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sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

cotidianas #817 - A Lei do Ex





Renata havia sido casada com Kike Diaz. Argentino, pinta de galã, tão famoso pelas façanhas fora de campo como pelos gols dentro dele. A vida de escândalos, traições e incertezas ao lado do Galante Platense, em Paris, quando Kike jogava no Pont Neuf, fez com que Renata Maia, ex-modelo badaladíssima em sua época de passarelas, o deixasse e retornasse com os filhos para o Brasil. Agora era esposa de Ricardo Afonso, jogador típico bom moço, daqueles que não dão problema para o clube e são o sonho de qualquer treinador pois, além de não render preocupação por seu comportamento extracampo, dentro dele fazia o modelo do jogador moderno, daqueles que executam diversas funções, o típico jogador múltiplo, uma espécie de coringa do time.

O casal Renata Maia e Ricardo Afonso era o dengo da mídia brasileira. O jogador exemplar, atleta modelo, educado, articulado, que já começava a suscitar clamores por uma convocação para a Seleção por parte da imprensa esportiva, e a ex-modelo internacional cuja vida pessoal outrora atribulada, parecia agora ter encontrado a paz junto ao homem certo. No entanto, não era segredo para ninguém que o grande amor da vida de Renata fora Kike Diaz. Enquanto estiveram juntos, eram a sensação da mídia esportiva e social, fosse pelos bons momentos, viagens, extravagâncias e até fotos intimas vazadas, mas também pelas brigas, pelas agressões de Kike, suas prisões, fianças, separações temporárias e perdões. Não fosse pela vida intranquila, incerta, insegura, Renata nunca teria deixado Kike. Ela o amava. Mas todo amor tem limite e a bela modelo preferiu a tranquilidade de uma vida normal em seu país a um amor bandido.
Ricardo fora sua tábua de salvação. Ao voltar ao Brasil, logo se conheceram numa festa da Confederação, se aproximaram e em pouco tempo estavam casados. Ela o amava mas era um amor diferente do que sentia por Kike. Era um carinho. Era grata pelo fato do marido lhe proporcionar uma vida normal. Sentia-se respeitada, valorizada única. Kike era diferente... Era algo quente, algo que lhe queimava por dentro. De certa forma, agradecia o fato dele estar do outro lado do oceano.
Mas a distância oceânica seria reduzida a alguns estados de distância. Kike fora contratado por um clube brasileiro e a imprensa, que não dorme no ponto, vendo que aquele assunto rendia, não demorou a botar uma lenha numa fogueira que nem existia, só para ver se pegava fogo. Pegou! Manchetes de sites ou de jornais faziam, supunham, sugeriam um novo contato entre os dois, redes sociais pipocavam se perguntando como Renata reagiria à proximidade com seu ex-affair, e até mesmo programas esportivos respeitáveis não deixavam de largar, nem que fosse, uma frasezinha maliciosa a respeito do assunto.
Aquilo tudo começava a incomodar Ricardo. Ele passara a agir de maneira diferente com Renata. Nunca desconfiara dela mas agora, com toda essa coisa, ficava com uma pulguinha atrás da orelha. Qualquer deslocamento mais longo que ela tivesse que fazer, Ricardo já  pensava que pudesse ter pegado um avião, ido até o outro, e voltado algumas horas depois. Percebeu que era bobagem quando, solicitada por Kike a permitir que visse os filhos, Renata pediu para que sua mãe, a avó dos meninos, viajasse com eles e os levasse até o pai.
Era sinal que ela não pretendia vê-lo, não queria vê-lo, não tinha a menor intenção de reencontrá-lo.
Mas Ricardo sabia que haveria um momento em que os dois, inevitavelmente, estariam muito perto, na mesma localidade, e seria quando o time de Kike fosse jogar em sua cidade. E aquele momento chegara. Seus clubes se encontrariam pelo campeonato nacional e Kike viria junto com seu time. Às vésperas do jogo a imprensa recomeçou a jogar o veneno. "Renata Maia reencontrará seu grande amor", "Te cuida, Ricardo".
A cabeça de Ricardo Afonso foi a mil. Tinha que dar um jeito de tirá-la da cidade por aqueles dias. E se ela tivesse vontade de vê-lo? Se ele insistisse para encontrá-la? Se marcassem um encontro enquanto estava no treino? A inquietação  aumentou quando, certo dia, ao entrar no quarto, Renata interrompera abruptamente uma conversa ao celular assim que percebera sua presença, guardando o aparelho apressadamente. Perguntada sobre a ligação, respondeu que era a Kamille e não, não desligara rápido, já estava mesmo acabando a ligação no momento em que o marido adentrara o dormitório. Ricardo não engoliu muito aquilo. Até por isso, tratou de tomar as devidas providências quanto ao dia do jogo. Renata não iria! Ela que normalmente ia vê-lo no estádio, desta vez ficaria em casa. O marido a convencera a muito custo. Ela não via motivo mas Ricardo alegava que seria melhor assim. Embora jogadores e familiares não frequentassem áreas comuns no estádio, podiam se esbarrar por algum corredor e era melhor evitar que isso acontecesse, sem falar que a imprensa poderia armar um 'encontro surpresa' à  beira do gramado ou depois do jogo só para garantir audiência. Um tanto contrariada, Renata enfim concordou. Ficaria em casa naquela tarde.
Ricardo foi mais tranquilo para a concentração.
Horas depois, no vestiário, pensava em Renata enquanto amarrava as chuteiras. No quanto era feliz com aquela mulher, na sorte que tivera em encontrá-la. Seu pensamento, no entanto, fora interrompido pelo Sávio, o lateral do time: "Viu que o Kike não vai jogar?". Os olhos de Ricardo quase saltaram da cara. "Eu soube agora há pouco por um cara da rádio, aqui na porta do vestiário. Diz que brigou com o treinador. Nem concentrou...". Ricardo queria sair dali e correr pra casa mas era tarde demais. Era hora de entrar em campo e, de mais a mais, o que alegaria para o treinador? O que diria para a torcida? Que estava com medo que o sua mulher estivesse na cama com o atacante do time rival? Que temia que ela fugisse com o ex?
Entrou em campo e jogou.
Jogou mal. Intranquilo, errou passes, foi pouco participativo e acabou substituído. Desceu para o vestiário, nem tomou banho e, aproveitou a oportunidade para para sair mais cedo do estádio. A atitude de Ricardo Afonso, tido como bom moço como atleta exemplar, agora levantava especulações sobre racha no grupo e insatisfação com o treinador.
Não interessava o que pensassem. Queria chegar o quanto antes em casa e certificar-se que a sua Renata estava lá.
Abriu a porta.
"Renata...". Nada na sala. "Renata...?". Nada no quarto. "Renata!!!". Nada em lugar nenhum. Ricardo Afonso arriou no sofá. Ficou ali sentado por um bom tempo com os olhos fixos no chão. Minutos depois a tela do celular acendeu. A mensagem no celular nem deu tempo de lhe dar algum alento. Era a mãe de Renata dizendo que as crianças estavam bem e que mandavam um beijo.
Apenas deixou o aparelho cair a seu lado.
O jogador ainda estava naquele estado de prostração quando ouviu barulho da fechadura. A porta abriu. Era Renata.
Ele não perguntou nada mas seu olhar angustiado ansiava por uma resposta.
"Não aguentei ficar em casa, Ric. Fui te ver jogar.", disse deixando a bolsa no aparador. "Você saiu cedo? Não esperou o time, as entrevistas... Eu fiquei lá te esperando que nem uma boba. Depois que eu os repórteres começaram a dizer que você  tinha saído chateado de campo, que foi embora do estádio...Que que aconteceu?"
Ele não respondeu. Simplesmente levantou-se do sofá, andou em direção a ela, a abraçou e começou a chorar.



