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quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Art Garfunkel – “Breakaway” (1975)





"Não tenho o poder de harmonia de Paul (Simon),
 nem suas lindas canções,
mas sinto que tenho muito a ver com a construção dos álbuns e
com a riqueza e sonoridade
que os tornam tão interessantes."


"Quando junto as canções e as coloco em sequência,
seja com ou sem Simon,
vejo o trabalho de uma vida todo
e fico extremamente orgulhoso.
Assim fica muito fácil dizer:
'Aí está o que fiz: cantei bem!'."
Art Garfunkel,
em 2012



Ouvi “Breakaway”, do Art Garfunkel, pela primeira vez na indefectível Rádio Continental 1120. Anos depois, o reencontrei na casa de uma amiga, que me emprestou. A partir daí, surgiu uma história de amor com os discos solo do Garfunkel para um romântico inveterado como eu. Esse é o favorito da casa.

A história desde disco começa em 1970, quando Paul Simon e Art Garfunkel resolveram desfazer a dupla. Enquanto Simon lançava seu primeiro LP solo em 1972 com muito sucesso, Garfunkel aparece com “Angel Clare”, só em 73, depois de tentar uma carreira no cinema. Havia então a necessidade de conseguir um sucesso. Para tanto, foi contratado o bem-sucedido produtor Richard Perry, recém-saído do terceiro disco solo de Ringo Starr e dos clássicos de Carly Simon. Perry foi muito esperto ao produzir “Breakaway”. Quando se tem uma voz límpida, afinadíssima e bonita como a de Garfunkel, a instrumentação não deve atrapalhar e fazer apenas uma moldura sonora aos gorjeios do canário. O disco é um dos melhores da carreira do cantor exatamente por isso. Com vocês, “Breakaway” de Art Garfunkel.

O clima começa com uma regravação de Stevie Wonder, “I Believe (When I Fall in Love It Will Be Forever)”. A partir do piano de Larry Knetchel, Garfunkel mostra toda a extensão de sua voz na época (1975). O arranjo de cordas de Del Newman dá aquele ar de música pop dos anos 70. E os backing vocals de Andrew Gold garantem o romantismo da letra que diz: “Acredito que quando me apaixonar desta vez será pra sempre”. Uma versão digna de Stevie, mesmo que mais melosa, por assim dizer.

“Rag Doll” usa a metáfora da boneca de pano para falar do amor de um homem por uma mulher. No início da música, o narrador está vendo uma mulher num campo, colhendo flores e usando um capuz de veludo azul e o vermelho em suas bochechas lhe dá um ar de boneca de pano. No refrão, diz: “O vento nas árvores canta uma canção triste, triste, triste, triste/ deitado em minha cama ouvindo a noite inteiro/ o vento nas árvores canta uma canção só pra mim/ e traz de volta esta boneca de pano pra mim”. Aqui é o piano elétrico de Knetchel que percorre a música lhe dando a suavidade que a letra requer.

A faixa-título do disco, composta por Gallagher & Lyle, uma dupla de muito sucesso naquela metade dos anos 70, traz Bill Payne, do Little Feat, nos teclados, e os backing vocals de Bruce Johnston, David Crosby, Graham Nash e de Toni Tenille (é, aquela mesma do “Love Will Keep Us Together”). A produção de Perry é tão sutil que mal se notam baixo e bateria nas músicas. Na ponte, Garfunkel canta: “Não é sol que vocês está procurando/ Outra coisa está em sua mente/ Você precisa um pouquinho de espaço e tempo/ para se soltar/ Não é o lugar que você está indo/ É apenas uma fase que está passando/ Não vou te parar, apenas não quero que você/ se solte, voando através do seu oceano/ Se solte, tempo chegou pra você...”.

“Disney Girls”, do Beach Boys Bruce Johnston, parte da premissa que a realidade é muito difícil de aguentar e que o mundo da fantasia proposto por Walt Disney seria um bom substituto para as agruras do dia a dia. Lá pelas tantas, o narrador diz: “Realidade, não é pra mim e me faz rir/ Mas o mundo da fantasia e garotas da Disney estou de volta”. Rola também uma trip nostálgica: “Toda minha vida passei as noites sonhando com você/ O calor que senti pelas coisas que desejei estão se tornando verdade/ Tenho meu amor pra dar e um lugar pra viver, acho que vou ficar/ será uma vida pacífica com uma esposa pra sempre e um filho algum dia/ seus começos de noites e brigas de travesseiro e sua risada suave/ Mas o mundo da fantasia e garotas da Disney estou de volta”. A música é toda armada num clima Disneylândia, com os backing vocals percorrendo a canção.

Aí, vem o “corpo estranho” do disco: uma versão de "Águas de Março" de Tom Jobim, apropriadamente chamada “Waters of March” e que tenta fazer uma tradução literal: “A stick, a stone, it’s the end of the Road...”. A vantagem é que tanto o violonista Louie Shelton, o baixista Max Bennett e o baterista John Guerin se saem bem tentando emular a batida da música brasileira. O interessante é que, mesmo sendo um “strange body” no disco, esta versão funciona como uma pausa no clima romântico que perpassa todo o álbum. Estranho mesmo é o sintetizador de Bill Payne no lugar da flauta de Tom.

