Uma superbanda, um disco cujo título é seu formato, um hit com a cara dos anos 80 com refrão fácil e inconfundível e um’ frontman’ que havia sido nada mais nada menos que o rei do punk. O cara: John Lydon, ex-Johnny Rotten do Sex Pistols; o álbum: bom, o nome do álbum era “Album” mesmo. E todo o panorama em torno dele e seu lançamento pode ser justificado com o nome de outro disco da banda: “Isso é o que vocês querem, isso é o que vocês terão”. Com “Album”, John Lydon dava à industria pop o que ela queria, e o PIL, sempre avesso às regras do sistema, por sua vez aproveitava então para ganhar dinheiro com a brincadeira. E por que não?
Como o PIL na verdade é John Lydon, ou, John Lydon é o PIL (não importa), depois de brigar com um integrante aqui, dispensar outro ali, convocar outro lá, resolveu então chamar um timaço de feras para reforçar a IMAGEM PÚBLICA da banda: Ruyichy Sakamoto nos teclados; o multicolaborador de inúmeras bandas Jonas Hellborg no baixo; Steve Vai (que dispensa apresentações) nas guitarras; Tony Williams (da banda de Miles Davis) e Ginger Baker (ex-Cream) para a bateria, tudo sob a batuta do produtor Bill Laswell.
Laswell era conhecido por trabalhos de funk, ligações com o jazz tendo conduzido um trabalho interessantíssimo com Herbie Hankock pouco antes. Trabalhara também produzindo o Time Zone, parceria de Lydon com Afrika Bambaata, o suficiente para convencer o ‘anticristo’ a convidar o cara para produzir seu novo projeto. A escolha mostrou-se perfeita! Laswell dava ao projeto de Lydon o tempero que ele precisava acertando em cheio logo de cara com o sucesso “Rise” composto pelos dois. Quem não lembra daquele refrão “I could be wrong, I could be wright”?
“Album” provavelmente consegue o melhor resultado daquilo que se costuma chamar “superbanda”, normalmente grupos com muito nome, pouca qualidade e resultado bastante insuficiente. Neste não: Ginger Baker destrói na bateria, sempre soando alta e estourando, com destaque especial para “Round”que por ser enfática para a percussão permite-lhe um showzinho à parte. Sakamoto e Tony Willimas são aqueles que não aparecem muito pra torcida mas jogam um bolão; sempre discretos mas competententíssimos, sendo que o japonês pode, sim, ser destacado em “Ease”, épico que fecha o disco, na qual aliás todos matam-a-pau. Em “Ease” Ginger volta a estourar o couro da bateria, Lydon está inspirado, mas nesta especialmente Steve Vai, que na maior parte das faixas empresta seu talento com disciplina e discrição, aqui estraçalha e esmirilha num solo final arrepiante.
Se por um lado Lydon parece com “Album” ter-se rendido de vez à indústria fonográfica, dando o que ela queria; por outro mantém nas letras seu tradicional fel e violência pouco palatáveis para rádio e deixa uma dose implícita de cinismo quando, ao invés de uma capa colorida, chamativa, com a banda posando fodona, simplesmente nos apresenta uma capa branca com o nome do formato escrito grande. (Bem pouco comercial, não?) Algo como uma caixa de medicamento, uma embalagem... um produto.
Mas tal simplicidade da capa, de certa forma, se justifica plenamente: o que mais precisaria-se dizer de um disco como este, afinal?
Basta dizer apenas que é O ÁLBUM.
******************************* (O disco efetivamente leva o nome do formato, tanto que a versão em fita chamava-se "Cassete" e o CD chama-se "Compact Disc", mas é conhecido e referido na maioria das vezes, independente da forma como se apresenta, como "ALBUM")
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FAIXAS(listadas na contracapa como "Ingredientes"):
"F.F.F." (John Lydon, Bill Laswell) – 5:32
"Rise" (Lydon, Laswell) – 6:04
"Fishing" (Lydon, Jebin Bruni, Mark Schulz) – 5:20
"Round" (Lydon, Schulz) – 4:24
"Bags" (Lydon, Bruni, Schulz) – 5:28
"Home" (Lydon, Laswell) – 5:49
"Ease" (Lydon, Bruni) – 8:09
Músicos: John Lydon - vocais Tony Williams - bateria em "FFF", "Rise" e "Home" Ginger Baker - bateria na "Fishing", "Round", "Bags" e "Ease" Bernard Fowler - backing vocals em todas as faixas Ryuichi Sakamoto - Fairlight CMI em "Rise", "Fishing", "Bags" e "Ease" Nicky Skopelitis - guitarra em todas, exceto "Ease" Steve Vai - guitarra em todas as faixas Jonas Hellborg - baixo em todas as faixas
pessoal adicional Shankar - violino elétrico de "Rise" e "Round" Bernie Worrell - órgão em "FFF", "Round" e "Home", Yamaha DX7 em "Fishing" Malaquias Favores - baixo acústico em "Fishing" e "Bags" Steve Turre - didjeridu em "Ease" Aïyb Dieng - tambores em "Round"
O Public Image Limited é a banda criada por John Lydon, o ex-Johnny Rotten dos Sex Pistols após a dissolução da banda quando o movimento punk já se mostrava cansado e moribundo. Não que a experiência não tivesse sido válida, que não tivesse sido importante ou deixado um legado, mas o grito do punk em si, já começava a ficar sem sentido, e sem perceber ele já tinha ramificado para tanta coisa que nem a sua linguagem mias já permanecia pura. Foi isso que viu John Lydon ao fundar o PIL. A new-wave aparecia, a disco-music era a onda, o pós-punk assumia diversas formas e um cara antenado, inquieto, inteligente não ia querer ficar só vociferando e xingando a rainha a vida toda. Os punks o renegaram, “Traidor do movimento”, “Judas”. Mas e daí? Ele lá tem cara de que se importa com isso? Acho que pelo contrário. Quanto mais batem, mais ele gosta.
O primeiro disco, homônimo à banda, (ou também chamado de “First Issue”), já transparecia a mudança, com visíveis concessões pop, mas foi em "Metal Box”, o segundo, que John Lydon achou a liga. Curiosamente num ambiente conturbado cheio de brigas e dificuldades de gravação, de onde seria provável que não saísse algo coeso, aparece um álbum que desfila e brinca com os estilos vigentes da época, volta ao punk e ao mesmo tempo oferece rumos para o pop-rock dos anos 80. Até mesmo seu formato de apresentação, inusitado, lançado originalmente como álbum triplo em uma lata de rolo de filme, “Metal Box” parece com este invólucro pesado e hermético querer proteger o ouvinte do “perigo” à sua exposição. E quando se ouve é quase isso. “Metal Box” é um disco perigoso!