Cly Reis

quinta-feira, 29 de junho de 2023

"Onze Homens e Um Segredo", de Lewis Milestone (1960) vs. "Onze Homens e Um Segredo", de Steve Soderbergh (2001)






Onze de cada lado. De um lado "Onze Homens e um Segredo", de 1960, do outro "Onze Homens e um Segredo", de 2001. Vinte e dois homens e um só objetivo: a vitória. Dois timaços! No time de 1960, Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr., Shirley McLaine, Angie Dickinson, Cesar Romero, no de 2001, George Clooney, Brad Pitt, Matt Damon, Julia Roberts, Don Cheadle, Andy Garcia.
Duas equipes organizadas, cheias de jogadas ensaiadas e que, pode-se dizer, são especialistas em roubadas de bola. Tanto que o grande objetivo em ambos os casos, é roubar uma verdadeira bolada de alguns dos maiores cassinos de Las Vegas. Embora a meta seja a mesma, a montagem dos elencos é feita de forma bem distinta e as estratégias utilizadas para chegar ao "gol" têm suas diferenças.
Enquanto que, no filme original, o grupo que pretende realizar o ousado roubo é constituído por ex-militares que se conheceram na Segunda Guerra, no novo, a gangue é formada por trapaceiros de marca maior, dos mais variados estilos (um ladrão de bancos, outro batedor de carteira, outro trapaceiro nas cartas...). Se no primeiro estão a serviço de um milionário ganancioso, no segundo são recrutados por Danny Ocean, um manjado salafrário que acaba de sair da cadeia mas que já planeja um golpe de proporções inimagináveis.
No original, o roubo em si, ainda que bem elaborado, é bem mais simples que o da nova versão, que, por sua vez, envolve muito mais complicadores e dificuldades, como seguranças, senhas, aparelhagem, etc. Em "Onze Homens..." de 1960, a ideia é, na noite de ano novo, na hora da virada, causar um blecaute em Las Vegas, explodindo uma torre de alta-tensão e, durante o tumulto, tanto da comemoração quanto da escuridão, aproveitar o destravamento dos cofres, e realizar o assalto em cada um dos cinco cassinos.
No remake, também há o elemento do blecaute, no entanto, sua duração é bem mais curta e por isso mesmo, a ação dos bandidos tem que ser muito mais bem pensada e ágil. O corte de energia, causado neste segundo filme, por uma pequena 'explosão nuclear' acontecerá durante uma grande luta de boxe nas dependências de um dos cassinos, evento que fará com que muito mais dinheiro circule naquela noite. A "vantagem", por assim dizer, dos ladrões da nova versão é que eles têm que chegar a apenas um cofre que atende às três principais casas de jogos da cidade... Ótimo? Só que não! Exatamente por ser um único local de armazenamento de toda a féria dos cassinos, a segurança é muitíssimo mais reforçada e a parafernália tecnológica de lasers, identificações, travamentos, etc., é praticamente intransponível.
Até para superar toda essa dificuldade, o plano de execução da refilmagem é muito mais elaborado e surpreendente. O antigo é legal, tem o spray infravermelho que somente os integrantes do grupo conseguem ver com os óculos especiais na hora do apagão, a ação sincronizada de entrar nos cofres exatamente na hora que as pessoas cantam a canção de ano novo, o dinheiro nas latas de lixo, o caminhão de coleta urbana saindo sem suspeitas. Tudo muito bacana. Só que no novo, tem o roubo do gerador do museu de tecnologia pra causar um apagão na cidade toda, o velho "milionário grego" distraindo a atenção do proprietário com a maleta, o jovem Linus se passando por fiscal de jogos para roubar a senha do chefão do cassino, um pequeno chinês acrobata que cabe dentro de um carrinho de coleta de dinheiro, uma explosão fake dentro do cofre, a entrada da S.W.A.T., um falso tiroteio, a fuga do falso furgão e a saída tranquila dos ladrões, pela porta da frente, tudo isso enquanto o líder, Ocean, leva uma "surra" numa sala isolada para lhe servir de álibi de que em momento algum participara de qualquer daqueles eventos. 

