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quinta-feira, 21 de outubro de 2021

"A Casa", de Gustavo Hernández (2010) vs. "A Casa Silenciosa", de Chris Kentis e Laura Lau (2012)



O "fator casa", para muitos, é considerado preponderante em confrontos equilibrados, e, aqui, neste duelo cinefutebolístico, mais do que nunca, ele é fundamental. E não somente por causa do nome que ambos os times carregam, mas porque se não fosse pelo fato de ter o jogo em seu território, seria muito complicado o filme original, a produção uruguaia de 2010, "A Casa", segurar seu adversário, "A Casa Silenciosa". É quase raro que refilmagens norte-americanas acrescentem alguma coisa em relação a originais estrangeiros que já tenham conquistado boa reputação, mas a produção de 2012, dos diretor Chris Kentis e Laura Lau supera sua inspiradora em qualidade, em recursos, além de dar alguns ganhos à história original.
"A Casa", filme uruguaio, imediatamente catapultado à condição de cult-movie por conta do ótimo resultado final obtido pelo diretor Gustavo Hernández, num projeto de baixo orçamento, filmado, ousadamente, em um só take, nos apresenta uma garota (Laura) que com seu pai vai a uma casa de campo de um amigo da família para dar ao local alguma manutenção e limpeza enquanto o dono se ausenta. Lá ela começa a sentir, ver, perceber coisas estranhas que parecem querer lhe revelar algo. A diferença para "A Casa Silenciosa" é que na refilmagem a propriedade é da própria família e a garota (Sarah) e seu pai estão retornando ao local depois de muito tempo e assim, pairam no ar vestígios de lembranças, rastros de memória e coisas muito remotas. Mas o que os dois tem em comum é que, em ambos os casos, ruídos e movimentos misteriosos assombram a protagonista e, de certa forma, a chamam para o andar de cima.

"A Casa" - trailer


"A Casa Silenciosa" - trailer


As supostas "vantagens" apontadas do remake, no que diz respeito a uma melhor produção e maior investimento, por incrível que possa parecer, não representam prejuízo algum ao antigo. Pelo contrário! A precariedade, a iluminação irregular, a locação mais modesta, são fatores, exatamente, que conferem uma atmosfera mais aterradora ao filme de 2010. A própria opção por fazer o filme em uma tomada só, o que no original é um recurso adotado muito mais pelo orçamento do que por questões artísticas, embora também utilizado pelo remake até com melhor acabamento, acaba sendo um diferencial para "A Casa" 2010 pela coragem, pela competência e por conta do pioneirismo do recurso dentro do gênero de terror. É aí que o fator casa mostra sua importância. O novo filme até é melhor tecnicamente, mas o clima mais soturno proporcionado, exatamente, pelas limitações de produção, iguala os méritos dos dois. É como aquele time uruguaio de Libertadores que sabe que joga menos, não tem tantas estrelas quanto o adversário mas, em seu campo, esburacado, com a iluminação ruim, com a torcida, ali, colada no alambrado, usa o que tem e torna o jogo encardido pra qualquer um que caia lá.
Limitações de um, qualidade do outro, originalidade de um lado, técnica do outro, uma boa história de um lado, mudanças ousadas do outro, e o primeiro tempo fica no 0x0.
A segunda etapa começa movimentada dentro de campo, ou melhor da casa. É um sobe e desce escada, caminha por um corredor, vai pro porão, vai pro sótão... e, nisso, boas cenas acontecem e as oportunidades de gol aparecem para os dois lados. A sequência em que nossa heroína (Laura, no antigo, e Sarah, no novo) encontra-se acuada, encurralada e consegue, por um momento, sair da casa e corre em dasabalada carreira pelo meio do mato, próximo à casa, nos dois filmes deixa o espectador com o coração saindo pela boca, mas é mais angustiante no segundo filme, onde Sarah, interpretada pela futura Feiticeira Escarlate da Marvel, Elizabeth "Wanda Maximoff" Olsen, se esgueira para escapar pelo porão, e não pela porta da frente como no original, e sua correria pelo matagal é muito mais bem filmada, culminando na fantasmagórica aparição na estrada, no encontro com o tio na estrada, e com um tenso e agoniante retorno para a casa. Está aberto o placar: 1x0 para "A Casa Silenciosa".
Em compensação, a solução do caso, o esclarecimento de toda a situação, embora também muito interessante no remake, é mais chocante no original, com aquelas fotos de adolescentes nas paredes do quartinho todo todo coberto de plásticos por causa da reforma. O time uruguaio busca o empate. 1x1.
Mas a alegria do time da Casa não dura muito e a atitude que nossa protagonista toma ao "descobrir" o que realmente acontecera ali (estou tentando não dar spoiler), é melhor e tem uma execução mais intensa na nova versão. 2x1 no finalzinho da partida!!!
Tudo parece definido, parece que esse será mesmo o placar final, quando, nos acréscimos, no pós-créditos, Laura escapa pelo bosque, encontra uma menina (???), uma boneca, a criança, numa jogada rápida some e... é um golaço do time de 2010.
Laura sai comemorando com o dedo indicador verticalmente na frente dos lábios, fazendo sinal de silêncio para a torcida visitante. Empate a raça, na garra charrua, um prêmio para um time que nunca desiste. 2x2 num confronto de dois bons times no nosso Clássico é Clássico ( e vice-versa).

No alto, as duas aterrorizadas: à esquerda Laura e, à direita, Sarah,
encarando a escuridão e os mistérios da casa.
No meio, a cena da fuga e da correria, com vantagem leve para o remake;
e, abaixo, a revelação do terror, muito melhor e mais impactante no original.