Abre com a quilométrica “Albatross” que se arrasta como um longo vôo da ave com um baixo primoroso e cadenciado do cara que é considerado o melhor pior baixista do mundo, Jah Wobble, e que neste disco em especial parece estar, dentro da sua pouca técnica, extremamente inspirado no que diz respeito a criatividade;ora é minimalista, ora elaborado, ora jazzístico e muitas vezes bem disco-music como na ótima “Swan Lake”, (conhecida também como “Death Disco”), esta uma das melhores faixas do álbum. "Poptones” não à toa tem este nome pois ela aponta um horizonte de levada pop que serviria para o resto da década e talvez além. Igualmente com uma linha de baixo destacada e agradável, em “Poptones” Lydon desfila sua voz com aquele costumeiro tom sarcástico só que aqui parece um pouco mais light e relaxado.
“Careering” que a segue, tem destaque para uma bateria bem marcada e com constantes improvisos entre os tempos, e “The Suit” um dub solo de baixo com uma voz quase sussurada de Lydon, também vale o destaque. Outro dos pontos altos é “Socialist”, uma composição instrumental tipicamente punk mas com uns tecladinhos quase infantis que suavizam a levada agressiva. “Chant” com sua bateria alta é minimalista e agressiva, num clima meio caótico, cantada em insistentes repetições; e apenas como trilha de encerramento “Radio 4”, levinha, tocada no teclado por Keith Lavene, baixa a poeira e faz as honras de fechar esse discaço.
Álbum fundamental!
******************* FAIXAS: 1. Albatross 2. Memories 3. Swan Lake 4. Poptones 5. Careering 6. No Birds 7. Graveyard 8. The Suit 9. Bad Baby 10. Socialist 11. Chant 12. Radio 4
Eu estava no lendário Bar Ocidente em Porto alegre, numa festa de música eletrônica, quando tocou aquilo... Era a voz de John Lydon esmerilhando sobre uma base eletrônica feroz e alucinante. "Demais!", pensei. Ali, assim, na loucura da noite, com álccol na cabeça, sem a devida concentração para ouvir bem, com atenção, parecia ser uma versão dance de "Under The House" do PIL do disco "Flowers of Romance", e durante muito tempo acreditei que fosse. Fiquei enlouquecido e a partir do dia seguinte já fui, como podia, em busca da tal versão. Na época a internet não era o que é hoje e não havia todas as facilidades de busca, downloads, informação, compras, etc., então recorri a amigos que pudessem ter ouvido a música em questão ou algo a respeito sobre um remix, consultei donos das lojas alternativas que frequentava, procurei alguma menção na revista Bizz, na rádio Ipanema ou qualquer meio que pudesse me dizer o que era aquilo e onde conseguir. Não encontrei. Desisti de procurar, não sem, no entanto, permanecer atento. Eis que anos depois, nem lembro como, a tal música veio pousar nos meus ouvidos de novo e aí descobri o que era. Tratava-se de uma participação de John Lydon com o duo britânico de música eletrônica Leftfield, e o objeto da minha busca chamava-se "Open Up", um petardo dançante no qual a voz do ex-Pistol parece fazer reviver o punk em uma linguagem atualizada, tal a fúria e contundência de sua interpretação.
"Leftism", o disco de estreia da dupla britânica, como pude constatar logo em seguida assim que minha curiosidade aguçada por "Open Up" não se resume a ela e muito menos se justifica meramente pela participação de um grande nome. O álbum pode ser considerado um dos grandes registros da música eletrônica nos anos 90 e por extensão, naquela época de afirmação do gênero com nomes relevantes se sobressaindo à massa "tush-tunsh", um dos melhores nesta linguagem desde então.
Num meio termo entre a introspecção do Massive Attack e a violência do Prodigy, o Leftfield impregnava seu som de elementos rítmicos variados evidenciando influências reggae e afro, numa fusão com ambient music, hip-hop, dub, que conferiam toda uma autenticidade à sua música.
Assim é "Afro-Left": capoeira, macumba, energia, numa peça musical contagiante conduzida por um sampler de berimbau e cantada num suposto dialeto africano, constituindo-se num dos momentos mais incríveis do álbum.
"Release the Pressure" como primeira música parece ser o catalisador de todos os elementos propostos no trabalho, a ambient-music, o raggae, o dance e a raiz cultural negra; "Melt" é uma adorável viagem sensorial; "Song of Life" transita entre diversas variações e possibilidades; e "Storm 3000" desconstrói o drum'n bass desacelerando-o em nome de uma atmosfera mais esparsa.
"Original" é um pop que carrega nas sonoridades reggae; "Black Flute" e "Space Shanty" são daquelas pra se acabar na pista de dança; a excelente "Inspection (Check One)" outra das grandes do disco, traz mais uma vez bem acentuado o apelo étnico-sonoro com os vocais carregando no sotaque dos guetos; e a viajante "21st. Century Poem" acaba o disco baixando a rotação definitivamente para um clima mais reflexivo em mais um transe sonoro proporcionado pela dupla londrina.
"Leftism" por sua ousadia e incorporação de elementos exóticos e étnicos e inclui-se num seleto grupo de uns 5 ou 10 álbuns que mudaram e qualificaram a música eletrônica a partir dos anos 90, do qual também fazem parte obras como "Dig Your Own Hole" dos Chemical Brothers, "Homework" do Daft Punk, "Mezzanine" do Massive Attack, "Fat of The Land" do Prodigy, só para citar alguns. Sem dúvida um dos mais importantes álbuns de música eletrônica já feitos e um dos grandes definidores de linguagem, ainda hoje extremamente influente e relevante.
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E chegamos ao ducentésimo Álbum Fundamental aqui no clyblog .
Quem diria, não?
Quando comecei com isso ficava, exatamente, me perguntando
até quantas publicações iria e hoje, pelo que eu vejo, pelos grandes discos que
ainda há por destacar, acredito que essa brincadeira ainda possa ir um tanto
longe.
Nesse intervalo do A.F.
100 até aqui, além, é claro, de todas as obras que foram incluídas na
seção, tivemos o acréscimo de novos colaboradores que só fizeram enriquecer e
abrilhantar nosso blog. Somando-se ao Daniel Rodrigues,
Edu Wollf , Lucio Agacê e José Júnior,
figurinhas carimbadas por essas bandas, passaram a nos brindar com seus
conhecimentos e opiniões meu amigo Christian Ordoque
e a querida Michele
Santos, isso sem falar nas participações especiais de Guilherme Liedke, no número
de Natal e de Roberto Freitas, nosso Morrissey cover no último post, o de número 200.
Fazendo uma pequena retrospectiva, desde a primeira
publicação na seção, os ‘campeões’ de ÁLBUNS
FUNDAMENTAIS agora são 5, todos eles com 3 discos destacados: os Beatles,
os Rolling
Stones, Miles
Davis , Pink
Floyd e David
Bowie , já com 2 resenhas agora aparecem muitos, mas no caso dos
brasileiros especificamente vale destacar que os únicos que tem um bicampeonato
são Legião
Urbana, Titãs,
Caetano
Veloso, Gilberto
Gil, Jorge
Ben, Engenheiros
do Hawaii e João
Gilberto, sendo um deles com o músico americano Stan Getz. A propósito de
parcerias como esta de Getz/Gilberto,
no que diz respeito à nacionalidade, fica às vezes um pouco difícil estabelecer
a origem do disco ou da banda. Não só por essa questão de parceiros mas muitas
vezes também pelo fato do líder da banda ser de um lugar e o resto do time de
outro, de cada um dos integrantes ser de um canto do mundo ou coisas do tipo.