Nesta época, tanto Garfunkel quanto Simon eram contratados da Gravadora Columbia, que jamais aceitou a separação da dupla. E para “tentar” uma reconciliação, acertou uma gravação que iria aparecer nos dois discos de 1975 dos rapazes; “Breakaway” e “Still Crazy After All These Years”, de Simon. Ainda bem que a música é mais um clássico composto por Simon chamado “My Little Town”, outra faixa nostálgica que fala de uma cidade pequena – no caso, Nova Jersey – onde o narrador “cresceu acreditando que Deus cuidava de todos nós”. A conhecida ironia de Paul Simon aparece no verso em que diz: “Depois que chove/ tem um arco-íris/ E todas as cores são preto/ Não é que as cores não estejam lá/ é que elas não tem imaginação/ Tudo é igual/ lá na minha cidadezinha”. E o refrão é matador: “Nada além dos mortos e dos moribundos/ voltam pra minha cidadezinha”. Musicalmente, “My Little Town” excede com a turma do estúdios Muscle Shoals de Alabama composta por Pete Carr (guitarra); Barry Beckett (piano); David Hood (baixo) e Roger Hawkins (bateria) mais produção de Phil Ramone. Difícil ficar melhor.

Depois disso, só mesmo um standard: “I Only Have Eyes for You”, de Al Warren & Harry Dubin, com direito a piano elétrico de Nicky Hopkins e backing vocal de Stephen Bishop. Vinda de uma tradição de música romântica da década de 30, “I Only Have Eyes...” começa dizendo “Meu amor deve ser do tipo cego/ não consigo ver ninguém a não ser você/ Tem estrelas no céu esta noite?/ Não sei se o céu está limpo ou cheio de nuvens/ Apenas tenho olhos pra você”. Garfunkel usa sua voz maravilhosa para dar credibilidade a uma conversa romântica da antiga.

Já que falamos em Stephen Bishop, o autor de “On and On” e de “It Might Be You” (tema do filme “Tootsie”), ele contribui com duas canções no disco. A primeira é a minha preferida, “Looking for the Right One”, uma faixa ultraromântica onde Garfunkel tem sua melhor performance de todo “Breakaway”. E a dor de Bishop é bem traduzida pela voz de Garfunkel, que diz: “Não tenho sido nada sortudo, não sou bom em fazer joguinhos/ lembro de seus rostos e esqueço os nomes/ Encontrei a pessoa certa mas ela não me encontrou/ Então eu empacoto minhas emoções e começo/ a procurar pela pessoa certa/ algum dia ela virá?”. Depois, o narrador sofre com o que dizem as outras pessoas: “Eles dizem que não tem sentido correr atrás de algo que nunca se vai conseguir/ Mas meu coração afirma: ‘não diga não’/ em algum lugar desta cidade solitária existe uma mulher pra mim/ Mas espero outra vida para/ procurar pela pessoa certa”. Bem ao estilo de clássicos da música pop, Perry leva toda a canção para um clímax, onde a voz de Art Garfunkel faz arrepiar.

“99 Miles From L.A.” é uma composição de Albert Hammond (o mesmo da também clássica canção pop “It Never Rains in Southern California”, aquela em que os locutores de rádio da antiga chamavam de "Carambô” devido à sua primeira frase “Got on board...”) e o letrista de Burt Bacharach, Hal David. Nesta canção, o produtor permite que os teclados, a bateria e o baixo apareçam mais, reforçando a batida pop, cercada de cordas por todos os lados. Na letra, o narrador está de carro se aproximando de Los Angeles e espera encontrar seu amor. “Mantendo meus olhos na estrada, te vejo/ mantendo minhas mãos na direção, te seguro/ 99 milhas de L.A, te beijo, sinto tua falta, por favor esteja lá”. A letra é toda construída por David neste clima: o motorista chegando à cidade na expectativa de reencontrar a mulher amada.

No final do disco, mais um lamento de Stephen Bishop chamado “The Same Old Tears on a New Background”. De cara, Garfunkel vai direto nas emoções ao som do piano de John Jarvis, secundado pelas cordas de Del Newman. A letra é tão triste que merece ser lida inteira: “São as mesmas velhas lágrimas num novo cenário/ Te ver como uma fotografia desbotada/ Me dói muito sorrir nestes dias/ Estou bem, estou bem/ é a mesma canção com uma nova melodia/ mas a velha chama está quase extinta/ te ver de novo é tudo que me mantém/ estou bem, estou bem/ lembrando, lembrando o familiar sofrer de amor/ ninguém a não ser você/ É mesmo velho eu chorando as mesmas velhas lágrimas/ e eu me afasto como sempre fiz/ ainda apaixonado por você/ mas eu estou bem”. Quando a coisa chega neste nível, é impossível não sofrer junto com Garfunkel, Bishop ou seja lá quem for. A canção é triste demais. Como quase todo o disco. Não recomendável para quem está sofrendo de amor. Mas quem gosta de boa música certamente vai gostar de “Breakaway”, um dos melhores discos da carreira de Garfunkel, que sempre ficou alguns degraus atrás de seu ex-parceiro, o incrível Paul Simon.
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FAIXAS:
1. I Believe (When I Fall In Love It Will Be Forever) 3:48
2. Rag Doll 3:05
3. Break Away 3:34
4. Disney Girls 4:31
5. Waters Of March 3:37
6. My Little Town 3:50
7. I Only Have Eyes For You 3:38
8. Lookin' For The Right One 3:20
9. 99 Miles From L.A. 3:31
10. The Same Old Tears On A New Background 3:43

