Já está nos pontos de venda a antologia “Conte uma Canção – vol. 2”, pela editora Multifoco, da qual meu irmão e editor deste blog, Cly Reis, e eu, subedidor, fazemos parte com um conto cada um. O livro teve lançamento no último dia 30, durante a 24ª Bienal do Livro de São Paulo, no Anhembi.
sexta-feira, 2 de setembro de 2016
“Conte uma Canção – vol. 2”, organização Frodo Oliveira e Marla Figueiredo (Vários autores) – Ed. Multifoco (2016)
Já está nos pontos de venda a antologia “Conte uma Canção – vol. 2”, pela editora Multifoco, da qual meu irmão e editor deste blog, Cly Reis, e eu, subedidor, fazemos parte com um conto cada um. O livro teve lançamento no último dia 30, durante a 24ª Bienal do Livro de São Paulo, no Anhembi.
terça-feira, 10 de março de 2020
Marisa Monte - "Mais" (1991)
que nasceram com ela:
carisma, uma beleza calma
e uma enorme cultura musical."
Nelson Motta
Ela já havia interpretado uma música deles em seu álbum de estreia e, não muito tempo depois, um encontro num especial da Rede Globo que a colocava no mesmo palco com os Titãs, além de servir de alavanca para o namoro com o baixista Nando Reis, encaminharia a parceria que se materializaria objetivamente, logo ali adiante no excelente álbum "Mais", de 1991 e ainda abriria o caminho para, mais futuramente, o projeto Tribalistas, já mencionado aqui nos A.F., de Marisa, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, que faz a percussão em grande parte das músicas. "Mais" pode até parecer, num primeiro momento, uma espécie de projeto alternativo dos Titãs com outro tipo de concepção vocal, dada a quantidade de músicas em que eles têm, no mínimo, participação nas composições. Causa ou consequência da então recente relação de Marisa com Nando, a parceria com os Titãs refletiria na linguagem do trabalho como um todo, até mesmo, de certa forma nas versões de outros artistas. Com exceção de "Rosa", de Pixinguinha, de estrutura mais complexa e letra rebuscada, a maioria das outras covers poderia caber, sem problemas num disco do octeto paulista, como no caso de "De Noite na Cama", de Caetano Veloso, por exemplo, a adaptação do folclores nordestino, "Borboleta", e até mesmo, por incrível que pareça, "Ensaboa", de Cartola, que dentro do espectro da obra do mestre da Mangueira, pode ser considerada uma de suas letras mais minimalistas e de estrutura diferenciada. Mas seria uma injusta simplificação reduzir o trabalho a uma experimentação titânica. "Mais" é muito mais! Marisa Monte canta, encanta, brinca, emociona, impressiona. Com produção do norte-americano Arto Lindsay, o disco é eclético sem ser pretensioso e tem um equilíbrio perfeito entre as faixas o que faz com que seja prazeroso e mantenha um frescor mesmo para quem já o conhece de muitas audições.
"Beija Eu", com letra de Arnaldo Antunes, comprova que o mesmo cara que fazia coisas como "Saia de Mim", era capaz de compor algo tão belo e delicado como aquela faixa de abertura, que, por sinal, não merecia outra interpretação que não à de Marisa Monte, doce e graciosa. "Volte para o seu lar", rebelde e impositiva, é a mais titânica das músicas do disco, contando com uma leitura musical perfeita de Marisa que dosou com sabedoria a melodiosidade com a pungência da letra ("Aqui nessa casa/ Ninguém quer a sua boa educação/ Nos dias que tem comida/ Comemos comida com a mão...", "Aqui nessa tribo/ Ninguém quer a sua catequização/ Falamos a sua língua/ Mas não entendemos o seu sermão"...). "Ainda Lembro", canção de amor elegante e de muito bom gosto, conta com a luxuosa participação de Ed Motta compõe com Marisa um dueto que pode se incluído entre os grandes da música brasileira. Em "De noite na cama", Marisa dá um ar leve à canção de Caetano Veloso, inúmeras vezes regravada na discografia nacional, desta vez com uma interpretação bem solta e alegre; e a "Rosa", de Pixinguinha e Otávio Cruz, a confere senão a versão definitiva, no mínimo uma das mais memoráveis. E em "Borboleta", cantiga tradicional do nordeste, Marisa Monte começa fazendo a voz pairar suavemente sobre nosso jardim sonoro para em seguida, sobre uma base acústica, desfilar seu canto doce e gracioso.