Neste ínterim, nem sempre adotei o mesmo critério para identificar o país de um
disco/artista, como no caso do Jimmi
Hendrix Experience, banda inglesa do guitarrista norte-americano, em que
preferi escolher a importância do membro principal que dá inclusive nome ao
projeto; ou do Talking
Heads, banda americana com vocalista escocês, David Byrne, que por mais que
fosse a cabeça pensante do grupo, não se sobrepunha ao fato da banda ser uma
das mais importantes do cenário nova-iorquino. Assim, analisando desta forma e
fazendo o levantamento, artistas (bandas/cantores) norte-americanos apareceram
por 73 vezes nos ÁLBUNS
FUNDAMENTAIS, os ingleses vem em segundo com 53 aparições e os brasileiros
em, 3º pintaram 36 vezes por aqui.
Como curiosidade, embora aqueles cinco destacados
anteriormente sejam os que têm mais álbuns apontados na lista, o artista que
mais apareceu em álbuns diferentes foi, incrivelmente, Robert Smith do The Cure, por 4 vezes,
pintando nos dois da própria banda ("Disintegration"e "Pornography"),
em um tocando com Siouxsie
and the Bansheese outra vez no seu
projeto paralelo do início dos anos ‘80, o The
Glove. Também aparece pipocando por aqui e por ali John Lydon, duas vezes
com o PILe uma com os Pistols;
Morrissey,
duas vezes com os Smiths e
uma solo; Lou Reed uma vez com o Velvet e outras duas solo; seu parceiro de Velvet underground, John Cale uma com a banda e outra solo; Neil
Young , uma vez solo e uma com Crosby,
Stills e Nash; a turma do New Order em seu "Brotherhood"
e com o 'Unknown
Pleasures" do Joy Division; e Iggy Pop 'solito' com seu "The Idiot" e com os ruidosos Stooges. E é claro, como não poderia deixar de ser,
um dos maiores andarilhos do rock: Eric Clapton, por enquanto aparecendo em 3 oportunidades,
duas com o Cream
e uma com Derek
and the Dominos, mas certamente o encontraremos mais vezes. E outra pequena particularidade, apenas para constar, é que vários artistas tem 2 álbuns fundamentais na lista (Massive Attack, Elvis, Stevie Wonder, Kraftwerk) mas apenas Bob Dylan e Johnny Cash colocaram dois seguidos, na colada.
No tocante à época, os anos ‘70 mandam nos A.F. com 53 álbuns;
seguidos dos discos dos anos ‘80 indicados 49 vezes; dos anos ‘90 com 43 aparições;
40 álbuns dos anos ‘60; 11 dos anos ‘50; 6 já do século XXI; 2 discos destacados dos
anos ‘30; e unzinho apenas dos anos ‘20. Destes, os anos campeões, por assim
dizer são os de 1986, ano
do ápice do rock nacional e 1991, ano do "Nevermind"
do Nirvana, ambos com 10 discos cada; seguidos de 1972, ano do clássico "Ziggy
Stardust" de David Bowie, com 9 aparições incluindo este do Camaleão; e
dos anos do final da década de ‘60 (1968 e 1969) cada um apresentando 8 grandes
álbuns. Chama a atenção a ausência de obras dos anos ‘40, mas o que pode ser,
em parte, explicado por alguns fatores: o período de Segunda Guerra Mundial, o
fato de se destacarem muitos líderes de orquestra e nomes efêmeros, era a época
dos espetáculos musicais que não necessariamente tinham registro fonográfico, o
fato do formato long-play ainda não ter sido lançado na época, e mesmo a
transição de estilos e linguagens que se deu mais fortemente a partir dos anos
50. Mas todos esses motivos não impedem que a qualquer momento algum artista
dos anos ‘40 (Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Cole Porter) apareça por aqui
mesmo em coletânea, como foi o caso, por exemplo, das remasterizações de Robert
Johnson dos anos ‘30 lançadas apenas no início dos anos 90. Por que não?
Também pode causar a indignação aos mais 'tradicionais', por assim chamar, o fato de uma
época tida como pobre como os anos ‘90 terem supremacia numérica sobre os
dourados anos 60, por exemplo. Não explico, mas posso compreender isso por uma
frase que li recentemente de Bob
Dylan dizendo que o melhor de uma década normalmente aparece mesmo, com
maior qualidade, no início para a metade da outra, que é quando o artista está
mais maduro, arrisca mais, já sabe os caminhos e tudo mais. Em ambos os casos,
não deixa de ser verdade, uma vez que vemos a década de 70 com tamanha vantagem
numérica aqui no blog por provável reflexo da qualidade de sessentistas como os
Troggs
ou os Zombies,
por exemplo, ousadia de Sonics, Iron Butterfly,
ou maturação no início da década seguinte ao surgimento como nos caso de Who
e Kinks.
Na outra ponta, percebemos o quanto a geração new-wave/sintetizadores do
início-metade dos anos ‘80 amadureceu e conseguiu fazer grandes discos alguns
anos depois de seu surgimento como no caso do Depeche
Mode, isso sem falar nos ‘filhotes’ daquela geração que souberam assimilar
e filtrar o que havia de melhor e produzir trabalhos interessantíssimos e
originais no início da década seguinte (veja-se Björk,
Beck, Nine
Inch Nails , só para citar alguns).
Bom, o que sei é que não dá pra agradar a todos nem para
atender a todas as expectativas. Nem é essa a intenção. A idéia é ser o mais
diversificado possível, sim, mas sem fugir das convicções musicais que me
norteiam e, tenho certeza que posso falar pelos meus parceiros, que o mesmo
vale para eles. Fazemos esta seção da maneira mais honesta e sincera possível, indicando
os álbuns que gostamos muito, que somos apaixonados, que recomendaríamos a um
amigo, não fazendo concessões meramente para ter mais visitas ao site ou atrair
mais público leitor. Orgulho-me, pessoalmente, de até hoje, no blog, em 200
publicações, de ter falado sempre de discos que tenho e que gosto, à exceção de
2 ou 3 que não tenho em casa mas que tenho coletâneas que abrangem todas as
faixas daquele álbum original, e de 2 que sinceramente nem gostava tanto mas
postei por consideração histórica ao artista. Fora isso, a gente aqui só faz o
que gosta. Mas não se preocupe, meu leitor eventual que tropeçou neste blog e
deu de cara com esta postagem, pois o time é qualificado e nossos gostos
musicais são tão abrangentes que tenho certeza que atenderemos sempre, de
alguma maneira, o maior número de estilos que possa-se imaginar. Afinal, tudo é
música e, acima de tudo, nós adoramos música.