"Onze Homens e Um Segredo" (1960) - trailer


"Onze Homens e Um Segredo" (2001)  - trailer


No mais novo, embora paire alguma dúvida, ao final, quanto à impunidade do grupo, uma vez que os capangas do proprietário ainda estão de olho em Ocean e sua turma, mesmo meses depois do acontecido, o êxito da operação em si, se confirma e em princípio, cada um sai com sua parte. Já no antigo, embora o roubo se concretize, um incidente com um dos integrantes, o eletricista, que sofre um infarto na rua logo após a missão, é a pista para que o sagaz e oportunista Duke Santos, vivido por Cesar Romero, o Coringa da antiga série de TV do Batman, padrasto de um dos integrantes da gangue, ligue alguns pontos e perceba que o enteado está envolvido. Desta forma, Santos, pedindo metade do ganho do assalto, chantageia o grupo que se vê obrigado a ocultar o dinheiro e, nisso, acaba, de maneira frustrante, perdendo tudo o que havia conquistado.
O mais recente leva vantagem também no ritmo. Enquanto o anterior era mais arrastado até o recrutamento de todos os integrantes, o mais novo é mais dinâmico e até mesmo essa etapa é mais envolvente e interessante. A propósito, a montagem, a edição do remake é grande responsável por essa dinâmica. Cortes rápidos, telas divididas, zooms in, flashbacks, películas diferentes, imagem granulada... Um show de Steven Soderbergh e sua equipe.

"Onze Homens e Um Segredo" (1960) - abertura de Saul Bass


Apesar de tudo isso, os Onze Homens do oscarizado Lewis Milestone é que saem na frente, logo nos primeiros movimentos do jogo, com um gol relâmpago de um décimo segundo jogador. A abertura genial do mestre Saul Bass, cheia de grafismos imitando os luminosos das fachadas dos cassinos, garante um gol para o time de 1960, antes do primeiro minuto de jogo. Mas basta o time de Steve Soderbergh botar a bola no chão para passar a dominar o jogo. A montagem alucinante garante o empate, o roteiro mais elaborado, mais inusitado, garante a virada e a trilha sonora espetacular, cheia de soul e jazz, marca o terceiro. Milestone tem Sinatra com a 10, ele é bom, joga muita bola, apesar de muita gente achar que ele era bom só de microfone, mas Clooney, o homem de confiança do professor Soderbergh, é o cérebro do time e faz melhor essa função que o Rei da Voz. Gol dele. 5x1. Brad Pitt até está melhor como braço direito do chefe da gangue, na atualização, do que Dean Martin, praticamente na mesma função no time antigo, Matt Damon é mais interessante e completo que seu equivalente Peter Lawford, Don Cheadle mais cativante que Richard Conte como o especialista em elétrica, mas o time de 2001 não transforma essas oportunidades em gol. Mas num drible desconcertante, daqueles de derrubar narrador, o desfecho do roubo com toda a enganação à qual nós espectadores somos submetidos, com bolsas cheias de pornografia num carro comandado por controle remoto, e com os ladrões saindo, pela porta da frente do cassino, com as bolsas de dinheiro, é um golaço numa jogada brilhantemente construída. O time de 1960 desconta pela ótima cena da contagem regressiva para a virada do ano, intercalada por um balão vermelho na tela, cortando de um para o outro cassino. 6x2 é o placar final da partida.

Dois grandes elencos mas, com um time mais bem encaixado, com jogadas mais trabalhadas e com um craque mais centralizador das jogadas, os onze de Ocean da versão de 2001, à direita, levam com alguma tranquilidade e faturam a premiação milionária da competição.


