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terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Drops Ratos de Porão e Código Penal - Bar Opinião - Porto Alegre (RS) - 31/08/24


Esse show está previsto lá para agosto, mas entra já como drops do Cly_live por um bom motivo. E não é somente a próprio Ratos de Porão, a quem já assisti em mais de uma ocasião, inclusive, no mesmo Bar Opinião, em 2013 e 2015. Mas, sim, por que a banda Código Penal, do meu primo-brother Lucio Agacê, vai fazer o show de abertura!

A excelente apresentação que a banda fez no Preto no Metal Festival, em dezembro do ano passado, que registramos aqui, não haveria de passar – com o perdão da aparente contradição – em branco. Como, de fato, não passou. A produtora, na busca por uma banda local legal que pudesse introduzir os veteranos do hardcore brasileiro, chegou na Código em virtude daquela participação também ocorrida no Opinião. Não deu outra.

Felicíssimo com essa conquista da Código e de Lucio, há tento tempo na estrada e cavando oportunidades neste meio. Parabéns, CP! Vocês merecem, e tenho certeza de que irão fazer um show ainda mais matador que aquele primeiro em que pisaram o palco sagrado do Opinião. Estarei lá, certamente – e, com todo respeito, menos pela Ratos do que pela Código.


Daniel Rodrigues


segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

A arte do MDC em 2023

E lá se foi mais um ano, ouvintes radioelétricos! Posso dizer, no entanto, o contrário: já se veio mais um ano. Afinal, são quase sete no ar de Música da Cabeça, o programa que comando com muita satisfação na Rádio Elétrica. E como todas as quartas-feiras tem programa novo, tornou-se habitual desde o início que a cada edição houvesse também uma arte. E é aí que a gente entra. Tal no ano passado, quando começamos a fazer essa retrospectiva específica do MDC a exemplo do "A arte do Clyblog", recorrente há mais tempo por aqui, selecionamos algumas das artes criadas para anunciar o programa em 2023, ano dos 15 do blog.

O aviso foi dado anteriormente, mas não custa repetir: não se esperem obras-primas do design gráfico, pois as ferramentas e as habilidades são, se não parcas, básicas. Sei que peco pelo acabamento (um designer profissional deve querer se enforcar a cada vez que vê). Mas não é por mal. Assim como o programa em si, a arte é fruto da vontade de fazer. Até porque, isso dá pra afirmar, busca-se sempre a criatividade, algo que instigue que vê/lê, e até que a coisa sai legal por vezes. Amparadas pelo texto, no qual também invariavelmente tento puxar por algo interessante, as artes se baseiam em acontecimentos da vida cotidiana do Brasil e do mundo que só podem resultar em algo, no mínimo, legal graficamente falando.

Houve a favor, no decorrer de 2023, um caldeirão de eventos para que isso acontecesse. Guerra na Croácia e na Faixa de Gaza, perdas de gente como Rita Lee, Ryuichi Sakamoto, João Donato e Zé Celso Martinez Corrêa, Camões de Chico Buarque, urso em Marte, submarino perdido, 8 de janeiro... É, entre fatos bons e não tão bons, a gente vai contando, quase como uma crônica semanal e musical, aquilo que nos cerca e nos interessa. As artes do MDC são um espelho disso. Então, fique aí com essa seleção do que mais de legal teve em 2023.

**************

Iniciamos o ano com nada mais, nada menos, que a edição especial de nº 200, que teve a participação à altura: o músico e jornalista pernambucano Fred Zero Quatro, líder da Mundo Livre S/A




Mas nesse Brasil, a festa demora pouco. Uma semana depois da posse do Presidente Lula, 
a barbárie do 8/1, que nos motivou a esta arte para o MDC 301


Enxergaram urso em Marte? A gente enxergou no MDC 304


Em março, ferviam as investigações sobre o "caso das joias"
apreendidas com a comitiva de Bolsonaro, mote pro MDC 311


Ainda em março, a edição 310 teve entrevista especial com meu primo-brother Lucio Agacê,
figura lendária do rock alternativo (e preto) gaúcho





Ramadã, em abril, e o programa também se inspirou pro 314. Ficou bonito


Chico finalmente pôs a mão no certificado do Camões, que, na verdade, era o MDC 316



Em maio, para o especial de nº 320, entrevistamos a psicóloga, musicista e ativista preta gaúcha Caroline Rodrigues


Em junho, a abertura do texto da chamada do programa 321 foi assim: "A gente fotografa a floresta assim,
neste ângulo, só pra que seu olhar se direcione para aquilo que deve". Cara de pau


Lembram daqueles ricaços excêntricos (e sem noção) que se meteram num
submarino sem socorro e não voltaram mais?


Foi uma reprise, mas nem por isso deixamos de comemorar com uma arte especial a primeira edição de julho com o anúncio (quase "ilegígel") da ilegibilidade do Bozo. Só de lembrar, dá vontade de gritar de novo: I-NELEGÍVEEEEL!!



Se houve o que celebrar, também tiveram perdas. E grandes. Ryuichi Sakamoto (abril),
Rita Lee (maio) e Zé Celso Martinez Corrêa (julho) foram três delas




As guerras também, infelizmente, mancharam o calendário, mas viraram arte de denúncia nas edições 324 (julho), 339 (outubro) e 346 (novembro). MDC NO WAR!