Cly Reis
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PLACAR POR ARTISTA:
The Beatles: 3 álbuns
The Rolling Stones: 3 álbuns
David Bowie: 3 álbuns
Miles Davis: 3 álbuns
Pink Floyd: 3 álbuns
Led Zeppelin; Massive Attack, Elvis Presley, Siouxsie and the Banshees; Nine Inch Nails, The Who; The Kinks; U2; Nirvana; Lou Reed; The Doors; Echo and the Bunnymen; Cream; Muddy Waters; Johnny Cash; Stevie Wonder; Van Morrison; Deep Purple; PIL; Bob Dylan; The Cure; The Smiths; Jorge Ben; Engenheiros do Hawaii; Caetano Veloso; Gilberto Gil; Legião Urbana; Titãs e João Gilberto: 2 álbuns
PLACAR POR DÉCADA:
Anos 20: 1 álbum ("Bolero", Maurice Ravel)
Anos 30: 2 álbuns ("The Complete Recordings", Robert Johnson e "Carmina Burana", de carl Orff)
Anos 50: 11 álbuns
Anos 60: 40 álbuns
Anos 70: 53 álbuns
Anos 80: 49 álbuns
Anos 90: 43 álbuns
Anos 00: 6 álbuns
PLACAR POR ANO:
1986 e 1991: 10 álbuns
1972: 9 álbuns
1968 e 1969: 8 álbuns
1987 e 1969: 7 álbuns
PLACAR POR NACIONALIDADE (ARTISTAS):
EUA: 73
Inglaterra: 53
Brasil: 36
Irlanda: 4
Escócia: 3
Alemanha: 2
Canadá: 2
Suiça; Jamaica; Islândia; França; País de Gales; Itália e Austrállia: 1 cada
Esse foi o cara que ensinou o rock'n roll a rasgar a voz.
Não que tenha sido sua única contribuição - não mesmo - mas come certeza caras como Kurt Cobain Max Cavalera, John Lydon e tantos outros muitos devem um pouco da fúria no jeito de cantar a Richard Waye Pennyman, mais conhecido Little Richard.
Seu disco de estreia, "Here's Little Richard" de 1957, é uma daquelas cartilhas do rock'n roll: doses perfeitas de fúria, malícia, perversão e ousadia.
E aquela batida insistente?
E aquele piano alucinado?
E aquele ritmo ensandecido?
A clássica "Tutti Frutti" é um exemplo perfeito destas interpretações enlouquecidas de Richard, acompanhada de uma base agressiva e acelerada de piano. A canção foi regravada por Elvis Presley mas a versão de Richard no fim das contas, se formos falar em força, é bem mais potente que a do Rei; "She's Got It" é outra com vocal selvagem e gritado; "Rip It Up" vai na mesma linha com força, poder e embalo; tem a baladinha gospel "Can't Believe You Wanna Leave" e "Oh Why?" mais cadenciada, ambas muito legais, mas o bom mesmo é quando o piano da Rainha Diaba pega fogo e sua garganta se abre em urros agudos e ensurdecedores como em "Long Tall Sally" ou em "Jenny Jenny".
Ah, cara, isso é rock'n roll!!! "A-woop-bop-a-loo-bop-a-loo-bam-boom"
*************************** FAIXAS:
"Tutti Frutti" (Richard Penniman, Dorothy LaBostrie, Joe Lubin) – 2:25
"True Fine Mama" (Penniman) – 2:43
"Can't Believe You Wanna Leave" (Lloyd Price) – 2:28
"Ready Teddy" (Robert Blackwell, John Marascalco) – 2:09
"Baby" (Penniman) – 2:06
"Slippin' and Slidin' (Peepin' and Hidin')" (Penniman, Eddie Bocage, Albert Collins, James Smith) – 2:42
Em tempos de idolatrias tão efêmeras, edificadas sobre méritos mínimos, e cancelamentos quase automáticos motivados pelo primeiro deslize, posicionamento ou frase mal colocada de um ídolo que, não muito tempo atrás, era elevado à condição de semideus, pessoas com um pouco mais de critério, de apego a suas influências e referências, têm uma certa resistência em, simplesmente, adotar o tão usual procedimento vigente de CANCELAR uma personalidade que, de alguma forma sempre admirou e que fora seu referencial, por mais que este faça por merecer um belo "block" por conta de procedimentos, atitudes, declarações, que revelam uma pessoa diferente daquela que se imaginava ou que demonstrava ser. Os caras se esforçam pra fazer merda, cagar pela boca, demonstrar o quanto são desprezíveis, pessoas que a gente não aceitaria no nosso meio social, mas aí a gente pensa no que já fizeram de fantástico na sua arte, o quanto foram (e são) importantes pr'a gente, o quanto os admiramos, e não conseguimos, meramente, virar as costas e dizer que não os admiramos mais. E aí que com muito esforço, colocamos seu trabalho, sua figura, suas músicas, suas letras, acima de tudo e, separamos o ser-humano de sua obra. Só assim mesmo pra aguentar uns, ó, que, vou te contar... Muitos desses, os mais recentes, já tinham seu espaço para dizer o que pensavam, tiveram microfone, seus próprios álbuns, palco, livros, espaço na imprensa, mas com a ascensão das mídias sociais, uma verdadeira terra-de-ninguém, onde todo mundo tem opinião formada sobre tudo mesmo, muitas vezes, sem qualquer embasamento ou informação, pareceram encorajados a assumir posições, que não são decepcionantes por serem divergentes da minha ou de determinado segmento, mas sim por serem lamentáveis do ponto de vista humano. Listamos, aqui, alguns dessas criaturas que a gente só não "cancela" porque não dá pra deixar de lado o que já fizeram e, cá entre nós, porque a gente adora esses caras mesmo. Mas que estão pedindo, estão... Uns são de hoje, outros tem histórias que vem de muito tempo, uns se revelaram por conta da pandemia, outros revelaram preferências políticas bem preocupantes, enfim, tem um monte nessa barca, mas aqui vamos pegar apenas alguns desses "caraterzinhos" duvidosos, que a gente sabe que são uns idiotas, uns babacas, mas que odiamos amar.
Tá certo é esse cachorro!
Eric Clapton - "Clapton é Deus". A inscrição frequentemente vista em muros de Londres nos anos 60, quando o guitarrista inglês hipnotizava os fãs com sua técnica e habilidade, está longe de ser verdade. Ao contrário, hoje, muitos fãs preferem ver o diabo do que o gênio da guitarra. Recentes declarações de Eric Clapton, acerca da situação da Covid-19 e do isolamento, comparando os protocolos de segurança à escravidão, reforçadas pela gravação de uma canção anti-lockdown, "Stand and Deliver", de Van Morrison, por sinal, outro que tem se revelado um grandíssimo feladaputa, provocaram indignação entre seus admiradores e de quebra ainda tiraram alguns velhos esqueletos do armário. Os atuais posicionamentos de Clapton fizeram com que pessoas lembrassem de um episódio em 1976 em que ele, durante um show em Birmingham, "convocou" os estrangeiros e imigrantes a se retirarem do país. Na ocasião, Clapton disse, se dirigindo ao público, “Vamos impedir o Reino Unido de virar uma colônia negra. Expulsem os estrangeiros, mantenham a Inglaterra branca. Os negros, árabes e jamaicanos não pertencem a este país e nós não os queremos aqui (...) “Precisamos deixar claro que eles não são bem-vindos. A Inglaterra é um país para brancos, o que está acontecendo conosco?” . Pois é... Clapton pode até ser um deus na guitarra, mas passa longe de ser um santo. Ao que parece, até seus amigos músicos perderam a paciência e não aguentam mais tanta baboseira, uma vez que o lendário guitarrista tem reclamado de se sentir abandonado pelos colegas do meio musical. Toma! Mas não adianta: tem como odiar o cara que fez "Layla", "Cocaine", "Crossroads" e outras tantas maravilhas? Não, né?