Um oceano de distância separa o time de 1960 do time de 2010
Vitória tranquila como roubar doce de criança.






Cly Reis


quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Copa do Mundo Kraftwerk - classificados das semifinais


Se lá no Catar já sabemos que argentinos e franceses decidirão o Mundial de futebol, por aqui, finalmente conheceremos os finalistas da Copa do Mundo Kraftwerk!

Como cada dupla de jurados ganhou uma partida, corríamos o risco que cada um escolhesse um vencedor. Deste modo, convocamos um convidado "coringa" para cada confronto, de modo a não correr o risco de empate. Anderson Reis, estudante, de Porto Alegre, ajudando a decidir o confronto entre Radioactivity e Metal on Metal, e José Júnior, fotógrafo, de Niterói, colaborando em Tour de France e Hall of Mirros. 

Assim, nossos especialistas, juntamente com os participantes de apoio, avaliaram as semifinais e chegaram aos vencedores.

Vamos ver então, quem vai à decisão?


Confere aí, abaixo, o jogo de cada um:



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TOUR DE FRANCE 

THE HALL OF MIRRORS



Luna Gentile

Um dos confrontos mais difíceis que eu peguei e dois times que não estão para brincadeira. Tour De France é incrivelmente completa e bem construída sendo da década de 80. Mas The Hall Of Mirros é de outro mundo, não da para explicar essa musica que vai se construindo com passos e um teclado tranquilo. E então o meu placar é:
Tour de France 2 x 4 The Hall Of Mirrors


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Luciana Danielli

Hall of Mirrors ganha nesta semifinal. Essa música é viciante e profunda, um verdadeiro poema sonoro!! Salve e muita comemoração pra Hall of Mirrors!
Tour de France 0 x 2 The Hall of Mirrors

 

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José Júnior

Semifinal tensa. Os times chegaram ao segundo tempo no zero a zero, pois a cada ataque, uma defesa perfeita. A velocidade ritmada de Tour de France ajudou a chegarem aos pênaltis, mas Hall of Mirrors refletiu os jogadores adversários, com sua melodia mais melancólica, os confundindo, e ganhou a partida nos penais. Um a zero para Hall of Mirros nos pênaltis.
Tour de France 0 (0) x 0 (1) The Hall of Mirrors


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RADIOACTIVITY 

METAL ON METAL




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Cly Reis

Jogo grande. Duas camisetas pesadas. Dois timaços! 
Metal on Metal tem todas aquelas variações 'táticas', a fusão com Trans-Europe Express, os elementos que entram, os trilhos, o túnel, os vagões, o ápice, quando tudo se entra e se mistura, mas Radioactivity é um time agressivo. é um pós-punk antes do punk existir, é um metal sem guitarras, sem falar naquele solo de código Morse que é pra quebrar qualquer um. Aí não tem jeito. Radioactivity detona os trilhos de Metal on Metal e vence a partida.
Radioactivity 4 x Metal on Metal 2


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Daniel Rodrigues

Times grandes, que conduzem bem o jogo, que não têm pressa em alongar a bola. Times que sabem do seu tamanho e qualidades. “Metal on Metal”, que já abre na sequência de “Trans-Europe Express” com a locomotiva a pleno vapor, vai pro ataque no início e marca nos primeiros segundos da partida. Mas do outro lado tem “Radioactivity”, que com seu início épico, em que o sinal de radioatividade vai se transformando nos acordes musicais, mal dá tempo da comemoração e também faz o seu. Que jogo! Na sequência, “Metal”, na parte em que os trilhos vão sendo construídos, põe outro no placar, mas “Radioactivity” não se intimida, e devolve a igualdade no solo de contador Geiger. Partidaça! Os times seguem se estudando, se respeitando, mas sem deixar de oferecer perigo na meta adversária. Até que, já na prorrogação, “Metal” não resiste à imponência de “Radioactivity” e leva o terceiro, que sacramento o placar de uma legítima semi de Copa Kraftwerk:
Radioactivity 3 x 2 Metal on Metal


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Anderson Reis

Metal on Metal começa o jogo fraca no primeiro tempo, já no segundo ela da uma animada, porém não consegue bater a Radioactivity que já é um time bom do início ao fim.
Radioactivity 2 x 1 Metal on Metal


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FINALISTAS:
RADIOACTIVITY
THE HALL OF MIRRORS

quinta-feira, 28 de julho de 2022

"The Batman", de Matt Reeves (2022)




Detective Comics... Quadrinhos de detetive. 
O último filme do homem-morcego, "The Batman", honra as origens da editora que o publicou desde suas primeiras aventuras: é uma história de detetive. 

O novo Batman é um filme policial. Uma trama envolvente, instigante, na qual o vilão, por mais que originalmente seja um de seus caricatos arqui-inimigos dos quadrinhos, neste longa fica muito mais caracterizado como um perigoso psicopata do que por uma figura colorida com roupa extravagante.

"The Batman" faz uma espécie de "Ano Um" do homem-morcego. Um herói ainda jovem, idealista, tentando entender toda a sujeira dos subterrâneos de Gothan City e percebendo que a coisa toda é ainda muito maior do que imaginava. Ironicamente, quem mostra isso a ele é exatamente o vilão: um maluco autointitulado Charada passa a cometer assassinatos e deixar nas cenas dos crimes enigmas que vão desvelando verdades indesejáveis sobre peixes grandes da cidade, como o prefeito, o promotor e até, imagine só, o pai do nosso jovem magnata.

