse. Com sua maneira debochada, como quem não queria nada, parecendo despretensiosa, "Jardins da Babilônia" era um indignado grito de resistência: "Minha saúde não é de ferro/ Mas meus nervos são de aço/ Para pedir silêncio eu berro/ Para fazer barulho eu mesma faço...".
O rock psicodélico "O Futuro Me Absolve" levanta a velha questão humana da existência e quer saber não só de onde viemos e para onde iremos como também para onde caminha a humanidade e onde isso tudo vai parar. "Sem Cerimônia" traz uma estrutura toda quebrada e uma melodia vocal pouco convencional; e "Eu e Meu Gato" uma canção hyppie, tipo "sem destino" cuja ideia básica é a da liberdade total naquele espírito de "vamos sair por aí pelo mundo afora". Uma pop-rock apenas interessante, nada mais. No rockão "Que Loucura", Rita agradece ao seu anjinho-da-guarda por permitir que ela voltasse inteira de mais uma noitada daquelas e por extensão, provavelmente, por todas as loucuradas da vida. Destaque para a guitarra de Luis Carlini, sempre marcante mas nesta, em especial, matadora. A rotação baixa então com a bucólica "Modinha', uma singela canção acústica muito zen bastante apropriada para um final de álbum.
Como disse no início, este seria o último disco de Rita Lee com a Tutti-Frutti, o que para muito diminuiu seu potencial de rockeira desde então. Não vejo assim. Talvez sonoramente a pegada rock, psicodélica, o experimentalismo tenha efetivamente se dissolvido em sua obra a partir dali, até visando um alcance maior em um momento de novas possibilidades sonoras e rítmicas como era aquele final de anos 70, mas no caso dela, me parece que o fundamental seja sua atitude, sua inteligência e sua inquietude que fazem com que mesmo em eventuais trabalhos extremamente pop e radiofônicos sempre esteja contida uma ponta de provocação, de contestação, de escracho, de ironia, enfim, de rock'n roll. E, sim, ela permanece e continuará sendo ainda por muito tempo a grande dama do rock brasileiro. Bom, talvez 'daaaama' não seja o termo mais adequado, não no sentido mais usual da palavra. Acho que pode-se afirmar com segurança que ao longo de seus 68 anos a Tia Rita nunca fez muito a tal linha "bela, recatada e do lar", não? Felizmente para nós. Felizmente.
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FAIXAS:
01. Miss Brasil 2000
02. Disco Voador
03. Agora é Moda
04. Jardins da Babilônia
05. O Futuro me Absolve
06. Sem Cerimônia
07. Que Loucura
08. Eu e Meu Gato
09. Modinha
quinta-feira, 14 de março de 2024
"Olha pra Elas", de Tatiana Sager (2023)
Um pai com a filha ao colo grita palavras de consolo por detrás da cerca distante alguns metros do prédio onde a esposa, através de uma escura janela, tenta responder. Ela atende imediatamente ao chamado do marido, mas é como se seu grito – diferentemente do dele – não tivesse força suficiente para chegar-lhe de volta. Como se sua insuficiente e combalida voz, cansada de urrar para fora e para dentro de si mesma, já estivesse emudecida de antemão por força da sociedade e da história.
Essa breve descrição da cena inicial do novo documentário da cineasta e jornalista gaúcha Tatiana Sager, "Olha pra Elas", sobre a realidade de mulheres encarceradas, além de tocante como todo o restante da obra, faz-se bastante simbólica no que se refere à condição da mulher – e do homem – no sistema penitenciário brasileiro. Além disso, a cena simboliza também a real antítese daquilo que o filme propõe, de que se volte o olhar àquelas mulheres. Sua invisibilidade significa, na mesma medida, uma não escuta em diversos níveis, do familiar ao social, da Justiça ao Estado. Metaforicamente, até o marido, um ex-detento do Presídio Central, têm voz. Ela, mulher, não.
