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sexta-feira, 2 de setembro de 2016

“Conte uma Canção – vol. 2”, organização Frodo Oliveira e Marla Figueiredo (Vários autores) – Ed. Multifoco (2016)




“A música é uma das formas de expressão
 mais fantásticas e antigas que a humanidade já criou.
Talvez tenha nascido da observação dos sons da natureza, não se sabe ao certo,
 mas desde a pré-história o homem foi despertado para a necessidade de
 organizar uma sequência de sons e silêncios que
pudesse ser apreciada, entendida e praticada.
Desde então ela vem sendo criada e executada
por todos os povos e culturas da Terra.
O segundo volume da antologia ‘Conte uma Canção’
(traz) histórias tristes, histórias com finais felizes,
histórias que assustam, histórias que excitam, histórias reais,
 histórias nascidas da imaginação dos nossos autores,
aqui não importa o gênero ou tipo de narrativa.
O que importa é que são histórias que,
as músicas que as inspiraram, emocionam.”
texto de apresentação do livro
na contracapa



Já está nos pontos de venda a antologia “Conte uma Canção – vol. 2”, pela editora Multifoco, da qual meu irmão e editor deste blog, Cly Reis, e eu, subedidor, fazemos parte com um conto cada um. O livro teve lançamento no último dia 30, durante a 24ª Bienal do Livro de São Paulo, no Anhembi.

O conto de Cly, intitulado "O Filho do Diabo", é certamente um dos melhores de sua profícua produção contística. Por conta do recorte temático, a ligação da narrativa com uma música, seu conto tenha se beneficiado com isso, haja vista ser ele um grande admirador e conhecedor da arte musical. No caso, o blues, que sei que é um dos estilos de sua predileção. Sobre uma canção do guitarrista norte-americano Robert Johnson, um dos precursores do blues, dos anos 20, Cly cria uma história bastante envolvente e até assustadora em que um homem misterioso bate à porta do protagonista cobrando-lhe uma “dívida” que este nem imaginava ter. A associação da história com a canção, “Me and the Devil Blues”, é não só muito pertinente e sacada como, no contexto, bastante literária, uma vez que se aproveita de toda a atmosfera mística e mítica que envolve o músico, o qual se diz ter pactuado com o Tinhoso e, por conta disso, tivera tamanho talento mas, em contrapartida, morrido cedo e de forma misteriosa. A vida imita a arte.

Já o de minha autoria"'Heart Fog' vazando", se vale de uma música de uma banda de indie rock inglesa dos anos 90, a Th' Faith Healers. Desconhecida fora do meio alternativo, cultuada por este público (dentro do qual me incluo), vali-me, assim como Cly o fez, deste elemento mítico em torno do grupo, porém de uma forma diferente. Misto de fábula urbana e história romântica, “Heart...”, assim como “O Filho...”, já havia sido publicado no blog, porém, advirto que, tanto um quanto o outro valem a pena ser lidos a versão do livro, mais aperfeiçoadas para a editoração.

Organizado por Frodo Oliveira e Marla Figueiredo, além de nós dois, claro, há outros autores, tão merecedores de menção quanto, somando 21 textos no total. São eles: Jojo Corrêa, L.P.S. Mesquita, Manoella Treis, Micael Pinto de Almeida, Misa Ferreira, Nair Palhano, Nonato Costa, Rogério Rodrigues, Tatiana Aline Santana, Valdileia Coelho, Alice Ferreira, Antonio Oliveira, Antonio Sodré, Claudio Lopes de Araujo, Cris Caetano, Di Onísia, Emilene Salles e Fernando Aires, além do próprio Frodo.

Ficamos devendo uma análise mais completa da obra toda, mas por ora vai esse quase teaser para despertar o interesse dos leitores. Abaixo um trecho de cada um dos nossos contos presentes na antologia “Conte uma Canção – vol. 2”:

“Quem seria àquela hora?
As batidas insistentes à porta interrompiam sua habitual sesta, da qual não abria mão, principalmente naquela época do ano em que fazia muito calor. Lidara a manhã inteira no campo em seu pequeno pedaço de terra defendido pela mãe com tanta luta naquelas terras hostis do Sul e que conseguia manter a tanto, e agora que conseguia descansar o corpo exausto um inconveniente vinha incomodá-lo. Quem seria?”
Trecho de “O Filho do Diabo”, de Cly Reis


“Horário de pico, entrou no metrô quase arrastado pela multidão na estação já pelo meio do trajeto do trem. Seu objetivo de vida ficava uma estação antes do final da linha e chamava-se ‘casa’ (...) Como faltava um bom tempo ainda para chegar ao destino, procurou naquele aperto um espaço para se acomodar, equilibrando-se minimamente entre tantos que faziam o mesmo. Parou de frente a uma moça e um rapaz que, sentados, conversavam animadamente. ‘Bem bonita’, pensou. Tipo executiva, cabelo aloirado preso no coco sem soltar nenhum fio sequer, maquiagem em dia mesmo no fim de tarde, tailleurzinho risca-de-giz cinza. Muito elegante, ou seja: ‘não é pro meu bico’, arrematou para si em cima imediatamente. ‘Seriam namorados?’, ocorreu-lhe.”
Trecho de “’Heart Fog’ vazando”, de Daniel Rodrigues







terça-feira, 10 de março de 2020

Marisa Monte - "Mais" (1991)