"Tudo pela metade", parceria de Marisa com Nando, talvez seja a mostra mais perfeita no álbum do êxito da combinação de seu estilo com o dos Titãs, ficando bem evidenciado o ponto onde acaba um, começa o outro e onde se fundem. Um pop delicioso de refrão cativante e que fica mais bacana ainda na última vez em que se repete com um coro de crianças bem espontâneo e "bagunçado"; e "Mustaphá", uma balada zen, tranquila, com um belíssimo trabalho de violão, fecha o disco com competência.
"Mais" era a confirmação de Marisa Monte. Se passara uma boa impressão com o primeiro disco "MM", um ao vivo só de versões de outros artistas, mas deixara uma certa dúvida sobre ser ou não um daqueles fenômenos efêmeros que parecem de vez em quando, este disco mostrava que ela não era só mais uma cantora de um ou dois hits. Ela chegara para ficar. Era mais uma das grandes mulheres da música brasileira. Uma mulher com M maiúsculo! M de música, M de Marisa, M de Mais.
FAIXAS:
1."Beija Eu" - Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Arto Lindsay (3:10)
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Ouça:
Marisa Monte - Mais
quarta-feira, 10 de março de 2021
segunda-feira, 20 de março de 2023
Gal - Fatal
quarta-feira, 8 de dezembro de 2021
Búfalos e Gnus
quarta-feira, 16 de abril de 2014
Copa do Mundo The Cure - finalistas
Dois jogos.
Duas batalhas.
Quatro grandes músicas.
Apenas duas delas chegarão final e apenas uma será proclamada a Melhor Música do The Cure.
O clássico 'The Walk', um sinth-pop da fase de transição do Cure dark para uma banda mais pop encarou a boa 'M', do álbum Seventeen Seconds, um pós-punk irretocável com bela base de guitarra e sintetizadores quebrando os tempos. A grandiosa 'A Forest', uma das músicas que melhor representa o som do Cure e uma das mais executadas ao vivo ao longo da carreira da banda pegando a ótima 'Push', um show instrumental com uma guitarra espetacular de Robert Smith, em uma das melhores performances coletivas da banda. Puxa vida... E agora? Nossos 4 especialistas, ajudados pelos amigos do Clyblog no Facebook tiveram a dura tarefa de escolher apenas 2 classificadas. Uma em cada confronto.
Confira abaixo as análises de cada um e o resultado destas semifinais:
Daniel Rodrigues
Christian Ordoque
'Push' tem guitarras mais altas, mas estridentes, mais vibrantes, mas 'Forest' tem a intensidade precisa pra manter o clima sombrio, tem a medida exata de intervenções, e um solo final de arrepiar. Se 'Push' tem aquele "the only way to beeeeeee....", "A Forest" tem seu 'again and again and again and again...". Segue a igualdade.
O contrabaixo: o baixo de 'Push' é notável, mas o que dizer do da outra, simplesmente o coração da música? "A Forest' até faz 1x0 por conta dessa performance de Simon Gallup, mas o gol é anulado.
Enquanto os teclados de 'Push' são mais um complemento, os de 'Forest', notáveis, densos, formando uma atmosfera escura e esfumaçada, são fundamentais. 1x0 na prorrogação, e agora valeu. Mas a bateria de 'Push' supera a discreta bateria eletrônica da original de 'A Forest' e 'Push' empata nos acréscimos do tempo extra.
Vai para os tiros livre da marca da cal. Nos penais, pelas versões ao vivo de "A Forest", pela remix e pelo tanto que representa e simboliza em relação à banda, 'A Forest' faz 3x1.
por maioria de votos "M" e "A FOREST" estão na grande final.
quinta-feira, 14 de abril de 2016
Exposição "Frida Kahlo - Conexões Entre Mulheres Surrealistas no México" - Centro Cultural Caixa/Rio de Janeiro (17/03/2016)
Cartaz da exposição. |
Cly Reis
Os "cabeças" do ClyBlog encontrando-se na exposição no Rio de Janeiro. |
Ao contrário de algumas exposições onde o 'complemento' ao destaque principal é mais um enchimento para disfarçar a pobreza ou escassez de material do grande nome, do chamariz do evento, neste caso as obras das outras artistas apresentadas eram de valor quase tão grande quanto o de Frida e muitas mesmo chegaram a me impressionar bastante como Bridget Ticenor com sua versatilidade, e o surrealismo vivo e perturbador de Leonora Carrington. Já no trecho final da exposição é interessantíssima, reforçando essa rede de amigas artistas e mútuas colaboradoras, uma pequena seção apresentando fotos de cada uma destas personagens sendo algumas delas fotografadas pelas próprias colegas apresentando assim não somente a face retratada mas também o olhar de quem a captou em relação a outra artista.