"A Casa Silenciosa" até foi superior em alguns pontos 
mas se esqueceu que o jogo só acaba quando termina,
 e não conseguiu calar a torcida da Casa.




por Cly Reis

domingo, 30 de agosto de 2020

Wakanda Forever! A representatividade negra nas HQ’s, séries de streaming e blockbusters norte-americanos



O trono de Wakanda está vazio e, com ele,
também o da representatividade negra de heróis no cinema.
Quando fiquei sabendo da morte precoce de Chadwick Boseman, ator que entre outros trabalhos interpretou o Pantera Negra, fiquei triste e preocupado. Essa preocupação se dá, pois essa perda se deu no decorrer de mais uma semana de intensos conflitos raciais nos EUA, impulsionados pela violência histórica e estrutural da polícia norte-americana contra os negros. Parei um momento para fazer uma pequena reflexão, sobre como a questão racial e de representatividade de heróis e heroínas negros nas histórias em quadrinhos (HQ’s), pode ser explorado de forma pedagógica e ligada diretamente ao Ensino de História.
Na década de 1960 os Estados Unidos da América encontravam-se ainda segregados racialmente, resquício da Guerra de Secessão (1861-1865) de cem anos antes. De forma resumida, podemos compreender que foi a luta dos estados do norte industrializado, que defendiam o fim da escravidão, a fim de que os antigos escravizados se tornassem trabalhadores assalariados, impulsionando assim o capitalismo emergente do período. Do outro lado tínhamos os estados do sul escravagista, que defendiam a manutenção da mão de obra escrava, pois consideravam que perderiam muito capital com a emancipação dos escravizados.
A importância então das HQ’s e, mais tarde, dos filmes que colocavam em evidência protagonistas negros possibilitou a ruptura de estereótipos, que ainda hoje são presentes em nossa sociedade. Estereótipos estes, que colocam ainda os pretos e pardos como subalternos, ligados a uma subcultura, ligados à criminalidade ou dependentes de figuras brancas, símbolos da colonização europeia.
Como não pensar, por exemplo, em Tarzan quando se fala em heróis africanos. Ainda que o Tarzan tenha sido um nobre europeu branco, que sofreu um naufrágio na costa africana, foi criado por macacos e quando enfrentava tribos negras, essas tribos eram retratadas como vilãs em algumas de suas aventuras.
Da mesma forma, pensar em Allan Quatermain, o explorador branco inglês, símbolo da colonização europeia da região. Ou no Fantasma, que começa sua trajetória nas selvas asiáticas, mas depois é deslocado para o continente africano. Ao pensar em heróis africanos no início do século XX, pensava-se em brancos que representavam o colonialismo branco europeu.
O Pantera Negra foi, de certa forma, responsável pela redescoberta
de outros heróis negros, como, por exemplo, Misty Knight e Luke Cage.
Quando o escritor Stan Lee e o ilustrador Jack Kirby se uniram para criar o Pantera Negra em 1966, ainda que por diversas vezes tenham alegado que não havia ligação com o movimento político Black Panthers, o herói acabou sendo símbolo justamente dessa quebra de paradigmas e estereótipos ligados aos negros de forma geral, pois era um rei, gênio cientifico, líder de uma nação tecnologicamente superior a qualquer outra no planeta. Lembrando novamente que isso ocorreu justamente durante a luta pelos direitos civis dos negros americanos, que até então não podiam frequentar bares, comércios, igrejas e até mesmo escolas públicas que eram destinadas aos brancos. Nos ônibus, trens e metros, os espaços destinados aos negros eram os do fundo desses transportes.
Ainda que de forma ficcional, o Pantera Negra serviu e serve ainda hoje, como símbolo dessa quebra de padrões e imposições, além é claro de personificação imagética do antirracismo. Quando o Marvel Studios lançou em 2017 o filme "Pantera Negra" nos cinemas, a repercussão política e social do Blockbusters foi tanta, que gerou uma das maiores bilheterias da franquia de heróis até hoje. O mais importante, no entanto, foi o empoderamento de várias crianças e adolescentes negros em todo o mundo, que passaram a se sentir representadas na figura do herói. Lembro que falamos por semanas nas minhas aulas sobre o filme e ainda falamos muito sobre ele até hoje.
Outros heróis negros, que eu já conhecia como aficionado desde a adolescência em HQ’s, passaram a ser redescobertos, como Luck Cage e Misty Knight, vistos na série da Netflix Luke Cage. Adaptações foram feitas em séries para canais de streaming, como a segunda temporada de Watchmen da HBO, que coloca a questão racial no centro da trama, sendo que a protagonista da série é uma heroína negra. Podemos citar também outros personagens negros da DC como Ícone, Vixen, Super Choque, Raio Negro, entre tantos outros, que servem para reflexão sobre essa temática.
Será que Pierre Bourdieu, pensador que desenvolveu também o conceito de representatividade, conseguiria imaginar um aprofundamento desta questão sob esta ótica?
Espero, de coração, que o trono, da nação fictícia de Wakanda não fique vazio por muito tempo nas novas produções da Marvel. Que a morte do excelente ator Chadwick Boseman, protagonista de outros trabalhos que merecem reconhecimento também, possibilite uma reflexão sobre a importância da representatividade, sobe os mais diferentes aspectos, assegurando o empoderamento e a visibilidade daqueles que não se sentem representados de forma equânime. Wakanda Forever!

por  C L E B E R     T E I X E I R A     L E Ã O



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Cleber Teixeira Leão é professor da Rede Estadual de Ensino do Rio Grande do Sul, onde atua há 10 anos. Também é músico e pesquisador de Ensino de História.
Em seu Mestrado Profissional de Ensino de História pela UFRGS, desenvolveu uma pesquisa no campo das relações étnico-raciais, com foco no conceito do estudo crítico da branquitude, sobre a qual apresenta os dados produzidos a partir dela, para professores, pesquisadores e o público em geral, em webinarios, debates e podcasts.
Cleber é morador do bairro Restinga, zona periférica da capital gaúcha, local de movimentos culturais negros de grande expressão no cenário porto-alegrense, do qual ativamente faz parte.