"Ela tem umas coisas
 que nasceram com ela:
carisma, uma beleza calma
e uma enorme cultura musical."
Nelson Motta




Ela já havia interpretado uma música deles em seu álbum de estreia e, não muito tempo depois, um encontro num especial da Rede Globo que a colocava no mesmo palco com os Titãs, além de servir de alavanca para o namoro com o baixista Nando Reis, encaminharia a parceria que se materializaria objetivamente, logo ali adiante no excelente álbum "Mais", de 1991 e ainda abriria o caminho para, mais futuramente, o projeto Tribalistas, já mencionado aqui nos A.F., de Marisa, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, que faz a percussão em grande parte das músicas. "Mais" pode até parecer, num primeiro momento, uma espécie de projeto alternativo dos Titãs com outro tipo de concepção vocal, dada a quantidade de músicas em que eles têm, no mínimo, participação nas composições. Causa ou consequência da então recente relação de Marisa com Nando, a parceria com os Titãs refletiria na linguagem do trabalho como um todo, até mesmo, de certa forma nas versões de outros artistas. Com exceção de "Rosa", de Pixinguinha, de estrutura mais complexa e letra rebuscada, a maioria das outras covers poderia caber, sem problemas num disco do octeto paulista, como no caso de "De Noite na Cama", de Caetano Veloso, por exemplo, a adaptação do folclores nordestino, "Borboleta", e até mesmo, por incrível que pareça, "Ensaboa", de Cartola, que dentro do espectro da obra do mestre da Mangueira, pode ser considerada uma de suas letras mais minimalistas e de estrutura diferenciada. Mas seria uma injusta simplificação reduzir o trabalho a uma experimentação titânica. "Mais" é muito mais! Marisa Monte canta, encanta, brinca, emociona, impressiona. Com produção do norte-americano Arto Lindsay, o disco é eclético sem ser pretensioso e tem um equilíbrio perfeito entre as faixas o que faz com que seja prazeroso e mantenha um frescor mesmo para quem já o conhece de muitas audições.
"Beija Eu", com letra de Arnaldo Antunes, comprova que o mesmo cara que fazia coisas como "Saia de Mim", era capaz de compor algo tão belo e delicado como aquela faixa de abertura, que, por sinal, não merecia outra interpretação que não à de Marisa Monte, doce e graciosa. "Volte para o seu lar", rebelde e impositiva, é a mais titânica das músicas do disco, contando com uma leitura musical perfeita de Marisa que dosou com sabedoria a melodiosidade com a pungência da letra ("Aqui nessa casa/ Ninguém quer a sua boa educação/ Nos dias que tem comida/ Comemos comida com a mão...", "Aqui nessa tribo/ Ninguém quer a sua catequização/ Falamos a sua língua/ Mas não entendemos o seu sermão"...). "Ainda Lembro", canção de amor elegante e de muito bom gosto, conta com a luxuosa participação de Ed Motta compõe com Marisa um dueto que pode se incluído entre os grandes da música brasileira. Em "De noite na cama", Marisa dá um ar leve à canção de Caetano Veloso, inúmeras vezes regravada na discografia nacional, desta vez com uma interpretação bem solta e alegre; e a "Rosa", de Pixinguinha e Otávio Cruz, a confere senão a versão definitiva, no mínimo uma das mais memoráveis. E em "Borboleta", cantiga tradicional do nordeste, Marisa Monte começa fazendo a voz pairar suavemente sobre nosso jardim sonoro para em seguida, sobre uma base acústica, desfilar seu canto doce e gracioso.
Marisa começa esticando a voz em "Ensaboa", sugerindo um cântico de lavadeiras, a música ganha um coro no refrão que também remete a um canto do trabalho conjunto na beira do tanque e de ribeirões, e culmina num pout-pourri, simplesmente extático, com "Lamento da Lavadeira", "Colonial Mentality", "Marinheiro Só", "A Felicidade" e "Eu Sou Negão". Espetacular!
"Eu não sou da sua rua", outra muito titânica, é uma espécie de "Lugar Nenhum"l mais leve e melancólica. "Diariamente", de Nando Reis, uma das melhores do disco, usa um formato em lista, como era característico dos Titãs em músicas como "Nome aos bois", do próprio Nando, só que aqui com atividades e situações rotineiras, numa anáfora conduzida de maneira brilhante pela cantora sobre uma base de violão constante e repetida.
Marisa se aventura pela primeira vez em uma composição solo e se sai bem na gostosa "Eu Sei";
"Tudo pela metade", parceria de Marisa com Nando, talvez seja a mostra mais perfeita no álbum do êxito da combinação de seu estilo com o dos Titãs, ficando bem evidenciado o ponto onde acaba um, começa o outro e onde se fundem. Um pop delicioso de refrão cativante e que fica mais bacana ainda na última vez em que se repete com um coro de crianças bem espontâneo e "bagunçado"; e "Mustaphá", uma balada zen, tranquila, com um belíssimo trabalho de violão, fecha o disco com competência.
"Mais" era a confirmação de Marisa Monte. Se passara uma boa impressão com o primeiro disco "MM", um ao vivo só de versões de outros artistas, mas deixara uma certa dúvida sobre ser ou não um daqueles fenômenos efêmeros que parecem de vez em quando, este disco mostrava que ela não era só mais uma cantora de um ou dois hits. Ela chegara para ficar. Era mais uma das grandes mulheres da música brasileira. Uma mulher com M maiúsculo! M de música, M de Marisa, M de Mais.

