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terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

The Police - Estádio Maracanã - Rio de Janeiro / RJ (08/12/2007)


Se tem um cara que tem um agente bom, uma gravadora atuante, uma retaguarda comprometida, é o Sting. Que ele é um baita músico, isso não há dúvidas, mas que ele nunca foi do tamanho que a promoção dele o faz, isso temos que concordar. Tá certo, lá, que foi vocalista de uma banda de sucesso, tá bem que tem carisma e tal, mas o que fizeram na primeira vinda solo dele ao Brasil, em 1987, foi algo, assim, de um Elvis, de um John Lennon, de um Michael Jackson! Tinha boa circulação, boa aceitação, reconhecimento, mas não tinha bola pra lotar um Maracanã!

Só que, na ocasião, rádios, TV's, jornais, todo tipo de mídia, divulgaram tão insistentemente aquela turnê, enaltecendo tanto o artista, que todo mundo, mesmo quem mal conhecia, queria ir no show do cara. Por extensão, promoviam o recém lançado álbum "...Nothing Like The Sun", um disco interessante, mas nada mais que regular, um tanto cansativo em seu formato duplo, que trazia alguns hits, é verdade, mas que cativara muito a brasileirada, em especial, pelo fato de Sting cantar uma das canções em português em português, "Frágil", sem falar numa visita a uma tribo indígena, cocar na cabeça, foto com Cacique e tudo mais. 

O resultado dessa forçação toda foi Sting lotando estádios pelo Brasil, inclusive o gigantesco Maracanã, sem que, grande parte do público conhecesse sequer metade de suas músicas, mesmo as do tempo de Police, e quase nenhuma de sua, então recente, carreira solo. Pra ele, no fim das contas, deu certo. O público é que ficou meio, assim, "o que é que eu tô fazendo aqui?", e depois , em casa, o "e, gora, o que é que eu faço com esse disco?".

Introduzi com tudo isso para chegar ao show do The Police, em 2007, que foi mais ou menos a mesma coisa. Tá certo que a banda fez muito mais sucesso que a carreira solo de seu líder e vocal mas, mesmo em sua melhor época, nunca foi banda de arena, nada assim de apelo tão forte, idolatria para deslocar multidões. Pra se ter uma ideia, em seu auge, em 1982, sequer encheram o Maracanãzinho. 

No entanto, contra tudo isso, marcaram o evento para o Maracanã.

E, de novo, o pessoal da retaguarda fez a lição de casa: começou a divulgar meses antes, insistiu, botou outdoors, conseguiu levar de novo o Police às rádios, refrescou a memória de eventuais desinteressados que viveram na época e que resolveram reviver aquilo, e plantou uma curiosidade e uma certo estímulo em um público que sequer conhecia o grupo. De minha parte, fazia parte dos que tinham ouvido aquilo nos anos 80, gostava o suficiente para ir num revival da minha época, embora não entendesse muito bem como uma banda com um apelo nada mais que médio pudesse encher um dos grandes estádios do mundo. Mas...

Mas o fato é que o esforço da produção valeu e o Maracanã, se não encheu, não fez feio de público.

Muito bom show!

Banda competentíssima!

Lembro de ficar de olho ligado, especialmente, no baterista Stewart Copeland, que admiro demais, e em sua performance e desenvolvimento em cada canção. Mas Sting também é fera, é claro, manda muito bem no baixo e tem um dos vocais mais marcantes do rock, sem falar em Andy Summers que sempre deu conta do recado numa boa, e no show, em momentos solo, até superou minhas expectativas.

De quebra, ainda teve Paralamas do Sucesso, na abertura, uma ótima escolha considerando a conexão muito próxima entre o som deles com o do Police, e uma excelente atração e entretenimento para o público, antes do evento de fundo, ao contrário do que costuma acontecer quando a gente só quer que o show de abertura acabe logo.

Curioso desse show é que eu trabalhei nos bastidores do evento o dia inteiro e poderia tê-lo assistido sem custo e em posições mais privilegiadas do que a que fiquei no estádio. Como a empresa que eu trabalhava, na época, faria montagem de infra-estrutura, bares, divisórias, etc., eu tinha a possibilidade de ficar no grupo da manutenção. Até já tinha o ingresso, comprado com bastante antecedência, mas poderia pedir para entrar na escala da noite, venderia o ingresso e ainda faria algum lucro. Mas era tudo muito complicado. Tinha o ingresso da minha esposa também, eu teria que encontrá-la lá dentro e talvez conseguir uma credencial para ela para os setores privados sem falar que eu poderia ser chamado a qualquer momento por causa de um problema com funcionário ou um conserto qualquer ... Ah, quer saber: a melhor coisa era entrar pelo portão, passar pela roleta, sentar na arquibancada, comprar uma cerveja e desfrutar do show.