Referências:
BOURDIEU, Pierre. “Esboço de uma teoria da prática”. In: ORTIZ, Renato (org.) Pierre Bourdieu. São Paulo, Ática, 1994.
BOURDIEU, Pierre. Coisas ditas. São Paulo, Brasiliense, 1988.
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas linguísticas. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996.
MUNANGA, Kabengele (org.) Superando o racismo na escola. 2. ed. Brasília: MEC/SECAD, 2005. Disponível em: https://bit.ly/2v374Ty. Acesso em: 14 maio 2018.
https://www.huffpostbrasil.com/2018/02/15/pantera-negra-entenda-a-origem-e-a-importancia-do-1o-super-heroi-negro-mainstream_a_23362850/

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

"Coringa", de Todd Phillips (2019)




Uma obra de arte perigosa

por Vagner Rodrigues

Gotham City, 1981. Em meio a uma onda de violência e a uma greve dos lixeiros, que deixou a cidade imunda, o candidato Thomas Wayne (Brett Cullen) promete limpar a cidade na campanha para ser o novo prefeito. É neste cenário que Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) trabalha como palhaço para uma agência de talentos, com um agente social o acompanhando de perto, devido aos seus conhecidos problemas mentais.

Uma direção perfeita, tecnicamente impecável, uma atuação espetacular, uma das melhores construções de arco de personagem que já vi, fazem de “Coringa” uma obra de arte, que, no entanto, pode vir a se tornar extremamente perigosa se for interpretado de certas maneiras.

É, mas o fato de classificá-lo como perigoso, não deixa de ser também um mérito, uma vez que mostra o personagem principal como um homem que apenas está respondendo, tomando ações para confrontar a forma com que pessoas e o sistema, o tratam, levando um cidadão a atitudes e ações extremamente violentas, que na obra, dentro deste contexto, acabam mostrando-se justificadas. E digo que pode ser perigoso, no caso de qualquer um assistir ao filme e acabar se identificando com Arthur (o que é bem possível devido ao realismo da trama) e tudo aquilo servir como inspiração e um gatilho para atitudes parecidas. Então, cuidado! Procure conversar com alguém sobre o filme, ok?

Como obra cinematográfica, o longa chega perto da perfeição. Desde de um roteiro bem escrito, uma fotografia sublime, e uma direção que sabe o que quer, onde pretende chegar e nos levar. Mas o que torna o filme realmente memorável é atuação de Joaquin Phoenix. O homem está possuído em cena! Tudo, definitivamente TUDO, que ele faz no filme é ESPETACULAR! Uma atuação com o corpo todo, uma fisicalidade assustadora e visceral. Seus olhares, suas falas, até os momentos que está em silencio conseguem ser espetaculares. Me chamou muito atenção a mudança de postura de Arthur quando se transforma em Coringa: deixa de ser aquela pessoa com aparência fraca, corcunda para se tornar um homem poderoso, intimidador.

Um dos melhores estudos e construção de personagem dos últimos tempos no cinema. Um protagonista que sai do ponto A e vai até o ponto B muito bem conduzido pelo roteiro e direção, o que é ótimo de observar. Ver que ao final da história, não só o personagem mudou você também mudou. Isso é cinema e o seu melhor como arte. Aquilo que instiga, faz refletir e ainda é delicioso de se assistir. E como se não bastasse tudo isso, "Coringa" é uma bela homenagem a Scorsese e seu cinema da nova Hollywood.

Vá com calma, acompanhe toda jornada desse palhaço louco, tenha medo, mas não deixe de acompanhá-lo pelas perigosas ruas de  Nova..ops.. , quero dizer... Gotham.

Pura genialidade! Uma aula de atuação.
Algo que não se esquece tão cedo.


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A descida ao inferno

por Daniel Rodrigues

Poucos filmes me geraram tamanha expectativa antes de assisti-lo como “Coringa”, de Todd Phillips. Mas neste caso, foi mais do que expectativa: foi medo mesmo. Medo de ficar decepcionado com a comum ideologização permeada de parcialidade do cinema comercial norte-americano, com a superficialidade com que tratam muitas vezes assuntos profundos ou, pior, com a recorrente banalização de temas ricos como se fossem apenas produtos de entretenimento. Geralmente tento estar com a mente aberta ao que o filme me trará, não raro sem ler nada a seu respeito antes. Mas com Coringa era impossível, pois tinha receio que o deturpassem, e isso me irritaria muito, uma vez que me é um personagem caro. Já não basta o que fizeram com o seu arquirrival, Batman, cuja DC Comics, sem controle de seu personagem mais icônico na transposição para o cinema – diferentemente da Marvel para com as suas marcas – deixou que o Homem-Morcego fosse mais inexpressivo que os vilões nas versões de Tim Burton, virasse um existencialista falastrão na trilogia de Christopher Nolan e alterasse totalmente o porquê de seu embate com Superman por pura falta de colhões em reproduzir a obra original dos quadrinhos.

Com o Coringa não podiam cometer o mesmo erro. Não podiam desperdiçar uma mitologia tão rica, a oportunidade e contar uma história inigualavelmente promissora como ainda não se tinha feito. Quem como eu acompanhou os HQ’s de Batman nos anos 80 e 90 sabe o quanto este personagem é especial e – mesmo com o fio condutor que monta a sua biografia desde que foi criado – complexo. E foi exatamente isso que o filme de Phillips conseguiu: construir um personagem denso e crível, não apenas respeitando a sua saga como amarrando aspectos sociológicos e psicológicos com surpreendente minúcia. 

O ponto que mais me preocupava antes de assistir era o de se querer dar a um maníaco assassino como Coringa um caráter meramente vitimista para sustentar o clichê de que a sociedade moderna é a principal responsável por criar monstros como ele. Subterfúgio, claro, usado unicamente para imobilizar as consciências e manter tudo como está em favor daqueles que comandam o sistema. É quase isso, uma vez que a opressão social, política, ideológica e a consequente invisibilidade que esta condição subalterna dá aos desfavorecidos ou diferentes como ele é, sim, combustível para a formatação da persona Coringa a que o personagem Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) acaba por assumir em sua caminhada de loucura e dor. O problema é que Coringa é um velho conhecido, uma vez que não se trata de um personagem como os de vários filmes em que os elementos narrativos vão dando subsídios para que se construa do zero na cabeça do espectador o psicológico e a identidade dele. Trata-se, no caso do principal vilão dos quadrinhos do Batman – quiçá de toda a história dos HQ’s – de uma “pessoa” a quem já se sabe onde vai chegar e quais os traços essenciais o compõem enquanto sujeito. Ou seja: precisavam ser bastante críveis para me convencer.