Mais perdas, algumas tristes, outras revoltantes: João Donato, em julho e, em agosto, Sinéad O'Connor, e Mãe Bernadete  


Mais uma arte legal, esta pro cabalístico programa 333, último de agosto


É "O Pequeno Príncipe de Maquiavel"? Não, só o MDC tirando sarro da cara de
gente ignorante, mas metida a sabe-tudo (setembro)


Mais uma vez, o 20 de novembro (que agora virou feriado) nos inspirando


Mais edição de data fechada, a de 340, que teve como convidado
a lenda do rock gaúcho Frank Jorge


Adentrando o último mês de 2023, uma arte baseada em grafismos


Talvez a perda mais sentida: Paulo Moreira, nosso "Cabeção", que virou "capa Blue Note"
a la Reid Miles para a nossa edição 349


Quem começa o ano com edição especial, acaba o ano com edição especial: MDC 350, que teve entrevista internacional com o produtor musical cabo-verdiano Djô da Silva (era pra ter  sido um vídeo na época, mas deu problema no programa...)



Daniel Rodrigues



terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Black Pantera - Bar Ocidente - Porto Alegre/RS (14/11/2022)

 

Por Lucio Agacê

Afro-punk - História

O termo se originou no documentário “Afro-Punk”, de 2003, dirigido por James Spooner. No início do século XXI, os afro-punks compunham uma minoria na cena punk norte-americana. Notáveis bandas que podem ser ligadas à comunidade afropunk, como Death, Pure Hell, Bad Brains, Suicidal Tendencies, Dead Kennedys, Wesley Willis Fiasco, Suffrajett, The Templars, Unlocking the Truth, Fishbone e Rough Francis. No Reino Unido, foram músicos negros influentes associados à cena punk do final da década de 1970 tal Poly Styrene da X-Ray Spex, Don Letts e Basement 5. O afro-punk se tornou um movimento comparável ao início do movimento hip hop dos anos 80. O Afropunk Music Festival foi fundado em 2005 por James Spooner e Matthew Morgan e recentemente teve sua segunda edição no Brasil realizada em Salvador, na Bahia.


Então: abri com esse texto para poder introduzir o tema a uma banda que pra mim é o grande destaque do momento e que eu tive o prazer de conhecer pessoalmente e fiz questão de dizer a eles que essa era a oportunidade, porque depois disso eles alçariam voos ainda maiores.

No Brasil, assim como no mundo, houve nos últimos anos uma certa ascensão da extrema direita racista e supremacista causando uma divisão popular jamais vista na história da humanidade. Diante de toda essa situação atípica, faz-se natural alguns seguimentos da sociedade se juntarem para combater um inimigo em comum. Após o fatídico caso George Floyd nos Estados Unidos essa luta antirracista se tornou mais do que nunca necessária. Um combate à extrema direita ultraconservadora e os seus claros flertes com o fascismo fez com que cada vez mais jovens negros encontrassem na arte e na cultura, mais uma vez, seu refúgio.

Mês passado, no bar Ocidente, em Porto Alegre, rolou o espetáculo. Sim, senhores: um espetáculo!!! Era a Black Pantera, banda mineira composta por negros de atitude e com uma sonoridade monstruosa! 

Fiquei sabendo do show através de um amigo e começamos uma verdadeira saga para conseguir ingressos ou por sorteio ou pelos solidários. Até que, pasmem: a banda, com seu engajamento social, libera 50 ingressos para cidadãos negros de baixa renda. Bastava enviar um e-mail e confirmar presença.

trecho do show da Black Pantera 
no Ocidente, em Porto Alegre

Pronto: ingressos na mão. Fomos ao show, que começou às 21 horas em ponto, mas não antes daquela boa tietagem, troca de ideias, fotos e tudo mais, com direito a autógrafos no cartaz. Isso tudo numa segunda-feira, dia 14 de novembro...

O show da Black Pantera (formada por Charles Gama, guitarra e vocal; Chaene da Gama, baixo; e Rodrigo "Pancho" Augusto, bateria) começou com uma patada chamada “Abre a Roda e Senta o Pé”, seguida de mais alguns petardos, que até então eram novidades pra mim. Teve direito a cover do ídolo pop Michael Jackson, “A Carne”, de Elza Soares, e um belo momento onde a banda chama as garotas pra um samba-de-roda punk. Inacreditável!!

Eu quero exaltar aqui não apenas um, mas três discos da Black Pantera: “Project Black Pantera”, de 2015, “Agressão”, de 2018, e “Ascensão”, de 2022. Ouçam!

Senhores: o movimento Afropunk existe e está vivo. Vários artistas brasileiros estão nessa barca e merecem atenção!

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Confira mais fotos do show e dos bastidores:

BP no palco do Ocidente detonando


Lucio com a galera da BP após o show


Batendo aquele papo...


... sobre afropunk 


Mais câmbios entre Porto Alegre e BH


Foto afudê com a galera no camarim


No camarim trocando altas idieas com o pessoal da BP


sábado, 3 de dezembro de 2022

“Racionais - Das Ruas de São Paulo Pro Mundo”, de Juliana Vicente (2022)


“Ai o cara assiste o show do Dr. Dre, vê os caras saindo de um telão tridimensional, fica inspirado e pensa o seguinte: ‘Vou fazer um Rap, porque rap é o que liga!’ E então o cara acorda!”
Mano Brown

Eu poderia começar esse texto com um milhão de relatos iguais a esse, inclusive o meu, e de outros tantos pretos periféricos que um dia ouviram e sentiram o peso da batida rap e a sensação de ser protagonista de alguma coisa relevante pelo menos uma vez!

Mas estou aqui sentado teclando no meu notebook para falar a história de quatro negros periféricos que foram salvos pelo rap: os Racionais MC’s simplesmente o maior grupo de rap do País, que ultimamente estrearam com um documentário maravilhoso na Netflix, “Racionais - Das Ruas de São Paulo Pro Mundo”, de Juliana Vicente. Lógico, eu assisti e tenho certeza que como os outros tantos pretos que citei antes, eu me identifiquei... mas logo mais eu explico.