Roberto sendo homenageado pelos militares, nos anos 70.
Roberto Carlos - Sabe aquele cara que sempre que se fala dele tem aquele asterisco ao lado do nome? Sim, esse cara é ele. As coisas que depõe contra o Rei não são de hoje e não são relacionadas com pandemia, isolamento, redes sociais nem nada tão atual, mas acompanham sua figura pública já de bastante tempo e, de certa forma, embora seja inegável sua contribuição para a música brasileira e seu talento para composições, nunca conseguimos perdoá-lo totalmente. O problema de Roberto Carlos, na verdade, foi mais seu silêncio do que o que teria dito. Enquanto seus colegas do meio cultural, musical, das artes bradavam contra a ditadura militar no Brasil, sofrendo suas consequências de censura, prisões e exílios, Roberto, confortável e convenientemente não só não se manifestava em relação ao regime e as reprimendas sofridas pelos colegas e continuava, simplesmente, gravando suas canções alienadas com temas românticos ou de "curtição", como ainda não se esforçava em esconder uma proximidade com os generais e até mesmo era agraciado com comendas e homenagens pelos tiranos governantes brasileiros daquele nefasto período da nossa história. Como se não bastasse, Roberto é conhecido no meio artístico por seu comportamento egoísta, mesquinho e antiético, sabotando outros artistas, reivindicando vantagens e benefícios junto a produtoras, gravadores, emissoras, etc., e, como se diz popularmente, "puxando o tapete" de colegas de profissão. Tim Maia foi um exemplo de um que, depois de ter sido parceiro de banda, ter convivido junto, foi ignorado e menosprezado por Roberto, assim que o Rei começou a estourar nas paradas de sucesso e tornar-se o fenômeno que veio a ser. O anglo-brasileiro Ritchie, sucesso nos anos 80, é outro que teria sofrido pelas mãos de Roberto que, segundo se sabe, e é confirmado por outros artistas, teria "mandado" a gravadora boicotar o sucesso de Ritchie, dificultando a distribuição do material do músico, sua participação em eventos e programas e negligenciando a divulgação em rádios do material do próprio contratado. Mas não dá pra ignorar o tamanho desse cara na música brasileira, a qualidade de suas composições e a quantidade de grandes e inesquecíveis canções com que ele nos brindou. Se sua atividade no microfone, no estúdio, nos palcos é incontestável e proporcionou a todos nós momentos mágicos em músicas como "Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos", "Emoções", os DETALHES das suas atuações nos bastidores, de alguma forma sempre mancharão um pouco seu nome, pois, como diz aquela canção, são coisas muito grandes pra esquecer.
Não se orgulhar mais de ter usado camiseta do MST, tudo bem, mas Bolsonaro?
Lobão - O cara foi, simplesmente, uma espécie de símbolo da democracia da geração rock dos anos 80. Tinha a Plebe Rude que era contundente, tinha a Legião que se posicionava com ênfase e inteligência, o Capital Inicial correndo por fora mas ainda assim engajado, mas o Lobão era o cara que gritava. Ele participava de comício, ele fazia música que avacalhava o Sarney, chamava a galera pra votar consciente, tocava o hino nacional na guitarra, ao melhor estilo Hendrix, em pleno Globo de Ouro, na maior emissora de TV do país... e tudo isso pra quê? Pra acabar apoiando o Bolsonaro. Putaquiuparil!
Ele alega ter se decepcionado com a esquerda, se arrependido de ter votado no PT, ter perdido a confiança em quem governou o país e acabou em tribunais respondendo por corrupção... Ok, Lobão. Mas daí a apoiar a eleição de uma criatura, visivelmente, incapaz, limitada e mal-intencionada como o atual presidente brasileiro, é muita ignorância, ingenuidade ou burrice. Um cara que tinha tudo pra dar errado, não apresentou nenhuma proposta durante a campanha se apoiando somente em um montão de bravatas e, por isso mesmo fugiu dos debates como o diabo da cruz; baseou sua campanha em notícias falsas; destilou ódio e preconceitos contra negros, indígenas, homossexuais, além de manifestar contumaz desprezo pela classe artística, da qual, exatamente o senhor João Luiz Woerdenbag, mais conhecido como Lobão, faz parte, não podia dar outra coisa senão o que deu. Faz parte do meio artístico mas, a bem da verdade, por outro lado, também faz parte de uma classe-média alta elitista, mimada que, nos anos 80, recém saída da ditadura, via seus filhos, rebeldes sem causa, lutarem sem saber bem pelo quê, por causas como diretas, igualdade social, contra a fome, muito mais pelo embalo e pela modinha, do que por qualquer convicção. Tudo uns filhinho de papai que, na hora que perceberam que estavam perdendo privilégios, deixaram cair a máscara. Lobão até se arrependeu - pelo menos é o que ele diz. Mas agora, depois de ajudar a eleger aquele ser ignóbil que ocupa a cadeira da presidência, aí já é tarde e já condenou o país a um retrocesso vai ser duro de reverter. Quando criaturas como Lobão, Roger, do Ultraje, Paula Toller, Rodolpho do Raimundos, mostram esse tipo de atitude, de posicionamento de caráter, eu tenho que dar razão para a aquela música que um cara muito legal do rock nacional dos anos '80 compôs: O rock errou.
O cara que bradava contra o sistema...
John Lydon - O Rei dos Punks, o cara que gritava por anarquia, que bradava contra o poder, contra a caquética monarquia britânica, quem diria..., apoia Donald Trump. Pois é. Preferências políticas à parte, de direita, esquerda, democratas, republicanos, liberais, socialistas, já estar cansado das "bobagens intelectuais" da esquerda, como o próprio Lydon afirma, tudo bem, a gente entende, mas, agora, um cara que já simbolizou a atitude contra o poder, contra o opressor, daí a se manifestar, veementemente, a favor de uma pessoa elitista, odiosa, arrogante, egoísta, megalomaníaca, racista, xenófoba, um negacionista que, por conta de sua ignorância, falta de humanismo e empatia, ignorou a presente pandemia e, por conta de seu discurso, sua falta de ações efetivas, condenou milhares de seus compatriotas (e, por tabela, outros tantos milhões, indiretamente, pelo mundo afora) à morte, é inaceitável. Como se não bastasse apoiar abertamente um maluco egocêntrico e considerá-lo a "última esperança e o verdadeiro representante da classe operária (???), o ex-líder dos Sex Pistols, vêm dando indesculpáveis demonstrações de intolerância e racismo. Além de "passar pano" no episódio de George Floyd, dizendo que existem policiais brancos ruins mas que aquilo teria sido apenas um episódio isolado, e ter ofendido com injúrias racistas o integrante da banda Block Party, Kele Okereke, durante um festival, diante de pessoas que confirmam o incidente, Joãozinho Podre ainda vem afirmando e reafirmando que os jovens ingleses que participam de manifestações contra o racismo são uns "mimadinhos" que, segundo ele, "têm merda na cabeça". Tá certo que a simpatia nunca foi mesmo uma marca forte na vida de John Lydon, mas agora com essas ele não se ajuda a que continuemos tendo algum respeito por ele ou pelo que já representou. "Eu posso estar certo, eu posso estar errado", era o que ele mesmo cantava, já nos tempos de PIL, e creio que, diante das últimas atitudes não é muito difícil constatar qual das alternativas prevaleceu.