A estratégia narrativa de Tatiana é pungente e traça o caminho que a cineasta escolhe para, a partir daí, colocar o cinema a serviço da missão de dar voz a quem foi destituída dela. Autora de outros dois documentários fundamentais para a recente cinematografia nacional a respeito do sistema carcerário, "O Poder Entre as Grades", de 2015 (codirigido por Zeca Brito), e "Central – O Poder das Facções no Maior Presídio do Brasil", de 2017 (no qual divide a direção com Renato Dorneles), Tatiana dá continuidade à mesma questão em sua nova produção, porém a aprofunda com um olhar mais acurado e pautado pelo humanismo.
Em "Olha pra Elas", as lentes funcionam como olhos atentos aos sentimentos daquelas que, por ações pessoais ou alheias, cederam ao mundo do crime quase como uma decorrência. As histórias de Adelaide, Tatiana, Tatiane, Naiane e Roselaine, retratadas no filme, têm em comum, além de ser mães e viver longe dos filhos, o de estar aprisionadas por crimes menores, como roubo, furto e tráfico, realidade da maioria das milhares de detentas no país. Entregues a prisões precárias e inadequadas, elas sofrem, principalmente, pelo abandono e pela desestruturação do lar.
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| A triste realidade de mulheres encarceradas |
Embora a população carcerária feminina brasileira seja a terceira maior do mundo, com cerca de 49 mil mulheres nessa condição, na comparação com os homens o volume é 818 mil vezes menor, segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional. Raça, gênero e falta de acesso a condições dignas de cidadania juntam-se para, sobre a égide do machismo, condenar essas mulheres não só às grades, mas à brutal restrição a alternativas sadias quando libertas. Fora do presídio, elas já estão presas antes de serem presas. Assim, condenam-nas duas vezes, pois o afastamento dessa mulher do lar promove outras desestruturações tão graves (fome, abuso, prostituição, violência doméstica, drogadição), que impossíveis de serem estimadas.
O funcionamento machista de um país atrasado socialmente é tamanho que a simples associação da mulher a um homem criminoso é suficiente para puni-la, a se ver pela personagem Clair trazida no filme. Confundida com outra pessoa de mesmo nome, ela foi presa por engano por alarmantes 11 meses. O fato é que não há engano e, sim, um projeto de feminicídio não declarado, mas sorrateiro e perverso, que se deflagra na histórica invisibilidade dos corpos periféricos e marginalizados. Quanto mais femininos.
Inquietante, "Olha pra Elas" guarda semelhança com outro documentário, "O Cárcere e a Rua" (2004), de Liliana Sulzbach. Primeiramente, uma parecença geográfica, uma vez que também se trata de uma produção gaúcha sobre a vida de prisioneiras da penitenciária Madre Pelletier, em Porto Alegre – cenário onde "Olha pra Elas" basicamente se passa. Mas, sobretudo, por um aspecto que não está na tela, porém a tece: a visão feminina sobre uma questão feminina. Assim como fez Liliana em seu filme, Tatiana sensibiliza sua câmera através do exercício da empatia e da identificação. Realidade distante à da própria diretora, mas nem por isso incapaz de torná-la cúmplice e atenta. Numa abordagem mais do que jornalística, e, sim, humanista, "Olha pra Elas" prova que, pelo cinema, é possível enxergar essas sofridas mulheres não com só os olhos, mas com o coração.
texto originalmente publicado no caderno Doc do jornal Zero Hora em maio de 2023
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trailer de "Olha pra Elas", de Tatiana Sager
Daniel Rodrigues
segunda-feira, 10 de janeiro de 2022
Globo de Ouro 2022 - Os Vencedores
Saíram os vencedores do Globo de Ouro, um dos principais prêmios de cinema e televisão dos Estados Unidos, que sempre é um bom termômetro em relação aos possíveis indicados e favoritos para o Oscar, a principal premiação do cinema norte-americano e, possivelmente, a mais conhecida e conceituada no mundo, que acontecerá em março.