Verão de 1988, Vila Jardim, Porto Alegre. Tenho claro em minha memória o dia que ouvi a primeira vez as palavras RAP FUNK SOUL saindo da boca de um falecido primo, o Sandro, Lembro de estarmos nos preparando para ir até a Mariland, uma rua próxima ao Centro Histórico, para ajudar o Sérgio, seu irmão mais velho, a guardar uns carros e fazer uns trocos para ir curtir um baile no Jara Musisom. Naquele momento eu senti a onda funk, o movimento vivo, a mobilização da massa black para ter um momento de diversão, uma folga do sofrimento cotidiano.

Cena do filme com a banda reunida lembrando e
refletindo sobre o passado, o presente e o futuro
Os bailes black eram como templos sagrados. Os irmãos vestiam a melhor roupa, erguiam seus black powers e celebravam a vida... Por que estou contando isso?

Porque aconteceu em todo o País, como contam os Racionais no documentário. As equipes de som eram quem faziam os eventos. Elas tinham a máquina nas mãos. Comigo foi a JS Musisom que tive o primeiro contato com o rap sendo feito ao vivo e nós, pretos, às vezes tínhamos uma oportunidade de mostrar na dança ou na expressão falada do rap algum tipo de talento. Nessa época, ainda não conhecíamos Racionais. As rimas eram toscas e feitas basicamente para animar o público. O show era do DJ, Nessa época, conheci o Nego Jay e montamos os Donos da Noite, que veio a ser um embrião da Código Penal.

Lá em São Paulo, os integrantes da Racionais (Mano Brown, Ice Blue, KL Jay e Edi Rock) se encontravam na São Bento, na região central. Aqui, era na Rua dos Andradas, Centro de Porto Alegre, e assim como lá, aqui as equipes davam essa abertura com festivais de música e tudo acontecia. Essa revolução aconteceu meio que simultaneamente em todo mundo, um levante negro como eu vejo acontecendo hoje, em 2022, desde o movimento #Blackslivesmetter até os festivais Afropunk por aí afora.

Mas voltando aos Racionais MCs, vejo organização, vejo atitude, vejo uma revolução necessária para um país recém saído de uma ditadura onde o jovem negro sempre foi visto como marginal, padrão e, mesmo parecendo redundante, não tem como escrever sem comparar a história deles com a minha. Os caras mudaram a forma do Brasil fazer rap, mudaram a linguagem e tiveram a coragem que muitos até hoje não têm. 

“Racionais - Das Ruas de São Paulo Pro Mundo”, no Netflix. Imperdível!

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trailer de “Racionais - Das Ruas de São Paulo Pro Mundo”


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Algumas referências: 

“Fear of a Black Planet, da Public Enemy

“The Revolution Will not be Televised”, de Gil Scott-Heron

“Power”, de Ice T

Lucio Agacê


terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Ratos de Porão - Vale dos Sinos Fest Tattoo - Pavilhões da FENAC - Novo Hamburgo / RS (12/02/2022)




O carismático João Gordo, à frente 
de sua lendária banda
Eis que o Ratos de Porão finalmente retorna aos palcos! A banda começou por São Paulo uma série de shows comemorativos aos 40 anos de carreira, onde tocam, na íntegra, o repertório dos álbuns "Crucificados pelo sistema" (1984), "Descanse em Paz" (1986), "Cada Dia mais Sujo e Agressivo" (1987), "Brasil" (1989) e "Anarkophobia" (1991), respectivamente.

E então é 12 de fevereiro de 2022... 

Aguardei ansioso por esse dia. 

Depois do confinamento forçado pela pandemia nada melhor que um evento que reúne coisas que fazem do underground um ambiente único de se estar.

Vale dos Sinos Tattoo Fest foi realizado nos pavilhões da FENAC em Novo Hamburgo e vários artistas da tattoo e muita gente legal circulava pelo local. Foram duas noites memoráveis!

Na sexta feira, dia 11, rolou o show da Surra, uma banda foda que recomendo a audição e, sábado, no dia 12, nada mais nada menos que a lendária e melhor banda de hardcore crossover da América Latina, RATOS DE PORÃO, que, para esse show reservou uma apresentação que, na minha opinião, é a mais foda deles nos presenteando com clássicos de quase todos os discos até 1992.

Sim, senhoras e senhores, eles trouxeram para Novo Hamburgo o show do álbum ao vivo tocando na mesma ordem do disco, com direito à antológica frase, "Estou lindo de cabelo vermelho?".

Visitando algumas do "Século Sinistro", de 2014, foi um espetáculo com momentos de esquecimento dos músicos, dado ao tempo sem tocar as músicas.

Entre roda-punk, doses de Aerolin e muitos "Fora Bolsonaro!", foi uma noite inesquecível da mais
bela celebração do underground, PUNK ,tatoo e cerveja pós pandemia. Isso sem contar os vários
e vários amigos de várias cidades se reencontrando.

Sejam bem vindos ao novo normal!!!!

#oldpunksneverdie!