Morrissey exibindo, sem pudor,
seu apoio à direita britânica.
Morrissey - O que mais me dói ver o lixo humano que se tornou. Morrissey era uma espécie de amigo, o cara que a gente ouvia porque parecia que sentia como a gente e exprimia suas dores, seus problemas, suas angústias, da maneira como gostaríamos de manifestar, com sinceridade, sem medo de se expôr, como um ser humano que só quer ser amado. Pois bem..., como é que essa pessoa se tornou esse ser deplorável que temos acompanhado ultimamente é algo misterioso para mim. Talvez nem tanto. Se formos prestar atenção alguns sinais já vinham sendo dados mas, nós fãs, nem levávamos em consideração, tipo, "Morrissey não é assim", ou passávamos um pano, bem bonito, justificando por alguma descontextualização ou má interpretação. Achávamos graça das declarações mal-educadas do ídolo, classificando como uma acidez típica dos gênios, quando efetivamente, deveríamos estar preocupados com o que aquilo representava. Na verdade, aquele "England is mine...", de "Still Ill", ainda da época do The Smiths, já era um indicativo e eu é que não entendia totalmente... As coisas começaram a ficar mais claras em "National Front of Disco", canção de 1998, uma evidente alusão à Frente Nacional, partido de extrema direita inglês, contestada por alguns mas que, naquele momento, muita gente (inclusive eu) preferiu interpretar como uma "figura" compositiva dentro do contexto poético da música. Só que de uns tempos pra cá, Moz resolveu confirmar publicamente o que insistíamos em negar: tornara-se (se é que em algum momento não fora) um fascista de direita, racista, xenófobo e desprezível. Depois de usar, durante a turnê de seu álbum "Low in the High School", um broche do partido For Britain (foto), de perfil excludente e xenófobo, o cantor reafirmou em um programa de TV norte americano seu apoio às plataformas do partido e ainda, durante a entrevista, minimizou, e até ridicularizou o racismo, afirmando que, atualmente, a expressão é sem sentido e que uma pessoa será acusada de racista, nos dias de hoje, simplesmente, por discordar da opinião dos outros. No balaio de disparates, Morrissey ainda comparou a suposta perseguição que a imprensa impõe a ele, e o boicote que alega sofrer de gravadoras e da mídia ao nazismo e, a propósito de Terceiro Reich, de quebra, afirmou que Hitler seria de esquerda.
Ah, e tem a que chineses são uma "subespécie", que fronteiras são coisas maravilhosas e foram feitas para serem respeitadas" (sobre imigrantes), que Obama, na verdade, era "branco por dentro", tem a de expulsar fãs do próprio show acusando-os de terem sido mandados pela imprensa, a de sugerir que a criança assediada por Kevin Spacey sabia o que estava fazendo ao ir para o quarto com um homem adulto... Olha..., eu não sei como eu ainda ouço as músicas dê-se cara! Pra falar a verdade, hoje, sempre que eu tenho vontade de ouvir alguma coisa dos Smiths ou de sua carreira solo, eu penso, "Eu vou ouvir esse merda?". Aí eu, a muito custo, separo o homem do artista e lembro do que ele mesmo falou em uma de suas letras: "Não se esqueça das canções que lhe fizeram chorar/ e das canções que salvaram sua vida".
Promessas, promessas Velho, cansado, cheio de frases batidas De uma coisa você pode estar certo Você é uma pessoa muito triste Tão triste Decepcionado com algumas pessoas Quando a amizade revela sua cara feia Decepcionado algumas pessoas Bem, não é pra isso que servem os amigos? Para que servem os amigos? Você, você é apenas uma pessoa realmente ruim Que não vai, que não vai ouvir ninguém Não, não você Com esses seus olhos tristonhos Só resmungando, suas defesas inúteis Tão triste Decepcionado com algumas pessoas Quando a amizade revela sua cara feia Decepcionado com algumas pessoas Bem, não é pra isso que servem os amigos? Para que servem os amigos? Esse errático jeito casual, a agitação Esse vai e vem Como uma mariposa confusa A conspiração, ilusão E é tudo ad infinitum Sua pessoa é muito triste Muito triste...
Tolos e cavalos Seguindo seus cursos E cabisbaixos Apreciam a poeira no chão Você engana facilmente Como sua doce caridade E todos os bastardos Que o mundo despreza Surpresas se revelam Em novos disfarces Você engana facilmente Como toda sua caridade
******************** tradução da letra de"Disappointed" doPublic Image Ltd. (letra: John Lydon)
“Quando terminamos as bases e os
vocais para aquela leva de músicas, começamos a ensaiar um material que poderia
render ainda mais um disco, mas que eu havia composto para o filme. Quando
‘Little Creatures’ saiu, eu já estava no Texas para filmar ‘True Stories’. Levei as fitas de multicanal com as nossas faixas-base para as músicas do filme
até o set de filmagens em Dallas e adicionei um pouco do tempero texano”.
David
Byrne,
em seu livro
“Como funciona a música”.
O ano de 1986 é especial para quem pegou o rock dos anos 80. Talvez junto
apenas com o ano anterior (que viu nascerem "Meat is Murder", dos Smiths, "The Head on The Door", do The Cure, e "Psycho Candy", da The Jesus and Mary Chain),
tanto no Brasil quanto fora houve discos essenciais de bem dizer todas as
grandes bandas e artistas da cena pop da época. No cenário internacional, em
especial, muitos se superariam no sexto ano da chamada “década perdida”. Siouxsie and the Banshees poria na praça o sucesso “Tinderbox”, a P.I.L; de John Lydon chegaria ao auge com "Album" e Smiths e New Order estourariam nas
rádios com “The Queen is Dead” e "Brotherhood" respectivamente, para ficar em apenas quatro exemplos. Embora de sonoridades distintas, mesmo que afim em certos
aspectos, o ponto que os unia era o fato de que, já trilhados alguns anos e
discos lançados, todos chegavam naquele momento mais maduros e donos de sua música.
Assim, 1986 trouxe uma culminância de grandes álbuns não por coincidência, mas
por que representou o desenvolvimento artístico da geração vinda do punk.