No Globo de Ouro que esse ano foi meio secreto, sem transmissão por TV, o grande destaque ficou por conta do bom "Ataque dos Cães", da diretora Jane Campion, que vem impressionando por onde passa, e que levou prêmios de direção, filme de drama, roteiro e ator coadjuvante, para o jovem Kodi Smit-McPhee. Já o badalado "Não Olhe Para Cima", que concorria em quatro categorias, não levou nenhum, perdendo, inclusive na de melhor filme de comédia, para o musical "Amor, Sublime Amor", de Steven Spielberg. Mas não é de se surpreender. Vamos ver se o filme, de necessária reflexão, terá melhor sorte no Oscar que, por seu turno, vem desenvolvendo conceitos um pouco mais abrangentes nos últimos anos.
Confira a baixo a lista dos vencedores:
| Benedict Cumberbatch em "Ataque dos Cães". |
CINEMA:
- Melhor filme – drama
‘Belfast’
‘No Ritmo do Coração’
‘Duna’
‘King Richard: Criando Campeãs’
‘Ataque dos Cães’
- Melhor diretor – Filme
Kenneth Branagh (‘Belfast’)
Jane Campion (‘Ataque dos Cães’)
Maggie Gyllenhaal (‘A Filha Perdida’)
Steven Spielberg (‘Amor, Sublime Amor’)
Denis Villeneuve (‘Duna’)
- Melhor atriz em filme – drama
Jessica Chastain (‘The Eyes of Tammy Faye’)
Olivia Colman (‘A Filha Perdida’)
Nicole Kidman (‘Apresentando os Ricardos’)
Lady Gaga (‘Casa Gucci’)
Kristen Stewart (‘Spencer’)
- Melhor ator em filme – drama
Mahershala Ali (‘Swan Song’)
Javier Bardem (‘Apresentando os Ricardos’)
Benedict Cumberbatch (‘Ataque dos Cães’)
Will Smith (‘King Richard: Criando Campeãs’)
Denzel Washington (‘The Tragedy of Macbeth’)
- Melhor filme – musical ou comédia
‘Cyrano’
‘Não Olhe Para Cima’
‘Licorice Pizza’
‘Tick, Tick … Boom!’
‘Amor, Sublime Amor’
- Melhor atriz em filme – musical ou comédia
Marion Cotillard (‘Annette’)
Alana Haim (‘Licorice Pizza’)
Jennifer Lawrence (‘Não Olhe Para Cima’)
Emma Stone (‘Cruella’)
Rachel Zegler (‘Amor, Sublime Amor’)
- Melhor ator em filme – musical ou comédia
Leonardo DiCaprio (‘Não Olhe Para Cima’)
Peter Dinklage (‘Cyrano’)
Andrew Garfield (‘Tick, Tick … Boom!’)