*******************
FAIXAS:
1."Beija Eu" -  Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Arto Lindsay (3:10)
2."Volte Para o Seu Lar" - Arnaldo  Antunes (4:41)
3."Ainda Lembro" - (participação especial de Ed Motta) - Marisa Monte, Nando Reis (4:05)
4."De Noite na Cama" - Caetano Veloso (4:24)
5."Rosa" - Pixinguinha, Otávio de Souza (2:43)
6."Borboleta" - Folclore Nordestino (1:56)
7."Ensaboa (Lamento da Lavadeira)" - Cartola, Monsueto Menezes (4:15)
8."Eu Não Sou da Sua Rua" - Branco Mello, Arnaldo Antunes (1:29)
9."Diariamente" - Nando Reis (4:05)
10."Eu Sei (Na Mira)" - Marisa Monte (2:40)
11."Tudo Pela Metade" - Marisa Monte, Nando Reis (4:11)
12."Mustaphá" - Marisa Monte, Nando Reis (2:23)
******************
Ouça:
Marisa Monte - Mais


Cly Reis

quarta-feira, 10 de março de 2021

Animais Estranhos

 





Taàr - REIS, Cly
(ilustração digital)

Qihi - REIS, Cly
(ilustração digital)




Animais Estranhos
Cly Reis

segunda-feira, 20 de março de 2023

Gal - Fatal

 



Gal - Fatal - REIS, Cly ilustração digital (GIMP) fan art estilo cinema inspirada em filmes noir em homenagem à obra da cantora Gal Costa
Gal - Fatal - REIS, Cly
ilustração digital (GIMP)
fan art estilo cinema inspirada em filmes noir
em homenagem à obra da cantora Gal Costa




Gal - Fatal
ilustração digital
Cly Reis

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Búfalos e Gnus

 



Búfalos - REIS, Cly
(
lápis aquarela, esferográfica e nanquim em sulfite)

Gnus -REIS, Cly
(lápis aquarela, esferográfica e nanquim em sulfite)





Búfalos e Gnus
Cly Reis
(ilustrações para publicação de biologia)

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Copa do Mundo The Cure - finalistas


Dois jogos.
Duas batalhas.
Quatro grandes músicas.
Apenas duas delas chegarão  final e apenas uma será proclamada a Melhor Música do The Cure.
O clássico 'The Walk', um sinth-pop da fase de transição do Cure dark para uma banda mais pop encarou a boa 'M', do álbum Seventeen Seconds, um pós-punk irretocável com bela base de guitarra e sintetizadores quebrando os tempos. A grandiosa 'A Forest', uma das músicas que melhor representa o som do Cure e uma das mais executadas ao vivo ao longo da carreira da banda pegando a ótima 'Push', um show instrumental com uma guitarra espetacular de Robert Smith, em uma das melhores performances coletivas da banda. Puxa vida... E agora? Nossos 4 especialistas, ajudados pelos amigos do Clyblog no Facebook tiveram a dura tarefa de escolher apenas 2 classificadas. Uma em cada confronto.
Confira abaixo as análises de cada um e o resultado destas semifinais:



Daniel Rodrigues

"M" x "THE WALK"
" “The Walk” é daqueles ex-campeões nacionais que há muito não ganha um título, tipo Botafogo e Atlético Mineiro, mas que, desta vez, montou um time competitivo, armadinho, eficiente. Por isso, vinha despachando adversários fortes nas fases anteriores, como as “Disintegration” “Fascination Street” e “Lovesong”. Mas só força de vontade não basta em futebol quando se pega pela frente um time com mais consistência e qualidade técnica. “M” não se apavora com o retrospecto de “The Walk” e lhe aplica um 2 x 0 sem susto, um gol em cada tempo: jogada armada pela esquerda no primeiro (aquele cruzamento da linha de fundo implacável com cabeçada do centroavante na marca do pênalti, sabe?), e, no segundo, de pênalti.
‘M’ NA FINALEIRA! "

"PUSH x "A FOREST"
"Pensei que esta seria a final, mas, por essas coisas do futebol, deu aquele “jogo da morte” nas semi, tipo “Gre-Nal do Século”, tipo Holanda e Itália de 1978, tipo Uruguai e Hungria de 1954. Mas quem foi o Inter, a Holanda e a Hungria da vez? “A Forest”. 1 x 0 com um golaço de fora da área, uma bucha no ângulo, aos 20 do segundo tempo. O jogo encrespou a partir de então, porque “Push”, com a qualidade que tem, foi pra cima e botou pavor na área adversária. Mas “era dia de floresta”, depois de por um volante e mais um zagueiro (abdicando de atacar) e...
‘A FOREST’ CLASSIFICA "

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Anderson Reis

"M" x "THE WALK"
"Meu voto vai para "The Walk
THE WALK CLASSIFICA


"PUSH x "A FOREST"
"A Forest" ! Não tem como, meu.. "Push" é mto boa mais "A Forest" é fodastica e ao vivo é melhor ainda.
A FOREST CASSIFICA