Por isso, a questão é mais profunda quando se fala em Coringa. Entretanto, o roteiro do filme é muito feliz ao abarcar todos esses aspectos e ir ao cerne das coisas. Além da visível esquizofrenia e a propensão à psicopatia, controladas até certo ponto pelo sistema através não só de medicações como da opressão social, há nele uma motivação estritamente subjetiva e humana, que é a família. O histórico de maus tratos, o desajuste familiar e a condição de pobre, inadequado e fracassado poderiam até ser equalizadas se continuasse levando uma vida medíocre e sem visibilidade como de fato tinha. 

Mas é a perda da figura central da mãe (a quem ele duplamente perde, simbólica e materialmente, uma vez que ele mesmo a mata) a chave para o desencadeamento do que lhe havia de pior, para que se concretizasse o Coringa que conhecemos. Representa a ruptura, a definitiva descida ao que estava represado, a qual o cenário da escadaria simboliza na trama o caminho: para cima, a redenção, para baixo, o inferno. A mãe, única pessoa a quem ele podia dedicar carinho, era a como o pino de uma granada: se fosse removida, a bomba explodiria. E foi. Uma justificativa altamente plausível que, aí sim, juntada aos fatores externos da igualmente violenta sociedade é um prato cheio para o surgimento de indivíduos perigosos como Coringa. Ele é vítima, sim, mas é também produto do descuido da sociedade para com o dessemelhante, o cidadão não-comum, que não se encaixa nos padrões estabelecidos. Fosse pelo talento de artista, a encarnação do dualístico e bufão clown, fosse pela loucura latente que lhe prejudicava a socialização, nunca lhe deram atenção. Ninguém. Sua resposta veio em forma de um empedramento doentio e de vingança. Agora teriam que lhe dar atenção, da pior maneira possível.

O ótimo resultado de “Coringa” é em grande parte fruto da atuação exuberante de Phoenix – o que, aliás, mesmo com a desconfiança do que o filme apresentaria, tinha certeza de que seria brilhante. A construção que Phoenix dá a Coringa considera a trajetória dos HQ’s, a literatura, o imaginário social e todos os outros que vestiram o personagem antes dele no audiovisual. É possível enxergar Jack Nicholson, Heath Ledger, Cesar Romero e Jared Leto, assim como estão ali o Coringa dos HQ’s “A Piada Mortal”, “Asilo Arkham” ou “O Cavaleiro das Trevas”. Porém, Phoenix, até por esta capacidade cênica muito sensível de síntese, consegue o feito de superar todos. 

Mas fora o encanto que protagonista causa, tudo funciona em “Coringa”. A obra, mesmo que tenha na atuação justificadamente a sua maior força, é incrivelmente coesa, harmônica, forte e crítica. Um tapa na cara sem concessões ao modo de vida norte-americano e ao que a nação mais rica do mundo vende ao mundo como modelo de felicidade. Além disso, a fotografia suja e fantasmagórica, a trilha sonora econômica e muito bem escolhida, a direção de arte impecável e a edição, que faz questão de deixar subentendimentos em nome do foco da narrativa, são igualmente destaques. 

Dentro da crítica aos modelos norte-americanos que o longa traz, a referência a dois filmes de Martin Scorsese – não à toa ambos estrelados por Robert De Niro, brilhante no papel do apresentador de tevê Murray Franklin – são sintomáticas. Primeiro, “Taxi Driver” (1976), quando Arthur, em seu mundo interno, aponta um revólver para a televisão e para os “inimigos imaginários” de sua sala. A condição de degradação mental a que o ex-combatente do Vietã vivido por De Niro e a de um rejeitado como Arthur são sujeitados expõe o quanto a política dos Estados Unidos é capaz de gerar indivíduos tão desassistidos e doentes. Igualmente, “Coringa” retraz, ao abordar o stend-up comedy e os programas de auditório em que as massas riem do que lhe é imposto como piada, o controvertido “O Rei da Comédia” (1983). Naquele, a piada sem/com graça é o sequestro do astro da televisão Jerry Langford (Jerry Lewis) pelo obsessivo e igualmente invisível Rupert Pupkin (De Niro) para que este apresentasse seu número no lugar do apresentador oficial. A reflexão que “Coringa” levanta, assim como o filme de Scorsese, é um questionamento do que é “felicidade” numa sociedade acrítica e controlada pela indústria do entretenimento como a atual.

“Coringa” não tem nada a ver com os filmes de super-heróis explosivos, frenéticos e plastificados como os que Hollywood vem fazendo às pencas. É um drama sobre uma pessoa inventada mas talvez tão mais real quanto um ser humano de carne e osso. Um drama sobre um triste arquétipo da doença e da violência as quais somos submetidos hoje. Um drama sobre alguém que bem que poderia existir. E será que não existe mesmo?