Cooper Hoffman (‘Licorice Pizza’)
Anthony Ramos (‘Em um Bairro de Nova York’)
- Melhor ator coadjuvante em qualquer gênero
Ben Affleck (‘Lar Doce Lar’)
Jamie Dornan (‘Belfast’)
Ciarán Hinds (‘Belfast’)
Troy Kotsur (‘No Ritmo do Coração’)
Kodi Smit-McPhee (‘Ataque dos Cães’)
- Melhor atriz coadjuvante em qualquer gênero
Caitríona Balfe (‘Belfast’)
Ariana DeBose (‘Amor, Sublime Amor’)
Kirsten Dunst (‘Ataque dos Cães’)
Aunjanue Ellis (‘King Richard: Criando Campeãs’)
Ruth Negga (‘Identidade’)
- Melhor roteiro – filme
‘Licorice Pizza’
‘Belfast’
‘Ataque dos Cães’
‘Não Olhe Para Cima’
‘Apresentando os Ricardos’
- Melhor filme – animação
‘Encanto’
‘Flee’
‘Luca’
‘My Sunny Maad’
‘Raya e o Último Dragão’
- Melhor trilha sonora original
‘A Crônica Francesa’
‘Encanto’
‘Ataque dos Cães’
‘Madres Paralelas’
‘Duna’
- Melhor filme em língua estrangeira
‘Compartment No. 6’
‘Drive My Car’
‘A Mão de Deus’
‘A Hero’
‘Madres Paralelas’
- Melhor canção original – Filme
‘Be Alive’ (‘King Richard: Criando Campeãs’)
‘Dos Orugitas’ (‘Encanto’)
‘Down to Joy’ (‘Belfast’)
‘Here I Am (Singing My Way Home)’ (‘Respect’)
‘No Time to Die’ (‘007: Sem Tempo para Morrer’)
TELEVISÃO:
- Melhor série de comédia ou musical
‘The Great’
‘Hacks’
‘Only Murders in the Building’
‘Reservation Dogs’
‘Ted Lasso’
- Melhor atriz em série de comédia ou musical
Hannah Einbinder (‘Hacks’)
Elle Fanning (‘The Great’)
Issa Rae (‘Insecure’)
Tracee Ellis Ross (‘Black-ish’)
Jean Smart (‘Hacks’)
- Melhor ator em série de comédia ou musical
Anthony Anderson (‘Black-ish’)
Nicholas Hoult (‘The Great’)
Steve Martin (‘Only Murders in the Building’)
Martin Short (‘Only Murders in the Building’)
Jason Sudeikis (‘Ted Lasso’)
- Melhor minissérie ou filme para TV
‘Dopesick’
‘Impeachment: American Crime Story’
‘Maid’
‘Mare of Easttown’
‘The Underground Railroad’
- Melhor atriz em minissérie ou filme para TV
Jessica Chastain (‘Scenes From a Marriage’)
Cynthia Erivo (‘Genius: Aretha’)
Elizabeth Olsen (‘WandaVision’)
Margaret Qualley (‘Maid’)
Kate Winslet (‘Mare of Easttown’)
- Melhor ator em minissérie ou filme para TV
Paul Bettany (‘WandaVision’)
Oscar Isaac (‘Scenes From a Marriage’)
Michael Keaton (‘Dopesick’)
Ewan McGregor (‘Halston’)
Tahar Rahim (‘The Serpent’)
- Melhor atriz coadjuvante em série, minissérie ou filme
Jennifer Coolidge (‘White Lotus’)
Kaitlyn Dever (‘Dopesick’)
Andie MacDowell (‘Maid’)
Sarah Snook (‘Succession’)
Hannah Waddingham (‘Ted Lasso’)
- Melhor ator coadjuvante em série, minissérie ou filme
Billy Crudup (‘The Morning Show’)
Kieran Culkin (‘Succession’)
Mark Duplass (‘The Morning Show’)
Brett Goldstein (‘Ted Lasso’)
Oh Yeong-su (‘Round 6’)
- Melhor ator em série de drama
Brian Cox (‘Succession’)
Lee Jung-jae (‘Round 6’)
Billy Porter (‘Pose’)
Jeremy Strong (‘Succession’)
Omar Sy (‘Lupin’)
- Melhor atriz em série de drama
Uzo Aduba (‘In Treatment’)
Jennifer Aniston (‘The Morning Show’)
Christine Baranski (‘The Good Fight’)
Elisabeth Moss (‘The Handmaid’s Tale’)
Mj Rodriguez (‘Pose’)
- Melhor série de drama
‘Lupin’
‘The Morning Show’
‘Pose’
‘Round 6’
‘Succession’
C.R.
quinta-feira, 26 de outubro de 2023
"Monstro", de Jennifer Kent (2005) vs. "O Babadook", de Jennifer Kent (2014)
O curta tem muitíssimos méritos e indubitavelmente se vê um bom trabalho ali, mas, claramente, foi o que deu pra fazer, até pela própria duração do projeto. Mas então, alguns anos depois, bancada por uma produtora maior, com mais orçamento, melhores condições técnicas, uma boa distribuição, Kent pôde aperfeiçoar sua ideia e entregou, nada menos que um dos grandes clássicos do terror dos últimos tempos.