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Christian Ordoque
"M" x 'THE WALK"
Ganha 'M'. Por mais que 'The Walk' cresça ao vivo não é o suficiente para ganhar da 'M'. Aristocraticamente falando, M tem berço, tem estirpe, tem origem e pedigree. 'The Walk' não tem. 'The Walk' é novo-rico comparado com a bem nutrida, centrada e consistente 'M'.
"M" CLASSIFICA

"PUSH" x  "A FOREST"
Conheci “A Forest” como muitos de vocês devem ter conhecido no glorioso Concert Live numa versão acelerada empurradaça por um teclado poderoso que fazia mais um zumbido opressor do que tocava as notas da música e um reverber no vocal que chegava a dar eco e foi nesta versão que eles vieram a Porto Alegre no show do Gigantinho que não fui. Muito escutei esse disco. Ou muito me engano ou tive que ter dois discos destes porque o primeiro gastou. Depois retomei minhas audições do The Cure quando daquela fase do Wish pelos EUA que resultou no disco ao vivo Show, uma Forest mais comportada, mas ainda mantendo a essência. Depois nos anos 90 vi meu primeiro show do Cure no Hollywood Rock onde conheci os colegas Cureólogos e dedicados à Cureologia Aplicada Cly Reis E Daniel Rodrigues. Foi um show mais de emoção do que de razão onde chorei horrores e que dizem que não foi tão bom assim. Para mim foi bem bom. Ano passado fui ver como estava a banda e me surpreendi com a coesão do grupo. Neste show e imagino em todos os outros que passararam e que virão eles tocaram “A Forest”. Em um show de 40 músicas, eles “queimaram” este cartucho na música 14 ! Um clássico dessa envergadura antes da METADE do show. Corta. E Push ? O que dizer de Push ? Musicaço cartão de visitas, onde mostra todo o potencial de instrumentistas em várias formações ao longo dos anos. Foi por anos a cortina do Glorioso programa Boys Don´t Cry do Mauro Borba. Contarei um causo. A Pop Rock tinha um programa depois das 11 ao vivo onde o Ricado Padão atendia a alguns pedidos da galera e numa dessas noites pedi a Push para ele. Foi muito engraçado e diferente ouvir uma música que era características dos sábados de tarde tocar de madrugada. Push é hino, Push é instrumental absurdo, Push é símbolo de uma música bem composta por exímios músicos. Mas não é imbatível. Perde para A Forest por um simples motivo: Foi a única música que vi tocada ao vivo onde milhares de pessoas a aplaudiu NO MEIO da execução ! A Forest é a Hey Jude do The Cure. Pode parecer monótona ou coisa de fã, mas só quem está no meio da multidão pode saber e sentir do que se trata.
"A FOREST" CLASSIFICA
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Cly Reis
"M" x "THE WALK"
"M" tem mais jogo, tem mais talento. "Walk" tem um jogo muito mecânico, sempre a mesma jogada. "M" aproveita a previsibilidade de "Walk" e anula suas principais virtudes. Faz 1x0 já  no início, só por aquela introdução que é muito bala, o jogo fica equilibrada na maior parte do tempo, mas "M" liquida o jogo no solinho final. 
"M" CLASSIFICA

"A FOREST" x "PUSH"
Agora o bicho pegou! 'A Forest' tinha passado por outras grandes mas provavelmente por nenhuma tão completa quanto 'Push'. São estruturas diferentes mas ambas extremamente técnicas e muito bem desenvolvidas. Enquanto 'Push' faz uma longa introdução instrumental, onde apresenta toda a estrutura da música e então a repete acompanhada da letra, 'A Forest' tem três partes cantadas que desembocam num solo e que por sua vez vai se desvanescendo até morrer nas notas do baixo. O que vale mais? Difícil escolher! 0x0 no tempo normal.
'Push' tem guitarras mais altas, mas estridentes, mais vibrantes, mas 'Forest' tem a intensidade precisa pra manter o clima sombrio, tem a medida exata de intervenções, e um solo final de arrepiar. Se 'Push' tem aquele "the only way to beeeeeee....", "A Forest" tem seu 'again and again and again and again...". Segue a igualdade. 
O contrabaixo: o baixo de 'Push' é notável, mas o que dizer do da outra, simplesmente o coração da música? "A Forest' até faz 1x0 por conta dessa performance de Simon Gallup, mas o gol é anulado.
Enquanto os teclados de 'Push' são mais um complemento, os de 'Forest', notáveis, densos, formando uma atmosfera escura e esfumaçada, são fundamentais. 1x0 na prorrogação, e agora valeu. Mas a bateria de 'Push' supera a discreta bateria eletrônica da original de 'A Forest'  e 'Push' empata nos acréscimos do tempo extra.
Vai para os tiros livre da marca da cal. Nos penais, pelas versões ao vivo de "A Forest", pela remix e pelo tanto que representa e simboliza em relação à banda, 'A Forest' faz 3x1. 
A FOREST CLASSIFICADA


por maioria de votos "M" e "A FOREST" estão na grande final.