The Police- Rio de Janeiro (08/12/2007)
show completo


Cly Reis

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Johnny Cash - "American IV - The Man Comes Around" (2003)



"Nenhuma canção está segura comigo"
Johnny Cash


Depois da fama, dos dramas, do auto-exílio, do ostracismo e de sua redescoberta, aos 70 anos de idade, Johnny Cash conseguia se reinventar e recriar uma série de canções populares, conferindo-lhes de tal modo, nova vida e personalidade a ponto de soarem melhores que as originais ou fazer parecerem suas. Muito disso deveu-se ao olho perspicaz, ao ouvido afiado e às mãos habilidosas na mesa de som de Rick Rubin, produtor consagrado que entrou em estúdio com o Homem de Preto, sugeriu músicas para o repertório e deixou que o velho cantor country-rock colocasse sua alma naquelas canções, naquele que era o quarto disco da série que Cash gravara pela American Records, trazendo-o de novo à evidência depois de algum tempo renegado pelas gravadores.
Em “American IV – The Man Comes Around”, Cash, acompanhado de seu violão, com sua voz quase macabra, gravava Sting, Hank Williams, Beatles e coisas mais improváveis como Depeche Mode e Nine Inch Nails. O resultado é um disco incrível, impecável, emocionante. Uma das melhores coisas feitas nos últimos 30 anos.
“The Man Comes Around”, a música que abre o disco, abre também o "Madrugada dos Mortos" e não poderia ser mais apropriada para um filme como aquele, uma vez que, aliada à voz sinistra do cantor, a letra é absolutamente apocalíptica prevendo um trágico fim dos tempos.
Johnny Cash consegue melhorar consideravelmente a insossa “Bridge Over Trouble Water” de Simon e Garfunkel, conferindo-lhe mais sentimento, num belíssimo dueto com PJ Harvey; dá a “versão definitiva” para a balada assassina “I Hung My Head” de Sting, como reconhece o próprio autor; e ‘apropria-se’ de “In My Life” dos Beatles como se nunca tivesse existido uma versão original. Além disso, com a ajuda de Rubin, faz a leitura correta de “Personal Jesus” do Depeche Mode descortinando exatamente todo a raiz country já existente originalmente nela, proporcionando outra versão matadora.
Revitaliza velhas canções suas como “Give My love To Rose”, “Tear Stained Letter” e dá arranjos pessoais e especiais a canções tradicionais americanas como “Sam Hall” e Danny Boy”, dotando-as de novas personalidades com sua interpretação singular.
Mas o grande momento do disco e a chave de ouro para o fim de uma carreira e de uma vida é a versão de “Hurt” do Nine Inch Nails. Nela Cash põe toda a emoção de uma vida. Parece colocar ali todas as amarguras, as perdas as tristezas, tamanha força da interpretação. Ex-dependente, Cash canta a letra de Trent Reznor sobre o vício em drogas com uma sinceridade comovente numa versão que é tão definitiva a ponto de o próprio autor reconhecer que a música deixou de ser dele.
 “Americans IV” foi o último disco de Johnny Cash, que felizmente, apesar de toda uma vida turbulenta de altos e baixos pessoais e profissionais, teve em seu último momento ainda mais um grande disco e o devido reconhecimento a seu talento e importância no universo artístico.
O trabalho com o produtor Rick Rubin, que de certa forma, trouxe Johnny Cash de volta ao mundo, aparece e é muito bem retratado na história em quadrinhos "Johnny Cash, uma Biografia", de Reinhard Kleist, excelente registro da carreira do cantor, ilustrando toda a vida do artista com um roteiro muito bem amarrado e um trabalho gráfico de primeira qualidade. Assim como o disco, vale a pena ter.