A história é basicamente igual: uma mãe, cuidando sozinha de seu filho, duvida das histórias do garoto que alega que um homem assustador se abriga nos cantos ocultos da casa, no armário, debaixo da cama, na escadaria, pronto para pegá-lo. Só que aos poucos, com algumas evidências, sentindo a presença e com aparições do monstro também para a própria mãe, ela passa a acreditar e a lutar contra a criatura para livrar-se dela.
O primeiro filme é extremamente competente em nos apresentar esse cenário em dez minutos, partindo de um ponto de "normalidade" que ao mesmo tempo nos indica que alguma coisa não corre bem naquele lar, levanta a dúvida da existência do bicho, põe em cheque a sanidade mental do menino, cria a atmosfera de medo, e amplifica essa tensão até culminar num clímax de pavor. Tudo isso em uma edição ágil, precisa, e sob uma fotografia preto e branco sinistra e aterrorizante.
Se no futebol, nem sempre posse de bola significa resultado, pois muitas vezes o time que fica menos tempo com ela é mais mortal, aqui faz toda a diferença: "O Babadook" é superior, em grande parte, por ter mais tempo de desenvolvimento. A diretora dispõe mais tempo em detalhes, reforça situações com repetições, coloca mais elementos, e o espectador mergulha de maneira mais profunda na realidade daquele lar, do ambiente externo (vizinhança, trabalho, amigos, escola ..), na situação emocional da mãe, nos problemas de comportamento do garoto.
No curta, embora percebamos o desconforto da mãe, não conseguimos ter a dimensão da barra que ela vive cuidando sozinha do menino e como é difícil para ela lidar, não somente com as questões práticas do dia a dia (temos indicativos disso, como a cama molhada de urina, a casa bagunçada, louça por lavar...), como com os problemas relacionados aos pavores do filho.
Já na refilmagem, com mais tempo, com boa iluminação, com a maquiagem adequada, com uma atriz mais mais experiente, a mãe, Amélia, fica verdadeiramente exposta ao espectador. Uma personagem em frangalhos física e psicologicamente, uma viúva que, de uma hora para outra se vê diante do grande desafio de levar a vida sozinha, administrar a casa, cuidar do filho problemático, e ainda ter que aguentar as cobranças de se recuperar da perda do marido, voltar a ser alegre, estar apresentável...
Como se não bastasse tudo isso, o filho, Samuel, começa a ver coisas: um homem enorme, de preto, com dedos longos, usando uma espécie de cartola. O mesmo homem que está ilustrado num livro pop-up que, do nada, apareceu na casa deles. Amélia inicialmente acha que é bobagem, coisa de criança, primeiro não liga, depois ralha com o filho, logo, por conta de seu estado emocional, perde a paciência com o menino. Associa as inquietações do filho ao livro e tenta livrar-se dele mas o livro sempre reaparece. Pode jogar no lixo, rasgá-lo, queimá-lo, ele volta. Depois de também perceber a presença do monstro, sentir-se ameaçada por ele, embora tente lutar contra a criatura e tente expulsá-lo, começa cada vez mais a ser dominada por ele, ficar agressiva e dirigir essa agressividade para o filho.
"O Babadook" é mais do que um mero filme de terror. É um drama sobre maternidade com elementos de terror psicológico tão perturbadores que vão além do sobrenatural.
Todos os méritos para "Monstro" mas... não dá. Até guarda o seu por conta da excelente fotografia P&B, mas não resiste ao melhor futebol do adversário e deixa entrar. O primeiro, pelo melhor desenvolvimento da ideia original e complexidade do enredo; e o segundo, pelo aperfeiçoamento do monstro, ainda mais sinistro e assustador, especialmente nas cenas em que se arrasta pelo teto, na que desce pela lareira e, na sequência final, quando se agiganta emergindo das sombras avançando contra os dois. A dupla de ataque guarda os seus: Essie Davis, como Amélia, tem excelente atuação e sua caracterização, desgrenhada, acabada, esgotada, é perfeita (3x1); e Samuel, o filho, vivido por Noah Wiseman, que consegue provocar no espectador um misto de piedade e irritação, garante com essa atuação brilhante mais um no placar. Virou goleada.