Agora é aguardar a avaliação da bancada, as opiniões populares e todo o desenrolar deste grande clássico para sabermos quem será o grande campeão da Copa do Mundo The Cure.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Exposição "Frida Kahlo - Conexões Entre Mulheres Surrealistas no México" - Centro Cultural Caixa/Rio de Janeiro (17/03/2016)









A arte emancipadora de Frida Kahlo

Cartaz da exposição.
Havia lamentado profundamente não ter tido condições de ver a exposição de Frida Kahlo em São Paulo, no Tomie Ohtake, no final do ano passado. Passado o mês de novembro, quando havia me programado junto com Leocádia para tal, não houve mais oportunidade e a temporada paulista da mostra se encerrara. Mas por essas coincidências da vida, voltamos ao Rio de Janeiro em março e que estava lá? A mesma exposição, desta vez na Caixa Cultural. Mesmo curta a viagem, não só foi programação certa como foi a primeira assim que pusemos os pés na Cidade Maravilhosa novamente.
E as expectativas se cumpriram todas. Lá estávamos nós dois acompanhados de Cly Reis, numa ocasião rara e especial. Além de expor obras significativas da carreira de Frida, também criou um contexto de diálogo entre as várias outras artistas mexicanas contemporâneas a ela e, mais que isso, suas seguidoras. Muito bem montada, a exposição intercalou obras dela e de suas parceiras de estrada com temas e recortes bastante específicos, fazendo com que, mesmo não sendo grande o número de obras da própria Frida, estas se conjugassem tão bem com o restante que ficou bem distribuído. Esse cuidado da curadoria se fez evidente, pois ficou nítido o trato com os temas (“Corpo Feminino”, “Romance, Maternidade e Família”, “Territórios da Criação”, “Reinos Mágicos”, “Fascinação”, “Identidade Encenada”), bem como seus aprofundamentos. Superou em muito outra exposição sobre Frida Kahlo que vimos em 2014 no MON, em Curitiba, o qual trazia apenas fotos da coleção particular dela. Embora tenha cumprido o importante papel de ser a primeira mostra da artista no Brasil, abrindo portas para uma como esta recente, sua concepção e proposta deixaram bastante a desejar, um pouco pela simplificação dos recortes temáticos, um pouco pela carência de material produzido por ela, mesmo que somente em fotografia como se propunha.
Destaco, entre outras coisas, o surrealismo de tons quiméricos de Leonora Carrington e Lola Álvarez Bravo, a luz densa de Maria Izquierdo e o clima esfíngico de Bridget Tichenor. Afora, obviamente, a comovente e forte obra da própria Frida. É impressionante ver ao vivo a arte de artistas ícones da história, e a mexicana está entre esse seleto time. Acima de tudo, para além da pincelada rigorosa e consciente, conclusa e introspectiva, incisiva, remete ao traço dos mestres surrealistas Dalí, De Chirico e Chagal, principalmente pelo trato especial da luz, marcada e demarcada pelo inconsciente.
Entretanto, acima de tudo, gera-se um desconforto intransponível. Isso porque a apreciação de sua obra (vide o óleo sobre tela “A noiva que se espanta ao ver a vida aberta”, 1943, o óleo sobre masonite “Frutos da terra”, 1938, e os impressionantes autorretratos) se depreendem um sentimento de irresolução, haja vista a conjunção perturbadora de elementos simbólicos e do íntimo de Frida. Ela os põe a nu – mas, igualmente, desnuda-se a sua forma. A sexualidade e o entendimento desta, que passa pelo prazer carnal – e a dialética proibição/liberdade –, pelo milagre da concepção – fator exclusivo da liberdade feminina ao qual Frida fora “proibida” devido aos problemas de saúde – e, num espectro maior, a liberdade de existência, mesmo que esta seja além da realidade, privada à maioria das mulheres e enfrentada através da arte.

Mais do que a confirmação de uma grande artista, ficou evidente e se faz conhecido mais um dos papeis importantes de Frida Kahlo: o de servir de espelho para um grupo de talentosas mulheres, as quais, em maioria, descobriram em si justamente este talento por conta desse movimento emancipador. Além de representar a mulher no fechado meio da arte, de abrir portas para a arte latino-americana no mundo (foi a primeira latina a expor nos Estados Unidos), acima de tudo, Frida tipificou a mulher moderna, se menos que isso, ao menos o desejo tácito e genuíno da identidade.

***

A Trama Feminina da Arte
Cly Reis


Os "cabeças" do ClyBlog encontrando-se na exposição no Rio de Janeiro.
Praticamente a "cúpula" do ClyBlog esteve presente na exposição "Frida Kahlo - Conexões Entre Mulheres Surrealistas no México". Em recente visita de meu irmão e co-editor do ClyBlogDaniel Rodrigues, e minha cunhada e também colaboradora do blog, Leocádia Costa, tivemos a oportunidade de pegar um dos últimos dias da exposição no Centro Cultural da Caixa. E que sorte que tivemos de ver uma exposição rica e significativa da artista e de sua linguagem proposta, além da oportunidade de conhecer outras contemporâneas de Frida Kahlo, tão qualificadas e expressivas quanto ela e que muito raramente chegam ao nosso conhecimento. A mostra traz obras de alto grau de complexidade surreal da artista em destaque, suas frequentes referências e homenagens ao marido, também artista plástico, Diego Rivera, instigantes naturezas-mortas (ou naturezas vivas como elas chamavam), colagens e explorações anatômicas abordando em alguns casos sua frustração pela perda de um bebê que esperava e seus tradicionais e altamente expressivos autorretratos sempre altamente impactantes pelo cenário, pela indumentária, pela cor ou pela sugestão surrealista e invariavelmente de um apuro técnico admirável.
Ao contrário de algumas exposições onde o 'complemento' ao destaque principal é mais um enchimento para disfarçar a pobreza ou escassez de material do grande nome, do chamariz do evento, neste caso as obras das outras artistas apresentadas eram de valor quase tão grande quanto o de Frida e muitas mesmo chegaram a me impressionar bastante como Bridget Ticenor com sua versatilidade, e o surrealismo vivo e perturbador de Leonora Carrington. Já no trecho final da exposição é interessantíssima, reforçando essa rede de amigas artistas e mútuas colaboradoras, uma pequena seção apresentando fotos de cada uma destas personagens sendo algumas delas fotografadas pelas próprias colegas apresentando assim não somente a face retratada mas também o olhar de quem a captou em relação a outra artista.
Em uma época de justa  e necessária reafirmação de valores femininos, nada melhor do que uma exposição com essa qualidade e esse valor para reforçar, ressaltar, não deixar esquecer o valor da mulher em todos os âmbitos da sociedade e neste caso, especialmente no artístico, não deixando dúvidas sobre suas incomensurável capacidade, sensibilidade e força criativa.
Por aqui a exposição já foi embora e agora é Brasília que, desde ontem recebe os trabalhos dessa riquíssima trama de relações artísticas entre mulheres que, sem dúvida, já mostravam-se à frente de seu tempo.