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OUÇA O DISCO:







segunda-feira, 18 de junho de 2018

Nei Lisboa - Show "Duplo H" - Teatro Renascença - Porto Alegre/RS (12/06/2018)




Sou daqueles diletantes que comemoram datas de aniversários dos discos que gosto. Tenho feito isso direito no Clyblog por meio, principalmente, de resenhas da seção ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, que me dão oportunidade de falar a respeito de obras que admiro e ainda homenageá-las por estarem completando alguma idade fechada. Agora, nas comemorações de 10 anos do blog, tivemos o prazer de ter um desses discos aniversariantes resenhado pelo músico, escritor e jornalista Arthur de Faria: o “Hein?!”, do Nei Lisboa, que completa 30 anos de lançamento em 2018. Pois que, justo no Dia dos Namorados, tive – junto com Leocádia Costa, obviamente –, a felicidade de conferir pela primeira vez um show desse talentoso artista gaúcho especial não somente às três décadas do referido “Hein?!” como, igualmente, aos 20 de outro ótimo trabalho de sua discografia: o ao vivo “Hi-Fi”.

O show, muito bem intitulado “Duplo H”, referência às letras iniciais em comum do título de cada disco, fez lotar o Teatro Renascença em duas sessões naquele dia, sendo a anterior a que assistimos extra, devido à grande procura. Tocando os dois discos inteiros e na sequência, um simpático e sempre sagaz Nei Lisboa hipnotizou o público com o repertório ao mesmo conhecido, mas capaz de emocionar ao ser reouvido – ainda mais considerando a egrégora particular da ocasião.

Com Nei e Paulinho Supekóvia no violão/guitarra e Luis Mauro Filho ao piano/teclados, a apresentação deu a largada, conscientemente, pelas 14 faixas de “Hi-Fi”, cujo formato acústico original mostrou-se ideal para “começar os trabalhos” e por caber mais a este tipo de formação do conjunto. Os standarts, hits e AOR da música pop internacional, muito bem pescados por Nei para o set-list de “Hi-Fi”, são imbatíveis, visto que muito afins com o estilo e gosto pessoal dele. Tocando e, principalmente, cantando muito bem, Nei e a banda executaram as versões já tão queridas quanto suas originais, oscilando entre o folk, o blues, o country rock e as baladas no estilo da “Mellow Mafia” dos californianos anos 60/70. Casos de “Everbody's Talking”, do norte-americano Fred Neil; a linda “Summer Breeze”, da dupla setentista Seals & Croft; a beatle “Norwegian Wood”; “Fifity Ways to Leave you Lover”, do craque Paul Simon; e a sensibilíssima releitura de “Still... You Turn Me On”, da Emerson, Lake & Palmer.

Nei, ao centro, com sua enxuta e competente banda
Isso sem falar na emocionante “Cool Water”, de Bob Nolan e imortalizada na voz de Joni Mitchell, no reggae estilizado para “I Shot the Sherif”, de Bob Marley, no bluesão “Walking Away Blues”, de Ry Cooder, e em “Ruby Tuesday”, dos Rolling Stones, que, segundo Nei, embora não tenha entrado no show acústico em 1998, foi gravada em estúdio obedecendo a mesma ideia de arranjo, pois, “se tinha Beatles, não poderia faltar uma dos Stones”.

Completado “Hi-Fi”, agora era partir para as desafiadoras 11 faixas de “Hein?!”. Desafio duplo: primeiro, porque a formação do grupo não contava com bateria, fator essencial para a sonoridade do disco de 1988. “Como Nei vai resolver o arranjo?”, perguntava-me enquanto curtia o primeiro “H” da noite. O segundo desafio era mais íntimo ao próprio autor, uma vez que o disco foi composto sob a aura de uma tragédia na vida de Nei: a perda da então namorada, Leila Espellet, com quem se acidentou de carro na estrada, matando-a. “Como está o coração dele hoje, passadas três décadas, depois daquele acontecimento fatal? O que guarda no peito ainda: culpa, remorso, saudade, serenidade?”, passava-me à mente.

Parte da resposta veio na conversa com a plateia antes de começarem os números. De forma muito aberta e bonita, Nei pediu uma salva de palmas à memória da ex-companheira e executou na íntegra aquela que é apenas uma vinheta de abertura no álbum, “Zen”, escrita para o filho de Leila, à época com apenas 6 anos de vida. A música, a qual não conhecia por completo, apenas os poucos versos que foram parar na edição final de “Hein?!”, são um tocante recado de conforto de um padrasto talvez tão perdido e triste quanto àquele então pequeno órfão. “A vó da gente é mãe/ Da mãe da filha/ A filha da tia/ O pai do filho/ O espírito são/ Gente do bem, do mal/ Gente gorda, gente fina/ Quando vai pro céu/ O céu se ilumina”, diz a letra. Noutra parte (que também não consta no disco), Nei mostra o quanto aquelas palavras são tanto para ele quanto para o garoto: “Não tem desculpa, não tem culpa/ A culpa é sempre minha/ A culpa é da vizinha/ É uma chatice infernal.”