A técnica Jennifer Kent ainda faz uma substituição que lhe garante mais um gol: SAI o boneco, objeto perturbador do menino no primeiro filme, e ENTRA o livro, elemento que oferece mais possibilidades, mais alternativas visuais e dramáticas por conta dos desenhos pavorosos do monstro e dos textos ameaçadores da misteriosa publicação. Mais um para o Babadook!
O Monstro ainda desconta no finalzinho por conta de seu final mais interessante, mais plástico e sugestivo que o do longa, mas não é suficiente para uma reação.
Final: Monstro 2 x Babadook 5.
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| À esquerda, "Monstro", de 2005 e à direita, "O Babadook", de 2014 |
quinta-feira, 21 de março de 2024
Drops Debate "Conversando sobre o filme 'Nosso Lar 2" - Casa do Jardim - Porto Alegre/RS (23/03/24)
O convite para o debate veio do Departamento de Estudos e Pesquisas da CJ, na pessoa de Dinorá Fraga, que fará a mediação, e a qual terei o prazer de dividir com meu amigo de anos Lúcio Bragança, trabalhador da casa e pessoa de profundo conhecimento sobre a doutrina espírita. Enfim, eu, com aquilo que carrego em termos de crítica de cinema, e ele com essa carga de conhecimento, vamos buscar trazer aspectos relevantes para se assistir e refletir o filme. A intenção é esta.
Daniel Rodrigues
domingo, 4 de março de 2012
cotidianas #199 - A Mancha Amarela
André cruzou a avenida movimentada de onde trabalha, enfiando-se entre os carros como fazia junto a outros vários pedestres todos os dias a ponto de nem preocupar-se mais com o perigo de não respeitar a faixa – era mais fácil chegar a seu destino assim. Podia pegar uma condução no ponto logo ali, na esquina, sem precisar cruzar a via, mas, horário de verão, costuma empreender a esta época uma caminhada de uns 15 minutos até sua casa, bairro logo ao lado. Carteira com menos relatórios que o normal, sapatos de couro curtido que já podia considerar confortáveis, temperatura amena, economia de dinheiro, maneira de evitar o trajeto alongado do ônibus, desculpa ecologicamente correta, nada melhor para fazer, ninguém a se reportar; tudo contribuía. Então, banalmente, foi.

Ao chegar à calçada oposta, percebeu uma mancha de tinta sobre as pedras portuguesas do calçamento a qual nunca tinha reparado. Amarela. Estranhou (afinal, trabalhava ali há sonolentos 6 anos e nunca tinha sequer batido o olho...). Mas seguiu em marcha. Ficou com a interrogação daquela imagem: espatifada, como que resultante de um tubo cheio de tinta emborcado. Intencional? Sem querer? Deixou “pra lá”, afinal, podia ser que estivesse ali até a mais tempo que ele, e ele é que nunca tivesse percebido, quem sabe, por sempre alcançar um trecho da calçada além da mancha – talvez, meio metro adiante, o suficiente para, tendo em vista seu olhar acostumado a apontar para uma direção só, jamais ter notado. “Sei lá”, disse a si mesmo.
Nem bem completou esse raciocínio desaproveitável e avistou, vindo em sua direção, um senhor falando ao celular. O aparelho, totalmente lambuzado da mesma tinta amarela, porém fresca de recém-derramada, escorria pelos dedos, chegando-lhe até a boca. Alguns pingos entravam lábio adentro, outros trilhavam em direção ao punho do paletó. De um amarelo cítrico, oleoso, brilhoso, pendendo levemente para o esverdeado. Aquela mesma tonalidade do chão. No entanto, viu que o homem mantinha a conversa normalmente, e André pôde até escutar que se tratava de um diálogo com a esposa, pois conseguiu ouvi-lo dizer quando passava: “não, mulher, o cartório pediu mais uma pepelada...”. Admirou-se daquilo... mas não se conturbou, afinal tinha mais o que fazer: chegar em casa. E seguiu a passo moderado, naquela nenhuma solenidade.
