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sexta-feira, 7 de junho de 2024

"Chapa Quente", de Daniel Rodrigues - ed. Caravana (2023)

 



Daniel Rodrigues, meu irmão e parceiro de blog, acaba de publicar seu primeiro livro solo de contos. Uma grande conquista pessoal, sem dúvida que merece ser remontada desde sua origem, daquele guri que desde pequeno já inventava histórias, criando pequenos "filmes" com seus bonequinhos de forte-apache. Soldadinhos e índios de plástico, playmobil, super-heróis, podiam assumir qualquer identidade, personalidade, personagem, conforme sua imaginação ditasse. Carrinhos podiam ser naves espaciais, eletrodomésticos podiam ser monstros, o sofá um castelo. Essa criatividade, manifesta desde a infância, aliada a um posterior gosto por cinema, pelas diferentes possibilidades de formas de se contar uma história, um senso de observação aguçado, um gosto pela língua, pela palavra escrita, eram a pólvora para que em algum momento essas criações saíssem da cabeça e tomassem forma. Acredito que o blog tenha sido o fogo que acendera o rastilho. Aquele espaço que eu criara e que abrira para que expuséssemos o que tivéssemos de mais criativo, era o canal no qual ambos depositávamos uma vasta produção, não somente de contos, como também de resenhas, crônicas e poesias.

A experiência com o Clyblog, a quantidade produzida e a notada qualidade que daquele despretensioso material, o encorajara a que se aventurasse em seletivas de contos, nas quais textos de escritores de todo o país eram selecionados para integrar coletâneas temáticas promovidas por editoras independentes. A qualidade dos contos era, de fato, inequívoca, de modo que seus trabalhos literários passaram a ser escolhidos com frequência para integrar diversas coletâneas às quais se candidatava. Algumas vezes somente ele se inscreveu, em algumas apenas eu, em algumas eu entrei, em outras somente ele, mas em duas ocasiões tivemos a felicidade de integrarmos a mesma antologia, "Conte Uma Canção vol.2""Meia-Noite: Contos da Escuridão". Se já era algo muito legal os irmãos colocarem suas criações literárias em publicações conjuntas, eis que um deles, agora, publica seu livro solo.

Daniel que, a bem da verdade, já lançara, um livro de sua autoria exclusiva, o premiado "Anarquia na Passarela", sobre moda e comportamento, tem desta vez a possibilidade de mostrar todo seu talento criativo e narrativo com o eclético "Chapa Quente", reunião de cinco contos que confirmam toda sua  facilidade de transitar entre formatos, temas e estilos.

Entre criminosos de um morro no Rio, vizinhos que mal se conhecem, internos em um conservatório, Daniel nos entrega histórias de grande sensibilidade humana, cada uma a seu modo, fruto de um atento e constante exame do que o rodeia.

"Chapa Quente" é bem construído, é  versátil, faz com que o leitor queira descobrir o que virá depois, e, para sua surpresa, ele encontrará algo totalmente diferente.

Elemento fundamental na formação de Daniel, inclusive como escritor, a música está sempre presente em "Chapa Quente", seja na camiseta de uma banda pela qual desconhecidos se identificam, seja numa cantoria indígena no fundo de um estábulo, seja no toque de um celular na barriga de um sequestrado. O livro até  mesmo se aproxima da estrutura de um álbum musical, pensado faixa a faixa. Embora conheça bem sua musicalidade e conheça  bem suas referências, não  tenho certeza se Daniel pensou o livro nessa concepção, mas se o fez, nada mais apropriado para abrir a obra do que um conto que chama-se "Abrindo-se", belíssimo conto que retrata um pouco dessa loucura que é viver nas cidades, nesses "caixotes" coletivos, estar cercado de tanta gente e não conhecer quase ninguém, sendo que às vezes pessoas que valem a pena conhecer estão tão perto. "Abrindo-se" é sobre afinidades, sensibilidade, fragilidade e força. A menção ao músico, maestro e arranjador, Philip Glass, na história que aproxima um aspirante a músico e uma jovem que tenta reencontrar seu rumo, sugere que esse início de álbum, ou melhor de livro, seja um daqueles art-rock com o perfeito equilíbrio entre o pop e o erudito.