Um show carregado de canções fortes e emocionais já começou assim! O coração seguiu batendo forte com “No Fundo” e a brilhante faixa-título, uma das melhores do cancioneiro do gaúcho de Caxias do Sul. Nela foi possível conferir o acerto na escolha do arranjo, visto que se trata de uma música-chave do disco e que, se não funcionasse sem a bateria (possante nas baquetas de Renato Mujeiko no disco de 1988), correria sério risco de perder intensidade e, por consequência, identidade. Não foi o que aconteceu. Harmonizando com o arranjo dado à primeira parte do show, o formato violão/guitarra/teclado se encaixou muito bem também na segunda metade da apresentação. A mesma sensação ficou em outras duas igualmente adoradas por mim e pela plateia: a sentida “Nem Por Força” (“Nem por força do diabo/ Eu volto a vegetar/ Nessas malditas esquinas/ Na pressa de te encontrar”) e “A Fábula (Dos 3 Poréns”), debochada mas igualmente ferida pela perda que a motivou ser escrita: “Quebrei uns vinte, trinta espelhos/ De perguntar/ Se tinha alguém mais bela que ela/ Noutro lugar/ Comi todas maçãs da feira/ Pra adormecer/ E em vez do príncipe encantado/ Veio um baixinho assim”.

“Faxineira”, um blues elétrico, ganhou uma sonoridade de piano-bar muito adequada, além de uma leve modernização na letra que, segundo Nei, são para a “faxineira empoderada” dos tempos atuais. Outras que sofreram adaptação para o arranjo foram a country-rock “Fim do Dia”, menos acelerada, e o sucesso “Telhados de Paris”, que, embora parecesse a mais fácil de se adaptar – haja vista que é originalmente só no violão e voz –, ganhou o acertado acompanhamento do piano de Mauro Filho e teve a linha vocal levemente modificada. Nada que comprometesse um dos hinos da Porto Alegre moderna.

Mas os questionamentos que levantei intimamente no início do show sobre o envolvimento emocional de Nei Lisboa com o marcante motivo de “Hein?!”, mesmo que não tenham sido respondidos totalmente, deram-me a entender que permanecem de alguma maneira ainda latente nele, homem amadurecido e vivido em relação àquela época da composição do disco, anos 80. O que talvez tenha me passado a impressão de que as baladas não eram de uma época, assim, tão remota foi a supressão dos últimos versos de uma das preferidas da galera: “Baladas”. Emotiva, a canção fala sobre a referida perda de Leila e a briga interna para manter-se íntegro e desvencilhado do passado. Porém, os versos de “Baladas” escritos depois do acidente, como relatou Arthur de Faria, desta vez não foram cantados: "Só, muito além do jardim/ Viajo atrás de sombras/ Não sei a quem chamar/ Mas sei que ela diria ao acordar/ ‘Tudo bem/ Você me arrasou, meu bem/ E qualquer dia desses eu como as tuas bolas/ Mas agora esqueça o drama na sacola/ Não puxe o cobertor/ Não tape o sol que resta nessa dor’/ Foi bom: não durou”.

Se Nei optou por não cantá-los por não enxergar-lhes mais sentido ou por qualquer outro motivo, os da talvez ainda mais carregada “Teletransporte nº 4” foram ditos na íntegra. Faixa que finaliza o disco num clima de balada triste, foi tocada exatamente como é originalmente: violão, guitarra, piano e muita dor. E que versos fortes! “Porém o céu parece estúdio/ Nem o silêncio não diz nada/ Mesmo essas frases vão pro lixo/ São como lenços de papel/ Ainda por cima aquelas pernas/ Algumas coisas serão eternas/ Que bela ideia acreditar/ Que o mundo te aprendeu.” Para arrebatar os corações apaixonados em pleno 12 de junho.

Depois de 25 sessões em que a carga emocional só foi aumentando, partindo das músicas de “Hi-Fi” para as de “Hein?!”, Nei Lisboa encerra com uma que não entrou no repertório do primeiro por acaso: “Live and Let Die”, de Paul McCartney, numa competentíssima versão que dispensou até a orquestra que embala as aventuras de James Bond. Show perfeito do início ao fim deste que é um dos ícones da cultura de Porto Alegre. Se já tinha assistido ao vivo Tangos & Tragédias, Replicantes, De Falla, Renato Borghetti e Orquestra da Ospa na Praça da Matriz, faltava-me um show de Nei Lisboa para completar a lista dos patrimônios culturais da minha cidade. Uma estreia de luxo.

SET-LIST:

"Hi-Fi":
1 Everbody's talking   
(Fred Neil)
2 Bennie & The Jets  
(Bernie Taupin, Elton John)
3 Summer breeze  
(Dash Crofts, Jim Seals)
4 Norwegian wood  
(John Lennon, Paul McCartney)
5 Sometimes it snows in April  
(Lisa Coleman, Rogers Nelson, Prince, Wendy Melvoin)
6 Fifty ways to leave your lover   
(Paul Simon)
7 I'm having a gay time  
(Alberta Hunter)
8 That's why God made the movies  
(Paul Simon)
9 Walking away blues  
(Ry Cooder, Sonny Terry)
10 Still... you turn me on  
(Lake)
11 Cool water  
(Nolan)
12 Ventura highway  
(Deney Bunnel)
13 I shot the sheriff   
(Bob Marley)
14 Ruby Tuesday  
(Mick Jagger, Keith Richards)