Bruce é um justiceiro ainda confuso, inseguro, o que torna seu personagem noturno, um herói vulnerável em muitos momentos, tanto física quanto psicologicamente. Em meio a essa roda-viva de crimes do Charada, brigas de poder no submundo, eleições para prefeito, policiais corruptos e prisões dos chefes da máfia de Gothan, o mascarado se vê às voltas com Selina Kyle, uma jovem dançarina e garçonete nas boates do mafioso Falcone, e que busca respostas sobre o paradeiro de uma amiga desaparecida que pode estar mais envolvida com coisas perigosas do que ela possa imaginar. Juntos, com motivações diferentes, os dois mergulham em toda a sujeira da cidade, que respinga nos dois e que é apresentada ao povo de Gothan, de maneira prazerosa e sádica, pelo Charada.

O jovem Bruce, tentando juntar as peças do quebra-cabeça
do Charada

"The Batman" é uma grande celebração ao herói mais humano dos quadrinhos. Além de voltar ao início da saga do órfão sedento por justiça, o filme de Matt Reeves, mesmo tão contemporâneo, rende discretas homenagens à série clássica dos anos 60 em detalhes como o da máscara de couro, o próprio nariz da mascara (os mais atentos perceberão), o Batmóvel, mais "carrão" mesmo, mais parecido com a máquina clássica de Adam West,  sem falar nas tomadas superiores dos ambientes e até mesmo as semelhanças com as sequências de luta.
O novo Charada, simplesmente assustador.
Um dos melhores psicopatas do cinema nos
últimos tempos.

Robert Pattinson, tão discutido, tão contestado, está perfeito no papel de um Batman hesitante; Paul Dano é um maníaco assustador lembrando muito John Doe, o psicopata fanático de "Seven", de David Fincher; a Mulher-Gato é sexy mas sua participação não se limita a seus dotes físicos; a amostragem de Pinguim é promissora; a "canja" de Coringa é instigante; e o final (sem querer dar spoiler) não caracteriza exatamente uma vitória do herói, o que torna o filme ainda mais interessante.

Um filme que dignifica o herói mascarado, dignifica os quadrinhos, que se justifica como um longa de Batman, que prende a atenção, nos deixa envolvidos, nos faz querer ver uma sequência... Isso, DC! Era isso que queríamos! "The Batman" é um filme policial, é um filme noir, é um thriller psicológico, é um suspense, para só depois de tudo isso, ser um filme de herói.



Cly Reis


segunda-feira, 11 de julho de 2022

“Medida Provisória”, de Lázaro Ramos (2022)

 

Filmes de estreia dirigidos por atores, ainda mais quando já consagrados, embora comuns, são sempre uma faca de dois gumes. Se por um lado o prestígio e a experiência conquistados no palco e nos sets favorecem a direção de atores, elemento essencial a qualquer obra de ficção audiovisual, por outro a inexperiência daquela função e a falta de conhecimento do que se passa do outro lado da câmera podem prejudicar o resultado final. Pode-se dizer, no entanto, que Lázaro Ramos passou no teste. Em “Medida Provisória”, assim como seu conterrâneo e colega Wagner Moura, que debutou como cineasta com o excelente "Marighella" (2019), o celebrado artista baiano entrega um filme ousado para os padrões do cinema nacional e, ao mesmo tempo, acerta no nível do discurso – claro, muito ajudado pelo desempenho de suas atuações.

A trama se passa num Brasil do futuro em que uma inciativa de reparação pelo passado escravocrata provoca uma reação no Congresso Nacional, que aprova uma medida provisória, que afeta diretamente os cidadãos negros. A vida de um casal, formado pela médica Capitú (Taís Araújo) e pelo advogado Antonio (Alfred Enoch, conhecido pela participação na franquia Harry Potter no papel do bruxo Dino Thomas), bem como a de seu primo, o jornalista André (Seu Jorge), vira de ponta-cabeça assim que a medida passa a vigorar e os negros, por meio da coação e da violência, começam a ser perseguidos para serem mandados de volta para a África. Por força das circunstâncias, os protagonistas são obrigados a se separarem e não sabem se conseguirão se reencontrar.

O longa é uma adaptação da bem-sucedida peça “Namíbia, Não!”, de Aldri Anunciação, cuja história fantástica e distópica pode funcionar muito bem escrita, mas não necessariamente quando transposta para audiovisual. “Medida...”, mesmo que com resultado distinto do filme de Moura, uma dramatização biográfica, acerta na difícil equação entre fábula e crítica social sem pender para o artificial, a superficialidade ou, noutro extremo, o adensamento desnecessário. Lázaro consegue, pelo contrário, dar toques de drama, aventura, ficção, suspense, comédia e romance sem perder a mão.