Showzaço com tudo de 1984 a 1992, e um pouquinho mais.









quinta-feira, 26 de agosto de 2021

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS ESPECIAL 13 anos do ClyBlog - Body Count - "Carnivore" (2020)



"Eu estava ouvindo metal normal e punk rock como Black Flag, Slayer, Suicidal. 
Esses foram grupos que realmente nos influenciaram. 
Eu pensava, aqueles caras que não estavam realmente cantando. 
Eles meio que gritavam, e eu podia fazer aquilo (...)
Nós escolhemos o estilo. 
O hardcore de Nova York foi muito influente.
Eu pensava, nós podemos fazer aquilo! 
Mas nunca o chamamos de rap rock. 
Eu realmente não gosto desse termo porque não é realmente rap rock. 
Rap é diferente. Rap é funkeado. 
Eu acho que se você latir os vocais em uma cadência e rima, você pode chamá-lo de rap rock. 
Não sei se Rage Against The Machine é rap rock. Rap é diferente. 
Eu só chamo de hardcore."
Ice-T sobre as origens
 e influências do Body Count



Resolvi falar de uma banda obvia na minha playlist desde 1992: Body Count.
Sou um fã incondicional e acompanho a banda desde sempre, mas nesse ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, para ser mais específico, quero destacar um disco que na minha opinião é um marco histórico, assim como foi o homônimo "Body Count", de 1992. "Carnivore" é uma paulada atrás da outra e ainda tem uma capa fenomenal criada por Zbigniew M. Bielak, cuja arte, toda vez que olho, percebo algo novo.
Disco lançado em março de 2020, é um álbum fundamental pois, além de várias pauladas como "Carnivore", "Bum-Rush", "When I'm Gone", com a participação da Amy Lee (ex-Evanescense), "Carnivore" ainda tem a monstruosa cover de, ninguém menos que, Motörhead, com "Ace of Spades"; uma paulada do primeiro disco de Ice Mothafuckin' T, "A Six in The Morning", que recebeu um trato violento; e, para meu delírio uma regravação de "Colors" que ficou uma animalice, com algo que eu, Lucio, já havia feito lá em 1994, que foi colocar uma distorção feladaputa num baixo, mas é claro, loooonge da minha tentativa, até porque não somos o Body Count (rsrsrsrs). 
O detalhe interessante é que o vinil, que, a propósito, é fenomenal, vem com um CD junto para dar de presente ou ouvir no carro, além de mais um pôster animal da banda.
Também é interessante mencionar que a música "Bum-Rush" foi premiada com o Grammy de melhor performance de heavy-metal de 2020. Mais do que merecido!
Enfim, "Carnivore" um álbum fundamental pelo qual estou viciado. Coisa que há muito não acontecia.



por  L U C I O  A G A C Ê


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FAIXAS:

1. Carnivore
2. Point the Finger (com Riley Gale)
3. Bum-Rush
4. Ace of Spades
5. Another Level (com Jamey Jasta)
6. Colors (2020)
7. No Remorse
8. When I’m Gone (com Amy Lee)
9. Thee Critical Beatdown
10. The Hate Is Real
11. 6 in Tha Morning (2020) (demo inédita)

***********************

Ouça:
Body Count  - Carnivore (2020)






Lucio Agacê
 é músico, produtor e DJ.
É integrante das bandas Causa Mortis, Vômitos e Náuseas, entre outros projetos musicais. 
Nascido em Porto Alegre
Reside em Sapucaia do Sul - RS








sexta-feira, 13 de agosto de 2021

CLYLIVE ESPECIAL 13 anos do ClyBlog - Hímen Elástico - Woodstock Bar - Alvorada /RS (13/08/1993)




Pedaço do cartaz do evento















O mais alto voo "hermenêutico*" 

Hímen Elástico, sexta feira 13 agosto de 1990 e poucos....
Lembro que fizemos alguns ensaios e como de costume nunca tivemos um guitarrista fixo... mas tenho dois na memória, um canhoto e o outro destro.
Sim, ser canhoto era um pré-requisito para fazer parte da banda e nem precisava tocar bem. Se fosse canhoto estava dentro! Marcelo o “Fedor” era o destro, talvez o que mais se manteve no cargo, e Thiago Newman, o canhoto, que acho que foi quem participou do show que, certamente foi a apresentação mais insana daquela noite e que, curiosamente, não começou no palco.
Saímos eu, meu irmão, Nego Lê, nosso batera Cézah, o Pereba, e mais um amigo e personagem importante dessa cruzada, Diogo, o Tantã, rumo à Intercap, em Porto Alegre, para a reunião que daria início a saga.
Logo após a janta, todos naquele alvoroço se preparando para alçar ao que talvez fosse o voo mais ousado do nosso projeto hermenêutico, lembro da minha tia Iara, mãe dos guris Clayton e Daniel, meus primos e vocais da banda, nos encher de advertências sobre o uso do casaquinho, o cuidado com as companhias e aquela coisa toda de mãe.
Então chegou a hora, a trupe toda pronta e partimos para rua. Provavelmente eu levava alguma bebida mocozada na mochila, pois não lembro de um dia que saí durante os anos noventa onde não houvesse um vinho (hehehehe), mas o fato de já ter um trago, não impediu um dos atos que seria o marco daquela cruzada. Então, surge a dúvida: quem pegou a Cachaça Polteirgeist?
Lembro de o Pereba ter tomando mas também lembro do Tantã ser o primeiro a pegar o artefato.
Estávamos nós andando, não sei se próximo ao ponto de partida, quando numa encruzilhada nos deparamos com um despacho digno de uma legião de entidades e um dos nossos heróis teve a bendita ideia de pegar a cachaça pra tomar. 
Não sei se tomei, não sei quem tomamos, mas sei que fez toda diferença pois fomos para aquele show com uma legião de seres das ruas na nossa cola.
O lance era um pico muito louco numa festa insana organizada por uma skatista amigo nosso da Osvaldo Aranha, o Miller, que hoje mora em Viamão e que simplesmente convidou todo mundo pro evento. Lembro da Free Jack , Rapcrazy, Ultramen, Groove James, Borboleta Negra, que hoje virou Comunidade Nin-Jitsu, e nós, a Hímen Elástico, é claro...
Então chegou o momento tão esperado! Lembro de ter começado com a Marcha Fúnebre, num bass distorcidão, usando o moletom, que havia sido confeccionado num tamanho descomunal, com o capuz caindo na cara, fazendo referência à morte ou a um ritual qualquer (hehehehehehe!). Logo vinha “Carolina” ("Dá um beijo no cangote, Carolina!") e “Ex” que deram o ritmo do que seria uma metralhadora de músicas que tocamos naquela noite. Sim, foi um petardo atrás do outro e lembro que meu irmão não ficou no palco pois passou o show correndo no salão, alucinado, e geral impressionada com o que estavam assistindo. (hehehehehehehe!!!) Enfim, memorável! Logo após toda aquele frenesi, fomos para Osvaldo Aranha celebrar o grande momento. Acho que foi a primeira vez que vi Clayton e Daniel por lá!!!!!!
Até hoje não sei como acabou aquela noite mas guardo na memória, mesmo que vaga, um espetáculo inesquecível.