Coringa na escadaria: a definitiva descida para o seu inferno interior


quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Banda Black Dog - Calabouço Bar - Rio de Janeiro (18/01/2019)




Já havia visto a banda Black Dog, cover do Led Zeppelin, se apresentar no antigo Rio Rock & Blues Club, hoje Rock Experience, tocando, com extrema competência o álbum conhecido como "Led Zeppelin IV" na íntegra, e, neste último sábado, quando eu e meus amigos Giuliano Comerlato e Lucio Lorandi, que depois de algumas rodadas de cerveja artesanal procurávamos exatamente por algum programa musical para fechar a noite, soubemos que eles estariam no Calabouço Bar, corremos para lá, uma vez que estávamos mesmo ali pertinho. E a Black Dog não decepcionou! Correspondendo a toda a propaganda que fiz deles a meus amigos, mandou uma pedrada atrás da outra com uma qualidade incrível. Pôs fogo em tudo com a destruidora “Communication Breakdown”; executou com brilhantismo “Baby, I'm Gonna Leave You” com todas suas variações; "Kashmir" mesmo com toda sua exigência técnica; embalou a galera com o reggae contagiante “D’yer Mak’er”; e pôs o lugar abaixo com “Black Dog”, “Rock’n Roll” e especialmente com “Immigrant Song”, mais do que nunca popularizada depois de fazer parte da trilha sonora do filme da Marvel. Depois de uma parada pra tomar um ar e uma aguinha, ainda voltaram para um bis recheado de Deep Purple e Black Sabbath que agradou igualmente ao público do Calabouço.
Grande noite com os amigos, regada a cerveja e muito rock’n roll, na qual a Black Dog teve grande contribuição no segundo tocante à segunda parte nos fazendo voltar para casa com a alma cheia.


Black Dog - trecho de "Immigrant Song"



Cly Reis

quinta-feira, 26 de julho de 2018

"Homem-Formiga e a Vespa", de Peyton Reed (2018)




Em prisão domiciliar depois das estrepolias com os Vingadores em “Capitão América: Guerra Civil, Scott Lang (Paul Rudd) ainda parece guardar alguns resquícios de sua redução extrema e sua breve passagem por uma outra dimensão. São fragmentos como estes que sinalizam ao Dr. Hank Pym (Michael Douglas) que a viagem de Lang pode ser uma chave para trazer sua mulher de volta daquele plano extradimensional do qual ela nunca mais voltara depois de uma missão na qual também tivera que se reduzir radicalmente. Só que enquanto Pym, com a ajuda de Lang que parece estar recebendo sinais da esposa perdida no vazio, busca esta chave multidimensional por razões emocionais, um empresário de tecnologia e uma misteriosa mulher que desafia os princípios da matéria, aparecendo, desaparecendo, se dissolvendo e refazendo, querem os experimentos de Pym para outros fins e irão atrapalhar muito os planos do cientista, de sua filha Hope (Evangeline Lilly), desta vez devidamente equipada no traje de Vespa e, é claro, do Homem- Formiga.
“Homem-Formiga e a Vespa” é elétrico, é empolgante, as constantes reduções e aumentos de coisas improváveis como prédios, carros,... balinhas da Hello Kitty são uma grande barato e os efeitos especiais e o 3D são um show à parte. Mas o filme sofre com um argumento complicadíssimo que talvez somente um especialista em física quântica possa realmente compreender. Vá lá, sei, não precisa se levar tão a sério, basta aceitar a proposta e relaxar. É verdade, mas mesmo assim, de modo a dar sustentação a todas as ações e intenções dos personagens, é interessante que o elemento que é o ponto central da trama, seja um pouco mais acessível ao espectador. Além disso, o filme sofre com uma certa indefinição e má caracterização do vilão, se é que existe um. Quem é? O que quer na verdade? São os dois? Mas a Fantasma é vilã? Aquele carinha ridículo é o vilão principal? No fim das contas, parece não haver efetivamente este elemento e, sim, dois personagens que, somados à polícia que está sempre no pé de Lang, apenas dificultam as ações dos mocinhos da história.
Filme da linha mais light da Marvel, “Homem Formiga e a Vespa”, além da valiosa cena pós-créditos que amarra com aquele final misteriosamente trágico de "Vingadores: Guerra Infinita", vale pela correria, pelo aumenta/encolhe, pelos efeitos especiais, pela diversão, pelas risadas, mas era isso. Nosso herói pode aumentar do tamanho que for, seis, vinte metros, ficar do tamanho de um prédio, que “Homem-Formiga e a Vespa” continuará não alcançado seu antecessor e muito menos chegando nem perto do tamanho das melhores produções do MCU. É apenas um formiguinha neste universo.
Aumentando!
Nosso herói surge gigante diante de um ferry-boat



Cly Reis

terça-feira, 5 de junho de 2018

"Vingadores: Guerra Infinita", de Anthony e Joe Russo (2018)



Sabe que eu não gostei de "Vingadores: Guerra Infinita"? Indo na contramão de quase todos os comentários que li e ouvi, achei um dos piores filmes da Marvel. Parte técnica perfeita. Ok!, Mantida a coerência e a continuidade dos filmes anteriores. Beleza! Mas "Guerra Infinita" me pareceu o mais vazio dentre todos os filmes que levaram a este ponto do enredo. O roteiro não tem profundidade em nada. Só ação, ação, ação... É o filme mais 'super-herói' de todos os do MCU (Marvel Cinematic Universe), no pior sentido que isso possa representar. É tiro, porrada e bomba o tempo inteiro! Aí dá um tempo, um papinho qualquer, uma piadinha e, de novo, tiro, porrada e bomba...
Por já ter construído os personagens e encaminhado o enredo ao longo de todos os filmes de origens e suas sequências, este vê-se descompromissado disso autorizando-se a somente se fixar na aquisição das Joias do Infinito por parte do tirano Thanos, e mais nada. Há um pequeno reforço na construção do vilão, fragilíssima até então, limitada a flashes e cenas pós-crédito nos longas dos heróis; e uma certa humanização do personagem que nos faz ter até uma certa simpatia por ele, mesmo sabendo da grandeza trágica de suas intenções; mas, enquanto desenvolvimento, ficamos por aí.
Thanos tentando preencher sua manopla com as Joias
que lhe darão poder supremo no universo.
Personagens são subutilizados, outros são inúteis, outros são ridículos e, Bruce Banner, por sua vez, consegue ser as três coisas, num conflito interno patético não conseguindo se transformar na fera verde durante todo o filme e não justificando sua presença na trama, senão por uma piadinha aqui outra ali.
Pra completar, o final que fez muita gente vibrar pelo componente dramático, trágico e que promete sequência(s) foi mais um elemento que me deixou desgostoso e insatisfeito, uma vez que, mesmo com toda a amarração entre filmes e heróis, a Marvel nunca fez um filme tão dependente de outro deixando tudo completamente em aberto. Quando se vai assistir a "Kill Bill, volume 1" está claro que o complemento depende um volume 2, mas quando se vai ver um filme de uma linha que, de uma forma ou de outra, sempre se revolveu dentro de cada episódio, o espectador está esperando ao menos que aquela história se complete. Mas não foi o caso desta vez. Me senti quase da mesma forma de quando fui assistir "Matrix Realoaded" e, mesmo sabendo que a trilogia seria finalizada somente no "Revolutions", fiquei completamente decepcionado por ter permanecido mais de duas horas dentro do cinema para  que durante todo aquele tempo, depois de inúmeras lutas infindáveis e improdutivas, nada tivesse acontecido. Nada aconteceu neste? Não. Alguma coisa aconteceu. Mas, na minha opinião, foi muito barulho pra pouca coisa.