"Hein?!"
15 Zen [Vinheta] 
16 No fundo 
17 Hein!? 
18 Nem por força 
(Ricardo Cordeiro, Nei Lisboa)
19 A fábula [Dos três poréns] 
20 Faxineira 
21 Baladas 
22 Rima rica / Frase feita 
23 Fim do dia 
24 Telhados de Paris 
25 Teletransporte n 4 
(Glauco Sagebin, Nei Lisboa)
Todas composições de Nei Lisboa, exceto indicadas

Bis:
26. Live and Let Die
(Paul McCartney) 



texto: Daniel Rodrigues
fotos: Daniel Rodrigues e Leocádia Costa

segunda-feira, 12 de março de 2018

John Pizzarelli - Porto Alegre Jazz Festival - Centro de Eventos BarraShoppingSul - Porto Alegre/RS (08/03/2018)



Meu amigo Roger Lerina acertou em cheio em sua resenha do show de John Pizzarelli no último dia 8 de março no Centro de Eventos do BarraShoppingSul, dentro da programação especial do Porto Alegre Jazz Festival: Ele "é diversão na certa”. Tocando para um público de meia idade – mesclado salutarmente com alguns jovens mais atentados –, o guitarrista inovou desta vez. Misturando aquele feijão-com-arroz gostoso de standards clássicos como “They Can’t Take That Away From Me” e “I Got Rhythm”, dos irmãos George & Ira Gershwin, com músicas de Nat King Cole e dos Beatles, o músico provou que sabe cativar uma plateia com sua simpatia, com arranjos bem escolhidos e de fácil assimilação pelo público. Seu grupo, apesar de não ter nenhum virtuoso, mostrou ser correto e direto ao ponto, sem firulas. O pianista Konrad Paszkudzki, o baixista Mike Karn e o baterista Andy Watson cumpriram muito bem seu papel de coadjuvantes da grande estrela.

Mas as semelhanças com os shows anteriores terminaram aí. Escorado um scat singing junto com sua guitarra, Pizzarelli usou a técnica aperfeiçoada por George Benson a seu favor. Usando este expediente em quase todos os solos, o guitarrista mostrou ter amplo conhecimento da história de seu instrumento no jazz, circulando pelos estilos dos sóbrios, Jim Hall, Barney Kessel e Herb Ellis num momento e na exuberância do já citado Benson e de Wes Montgomery no outro. Após começar o espetáculo suavemente com as composições dos Gershwin e de seu ídolo King Cole, Pizzarelli apresentou suas novidades. Primeiro, uma versão de “Honey Pie” dos Beatles quase irreconhecível. Na sequência, talvez o grande momento musical da noite, a versão de “I Feel Fine”, de Lennon & McCartney, utilizando-se do tema clássico do funky soul da gravadora Blue Note, “The Sidewinder”, do trompetista Lee Morgan como base do arranjo.

O virtuoso Pizzarelli e sua competente banda
Em compensação, pra mim soou estranha a versão “bossanovística” de “Silly Love Songs”, dos Wings de Macca. Talvez porque a composição esteja tão entranhada no universo pop que “abrasileirá-la” tenha parecido forçado. Outra novidade foi a apresentação de “Oscar Night”, composta pelo falecido pianista de Pizzarelli, Ray Kennedy, em homenagem a Oscar Peterson. Totalmente instrumental, a música faz um passeio/homenagem pelo estilo do grande pianista canadense, abrindo espaço para todos os músicos mostrarem sua destreza.

A partir daí, o guitarrista chama ao palco o neto de Tom Jobim, Daniel – cada vez mais parecido com o avô – para emular o encontro de Frank Sinatra com Jobim há 50 anos atrás. E se saem bem. Como no disco, as clássicas “Dindi” e “Água de Beber” dividem espaço com “Baubles, Bangles and Beads” e “I Concentrate on You, de Cole Porter, mas Pizzarelli tem o cuidado de acrescentar outras pérolas jobinianas no repertório, como “Bonita”, “Two Kites” e “Wave”. Daniel, pouco à vontade somente ao microfone, deslanchou ao piano e voz. No final, a indefectível “The Girl From Ipanema”, que suscitou mais um dos engraçados comentários do guitarrista sobre a onipresença desta canção no mundo inteiro.

Pra finalizar, o número que Pizzarelli sempre apresenta em sues shows: a homenagem ao seu estado natal, New Jersey, com “I Like Jersey Best”, onde brinca com “as versões” de Bruce Springsteen, Bob Dylan, Paul Simon, Lou Reed, Lou Rawls, Billie Holiday, James Taylor, Bee Gees e, até mesmo, João Gilberto e João Bosco. Um final divertido para um show muito musical. Tudo isso começou com o duo da voz de Dudu Sperb com o piano de Luiz Mauro Filho. Como se esperava, dados os talentos do cantor e do pianista, a noite iniciou maravilhosa com clássicos como "Ilusão à Taa", de Johnny Alf; "Stardust", de Hoagy Carmichael, e da linda "Mistérios", de Joyce. Primeiro, a sobriedade gaúcha armando a plateia para a animação de John Pizzarelli. “Volte logo, Pizza”, como disse meu querido amigo Sepeh de los Santos.