Como em muitos grandes discos que começam com uma abertura grandiosa, a faixa que dá nome à obra vem logo em seguida. "Chapa Quente", conto que alterna a narração formal à linguagem coloquial e vulgar, no qual bandidos se refugiam num morro com um refém logo após uma fuga, é tenso e muito bem conduzido pelo autor que desenha o perfil dos integrantes da gangue enquanto o rumo que o líder pretende dar à situação depois daquela breve parada em segurança vai sendo traçado. Se a primeira é um pop-rock sofisticado, "Chapa Quente" é "batidão" do morro,   "...sub-uzi equipadinha com cartucho musical de contrabando militar da novidade cultural da garotada favelada carregando sub-uzi equipadinha com cartucho musical de batucada digital", como diria Fausto Fawcett.

Os sentidos aguçados de um fazendeiro no interior do Wyoming, no pequeno faroeste "Tocaia", intrigado com uma suposta m0ovimentação vinda de seu estábulo, tem tons de mistério, delírio e fantasia. Um folk psicodélico ao estilo Neil Young cheio de paisagens campeiras, sonhos malucos, reflexos distorcidos, danças rituais, espíritos indígenas e cavalos ao luar. 

"Os Amantes do Tempo" traz uma situação que quem é do rock convive muitas vezes que é ver alguém com uma camiseta de determinada banda, e ter vontade de falar com aquela pessoa, especialmente grupos alternativos, bem desconhecidos, que fazem com que a gente pense "não sou a única pessoa no mundo a gostar disso!". Aqui, Daniel, habilidosamente desenvolve a história para além do óbvio da mera identificação com o usuário da camiseta, fazendo com que ela transcenda o material, o palpável, presenteando o leitor (e o protagonista) com um final delicioso. Dentro do meu imaginado conceito "livro-álbum", "Os Amantes do Tempo" seria um noise-rock indie daqueles cheio de nuances e camadas, mas pela doçura, pela perspectiva romântica, não seria nada tão hermético e experimental quanto o som do Hash Jar Tempo, banda de papel central no conto.

Se fosse um LP, o conto "O orfão do orfeão e uma noite transfigurada" seria aquela faixa que ocupa um lado inteiro do disco. Conto em cinco partes que gira em torno de compositores de épocas diferentes e um suposto acorde "maldito" que, criado por um aluno de um antigo conservatório na Alemanha, no século XVIII, sobrevive através dos tempos e será finalmente executado num concerto em Viena, dois séculos depois. Devo admitir que, embora muito bem fundamentado, estudado, trabalhado, considero o conto um tanto desgastante e arrastado em determinados momentos, com excessiva atenção e detalhamento da tal nota "Diabólica". Mas como muitas canções longas que finalizam grandes álbuns e tem suas variações, "O orfão..." recupera o fôlego para explodir um desfecho anárquico de catarse, ódio, vaias, aplausos, confusão, num teatro lotado, e logo serenar, reduzindo numa espécie de fade-out em loop, que sugere que aquilo tudo aquilo, o acorde, a herança, a música, a arte, nada acaba ali. 

E assim esperamos! que não fique por aí. Que "Chapa Quente" seja só o começo desse brilhante voo de Daniel Rodrigues e que venham por aí mais e mais dessas excitantes experiências literário-musicais. Pouse a agulha sobre o papel e ouça o livro.



Cly Reis


sábado, 2 de novembro de 2024

Drops lançamento livro "Chapa Quente" - 70ª Feira do Livro de Porto Alegre - Espaço Força & Luz

 

Já tem data o lançamento oficial do novo livro do coeditor do nosso blog, o escritor e jornalista Daniel Rodrigues, “Chapa Quente” (ed. Caravana Editorial). Será durante a celebrada Feira do Livro de Porto Alegre, que abriu no dia de ontem para sua gloriosa 70ª edição, no dia 16 de novembro, e contará com duas programações. Primeiro, às 15h, na sala O Retrato do Espaço Força e Luz, ocorre um bate-papo do autor com a escritora convidada e amiga Simone Saueressig. Logo em seguida, às 16h, é a vez de Daniel autografar a obra na Praça de Autógrafos da Feira do Livro, na Praça da Alfândega.