*************
exposição "Frida Kahlo - Conexões Entre Mulheres Surrealistas no México"
Centro Cultural Caixa /Rio de Janeiro




Abaixo algumas imagens da exposição:


Autorretrato, marca registrada de Frida,
um dos muitos que integram a coleção.

Outro autorretrato, desta vez com tranças. 

No detalhe de "Autorrretrato com tranças", o apuro técnico e
o perfeccionismo da pintura de Frida Kahlo.

Macacos compondo o cenário surreal de
outro autorretrato de Frida.

"Diego em meu pensamento" é apenas uma das inúmeras
menções ao marido em sua obra.

A "Natureza Viva" de Maria Izquierdo.

A  natureza morte de Frida "A  noiva que se espenata ao ver a vida aberta"
cheia de simbologias e interpretações.

Nova referência ao marido Diego Rivera

Retratos dela e do marido, Diego, pela própria Frida.

Aqui é Frida na visão de Diego.

O trauma pela perda do bebê retratado
em "Frida e o aborto".

Trabalho de Frida com colagem 

Os irmãos blogueiros discutindo sobre uma das obras da exposicção.

Detalhe da obra em discussão, "Três mulheres com corvos"
de Leonora Carrington

Outro trabalho de Leonora Carrington

O perturbador e inquietante trabalho
"Os encarcerados", de Bridget Tichenor

"Orplied" de  Leonora Carrington, de 1955

"O quarto de mistérios" de Bridget Tichenor

"Piedade para Judas", óleo sobre tela de Alice Rahon

Mais um de Tchenor: "Líderes".

Reproduções das indumentárias utilizadas
por Frida nos autorretratos.

Detalhe do manequim

Na seção de fotos, Frida captada por
Nicolas Murray em Nova York.


Foto extremamente plástica e inspirada
de Lola álvarez Bravo, "O rapto".


Maria Izquierdo fotografada por Lola Álavarez Bravo.

E a própria Lola registrando sua própria imagem

Selfie na exposição.
(da esq. para a dir.) Cly, Leo e Daniel, com Frida ao fundo.



textos:Cly Reis e Daniel Rodrigues

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Titãs - "Jesus Não Tem Dentes No País dos Banguelas" (1987)



"(...) Uma terra onde o ídolo, o Cristo, o Deus está completamente distorcido. Então é uma frase longa que tem várias conotações, mas tem esse sentido popularesco que é usar a palavra 'banguela' associado a 'Jesus', que são dois termos tão populares e tão pouco casados que nessa frase ficam muito bem.
É o pólo positivo e o pólo negativo.
É uma equação, não é nem uma frase."
Nando Reis