Cly Reis

sábado, 18 de novembro de 2017

"Thor: Ragnarok", de Taika Waititi (2017)



"Thor: Ragnarok" é um grande barato! É verdade que se afasta da linha que a Marvel vem montando em seu universo cinematográfico, não contribui muito para as amarrações que a produtora costuma encaminhar entre um filme e outro mas nada disso importa muito n fim das contas. O novo Thor é divertidíssimo, empolgante, tem cenas de tirar o fôlego e outras de cair o queixo. A parte técnica é impecável, o que garante momentos e cenários impressionantes.
Chris Hemsworth parece muito à vontade com esta nova situação de seu personagem, descontraído, cheio de tiradas e piadinhas, bem como Mark Ruffalo, fazendo seu melhor Hulk, para mim, até agora. Jeff Goldblum como Grão-Mestre está impecável e encantadoramente caricato, e Cate Blanchett, embora desperdiçada enquanto talento num papel que não lhe exige muito em interpretação, é muito bem aproveitada enquanto presença e imposição, fazendo uma Hela, irmã renegada de Thor, muito convincente e majestosa encarnando muito bem a vilã, cujos  cabelos pretos que lhe caíram muito bem e um figurino sexy sem ser apelativo fizeram com que ficasse diabolicamente sedutora.
O confronto Holk vs Thor é
um dos grandes momentos do filme.
O roteiro tem alguns defeitos, alguns problemas como a subvalorização do Ragnarok, profecia do fim de Asgard, que não somente ilustra o título do filme como aparece com destaque na primeira sequência e depois é abandonada e esquecida até ser lembrada, assim, meio que como quem acha uma moeda no bolso, lá pelo final do filme. Mas em meio à revelação da tragédia profética pelo demônio Surkur e de seu resgate no epílogo, o velho Odin morre e sua morte liberta sua filha, até então desconhecida por Thor e seu irmão adotivo Loki, exilada por conta de sua fúria assassina incontrolável. Ambiciosa e ferida, Hela, a Deusa da Morte quer conquistar Asgard e de lá, utilizando o Bifröst, portal para os demais reinos, expandir seu domínio de destruição. em mais uma mancada de Loki, ele abre a passagem para Asgard, Hela aproveita o vacilo, entra e ao tentarem detê-la, durante a viagem, Thor e Loki são jogados para fora do túnel interdimensional caindo ambos num planeta lixão repleto de portais e passagens par outros locais do universo, governado pelo Grão-Mestre que se diverte promovendo lutas em sua arena de gladiadores. Thor, enfraquecido sem seu martelo destruído por Hela, é capturado facilmente e colocado no ringue para enfrentar o lutador do Grão-Mestre, nada menos que o Hulk, idolatrado no planeta como o grande campeão das lutas. Aí já viu, né? É loucura total.
Talvez o descompromisso com o restante do arco Marvel tenha deixado "Thor : Ragnarok" mais solto, mais livre, quase como aquele número de quadrinhos avulso, que não tem relação direta com uma série ou uma trama mas que proporciona aquele prazer inesperado ao fã  de HQ's. Se não é nenhuma obra-prima, nenhum graaande filme, Thor consegue ser interessante praticamente o tempo inteiro, seja pelo frenesi, seja pelas imagens, pelos personagens ou pelo humor, sem falar que nos proporciona algumas cenas memoráveis como a da destruição do martelo por Hela como se fosse um brinquedinho; a do embate do Rei do Trovão contra o Hulk na arena em Sakaar; e, especialmente, a cena da batalha na ponte Bifröst ao som de "Immigrant Song" do Led Zeppelin, algo simplesmente de arrepiar!

"Thor : Ragnarok" - trailer





Cly Reis

sábado, 30 de julho de 2016

"Homem-Formiga", de Peyton Reed (2015)


E eu hesitei em ver "Homem-Formiga"! Não é nenhuma obra-prima, filmaço, não é o melhor filme da Marvel mas é muito bacana. Entretenimento e diversão garantidos. Um personagem carismático, situações engraçadas, cenas de ação de tirar o fôlego, efeitos especiais empolgantes, uma história coerente dentro do que se propõe e totalmente encaixada dentro do universo Marvel, cheia de ganchos e ligações com personagens e projetos futuros da produtora.
Um ladrão brilhante, recém saído da cadeia, Scott Lang (Paul Rudd), é o cara certo para recuperar para um cientista, Hank Pymm (Michael Douglas), o projeto de um traje que permitirá que pessoas possam ser encolhidas para fins bélicos. Utilizando o protótipo, o projeto original, Lang deve entrar nas instalações da antiga empresa onde Pymm trabalhou durante anos e, fazer o que sabe de melhor, roubar o projeto.
As cenas de encolhimento e aumento do personagem são demais, a cena do trenzinho Thomas e da formiga gigante já nos momentos finais do filme é um barato mas, se eu já estava gostando do filme àquelas alturas, a cena do "Disintegration" foi pra ganhar de vez um fã de The Cure como eu. Mas nem precisava. Não foi por causa disso. O filme é bem legal.
A cena do trenzinho:
Ação em miniatura.