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FAIXAS:
01.The Man Comes Around [J.Cash] 4:26
02.Hurt [T.Reznor] 3:38
03.Give My Love To Rose [J.Cash] 3:28
04.Bridge Over Troubled Water [P.Simon] 3:55
05.I Hung My Head [Sting] 3:53
06.First Time Ever I Saw Your Face [MacColl] 3:52
07.Personal Jesus [M.Gore] 3:20
08.In My Life [Lennon/McCartney] 2:57
09.Sam Hall [trad.arr.J.Cash] 2:40
10.Danny Boy [trad.arr.J.Cash]3:19
11.Desperado [Frey/Henley] 3:13
12.I'm So Lonesome I Could Cry [Williams] 3:03
13.Tear Stained Letter [J.Cash] 3:41
14.Streets Of Laredo [trad.arr.J.Cash] 3:33
15.We'll Meet Again [Charles/Parker] 2:58

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vídeo de "Hurt", Johnny Cash

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Ouça:

quinta-feira, 29 de maio de 2014

The Police- "Reggatta de Blanc" (1979)


Reggatta de Blanc
=
Reggae de Branco



Meu amigo Christian Ordoque, colaborador aqui do blog, foi quem me apresentou esse disco. Na verdade o que aconteceu foi que me abriu os olhos para o The Police, ou melhor, os ouvidos. Já conhecia a banda da celebrada coletânea "Every Breath You Take" mas acho que naquela audição, no apartamento dele no bairro São Geraldo em Porto Alegre, eu tenha percebido todas as grandes virtudes da banda e em especial daquele disco, o "Reggata de Blanc" (1979). Acho que o que me despertou mesmo foi quando ouvi "No Time This Time", depois de já ter rolado todo o disco e descoberto suas grandes qualidades. Quando começou aquele ska-rock alucinante e acelerado eu fiquei simplesmente de queixo caído. Um show de baixo de Sting, é verdade, mas nada comparado à performance simplesmente do outro mundo de Stewart Copeland na bateria. Um show! Aquilo me conquistou de vez.
Mas "No Time This Time" é a última. Antes disso, como eu disse, já havia descortinado o disco inteiro. "Message in a Bottle" é o mais perfeito cartão de visitas que a banda podia ter escolhido para abrir o álbum, pois é a mostra exata da proposta da banda com uma fusão de punk, reggae e new-wave poucas vezes obtida com tanto êxito. A, praticamente instrumental, "Reggatta de Blanc", a segunda faixa do disco, evolui numa crescente até tornar-se um rock forte e vigoroso com alguns vocais esparsos, sem letra; "Bring on the Night", que até então eu só conhecia da versão ao vivo da carreira solo de Sting, e da versão um pouco diferente da coletânea, é brilhante na sua sutileza e sofisticação jazzística, combinados a um agradável refrão carregadíssimo no reggae; e a excelente "Walking on the Moon", é um show de técnica do trio em outra das grandes músicas do álbum.
Muito interessantes também são a aninada "It's Allright For You"; o reggae embalado "The Bed's Too Big Without You"; a brilhante muitíssimo bem construída "Contact", cujo início sempre me remete a "Tom Sawyer" do Rush; e "Does Everyone Stare" que começa com um piano e o baterista Stewart Copeland no vocal, e parece prenunciar algumas características da futura carreira solo de Sting.
Daqueles discaços da primeira à última. Mas devo admitir que até hoje, quando chega a última, levanto o volume e ensaio um air-drum imitando o Copeland.
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FAIXAS:
1. "Message In A Bottle"
2. "Reggatta De Blanc"
3. "It's Alright For You"
4. "Bring On The Night"
5. "Deathwish"
6. "Walking on the Moon"
7. "On Any Other Day"
8. "The Bed's Too Big Without You"
9. "Contact"
10. "Does Everyone Stare"
11. "No Time This Time"


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Ouça:

Cly Reis
(para Christian Ordoque)

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

The Prodigy - "Music For Jilted Generation" (1994)





 “Fodam-se eles e suas leis”
“Their Law”