* Hermenêutico - termo que costumávamos usar para classificar tudo relacionado à Hímem Elástico


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A dúvida que não quer calar

Bah! Baita lembrança!
Então, o que dizer daquele dia? Eu bem moleque aprendendo os passos da adolescência e tendo exemplos, tanto de vocês, meus primos, como do Lucio, meu irmão.
Lembrando desse dia, hoje em 2021, consigo ter claro o que aquele 13 de agosto significou na construção de quem sou eu hoje, mas voltando anos atrás, era tipo um filme. Expectativa como se fosse um showzaço mas foi como uma final de campeonato, desde o ponto de ônibus, de onde já saímos rindo de tudo, até descer no centro de Alvorada, adentrar aquele bar escuro e ouvir a Hímen Elástico com vocês. 
Quebramos tudo! Foi massa demais e uma experiência única. Por isso, meu lema até hoje é: seja jovem sempre e faça tudo que quiser fazer, desde que não prejudique ninguém e não ocupe o espaço de outra pessoa. 
Contudo, depois de tanto tempo uma dúvida ainda persiste: Cachorro morto ainda late**?


** nome de uma das músicas da Hímen Elástico

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Macumba, rock ‘n’ roll e cabeças cortadas

Tínhamos a melhor banda de rock do Rio Grande do Sul dos anos 90. Digo isso sem soberba, até porque, se sobrava qualidade, faltou persistência a nós para prosseguimos e provar todo esse talento. A Hímen Elástico, nossa banda, era uma mistura muito bem azeitada de todas as referências que nós, integrantes, tínhamos: punk rock, hip hop, quadrinhos, samba, poesia concreta, música clássica, revistinha adulta, skate, hardcore, desenho animado. De tudo um pouco e tudo misturado emaranhando as mentes de Clayton Reis, meu irmão e principal vocalista/letrista; Leandro Reis Freitas, o Lê, primo backing assim como eu e dono de sacadas e ideias sempre criativas; Cezar “Pereba” Castro, o melhor batera dessas bandas sulistas depois de Pezão; e o baixo, vocais, and other instruments by Lucio Agacê, irmão de Lê e também nosso primo, um turbilhão de musicalidade e o verdadeiro músico entre nós – não à toa, o cara que mais seguiu por esse caminho entre todos nós depois da “dissolução” da Hímen, como carinhosa e debochadamente nos apelidávamos,.

Compúnhamos juntos e de forma contributiva, aliás, como sempre fizemos desde a infância, crescendo juntos como guris e seres criativos. Se a sintonia entre nós era sanguínea, geracional e afetiva, na guitarra a Hímen ainda reservava um charme à parte: sempre tínhamos um guitarrista diferente. Sabe a The The, a P.I.L., a This Mortal Coil, todos com guitarristas móveis? Pois é: éramos iguais. Dependendo da ocasião, algum amigo, familiar, parceiro ou até fã nosso era contemplado – desde que soubesse minimamente tocar o instrumento, visto que nenhum de nós tinha essa capacidade.

Todas essas características faziam da Hímen uma banda sui generis, que botava no chinelo em musicalidade Comunidade Nin-Jitsu, Cidadão Quem, Papas da Língua, Tequila Baby... todas as bandas de sucesso do RS na época. E nada dessa de banda “couve”: nossas músicas eram todas escritas por nós mesmos. O que não era de nossa autoria, transformava-se assim, como as versões de Ramones e Legião Urbana, que emendávamos com uma de nossas canções, “Fórmula de Bhaskara’, ou as ousadas versões de “Ego Sum Abbas” de CarminaBurana ou da techno-punk Suicide para o formato baixo-guitarra-bateria. Tínhamos inteligência musical e repertório suficiente para gravar um disco, certamente. Mas o fato é que não tivemos muito tempo de “estrada”. Embora as músicas ainda existam, foram poucos os que, ao contrário das bandas de sucesso do rock gaúcho, bem mais persistentes, tiveram o “privilégio” de nos ouvir. A não ser numa fatídica, gélida, perigosa e memorável noite de rock ‘n’ roll que nós promovemos.