Taís e Alfred vivem o casal protagonista

Chamam atenção, por exemplo, as cenas de violência. Em nenhum momento há explicitação, com sangue, traumas ou coisa que o valha. Porém, é tudo muito crível, como nos lances em que a polícia (assustadora, mascarada e sem expressão) ataca as pessoas negras na rua. Nem carnificina, visto que a situação já é suficientemente terrível, nem a má encenação que por muito tempo foi típica de cinemas do “terceiro mundo” como o do Brasil, pobre tecnicamente até o início deste novo século. Mérito total da direção.

Uma única exceção: a querida e, literalmente, divina Dona Diva Guimarães, que quase compromete quando é exigida em atuação. Senhora das classes estudantis da vida, ela, que tanto embasbacou a Flip de 2017 com sua lucidez de mulher preta e emocionou o próprio Lázaro quando entrevistada no Espelho, do Canal Brasil, justificadamente não tem traquejo para isso. Sua representação já é muito bem aproveitada numa das cenas iniciais do longa, quando ela aparece como Dona Elenita, a primeira negra a receber a indenização pela dívida do estado pela escravidão, sem grandes exigências com atriz. Porém, Lázaro força um pouco a barra ao colocá-la, momentos depois, na sequência dos afrobunkers, a contracenar com Taís. Aí, ficou bem desigual. No entanto, mesmo com a importância simbólica dada a seu papel, o “amadorismo” não é suficiente para desequilibrar o filme. Afinal, quanta produção de Hollywood altamente qualificada tecnicamente que tem também atuações fracas?

Seu Jorge: ator coringa do cinema nacional
Afora este breve deslize, no que se refere às atuações Lázaro comanda seus colegas com muita destreza. Assim como Moura em “Marighella”, cujo grande trunfo está na entrega dos atores - entre os quais o próprio Seu Jorge, fundamental aos dois filmes -, Lázaro faz funcionar a função psicológica que cada papel desempenha: Adriana Esteves (como Isabel), peça da engrenagem fascista da máquina pública; Renata Sorrah (Dona Izildinha), mulher racista da fatia branca privilegiada da sociedade; Seu Jorge, emoção e instinto do povo negro; Taís, negra em redescoberta de sua ancestralidade; Alfred; transformação da racionalidade ao estado de autorreconhecimento e resistência.

Também por este aspecto, aliás, os filmes de Lázaro e Moura dialogam. De ângulos diferentes, porém complementares, ambos - juntamente com outro bom filme desta safra recente, "Doutor Gama", de Jeferson De - tratam da questão do negro e da necessidade de se olhar para o direto à cidadania como reparação histórica. A reflexão a este exercício, no entanto, faz-se de uma forma ou de outra: seja pela valorização de nossos heróis nacionais de verdade ou fazendo-nos refletir sobre uma história inventada como uma metáfora da nossa realidade como nação.

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trailer de "Medida Provisória"de Lázaro Ramos


Daniel Rodrigues

terça-feira, 16 de março de 2021

Oscar 2021 - Os Indicados

 



2020 foi uma no esquisito! Tudo parou, coisas foram suspensas, canceladas, adiadas, e não foi diferente com a indústria cinematográfica. Por conta disso, a premiação do Oscar, que, a essas alturas já teria sido realizada, em circunstâncias normais, só agora teve divulgados os indicados das produções da última temporada.
Mas se a época foi complicada, repleta de interrupções percalços e dificuldades, não foi por isso que deixamos de ter grandes filmes e ótimos concorrentes este ano. "Mank", filme de David Fincher, lidera as indicações com 10 categorias, incluindo melhor filme mas, contra minhas apostas iniciais, fica fora de melhor roteiro. original, contudo, o número de indicações não lhe garante nenhum favoritismo prévio considerando que "Minari", de Lee Isaac Chung, e "Nomadland", de Chloé Zhao, vêm abocanhando as principais categorias em outras premiações,
Por falar em Chloé Zaho, o Oscar desse ano marca o ineditismo de, pela primeira vez, ter duas mulheres concorrendo na categoria de melhor direção, tendo a sul-coreana a concorrência de Esmerald Fennel, por "Bela Vingança".
No que diz respeito a nós brasileiros, a expectativa que se alimentava de que "Bacurau" pudesse ter indicações, acabou não se materializando, mas, certamente, não é nada que desmereça a qualidade do filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, que já faturou o prêmio do júri de Cannes, no ano passado. 
No que diz respeito a atuações, Chadwick Boseman, a exemplo de Heath Ledger, foi indicado a prêmio póstumo por seu papel em "A Voz Suprema do Blues" e, assim como o brilhante Coringa, tem boas chances de ter premiada sua interpretação; na parte musical, a curiosidade fica por conta dos Nine Inch Nails, Trent Raznor e Atticus Ross, já vencedores por "A Rede Social" , que dessa vez tem dupla chance de ganhar, concorrendo por dois filmes, "Mank" e "Soul", filme da Pixar que, por sinal também tem grandes chances na categoria de animação.
A cerimônia de premiação acontece, dessa vez, em 25 de abril então a gente aproveita para deixar você a par de todos os indicados pra você aproveitar esses novos tempos em que, em parte por causa da pandemia, em parte por conta de novos hábitos e tendências, muitas das produções estão disponíveis, desde já, em plataformas de streaming.
Dá uma conferida na lista aí abaixo, prepara a pipoca e cai dentro dos aplicativos na Smart TV.