“The Fat of the Land”, álbum de 1997 cheio de hits e responsável pelo estouro definitivo dos ingleses do The Prodigy é constantemente saudado e festejado como sendo seu grande trabalho. É um grande álbum, é verdade, e no seu devido tempo merecerá a atenção aqui nesta seção, mas na minha opinião o verdadeiro crescimento e consolidação de uma linguagem e um estilo aconteceu em seu disco anterior o ótimo “Music for Jilted Generation” de 1994, onde aquele punkismo que ficaria mais explícito, não só na agressividade do disco seguinte, em músicas como “Breathe” por exemplo, ou mesmo no visual dos integrantes, especialmente do performer Keith Flint, começava a tomar forma e se justificava não apenas sonoramente mas também enquanto atitude, uma vez que a banda batia de frente com as autoridades inglesas que na época criavam todas as dificuldades possíveis para relizações de raves e festas do gênero. Com “Their Law”, uma paulada metal-eletrônica feita em parceria com os industriais do Pop Will Eat Itself, desafiavam a polícia, botavam o dedo na cara da Ordem Pública e mandavam todos ‘se foder’, literalmente, num petardo sonoro pesado e agressivo. Uma verdadeira bomba hardcore eletrônica como poucas vezes havia-se ouvido até então.

“Voodoo People” é outra matadora! Com sua guitarra cortante, suja, entrecruzada, entrecortada, e uma batida atropeladora é simplesmente violenta e selvagem. “Break and Enter’, que a rigor abre o disco após uma breve vinheta, é igualmente acelerada e pegada sem contudo ser tão feroz quanto às outras já citadas, apresentando por sua vez uma base genial extremamente bem trabalhada totalmente quebrada e inconstante complementada por um sample vibrante de um vocal feminino, numa das melhores faixas do álbum. A envenenada “Poison” é psicodélica, psicótica, caótica, ousada em sua composição aparentemente desencontrada, e com o vocal brilhantemente fazendo partes de percussão; “Speedway” é extremamente criativa ao incorporar samples de carros de corrida ao seu andamento já bem acelerado; e a boa "No Good" é um convite irrecusável para uma pista de dança com seu ritmo frenático e empolgante. “3 Kilos”, que abre o ‘pacote de narcóticos’, como é descrito na capa o conjunto das três últimas faixas, é estilosa com seu andamento cool e seu charmoso solo de flauta; a mutável “Skylined” vai ganhando corpo e peso, capricha nas repetições e explode num ritmo galopante forte e intenso; e a perturbadora “Claustrophobic Sting”, com seu sample de saco-de-risadas fecha o disco em grande estilo numa faixa longa, forte e alucinante.

Músicas como a acelerada “Full Throttle”, “One Love” com seus toques árabes;  e a elétrica “The Heat (The Energy)”, são boas faixas, dançantes, vibrantes mas na minha opinião momentos menores no álbum, o que não tira em nada o brilho do trabalho como um todo. Se depois de um álbum interessante porém quase primário, e que soava até meio ‘infantilóide’, como seu “Experience” de 1992, em “Music for Jilted Genaration”, Liam Howlett a cabeça pensante por trás do projeto, corrigia o rumo, aparava as arestas, caprichava nos samples achava o meio termo entre o eletrônico e o peso e mandava ver num álbum que pode ser considerado um dos pioneiros na introdução de elementos de peso e guitarras na música eletrônica. O que veio depois foi só conseqüência.
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 FAIXAS:
1. Intro
2. Break and Enter
3. Their Law
4. Full Throttle
5. Voodoo People
6. Speedway (theme from “Fastlane’)
7. The Heat (The Energy)
8. Poison
9. No Good (Start The Dance)
10. One Love (Edit)

  • The Narcotic Suite
11. 3 Kilos
12. Skylined
13. The Claustrophobic Sting

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Ouça:

sábado, 29 de janeiro de 2011

Grace Jones - "Nightclubbing" (1981)

"Sabe, eu a vi vestindo algumas coisas que eu já usei, e isso realmente me irrita(...)
Eu prefiro trabalhar com alguém mais original que não fique me copiando."
Grace Jones sobre trabalhar com Lady Gaga