Porto Alegre já está aguardando o retorno de Pizza

por: Paulo Moreira
fotos: Opus Promoções

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Som Imaginário - “Matança do Porco” (1973)



A capa original, em cima,
e a da reedição de 2003
“Foi uma época de muita coisa.
 Eu voltei da Europa na turnê que eu fiz com o Paulo Moura,
logo depois do show do Bituca com o ‘Clube da Esquina’.
É um disco que eu compus todo na Europa,
chamado ‘Matança do Porco’.
 Música que, inclusive, tem no disco ao vivo do Milton,
o ‘Milagre dos Peixes Ao Vivo’.
 Você vê que as ideias estavam ali.
Foi a nossa época de laboratório mesmo.
Serviu para o resto das nossas vidas.”
Wagner Tiso


Milton Nascimento foi sempre o cabeça e congregador do chamado Clube da Esquina, esse time de artistas de Minas Gerais que mudou a cara da MPB desde a conturbada segunda metade dos anos 60 de Ditadura Militar no Brasil. Em torno de Bituca – e muitas vezes até motivados por ele, como no caso de Fernando Brant e Lô Borges – se configurou a movimentação musical que trouxe novas linguagem e referências à música brasileira e até mundial se se considerar seu pioneirismo naquilo que passou a se chamar tempo depois de world musicWayne Shorter, Sarah Vaughan, Quincy JonesEric Clapton, Paul Simon, Carminho entendem isso muito bem. Porém, dos diversos talentos surgidos à época e/ou junto com Bituca, um deles é quase tão fundamental: o maestro Wagner Tiso. Surpreendentemente autodidata (o saxofonista e clarinetista Paulo Moura, exímio arranjador, apenas lhe deu toques sobre teoria), é naturalmente dono de um estilo de tocar piano e de orquestrar que bebe no colorido de Claude Debussy e na força expressiva de Richard Wagner, além de sua veia sacra, a qual adquiriu ainda pequeno nas igrejas do interior de Minas que frequentava. Se Milton é o símbolo do Clube da Esquina, principal compositor e propulsor da cena, Tiso é o centro harmônico, o homem que aperfeiçoou a ideia e lhe deu lastro.

Tiso, sempre muito ligado a Milton Nascimento (ambos são naturais de Três Pontas), já era o principal arranjador e regente dos trabalhos deste desde o LP “Milton”, de 1970, mesmo ano em que, juntamente com Luis Alves (baixo), Frederyko (guitarra) e Robertinho Silva (bateria) forma uma banda de apoio para o parceiro. Assim surgiu a Som Imaginário, para a qual ainda foram convocados para completar o grupo nada mais, nada menos que três craques: Tavito (violão), Zé Rodrix (voz, órgão, flautas) e Naná Vasconcelos (percussão). Um time de primeira. Além das essenciais participações nos trabalhos de Milton e na de gente do calibre de MPB-4, Marcos Valle, Gal Costa, Odair José, Sueli Costa, dentre outros, a banda mantinha também carreira própria. Depois de dois discos em que Rodrix comandava os microfones (“Som Imaginário”, de 1970, e “Nova Estrela”, de 1971) a Som Imaginário, sem este e Naná, sintetiza sua sonoridade psicodélica e até lisérgica e compõem um álbum totalmente instrumental: “Matança do Porco”, de 1973. Nele, a MPB se junta com felicidade ao rock progressivo, ao jazz e à música clássica em seis canções assinadas por Tiso em que todos os músicos se esmeram nos instrumentos. Solos magníficos, arranjos deslumbrantes e orquestrações idem, cujas regências tiveram ainda a fina colaboração de Moura, maestro Gaya e Arthur Verocai. Este último trabalho de estúdio do grupo é uma obra-prima da música instrumental no Brasil.

“Armina”, com sua melodia valseada e melancólica, não apenas abre o disco com o piano altamente erudito de Tiso como, igualmente, recorta-o todo, aparecendo em vinhetas/excertos entre os outros cinco temas durante todo o decorrer, desfechando-o também, inclusive. A canção dá o clima do álbum, cujo peso do rock, o swing do samba-jazz e a energia do fusion são ciclicamente reconduzidos à atmosfera do tema-tronco, o qual traça uma linha entre o litúrgico e o a herança modernista do folclórico bachiano de Villa-Lobos. Entretanto, na alquimia natural da Som Imaginário, de cara se ouve um potente jazz-rock de baixo-guitarra-bateria-órgão, que faz um pequeno preâmbulo para, aí sim, dar lugar ao piano de Tiso. Depois de um lindo solo, que traz delicadeza ao número, a banda retorna vigorosa – a melodia lembra “I Want You (She's So Heavy)”, dos Beatles, na parte do “She so heavyyyy...”, para ver o nível de grandioculência – para um exímio e longo solo da guitarra rasgante de Frederyko, ao estilo de John McLaughlin. Por volta de 4 minutos e meio, param todos os instrumentos elétricos para novamente ouvir-se o dedilhado acústico do piano, fazendo ressurgir a valsa tristonha.