Cly Reis

segunda-feira, 7 de março de 2016

Quadrinhos no Cinema #12 - "Os Vingadores: Era de Ultron", de Joss Whedon (2015)



Ação, aventura, uma super-equipe muito bem entrosada e efeitos fabulosos. Mais uma vez Joss Whedon acerta em  um filme dos "Vingadores". A Marvel Estúdios foi certeira em deixar seus filmes mais fantásticos e bem-humorados e não sombrios e realistas, estilo que a Marvel faz geralmente e muito bem. "Os Vingadores: A Era Ultron" é bom, porém por seguir na fórmula de sucesso, faz co que seja mais do mesmo (Eu gosto deste mais do mesmo, e você?).
Tentando proteger o planeta de ameaças como as vistas no primeiro Os Vingadores, Tony Stark busca construir um sistema de inteligência artificial que cuidaria da paz mundial. O projeto acaba dando errado e gera o nascimento do Ultron (voz de James Spader). Capitão América (Chris Evans), Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), Thor (Chris Hemsworth), Hulk (Mark Ruffalo), Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), tem a missão de neutralizar seus terríveis planos.
Nem o melhor, nem o pior, Ultron continua com
a sina de vilões mais ou menos da Marvel.
O filme é bom, se sustenta bem mas não é melhor que o primeiro filme. Neste segundo filme dos "Vingadores" a Marvel quis se conter mais, deixar mensagens sobre seus futuros filmes, se preocupando mais com isso do que trazer novidades ou contar uma boa história. Ele tem as mesmas qualidades dos outros filmes Marvel, e as mesmas falhas infelizmente. Falta um pouco de tensão, e apesar de cidades destruídas e lutas épicas o filme não tem um grande senso de urgência, os confrontos são muito mais fans services do que para melhorar o andamento do roteiro.

Muitos fãs não gostaram do vilão e realmente o Ultron do cinema é muito mais engraçado e "bobo" do que sua versão dos quadrinhos, mas para a história contada no longa faz todo sentido, já que ele foi criado da mente de Tony Stark. Essa relação Stark e Ultron é um dos pontos altos do filme e foi muito bem trabalhada. São estes dois personagens que carregam a carga mais filosófica do filme, até a chegada do Visão (Paul Bettany). Tanto Tony como Ultron, ao longo de todo filme tentam se provar, sem medir consequências.
A ação do filme é F0D@, os efeitos são maravilhosos, neste aspecto "Era de Ultron" é um show. Algumas cenas ficarão em nossas cabeças por longos anos como a cena inicial que já mostra o que devemos esperar do filme. Logo temos o duelo de Hulk vs Homem de Ferro que, MEU DEUS DO CÉU, é uma das coisas mais bonitas que eu já vi nesta minha longa vida (e aquela Hulkbuster é linda de mais). O confronto final com diversos Ultrons é uma repetição da invasão alienígena, mas e dai? Ela é fabulosa mostrando bem qual o poder de cada personagem.
Que cena maravilhosa, glamurosa!
Falando em espaço de cada personagem, isso também é bem trabalhado, alguns arcos são maiores que outros, mas no final o resultado deixou o filme equilibrado. Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) tem um grande espaço no filme já que ele, o que mais se aproxima de uma pessoa comum (ou seja, você e eu), no longa é destacada essa sua parte mais humana e como é grande sua importância para equipe. Os novos personagens também são bem introduzidos: os gêmeos Pietro Maximoff/Mercúrio (Aaron Taylor-Johnson) e Wanda Maximoff /Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) que carregam uma carga dramática enorme, funcionam bem no filme apesar de pouco tempo de tela, fazendo com que nos importemos com eles. Outro personagem que também foi muito bem apresentado foi Visão, não só a cena onde ele aparece a primeira vez que, diga-se de passagem, é maravilhosa, mas todo sua origem e sua construção, as partes do Ultron, a joia da mente, J.A.R.V.I.S, e terminar com raio do Thor, mostrando que ele é a essência que faltava, o equilíbrio do grupo.
O filme não é nenhuma maravilha, mas dentro da proposta ação e aventura é excelente. A Marvel já tem um nome forte, seu universo cinematográfico está bem estabelecido e vai fazendo o feijão com arroz, mas como sou uma pessoa simples, adoro esse prato. O caminho escolhido foi acertado, "Vingadores: Era de Ultron", consegue concentrar tudo aquilo que tem de melhor nos filmes Marvel, humor, aventura, ação com um pouco de drama e um leve romance. Atira para todos os lados e acerta, não em cheio, mas acerta.  Mas agora chegou a hora da Marvel ir mais longe. Me surpreenda MARVEL.
Se o filme acabasse nessa cena eu já estaria feliz.



terça-feira, 30 de junho de 2015

Quadrinhos no Cinema #4 - "Scott Pilgrim Contra o Mundo", de Edgar Wright (2010)