Não vou lembrar com detalhes, pois lá se vão 28 anos, mas recordo que ensaiamos algumas horas na tarde daquele 13 de agosto de 1993 num estúdio que alugamos no Bom Fim. Terminados os ensaios, ‘simbora lá pra nossa casa, meio do caminho para nosso destino final, para comer alguma coisa feita por minha mãe, dona Iara, que levou as mãos à cabeça ao saber para onde iríamos depois dali: Alvorada. E à noite! E numa sexta-feira 13! E na cidade mais perigosa do Estado! Isso porque, naquela semana, a imprensa havia noticiado, assombrada, vários assassinatos cometidos em Alvorada em que os criminosos haviam decapitado suas vítimas. Misto de irresponsabilidade e descomplicação juvenil, obviamente, fomos. Seria a primeira apresentação ao vivo da Hímen Elástico! Nossas músicas, nós no palco! Adrenalina, rock ‘n’ roll! Não íamos perder de jeito nenhum a oportunidade de fazer aquele show, nem que, para isso, cortassem nossas cabeças!

Rock a gente associa a algo quente, infernal, furioso, certo? Neste caso, porém, substitua-se o calor dos infernos por um frio dos infernos. Sim: afora todas as justificativas que inibiriam qualquer ser minimamente ajuizado de não sair de casa, fomos nós, sob uma temperatura quase negativa, pegar dois busões em direção a Alvorada para desespero de minha mãe. Além de caminhar trechos com os instrumentos nas costas, sabe como é pegar ônibus de noite num fim de semana, né? Chá de banco. E com aquele frio! Deu pra ver que a galera não tinha grana, né? Táxi? Impossível, muito caro. Carro próprio? Àquela época, nem carteira aqueles guris tinham. Mas se faltava grana, assim como para com nossas músicas, sobrava criatividade – e um bocado de ousadia, confesso. No caminho para a condução, Cezar, quieto e sempre atento, encontrou uma garrafa de cachaça inteirinha e quase intocada. Que alento para aquele frio! E tudo bem pegar a bebida numa ocasião como aquela, não fosse a cachaça ser de um despacho. E acham que a gente se intimidou com o santo? Que nada! A insolência falou mais alto. Afinal, estávamos indo para um show de rock, caramba! O NOSSO show de rock.

Foi realmente uma apresentação digna a que fizemos no Woodstock Bar. Com uma formação de guitarra, baixo, bateria, voz e backing vocals, abrimos, como numa homenagem àquela sexta-feira 13 maldita, com “A Marcha Fúnebre”, (sim: trata-se de "Sonata para piano Nº 2 em si bemol menor, Op. 35", de Chopin), que havíamos ensaiado bastante durante o dia, embasbacando quem assistia. Seguiram-se nossas músicas: “Ex”, “Grandes Lábios”, E Daí?”, “Clayton” e outras. Nossas músicas.

Voltando a memória para antes do show, lembro de minutos antes de entrar no palco – pela primeira vez. Senti aquele famoso frio na barriga que todo músico ou ator diz ter antes de começar o espetáculo. Dei mais uns goles na nossa cachaça enfeitiçada e, não sei por que cargas d’água, arranquei o lenço que eu levava na cabeça e o amarrei numa das pernas, logo acima do joelho. Depois, foi só transe. Dito assim, parece um ato infantil, sem propósito ou até irrelevante. Mas aquilo era rock, bebês. Dadas as devidas proporções (afinal, considerávamos os melhores do nosso território, mas não do planeta), é a pulseira de spike dos metaleiros; é a camiseta rasgada de Sid Vicious; é o figurino extravagante do Elton John; é o tênis All Star dos Ramones; é o crucifixo do Ozzy. Não é a música, mas faz parte. Afinal, rock não é só som: é atitude. É o momento em que se experencia algo transformador: deixa-se de ser somente a si próprio para se tornar, pelo menos por minutos, sua própria criação artística.

Com todo o cenário que se pintou, de perigos tanto do além quanto da vida real, posso afirmar que subir num palco é como ter a sua cabeça cortada e entregue numa bandeja para o público. Como no mito de Salomé, sedução e morte se amigam. É quase um milagre. Ou dá pra explicar de outra forma a voz do Clayton ter voltado perfeitamente na hora do show depois de emborcar a nossa aguardente magiada? Deus, ou melhor, o Diabo, pai do rock, fez-se presente naquele dia para ele tão especial para nos permitir que a nós também fosse. E foi.

Não eram muitos na plateia, certamente. Mas que quem esteve lá, viu uma verdadeira banda de rock, isso, viu. A melhor do Rio Grande do Sul da década de 90, o que muitos nunca souberam. Mas a gente, “hermenêuticos”, sem modéstia, sabemos que sim.



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Cachaça Poltergeist
por Cly Reis