Essa onda atingiu outra grande banda do final dos 70/início dos 80: o Talking Heads. Liderados pelo talentoso
esquisitão David Byrne, os Heads, surgidos na cena punk nova-iorquina, haviam largado
com o referencial "77", daquele ano, passado pela brilhante trilogia com Brian Eno (“More Songs about Bouildings and Food”/"Fear of Music"/"Remain in Light")
e pelo bom “Sepeaking in Tongues”, além de mais três registros ao vivo. Nesse
transcorrer, atravessaram a virada dos anos 70 para os 80 avançando em estilo e
personalidade. Se no começo, comandados pelo produtor Toni Bongiovi, foi o
proto-punk e, logo em seguida, Eno os tenha empurrado para o experimentalismo
pós-punk e para a world-music, em
“Speaking...”, de 1982, passam a produzir a si próprios e mostram uma intenção
pop-rock mais refinada. Afinal, a criatividade de Byrne, seu principal
compositor, nunca correspondeu exatamente à tosqueira do punk-rock genuíno dos
colegas de CBGB Ramones e Richard Hell. Veio, então, outra joia da safra 1985:
“Little Creatures”, para muitos o melhor trabalho da banda e um dos ápices do
pop-rock dos Estados Unidos. De admirável musicalidade, trazia pelo menos dois hits
marcantes: “Lady Don’t Mind” e “And She Was”. Seriam Byrne & cia. capazes
de superar aquele feito? A resposta veio um ano depois, no fatídico 1986, não
apenas em um disco, mas num até então incomum projeto multimídia: o
disco-filme-livro “True Stories”,
que está completando 30 anos em 2016.
Para a época, o que hoje é comum no showbizz,
em que um artista grava o CD, DVD, videoclipe e um documentário num mesmo
espetáculo sem precisar gastar uma fortuna, foi bem impressionante a ousadia de
Byrne, o verdadeiro “head” do projeto.
Não se via uma proposta naquele formato até então, no máximo os abastados
clipes-filmes de Michael Jackson. Neste, entretanto, de feições quase intimistas,
Byrne, dentro de um mesmo tema, dirigiu um filme, atuou nele, lançou um livro
de fotos e textos e ainda criou de cabo a rabo um disco, componto-o e
produzido-o por inteiro. E mais: tudo de altíssima qualidade! Da turma que
aprendeu com Andy Warhol a transformar produto em arte, Byrne e seus habilidosos companheiros de grupo – a ótima baixista Tina Weymouth, o
competente baterista Chris Frantz e o versátil guitarrista e tecladista Jerry
Harrison – traziam três “produtos culturais” interligados mas independentes
entre si. Pode-se ver o filme e não comprar o disco ou ler o livro e por aí vão
as combinações. Há quem teve o primeiro contato com a obra, por exemplo,
através dos clipes da MTV (de certa forma, um quarto tipo de produto cultural)
e depois ouviu o disco ou assistiu ao filme.
Para se falar sobre as músicas, no entanto, é fundamental que se comece
abordando sobre o filme. Em "Histórias Reais" (tradução nos cinemas no Brasil),
um narrador, encarnado pelo próprio Byrne, percorre como um repórter a pequena
Virgil, no estado do Texas, em plena comemoração dos 600 anos da cidade, onde
encontra diversos personagens hilários e típicos. Conforme as situações vão se
apresentando, as músicas da trilha vão surgindo. Byrne, escocês radicado nos
EUA, cria um filme no qual engendra com delicadeza e humor uma crônica cotidiana
da vida norte-americana, tudo permeado por um olhar aparentemente infantil mas
carregado de perspicácia e ligado à relação emocional do autor com o seu lugar.
Lindamente poético, algo entre o documental e a fantasia, o longa
sintetiza as belezas e as fragilidades do povo do país mais poderoso do mundo.
Como se vê, no filme está a razão do trabalho musical, pois este funciona
como uma trilha sonora que veste a narrativa da história filmada ao mesmo tempo
em que é “apenas” mais um disco de carreira do Talking Heads, seu sétimo de
estúdio. Na seara de avanço de seu próprio estilo, eles repetem acertos do
passado, principalmente de seu trabalho antecessor “Little Creatures”. A
começar, assim como o disco anterior, um pouco por coincidência “True Stories”
também tem dois hits marcantes. O primeiro deles é “Love for Sale”, que o abre.
A letra já denota com humor e distanciamento crítico o caráter pueril e
materialista do ser norte-americano, que põe tudo à venda, até – e
principalmente – o amor. “O amor está
aqui/ Venha e experimente/ Eu tenho amor pra vender”, canta, enquanto, no
clipe, imagens de publicidade pulam na tela em cores vibrantes e kitch. Divertido, o clipe é a própria
cena extraída do filme, numa total interação entre as obras. E que grande
música! A batida lembra a de “Stay up Late”, de “Little...”, só que mais
acelerada, e o riff, memorável, é
daqueles que se reproduz o som com a boca. Pode-se colocá-la na classificação
de perfect pop, músicas de estrutura
perfeita e próprias para tocar no rádio mas que guardam qualidades genuínas de
estilo e composição.
Com uma pegada bastante Brian Eno pela base no órgão, “Puzzlin'
Evidence“ – no filme, a cena de um culto religioso em que se projeta um vídeo
com as maravilhas da tecnologia e do poderio bélico e financeiro yankee – tem o vigor do gospel,
principalmente no refrão, com o coro cantando com Byrne: “Puzzling Evidence/ Done hardened in your heart/ Hardened in your
heart”. Em seu livro “Como Funciona a Música”, de 2012, ele comenta que
compôs as faixas de “Little...” e “True...” praticamente ao mesmo tempo, por
isso as semelhanças entre um e outro. No caso do segundo, o que já se
diferenciava em sua cabeça era a aplicação: seriam músicas para o filme que ainda
pretendia rodar. Assim, já no Texas para inteirar-se das locações, levou
consigo as demos ainda por finalizar e lá teve a ideia de inserir os elementos
mais peculiares do folk
norte-americano, como o acordeom Norteño, a steelguitar e o coral de igreja
protestante de “Puzzlin'...”.
Durante todo o disco, a bateria de Chris é especialmente amplificada,
ótimo ensinamento pescado da faixa “Television Man”, de “Little...” – resgatada,
porém, de antes, pois já nota-se isso em “Electric Guitar”, de “Fear of Music”,
de 1979. Pois a caribenha “Hey Now” é marcada com essa batida forte,
acompanhada de bongôs e de uma guitarrinha ukelele,
a mesma que faz um solo totalmente no espírito ula-ula. Por conta de seu ritmo e melodia quase lúdicos, no filme,
Byrne a arranjou diferentemente: são crianças, todas com instrumentos
improvisados como pedaços de pau e latas, quem, numa das passagens mais bonitas,
entoam os versos: “I wanna vídeo/ I wanna
rock and roll/ Take me to the shopping mall/ Buy me a rubber ball now”.