Agora sob o som de um piano elétrico, “A 3”, extremamente moderna, sintoniza com o que Hermeto Pascoal, Airto Moreira e João Donato vinham fazendo nos Estados Unidos àquela época e embasbacando os gringos: um jazz brasileiro com ritmo, harmonias complexas e uma habilidade musical peculiar dos trópicos. Show de perícia de toda a banda, que, levados pelos teclados, ganham o acompanhamento da percussão do mestre Chico Batera e da flauta de outro professor, Danilo Caymmi. Uma curta e orquestrada “Armínia”, arregimentada por Verocai – e na qual se notam os toques de sua sofisticação harmônica, principalmente na predileção pelos metais ouvidos ao final –, antecipa “A nº 2”, que inicia como um samba cadenciado conduzido por uma linha de órgão. Vão se adicionando as melodiosas vozes dos Golden Boys, solos da guitarra e cordas, num crescendo de emoção. Até que, pouco antes dos 5 minutos, o baixo de Luis manda um groove e a música dá uma virada para um jazz-funk estupendo. Tiso troca o órgão para o Hammond; Luis e Fredera, mantendo a base em repetições ágeis; Robertinho; segurando o ritmo na variação caixa/prato de ataque. Arrasador. Digno de um “Headhunters”, de Hancock, ou “On the Corner”, de Miles Davis.

A faixa-título, que eu conheci no disco de Milton, “Milagre dos Peixes Ao Vivo” (1974), surpreendendo-me por demais já daquela feita, não perde em nada no estúdio. Aliás, até ganha, tendo em vista que os registros ao vivo da época eram deficitários tecnologicamente (o caso). Além do mais, o próprio Bituca empresta aqui a sua voz. Então: serviço completo, nada faltando. Sugestivo, o título remete ao arcaico ritual de abate de suínos típico do folclore português e que, obviamente, devido a seus requintes de crueldade, exprime algo de visceral e funesto vivido à época no Brasil de Regime Militar. Como se tratava de uma canção “sem letra”, os milicos a consideraram inofensiva e deixaram passar pela censura. Isso faz com que “Matança do Porco”, música e disco, alinhem-se, pela via de um “silêncio resistente”, a “Milagre dos Peixes” de estúdio, daquele mesmo ano de 1973, que os militares censuraram praticamente todas as letras, transformando-o, forçadamente, num álbum semi-instrumental. Este aqui é instrumental de propósito, pois não há palavras para exprimir o sentimento nefasto que se presenciava. Os sons, dados à imaginação, falam por si.

Nos mais de 11 minutos da canção “Matança do Porco”, ponto alto do disco, deságuam boa parte da musicalidade construída pela turma do Clube da Esquina. Seguindo a atmosfera erudita que domina o álbum, trata-se de um pequeno réquiem transgressor, entre o rock e o jazz. Traz o vigor de um rock progressivo, que lembra o Pink Floyd psicodélico pré-"Wish You Were Here", ainda mais pela novamente excelente performance de Frederyko debulhando a guitarra – e não deixando nada a dever a um David Gilmour. O primeiro “movimento” inicia lento com acordes 2/2 de Tiso ao piano, que exercita uma breve introdução (Kyrie e Gloria) enquanto vão entrando aos poucos os outros instrumentos até chegar na guitarra, que, distorcida, se adona do campo. São quase 5 minutos de um solo dividido em dois momentos (algo que se poderia intitular como “A Preparação”, Credo, e “A Desforra”, Sanctus) que vai num crescendo e toma uma carga emotiva tamanha com o poder de carregar consigo os outros integrantes, ao final igualmente em êxtase. Robertinho dá um show de rolos e condução; Tiso, centro da peça, lança impressionantes ataques e improvisos jazzísticos. O ritual de morte chega a seu ápice. O sangue escorre. Morte.

Valendo-se fartamente de seu conhecimento erudito, Tiso corta mais uma vez a canção para, numa fusão para um segundo ato, arregimentar a partir dali uma volumosa orquestra Odeon (conduzida por Gaya), a qual toca uma melodia triste (um Benedictus), como uma prece à ignorância humana. Entram o coro dos Golden Boys formando um cantochão gregoriano. Junto, para realçar ainda mais a beleza melancólica do tema, a guitarra volta a marcar a base e Milton soma ao coro o seu inconfundível timbre, executando vocalises arrepiantes. O final, no órgão, desfecha-a num evidente tom fúnebre de Missa dos Defuntos, até voltar ao toque quase de cantiga de roda dos primeiros acordes. Agnus Dei. Um desbunde. O porco e o cidadão brasileiro, perseguidos e sem voz, foram abatidos. “Quem é animal e quem é gente?”, fica a pergunta.

Depois de tanta magnitude, uma gostosa “Armina” com ares de bossa-nova ameniza o astral visitando Tom Jobim e Billy Blanco. “Bolero”, na sequência, é uma balada com riff bem rural escrita em parceria com Luis, Robertinho e Milton, este último de quem evidentemente partiu a ideia do violão-base tocado por Tavito, outro dos coautores. Nova mostra de habilidade dos músicos em que Tiso, principalmente, se destaca manipulando os dois pianos, assim como a flauta de Danilo Caymmi. O filho do gênio baiano é quem dá os primeiros acordes de “Mar Azul”, outro samba-jazz moderníssimo feito para os dedos de Tiso maravilharem num Hammond, tanto quanto Tavito ao violão 12 cordas. Da segunda metade para o fim, é geral o show de improvisos. Jazz brasileiro puro.