Em uma época de justa e necessária reafirmação de valores femininos, nada melhor do que uma exposição com essa qualidade e esse valor para reforçar, ressaltar, não deixar esquecer o valor da mulher em todos os âmbitos da sociedade e neste caso, especialmente no artístico, não deixando dúvidas sobre suas incomensurável capacidade, sensibilidade e força criativa.
Por aqui a exposição já foi embora e agora é Brasília que, desde ontem recebe os trabalhos dessa riquíssima trama de relações artísticas entre mulheres que, sem dúvida, já mostravam-se à frente de seu tempo.
Centro Cultural Caixa /Rio de Janeiro
Abaixo algumas imagens da exposição:
Autorretrato, marca registrada de Frida, um dos muitos que integram a coleção. |
Outro autorretrato, desta vez com tranças. |
No detalhe de "Autorrretrato com tranças", o apuro técnico e o perfeccionismo da pintura de Frida Kahlo. |
Macacos compondo o cenário surreal de outro autorretrato de Frida. |
"Diego em meu pensamento" é apenas uma das inúmeras menções ao marido em sua obra. |
A "Natureza Viva" de Maria Izquierdo. |
A natureza morte de Frida "A noiva que se espenata ao ver a vida aberta" cheia de simbologias e interpretações. |
Nova referência ao marido Diego Rivera |
Retratos dela e do marido, Diego, pela própria Frida. |
Aqui é Frida na visão de Diego. |
O trauma pela perda do bebê retratado em "Frida e o aborto". |
Trabalho de Frida com colagem |
Os irmãos blogueiros discutindo sobre uma das obras da exposicção. |
Detalhe da obra em discussão, "Três mulheres com corvos" de Leonora Carrington |
Outro trabalho de Leonora Carrington |
O perturbador e inquietante trabalho "Os encarcerados", de Bridget Tichenor |
"Orplied" de Leonora Carrington, de 1955 |
"O quarto de mistérios" de Bridget Tichenor |
"Piedade para Judas", óleo sobre tela de Alice Rahon |
Mais um de Tchenor: "Líderes". |
Reproduções das indumentárias utilizadas por Frida nos autorretratos. |
Detalhe do manequim |
Na seção de fotos, Frida captada por Nicolas Murray em Nova York. |
Foto extremamente plástica e inspirada de Lola álvarez Bravo, "O rapto". |
Maria Izquierdo fotografada por Lola Álavarez Bravo. |
E a própria Lola registrando sua própria imagem |
Selfie na exposição. (da esq. para a dir.) Cly, Leo e Daniel, com Frida ao fundo. |
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
Titãs - "Jesus Não Tem Dentes No País dos Banguelas" (1987)
O funk de “O Quê?”, por exemplo, é extremamente mais bem trabalhado e aperfeiçoado em faixas como a ótima “Comida”, dos grandes hits do álbum e “Diversão”, também de boa execução, trabalhada com samples e programação de bateria.
“Todo Mundo Quer Amor”, letra concretista de Arnaldo Antunes é o melhor exemplo da evolução do experimentalismo de um disco para o outro, numa faixa curta, minimalista, quase que apenas de transição, toda desenvolvida a partir de programações , samples e colagens; mas músicas como “O Inimigo”, que apenas repete dois versos o tempo inteiro, e “Infelizmente”, letra praticamente narrada sobre uma batida constante com inserções eletrônicas, também trazem esta característica de experimentação bem presente.
O peso, o punk, a energia mostrada anteriormente também não faltam, mas aqui, em “JNTDNPDB” aparece menos cru. A excelente “Lugar Nenhum” é mostra evidente disso numa porrada básica, agressiva, distorcida porém muito bem trabalhada pelo produtor Liminha, o nono titã; “Armas pra Lutar” é outra que carrega no peso com ênfase especial para a bateria precisa de Charles Gavin; e a ótima “Nome aos Bois”, de guitarra aguda, repetida e constante, tem o peso moderado porém é extremamente contundente sem dizer efetivamente nada, apenas listando nomes de personagens famosos e históricos, e deixando-os para quem quiser lhes atribuir os devidos predicados.
O disco traz ainda “Corações e Mentes” e “Desordem”, dois rocks bastante acessíveis, bem pop, dosando bem os elementos do disco; “Mentiras”, que apesar de ter inegavelmente qualidade e apresentar uma certa complexidade na introdução do refrão, é a mais fraca dos disco na minha opinião; e a canção que tem o nome do disco, “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas” que apenas repete a intrigante frase o tempo inteiro acompanhada de um magnífico instrumental dosando peso, agressividade e técnica, com um excepcional trabalho de guitarra que aparece em solo praticamente o tempo inteiro durante o desenvolvimento da música.