Depois de um disco como "Cabeça Dinossauro", unanimidade de público e crítica, sucesso de vendas e repleto de hits radiofônicos, cercou-se de grande expectativa o lançamento do que seria seu sucessor. Conseguiria o novo trabalho dos Titãs repetir o sucesso, qualidade e desempenho do anterior, considerado quase que automaticamente um dos maiores álbuns brasileiros de todos os tempos? “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas” de 1987 não só conseguiu se comparar ao clássico disco anterior, como superá-lo. Sim! Superá-lo. Embora o posto de maior disco nacional da história permaneça intocado para o  "Cabeça Dinossauro" , na minha opinião, por conta de sua ruptura, ousadia, sonoridade, criatividade, arrojo conceitual, inovação de linguagem, aquele novo disco o ultrapassava em qualidade técnica e aprimorava seus conceitos e experimentações.
O funk de “O Quê?”, por exemplo, é extremamente mais bem trabalhado e aperfeiçoado em faixas como a ótima “Comida”, dos grandes hits do álbum e “Diversão”, também de boa execução, trabalhada com samples e programação de bateria.
“Todo Mundo Quer Amor”, letra concretista de Arnaldo Antunes é o melhor exemplo da evolução do experimentalismo de um disco para o outro, numa faixa curta, minimalista, quase que apenas de transição, toda desenvolvida a partir de programações , samples e colagens; mas músicas como “O Inimigo”, que apenas repete dois versos o tempo inteiro, e “Infelizmente”, letra praticamente narrada sobre uma batida constante com inserções eletrônicas, também trazem esta característica de experimentação bem presente.
O peso, o punk, a energia mostrada anteriormente também não faltam, mas aqui, em “JNTDNPDB” aparece menos cru. A excelente “Lugar Nenhum” é mostra evidente disso numa porrada básica, agressiva, distorcida porém muito bem trabalhada pelo produtor Liminha, o nono titã; “Armas pra Lutar” é outra que carrega no peso com ênfase especial para a bateria precisa de Charles Gavin; e a ótima “Nome aos Bois”, de guitarra aguda, repetida e constante, tem o peso moderado porém é extremamente contundente sem dizer efetivamente nada, apenas listando nomes de personagens famosos e históricos, e deixando-os para quem quiser lhes atribuir os devidos predicados.
O disco traz ainda “Corações e Mentes” e “Desordem”, dois rocks bastante acessíveis, bem pop, dosando bem os elementos do disco; “Mentiras”, que apesar de ter inegavelmente qualidade e apresentar uma certa complexidade na introdução do refrão, é a mais fraca dos disco na minha opinião; e a canção que tem o nome do disco, “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas” que apenas repete a intrigante frase o tempo inteiro acompanhada de um magnífico instrumental dosando peso, agressividade e técnica, com um excepcional trabalho de guitarra que aparece em solo praticamente o tempo inteiro durante o desenvolvimento da música.
Vale destacar ainda dois detalhes interessantes: um deles é a ótima capa, inteligentemente sugestiva tanto no que diga respeito a época, em se referindo a Jesus, quanto a dentes, lembrando uma grande boca desdentada; e o outro detalhe é a não identificação dos lados do LP, seu formato original de lançamento, como lados A e B ou 1 ou 2 como seria o habitual, e sim J e T objetivando, de certa forma que o ouvinte não tivesse a noção exata de qual seria o início ou o fim dos disco, podendo escolher aleatoriamente por onde começar a audição. Com o CD não teve jeito e teve-se que escolher por onde começar e começaram extamente por onde seria o meu lado B, uma vez que sempre comecei pela faixa-título do disco. Além disso o Cd traz um extra, a música "Violência" que, sinceramente, pra mim não acrescenta nada. Mas o que vale é o disco original e esse, sim, é espetacular.
Pra quem duvidava que os caras conseguissem fazer melhor, ali estava: “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas” era um passo à frente. Um disco tão bom senão melhor que seu lendário antecessor.
Então agora sim, depois de dois discos como aqueles nunca mais conseguiriam fazer algo melhor.
Não?
Errado!
Ainda fariam “Õ Blésq Blom”, melhor tecnicamente, mais bem acabado e ainda mais aperfeiçoado nos conceitos que os dois clássicos anteriores. Mas isso é assunto para outra hora. Para outro ÁLBUNS FUNDAMENTAIS.

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FAIXAS:
01. Todo Mundo Quer Amor (Arnaldo Antunes) 1:18
02. Comida (Antunes, Marcelo Fromer, Sérgio Britto) 3:59
03. O Inimigo (Branco Mello, Toni Bellotto, Fromer) 2:13
04. Corações e Mentes (Britto, Fromer) 3:47
05. Diversão (Britto, Nando Reis) 5:07
06. Infelizmente (Britto) 1:34
07. Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas (Reis, Fromer) 2:11
08. Mentiras (Britto, Fromer, Bellotto) 2:09
09. Desordem (Britto, Fromer, Charles Gavin) 4:01
10. Lugar Nenhum (Antunes, Gavin, Fromer, Britto, Bellotto) 2:56
11. Armas Pra Lutar (Mello, Antunes, Fromer, Bellotto) 2:10
12. Nome Aos Bois (Reis, Antunes, Fromer, Bellotto) 2:06

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Ouça:
Titãs Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas




Cly Reis

sábado, 6 de janeiro de 2024

"Noite de Reis", de Trevor Nunn (1996) vs. "Ela é o Cara", de Andy Fickman (2006)

 



Num jogo cheio de táticas, estratégias, jogadores executando mais de uma função, falsos noves, falso ponta, e etcetera e tal, no fim das contas, ganha quem joga mais bola e aí, quem trata sobre futebol, leva vantagem.

Aqui não  tratamos exatamente de um remake mas de duas adaptações a partir da mesma peça. "Noite de Reis", originalmente "A décima segunda noite", é uma divertidíssima comédia de Shakespeare na qual uma garota, Viola, tem que se passar por homem, assumindo a identidade de seu irmão gêmeo Sebastian, causando uma série de confusões e contratempos, entre romances, paixões e amores não correspondidos. Embora o filme de 1996, "Noite de Reis", de Trevor Nunn, seja mais fiel à peça original de William Shakespeare, "Ela é o Cara", de 2006, mesmo se arriscando em adaptar um texto tão clássico e tradicional, ainda mais para um tema tão popular como futebol, é mais competente e executa melhor a proposta de jogo, ou seja: divertir.