A intensidade orquestral finaliza este histórico álbum com a quarta e última seção de “Armina”, novamente com o toque de Verocai, que carrega nas cordas e metais no início para, aos poucos, verter a sonoridade para as madeiras, numa transição extremamente apurada e apenas perceptível quando a flauta entoa a última nota, haja vista que aumenta um tom para terminar não num registro suave, mas grave como deveria ser. Na capa da reedição em CD, de 2003, vê-se um plano geral de uma mesa dá bem a dimensão do período de tristeza e decadência que o País um dia se colocou: copos, garrafas de cerveja e de uísque, todos vazios, acompanham um cinzeiro lotado de cinzas e baganas e um papel surrado sobre um dos copos – que bem pode ser uma carta a um ente querido impossível de ser postada por causa do cerco da ditadura ou uma confissão de suicídio.

Naquele 1973, o enganoso “milagre brasileiro” do governo Médici escondia ainda mais as torturas, perseguições e exílios promovidos desde o AI-5, de cinco anos antes. As guerrilhas eram enfraquecidas e a população, quando não ignorante, se calava à força. Sem precisar dizer quase nenhuma palavra, “Matança do Porco” e “Milagre dos Peixes” formam um dos mais potentes libelos contra a opressão da ditadura militar no Brasil, duas sinfonias em nome da liberdade que todo brasileiro decente de então merecia. É o poder da música, é a magia dos sons. Sons capazes de despertar o imaginário de quem consegue entender o que é dito pelo coração.
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FAIXAS:
01. Armina
02. A3
03. Armina (Vinheta)
04. A n° 2
05. A Matança do Porco
06. Armina (Vinheta 2)
07. Bolero (Tiso/Milton Nascimento/ Robertinho Silva/Tavito/Luis Alves)
08. Mar Azul (Tiso/Alves)
09. Armina (Vinheta 3)
todas as músicas compostas por Wagner Tiso, exceto indicadas.

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OUÇA O DISCO:







quinta-feira, 18 de julho de 2019

Exposição "50 Anos do Realismo - Do Fotorrrealismo à Realidade Virtual" - Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) - Rio de Janeiro /RJ












Estive, dia desses, visitando a exposição "50 anos do Realismo" e é verdadeiramente impressionante a sensação que transmitem as obras expostas. As esculturas são assombrosamente reais nos mínimos detalhes da anatomia humana, mas as pinturas, óleos e acrílicas, foram as que mais me impressionaram sendo quase impossível dizer que não seriam fotos antes de um olhar mais atento e aproximado quando se consegue, aí sim, observar as pinceladas e a técnica de pintura.
A mostra que traz cerca de 100 obras das últimas cinco décadas, entre pinturas, esculturas, vídeos e instalações interativas, de 30 artistas brasileiros e internacionais faz um recorte inédito da realidade na arte e apresenta além dos espaços destinados a obras tridimensionais de escultores de diferentes gerações do hiper-realismo, modelos em 3D e espaços de interatividade e realidade virtual. Vale a pena visitar e ficar impressionado com a perfeição dos trabalhos. 


Já no saguão de entrada, a primeira das
esculturas que impressionam pela riqueza de detalhes.

Foto? Não!!!
Uma impressionante pintura a óleo.
("Close-up", Simon Hennessey)

Mais um óleo inacreditável:
"No Parking", de John Salt

As cenas urbanas corriqueiras de Ralph Goings,
aqui, pessoas em uma lanchonete.

Ralph Goings novamente na aquarela Ford Preto, de 1975

A paisagem rural de Richard McLean e ao lado o detalhe
no qual, aí sim, podemos notar a pincelada
A série bastante "simples" mas de efeito incrível,
de Sven Drül, "S.D.E.T."


O brasileiro Pedro Campos com seu "Um Dia Quente", de 2008,
óleo sobre tela.

Outro óleo de Pedro Campos que impressiona pelas cores.

Série de crítica ao capitalismo de Tom Martin

David Kessler pintando em acrílico sobre alumínio e madeira

E essas ondas? O que dizer?
Óleo sobre tela de Antonio Titakis

A luz do dia e a passagem do tempo

O edifício Flatiron, acrílica sobre compensado de Andres Castellanos

Mias uma impressionante paisagem feita a óleo.

Vista invernal para o exterior de um shopping.

Belíssimo nu de Simon Hennessey

"Daquilo que conduz ao anímico", óleo sobre tela
de Fábio Magalhães

Trabalho incrível, meio acrílico, meio grafite

Desenho a lápis de Paul Cadden,
"Reflexões sobre ter deixado um lugar"

As tatuagens saltam do corpo e a figura salta da tela.

O sono retratado por Craig Wylie.
"Conjuntura", óleo sobre tela, de 2008

"Sozinho", escultura de Giovanni Caramello

"Diálogo", também de Giovanni Caramello


Escultura de John Deadre de mãe com o filho no colo.
A perfeição é absurda!

No detalhe, o rosto da criança.


"Christine", de John Deandrea,
com o detalhe do rosto, ao lado.

No saguão, na saída, uma obra
para deixar reflexões no ar.


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Exposição "50 Anos do Realismo -
Do Fotorrrealismo à Realidade Virtual"
local: Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro
endereço:Rua Primeiro de Março, 66 - Centro
visitação: de quarta a segunda, das 9h às 21 horas.
período: até 29/07/2019
entradagratuita (retirar ingresso na recepção)