Vale destacar ainda dois detalhes interessantes: um deles é a ótima capa, inteligentemente sugestiva tanto no que diga respeito a época, em se referindo a Jesus, quanto a dentes, lembrando uma grande boca desdentada; e o outro detalhe é a não identificação dos lados do LP, seu formato original de lançamento, como lados A e B ou 1 ou 2 como seria o habitual, e sim J e T objetivando, de certa forma que o ouvinte não tivesse a noção exata de qual seria o início ou o fim dos disco, podendo escolher aleatoriamente por onde começar a audição. Com o CD não teve jeito e teve-se que escolher por onde começar e começaram extamente por onde seria o meu lado B, uma vez que sempre comecei pela faixa-título do disco. Além disso o Cd traz um extra, a música "Violência" que, sinceramente, pra mim não acrescenta nada. Mas o que vale é o disco original e esse, sim, é espetacular.
Pra quem duvidava que os caras conseguissem fazer melhor, ali estava: “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas” era um passo à frente. Um disco tão bom senão melhor que seu lendário antecessor.
Então agora sim, depois de dois discos como aqueles nunca mais conseguiriam fazer algo melhor.
Não?
Errado!
Ainda fariam “Õ Blésq Blom”, melhor tecnicamente, mais bem acabado e ainda mais aperfeiçoado nos conceitos que os dois clássicos anteriores. Mas isso é assunto para outra hora. Para outro ÁLBUNS FUNDAMENTAIS.
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FAIXAS:
01. Todo Mundo Quer Amor (Arnaldo Antunes) 1:18
02. Comida (Antunes, Marcelo Fromer, Sérgio Britto) 3:59
03. O Inimigo (Branco Mello, Toni Bellotto, Fromer) 2:13
04. Corações e Mentes (Britto, Fromer) 3:47
05. Diversão (Britto, Nando Reis) 5:07
06. Infelizmente (Britto) 1:34
07. Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas (Reis, Fromer) 2:11
08. Mentiras (Britto, Fromer, Bellotto) 2:09
09. Desordem (Britto, Fromer, Charles Gavin) 4:01
10. Lugar Nenhum (Antunes, Gavin, Fromer, Britto, Bellotto) 2:56
11. Armas Pra Lutar (Mello, Antunes, Fromer, Bellotto) 2:10
12. Nome Aos Bois (Reis, Antunes, Fromer, Bellotto) 2:06
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Ouça:
Titãs Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas
sábado, 6 de janeiro de 2024
"Noite de Reis", de Trevor Nunn (1996) vs. "Ela é o Cara", de Andy Fickman (2006)
Aqui não tratamos exatamente de um remake mas de duas adaptações a partir da mesma peça. "Noite de Reis", originalmente "A décima segunda noite", é uma divertidíssima comédia de Shakespeare na qual uma garota, Viola, tem que se passar por homem, assumindo a identidade de seu irmão gêmeo Sebastian, causando uma série de confusões e contratempos, entre romances, paixões e amores não correspondidos. Embora o filme de 1996, "Noite de Reis", de Trevor Nunn, seja mais fiel à peça original de William Shakespeare, "Ela é o Cara", de 2006, mesmo se arriscando em adaptar um texto tão clássico e tradicional, ainda mais para um tema tão popular como futebol, é mais competente e executa melhor a proposta de jogo, ou seja: divertir.
O original inglês é chato, modorrento. Até mantém toda a situação do naufrágio que ocasiona a separação dos irmãos, mas essa fidelidade não joga a seu favor. Faz uso do texto clássico, com falas empoladas e vocabulário rebuscado, mas a opção não só não representa ganho nenhum, como mostra-se questionável, especialmente pelo fato da ação do filme não se passar no período do livro original e sim, quase um século depois. Embora inegavelmente genial e impecável, utilizada daquela forma, integralmente, a peça, literal como é apresentada, torna o todo cansativo e maçante. O diretor não consegue extrair de um texto naturalmente cativante e hilário, humor o suficiente para fazer o espectador rir, só o conseguindo em cenas 'pastelão' como em um duelo desastrado ou em perseguições esdrúxulas. Além do mais, desperdiça muito tempo em situações secundárias, especialmente na tramoia de Sir Toby, Sir Andrew e Maria, para iludir Malvólio, ponto que até tem sua relevância na trama, mas que se estende demasiadamente, chateando o espectador para, no fim, das contas, ter pouco efeito sobre o desfecho. Por conta da opção pelas falas textuais da peça, as visitas de Cesário (Viola vestida de rapaz) a Olívia, que seriam pontos-chave para o encantamento da bela pelo mensageiro, tornam-se torturantes e, ao contrário do objetivo da comédia, não têm graça nenhuma. William Shakespeare não tem culpa nenhuma nisso, e sim, a diferença de dinâmicas entre peça escrita e cinema, cuja noção e sensibilidade é obrigação de um diretor ao se propor a transpor uma história para a tela.