O original inglês é chato, modorrento. Até mantém toda a situação do naufrágio que ocasiona a separação dos irmãos, mas essa fidelidade não  joga a seu favor. Faz uso do texto clássico, com falas empoladas e vocabulário rebuscado, mas a opção  não só não representa ganho nenhum, como mostra-se questionável, especialmente pelo fato da ação do filme não se passar no período do livro original e sim, quase um século depois. Embora inegavelmente genial e impecável, utilizada daquela forma, integralmente, a peça, literal como é apresentada, torna o todo cansativo e maçante. O diretor não consegue extrair de um texto naturalmente cativante e hilário, humor o suficiente para fazer o espectador rir, só o conseguindo em cenas 'pastelão' como em um duelo desastrado ou em perseguições esdrúxulas. Além do mais, desperdiça muito tempo em situações secundárias, especialmente na tramoia de Sir Toby, Sir Andrew e Maria, para iludir Malvólio, ponto que até tem sua relevância na trama, mas que se estende demasiadamente, chateando o espectador para, no fim, das contas, ter pouco efeito sobre o desfecho. Por conta da opção pelas falas textuais da peça, as visitas de Cesário (Viola vestida de rapaz) a Olívia, que seriam pontos-chave para o encantamento da bela pelo mensageiro, tornam-se torturantes e, ao contrário do objetivo da comédia, não têm graça nenhuma. William Shakespeare não tem culpa nenhuma nisso, e sim, a diferença de dinâmicas entre peça escrita e cinema, cuja noção e sensibilidade é obrigação de um diretor ao se propor a transpor uma história para a tela.


"Noite de Reis" (1996) - trailer


Para piorar, os personagens são mal-caracterizados: Feste, originalmente o bobo de Olívia, apesar de todo o esforço do ótimo Ben Kingsley, está mais para um conselheiro angustiado, um filósofo atormentado e confuso, do que para um bufão; Orsino é pouquíssimo carismático e em momento algum nos vemos torcendo para que ele atinja seus objetivos amorosos com Olívia ou, tampouco, pela aproximação com Viola, esta que, por sua vez, embora até bem interpretada pela boa Imogen Stubbs, vê seu personagem sacrificado pela direção de arte que lhe entregou um figurino inadequado, uma maquiagem muito sutil e um corte de cabelo com um corte muito delicado e feminino.

Do outro lado temos um time solto, um roteiro atualizado, atores carismáticos, caracterizações adequadas e risadas o tempo todo. Os realizadores arriscaram em omitir situações, personagens supérfluos, focando nas confusões geradas pela troca de identidades e acertaram em cheio.

Em "Ela é o Cara", diante da extinção do time feminino da escola, e com sua alta qualidade para a prática do esporte, a adolescente Viola aproveita-se de uma viagem do irmão gêmeo, Sebastian, para, com uma transformação e alguns "ajustes", assumir sua identidade e entrar para o time de futebol da escola dele. Lá, conhece Duke, um colega de time e se apaixona por ele, mas não podendo dar bandeira e estragar o disfarce, mesmo contra a vontade, o ajuda a se aproximar de Olívia, uma das garotas mais cobiçadas do colégio, que por sua vez, acaba atraída pelo Sebastian falso, que não imagina ser uma garota como ela.


"Ela é o Cara" (2006) - trailer


Amanda Bynes, como Viola, é espetacular! Engraçada, cativante, bonita, faz a gente rir com suas constantes transformações e torcer por sua relação com o colega de time, Channing Tatum, que por sua vez, é bonitão, engraçado e perfeitamente adequado para o papel, dentro da proposta. 

A cena do bar, quando Viola pede às melhores amigas para se passarem por suas namoradas para provar para os novos colegas de time, que é 'machão', que é pegador, que é O CARA, é engraçadíssima; a sequência da quermesse e sua frenética troca de identidades é hilária; e a da revelação da verdadeira identidade de Viola, dentro de campo, para provar que é verdadeiramente uma garota, é de chorar de rir.

Show de bola do time de 2006!

O primeiro gol é pela sacada de transformar uma peça clássica numa comédia romântica sobre futebol (1x0, no placar); o segundo é por fazer o expectador rir, rir de verdade (2x0); o terceiro é pela memorável cena em que o Sabastian abaixa as calças, Viola levanta a blusa e o pai diz, "É impressão minha ou esse jogo de futebol está tendo mais nudez do que o normal?". Golaço! Daqueles de sair do estádio e pagar o ingresso de novo. E o quarto fica por conta da promessa de craque, Amanda Bynes, que, como muitos meteu os pés pelas mãos e jogou a carreira fora, mas que aqui, destruiu com a defesa adversária e numa tabelinha espetacular com Chaning Tatum, guardou o seu com categoria. Depois tirou a camiseta na comemoração, levou amarelo, coisa e tal... mas o cartãozinho valeu a pena. Festa mais que merecida.

O time de 1996 ainda descontou com a craque de bola Helena Bohan Carter, de excelente atuação como Olivia mas que não consegue salvar o filme sozinha. Nem o brilhante Ben Kingsley, fora de posição conseguiu dar alguma contribuição e, desta forma, as coisas ficaram assim mesmo: 4x1 para o time de futebol.

Ao que parece, ela é mesmo o cara, hein!

Parece coisa daqueles técnicos malucos que escalam o lateral direito na ponta esquerda,
 o volante de goleiro, o goleiro de zagueiro...
Aqui, ninguém sabe quem é quem, de verdade.


No Dia de Reis, ela, "O Cara",
estragou a festa do dia comemorativo do adversário.







por Cly Reis