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Melhor Filme

  • Meu Pai
  • Judas e o Messias Negro
  • Mank
  • Minari
  • Nomadland
  • Bela Vingança
  • O Som do Silêncio
  • Os 7 de Chicago

 

Melhor Direção

  • Chloé Zhao – Nomadland
  • Thomas Vinterberg – Another Round
  • David Fincher – Mank
  • Lee Isaac Chung – Minari
  • Emerald Fennell – Bela Vingança

 

Melhor Ator

  • Riz Ahmed – O Som do Silêncio
  • Chadwick Boseman – A Voz Suprema do Blues
  • Anthony Hopkins – Meu Pai
  • Gary Oldman – Mank
  • Steven Yeun – Minari

 

Melhor Atriz

  • Viola Davis – A Voz Suprema do Blues
  • Andra Day – The United States vs. Billie Holoday
  • Vanessa Kirby – Pieces of a Woman
  • Frances McDormand – Nomadland
  • Carey Mulligan – Bela Vingança

 

Melhor Ator Coadjuvante

  • Sacha Baron Cohen – Os 7 de Chicago
  • Daniel Kaluuya – Judas e o Messias Negro
  • Leslie Odom Jr. – Uma Noite em Miami
  • Paul Raci – O Som do Silêncio
  • LaKeith Stanfield – Judas e o Messias Negro

 

Melhor Atriz Coadjuvante

  • Maria Bakalova – Borat: Fita de Cinema Seguinte
  • Glenn Close – Era Uma Vez um Sonho
  • Olivia Colman – Meu Pai
  • Amanda Seyfried – Mank
  • Yuh-jung Youn – Minari

 

Melhor Roteiro Original

  • Judas e o Messias Negro
  • Minari
  • Bela Vingança
  • O Som do Silêncio
  • Os 7 de Chicago

 

Melhor Roteiro Adaptado

  • Borat: Fita de Cinema Seguinte
  • Meu Pai
  • Nomadland
  • Uma Noite em Miami
  • O Tigre Branco

 

Melhor Fotografia

  • Judas e o Messias Negro
  • Mank
  • Notícias do Mundo
  • Nomadland
  • Os 7 de Chicago

 

Melhor Figurino

  • Emma
  • A Voz Suprema do Blues
  • Mank
  • Mulan
  • Pinóquio


Melhor Trilha Sonora Original

  • Destacamento Blood
  • Mank
  • Minari
  • Notícias do Mundo
  • Soul


Melhor Canção Original

  • “Fight For You” – Judas e o Messias Negro
  • “Hear My Voice” – Os 7 de Chicago
  • “Husavik” – Festival Eurovision da Canção
  • “Io Si (Seen)” – Rosa & Momo
  • “Speak Now” – Uma Noite em Miami

 

Melhor Design de Produção

  • Meu Pai
  • A Voz Suprema do Blues
  • Mank
  • Notícias do Mundo
  • Tenet


Melhor Edição

  • Meu Pai
  • Nomadland
  • Bela Vingança
  • O Som do Silêncio
  • Os 7 de Chicago

 

Melhores Efeitos Visuais

  • Lov and Monsters
  • O Céu da Meia-Noite
  • Mulan
  • O Grande Ivan
  • Tenet

 

Melhor Cabelo e Maquiagem

  • Emma
  • Era Uma Vez Um Sonho
  • A Voz Suprema do Blues
  • Mank
  • Pinóquio

 

Melhor Produção de Som

  • Greyhound
  • Mank
  • Notícias do Mundo
  • Soul
  • O Som do Silêncio


Melhor Documentário

  • Collective
  • Crip Camp: Revolução pela Inclusão
  • The Mole Agent
  • My Octopus Teacher
  • Time

Melhor Filme Estrangeiro

  • Another Round (Dinamarca)
  • Better Days (Hong Kong)
  • Collective (Romênia)
  • The Man Who Sold His Skin (Tunísia)
  • Quo Vadis, Aida? (Bósnia)

 

Melhor Filme de Animação

  • Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica
  • Over The Moon
  • Shaun, o Carneiro: O Filme – A Fazenda Contra-Ataca
  • Soul
  • Wolfwalkers

 

Melhor Documentário em Curta-metragem

  • Colette
  • A Concerto is a Conversation
  • Do Not Split
  • Hunger Ward
  • A Love Song For Latasha

 

Melhor Curta-metragem de Animação

  • Burrow
  • Genius Loci
  • Se Algo Acontecer… Te Amo
  • Opera
  • Yes-People

 

Melhor Filme em Curta-Metragem

  • Feeling Through
  • The Letter Room
  • The Present
  • Two Distant Strangers
  • White Eye



C.R.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Oscar 2020 - Os Vencedores