Ninguém tocava grande coisa. Na verdade, a maioria de nós, LucioDaniel e Eu, o núcleo da Hímen Elástico, não tocava instrumento nenhum. Éramos quatro primos muito musicais e muito criativos, o que nos despertou o desejo de botar aquelas ideias musicais, às vezes muito doidas, em prática. E o meio para isso era ter uma banda. Mas como ter um grupo musical diante da situação já relatada da total inépcia instrumental dos integrantes? Ah, o Lucio, que era o único um pouco mais habilidoso tocaria contrabaixo, que era no que se saía melhor, um de seus grandes amigos, o Pereba, que tocava bateria pra diversas bandas, acrescentaria mais essa à sua lista, e eu, que tinha o desejo mas não a coordenação motora pra tocar, tinha uma guitarra que poderia servir para algum guitarrista que convidássemos e que se encaixasse. De resto, na falta de maiores talentos, todos os três restantes seriam vocalistas, ora fazendo backing-vocals, ora se alternando na voz principal, embora o posto, oficialmente, coubesse a mim, não por ser mais ter mais qualidades para tal mas, pelo contrário, exatamente por não saber fazer mais nada.
Ensaiávamos com alguma frequência, guitarristas iam e vinham no posto que nunca fora muito fixo, tínhamos um repertório interessante e consolidado e, a partir de determinado momento, começamos a ansiar por uma oportunidade de tocar em algum lugar. Numa dessas, o Lucio, que era o cara com mais contatos, mais atuação no underground de Porto Alegre e região, conseguiu um showzinho pra nós. Seria em Alvorada, um município próximo à capital, num pequeno festival, com umas quatro ou cinco bandas, num lugar chamado Woodstock Bar. O dia? Sexta-feira 13 de agosto.
Determinados a garantir um bom desempenho, uma apresentação digna, marcamos um ensaio extraordinário para o final da tarde do dia do show. O evento no bar começaria umas10h ou 11h da noite, faríamos nosso ensaio ali pelas seis da tarde, voltaríamos pra minha casa, comeríamos alguma coisa, sairíamos por volta das oito e ainda daria tempo tranquilamente. Nosso planejamento deu certo. Deu, em termos... O ensaio da tarde e, possivelmente, algum stress por ansiedade, levou embora minha voz. Me vi, a poucas horas do nosso momento mais importante, até então, sem a coisa que eu mais precisava naquela noite: a voz. Por sorte, pouco antes da nossa vez de subir no palco, um cara de uma outra banda, vendo a minha situação, recomendou que eu tomasse uma cachaça que era certo que minha voz voltaria. Não deu outra! Foi voltando, foi voltando e na hora do show, eu estava pronto.
Subimos ao palco exatamente à meia-noite da sexta-feira 13 (bom, tecnicamente, já seria dia 14, mas pra efeito da mística da ocasião, ganha mais efeito dramático se colocado assim). Pelo soturno da situação, abrimos os trabalhos com a "Marcha-fúnebre", mas já emendando com a nossa tradicional vinheta de abertura, "Carolina", que já desembocava na nossa eletrizante música de abertura, "Ex" e a partir daí foi só pancadaria. Um show bom, modéstia à parte, mas não apenas na minha opinião, uma vez que nosso som foi elogiado por integrantes de outras bandas e, de quebra, pela gatinha que eu estava azarando.
Numa noite tão envolta em elementos sombrios, uma sexta-feira caindo em13, início do show à meia-noite, marcha-fúnebre, voz indo e vindo e tudo mais, não é de se duvidar que um fato externo tenha influenciado todo o contexto daquela jornada. Ainda na nossa ida, assim que saímos da minha casa, no meu bairro, ao passarmos por uma encruzilhada, com um respeitável despacho, vasto, abastado, repleto de guloseimas, bebidas, pipocas, galinhas e tudo mais, um amigo da banda, o Tantã, sem nenhum temor, passou a mão numa garrafa de cachaça e tascou uma bela golada. O Pereba, não se fazendo de rogado, não hesitou e também caiu dentro da cachaça da macumba. Entre risos, zoeira e muita imaginação, fantasiando que as galinhas do despacho levantariam e nos perseguiriam reivindicando a oferenda roubada, seguimos dali para o local do show, no episódio que ficou conhecido entre nós como a "Cachaça Poltergeist".
Então, não é de se duvidar que, por trás de toda aquela noite mágica, mística, da própria cachaça que eu tomei no bar, estivessem agindo forças sobrenaturais, espíritos, entidades, orixás, que fizeram com que, no fim das contas, nos saíssemos bem dentro das nossas possibilidades e que tudo desse certo no lendário primeiro show da Hímen Elástico. 



Hímen Elástico - "Fita p/ Não Comprometer"



terça-feira, 13 de julho de 2021

Grinders - "Grinders" ou "Skatepunkmusic" * (1987)









"E algum tempo depois,
Um skate eu montei
Ando todos os dias
E feriados também."
trecho de "Minha Vida"

"Ande de skate ou  morra!"
trecho de "Ande de Skate Ou Morra"



Meu primo Lucio Agacê, tradicional colaborador aqui do blog, na época das nossas formações musicais e descobertas sonoras, volta e meia nos apresentava, a mim e ao meu irmão Daniel, alguma novidade dos sons que acabara de conhecer. Recém iniciado no punk e hardcore, empolgado, chegava para nós com aqueles discos esquisitos, barulhentos, com sonoridades agressivas, rascantes, acabamento pobre, não só sonoro mas também gráfico, com artes feitas de colagens muito primárias ou com ilustrações de qualidade bastante deficiente. Eu, na época, ainda muito absorvido pelo rock que tocava nas rádios, na época da explosão do rock nacional, com bandas como Legião Urbana, Ultraje a Rigor, RPM, nem sempre valorizava muito àquelas coisas que meu entusiasmado primo trazia a meu conhecimento e apreciação. Com exceção um que outro que tinha alguma produção um pouco mais caprichada como Inocentes, Cólera, em alguns momentos, e um pouco mais adiante, Ratos de Porão, aquele som do punk nacional me soava excessivamente tosco e mal acabado. No entanto, em meio a esse universo pouco convidativo para meu 'paladar' sonoro, algo me chamou atenção. Uma banda chamada Grinders parecia ter um pouco mais de técnica, seu som era mais limpo, não se limitava aquela chiadeira que mais parecia um vespeiro em polvorosa e, claramente, havia um pouco mais de cuidado, de trato na produção.

Curiosamente, a primeira impressão não foi exatamente positiva pelos motivos certos. Meu primeiro contato com Grinders se deu quando o próprio Lucio me mostrou a coletânea "Ataque Sonoro", na qual a banda tinha duas músicas. Uma delas, "Skate Gralha", para mim estava mais para engraçada do que propriamente para boa, uma vez que, o vocalista, com uma interpretação acelerada, quase indecifrável, depois de esculachar, na letra, um suposto skatista muito ruim, que só atrapalhava na pista, culminava a execração do coitado dando-lhe, no refrão, a sentença definitiva de "animal" ("Pega o skate desse gralha /Sai da pista, animal /Se você quer tesourar /Vai pra casa animal /ANIMAL, ANIMAL, ANIMAL!"). Era engraçado, era divertido, brincávamos imitando aquele refrão mas, para mim, passava longe de ser algo que me agradasse musicalmente e, embora não fosse exclusivamente o que pesasse na minha antipatia, efetivamente, não havia como negar que aquela versão, presente na legendária compilação punk, era bastante precária.