Um álbum sofisticado.
Poder-se-ia dizer até chiquérrimo!
A estilosa ex-modelo e manequim jamaicana Grace Jones conseguia, depois de alguns discos apenas interessantes no início da carreira musical, transpor enfim todo seu charme dos estúdios fotográficos para os de gravação com o excelente "Nightclubbing". A própria faixa que dá nome ao álbum que já era fantástica com Iggy Pop (autor em parceria com Bowie), consegue ficar talvez até melhor numa versão meio cabaré-chique às voltas com um piano grave e bem marcado com uma interpretação sensual e venenosa.
"I've Seen That Face Before (Libertango)", outro destaque do disco, é no fundo um tango sim, mas tem contornos reggae e coloridos de ritmos latinos. Seus trechos recitados em francês na voz provocante e poderosa de Mrs. Jones dão uma leitura toda diferenciada e singular à composição do argentino Ástor Piazzolla.
Minha preferida, no entanto, é "Pull Up to the Bumper". Apimentada e sem vergonha, traz um vocal provocante, uma guitarra bem suingada e um tamborim fazendo a marcação gostosíssima.
"Walking in the Rain", a primeira do disco é praticamente declamada sobre uma base clean sutilmente 'reggeada' e extremamente bem desenvolvida nos detalhes. Outra das boas é "Use Me", que além de outra interpretação magistral da gigante de ébano, tem uma bela linha de baixo. "Demolition Man" de Sting tem um estilo mais forte, mais new-wave, mais rock e por consequência um vocal mais agressivo também, quase falado na maior parte do tempo só ganhando ritmo mesmo nos refrões. "I've Done it Again" se encarrega de fechar o disco baixando a rotação apaixonadamente numa baladinha tristonha.
Nove interpretações notáveis com as mais diversas nuances dentro do universo da música negra e da música pop em geral. É daquelas obras e daquele tipo de artista que alguém mais mal informado pode torcer o nariz num primeiro momento achando que um disco de ex-modelo seja necessariamente sem qualidade, mera autopromoção, etc. Muitas são assim, sabemos, mas certamente este não é o caso. Para Grace Jones a passarela, os flashes podem ter aparecido antes na vida antes, mas com certeza ela foi feita mesmo para o microfone e para o palco. E quanto ao álbum, o que se pode dizer de "Nightclubbing" é que sobre um repertório variado e extremamente bem escolhido, ela coloca suas voz negra e poderosa de maneira singular e recriadora.
Não somente um álbum sofisticado, um álbum chiquérrimo, mas sobretudo um álbum brilhante.
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FAIXAS:
  1. " Walking in the Rain "( H. Vanda , G. Young ) - 4:18
  2. " Pull Up To The Bumper" "(Koo Koo Baya, Grace Jones, Dana Mano) - 4:41
  3. " Use Me "( Bill Withers ) - 5:04
  4. " Nightclubbing" ( David Bowie , James Osterberg ) - 5:06
  5. " Art Groupie" (Barry Reynolds, Grace Jones) - 2:39
  6. " I've Seen That Face Before (Libertango) "( Astor Piazzolla , Barry Reynolds, W. Dennis, N. Delon) - 4:30
  7. " Feel Up "(Grace Jones) - 4:03
  8. " Demolition Man "( Sting ) - 4:03
  9. "I've Done It Again" (Barry Reynolds) - 3:51
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Ouça:
Grace Jones Nghtclubbing


Cly Reis

quinta-feira, 24 de março de 2022

"Duna", de David Lynch (1984) vs. "Duna", de Denis Villeneuve (2021)