Bong Joon-Ho, diretor de "Parasita",
o grande vencedor do Oscar 2020.
E ao contrário do que ia se desenhando, de que teríamos uma conciliatória partilha de prêmios entre os principais concorrentes, para que todo mundo saísse bem, sem nenhum destaque acima dos outros, eis que no último prêmio tudo mudou... Esse era bom naquilo, outro era bom em outra coisa, aquele outro era melhor em outra, e as estatuetas foram se pulverizando entre os indicados premiando os principais méritos de cada um, sem maiores contestações: "1917" levando fotografia; "Coringa", levando ator; "Ford vs. Ferrari" faturando os prêmios técnicos de impacto visual e sonoro, tudo no seu devido lugar a não ser, talvez, pela frustração do tricampeonato de roteiro original para Tarantino que era bem cotado na categoria, mas mesmo assim, nenhum absurdo. Mesmo se "1917" ganhasse, ao final a estatueta de melhor filme e se isolasse numericamente à frente, se "Coringa" ou "Era Uma Vez Em... Hollywood" tivessem levado seu terceiro prêmio e causado um tríplice empate, as hierarquias dos prêmios até então distribuídos, não teriam feito de nenhum deles o vencedor absoluto, mesmo com o carimbo de MELHOR FILME. Mas a decisão da categoria principal em favor de "Parasita" deu um significado diferente a tudo isso. Não é a questão de ter ganho quatro e o outro ganho três... Vencendo o Oscar de melhor filme, "Parasita" não deixou margem de dúvidas de que era, dentre aqueles, o melhor em tudo. Se a sua direção é a melhor, se o seu roteiro é o melhor, se já é reconhecido como melhor filme internacional, a aclamação na categoria principal faz do filme um dos vencedores mais incontestáveis dos últimos tempos no Oscar. Ganhar Palma de Ouro e Oscar de filme estrangeiro alguns já conseguiram, ganhar Palma de Ouro e Oscar de melhor filme, só um havia conseguido até hoje, "Marty", de 1955, mas ganhar o prêmio principal de Cannes, o Oscar de filme estrangeiro e a categoria principal da Academia, sem falar em direção e roteiro, é absolutamente inédito e só demonstra o quanto "Parasita" tem méritos que nem a habitual politicagem de Hollywood foi capaz de ignorar.
No mais, a cerimônia teve dois belíssimos números musicais, um com Janelle Monàe, na abertura e outro com Sir. Elton John executando a canção pela qual ganhou o Oscar pelo sua própria cinebiografia, "Rocketman", um discurso forte e inspirado de Joaquin Phoenix ao receber seu prêmio pela atuação em "Coringa", e o belíssimo e humilde reconhecimento do vencedor da categoria de direção, o sul-coreano Bong Joon-Ho, a Martin Scorsese, que pelo menos serviu como consolo pelo fato de  seu filme candidato  em dez categorias "O Irlandês" ter saído de mãos vazias.
Se houve um certa chiadeira pelo fato de mulheres e negros não terem merecido a devida atenção nas indicações, a Academia, ao que parece tentou compensar em premiações como as de "Hair Love", sobre cabelos afro, como curta de animação, e "Learning to sobreviver in a warzone (If you're a girl)", sobre garotas superando barreiras e preconceitos para praticar seu esporte, na categoria documentário em curta-metragem, e, a propósito de documentário, como era esperado, não foi dessa vez que o Brasil, levou um Oscar com o importante porém fraco "Democracia em Vertigem"
"Parasita" fez história! Se em vários anos anteriores a Academia via filmes estrangeiros superiores aos hollywoodianos e não tinha a coragem de dar os dois prêmios para o convidado de fora da festa, fazendo aquela mediazinha, dividindo irmanamente os louros da glória entre "nós" e "vocês", desta vez parece que foi impossível não se render ao que veio de fora. 
Parece que finalmente um corpo estranho que vinha se desenvolvendo invadiu definitivamente o sistema imunológico de Hollywood. Os estrangeiros chagaram e se alojaram por lá. Mas ao contrário de um parasita, não estão ali para tirar. Pelo contrário, tem muito a dar ao cinema americano.


Confira abaixo a lista dos vencedores em todas as categorias:



  • Melhor roteiro original: Parasita
  • Melhor roteiro adaptado: Jojo Rabbit
  • Melhor longa de animação: Toy Story 4
  • Melhor curta-metragem de animação: Hair Love
  • Melhor curta-metragem: The Neighbor's Window
  • Melhor direção de arte: Era Uma Vez em... Hollywood
  • Melhor figurino: Adoráveis Mulheres
  • Melhor documentário: American Factory
  • Melhor documentário em curta-metragem: Learning to sobreviver in a warzone (If you're a girl)
  • Melhor edição de som: Ford vs. Ferrari
  • Melhor mixagem de som: 1917
  • Melhor fotografia: 1917
  • Melhor montagem: Ford vs. Ferrari
  • Melhores efeitos visuais: 1917
  • Melhor maquiagem e penteado: O Escândalo
  • Melhor filme estrangeiro: Parasita
  • Melhor trilha sonora original: Coringa
  • Melhor canção original: (I'm gonne) Leave me again - Rocketman
  • Melhor direção: Bong Joon Ho - Parasita
  • Melhor ator caodjuvante: Brad Pitt (Era Uma Vez em... Hollywood)
  • Melhor ator: Joaquin Phoenix (Coringa)
  • Melhor atriz coadjuvante: Laura Dern (História de um Casamento)
  • Melhor atriz: Renée Zellwegger (Judy)
  • Melhor filme: Parasita

C.R.