“Papa Legba”, das melhores de “True...”, é outra que mostra como a
banda aprendeu consigo própria. A programação eletrônica faz intensificar o
ritmo sincopado da música africana, que começa com percussões típicas do
brasileiro Paulinho da Costa, um craque, e um canto quase tribal extraído por
Byrne. Visível influência dos trabalhos com Eno, principalmente do world-music “Remain in Light”. O tema em
si é lindo: um canto ritualístico do vuduhaitiano (“Papa Legba” significa aquele que serve como intermediário entre
a loa – mundo dos espíritos – e o
homem) que é usado no filme quando o personagem de John Goodman, um homem em
busca de uma carreira como cantor, recorre a esta espécie de pai-de-santo –
vivido pelo cantor Pops Staple, que a canta lindamente. No disco, é Byrne quem
está nos microfones, esbaldando-se em seu vocal rasgado e emotivo.
O segundo lado no formato LP abre com outro hit e outro perfect pop: a sacolejante "Wild
Wild Life", marco dos anos 80 e da música pop internacional. Impossível
ficar parado se estiver tocando numa pista. Além da letra ácida, a canção, bem
como seu clipe, também extraído do filme, é superdivertida, num convite a se assumir
o “lado selvagem”. Várias pessoas, os integrantes da banda e atores, sobem num
palco em um programa de tevê fazendo playback
e interpretando as figuras mais exóticas. O refrão, de versos móveis, é daqueles inesquecíveis de tão naturalmente
cantaroláveis: “Here on this moutain-top/
Oh oh/ I got some wild wild life/ I got some news to tell ya/ Oh oh/ About some
wild wild life...”.
Alegre e ritmada, "Radio Head" lembra a levada das bandinhas
folclóricas europeias (as que migraram para os EUA em várias localidades),
ainda mais pelo uso da gaita-ponto. Mas, claro, com o toque todo dos Heads,
desde a forte batida de Chris, as percussões de Paulinho da Costa –
contribuinte costumaz da banda –, e o vocal aberto de Byrne, perito em criar
refrãos pegajosos, como o desta: “Transmitter!/
Oh! Picking up something good/ Hey, radio head!/ The sound... of a brand-new
world”, “Radio Head” guarda uma curiosidade: é a música em que Byrne se
inspirou num verso de Chico Buarque – de “O último blues”, da trilha do filme
“Ópera do Malandro” – e que, por consequência, inspirou o nome da banda inglesa, que juntou as duas palavras.
A melódica “Dream Operator” – que no filme transcorre numa engraçada
sequência de um desfile, mais bizarro e brega impossível – tem uma bela letra,
a qual versa sobre o eterno estado de sonho em que vivem os norte-americanos: “Todo sonho tem um nome/ E nomes contam a
sua história/ Essa música é o seu sonho/ Você é o operador de sonho”. Algo
nem bom nem ruim: apenas verdadeiro. Outra clássica do álbum, “People Like Us”,
tema-chave do filme, é, assim como “Creatures of Love”, de Little...”, um
típico country-rock, com direito a
guitarra com pedal steele de Tomy
Morrell. Uma verdadeira declaração de amor do estrangeiro Byrne para os EUA,
reverenciando a cultura daquele país e ao mesmo tempo totalmente integrado
nela. Os versos iniciais dizem tudo: “Quando
nasci, em 1950/ Papai não podia comprar muita coisa para nós/ Ele disse:
‘Orgulhe-se do que você é’/ Há algo de especial em pessoas como nós”. E o
refrão, dentro da mesma ideia de “Creatures...”, não deixa por menos,
impelindo-nos a enxergar a alma norte-americana com um olhar mais humano: “Não queremos liberdade/ Não queremos
justiça/ Só queremos alguém para amar”.
De ritmo parecido a outra faixa de “Little...”, “Walk it down”, bem
como a outras daquele álbum no refrão de coro em tom entoado, como “Perfect
World” e “Road to Nowhere” (a ideia vem desde o primeiro trabalho com Eno, em
“The Good Thing”, de 1978), “City of Dreams” desfecha a obra com puro lirismo.
A letra fala da perda de identidade provocada pelas aculturações e dizimações,
algo muito presente na formação de sociedades modernas como a norte-americana: “Os índios tinham uma lenda/ Os espanhóis
viviam para o ouro/ O homem branco veio e os matou/ Mas eles não sabem quem realmente
foram”. Porém, artista sensível como é, Byrne joga luzes otimistas sobre o
futuro daquela nação e suas gentes, tendo como metáfora a pequena Virgil: “Vivemos na cidade dos sonhos/ Nós dirigimos
na estrada de fogo/ Devemos despertar/ E encontrá-la por fim/Lembre-se disso,
nossa cidade favorita”.
Se “True...” deve muito a “Little...”, que lhe serviu de espelho em
vários aspectos, também é fato que o disco de 1986 supera seu antecessor em
completude conceitual, uma vez que conversa o tempo todo com a obra filmada e,
consequentemente, com o trabalho fotográfico posto em páginas. Além do mais, o
sucesso alcançado por “True...”, seja motivado pela mídia televisiva e
radiofônica ou pelas telas do cinema, foi consideravelmente maior de tudo o que
já jamais conseguiriam, tendo em vista que “Wild Wild Life” ficou por 72
semanas no 25º posto da Billbord, melhor posição de uma música da banda nesta
parada. Comparações afora, o fato é que ambos os discos revelam um grupo no auge
de sua capacidade criativa, produzindo música pop sem descuidar das próprias
intenções e aspirações.
Tudo isso está ligado bastantemente à iniciativa de David Byrne que,
com o passar do tempo, foi se tornando cada vez mais o principal compositor e criador
da banda, a ponto de passar a ser o único. Assim, se “True...” é o ápice dos
Heads, também é o começo de seu declínio. A redução paulatina mas permanente da
participação de Chris, Tina e Jerry enfraqueceu-os enquanto conjunto, sufocando
os companheiros de Byrne. O fim estava próximo. Ainda tentaram um sopro de
comunhão, “Naked”, de 1988, mas o mais fraco álbum deles só serviria para
denotar que não tinha mais saída que não a separação de uma das grandes bandas do
pop-rock mundial. Os discos, porém, estão aí até hoje, longe de se datarem e
donos de alguns dos melhores momentos do que se produziu nos anos 80, a tal
“década perdida” – que, aliás, de “perdida” não teve nada em termos de rock.
Basta uma audição de “True Stories” para se certificar de que essa história,
por mais onírica que tenha sido, é real e muito especial.
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O filme “Histórias Reais” tem, aliás, uma trilha sonora própria, a qual
traz temas incidentais. Apenas “Dream Operator”, em versão instrumental
arranjada por Philip Glass (“Glass Operator”), se repete, além da faixa “City
of Steel”, que é, na verdade, a melodia de “People Like Us”, também só com
instrumentos. As outras são de artistas variados, como “Road Song”, da genial
Meredith Monk, “Festa para um Rei Negro” (“Olê
lê/ Olá lá? Pega no ganzê/ Pega no ganzá...”), com a banda brasileira
Eclipse, e a mexicana “Soy de Tejas”, de Steve Jordan, além de seis composições
do próprio Byrne que só se encontram em “Sounds From True Stories”.