Primeiro individual de contos de Daniel, “Chapa Quente” é composto por uma reunião de cinco histórias e foi selecionado em concurso realizado pela editora Caravana Editorial em 2023, resultando resultado da experiência de mais de 10 anos de Daniel Rodrigues como contista, o qual já participou de diversas antologias coletivas. Além destas obras, também é autor de “Anarquia na Passarela – A influência do movimento punk nas coleções de moda”, livro pelo qual venceu o Prêmio Açorianos de Literatura 2013, na categoria Ensaio e Humanidades. Pela Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, também assina artigo no livro “50 Olhares daCrítica Sobre o Cinema Gaúcho”, editado pela ACCIRS em 2022.

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Lançamento livro “Chapa Quente”
Onde: 70ª Feira do Livro de Porto Alegre - Centro Cultural CEEE Espaço Força & Luiz (R. dos Andradas, 1223, sala O Retrato)

Quando: 16 de novembro
15h: Bate-papo do autor com a escritora Simone Saueressig
16h: Sessão de autógrafos (Praça dos Autógrafos, Praça da Alfândega)

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Livro "Chapa Quente" - Pré-lançamento

 


“Chapa Quente” é uma reunião de cinco contos que têm em comum as tensões interpessoais e a complexidade das relações humanas, independente da época, do local ou da cultura em que ocorram.
Com imensa satisfação, anuncio o meu mais novo livro, "Chapa Quente", que está em fase de pré-lançamento. Quase saindo do forno! É o meu primeiro de contos individual, eu que já estive em seleções e antologias coletivas. A publicação sai pela mineira Caravana Editorial, de Minas Gerais.

A capa, de autoria do designer Caíque Cavalcante sobre uma fotografia do editor da Caravana, Leonardo Costaneto, é o detalhe da parede de um restaurante em Madrid. Curioso é que, vendo a imagem pela primeira vez, meu irmão e coeditor do blog, Cly Reis, achou que se tratava de algum desenho feito por mim, pois o traço parece com o meu. Revendo, percebi: "não é que parece mesmo?!". Coincidências da vida - ou não tão coincidências assim.

Mas para dar uma ideia do conteúdo em si, “Chapa Quente” é uma reunião de cinco contos de minha autoria, que têm em comum as tensões interpessoais e a complexidade das relações humanas, independente da época, do local ou da cultura em que ocorram. Seja nas favelas dos morros cariocas, na Europa iluminista ou nas pradarias inóspitas da América do Norte. E o fogo está ali, queimando sempre.

Ficaram instigados? Então, aqui um trecho do conto que dá título à obra, originalmente de 2014:

“O som insistia em não parar, o que os deixava ansiosos, porém, também apreensivos caso parasse, pois perderiam a pista. Até que Fabão, quieto e observador que era, levantou-se do sofá, chegou perto do sequestrado e encostou o ouvido na altura de seu ventre. Apenas apontou o dedo na direção da barriga dele. Era o celular pequeno e antigo que o tinham obrigado a engolir na hora do sequestro.” 

E aí, instigou? Para adquirir, está em tempo ainda: basta acessar este link


Daniel Rodrigues

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Sarau de leitura “Chapa Quente” – Macunaína Gastro Bar – Porto Alegere/RS (08/03/2024)

 

Faz já alguns dias, mas segue valendo a pena o registro do sarau literário com os autores gaúchos da editora Caravana, grupo do qual faço parte agora por conta do meu “Chapa Quente”. Foi no agradável Macunaíma Gastro Bar, na Cidade Baixa, que reuniu cerca de 15 escritores do “cast” gaúcho da editora. Teve poesia, ensaio, crônica e, claro, conto, garantida por outros e de minha parte com um trecho lido do meu “Abrindo-se”, história que abre o livro.

A coincidência do sarau com o Dia Internacional da Mulher fez com que, além de várias menções e homenagens, eu tivesse clareza de que trecho ler da minha obra, uma vez que cada um tinha em torno de 3 min com o microfone. O pedaço do conto que li falava exatamente da personagem Nina, uma sofrida jovem de classe alta que, em desavença com os pais, morava sozinha em um apartamento simples para seus padrões financeiros e sob o jugo dos homens da sua vida: o agressivo namorado e, principalmente, o pai opressor. Contudo, como ressaltei no preâmbulo que fiz em minha fala ao público presente, a história só se move por conta da ação interna transformadora a qual a personagem se dispõe.