A onda Cult dos Quadrinhos




Vamos misturar quadrinhos, música e videogame, depois colocar isso dentro de um filme, vai sair o excelente "Scott Pilgrim Contra o Mundo". Uma obra divertida, muito bem feita, com personagens fantásticos, cheio de referências sobre a cultura pop, mas que só vai funcionar se você estiver por dentro desta cultura.
Scott Pilgrim (Michael Cera) é um adolescente canadense, guitarrista de uma banda de garagem sem nenhuma fama chamada “Sex Bob-omb", que acaba de ser dispensado por sua namorada Kim Pine (Alison Pill), e essa sim passa a ser uma grande estrela da música. Para superar isso ele começa um namoro com Knives Chau (Ellen Wong) que se torna a fã número 1 de sua banda. Mas sua vida muda mesmo, quando ele conhece a entregadora de encomendas especiais do Amazon, Ramona Victoria Flowers (Mary Elizabeth Winstead), por quem ele acaba realmente se apaixonando. Porém, alguns "pequenos" empecilhos impedem os dois de ficarem juntos: "Os 7 ex-namorados do mal" de Ramona. Sim, para ficar com sua amada Scott terá que duelar e vencer todos os sete. 
O "belo" casal Scott e Ramona
A história é bem boba, mas funciona porque há diversos personagens interessantes. Além do casal Scott e Ramona, onde Michael Cera está perfeito como Scott Pilgrim, há outros excelentes, como os companheiros de banda de Scott, o amigo gay com quem Scott mora junto e sua irmã mais velha, que vive julgando as atitudes de seu irmão, todos grandes coadjuvantes que garantem muitas risadas. 
Scott Pilgrim é um filme que dialoga com outras artes, e tudo muito bem feito. O filme tem muitas referências aos jogos de videogames, toda vez que Scott luta contra um dos "sete ex-namorados do mal", o duelo é igual ao dos jogos de luta. Ele utiliza superpoderes, voa, tem super força, e sempre que Scott vence um combate, os adversários viram moedas como se cada namorado fosse um chefe de fase e o prêmio final de Scott é ficar ao lado de sua amada (Alô Mario!), e isso é fantástico, especialmente se você for fã dos jogos de videogames.
Outras referências vão aparecendo ao longo do filme, e são bem colocadas. É um filme que fala sobre jogos, sem necessariamente ser um filme sobre videogame. A trilha sonora também é muito boa, com uma pegada Rock Indie, bem dinâmica e dançante.
A 'porradaria' frenética que mistura
HQ's, games e rock'n roll.
A obra tem um andamento um pouco diferente da HQ escrita por Bryan Lee O'Malley por escolha dos roteiristas, algo que não me incomodou, mas pode desagradar alguns. O ponto positivo do filme, e também o negativo, é que por fazer muitas referências aos games e por conta desse cenário mais underground da música, o filme fica bastante específico para agradar certo público e as pessoas que conhecem essas referências, e se você não está na onda "nerd cult" dos últimos anos o filme certamente não vai dialogar muito bem com você. Isso fez com que o filme fosse um sucesso de crítica, porem não de público, e por conta disso, comercialmente o filme não foi bem.
Este é um filme super agradável de assistir, de fácil compressão, mas você tem que estar disposto a aceitar as maluquices dele e sua montagem frenética. É um filme diferente, quase que experimental, e se você aceitar isso, vai ser uma grande experiência assisti-lo. 
A ambientação bem feita, atuações convincentes, e a narrativa dinâmica de jogos de videogame, me conquistaram, por isso, peço para que você dê uma chance a ele, assopre os cartuchos do seu videogame, tire o pó das fitas K7 e assista ao filme!


O grande elenco do filme.
Destaque para dois "ex-namorados do mal": Chris Evans, o atual Capitão América da Marvel,
e Brandon Routh, o Superman, de "Superman Returns"



segunda-feira, 4 de maio de 2015

Quadrinhos no Cinema


"Watchmen', filme que divide opiniões
Devido ao enorme sucesso das adaptações do Estúdio Marvel para o cinema (sucesso de publico e crítica) e a corrida da DC para não ficar para trás, e também por eu ser um enorme fã de quadrinhos e cinema, resolvi me aventurar nesta maratona de filmes baseados em quadrinhos, e fui um pouco além dos filmes de super-heróis. Vou falar na influencia dos quadrinhos no cinema, não contar a historia dos quadrinhos, nem entrar muito no mundo das HQ's, mas sim nos filmes, por isso não falarei (já falando) do fabuloso Will Eisner, que tem muito da narrativa do cinema nos seus trabalhos.
A atual "era de ouro" dos Quadrinhos
A quantidade de filmes baseados em quadrinhos tem crescido muito nos últimos anos, em sua maioria há uma grande preocupação de manter o espirito dos quadrinhos na grande tela, infelizmente nem sempre e assim já que temos produções quase que diárias do “gênero” nos cinemas. Mas sempre tivemos boas adaptações desde os tempo dos seriados cinematográficos como Flash Gordon’s Trip To Mars (1938).
Akira não poderia faltar
Cinema e quadrinhos sempre foram muito próximos, por um motivo, os dois dão primazia à imagem, por isso essa relação de influencias tão fácil, esse é o motivo pelo qual as duas mídias dialogam tão bem. Esta proximidade fica clara ao analisarmos o uso do recurso das storybords, que é o planejamento da cena quadro a quadro, antes de se filmar. O storybord é quase uma HQ, muitos diretores utilizam esta ferramenta desde o saudoso Hitchcock , que foi um dos maiores adeptos da técnica, até James Cameron.
Nem só de "supers" vivem os quadrinhos
Está não é uma lista definitiva das melhores adaptações de todos os tempos, até porque eu não assisti todas as adaptações (são muitas, não tinha como) e sim as minhas melhores. A escolha foi feita de como eu vi o respeito do filme pela HQ, desde a escolha do diretor, se seu estilo combina, pois diretores muito autorais procuram mudar um pouco a história, e isso às vezes pode ser muito bom ou um enorme fracasso, passando pelos atores e como eles interpretam o personagem, a minha identificação com os mesmos, as mudanças de roteiro, tudo foi analisado. 
Assim, escolhi aquelas que mesmo com mudanças grandes no roteiro (nem todas), mantiveram o espirito da revista, podem não ter sido fieis às HQ's, mas o impacto da história em mim foi o mesmo, pois na minha visão, isso é o mais importante não precisa ser exatamente aquilo que eu vi na revista, mas o espírito da obra original tem que ser mantido. Haverá alguma comparação com HQ's, mas, dentro do possível, tentarei analisar apenas filme. Mas repito, é uma lista PESSOAL, pois adaptações sempre geram polêmicas, devido à paixão dos fãs por suas HQ's. Sinta-se a vontade para discordar, OK?
Então aguarde porque depois de invadirem a tela do cinema, os quadrinhos invadirão a tela do seu computador.
Prepare-se. Eles estão chegando.
Christopher Reeve, o Superman definitivo.