Algum tempo depois, já mais aberto e tolerante, tive a oportunidade de ouvir o disco de estreia dos Grinders e lá estava "Skate Gralha", que, embora ainda totalmente "animal", claramente estava bem mais limpa e mais bem acabada.

Trato mais cuidadoso que, por sinal, todo o disco tinha, até mesmo nas mais ruidosas e selvagens como "Destrua Um Monstro Nazista", "Ande de Skate ou Morra" e "Explorados". Mas não era só a questão do trabalho de estúdio, os Grinders sabiam tocar, tinham bala na agulha, as músicas tinham bons riffs e podia-se até mesmo notar uma pegada meio surf-music e do punk californiano. As duas peças instrumentais, a que leva o nome da banda e abre o disco, "Grinders", e a cover do tema do Homem-Aranha, são exemplares indesmentíveis dessas influências.

Chama atenção também como os gritos da galera punk daquela época, incrivelmente, continuam tão válidos e procedentes ainda hoje, e talvez até mais pertinentes agora do que naquele momento pós-abertura, quando parecia haver uma série de conscientizações em relação a diversos temas e problemas do país por parte da sociedade. "Amém", denunciando os falsos religiosos que se utilizam da ignorância do povo para lucrar, a irônica "Serviço Militar", contra o militarismo, "Destrua Um Monstro Nazista", bem a calhar diante das inúmeras manifestações de extrema-direita que surgem por todo canto, e "Como É Que Pode", que chama atenção para a desigualdade social e a fome, infelizmente, mostram-se extremamente atuais e urgentes. "Ruas de Soweto", uma das melhores, com seu riff vigoroso e sua letra mínima porém sintética ("Os dias são negros pelas Ruas de Soweto"), se hoje não é mais tão atual em relação ao Apartheid sul-africano, não perde a validade, dadas as mostras escancaradas de racismo pelo mundo, e em especial no Brasil, cujo procedimento é apoiado pelo discurso discriminatório do próprio presidente da República.

Mas, em meio a tantos assuntos sérios, há  espaço para o skate, prática muito comum entre o pessoal do punk e hardcore, na época, e que é tema de destaque no disco, não somente com a já destacada, "Skate Gralha", mas também com a ótima "Minha Vida", que relata a satisfação de ter um skate e poder usufruir dele, e a marcante "Ande de Skate ou Morra", lema do pessoal das rodinhas, elevado à condição de hino skatista hardcore pelos Grinders.

O disco ainda tem a pérola, que o finaliza, "Puta Vomitada", que relata o day after de uma noitada, aquela ressaca e os efeitos da bebedeira, numa manhã de domingo em que, tudo que se encontra numa tentativa de assistir TV, é Programa Sílvio Santos, Menudo, RPM , numa crítica à massificação do entretenimento promovido pelas mídias, naqueles idos dos anos 80. Apesar de gostar de RPM, na época e ainda hoje, é um encerramento de disco espetacular que ainda fica melhor com o som de uma descarga de banheiro que joga para o esgoto toda aquela porcaria.

Edições posteriores, em CD, tem alguns extras bem interessantes como uma cover instrumental, ao vivo, de "California Über Alles", dos Dead Kennedy's, que só confirma ainda mais aquela impressão da influência do punk californiano; "Amém" com uma introdução de "oração"; e algumas inéditas, em versão demo, como "Trem Lotado", "Danceteria" e a preconceituosa, porém divertida "Eu Não sou Break".

Ainda que um pouco mais bem produzido que seus contemporâneos, "Grinders" mantém aquela pureza característica punk nacional, na sonoridade, nas composições e nas letras. Aquela crueza, aquela "barulheira" que de início era exatamente o que me incomodava, no fim das contas é o diferencial do punk raiz, do punk proletário, do punk suburbano, e que atesta, sobremaneira, a autenticidade de sua atitude e de seu discurso. 

Dia do Rock e época de Olimpíadas, nada melhor do que trazer toda a força do rock, sua essência, sua atitude, seu caráter contestador, e misturar com esporte, nas mais radicais manobras sobre as quatro rodinhas. E, cá entre nós, poucos esportes têm tanta atitude como o skate.

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FAIXAS:
1. Grinders
2. Skate Gralha
3. Amém
4. Homem-Aranha
5. Minha Vida
6. Destrua Um Monstro Nazista
7. Explorados
8. Serviço Militar
9. Ande De Skate Ou Morra
10. Ruas De Soweto
11 Como É Que Pode
12. Puta Vomitada

Ao Vivo no Woodstock Music Hall(1987)
13. Grinders
14. Skate Gralha
15. Homem-Aranha
16. Amém
17. Como É Que Pode
18. Minha Vida
19. Califórnia (cover instrumental de "California Über Alles", dos Dead Kennedy's)

Demo Tape(1985)
20. É Domingo
21. Grinders
22. Skate Or Die
23. Como É Que Pode?
24. Trem Lotado(TL)
25. Eu Não Sou Break
26. Danceteria

Ao Vivo na Broadway(1985)
27. É Domingo
28. Eu Não Sou Break

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Ouça:

* nome dado à reedição em CD de 2001

por Cly Reis