Eis o trecho:

"Acontece que Nina, ao contrário do que alguns tentavam imputá-la, tinha muita capacidade e inteligência. A ponto de buscar no fundo de seu íntimo forças para sair daquele poço emocional. Tudo que não queria era transformar-se no que sua mãe se transformou. Porém, por outros caminhos, via que era justamente isso que estava acontecendo. E afinal, não era exatamente isso que seu pai queria, que as mulheres se anulassem diante dele? Reflexões que a música de Felipe lhe dava condições de fazer nas horas a fio de ensaio dele e de ostracismo dela. “Como esta melodia consegue ser tão delicada e intensa ao mesmo tempo?”, questionava. Impressionava-a que, ali, as repetições eram salutares, diferentemente do que costumavam lhe dizer ao demonizarem a repetição. Através daqueles acordes encadeados, quase hipnóticos, ficava-lhe claro ser possível evoluir e conjugar leveza e força, tudo em que sempre fizeram Nina desacreditar. 

Tanto que buscou ajuda: adotou um cachorro, parou com as drogas, desfez-se das garrafas de álcool, passou a escancarar todas as manhãs as janelas por muito tempo cerradas e começou a fazer terapia online. Quase sempre as sessões eram embaladas pelo toque daquele mesmo tema tocado repetidamente por Felipe, como uma trilha sonora martelada de um filme cujo roteiro chegava na parte em que a mocinha superava a crise em direção a um desfecho feliz. Nina buscou harmonizar-se com a mãe e, dentro do possível, entender a postura do pai. Ainda não o havia perdoado e nem sabia se um dia conseguiria, mas tentava viver um dia depois do outro. Só não via mais conserto no relacionamento com o namorado, que, desinteressado, pois muito provavelmente já em outra, cada vez menos aparecia, até que sumiu de vez."

Bom conhecer o pessoal da editora, que em parte veio de Belo Horizonte diretamente para o evento, bem como alguns dos colegas escritores. Casa cheia é sempre legal. Esta foi, embora tímida, a primeira aparição pública de “Chapa Quente”, cujo lançamento foi final de dezembro do ano passado. Prenúncio para, aí sim, um lançamento oficial, que pretende-se arranjar em breve. Por ora, no entanto, alguns registros, feitos pela lente atenta de Leocádia Costa, desse momento de letras e encontros. 

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A literária Macunaína Gastro Pub


Casa movimentada


Com o editor Leonardo Costaneto (em pé), Leocádia e outros autores


Lendo trecho de "Chapa Quente" no sarau da Caravana


Com os outros autores gaúchos e o pessoal da editora


Momento da leitura, apresentando-se e justificando 
o porquê do trecho escolhido



texto: Daniel Rodrigues
fotos e vídeo: Leocádia Costa, Daniel Rodrigues e Guy Leonard






quinta-feira, 31 de maio de 2018

Copa do Mundo Madonna - classificados da primeira fase

Pois é, torcedores, a coisa começou quente e nem tinha como ser diferente em se tratando de Madonna e suas canções. Já teve jogão logo de cara e, como alguém tem que sobrar, algumas grandes já foram mais cedo pra casa logo na primeira fase. Potenciais favoritas como Rain, Hung Up, Give It to Me, Like a Prayer deram adeus à competição e agora vão assistir do sofá a segunda etapa da competição, quando adversários do mesmo álbum poderão se encontrar.
Agora sim a chapa esquenta de vez, hein!
Confira abaixo todos os classificados da primeira fase marcados em vermelho e aguardem, em breve, o sorteio da seguinte.




Classificadas: Fever, Girl Gone Wild, Live to Tell, Give Me All Your Luvin', Justify MyLove, Human Nature, True Blue, Into The Groove, Papa Don't Preach, Celebration, 4 Minutes, Secret, La Isla Bonita, Jump, Spanish Eyes, Material Girl, Erotica, Vogue, Everybody, Frozen, Sooner Or Later, Sorry, Music, Turn Up The Radio, Open Your Heart, Take a Bow, Don't Tell Me, Like a Virgin, Deeper and Deeper, Dress You Up, Express Yourself e Borderline.