"Noite de Reis" (1996) - trailer
Para piorar, os personagens são mal-caracterizados: Feste, originalmente o bobo de Olívia, apesar de todo o esforço do ótimo Ben Kingsley, está mais para um conselheiro angustiado, um filósofo atormentado e confuso, do que para um bufão; Orsino é pouquíssimo carismático e em momento algum nos vemos torcendo para que ele atinja seus objetivos amorosos com Olívia ou, tampouco, pela aproximação com Viola, esta que, por sua vez, embora até bem interpretada pela boa Imogen Stubbs, vê seu personagem sacrificado pela direção de arte que lhe entregou um figurino inadequado, uma maquiagem muito sutil e um corte de cabelo com um corte muito delicado e feminino.
Do outro lado temos um time solto, um roteiro atualizado, atores carismáticos, caracterizações adequadas e risadas o tempo todo. Os realizadores arriscaram em omitir situações, personagens supérfluos, focando nas confusões geradas pela troca de identidades e acertaram em cheio.
Em "Ela é o Cara", diante da extinção do time feminino da escola, e com sua alta qualidade para a prática do esporte, a adolescente Viola aproveita-se de uma viagem do irmão gêmeo, Sebastian, para, com uma transformação e alguns "ajustes", assumir sua identidade e entrar para o time de futebol da escola dele. Lá, conhece Duke, um colega de time e se apaixona por ele, mas não podendo dar bandeira e estragar o disfarce, mesmo contra a vontade, o ajuda a se aproximar de Olívia, uma das garotas mais cobiçadas do colégio, que por sua vez, acaba atraída pelo Sebastian falso, que não imagina ser uma garota como ela.
"Ela é o Cara" (2006) - trailer
Amanda Bynes, como Viola, é espetacular! Engraçada, cativante, bonita, faz a gente rir com suas constantes transformações e torcer por sua relação com o colega de time, Channing Tatum, que por sua vez, é bonitão, engraçado e perfeitamente adequado para o papel, dentro da proposta.
A cena do bar, quando Viola pede às melhores amigas para se passarem por suas namoradas para provar para os novos colegas de time, que é 'machão', que é pegador, que é O CARA, é engraçadíssima; a sequência da quermesse e sua frenética troca de identidades é hilária; e a da revelação da verdadeira identidade de Viola, dentro de campo, para provar que é verdadeiramente uma garota, é de chorar de rir.
Show de bola do time de 2006!
O primeiro gol é pela sacada de transformar uma peça clássica numa comédia romântica sobre futebol (1x0, no placar); o segundo é por fazer o expectador rir, rir de verdade (2x0); o terceiro é pela memorável cena em que o Sabastian abaixa as calças, Viola levanta a blusa e o pai diz, "É impressão minha ou esse jogo de futebol está tendo mais nudez do que o normal?". Golaço! Daqueles de sair do estádio e pagar o ingresso de novo. E o quarto fica por conta da promessa de craque, Amanda Bynes, que, como muitos meteu os pés pelas mãos e jogou a carreira fora, mas que aqui, destruiu com a defesa adversária e numa tabelinha espetacular com Chaning Tatum, guardou o seu com categoria. Depois tirou a camiseta na comemoração, levou amarelo, coisa e tal... mas o cartãozinho valeu a pena. Festa mais que merecida.
O time de 1996 ainda descontou com a craque de bola Helena Bohan Carter, de excelente atuação como Olivia mas que não consegue salvar o filme sozinha. Nem o brilhante Ben Kingsley, fora de posição conseguiu dar alguma contribuição e, desta forma, as coisas ficaram assim mesmo: 4x1 para o time de futebol.
Ao que parece, ela é mesmo o cara, hein!
Parece coisa daqueles técnicos malucos que escalam o lateral direito na ponta esquerda, o volante de goleiro, o goleiro de zagueiro... Aqui, ninguém sabe quem é quem, de verdade. |