Uma substância valiosa e a disputa pela administração e a exploração desse produto no planeta onde ele é extraído está  no centro das ações de ambas as versões de "Duna". O duque Atreides é incumbido pelo Imperador para a tarefa de chefiar o planeta Arrakis, mas o que parecia ser uma honra e benefício mostra-se, na verdade, uma armadilha tramada pelo Império com os perigosos Hakkonen para eliminar o duque e seu filho, o jovem Paul Atreides que, gerado da relação com uma bruxa, tem atributos um tanto especiais que se acentuam ainda mais quando o jovem chega a Arrakis. Seus talentos, sua sensitividade, seus poderes que ele própro não domina completamente, mostram-se fundamentais, especialmente depois que seu pai é traído e morto pelos Hakkonen, e o rapaz, fugitivo, é obrigado a se isolar no deserto com sua mãe, se aproximando a cada momento, a cada passo, de uma profecia que anuncia um "escolhido" que liderará o povo de Arrakis e acabará com a tirania do Império.
Não estou entre os tantos que deploram a adaptação de David Lynch, de 1984, para o romance de Frank Herbert. O filme tem bom elenco, com Jürgen Prochnow, de "O Barco", Sean Young, de "Blade Runner", Max Von Sydow, de "O Sétimo Selo", Patrick Stewart, que viria  estrelar a saga "Star Trek", o astro pop Sting, e Kyle McLachlan que estrelava seu primeiro longa mas que seria, a partir dali, um dos atores preferidos de David Lynch. Os figurinos são incríveis, a direção de arte é bem impressionante, os cenários muito interessantes, a fotografia, na maioria das vezes, é bem competente, e além de tudo isso, a trilha sonora ficava por conta de Toto e Brian Eno.
O grande problema do filme de Lynch foi a parte técnica. Os efeitos especiais, para um filme de ficção científica e com o bom orçamento que teve, são, no mínimo decepcionantes. Mesmo se levando em consideração a época, as limitações técnicas, a primariedade de alguns recursos, eles são, em determinados momentos, quase risíveis. A armadura, por exemplo, que envolve o corpo dos guerreiros de Atreides, uma espécie de campo de força, é simplesmente ridícula. Uma animação geométrica constrangedora. E não me venham dizer que era o que dava pra fazer em 1984 porque, àquelas alturas, já tinham sido feitos três "Star Wars" (1977, 1980, 1983), "Blade Runner" (1982), dois "Superman" (1978, 1980), só pra ficar em alguns, com efeitos visuais muito mais impressionantes e convincentes.
Mas se ficasse limitado a isso, dava pra dar um desconto. A narrativa é apressada, tem muito texto narrado, o que, ao invés de ajudar, atrapalha mais a compreensão, e a última meia hora é atropelada e confusa. Aí, o resto de boa vontade que podia-se ter com o filme de 1984, foi pro espaço.
O que podia ser um gol contra a nova versão de "Duna", que é o fato de não acabar a história (não estou dando spoiler pois todo mundo sabe que vão rodar uma sequência), acaba sendo positivo pelo fato de não correr com a trama pra resolver logo, como fez seu antecessor. O novo "Duna" usa mais tempo mas desenvolve bem a história, sem presa, com paciência, sem precisar recorrer a uma narração explicativa durante todo o filme, e ainda dá mais profundidade e destaque a alguns personagens subutilizados no primeiro, aproximando-os do espectador. Colabora para isso, também, o elenco, igualmente muito qualificado, como no original: Oscar Issac, de "Ex-Machina" e da nova saga "Star Wars", Rebecca Ferguson, de Doutor Sono" e da franquia "Missão Impossível", Jason Momoa ("Aquaman"l), a veterana Charlotte Rampling ("Coração Satânico", "Melancolia"), a carismática Zendaya, dos novos "Homem-Aranha", e, capitaneado o time, o grande queridinho do momento, Timothée Chalamet, de "Me Chame Pelo Seu Nome" e "Não Olhe Para Cima", ente outros, no papel do "messias" Paul Atreides.
A parte técnica, então, que era o ponto fraco do outro, é exatamente uma das maiores virtudes do novo, com efeitos visuais e som espetaculares, não à toa indicados ao Oscar, além da fotografia, com seu visual sombrio e suas locações no deserto simplesmente impressionantes.

"Duna" (1984) - trailer


"Duna" (2021) - trailer


Elenco por elenco, vamos deixar no empate; protagonista por protagonista, também não vejo grande vantagem para ninguém; no entanto, na caracterização e desenvolvimento dos personagens, o remake salta na frente no placar. E, a propósito de desenvolvimento, o andamento do filme e sua estrutura garantem mais um para a nova versão. Os cenários e a direção de arte, os figurinos do primeiro garantem um tento para o time de 1984, contudo, a fotografia, magistral, do novo filme acabam com a alegria do antigo "Duna" que tem que buscar mais uma no fundo das redes. De um modo geral, os efeitos especiais do filme de Villeneuve são muito melhores, mais espetaculares e, sem dúvida representam um golaço para o time de 2022, embora tenhamos que fazer justiça para com os vermes do primeiro filme que também era muito impressionantes, mesmo para as limitações da época. Em compensação, o que os habitantes subterrâneos do deserto de Arrakis acrescentam de positivo, a tal armadura que envolve o corpo dos guerreiros, tira. Quase um gol contra.
Quanto aos caras da casamata, ou seja, os diretores, são dois maestros competentíssimos e, apesar de ser fã de David Lynch, tenho que reconhecer que, mesmo com um bom material humano, com um bom investimento, ele comete alguns erros que comprometem o desempenho final de seu time, ao passo que Denis Villeneuve conduz seu time com precisão, usa um esquema mais adequado para a situação de jogo e, assim, extrai o melhor de cada um de seus atletas.
Duna '84 foi indicado ao Oscar de melhor som mas sua refilmagem atual, além de ser indicada na mesma categoria, ainda recebeu nomeações para outras nove, incluindo melhor filme. Por aí já dá pra ter um pouco da ideia da diferença entre os dois filmes. Duna '21 está muitos anos-luz à frente.