Mais adiante, no seu trajeto insosso de tão corriqueiro, um jovem cantava uma garota, ambos de pé em frente ao (provavelmente) prédio dela. Na calça dele, à altura da panturrilha, a tinta, já seca, tingia uma das pernas, formando uma incompreensível imagem abstrata que contrastava com o jeans de estilo moderninho. Ela parecia estar “na dele”, pois sorria e mexia no cabelo enquanto o rapaz macaqueava-se à sua frente, dança da sedução caricatamente sincera. A mancha, incompatível àquela cena, não parecia afetar em nada o cortejo. Ao som de uma gargalhadinha dela, André virou a cabeça e, na mesma quadra, viu uma senhora idosa passeando com um poodle, bem faceiro, tanto que a tinta amarela que pingava de sua boca, no lugar da saliva, não lhe tirava a satisfação de estar na rua com sua dona naquele fim de tarde nem com o provável gosto azedo que produzia. Irracional (decerto, por isso), o cão nem percebia, assim como a dona que, talvez pela velhice, talvez pela mesma irracionalidade, também não.
E no resto do trajeto, ainda, mais daquela estranheza: um grupo de meninas, emanando tesão, aos gritinhos, jogava uma ridiculamente mal jogada partida de vôlei, em que a bola voava de um lado para o outro respingado a tinta, que cuspia pingos nos cabelos delas (nem se importavam!). Um mendigo, na sarjeta, embuchava-se com um pedaço de pão velho emplastrado daquilo. Também, um casal de orientais vinha no tradicional passo rápido e sincronizado dos orientais. Mãos dadas, empapadas, grudadas pelo viscoso amarelo-lima.
Aquilo tudo era muito estranho, de fato, e, embora não chegasse a incomodar, embaraçava sua cabeça um pouco. Não conseguia ligar uma situação à outra. Não fazia sentido... Porém, quase em casa, nem precisava mais pensar. Era chegar e apagar a memória do dia, como se acostumara, dormentemente, a proceder um dia após o outro: ao bater a porta do apartamento, o “para trás” morria.
Enfim, chegou. Depois de trocar cumprimentos de forma consensualmente banal com o zelador – que molhava as folhagens com tinta amarela a jatos de mangueira –, subiu pelo elevador, puxou a chave e: lar doce lar. Foi direto à cozinha. Na geladeira, abriu-lhe a porta e, ao destampar a panela guardada do dia de ontem, enxergou a porção restante do macarrão com frango coberta por uma espessa camada de tinta amarela. As horas de refrigeração já faziam com que, plástica, a tinta revestisse sua comida, formando um bloco compacto e gelado. André enojou-se de tal jeito que fechou a porta e foi direto para a sala zapear os canais da tevê. Sentou-se no sofá meio de lado, tal como caiu, de alça da carteira sobre o ombro, os tais sapatos semiconfortáveis calçados, calça ainda cintada; só a gravata ligeiramente afrouxada no gogó. Adormeceu rápido de uma exaustão que nem sabia que tinha, sem dar tempo de prestar atenção em nada na televisão. Na tela, a âncora da BBC noticiava em inglês na sua postura fria e inabalável que a crise no Oriente Médio mais uma vez afetara as bolsas de todo o mundo, enquanto a tinta amarela cobria totalmente uma das lentes de seus óculos, escorrendo lenta e em camadas até formar pingos graúdos, que salpicavam aos poucos o balcão, começando a formar ali uma poça.






