Alguns pontos de comparação entre os dois filmes:
No alto, a Reverenda Madre da ordem das Bene Gasserit nas duas versões.
 original, à esquerda, mais requintada e exótica, e à direita, a nova, mais sobria.
Na segunda linha, o barão Hakkonen, o original típico das bizarrices de David Lynch,
o outro, mais sério, sinistro é mais fiel ao livro.
Em seguida, os vermes do deserto, a esquerda o antigo e à direita, o novo.
Apesar das deficiências dos efeitos visuais do primeiro filme, os vermes de David Lynch se salvam 
e até se destacam como uma das coisas boas do filme.
Em compensação o escudo virtual do primeiro filme, à esquerda, na quarta faixa, é lamentável,
enquanto o outro, da nova versão. é meramente discreto, mas funciona melhor visualmente.
E para finalizar, os dois Paul Atreides.
Kyle McLaclan, do primeiro filme, não decepciona e vai bem no papel e a derrota não passa por ele,
 bem como o queridinho do momento, Timothée Chalamet, que se não é brilhante , não compromete também. 






Cly Reis 

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Dia de Oscar


E esta noite acontece a cerimônia de entrega do Oscar, um dos prêmios mais importantes e, sem dúvida, o mais badalado da indústria cinematográfica. O musical "La La Land - Cantando Estações", com 14 indicações surge como inevitável grande favorito mas é bom abrir o olho com os bons "Manchester à beira mar", "A Chegada" e "Moonlight" que correm por fora também com boas possibilidades.
Confira a lista com todos os indicados:


Melhor Filme
Melhor Diretor
Melhor Atriz
Melhor Ator
Melhor Ator Coadjuvante
Melhor Atriz Coadjuvante
 Melhor Roteiro Original
 Melhor Roteiro Adaptado
Melhor  Animação
 Melhor Documentário em Curta-Metragem
  • Extremis
  • 4.1 Miles
  • Joe's Violin
  • Watani: My Homeland
  • Os Capacetes Brancos
Melhor Documentário em Longa-Metragem
  • Fogo no Mar
  • Eu Não Sou Seu Negro
  • Life, Animated
  • O.J.: Made in America
  • 13ª Emenda
 Melhor Longa Estrangeiro
  • Terra de Minas (Dinamarca)
  • A Man Called Ove (Suécia)
  • O Apartamento (Irã)
  • Tanna (Austrália)
  • Toni Erdmann (Alemanha)
Melhor Curta-Metragem
  • Ennemis Intérieurs
  • La Femme et le TGV
  • Silent Nights
  • Sing
  • Timecode
Melhor Curta em Animação
  • Blind Vaysha
  • Borrewed Time
  • Pear Cider and Cigarettes
  • Pearl
  • Piper
Melhor Canção Original
  • "Audition (The Fools Who Dream)" | Música de Justin Hurwitz, canção de Benj Pasek e Justin Paul - La La Land: Cantando Estações
  • "Can't Stop the Feeling" | Música e canção de Justin Timberlake, Max Martin e Karl Johan Schuster - Trolls
  • "City of Stars" | Música de Justin Hurwitz, canção de Benj Pasek e Justin Paul - La La Land: Cantando Estações
  • "The Empty Chair" | Música e canção de J. Ralph e Sting - Jim: The James Foley Story
  • "How Far I'll Go" | Música e canção de Lin-Manuel Miranda - Moana: Um Mar de Aventuras
Melhor Fotografia
Melhor Figurino
Melhor Maquiagem e Cabelo
Melhor Mixagem de Som
Melhor Edição de Som
Melhores Efeitos Visuais
Melhor Design de Produção
  • Patrice Vermette (design de produção) e Paul Hotte (decoração de set) - A Chegada
  • Stuart Craig (design de produção) e Anna Pinnock (decoração de set) - Animais Fantásticos e Onde Habitam
  • Jess Gonchor (design de produção) e Nancy Haigh (decoração de set) - Ave, César!
  • David Wasco (design de produção) e Sandy Reynolds-Wasco (decoração de set) - La La Land: Cantando Estações
  • Guy Hendrix Dyas (design de produção) e Gene Serdena (decoração de set) - Passageiros
Melhor Edição
Melhor Trilha Sonora


C.R.